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Viajantes (relatos sobre o Brasil, séculos XVI a XIX)

Lúcia Gaspar

Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco

pesquisaescolar@fundaj.gov.br

Os viajantes eram pessoas de ambos os sexos, de classes sociais variadas, profissão e formação
intelectual diversificada, que descreveram aspectos do Brasil, através de crônicas, relatos de viagem,
correspondência, memórias, diários, álbuns de desenhos.

O conjunto de obras deixadas por eles integra a chamada literatura de viagem e se


constitui numa literatura de testemunhos, cujos registros e observações ajudam a
conhecer a realidade do Brasil da época.

A presença de viajantes estrangeiros e seus relatos publicados sobre o Brasil, datam do


século XVI. Existem mais de 260 obras, em várias línguas, onde os autores falam dos
habitantes, vida social, usos e costumes, fauna, flora e outros aspectos da antiga colônia
portuguesa, principalmente durante o século XIX, depois que Dom João VI decretou
abertura dos portos brasileiros, em 1808. Com abertura dos portos houve um incremento
da navegação e o conseqüente aumento da presença estrangeira no país.

O primeiro a narrar a história primitiva do país foi Pero Vaz de Caminha, em carta que
enviou a D. Manoel I, Rei de Portugal, quando encontrou a Terra de Santa Cruz.

Ainda do século XVI são também os relatos de Hans Staden, Viagem ao Brasil (1557) e
o de Jean de Léry, Viagem à terra do Brasil, (1574).

Dessa grande quantidade de estrangeiros, viajantes e aventureiros (ingleses, franceses,


alemãs, portugueses), que escreveram suas impressões e crônicas sobre o Brasil, pode-
se destacar alguns que estiveram no Nordeste brasileiro e fizeram seus relatos sobre a
região.
Uma das melhores narrativas sobre o Nordeste na primeira metade do século XIX, é a
do inglês Henry Koster, que escreveu o livro Travels in Brazil, publicado em Londres,
em 1816. Em 1898, foi traduzido por Antônio C. de A. Pimenta e publicado na Revista
do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. Porém, sua primeira
edição em livro no Brasil é de 1942, com tradução de Luís da Câmara Cascudo sob o
título Viagens ao Nordeste do Brasil.

Como uma complementação ao relato de Koster, o francês Louis François de Tollenare


escreveu, entre 1816 e 1818, um diário onde aborda aspectos importantes da vida social
e política, usos e costumes, festas populares, escravidão, movimentos políticos e
economia da sociedade da época. As partes referentes aos estados de Pernambuco e da
Bahia foram traduzidas por Alfredo de Carvalho e publicadas sob o título de Notas
dominicais, nas Revistas do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano, em
1904 (v.61), e doInstituto Histórico e Geográfico da Bahia, em 1907 (v.14).

Um outro relato importante é o James Henderson, viajante e diplomata inglês que esteve
no Brasil de 1819 a 1821 e escreveu o livro (ainda sem tradução para o português), A
history of Brazil: comprising its geography, commerce, colonization, aboriginal
inhabitants (Uma história do Brasil: compreendendo sua geografia, comércio,
colonização, habitantes aborígenes), publicado em Londres, em 1821.

O alemão Johan Moritz Rugendas tem uma obra significativa para o estudo das
características físicas, hábitos e costumes da população negra e índia, assim como dos
mulatos e mestiços que formam hoje a chamada raça brasileira. O livro foi traduzido
para a língua portuguesa e publicado, em 1940, sob o título Viagem pitoresca através do
Brasil.

Outro relato importante sobre o Brasil e o Nordeste do século XIX é o da inglesa Maria
Graham, que esteve por três vezes no país e escreveu o Diário de uma viagem ao Brasil
e de uma estada nesse país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823 (título em
português), publicado na Série Brasiliana, v. 8, em 1956.

Dois cientistas alemães, Johan Baptist von Spix e Karl Friedrich Philip von
Martius, realizaram uma grande viagem pelo interior do Brasil, entre os anos de 1817 e
1820, percorrendo várias províncias, seguindo através do rio São Francisco, por Minas
Gerais e Bahia, passando pelo sertão de Pernambuco, Piauí e Maranhão, analisando e
fazendo anotações sobre as populações rurais. Suas anotações foram traduzidas para o
português e publicadas pela Imprensa Nacional, sob o título Viagem pelo Brasil, em
1938.

Richard Francis Burton foi um dos maiores viajantes ingleses do século XIX. Em 1865,
foi nomeado cônsul britânico em Santos e, em 1867, conseguiu permissão para uma
viagem pelo Brasil, que durou cinco meses. Visitou o Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Paulo Afonso, na Bahia, indo até Penedo, em Alagoas, seguindo pelo rio São Francisco,
que denominou de “Mississipi brasileiro”. Suas observações foram registradas no
livro, Explorations of the highlands of the Brazil, publicado em Londres, em 1869 e
traduzido para o português com o títuloViagens aos planaltos do Brasil (1941).

As narrativas dos viajantes, reunidas em livros, impressos às vezes em mais de


uma edição e em diversas línguas, fizeram muito sucesso na época, sendo disputados
pelo público interessado em descrições de povos e costumes exóticos.

Os viajantes foram, portanto, os grandes cronistas da vida brasileira dos séculos XVI a
XIX, descrevendo em suas obras aspectos da terra, da gente, dos usos e costumes do
Brasil. Todas as obras citadas no texto podem ser consultadas na Biblioteca Central
Blanche Knopf da Fundação Joaquim Nabuco.

Recife, 29 de junho de 2004.

(Atualizado em 9 de setembro de 2009).

FONTES CONSULTADAS:

ANJOS JÚNIOR, João Alfredo dos (Org.) Viajantes ingleses no Nordeste do Brasil no
século XIX. Recife: Fundaj; Instituto de Documentação. Biblioteca Central Blanche
Knopf; The British Council, 1991. [Não paginado]. Catálogo de exposição
bibliográfica.
CALDEIRA, José de Ribamar C. O Maranhão na literatura dos viajantes do século
XIX. [São Luís]: Academia Maranhense de Letras; Edições AML/Sioge, 1991. 93p.

SILVA, Leonardo Dantas. Viajantes: a paisagem vista por outros olhos. Ciência
&Trópico, Recife, v.28, n.2, p.249-260, jul./dez. 2000.

COMO CITAR ESTE TEXTO:

Fonte: GASPAR, Lúcia. Viajantes (relatos sobre o Brasil, século XVI a XIX). Pesquisa
Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em:
<http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago.
2009.

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