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ANÁLISE

Nº 42/2018

Crise da Democracia e
extremismos de direita

Esther Solano

MAIO DE 2018

Esta pesquisa busca entender o crescimento das novas direitas brasileiras, es-
pecialmente da extrema direita mais antidemocrática, simbolizada no pensa-
mento do deputado Jair Bolsonaro. Apresenta os resultados de entrevistas em
profundidade com simpatizantes do pré-candidato, nas quais foram mapeados
os principais elementos de identificação dos eleitores com o discurso do Bolso-
naro e faz uma análise empírica e teórica das condições do surgimento desse
fenômeno no Brasil.

Para os entrevistados, Bolsonaro representa o tipo do político honesto em


contraposição à “classe política corrupta”.

Consideram que, em uma alteração da ordem social, o “cidadão de bem” esta-


ria desprotegido, seria a vítima abandonada e o criminoso estaria superprotegido
pelo Estado. Segundo eles, as políticas públicas como Bolsa Família ou cotas
raciais universitárias são negativas, porque fomentam a preguiça, o clientelismo
e fazem do cidadão alguém passivo, que parasita o Estado. O self-made man é
o modelo de sucesso.

Movimento negro, feminismo ou movimento LGBTQIA, são, para os bol-


sonaristas, grupos que sofrem preconceito, sim, mas estão abusando de seus di-
reitos. Utilizam-se da vitimização, do mimimi para obter regalias do Estado e
abalar os cidadãos que não pertencem a essas minorias.

Jovens identificam o Bolsonaro como rebelde, como uma opção política que
se comunica com eles e se contrapõe ao sistema, como uma proposta diferente.
Se nos anos 70, ser rebelde era ser de esquerda, agora, para muitos destes jovens,
é votar nesta nova direita que se apresenta de uma forma cool, disfarçando seu
discurso de ódio em formas de memes e de vídeos divertidos.

Vários dos entrevistados que proclamam seu voto em Bolsonaro, em 2018,


admitiram ter votado no PT nos seus dois primeiros mandatos. Questionados
sobre o porquê da mudança, a maioria coincide: Lula estava perto do povo, era
carismático, alguém diferente dos políticos de sempre e era honesto. Hoje, essas
pessoas adotam um forte discurso antipetista, fundamentado na retórica da co-
rrupção do PT e na rejeição a muitas de suas políticas, das quais alguns já foram
beneficiados, e mobilizam alguns argumentos muito parecidos para justificar o
voto em Bolsonaro: proximidade, carisma e honestidade.
Sumário

Introdução 3
Fatores conjunturais 3
Fatores estruturais 6

Metodología 10

Resultados: quais são os argumentos para se identificar


com Bolsonaro 11
Segurança Pública 11
Direitos humanos para humanos direitos 12
Corrupção e antipolítica 14
Meritocracia e Vitimismo 16
Discurso de Ódio 20
A Direita Pop e Anti-Mainstream 22
Valores 24
De Lula a Bolsonaro 25

Conclusões 26

Bibliografia 27
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Esta pesquisa busca entender o crescimento ca instaura-se no cotidiano, levando a uma


das novas direitas brasileiras, especialmen- degradação muito rápida e a uma perda de
te da extrema direita mais antidemocrática, confiança das bases representativas da socie-
simbolizada no pensamento do deputado Jair dade brasileira. A deterioração da conciliação
Bolsonaro. O presente documento apresenta lulista, uma imprensa hegemônica oligopoli-
uma parte inicial teórica, que busca concei- zada que, com frequência, se comporta mais
tuar a crise democrática atual e a reorganiza- como panfleto político do que como órgão
ção dos grupos conservadoras e novas direitas informativo, a complicada governabilidade
e, na segunda parte, apresenta os resultados num Congresso com grande pulverização
de conversas em profundidade com simpati- partidária e de matriz política conservadora,
zantes do pré-candidato. a absoluta falta de respeito com o processo
democrático que muitos representantes polí-
Introdução ticos demonstraram ter, são fatores que inten-
sificaram a crise política, em paralelo à crise
Onda neoconservadora, alt-right, “nova direi- econômica que o país atravessa e que é outro
ta”, crescimento da extrema direita, trumpi- fator fundamental para entender o mal-estar
zação da política, populismos de direita, cri- social brasileiro. Altas taxas de desemprego e
se das esquerdas. Rótulos para denominar a aumento da vulnerabilidade e precariedade
reorganização de grupos conservadores e/ou para amplas camadas populacionais são fa-
da direita radicalizada que tem abrangência tores que potencializam o desgaste no teci-
mundial e, como não poderia ser diferente, do social. Por outro lado, os abusos de um
com fortes reflexos no Brasil. As causas destes judiciário hiperinflacionado e militante, que
processos complexos são múltiplas e nunca extrapola suas funções e invade o equilibro de
poderiam ser reduzidas a uma variável uni- poderes judicializando a política, e as dinâmi-
dimensional. Tentamos, porém, apresentar cas lavajatistas da justiça penal do espetácu-
alguns aspectos teóricos que nos ajudem a lo, numa luta moralista, populista e punitiva
entender o ressurgimento destes grupos que, contra a corrupção e que não respeita as ga-
não em poucas ocasiões, ameaçam a estabi- rantias penais, transformam-se em importan-
lidade democrática e os direitos mais funda- tes fatores de risco antidemocrático.
mentais:
Nestes fatores conjunturais, não devemos es-
Fatores conjunturais quecer que a reconfiguração social brasileira,
Para entender como a crise política brasileira como consequência da inclusão social pro-
deixa espaço à penetração das novas direitas, movida pelo petismo com a diminuição drás-
elencamos alguns fatores que incidem na ins- tica da miséria, o aumento significativo das
tabilidade democrática nacional e favorecem taxas de emprego, o crescimento de uma nova
a organização social e política das direitas bra- classe consumidora, modificando a morfolo-
sileiras. gia das regiões periféricas do país, são elemen-
tos muito importantes para levar em consi-
O processo de um impeachment ilegítimo no deração na análise do comportamento social
Brasil supõe uma ruptura dramática na esta- brasileiro nos últimos anos. Esta mobilidade
bilidade institucional, fragiliza intensamente provocou novos comportamentos nas regiões
a ordem democrática e acelera os processos que, previamente, estavam mais empobre-
de decomposição política. A anomia políti- cidas e que conseguiram ter níveis de renda

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e formalidade maiores e, também, uma rea- grande fator de coesão e mobilização social,
ção em boa parte das elites e, sobretudo, das ao longo dos anos 2015-2017, nutrindo e
tradicionais classes médias, que pensam seus aumentando a base de apoio de grupos po-
privilégios ameaçados com a ascensão das pulistas de direita como o Movimento Brasil
camadas populares. A raiva antipetista tem Livre, Vem pra Rua ou o próprio Jair Bolso-
um de seus fundamentos nesta reordenação naro, que construíram boa parte de sua popu-
social. Igualmente, o fato do PT ter se trans- laridade na ideia de que o PT seria o partido
formado no partido do governo durante um mais corrupto de Brasil e num ataque frontal,
ciclo extenso afastou-o progressivamente das moralista, destrutivo e demagógico contra o
camadas populares, provocando novas pre- Partido dos Trabalhadores. Durante as mani-
ferências eleitorais em algumas destas novas festações de 2015, organiza-se fortemente nas
classes consumidoras que, frequentemente, se ruas e nas redes uma mobilização conserva-
autoenquadram como novas classes médias e dora. É importante ressaltar que estes grupos
se distanciam da identidade com o petismo se estruturaram em torno à demanda do im-
peachment e em protesto contra a corrupção
E como não mencionar a penetração das igre- petista, portanto, são grupos de fato hetero-
jas evangélicas, novas articuladoras da socia- gêneos, mas cuja identidade coletiva se define
bilidade, especialmente nas periferias, que com base em um antipetismo muito presente.
se configuram como um novo e importan- Para dar números a esta afirmação, aplicamos
tíssimo ator social e político. Algumas delas, um questionário ao grupo manifestante do
como a neopentecostal Igreja Universal do dia 26 de março de 2017 em apoio à Ope-
Reino de Deus, são grandes aliadas na disse- ração Lava Jato, para entender que pautas e
minação dos valores capitalistas, a meritocra- posicionamentos sociais, culturais e morais
cia e a individualização do esforço. Por outro tinham os manifestantes como denominador
lado, o crescimento da Bancada Evangélica comum. Estes grupos, que se definem majori-
fortalece o poder de representantes religiosos tariamente de direita (31.4%), centro-direita
fundamentalistas no Congresso, dificultando
(17.4%) e conservador (47.3% muito con-
a viabilidade das pautas progressistas.
servador, 34.4% pouco conservador), respon-
deram ao questionário de forma pouco coesa
No Brasil, esta conjunção de fatores, que
(34.8% concordam que a união de pessoas
cria a possibilidade política e social para os
do mesmo sexo não constitui uma família,
grupos neoconservadores e de direita radi-
48.6% pensam que a escola deve ensinar va-
cal, é acelerada e propiciada pelo contexto
lores religiosos, 57.2% que feminismo é ma-
nacional que surge pós 2013 e se agrava em
chismo ao contrário). A unidade de respostas
2015 com as primeiras manifestações pelo
impeachment da presidente Dilma Rousseff dá-se em torno de três questões: 1) punitivis-
e que, até o momento, vai fertilizando o ce- mo (82.6% apoiam o aumento de pena para
nário para grupos populistas de direita que, punir criminosos, 84.6% apoiam a redução
em nome da luta contra a corrupção, aprovei- da maioridade penal), rejeição aos programas
taram a conjuntura para se colocarem como sociais e de redistribuição de renda caraterís-
alternativa política. Em pesquisas anteriores1, ticos das gestões petistas (82.2% pensam que
ficou demonstrado que o “antipetismo” foi o o programa Bolsa Família estimula as pessoas
a não trabalharem, 75.2% pensam que as co-
1. http://library.fes.de/pdf-files/bueros/brasilien/13540.pdf
tas não são uma boa medida) e, fundamental-

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mente, no antipetismo (84.8% definiram-se mentos desta justiça do espetáculo, na qual a


como muito antipetistas). atividade processual é cada vez mais midiática
e certos juízes assemelham-se mais a pop stars.
Por outro lado, se nas primeiras manifestações
de 2015 o antipetismo era o elemento mais Episódios como o levantamento do sigilo e a
evidente, o discurso de negação da política posterior disponibilização das escutas telefô-
tradicional no seu conjunto e a rejeição ao nicas do ex-presidente Lula com a presiden-
partido político tradicional aumentam cada te Dilma Rousseff pelo juiz Sergio Moro, no
vez mais. Além do antipetismo, que aparece dia 16 de março de 2016, causando um ter-
como grande fator de coerência, o discurso remoto nacional depois da divulgação pelo
antipolítico, resumido nos slogans “faxina ge- Jornal Nacional, com o evidente propósito
ral”, ou “que prendam todos” do movimen- de estimular a comoção pública e preparar o
to Vem pra Rua, está se transformando num terreno social propício para a votação do im-
importante fator de coesão para estes grupos peachment, são exemplos inconfundíveis do
conservadores. À pergunta “com qual partido ativismo judicial midiático lavajatista, atuan-
político você se identifica”, nesta mesma ma- do na dinâmica da espetacularização judicial.
nifestação, 72.9% responderam que nenhum, Da mesma forma, funcionaram as delações
seguidos por 11.7% que escolheram o PSDB televisionadas de Joesley Batista, as quais, por
e 6.8% o Partido Novo. Os avanços da ope- horas, a população brasileira assistiu ao de-
ração Lava Jato para outros partidos, além do gradante teatro do empresário que, com uma
PT, ajudaram a popularizar a imagem do po- postura de macho confiante, foi desvelando
lítico corrupto, de tal forma a ter quase uma o segredo pós-democrático: a democracia é
relação de sinonímia entre os conceitos po- leiloada, comprada e vendida pelos grupos
lítico e corrupto. Os partidos brasileiros são econômicos. Consequência direta desta ses-
enxergados com desconfiança, negatividade e são interminável de exorcismo televisivo foi
uma enorme distância simbólica. o aumento do sentimento antipolítico na po-
pulação. A luta contra a corrupção como um
Sem dúvida nenhuma, uma contribuição eficaz instrumento populista.
primordial para o crescimento de posturas
antipolíticas tem sido a justiça do espetáculo O político, que é percebido pela opinião pú-
promovida pela Operação Lava Jato. Um tipo blica como corrupto, passa por um processo
de justiça na qual os conflitos são definidos e de demonização. O político corrupto repre-
julgados jornalisticamente, com papéis con- senta o “mal” e o juiz o “bem”, numa visão
fusos e sobrepostos entre imprensa e justiça. dualista e pseudo-religiosa da realidade. O
A imprensa tem atribuições que eram espe- corrupto, portanto, não representa mais um
cíficas dos tribunais (Rodriguez, 2000) e os sujeito de direito ao qual deve ser aplicado o
julgamentos são televisados numa lógica de devido processo penal respeitando direitos e
Big Brother. O controle da justiça é exercido garantias. O “mal” tem de ser extirpado, ani-
pela imprensa, ou seja, uma entidade priva- quilado e, para isso, o devido processo penal
da, e por uma sociedade que assiste à teatra- incomoda. Note-se aqui que, para chegar ao
lização da justiça, teatralização que provoca, rótulo de corrupto, não é necessária a chan-
em última instância, anseios de linchamento cela da justiça. É no julgamento social e mi-
em praça pública. Do Mensalão à Lava Jato, diático, na justiça penal do espetáculo que
show-business, audiência, ibope são agora ele- se chega à conclusão da culpabilidade do su-

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jeito. O julgamento é mero acessório depois acelerada por um imediatismo tecnológico e


da condenação por parte da opinião pública, midiático, entra em confronto com o tempo
mas espera-se dele uma atitude punitiva e político, o tempo representativo, muito mais
exemplar. demorado. Passamos da “democracia dos par-
tidos” à “democracia das audiências” (Manin,
Ao lado destas tensões, o nunca resolvido pro- 1997), com a substituição do espaço público
blema de segurança pública permanece sem- de debate pelo protagonismo dos meios de
pre como uma porta de entrada aberta para os comunicação de massa e com um eleitorado
grupos de direita. A ausência de uma resposta mais fluido, menos fidelizado, que se mobi-
competente para este assunto, durante os go- liza muito mais por causas concretas do que
vernos petistas, deixa em mãos de uma direita por referências partidárias. Volatilidade, hiper-
punitiva e demagógica, que insiste na guerra complexidade social, difusão de pautas e de-
às drogas, no estado policialesco e na militari- mandas, desagregação de grupos, pluralismos
zação da segurança pública. Como maior ex- são as novas formas de sociabilidade e organi-
poente desta política, a intervenção militar do zação coletiva, incompatíveis com as clássicas
Rio de Janeiro demonstra como a violência e estruturas representativas, muito mais rígidas,
a insegurança são fatores, que podem muito hierarquizadas e lentas. Uma cidadania mais
bem ser instrumentalizados política e eleito- crítica, mais informada, que se desconecta
ralmente. Do lado de uma justiça do espetá- cognitiva e afetivamente do partido como es-
culo, temos a segurança do espetáculo. Togas trutura intermediadora. Tudo isso junto com
ou tanques nas televisões brasileiras. Populis- a centralidade cada vez maior da Internet, que
mo do judiciário, populismo militarista, am- produz novos padrões de sociabilidade e com-
bos são enormes riscos para os bons rumos portamento político. As formas de organização
democráticos. online e seu impacto radical na democracia,
até com efeitos não esperados e muito descon-
Fatores estruturais certantes como o fenômeno das fake news ou
A democracia em crise é uma afirmação que a boatos virtuais ou a utilização de Big Data em
ninguém mais surpreende. Uma crise multi- campanhas eleitorais, para influenciar as prefe-
facetada que tem como consequência o declí- rências políticas do eleitor.
nio das estruturas representativas tradicionais
e um mal-estar geral com o funcionamento Tempos de “dessacralização da política”, de
democrático atual. Vivemos em tempos nos “ambiguidades de desintermediação” (Inne-
quais a política nos é apresentada como algo rarity, 2017), processos que provocam decep-
prescindível, inclusive sujo, vergonhoso e é ção com a dinâmica democrática tradicional.
desejável a não profissionalização do político. Autores, como Rossanvallon, caracterizam
Nossas possibilidades eleitorais, com frequên- a democracia atual como uma democracia
cia, são reféns ou de uma tecnocratizacão da minimalista, uma democracia eleitoral, de
política ou de uma política demagógica que autorização, mas não de exercício nem de
manipula medos, emoções e afetos. apropriação, Democracias atrofiadas porque
os partidos já quase não exercem a função de
Por outro lado, as intensas e rapidíssimas intermediação.
transformações sociais, vividas nas últimas
décadas, desafiam os esquemas clássicos de Evidentemente, um dos problemas não resol-
representatividade. A atual temporalidade, vidos da atualidade é a relação entre democra-

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cia e neoliberalismo. Neoliberalismo como “a te capturado pela lógica capitalista. Eis aí o


nova razão do mundo”, que atravessa todas paradoxo: uma democracia que funciona na
as esferas da existência humana para além da aparência, mas cada vez mais esvaziada de
econômica. O neoliberalismo como uma for- conteúdo e sentido. A democracia vai sen-
ma de existência, fabricação do ser humano do substituída pela corporocracia. As grandes
(Laval, Dardot, 2017). Quando falamos de decisões não são tomadas pelo “demos”, pelo
novas direitas, com frequência, estamos nos “poder popular” e sim pelas grandes concen-
referindo a duas matrizes diferenciadas: neo- trações privadas de capital, que pensam a de-
liberal e neoconservadora. Tradicionalmen- mocracia como um instrumento para atingir
te, estas duas matrizes apresentam-se como maiores níveis de intervenção política e lucro.
separadas e com formas de organização que A democracia, portanto, passa a ser um aces-
caminham em separado. Ultimamente, po- sório do capitalismo, que é o verdadeiro cora-
rém, a ética neoliberal aproxima-se da ética ção do sistema. O âmbito do poder decisório
neoconservadora, numa convergência, ao que está totalmente afastado da população e fica
parece, incoerente, mas muito frutífera (Wey- na órbita das grandes empresas e oligarquias
land, 2003). Duas racionalidades inicialmen- políticas. As formas autoritárias clássicas do
te diferentes, mas aliadas numa dinâmica de século passado foram substituídas por formas
poder (Brown, 2006). Reformas neoliberais despóticas muito mais sutis, pois vestem rou-
drásticas, cortes dramáticos do orçamento pagens democráticas. A sofisticação do con-
público, estado mínimo, restrição dos direitos trole é muito mais elaborada, mas também
trabalhistas, propostas econômicas impopula- mais perversa porque, por ser muito mais
res que precisam se legitimar ou se esconder imperceptível, permite uma margem muito
sob discursos conservadores, que deslocam o menor para a reação. Neste sistema, o capital
centro do debate público. No Brasil, um cla- é o centralizador de tudo. A ele tudo perten-
ro exemplo é a dinâmica das guerras culturais ce e fora dele nada sobrevive. As condições
fomentada pelo grupo neoliberal MBL (Mo- de existência só se dão dentro do capital. As
vimento Brasil Livre), que insiste em polêmi- subjetividades se constroem dentro do capital
cas moralistas como as do Queermuseum ou e só dentro dele.
a suposta pedofilia da exposição do MAM, a
fim de aumentar sua base de apoio. Moralis- Anteriormente, falamos da crise econômica
mo fundamentalista e inquisidor que se une brasileira como um dos elementos para con-
a um discurso de negação e demonização da textualizar a atual conjuntura de desencanta-
política tradicional. A política é vista e pensa- mento coletivo. O ecossistema internacional
da de forma vergonhosa, desprezível, imoral. de risco econômico permanente e a reestrutu-
É a politização da antipolítica e o triunfo do ração do trabalho e dos novos padrões produ-
“não sou político, sou gestor”. tivos são alguns dos elementos centrais para
entender as dificuldades das estruturas repre-
Neste sentido, Crouch (2013) define pós- sentativas tradicionais. Flexibilidade, hiper-
-democracia como um sistema de fachada produtivismo, home-office, estagiários de por
democrática, com instituições representativas vida, batalhões de trabalhadores em situação
que, na aparência, funcionam (na pós-demo- de exclusão social, precariedade, vulnerabili-
cracia votamos, elegemos nossos representan- dade acelerada, milhões de pessoas descartá-
tes), mas, na verdade, por baixo desse exterior veis em situação de desemprego crônico. The
puramente formal, o sistema está totalmen- poor working class, a classe trabalhadora glo-

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balmente pauperizada. O autor pós-colonial de cumprir suas promessas de mais inclusão


Achille Mbembe explica este fenômeno, des- social e igualdade, amalgamando-se num
crevendo como o neoliberalismo é a universa- “centro” político junto com a direita mais
lização da condição negra, transformando o moderada, que descaracteriza as múltiplas
Negro no paradigma de uma humanidade su- diferenças partidárias entre eles, provocan-
balterna e expandindo sua condição (Mbeme, do reações nos extremos. O voto em Donald
2014). Esta condição provoca uma incerteza Trump, em Jair Bolsonaro, em Marine Le Pen
existencial permanente no trabalhador, que se é consequência desta vulnerabilidade existen-
sente cada vez mais inseguro, num processo de cial, na qual a pós-democracia nos joga. Os
desenraizamento social. O trabalho é um dos autoritarismos populistas e de extrema-direi-
eixos estruturantes das relações sociais. Com ta oferecem respostas (simplórias e enganosas,
a degradação do mesmo, desestruturam-se mas respostas) a este desespero ontológico, a
também estas formas de sociabilidade, pro- esta sensação de risco e medo global perma-
vocando uma dinâmica de desfiliação (Cas- nente e ao saudosismo conservador. As nar-
tel, 2005) desintegração e isolamento social. rativas do muro, da islamofobia, do “ban-
Porém, em paralelo, as estruturas clássicas de dido bom é bandido morto”, ganham força
representatividade e luta coletiva trabalhista e expressividade numa realidade em que a
estão imensamente fragilizadas, assim como pós-democracia oferece respostas existenciais
o conceito de classe como um fator de mo- insuficientes aos milhões de sujeitos descartá-
bilização. A democracia de mercado, o cida- veis, pauperizados e fadados a um não-lugar,
dão transformado em consumidor, em homo a um não-pertencimento sociopolítico.
economicus, a globalização da periferia. Estes
elementos têm como consequência imediata Nos países periféricos, porém, esta crise de-
o sofrimento psíquico da sociedade, porém, mocrática convive com traços de brutalidade
o sofrimento não se percebe como coletivo, autoritária, estado penal permanente e excep-
produzido pelo capitalismo contemporâneo, cionalidade legal contínua. No Brasil, as ca-
e sim como individualizado, dando lugar a deias continuam tragando jovens negros pou-
sentimentos de fracasso e culpa. A meritocra- co escolarizados num processo higienista de
cia toma o lugar da politização do sofrimento hiperencarceramento. O genocídio negro nas
(Coelho, 2013). periferias, que tritura jovens descartáveis para
o processo produtivo, convive ao lado de pro-
Nesta ordem de coisas, os partidos políticos cessos muito mais sutis de controle para aque-
transformam-se em partidos decorativos, em les que são peças da engrenagem do mercado.
máquinas profissionalizantes e hiperburocra- Para a população negra, o estado de exceção é
tizadas, cartelizadas, que perdem sua conexão permanente. São aqueles por quem ninguém
ideológica, emocional e psicológica com o chora, por quem não se tem luto coletivo
eleitor. O voto passa a ser mais um momen- (Butler, 2015). A democracia pós-escravidão,
to cartorial da vida do indivíduo, que não se que foi negada ao negro por meio de proces-
sente representado por estas estruturas cada sos de criminalização e precarização contínuos
vez mais autocentradas, reféns da lógica das (Du Bois, 1956). Mbembe (2017), explica
elites empresariais e absolutamente distantes como, contrariamente à retórica democrática
da população. Crise de representação parti- hegemônica, existe uma relação íntima en-
dária que incide mais ainda nos partidos da tre democracia e violência, uma coexistência
esquerda tradicional, incapazes, muitas vezes, macabra entre democracia e extermínio, por-

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que democracia e colônia sempre caminha- aos movimentos de contracultura, feministas,


ram juntas. Instaura-se um estado de exceção movimentos negros nos anos 1960 e 1970,
em escala global, a guerra torna-se necessária para reestruturar a disputa discursiva em ter-
para o funcionamento democrático, sobretu- mos morais: o saudosismo dos velhos tempos
do a guerra colonial, que transforma as socie- da lei e da ordem e da hegemonia branca e
dades periféricas em sociedades de inimizade. masculina. O paralelo com as dinâmicas da
Brutalidade e democracia não são excludentes nova direita é evidente. A penetração das lu-
na realidade pós-colonial. O inimigo torna-se tas feministas e dos movimentos negros ou
a retórica que justifica todas as violências e o LGBTQI, a visibilidade dos imigrantes ou
medo torna-se o argumento central da polí- refugiados provocam uma reorganização vio-
tica. A desigualdade e o racismo estruturais lenta e moralista de quem pensa seu mundo
são absolutamente incompatíveis com uma ameaçado.
democracia de mínimos.
Este contexto, no qual crises econômicas e
Hoje, dentro e fora da imprensa, todo deba- políticas se misturam e retroalimentam, pos-
te político é dominado por um discurso que sibilita a reorganização de um campo neo-
coloca temas morais como o combate ao ho- conservador, que utiliza a retórica do medo
mossexualismo e o endurecimento penal em e do inimigo como instrumento mobilizador,
primeiro plano e subordina as questões eco- retoma os valores da família tradicional: or-
nômicas e sociais a essa visão de mundo pu- dem, hierarquia, autoridade, moral, frente à
nitiva. Estamos vendo, no Brasil e em outros suposta libertinagem do campo progressista.
países, uma expansão mundial das guerras Nova direita ou a velha e clássica direita rees-
culturais que tomaram os Estados Unidos a truturando-se com novas morfologias? Mes-
partir do final dos anos 1980. A antiga polari- mo sem consenso sobre a terminologia nova
zação, entre uma direita liberal que defendia a direita (Giordano, 2014), o certo é que esta
meritocracia baseada na livre iniciativa e uma alternative-right, direita alternativa (catego-
esquerda que defendia intervenções políticas ria utilizada para diferenciá-la da direita tra-
para promover a justiça social, passa a ser não dicional), que se declarou politicamente para
substituída, mas crescentemente subordinada o mundo depois da eleição de Trump, tem
a um novo antagonismo entre, de um lado algumas características que vale a pena desta-
um conservadorismo punitivo, autoritário car: o combate direto a questões identitárias
e antipluralista e, de outro, um progressis- (antifeminismo, por exemplo) como defesa
mo inclusivo. Costuma-se atribuir a James de uma identidade masculina, heterossexual e
Hunter a identificação precisa do fenômeno cis, claramente antipluralista, que parece estar
e a difusão do termo guerras culturais para sob ataque; o combate ao conhecimento cien-
referir-se ao processo pelo qual temas como tífico, a utilização de fake-news e a exploração
o direito dos homossexuais, a legalização do do senso comum na dinâmica da pós-verdade
aborto, o controle de armas e a legalização das demagógica, que entende o adversário políti-
drogas passaram a ganhar proeminência no co como inimigo a aniquilar; narrativas anti-
debate político americano, no final dos anos políticas e estimulação do descrédito institu-
1980, opondo “conservadores” a “progres- cional e político e o sentimento de repúdio
sistas”. Um novo antagonismo que opunha e vergonha (a política não serve, a política
visões de mundo baseadas em concepções de é corrupta, suja) e apresentação como anti-
autoridade moral como reação conservadora -mainstream, outsiders e anti-establishment;

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utilização do discurso de ódio legitimado como quecimento ilícito do deputado e sua família
sendo liberdade de expressão; banalização do na Folha de São Paulo2, o pré-candidato con-
ódio ou apresentando-o com roupagem ju- tinua com 18% de intenção de voto, depois
venil, folclórico, “memeficado”; proximidade de Lula com 37% e à frente de Alckmin com
com os “perdedores da globalização”, as clas- 7%. Sem a candidatura de Lula, porém, Bol-
ses médias e também as classes populares, es- sonaro assume a primeira posição com 20.
tas últimas que, tradicionalmente, votaram em
partidos de esquerda, mas que hoje se sentem Na imagem seguinte, podemos ver a evolu-
traídos por estes mesmo partidos; teatralização, ção da candidatura de Bolsonaro que ganha
utilização das redes sociais como canais de co- força no cenário pós-impeachment e chega a
municação e proximidade com a população; ultrapassar a candidata Marina Silva, ficando
utilização de uma narrativa combativa contra num estável segundo lugar já na pesquisa de
as elites políticas e construção do discurso me- novembro de 2017.
ritocrático do self-made man da centralidade
do trabalho e esforço individuais (Drolet 2014, Em termos eleitorais, o candidato enfrenta
Hawley 2017, Urban 2014). graves problemas, principalemente sua fi-
liação a um partido pequeno, PSL, que lhe
Esta nova direita sabe aproveitar e capitalizar o garante pouco tempo de TV e escasso aces-
descontentamento provocado pela pós-demo- so ao fundo partidário, mas, o fato é que o
cracia, pauperização globalizada, desemprego fenômeno Bolsonaro é muito maior que a
permanente, medo, não-lugar existencial, des- viabilidade de sua candidatura. A penetração
cartabilidade das classes médias e também das e capilaridade de suas ideias, a retórica e men-
classes populares, que começam a rejeitar polí- sagem nos diversos segmentos da população e
ticas assistencialistas e a negar adesão e voto aos o crescimento exponencial de sua intenção de
partidos da esquerda tradicional. voto devem nos fazer pensar que não estamos
tratando da ameaça individual de Jair Messias
Metodología Bolsonaro e, sim, da ameaça de um processo
de “bolsonarização”, ou seja, popularização
O objetivo desta pesquisa é entender os argu- de uma política antidemocrática, autoritária
mentos do discurso da nova direita populista de extrema-direita, que continuará para além
com os quais as pessoas se identificam. Para do individuo em si. Durante muito tempo,
atingir este objetivo, a metodologia consiste vários setores do campo progressita brasileiro
em entrevistas em profundidade com sim- menosprezaram, caricaturaram ou ignoraram
patizantes de Bolsonaro. Representante da esta dinâmica, assim como também dimi-
alt-right brasileira, Jair Messias Bolsonaro, nuiram a importância de Donald Trump nos
uma figura política com biografia inexpres- EUA. Agora, ningúem mais pode desconside-
siva politicamente, mas que no cenário pós- rar ambas figuras.
-impeachment de intensa polarização social e
crescente retórica antipolítica e a eleição de Os entrevistados foram selecionados para
2018, colocou-se como um dos protagonistas cobrir um amplo espectro de posição econô-
da vida política. Na última pesquisa Datafo- mica, emprego, idade, gênero, todos dentro
lha de intenção de voto, realizada nos dias 29
2. http://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/01/1948526-
e 30 de janeiro de 2018, ou seja, dias depois patrimonio-de-jair-bolsonaro-e-filhos-se-multiplica-na-
da série de denúncias contra o suposto enri- politica.shtml.

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

Primeiro turno - Cenário 2


Intenção de voto para presidente em em %
Com Alckmin

32

25

20

15

10

0
5 a 17 dez/2015 24-25 fev/2016 17-18 mar/2016 7-8abr dez/2016 14-15jul/2016 7-8 dez/2016 26-27 abr/2017
Lula Marina Bolsonaro Alckmin Ciro Temer

Fonte: Pesquisa Datafolha, de 26 e 27 de abril de 2017

da cidade de São Paulo. A maioria dos entre- pertencente a uma família de grande poder
vistados não permitiu que seus nomes apare- financeiro, nascido em Jundiaí. Entrevistada
cessem na pesquisa, por temerem algum tipo M, 35 anos, manicure, nascida no Jaraguá.
de represália, neste ambiente político tão rai- Entrevistada E, 50 anos, empresária, nascida
voso, eu tenho medo,então melhor não colocar no Jardim Paulista. Entrevistado J, 19 anos,
nome, nem foto. Nada, por favor (Entrevistada estudante, autoidentificado como “gay de
A). Além de uma natural desconfiança inicial direita”, nascido no Capão Redondo. Entre-
com um pesquisador não conhecido, vários vistada L, 45 anos, psicóloga, nascida na Vila
dos entrevistados repetiram este mesmo argu- Mariana. Entrevistado A, 27 anos, motorista
mento de se sentir com receio e insegurança de Uber, nascido em Itaquera.
de expor sua opinião política, pela possibili-
dade de ter alguma represália, porque muitos -Dinâmica de grupo com 40 alunos do tercei-
não gostam do que a gente fala, dizem que so- ro ano e 20 do primeiro ano do ensino médio
mos fascistas, que temos discurso de ódio, nada de uma escola pública estadual de São Miguel
disso! A gente só quer que acabe esta bagunça, Paulista, periferia de São Paulo.
esta crise de valores. A gente ama o Brasil (En-
trevistado E). Resultados: quais são os
argumentos para se identificar
-Entrevistado W: homem, 24 anos, estudan- com Bolsonaro?
te universitário, nascido na Brasilândia. En-
trevistado D: homem, 37 anos, soldado da Segurança Pública
Polícia Militar do Estado de São Paulo, nas- Segundo dados da Secretaria de Segurança
cido no Grajaú. Entrevistado E: homem, 32 Pública, durante 2017, a cidade de São Pau-
anos, dono de um escritório de advocacia, lo teve uma média de 530 furtos por dia. O

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

número de roubos na capital chegou a mais Fato também é que durante muito tempo,
de 150 mil. Embora o Estado de São Paulo os partidos de esquerda têm se furtado a um
tenha uma taxa menor de homicídios que debate sério e propositivo sobre segurança
outros estados da Federação, durante o mês pública, deixando em mãos da direita mais
de novembro de 2017, foram 295 vítimas. punitiva e totalitária este assunto emergencial
Estupros, 1051 ocorrências. Estas cifras são para grande parte da população.
o resultado de um país enormemente desi-
gual, onde, com frequência, o patrimônio da Embora o Brasil seja um país onde o hipe-
branquitude é mais importante que as vidas rencarceramento é política pública, as pessoas
negras, com uma atualíssima estrutura escra- continuam tendo sensação de impunidade e
vocrata, com uma concepção da política e da insegurança.
polícia militarizada e higienista, uma belige-
rante guerra às drogas que produz milhares de “Você pode ser morto a qualquer momento!
vítimas nas periferias, um sistema de justiça Este país é horrível. Você tem uma filha, sai à
criminal ainda com evidentes traços classis- noite e ela pode ser estuprada. Roubo, assalto,
tas e hiperpunitivo, que reproduz o círculo da por todo lado. Não dá para viver desse jeito,
violência. A brutalidade que “convive” com não dá. Eu tenho medo por mim, pelos meus
a democracia, como Mbeme falava, seu lado filhos. Ninguém merece viver sempre com
escuro, a reprodução da condição do negro. medo. A gente quer soluções” (Entrevistada E).

A realidade é que as pessoas têm medo, a Uma questão amplamente recorrente nas en-
percepção de insegurança é permanente. O trevistas é o vitimismo dos bandidos. O la-
medo é um afeto que tem uma enorme po- drão virou vítima. Numa alteração da ordem
tencialidade política. Medo ontológico, medo social, o “cidadão de bem” estaria desprotegi-
existencial, medo de ser assassinado, medo de do, a vítima abandonada e o criminoso super-
ficar desempregado, medo de não ter um lu- protegido pelo Estado. Uma visão moralista e
gar no mundo. A exploração, a potencializa- binária do mundo entre bandido e cidadão de
ção do medo como fator é um instrumento bem, que simplifica intensamente a realidade
antigo e recorrente. Mas o fato é que o medo social e reduz a rótulos moralistas. Defensores
é um sentimento profundamente humano dos direitos humanos são enxergados como
e deve ser entendido. Para explorar o medo, defensores de bandidos.
porém, precisamos de um inimigo. A criação
do inimigo é uma ferramenta política muito Direitos humanos para humanos
aceitável em momentos de crises. A História direitos:
nos ensinou isso. Vale lembrar, neste momen- “A gente sabe da falta de pai na periferia.
to, do conceito de significante vazio de La- Miséria, sim, que isso leva ao crime, tem um
clau (2005), aquele conceito que é esvaziado fundo de verdade, mas não justifica. O la-
de conteúdo e sobre o qual se constrói uma drão virou vítima. É como se ele fosse compe-
cadeia de equivalentes, que servem para iden- lido a entrar no mundo do crime pela omis-
tificar inúmeras dinâmicas sociais; o inimigo, são do Estado, pela situação familiar. Eu não
o vagabundo, que pode ser o estrangeiro, o aceito isso. Eu também passei fome. A gente
imigrante, o jihadista, o comunista ou pode comia de café da manhã farinha de milho
ser o inimigo interno, o jovem negro favela- flocada com água e açúcar e minha mãe di-
do, o corrupto. zia que eram sucrilhos de pobre; o suco do

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

almoço era vinagre com açúcar, por isso, não dele e com a da família dele. A gente nem
aceito essa coisa de ladrão ser vítima. Se até a advogado da corporação tem. Ninguém nos
novela das 21h da Globo faz homenagem ao ajuda numa hora dessas. Falam que a Cor-
crime! ” (...)“os defensores de direitos huma- regedoria é corporativista. Não é, gente, ela
nos defendem com unhas e dentes o bandido. pune!... Aí sai matéria sobre pancadão, que
Ele é o ser humano, mas e a vítima? Não vejo a polícia agride jovens. Jovens? Criminosos!
ninguém dando apoio às vítimas. Olha o au- ... que nem em 2013, o pessoal vai e quebra
xílio reclusão, que absurdo. O ladrão mata tudo e quem é xingado? A PM! Desmilitari-
um pai de família e a família do cara fica zar a PM ... Os políticos que aumentaram a
desamparada. Poderia ter um auxilio homi- tarifa, né? Não, a PM! Muito policial morre
cídio, não? Um auxílio vítima? Ninguém porque tem medo de matar, de ir preso, de
olha para a vítima. Então, legaliza o crime, ser punido. Aí, duvida se atiro ou não atiro e
fecha a polícia e pronto! ” (Entrevistado D). morre. Mas e o ladrão? Mata o policial e não
responde por latrocínio ou por homicídio,
“Eu só sei que, hoje em dia, é melhor ser porque foi legítima defensa! Porque o policial
bandido do que cidadão de bem. A gente sai estava armado! Pelo amor de Deus...não dá,
pra rua com medo e eles não. Eles têm mais não dá. Aí tem o Bolsonaro, o Camilo, o Te-
direitos que a gente e, depois, vêm como esse lhada. Eles se colocam do lado da gente, por-
mimimi, tentando dar pena na televisão. que eles sabem, já estiveram do lado daqui.
Pena de bandido? Pena da gente, que não Mas aí chega um especialista em segurança
pode viver em paz! ” (Entrevistada M). pública, um carinha de 30 anos, que nunca
patrulhou, que nunca entrou em favela per-
Segundo os entrevistados, a polícia passa por seguindo ladrão e a palavra dele tem peso. E
um processo de criminalização e persegui- a nossa??” (Entrevistado D).
ção constante pela mídia e pelos grupos de
esquerda, além do abandono pela cúpula da Diante disso, as repostas de Bolsonaro con-
corporação e pelo próprio Estado. O policial vencem: mão dura, disciplina, cadeia, redu-
virou bandido e não pode mais fazer seu tra- ção da maioridade penal, aumento das penas
balho, o que acaba tendo como resultado o no Código Penal, prisão perpétua, porte de
aumento do crime. arma, dar muito mais poder e proteção à po-
lícia, acabar com a vitimização do bandido.
“Nós, policiais, estamos largados, algemados,
não podemos fazer nada porque cada vez “A lei tem de ser dura. No Brasil, somos mui-
mais as leis restringem nosso trabalho. Nas to frouxos. Bandido na cadeia, pronto. Não
matérias, sempre aparece que matamos mui- quer cadeia, vá trabalhar. Fácil” (Entrevis-
tos, como se saíssemos para matar! Como se tada L).
os policiais não morressem. E aí sempre com
essa coisa de que a maior parte das vítimas “O porte de arma deveria estar liberado para
são negros e pardos. Ou seja, só a polícia que o cidadão de bem. Se o Estado não nos pro-
está assassinando de graça, o crime não faz tege, a gente tem de se proteger sozinha, né?
nada e, sempre também, aquele papo da Bandido tem arma e a gente não! Olha nos
impunidade. Não é verdade! O policial que EUA. É um direito nosso! Se a gente quer ter
mata não fica impune. Todos os que fizeram arma para defender a família, a casa, como
caíram. Quem faz hoje acaba com a vida podem proibir? ” (Entrevistado A).

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

Mas vejamos uma interessante reviravolta primos. Agora, não ter água, comer comida
desses argumentos. Durante o grupo focal estragada...Isso é um sofrimento desnecessário.
na escola de São Miguel Paulista, uma aluna, A pessoa sai de lá sentindo mais ódio. Tem de
com um discurso muito punitivo, defendia a ter disciplina, mas não sofrimento. São pessoas.
famosa frase de Bolsonaro de que “cadeia não Isto que não é Hammurabi. Eu me sinto mal
é colônia de férias”. com isso” (Entrevistado W),

“O cara tem de apodrecer na cadeia, pagar Mas, para todos, a saída está na disciplina.
com a mesma moeda. Eu acho que a pessoa Botar ordem na casa. Autoridade. O milita-
deveria ficar sofrendo, sim. Hoje, na cadeia, rismo como modelo, inclusive as escolas mi-
tem celular, até colchão. Deveria dormir no litares são amplamente defendidas por todos.
chão. Ficar preso é para sofrer mesmo. Ca-
deia não tem de ter colchão, tem de ter chico- “Disciplina, sim, também nas escolas públi-
te” (Aluna3, 15 anos). cas. Cantar o hino nacional, tratar o pro-
fessor como autoridade, respeito e disciplina
Porém, momentos depois, uma colega de tur- inerentes ao sistema militar. Na minha vida
ma, que também apoiava esse rigor punitivo isso foi um divisor de águas. As leis têm de ser
com entusiasmo, disse que sua tia estava na respeitadas e a autoridade também” (Entre-
cadeia e começou a reelaborar seu discurso. vistado W).
“Mas minha tia está na cadeia, não quero “Agora você passa de ano mesmo sem saber
que ela sofra e acho que ela sofre muito. Ela ler e escrever com fluidez. Falta disciplina,
cometeu muitos erros, sim, mas é uma pessoa falta autoridade. Compara uma escola pú-
e não merece ser tratada dessa forma. Tem de blica com uma militar! Lá tem dedicação,
punir, mas também tratar como ser humano”
disciplina, autoridade, os garotos melhoram
(Aluna6 de 15 anos).
até dentro de casa, têm respeito. O milita-
rismo ensina a ser gente, a ser homem, a ser
A experiência concreta das pessoas provoca-
decente. Mas esta geração tranqueira de hoje,
-as a repensar o punitivismo como processo
o pessoal quer libertinagem, sem regras, sem
de desumanização do bandido. Alguns entre-
limites, e aí não dá, né? ” (Entrevistado A).
vistados defendem uma punição vingativa e
uma cadeia-masmorra, mas isso não é con-
Corrupção e antipolítica
senso, sobretudo entre os que têm experiência
Pesquisa do Ibope mostra que, em 2017, a
familiar ou profissional com o sistema prisio-
primeira preocupação dos brasileiros foi a
nal brasileiro.
corrupção, com 62% de entrevistados que
“Sou contra a pena de morte porque ela não é consideraram a corrupção o grande problema
castigo, mas sou a favor da prisão perpétua e do país naquele momento, frente a 9% que a
de aumentar algumas penas. O modelo prisio- consideravam em 2011, situando-se na frente
nal brasileiro não funciona, porque não resso- das preocupações históricas como segurança
cializa, não corrige ninguém. Minha tia está e saúde3.
presa por assalto a caixa eletrônico e tráfico de
3. https://oglobo.globo.com/brasil/corrupcao-principal-preo cu­­-
drogas. Não sinto pena dela estar na cadeia,
pacao-para-62-dos-brasileiros-mas-denuncias-podem-ser-coad-
porque ela deve pagar, mas sinto pena de meus juvantes-22241432

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

Consequência direta da operação Lava Jato e “Bolsonaro é um ícone de ética. O país vive
sua espetacularização, os brasileiros enxergam numa crise ética e moral desde Collor. É in-
um sistema político totalmente corrompido. dignante. Mensalão petista, tucano, Lava
O monopólio da luta contra a corrupção em Jato. Ele não está envolvido, é ético. E é tão
mãos de grupos populistas, punitivos, mora- difícil encontrar alguém com a vida política
listas e com interesses políticos, deixou como dele, que esteja limpo. Aparentemente, ele é
legado um crescente sentimento antipolítico incorruptível. Tem se mantido limpo durante
e a ideia de que política é sinônimo de cor- todo este tempo, num meio tão sujo. O siste-
rupção e nenhum político presta. ma político não funciona. Está todo corrom-
pido. Partidos de esquerda, de direita, a ideo-
Nas manifestações de 12 de abril e 16 de logia deles é a corrupção” (Entrevistado J).
agosto de 2015, as primeiras pelo impeach-
ment de Dilma Rousseff, foi medida a per- “Bolsonaro não é corrupto e é diferente dos
cepção de escândalos de corrupção relativos partidos que estão aí. PT e PSDB são a
aos governos tucanos e, também, a falta de mesma coisa. No Brasil só existe o poder e
confiança em partidos políticos nos manifes- o dinheiro. Olha a Lava Jato, no Congres-
tantes verde-amarelos: 99.0% consideravam so eles são do contra, mas na corrupção estão
a Lava Jato muito grave (ainda identificada de mãos dadas. Bolsonaro é diferente porque
com o PT), mas, paralelamente, 87.4% con- não é corrupto” (Entrevistado D).
sideravam o esquema de corrupção do Metrô/
CPTM de São Paulo muito grave e 80.2% o Quando perguntado sobre as denúncias de
mensalão tucano muito grave. Nestas mesmas corrupção que apareceram na Folha de São
manifestações, nas quais o antipetismo se co- Paulo durante o mês de janeiro, a maioria das
locou com toda sua expressividade, quando respostas coincide: é uma perseguição da im-
os grupos verde-amarelos foram questiona- prensa para acabar com a candidatura dele.
dos pela sua confiança nos outros partidos, os
“A imprensa quer acabar com ele porque sa-
resultados eram muito baixos: só 11.0% dos
bem que é muito forte. Ninguém segura. Vão
entrevistados responderam confiar muito no
fazer de tudo para acabar com ele, mas a gente
PSDB. No PMDB 1.4% e na Rede 2.6%4.
sabe que ele é honesto” (Entrevistada E).
Neste sentido, todos os entrevistados da pes-
A Lava Jato é defendida porque está passan-
quisa atual coincidem que Bolsonaro é o úni-
do o país a limpo e tirando os corruptos do
co, ou um dos únicos políticos honestos de
poder, mas nas entrevistas o sentimento de
Brasil. Na visão deles, a corrupção perpassa
justiça não aparece habitualmente. Quando
todos os partidos. Não tem diferença entre
questionados por procedimentos polêmicos
esquerda e direita, porque o que preocupa os
na operação, como as conduções coercitivas,
políticos é somente seu próprio benefício e
delações premiadas, proximidade com a im-
interesse. É uma absoluta negação da política, prensa, o atropelamento do devido processo
não por questões ideológicas ou programáticas, penal e das garantias dos envolvidos, os entre-
mas porque é vista como uma atividade suja, vistados sempre têm a mesma retórica: o polí-
vergonhosa e corrupta por natureza. tico corrupto é o mal, o câncer a ser extirpado
e a Força Tarefa da Lava Jato, o juiz Sérgio
4. https://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/18/opinion/1439933
844 z_328207.html
Moro, os procuradores envolvidos represen-

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

tam o bem, figuras heroicas, que, num discur- -Manifestante2: “Sim! Tem de vazar mesmo.
so salvacionista e pseudo-religioso, tem a mis- Veja bem, se não fosse por isso, eles escon-
são de salvar Brasil da corrupção. O político diam. A gente não ficava sabendo e eles não
corrupto e, fundamentalmente, o petista, é o iam presos”.
inimigo a ser abatido e, portanto, as devidas
garantias penais são meros formalismos. É a -Pesquisadora: “O senhor acha que a opera-
justiça penal do inimigo. ção Lava- Jato vulnera os direitos dos políti-
cos que investiga? ”.
“Ou seja, que o problema agora são os di-
reitos do Lula. Direitos?? Quer direitos, não - Manifestante3: “Que direitos, que nada! O
rouba! Coitadinho dele, né? Que delação não cara quer direitos, que não roube então”.
é prova, que vazamento, que não sei o que. O
cara é chefe de quadrilha e ainda quer direi- -Manifestante4: “O juiz Moro tem uma
tos!!” (Entrevistada E). missão, limpar o Brasil porque o câncer do
Brasil são os políticos corruptos”.
Na manifestação pela saída de Dilma Rou-
sseff de 16 de agosto de 2015, foi realizada -Manifestante5: “Moro é nosso salvador. Se
uma série de entrevistas com os manifestan- não fosse por ele, nada teria acontecido. É
tes para entender o apoio dos mesmos aos dever de todos os brasileiros apoiarem a Lava
excessos da Operação Lava Jato. A retórica Jato. Ele vai passar o Brasil a limpo. Ele é o
deles era muito clara: político corrupto não homem que estávamos aguardando”.
é sujeito de direito, político corrupto merece
punição, cadeia e o resto é “mimimi”. Sérgio -Manifestante6: “Se não fosse por ele estaría-
Moro apresentava-se envolvido em narrativas mos perdidos. É um herói”.
messiânicas-salvacionistas.
Meritocracia e Vitimismo
-Pesquisadora: “E o que o senhor pensa sobre Não existe consenso social, no Brasil, de
a condução coercitiva de Lula? Acha que isso aceitação das políticas neoliberais, de ajuste
vulnera os direitos dele? ” fiscal e de desidratação do Estado. Segundo
pesquisa realizada pelo Datafolha, 71% dos
-Manifestante1: “Que direitos? O cara é o brasileiros rejeitam a reforma da previdência
maior ladrão deste país e ainda quer direi- apresentada pelo governo Temer5. Também,
tos? Agora político corrupto está de mimimi segundo o Datafolha, 64% avaliam que a
também. É cadeia. Direitos, que direitos? ”. reforma trabalhista trará mais benefícios aos
empresários do que aos trabalhadores. Da
-Pesquisadora: “O que a senhora acha do pa- mesma forma, pesquisa do Vox Populi indica
pel da imprensa na cobertura da Lava Jato? ” que a PEC 241, que prevê o congelamento

-Manifestante2: “Eu acho que as coisas têm 5. Conteúdo das quatro pesquisas citadas: http://datafolha.folha.
de sair na imprensa ainda mais. A gente tem uol.com.br opiniaopublica/ 2017/05/ 1880384-reforma-da-pre-
direito de saber. Ah, se não fosse pela impren- videncia-e-rejeitada-por-71-dos-brasileiros.shtml, http://datafo-
lha.folha.uol.com.br/opiniaopublica / 2017/05/1880398-maio-
sa, tinha abafado tudo. Não, não, tem que ria-rejeita-reforma-trabalhista.shtml, https://cut.org.br/system/
dar no Jornal Nacional, tudo”. uploads/ck/files/PesquisaVoxout 2016PDF.pdf, http://epocanego-
cios.globo.com/Informacao/Visao/noticia/2014/04/81-dos-brasi-
leiros-preferem-ter-servicos-publicos-melhores-pagar-menos-im-
-Pesquisadora: “E os vazamentos, concorda? ”. postos.html

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

de gastos públicos durante duas décadas, é re- por estratégias político-partidárias, mas que,
jeitada por 70% dos brasileiros. Finalmente, sabendo da rejeição que isto causa à popula-
pesquisa do Instituto Data Popular mostra ção brasileira, ainda mais num momento de
que 81% dos brasileiros preferem ter acesso a crise econômica, em que as medidas de ajuste
serviços públicos melhores que a pagar menos fiscal propostas impactam majoritariamente
impostos. os mais pobres, relega o debate econômico a
um plano totalmente marginalizado. Fale-se
Poderíamos pensar, intuitivamente, que os de pedofilia, fale-se de corrupção, fale-se de
manifestantes verde-amarelos apoiam as polí- “bandido bom é bandido morto”, mas não se
ticas neoliberais, fazendo uma analogia entre fale de economia.
conservadorismo social e apoio ao neolibera-
lismo econômico. Afinal, estas pessoas vão a Porém, os conceitos neoliberais que, sim, têm
manifestações convocadas por grupos como enorme penetração nestes grupos são a meri-
MBL e VPR, que se definem como liberais. tocracia, o esforço pessoal, o trabalho indivi-
Esta afirmação, porém, não é consistente: dual como saída para a crise. Quem trabalha
74% dos manifestantes do protesto de 26 vence na vida. Todos os entrevistados mostra-
de março de 2017 discordam da reforma da ram preocupação com a situação econômica
previdência apresentada pelo governo Temer. do país, mas igualmente concordaram que o
Em outra pesquisa, realizada na manifestação grave problema a ser resolvido para melhorar
de 16 de agosto de 2015, a favor do impeach- a situação é a corrupção política, que se ins-
ment da presidente Dilma Rousseff, os dados taurou na máquina pública. “Se o Bolsonaro
mostraram que 88.6% concordavam total- ganhar, a primeira coisa que ele vai fazer é
mente com que o Estado devia prover servi- botar ordem nesta bagunça. Limpa a corrup-
ços de saúde para todos os brasileiros, 92.3% ção, demite todo o mundo e aí, é trabalho e
educação para todos e 72.1% transporte co- trabalho. A gente quer trabalhar. Você ia ver
letivo, rejeitando, portanto, a ideia do esta- como melhorava tudo sem essa corja aí, que
do mínimo6. Sabendo disso, grupos como o suga o sangue da gente” (Entrevistado A).
MBL, de origem neoliberal, apostam em mi-
nimizar o debate público sobre suas propos- “O problema da crise é essa roubalheira toda.
tas de Estado mínimo e preferem aumentar Eu não sei muito de economia, mas o que sei
sua visibilidade e base de apoio com a estra- é que tem de trabalhar, uai. Tem outra for-
tégia das guerras culturais, de viés moralista ma? Aí, tem gente que quer vencer na vida
e polarizante. Da mesma forma, Bolsonaro, sem suar, sem se esforçar. Não dá, né? ” (En-
historicamente apoiador de políticas nacio- trevistada L).
nalistas em economia, agora aproxima-se de
posturas neoliberais em busca de investidores As políticas públicas como Bolsa Família ou
e financiadores de campanha, mas menos- cotas raciais universitárias são vistas negativa-
preza a economia como elemento importan- mente, porque fomentam a preguiça, o clien-
te de debate público no programa eleitoral. telismo e fazem do cidadão alguém passivo,
Uma nova direita que está muito próxima de que parasita o Estado e, por outro lado, são
posturas neoliberais, seja por convicções ou utilizadas eleitoreiramente pelo PT, para ga-
rantir o voto dos mais pobres e mantê-los sob
controle. O self-made man é o modelo de su-
6. https://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/18/politica/14399286
55_412897.html cesso. A retorica do tax-payer: eu pago meus

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

impostos e com isso sustento os vagabundos que isso? Não sou pobre nem nordestina para vo-
não fazem nada. A gente trabalha, para susten- tar no PT. Eu votei no Dória. Gostei dele.
tar esses preguiçosos e esses bandidos de Brasília. A Essa coisa de ser trabalhador, de vencer na
gente sustenta todo o mundo (Entrevistado A). vida. É isso o que a gente quer. Não esmola
Os cidadãos, economicamente mais desfavore- do governo. Queremos que nos deixem traba-
cidos e que são beneficiários de políticas sociais lhar”. (Entrevistada M).
existentes seriam parasitas do Estado, não se es-
forçam o suficiente no trabalho e, por sua vez, Todos estes entrevistados, que nasceram e
o Estado faz uso destas políticas públicas para moram em regiões periféricas, colocam-se
controlar eleitoralmente estes grupos. como “nova classe trabalhadora” ou “nova
classe média”. O voto no PT, a aceitação de
“O ideal é que não exista o Bolsa Família. políticas assistenciais é sinônimo, para eles, de
Pode ser importante para algumas pessoas, grupos empobrecidos que precisam deste tipo
mas a verdade é que é utilizado como moeda de ajuda. Ao se autoidentificarem como classe
eleitoral, para fazer as pessoas votarem sem- média ou trabalhadora, rejeitam estas políti-
pre no PT, comprarem o voto delas mesmo. cas e rejeitam, inclusive, a identidade com o
Por que acha que tanta gente no Nordeste próprio PT, porque, como um outro entrevis-
vota no PT? ”. (Entrevistado C). tado disse no contexto de outra pesquisa, na
eleição municipal de 2016, durante uma roda
“O que tem de gente preguiçosa, que só quer de conversa em Capão Redondo: a gente ago-
mamar das tetas do governo. E a gente sus- ra é classe média e classe média não vota no PT.
tenta eles, né? Isso com Bolsonaro ia acabar.
Quer comer? Trabalhe. Mas, não. É mais fá- Ao mesmo tempo em que os entrevistados
cil dar uma de coitadinho. Sou pobre, sou reconhecem que o Brasil é um país racista,
pobre. E aí pedindo bolsa, pedindo ajuda insistem em defender as cotas socioeconômi-
para tudo. E a gente se matando de traba- cas, mas não as cotas raciais. Por que? Por-
lhar. É injusto”. (Entrevistado A). que as cotas raciais são racistas e aumentam
o racismo pelos dois lados porque os estudantes,
Interessante observar que vários destes entre- brancos, com razão, se sentem injustiçados (En-
vistados foram, em algum momento, direta trevistado A). As cotas raciais estariam colo-
ou indiretamente, beneficiados pelas políticas cando os estudantes brancos numa posição de
públicas petistas, porém, hoje em dia, alguns inferioridade e, segundo alguns entrevistados,
deles negam sua importância, porque eu não menosprezando a capacidade dos negros para
preciso ser tratado que nem criança pelo Estado, entrarem na universidade que querem, sem
ainda mais por petralha. Eu não sou pobre, não ter ajudas do Estado. Elas são, por tanto, um
sou vítima de nada. Tenho meu trabalho (En- mecanismo que cria mais racismo, coloca o
trevistado A). negro na posição de vítima e o branco na po-
sição de injustiçado.
Ou, como conta a entrevistada L, não quere-
mos esmola do governo: Aluna7, 16 anos: Por que negro tem de ter
privilégio? Só porque ele é negro? Ele tem as
Meu filho tem Fies, mas ele merece. O go- mesmas oportunidades. É só ele se esforçar
verno não está dando de graça. Ele é que está e estudar, se ele realmente quiser passar na
ralando para estudar. Vou votar no PT por universidade.

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

Pesquisadora: Você pensa que o Brasil é um beijando. Que necessidade têm minhas crianças
país racista? de verem isso? (Entrevistada L)

Aluna: Sim “Minha irmã é estudante da Unicamp, de


esquerda. Para ela, eu sou homofóbico, gor-
Pesquisadora: Então, os negros não têm as dofóbico, fascista. Não sou nada disso. Só
mesmas oportunidades que os brancos, não? penso que o tema de ser gay, as pessoas fa-
zem um pouco para provocar. Quando vêm
Aluna: Humm, mas cor não define as pessoas, à minha casa os amigos viados da minha
a cota não vai te definir. A gente não pode irmã, eu pergunto “por que você é viado?
falar em sou negro, sou branco. Cota é racista! Você é mesmo ou está com viadagem porque
Eu sou negra e não quero cota. Eu vou estudar quer provocar? Não queria aqui ser cool, ir
e vou conseguir entrar por mérito meu. na marolinha. Se quiser você se sustenta”.
Falo na brincadeira, mas é isso. O que me
Movimento negro, feminismo ou o movi- incomoda é a necessidade de chocar. Essa
mento LGBTQIA, as respostas são padrão. coisa de bicha louca. E o homossexual tem
Eles são grupos que sofrem preconceito, sim, essa necessidade mais do que o hétero. Talvez
mas estão abusando de seus direitos. Utilizam para marcar sua posição. Terrível. Mas eu
a vitimização, o mimimi para obter regalias não me sinto homofóbico por isso, só acho
do Estado e avançar sobre os cidadãos que que não está certo chocar. E isso serve para
não pertencem a essas minorias. tudo. O que não gosto é do excesso. Isso me
fere. Não dá para admitir preconceito de se-
“As minorias têm direito a reivindicar, porque xualidade, mas estimular tampouco, não? ”
elas sofrem discriminação, sim, mas segundo (Entrevistado E).
as regras. Por exemplo a passeata gay. Quan-
do tem fantasias de Jesus. Isso é um desrespeito Neste sentido, o controverso kit gay, mate-
à religião alheia. As pessoas se excedem. Estão rial escolar sobre homossexualidade lança-
ferindo direitos aí. Sempre com bom senso e do em 2011 na época de Fernando Haddad
sentido do dever. Existem dificuldades para como Ministro da Educação, sempre aparece
eles, sim, mas não gosto disso, de serem vítimas. nas conversas. A crítica a ele é um absolu-
A gente sabe que existe machismo, preconceito to denominador comum: as crianças devem
contra a comunidade LGBT, racismo e o Es- ser protegidas de conversas sobre orientação
tado deve criar oportunidades para todos por sexual, porque pode criar problemas na se-
igual. Agora, também, sabemos que muitos xualidade deles.
desses movimentos são braços auxiliares de par-
tidos, influenciam as pessoas a se sentirem víti- “Orientação sexual deve ser ensinada nas es-
mas e se aproveitam disso” (Entrevistado W). colas, sim, mas não para alunos tão jovens.
Não porque eles podem virar gays, não é
A comunidade LGBTQI é fortemente criti- isso, mas sim, porque eles podem ficar des-
cada por ser exibicionista. Que o homosse- virtuados, pervertidos”. (Entrevistado J).
xual tenha seus direitos garantidos, sim, mas
não precisa se exibir na rua, nem provocar. Di- Discurso de Ódio
reitos para os gays, sim, mas desde que a gente Uma questão muito importante a levar em
não esteja passeando pela Paulista e veja eles se consideração é que o discurso de ódio des-

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

ta nova direita, que nos apavora, é frequen- de esquerda, porém, isso é divergente com a
temente negado pelos seus seguidores. Por realidade. O entrevistado J que se autoiden-
exemplo, as frases polêmicas de Bolsonaro tifica com a definição gay de direita, explica
fazem parte de seu jeito bruto, tosco de falar, o porquê de não ver incoerência nenhuma
mas sem má vontade. As atitudes censoras do em sua identificação. Para ele, as posturas dos
MBL são necessárias para proteger a família, partidos de esquerda com os grupos LGBTQI
as crianças, os valores, a moral. são ou de exibicionismo exagerado ou a de
vitimismo e de privilégio. Os grupos LGB-
“Bolsonaro? Se ele tem discurso de ódio? Não TQI sofrem discriminação? Sim, mas isso se
tem. Não vejo discurso de ódio. Ele não é soluciona trabalhando e com menos mimimi.
machista ou homofóbico. É que ele fala dessa Bolsonaro não tem discurso de ódio contra os
forma natural, acredito que por ter passado gays, pelo contrário, ele gosta deles, só que ele nos
militar. Como eu te falei, ele é burro na po- trata como qualquer cidadão, sem privilégios
lítica, é um tiozão, ele é mal-entendido por (Entrevistado J).
ser burro. Mas discurso de ódio, não, não”.
(Entrevistado E). “Ué, por que eu não posso ser gay de direita?
Apoio um governo liberal, apoio os valores
“Ele não tem discurso de ódio. Tá só expondo tradicionais, a disciplina, a autoridade...
a opinião dele, falando a verdade. E quan- acho que a gente tem de ter mão dura contra
do é um pouco radical, se retrata. Não tem bandido. Gosta de bandido, leva para casa!
discurso de ódio porque quer o melhor para Por ser gay, tenho de gostar desses ladrões do
todos. Só que a esquerda exagera. Olha o caso PT ou desses radicais do PSOL? Sou gay, mas
da Maria do Rosário. Ela ofendeu primeiro”. não gosto da passeata LGBT, por exemplo,
(Estudante7, 16 anos). acho muito exibida, muito provocativa, qual
é a necessidade disso? Ah, e eu tampouco sou
O discurso de ódio é apresentado, na maio- vítima de nada. Essa coisa de os gays somos
ria das ocasiões, como a figura do meme, da coitadinhos, vítimas, não sei o que. Não dá
frase irreverente, da piada que as pessoas não gente, vamos trabalhar e menos mimimi ”.
entendem como algo agressivo, violento a ser (Entrevistado J).
rejeitado. Pelo contrário, é exagero e histeria
dos grupos que se dizem atacados. A banali- “Não gente, as pessoas tiram do contexto e a
zação do ódio. Onde muitos de nós enxer- imprensa exagera tudo para acabar com ele.
gamos discurso de ódio, enxerga-se, simples- Como esse caso da Maria do Rosário, nada a
mente, uma forma politicamente incorreta, ver. Ela que utilizou isso politicamente, mas
bruta, folclórica de dizer as coisas. a gente, que é mulher, sabe que ele não é ma-
chista”. (Entrevistada M).
As declarações de Bolsonaro sobre mulheres,
negros ou homossexuais, que tanto chocam “Ele é mal interpretado propositalmente.
parte da opinião pública, são relativizadas Não é nem machista nem homofóbico. Nun-
por seus apoiadores. Exagero de seus adver- ca falou nada contra os gays nem contra as
sários políticos e da imprensa. Manipulação. mulheres. Manipulam o que ele diz. Quando
Com frequência, o campo progressista pensa ele foi homofóbico? Nunca. Eles dizem que a
que sujeitos com identidades subalternizadas gente é fascista. Aí, eles colocam uma camisa
deveriam, naturalmente, apoiar candidatos do Che Guevara e tudo bem, mas entra com

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

uma camiseta de Bolsonaro na PUC, para que não se deve condenar uma mulher que
você ver quem apanha de quem. E depois a transe com muitas pessoas e 90.6% que a
gente que é intolerante! ” (Entrevistado D). mulher deve ter o direito de usar roupa cur-
ta sem ser incomodada. A questão, portanto,
O mesmo acontece com as entrevistadas mu- não é a concordância com temas específicos
lheres que não veem incoerência em serem da luta das mulheres e, sim, a hostilidade cau-
mulheres e se identificarem com um discurso sada pelo termo feminismo, que é entendido
de extrema-direita, porque elas são mulheres, como uma postura agressiva.
que lutam pelos seus direitos, mas não femi-
nistas, aliás, eu sou antifeminista (Entrevistada O politicamente correto é desprezado. Uma
L). O termo feminismo é totalmente despre- das virtudes que os simpatizantes de Bol-
zado e é comparado com o termo feminazi. sonaro se empenham em ressaltar é que ele
O feminismo é visto como algo hostil e des- não segue a norma do politicamente correto,
necessário na vida das mulheres e, inclusi- ele fala o que pensa, com sinceridade. Não
ve, mais atrapalha do que ajuda, porque, de é discurso de ódio, é liberdade de expressão.
novo, trabalhando e se esforçando, a mulher O politicamente incorreto é valorizado como
consegue o que ela quiser. exercício de liberdade. O politicamente cor-
reto seria uma forma de impor o pensamento
“Sou mulher, sim, mas não sou feminista. O das minorias.
tempo todo de mimimi, com essa coisa de vi-
timismo, todas radicais, querendo passar por “É que ele tem esse jeito tosco, bruto de falar,
cima dos homes. Feminazis, não gosto nada militar mesmo. Mas ele não quis dizer essas
disso. Olha eu sou empresária, vivo bem, estou coisas. Às vezes exagera, não pensa porque vai
bem na vida e nunca precisei de feminismo. no impulso, porque é muito honesto, muito
Se a gente luta, a gente consegue o mesmo que sincero e não mede as palavras como outros
os homens, mas essas mulheres parecem que políticos, sempre pensando no politicamente
só sabem chorar e colocar a culpa no homem. correto, no que a imprensa vai falar. Ele não
Exageradas. ” (Entrevistada E). está nem aí com o politicamente correto, diz
o que pensa e ponto, mas não é homofóbico.
Na manifestação em apoio à Operação Lava Ele gosta dos gays. É o jeitão dele”. (Entre-
Jato do dia 25 de março de 2017, pergun- vistada L).
tamos aos manifestantes sua opinião sobre o
feminismo. 57.2% deles concordam com a As “mulheres não feministas”, os brancos
afirmação “feminismo é machismo ao contrá- heterossexuais, cis são as verdadeiras vítimas
rio” Igualmente, perguntamos se as pessoas das lutas dos grupos identitários. Feminis-
presentes se consideravam feministas: 60% tas, LGBTQI, movimento negro, pretendem
responderam que nada feminista, 23% pouco atropelar os direitos alheios, colocar-se como
e apenas 13% muito feminista. Porém, quan- se fossem grupos privilegiados que merecem
do questionados por pautas concretas relati- mais atenção do Estado e, finalmente, impor-
vas à luta feminista, os manifestantes respon- -se a outros segmentos sociais. O que para o
deram da seguinte forma: 51.6% pensam que campo progressista é percebido como luta por
fazer aborto deve ser um direito da mulher, direitos historicamente negados, os entrevista-
só 4.1% afirmam que lugar da mulher é em dos entendem como grupos querendo impor
casa cuidando da família, 78.5% consideram seus interesses e modelos de vida e, portanto,

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

ultrapassando a linha do direito e chegando ta de comunicação, a figura heroica e juve-


ao privilégio. A masculinidade branca, o he- nil do “mito Bolsonaro”, falas irreverentes
terossexual e o cis estão acuados e ameaçados até ridículas, falas fortes, destrutivas, contra
pelos identitários. O processo de reação des- todos, são aspectos que atraem os jovens. Se
tes grupos aos avanços das lutas feministas, do nos anos 70, ser rebelde era ser de esquerda,
movimento negro e LGBTQIA é evidente. Sua agora, para muitos destes jovens, é votar nesta
forma de vida, sua forma de entender o mundo nova direita que se apresenta de uma forma
e viver nele está sob ameaça com estes avanços. cool, disfarçando seu discurso de ódio em
O conservador, no fundo, é aquele que sente formas de memes e de vídeos divertidos: O
saudades do mundo como ele era, do mundo Bolsomito é divertido, o resto dos políticos não.
que ele entendia melhor e onde ele conseguia (Aluno7, 14 anos).
sentir seu lugar.
É muito relevante ressaltar que a socialização
“Eu sempre digo que, ultimamente, quem política destes jovens e adolescentes se deu no
menos direitos tem neste país é o homem período dos governos de Dilma Rousseff e, por-
branco que não é gay. Se for mulher tem di- tanto, o que eles identificam como governo de
reitos. Se for negro, mais ainda, cotas, não sei esquerda é justamente o mainstream, o aparato
o que. Se for gay, a mesma coisa, ninguém do poder e nada tem a ver com uma postura
pode falar nada, que já é preconceito. E a progressista, de ruptura ou crítica ao sistema.
gente. Quem nos protege? Que direitos temos
nós? Eu também posso me manifestar dizen- Em contrapartida, alguns dos entrevistados
do que sou homem branco? Eles têm direito e criticam Bolsonaro pelo que para eles é um
eu não? ” (Entrevistado A). excesso de teatralidade, o que o faz diminuir
a seriedade digna de um político.
A Direita Pop e Anti-Mainstream
No começo da roda de conversa com os alu- “Jair está se transformando num Tiririca,
nos de São Miguel Paulista, assistimos a um num personagem. Para ganhar volume está
vídeo com as frases mais polêmicas de Bol- se ridiculizando. Eu já avisei eles, mas que-
sonaro. No final do vídeo, muitos alunos es- rem ganhar número”. Ele tem tosquice mili-
tavam rindo e aplaudindo. Por que? Porque tar, rusticidade, mas virou showman demais.
ele é legal, porque ele é um mito, porque ele é Ele não é o que parece, mas ele de fato quer
engraçado, porque ele fala o que pensa e não está fazer o bem, ele é simples, não tem ganância
nem aí (Aluno5, 15 anos). Com mais de cin- de dinheiro. Sei de viagens que ele faz e fica
co milhões de seguidores no Facebook, o fato em hotéis baratos, mas não por aparência, é
é que Bolsonaro representa uma direita que se por simplicidade mesmo”. É um baita estra-
comunica com os jovens, uma direita que al- tegista, sabe que se botar a farda e adotar
guns jovens identificam como rebelde, como uma linha dura não vai ter popularidade, e
contraponto ao sistema, como uma proposta ele é um puta showman, se comunica muito
diferente e que tem coragem de peitar os caras bem, tem a inteligência de perceber que desta
de Brasília e dizer o que tem de ser dito. Ele é forma agrega muito, mas corre o risco de se
foda (Aluno2, 15 anos). perder no personagem” (Entrevistado E).

O uso das redes sociais, a utilização de vídeos Uma das questões que ficou em evidência com
curtos e apelativos, o meme como ferramen- a campanha do Trump é que esta nova direita

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

chega caraterizada de anti-hegemônica, anti- “Hoje na rede social há várias páginas com o
-establishment. É uma direita que se apresen- nome de Bolsonaro. A maioria não tem vín-
ta como a ruptura como o sistema. Mesmo culo conosco. Tinha um menino do “Bolsona-
sabendo que isto fica só no nível da retórica, ro opressor”. Ele pegava o conteúdo e postava
num momento de intenso sentimento anti- na página dele como se fosse dele. Eu achava
político, o candidato que se coloca como en- legal. Ele não conhecia ninguém da família
frentando a política tradicional, profissional, Bolsonaro. Aí liguei para o Jair e falei, “co-
tem uma penetração forte porque não quere- mandante, tem um menino que tem uma pá-
mos mais do mesmo. Eles são todos iguais. Que- gina, apoia o senhor, mas não tem contato”.
remos alguém diferente (Entrevistada M). O Jair ligou para ele para agradecer. Ele po-
deria ter dito, “tenho mais o que fazer”. Isso
Entrevistada E - Ele é diferente. acontece com muita gente, ele se preocupa.
Tem gente que pede para mim que ele mande
Pesquisadora: - Mas há anos que é deputado um vídeo porque eles vão casar. E ele manda.
federal, portanto não será muito diferente. Uns dias atrás, teve um menino que fazia 9,
Inclusive durante seus mandados tem feito 10 anos e queria que o tema fosse Bolsonaro.
pouquíssimas coisas, quase não aprovou pro- A família dele entrou em contato com ele e
jetos de lei. o Bolsonaro foi. Isso acontece naturalmente.
Nos aeroportos, a gente nunca deu um cen-
Entrevistada E- Claro, porque não deixam tavo. Eles gastam. A gente não tem militân-
ele fazer nada, porque ele não se vende, não cia paga. O Jair é muito acessível. Ele não se
se alia com esses bandidos, então ele acaba blinda atrás de segurança. Não é marketing,
sozinho, isolado. É integro. Não é como eles. ele quer contato do povo. A gente não tem um
estrategista para isso. Ele quer tocar as pessoas,
Um tema que aparece nas entrevistas é que chegar nelas, fazer foto. Ele quer essa proxi-
essa nova direita é próxima das pessoas, Bol- midade (...). Sem dúvida, tem toda essa parte
sonaro fala a língua da gente, não é como os do discurso, mas tem toda essa parte humana,
outros políticos que a gente nem entende, às você enxerga uma pessoa comum. Isso é muito
vezes (Entrevistado J). Insistem os entrevis- marcante, a galera sente isso. Chegamos lá em
tados que Bolsonaro gosta das pessoas, de se Recife, com Jair e Eduardo, tinha esse mon-
sentir perto do povo, não é como outros po- te de gente. Olhei para o lado e tinha uma
líticos que eles percebem longe deles e que, mulher com uma filha doente em cadeiras
inclusive, têm uma linguagem inacessível. Os de rodas. O que leva uma senhora trazer essa
políticos tradicionais são vistos como aque- filha para ver um político? Quando o Eduar-
les que se afastam propositalmente do povo. do viu, pediu para o motorista parar. O Jair
Uma nova direita que, longe de ser percebida também. Conversaram, deram um abraço.
como perto das elites, é percebida como pró- Ele não precisava ter parado. Aquela situação
xima ao povo e defendendo seus interesses. As toca eles. Foi comovente, emocionante mes-
siglas políticas tradicionais defenderiam inte- mo. Não foi estratégia, “pega um bebezinho,
resses personalistas e partidários, inclusive o põe no colo”. Essa proximidade é uma marca
PT, que se afastou da população e hoje não deles” (Entrevistado C).
representa os mesmos interesses partidários,
ao mesmo tempo que a nova direita seria a “Ele continua sendo aquele Bolsonaro que eu
defensora do povo. conheci em 2014. O que está acontecendo é

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

que ele está sendo tratado como popstar. Não Uma questão muito comentada é o menospre-
foi ele que criou isso, foram esses grupos de zo do campo progressista com posturas religio-
militância virtual que se organizam. A gen- sas, fundamentalmente, com evangélicos.
te nem sabe de onde saiu o apelido de mito.
Não foi uma coisa de marqueteiro. Outra “Eu sou evangélica, vou à igreja porque sin-
frase #émelhorJairseaconstumando. Não foi to paz, gosto de lá, e parece que a gente tem
a gente que bolou. Aparece. Às vezes, essa mi- de pedir perdão às vezes. Evangélico é burro,
litância acaba criando esse personagem. Ele evangélico só vota no que diz o pastor. Eu me
continua no mesmo gabinete, recebendo as meto na vida deles? ” (Entrevistada M).
pessoas” (Entrevistado C).
Um dos assuntos que a direita mais radicali-
Valores zada sempre utiliza como retórica no debate
Uma das questões que os entrevistados mais sobre seus valores e fundamentos éticos é a
defendem desta nova direita é que estaria pro- reinterpretação da ditadura, fazendo a relei-
tegendo os valores que têm sido perdidos no tura de que na ditadura a vida era mais segura
Brasil, depois de tantos anos de governo de e disciplinada e na democracia a vida é mui-
esquerda. Família, religião, disciplina, auto- to mais insegura, uma bagunça, libertinagem.
ridade, ética são questões que agora podem Democracia seria um sistema caótico no qual
ser discutidas de novo, mas que durante mui- os corruptos governam, aberto para qualquer
to tempo estavam fora do debate público. As excesso e o cidadão de bem sente-se despro-
questões morais trazidas à tona pelo MBL, na tegido. A ressignificação da ditadura num pe-
sua dinâmica de guerras culturais, aparecem ríodo saudoso em que o cidadão de bem era
em várias entrevistas como exemplo de deba- protegido pelo Estado e imperava a ordem e
tes que deveriam ser feitos. Além de corrupto, não a confusão. Nem todos os entrevistados
o governo do PT é visto como um governo defendem uma possível intervenção militar,
que provocou a desmoralização progressiva mas o fato é que a maioria deles não condena
do país ao se colocar contra os princípios da esta ideia, dado que os militares são um dos
tradição e dos costumes. poucos atores sociais que ainda têm legitimi-
dade para trazer de volta os valores tradicio-
“Eu não gosto muito desses meninos do MBL, nais esquecidos.
mas eles têm razão. A gente tem de falar do
que está acontecendo nas escolas, eu não que- “Na ditadura tinha mais segurança. A gente
ro que meu filho seja doutrinado e no dia tem liberdade de expressão agora, sim, mas
de amanhã vire um maconheiro, esquerdis- não temos direito de ir e vir. Aqui na perife-
ta. Eu quero que ele aprenda valores. E essa ria pelo mesmo, não temos. Talvez seria bom
coisa da pedofilia, vai me dizer que não é colocar os militares temporariamente, porque
importante? A gente está numa crise moral”. agora a gente está sendo liderada por bandi-
(Entrevistado A). dos”. (Aluna2, 15 anos).

“Ele (Bolsonaro) é um cara de valores, de “Eu sempre aprendi na minha casa que não
família, de princípios, religioso. Isso é mui- houve golpe militar, teve uma intervenção
to importante. No fundo, a crise de Brasil é necessária. Tinha tortura? Sim. Mas era um
uma crise de valores. Ninguém respeita mais estado de guerra. Será que não precisava?
nada”. (Entrevistado E). Mas agora um golpe, agora não, porque não

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

resolveria. Se tivesse um momento seria ago- “Vocês professores dizem sobre a censura do
ra, porque o general Villas Boas é excelente, MBL, da Escola sem Partido. Censura, gen-
um dos melhores que o exército já teve, ele es- te? Censura sofremos nós, que queremos que
taria no comando, mas ele não é burro, sabe nossos filhos sejam educados em valores éticos
que agora não tem espaço para isso. Se resol- e não podemos nem falar porque a esquerda
vesse, eu mesmo pegaria as armas e vamos diz que somos fascistas”. (Entrevistada L).
embora”. (Entrevistado E).
De Lula a Bolsonaro
São conhecidos por todos os ataques censores Vários dos entrevistados que proclamam seu
da nova direita brasileira à suposta doutrina- voto em Bolsonaro, em 2018, admitiram ter
ção que professores de esquerda fariam nas votado no PT durante seus primeiros man-
escolas. O projeto de lei Escola Sem Partido datos. Quando questiono o porquê, a maio-
é a mais viva representação desta perseguição ria coincide: porque pensavam que Lula seria
macarthista. A ideia de que escolas e universi- um líder que mudaria o país, estava perto do
dades estão tomadas por professores que pre- povo, era carismático, alguém diferente dos
gam o marxismo, o comunismo, as teorias de políticos de sempre e porque pensavam que
esquerda e que, em vez de ensinar, doutrinam ele não era corrupto, ou seja, argumentos
muito parecidos com os colocados, hoje em
alunos, em um processo sectário, é algo que
dia, quando tratam da figura de Bolsonaro:
tem se espalhado muito na opinião pública e
proximidade, carisma e honestidade. Quan-
ganhado apoios. O anticientificismo é uma
do questiono a distância ideológica, progra-
característica importante desta nova direita
mática, biográfica dos dois, isso parece não
brasileira, que considera a intelectualidade
ser levado em consideração. O personagem
inimiga. Os entrevistados, porém, não consi-
parece ser mais relevante que o sujeito polí-
deram isto um ataque ou um problema, pelo
tico. Especialmente interessantes são as falas
contrário, enxergam esta postura como uma dos entrevistados, que nasceram ou moram
forma de defender os valores tradicionais, em regiões periféricas de São Paulo. Todos
que são continuamente colocados em risco eles coincidem também em se sentirem traí-
pela esquerda. Portanto, onde muitos de nós dos, enganados pelo PT, principalmente pela
enxergamos posturas de patrulhamento ideo- questão da corrupção e pelo seu afastamento
lógico ou censura acadêmica, os entrevistados da população: pensava que o Lula era honesto e
enxergam preocupação com o cuidado e a próximo das pessoas. Hoje sei que ele é o maior
proteção da moral e os bons costumes. ladrão de Brasil e agora penso que Bolsonaro é
quem de verdade é honesto e próximo das pessoas
“A gente sabe que vocês são todos de esquerda (Entrevistado D).
e influenciam muito os alunos. Nesses cursos
de vocês de sociologia, história, só tem pro- Entrevistada M: Eu votei no Lula as duas
fessor comunista. Sala de aula é para ensi- vezes. Ele é um líder. Reconheço isso. Fez coi-
nar todas as ideologias não só as que vocês sas importantes, não dá para negar. Eu votei
querem. Por isso, Escola sem Partido é bom, nele mais porque parecia um cara diferente,
porque garante a liberdade em sala de aula era um cara do povo, não sei, parecia boa
e protege o aluno contra os professores que só gente, mas no final ele mostrou que é como
querem captar alunos para o PT, ou, não, sei, todos, um ladrão. Por isso agora voto no Bol-
para o PSOL”. (Entrevistada E). sonaro porque ele sim, ele é diferente.

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

Pesquisadora: Mas Lula é de esquerda e o Muito significativo a este respeito é a entrevis-


Bolsonaro de direita. Suas políticas são mui- ta com M, que reconhece morar numa região
to diferentes. periférica, mas ao mesmo tempo diz que:

Entrevistada M: Eu não entendo disso, de ser Entrevistada M: Eu não sou mais pobre. Eu
de direita ou de esquerda. Para mim não existe subi na vida.
isso. São todos iguais. PT, PSDB, não tem es-
querda nem direita. No fundo, são todos ami- Pesquisadora: E como foi isso? Acha que os pro-
gos. Votei no Lula porque gostava dele, mas gramas do governo Lula ou a geração de em-
agora não dá. Agora o único que vale e que é prego durante seu governo tiveram algo a ver?
diferente desses ladrões é o Bolsonaro.
Entrevistada M: (visivelmente incomodada
Entrevistado A: Uai, PT, PT. Cadê o PT na com a pergunta): Não! Teve nada. Teve a ver
periferia? meu trabalho e o de meu marido, o esforço da
gente.
Pesquisadora: E Bolsonaro está na periferia?
Pesquisadora: A senhora pensa, então, que me-
Entrevistado A: Nossa, ele é um cara muito lhorou de vida por mérito seu e de seu marido?
mais próximo, gosta da gente e se preocupa
pela insegurança que nós vivemos. Acha que Entrevistada M: Mas é claro! Por isso não
esses caras do PT se preocupam com a gente. voto mais Lula que só fala em pobre, em po-
Que nada. Eu pensava que antes sim, mas bre, e parece que a gente tem de agradecer al-
desde que chegaram ao poder. Escuta o que guma coisa. Não. Votei no Dória. Agora não
eu te falo, o poder acaba com todos. Quem gosto tanto, mas antes gostava. Ele entendia
sabe se Bolsonaro ganhar, talvez acabe com essa coisa da gente vir de baixo e trabalhar e
ele também. ser alguma coisa na vida.

Em paralelo, um assunto que aparece recor- Conclusões


rentemente nas entrevistas com pessoas de
regiões periféricas, mas que foram beneficia- Os resultados desta pesquisa mostram as ra-
das pelas políticas de inclusão dos governos zões que levam os cidadãos brasileiros a apoia-
petistas, o aumento de emprego e renda é seu rem a nova direita. Com frequência, setores
autoenquadramento como classes médias, ou progressistas menosprezam estas posturas por
classes consumidoras e a naturalização de va- considerarem que “pobre que vota na direita é
lores típicos das classes médias como a ade- burro”, “seguidor de Bolsonaro é burro” e por
são ao combate a corrupção ou a rejeição a aí vai. É um grande erro caricaturar ou de-
programas de inclusão social, dos quais eles sestimar a importância de um fenômeno que
mesmos foram beneficiados direta ou indire- tem densas raízes sociais e que pouco tem de
tamente. A rejeição ao PT por estes grupos trivial ou transitório. Em nível internacional,
tem muito a ver com a construção de uma esta nova direita ou direita alternativa está se
nova identidade, diferente à de periférico, po- transformando num protagonista político. O
bre ou excluído. Como um taxista me disse que a análise teórica, assim como os empíri-
um dia eu não voto no PT porque quem vota no cos demonstram, é que esta direita tem bases
PT é pobre, a nova classe média vota no PSDB. sociais e política sólidas nas quais se fortale-

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Esther Solano | CRISE DA DEMOCRACIA E EXTREMISMOS DE DIREITA

ce: crise democrática, crise representativa, Bibliografia


crise econômica, incapacidade dos partidos
da esquerda tradicional de dar repostas aos
Drolet, J-F. American neoconservatism: the
cidadãos, aumentos da retórica antipolítica,
politics and culture of a reactionary idealism.
populismo do combate contra a corrupção,
Oxford: Oxford University Press, 2014.
crise da segurança pública. O primeiro pas-
so para combater posturas antidemocráticas, Hawley, G. Making sense of the alt-right.
que colocam em risco o avanço nos direitos e New York: Columbia University Press, 2017.
garantias fundamentais, é entender este pro-
Giordano, V. Qué hay de nuevo en las “nue-
cesso em toda sua complexidade e multidi-
vas derechas”? Nueva Sociedad, n.º 254, p.46-
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Autora Responsável

Esther Solano Gallego é Professora Doutora da Friedrich-Ebert-Stiftung (FES) Brasil


Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da
Av. Paulista, 2001 - 13° andar, conj. 1313
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e do
Mestrado Interuniversitário Internacional de Estudos 01311-931  I  São Paulo  I  SP  I  Brasil
Contemporâneos de América Latina da Universidad www.fes.org.br
Complutense de Madrid. Doutora em Ciências Sociais
pela Universidade Complutense de Madri. Associada
ao grupo de pesquisa Laboratório de Análises
Interdisciplinares e Análise da Sociedade (LEIA-
Unifesp).

Friedrich-Ebert-Stiftung (FES)
A Fundação Friedrich Ebert é uma instituição alemã sem fins lucrativos, fundada em 1925. Leva o
nome de Friedrich Ebert, primeiro presidente democraticamente eleito da Alemanha, e está com-
prometida com o ideário da Democracia Social. No Brasil a FES atua desde 1976. Os objetivos de
sua atuação são a consolidação e o aprofundamento da democracia, o fomento de uma economia
ambientalmente e socialmente sustentável, o fortalecimento de políticas orientadas na inclusão e
justiça social e o apoio de políticas de paz e segurança democrática.

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