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Educação musical no Ensino Médio:

modos alternativos de se aprender música


Márcio Leonini 1
Patrícia Kebach2

Resumo
Este trabalho tem como objetivo trazer algumas reflexões sobre a possibilidade de
proporcionarmos ampliações nas concepções musicais de alunos do Ensino Médio
a partir de formas alternativas de se proporcionar a musicalização na escola. Atra-
vés de uma experiência de estágio realizada em uma escola da rede estadual de
ensino no município de Porto Alegre, detectamos a importância de se criar um am-
biente de Oficina Pedagógica Musical para suprir algumas necessidades encontra-
das, tais como a falta de instrumentos e estrutura para o desenvolvimento de aulas
de música, e também ampliar as concepções musicais dos alunos devido à rejeição
à escuta de novos repertórios musicais, comuns na faixa etária observada. Cons-
tatamos que os meios tradicionais de ensino musical podem ser substituídos por
meios alternativos para melhor adaptação às dificuldades encontradas na realiza-
ção deste trabalho. A esquematização de uma metodologia de ensino, baseada em
três pontos – apreciação, composição e execução – foi norteadora e fundamental
para o desenvolvimento das atividades propostas e proporcionou uma organização
sistemática dos exercícios propostos. Em busca de respostas ao trabalho realiza-
do, em meio à experiência, foram coletados dados para a observação da possível
construção de conceitos musicais por parte dos alunos observados. Desta maneira,
conseguimos verificar como os trabalhos alternativos de educação musical podem
viabilizar experiências significativas aos estudantes de Ensino Médio, mesmo com
as adversidades comuns encontradas em escolas públicas.
Palavras-chave: Educação musical. Ensino médio. Ampliação de conceitos mu-
sicais.

The objective of this paper is to bring out some reflections on the possibilities of
enhancing High School students` musical concepts through alternative approaches
on providing musical education at school. From an internship experience held in
a state school in the city of Porto Alegre, we detected the importance of creating a
Musical Pedagogical Workshop, in order to solve identified needs such as the lack
of musical instruments and a proper place for music teaching. In addition to that, it
should broaden students` musical concepts, which are limited due to their rejection of
listening to new repertoire, a typical behavior of the age group observed. We noticed
that the traditional methods of musical education could be replaced by alternative
methods to better adapt to the difficulties encountered in this study. The outlined
teaching methodology, based on three points – appreciation, composition and

1
Especialista em Educação Musical. Professor da Rede Estadual de Ensino do RS. E-mail: marcioleonini@yahoo.com.br
2
Doutora em Educação – UFRGS. Professora das Faculdades Integradas de Taquara – FACCAT. E-mail: patriciakebach@yahoo.com.br
Recebido em 08/11/2011 e aceito em 30/11/2010
performance – worked as a guide and was fundamental for developing the proposed
activities, besides providing a systematic organization of the proposed exercises. In
search for feedback to the present work, evaluation data was collected during the
experiment, to evaluate the effective construction of musical concepts by the students.
Thus we were able to verify that alternative methods of teaching music can provide
meaningful experiences for High School students, in spite of the usual adversities
we find at public schools.
Keywords: Music education. High school. Expansion of musical concepts.

1 Introdução ções e significações diversificadas desencadeadas


em um ambiente de musicalização de adolescentes.
Antes de iniciar atividades de educação musi- Verificaremos ainda quais as condições que podem
cal com novas turmas de alunos, especialmente com intensificar a interação musical, de modo a ampliar
aqueles que já estão ou passaram da adolescência, é as concepções dos adolescentes sobre o universo
necessário verificar o que eles entendem por música, da música. Isto é, não basta conhecer o que eles já
ou seja, qual o conceito espontâneo que construíram sabem, é preciso proporcionar condições para que
sobre o objeto musical. Do mesmo modo, mapear as eles possam ir além!
estruturas de partida sobre o que já construíram, não
só conceitualmente, mas também em termos práti-
2 O significado da música
cos, é indispensável. Para o professor que quer agir
e suas diferentes concepções
de modo inclusivo, compreender a diversidade dos
contextos de partida de seus alunos é fundamental Segundo definição de dicionários, os con-
no momento de elaborar seu plano de aula. Deve ceitos mais comuns que encontramos para definir
saber, também, aonde quer chegar, e as atividades música estão ligados à arte de combinar sons de
propostas devem ir ao encontro dos objetivos traça- maneira agradável ao ouvido, ou ainda, a música
dos preliminarmente. Isso não significa realizar uma é composta de melodia, harmonia e ritmo. Entre-
aula em que não haja espaço para as participações tanto, esses conceitos nos parecem restritos para
ativas e sugestões dos alunos. Ao contrário, se desde abarcar a complexidade da música contemporâ-
o início procuramos compreender suas construções nea, pois assim como existe a linguagem falada ou
espontâneas, abriremos um espaço para que a obser- gestual etc., compreendemos a música como uma
vação de seus interesses e suas ações sejam o ver- linguagem que deverá ser estruturada pelas ações
dadeiro norte para o planejamento de nossas aulas. intencionais do sujeito sobre o mundo sonoro
Assim, quando iniciamos as atividades de (KEBACH, 2003). Essas ações intencionais, por
sensibilização musical com adolescentes ou adul- exemplo, não necessariamente podem estar conec-
tos, devemos levar em conta que as interações tadas a organizações “agradáveis”. Aquele que pro-
musicais de cada um são diversificadas. Elas vão duz música pode querer representar angústia, caos,
desde as simples audições corriqueiras, através das ruídos do mundo contemporâneo, etc. Ao encontro
novas tecnologias (rádio, MP3, celulares, etc.), até do pensamento de Schafer (2001, p. 18), pensamos
o contato com aulas de algum instrumento musical que “com as artes, e mais particularmente com a
específico ou de canto, participação em corais, etc. música, aprendemos de que modo o homem cria
Dessa forma, as turmas costumam ser heterogêneas paisagens sonoras ideais para aquela outra vida que
em suas construções práticas e conceituais sobre é a da imaginação e da reflexão psíquica”. Nessa
o universo musical. Mas achar que isto poderá “outra vida”, tudo é possível!
dificultar o trabalho do professor é desconhecer a Podemos afirmar que os sons somente terão
riqueza inerente à diversidade de pontos de vista. sentidos musicais no momento em que pensarmos
Trataremos de falar sobre isto e sobre as constru- nestes como música. Dessa forma, colocamos

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num primeiro plano, acima dos próprios sons, ramente encontraremos uma sala com isolamen-
a capacidade do ser humano de pensar musical- to acústico, instrumentos disponíveis, aparelhos
mente. Isso nos remete à seguinte pergunta: Mas, de som com qualidade, etc. Por isso, transformar
afinal, o que é música? A música, como objeto a o próprio corpo em um instrumento musical, tra-
ser estruturado pelo sujeito, será constituída por balhar com materiais recicláveis, etc. pode ser
processos onde as descobertas de novos valores um meio alternativo para dar conta desta carên-
sonoros poderão levar à musicalização. Compre- cia de materiais, além de possibilitar novas for-
endemos a música como mas de se expressar musicalmente.
[...] uma linguagem que deverá ser estruturada Transformar as aulas de música em Ofici-
pelas ações do sujeito sobre o mundo sonoro, nas Pedagógicas Musicais, assim como as des-
ou seja, pela interação com os sons, na medida creve Fernandes (2000), pode ser, portanto, a
em que a apropriação de suas ações, através das
solução para algumas das problemáticas aqui
diferenciações e integrações, organizando e rela-
cionando de modo a estruturar os eventos sonoros apontadas. Segundo o autor, as oficinas surgiram
cada vez mais complexos, levará o sujeito a uma através da incorporação da música contempo-
ampliação das suas estruturas cognitivas no âmbi- rânea na pedagogia musical, tanto nos ambien-
to musical (KEBACH, 2003, p. 89). tes mais eruditos, quanto nas escolas regulares.
Se parássemos um pouco para pensar no Com o tempo, os métodos aplicados nas oficinas
sentido da música, talvez ainda não chegásse- foram se aprimorando e se diversificando. Hoje,
mos a sua real dimensão. Nossas limitações para podemos encontrar Oficinas de música sobre
significar a música são totalmente compreensí- várias temáticas: música na educação infantil,
veis, pois os momentos de reflexão e de tomada música contemporânea, sensibilização musical,
de consciência sobre o sentido musical, via de musicoterapia, etc., ou mesmo, o termo ofici-
regra, não são proporcionados nas aulas de mu- na pode mascarar uma metodologia de ensino
sicalização, muito menos, fora delas. Do mesmo teórico-tradicional ou designar uma metodologia
modo, em cada cultura, a música admite signifi- “que se vale de um ensino puramente prático”
cações diferentes (PENNA, 2008). Assim, per- (FERNANDES, 2000, p.11), o que faz com que
guntamo-nos se os meios tradicionais de ensino a Oficina perca sua maior função que é a de de-
musical nos abrem portas para um profundo en- senvolver a criatividade e proporcionar trocas
tendimento do universo musical ou, ao contrário, práticas e reflexivas.
fecham-nas muitas vezes. Perguntamo-nos, ain- O ambiente da Oficina Pedagógica Musical,
da, qual seria a contribuição dos meios “alterna- além de trabalhar com atividades alternativas, pa-
tivos” de se fazer música para proporcionarmos rece-nos o mais adequado para ampliar a concep-
o desenvolvimento da ampliação da concepção ção musical dos alunos de modo geral (KEBACH;
musical dos alunos. Entendemos como meios al- DUARTE, 2008), mesmo que estejamos enfo-
ternativos as novas formas da música contempo- cando aqui os alunos de ensino médio. Propomos
rânea, cujas organizações sonoras livres são um isto a partir de estudos realizados (BEYER, 1993;
exemplo. O uso da percussão corporal, da cria- MAFIOLLETTI, 2005; KEBACH, 2008) que nos
ção de paisagens sonoras, dentre outros recursos, informam que o fazer musical é o pré-requisito
são algumas das atividades desenvolvidas como do compreender a música. A construção de con-
trabalhos alternativos de sensibilização musi- ceitos a ser realizada pelos sujeitos passa por um
cal. Pensamos que são formas importantes de se processo complexo, no qual se faz necessário vi-
proporcionar a estruturação musical progressiva venciar ricas experiências no fazer musical para
com objetivo de suprir necessidades na atual rea- chegar à ampliação do conceito de música e de
lidade escolar das redes públicas de ensino, pois cada um de seus elementos. Essa proposição tem
nestes ambientes há certa carência de material a ver com os estudos de Piaget (1978), que diz
de apoio para as aulas de música. Os ambientes que a ação precede a compreensão, ou seja, para
alternativos ainda possibilitam a ampliação de que o sujeito se aproprie de algum objeto em ter-
formas de expressividade artístico-musical. Ra- mos conceituais, é preciso antes que ele o expe-

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riencie na prática. Assim, a tomada de consciência musicais diferenciadas, caracterizando cada co-
sobre as ações realizadas para obter êxito sobre munidade ou grupos de pessoas (SOUZA, 2008).
organizações sonoro-musicais parte de uma ação No ambiente das escolas públicas, ou mesmo das
concreta rumo à compreensão. Esse processo se escolas privadas, por mais que estas estejam den-
dá da seguinte forma: o sujeito age sobre os obje- tro de uma comunidade com características bem
tos, obtém êxito na ação e, para que consiga, por definidas, surpreendemo-nos ao descobrir a hete-
exemplo, explicar tudo o que fez, é necessário que rogeneidade entre os alunos, seja ela em relação
analise suas próprias ações, antes de falar sobre elas, aos conhecimentos musicais ou às preferências
tomando consciência de seus próprios processos sobre determinados gêneros.
de organização. Para o professor, mudar a ideia dos jovens
De modo tradicional, seria difícil aproximar de que a música pode ser muito mais que o uni-
os jovens estudantes de Ensino Médio de uma con- verso de seus grupos e da que o acesso à mídia
cepção de música que garanta o acesso à multipli- propicia, não é uma tarefa fácil, mas pode ser
cidade de estilos musicais, tendo em vista que nesta uma boa solução para algumas dificuldades que
fase a grande maioria está atrelada e identificada encontraremos em nossa profissão. Entrando em
com gêneros musicais específicos, recusando-se, vigor a Lei n. 11.769, publicada no Diário Oficial
muitas vezes, a escutar e vivenciar na prática no- da União em agosto de 2008, que estabelece a
vos gêneros. Consequentemente, eles perdem a obrigatoriedade do ensino de música na educa-
oportunidade de aproveitar as diversas dimensões ção básica, provavelmente encontraremos ini-
expressivas que a música nos possibilita. cialmente situações não muito diferentes das que
Podemos observar três fatores significantes encontramos hoje, ou seja, escolas com poucos
para este comportamento. Primeiro, o fator natu- ou até mesmo nenhum recurso para desenvol-
ral e necessário do adolescente em sentir-se iden- vimento de aulas nos moldes tradicionais de se
tificado a um grupo (KLEBER, 2006), que por ensinar música.
sua vez adota determinados gêneros musicais por Pensando nesta realidade, caberá ao edu-
fidelidade ao mesmo. Eles costumam rechaçar de- cador musical planejar aulas com recursos al-
terminados gêneros e as formas organizadas mu- ternativos para esses jovens do Ensino Médio.
sicalmente que eles desconhecem principalmente Quando falamos de “aulas de música com recur-
se essas não fazem parte de seu habitat. Quanto a sos alternativos” estamos pensando em propos-
isso, Schafer (1991, p.23) propõe um questiona- tas de aprendizagem diferentes das tradicionais,
mento: “seria possível dissociar a música dos se- e a ideia deste meio alternativo surge através da
res humanos e apreciá-la assepticamente em sua realidade vivida até então por estes estudantes,
forma pura?” pois, para muitos, serão suas primeiras aulas de
O segundo fator pode estar relacionado à música. Assim, surgem alguns questionamentos:
contribuição dos meios de comunicação que Como daríamos aula para estes adolescentes que,
pré-definem estereótipos musicais para consumo em sua maioria, nunca tiveram aulas de música?
em massa de determinados gêneros e que, por sua Como atuaremos sem materiais, como instrumen-
vez, limitam as descobertas sobre novas estrutu- tos musicais convencionais, por exemplo? Como
ras musicais. Junto a isso, se soma o terceiro fator: lidaremos com a atual fase de rejeição a deter-
a recusa destes grupos por determinadas músicas minadas músicas? De que modo não expor estes
impostas pelos professores mais tradicionais, ou adolescentes ao constrangimento, com o uso de
seja, aqueles que desconsideram a cultura musical materiais não comuns nas aulas de música?
dos alunos e impõe padrões definidos como bens Ao invés de um problema, o uso de mate-
simbólicos a serem consumidos (BOURDIEU, riais alternativos pareceu-nos mais significativo e
1996), como a música erudita, por exemplo. eficaz do que um trabalho de Educação Musical
As interpretações sobre a música são mui- nos termos mais convencionais. Nas aulas de mú-
to pessoais e subjetivas. Elas devem ser consi- sica, normalmente, trabalha-se com instrumentos
deradas e, principalmente, respeitadas, pois em musicais convencionais que, na maioria das ve-
cada cultura encontramos formas de expressões zes, não estão presentes nas escolas. Costuma-se

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desenvolver mais os exercícios técnicos visando à compreendida”. Também Cunha (2003, p.64) abor-
apropriação de habilidades de execução musical e da este assunto da seguinte forma:
com a notação musical concomitante às práticas
[...] o aluno se coloca numa situação de ouvinte,
propostas de execução. As vivências práticas an- crítico de música, na qual pode ampliar seus co-
tes das teóricas nem sempre são proporcionadas. nhecimentos intuitivos e analíticos, tanto sobre
Ou seja, o foco não é centrado nos processos de o repertório que ouve em sala de aula quanto em
construção musical, em primeiro plano, e sim, no relação às próprias execuções e composições
musicais produzidas na escola.
produto ou resultado que se obtém a partir des-
sas aulas de música que é caracterizado pela exe- A ideia de trabalhar com três processos –
cução precisa do repertório eleito pelo professor apreciação, composição e execução – surge como
para ser trabalhado. Pensamos que não seria esta base do processo de ensino e aprendizagem de
a forma mais adequada, portanto, de se trabalhar a Swanwick (1979) denominado CLASP, onde a
musicalização na escola. vinculação dos pontos trabalhados possibilita um
A implantação de meios não convencionais melhor desenvolvimento cognitivo dos alunos.
ajudou-nos a atingir a ampliação da concepção Stifft (2009, p.27), ao encontro das ideias de Swanwick,
de música nas aulas com adolescentes (LEONI- afirma o quanto é comum este tipo de sistematiza-
NI, 2010). Isto é o que veremos na análise dos ção dizendo que “é preposição compartilhada entre
dados deste estudo. Pensamos que a importância professores de música e teóricos da área que o cur-
desse tipo de trabalho com os jovens é funda- rículo de música deva incluir atividades de execu-
mental para que tenham opiniões mais críticas e ção, criação e apreciação”. Além da perspectiva de
aumentem as suas possibilidades de fazer e com- ganho na questão de vivenciar uma possível am-
preender música. Para nós, professores, apro- pliação na concepção musical, os três pontos abor-
fundarmos este tema tem significado no fato de dados propiciam consideráveis vantagens ao cres-
descrevermos e analisarmos novas possibilidades cimento musical dos alunos. Quando trabalharmos
de se trabalhar sem materiais convencionais nas com a apreciação neste foco, segundo Freire (2001,
aulas de música. Schafer (1991) é uma das bases p.71) é essencial que ela “deva ser uma perspecti-
práticas que destacamos para realizar a parte me- va pedagógica crítica, apoiada, principalmente, na
todológica deste estudo, já que trabalhamos como comparação, a partir do confronto de materiais mu-
as explorações sobre o mundo dos sons. A análise sicais contrastantes”.
dos dados é de cunho construtivista e interacio- Ao encontro desses autores, com vistas a sis-
nista e está baseada na Epistemologia Genética tematizar os conceitos de todas as ações que con-
(PIAGET, 1990) que, conforme já abordamos, sideramos importantes nas aulas de musicalização,
compreende que a construção do conhecimento numa pesquisa anterior, abordamos os conceitos de
parte da ação à compreensão. apreciação ativa, recriação e criação musical como
Muitas vezes pensamos que para proporcionar ações fundamentais a serem desenvolvidos em am-
a ampliação dos horizontes musicais dos alunos, biente de Educação Musical.
basta somente produzir um espaço de apreciação
musical, onde os alunos possam escutar novas pro- 3 O tema em prática
postas sonoras. A apreciação de materiais sonoros é
essencial sim, entretanto, esta atividade sozinha não No primeiro semestre de 2008, um dos au-
é suficiente. É necessário proporcionar aos alunos tores deste texto, teve a oportunidade de estagiar
outras formas de vivenciarem a música, com vistas em uma escola da rede pública de Porto Alegre,
a uma real apropriação do conhecimento musical cujas características relacionadas ao público alvo
em termos práticos e conceituais. Os trabalhos de e aos materiais disponíveis propiciaram trabalhar
execução e composição musical são, desse modo, com o tema até então abordado. No processo de
complementos imprescindíveis. Bernardes (2001, observação do estágio, começaram a surgir ideias
p.74) afirma que a música precisa ser vivenciada e do que trabalhar com os alunos. A realidade da es-
que a reflexão deve estar “a serviço dessa experiên- cola foi fundamental na escolha da linha de pen-
cia, para que, dessa maneira, ela possa ser realmente samento proposta, pois foi possível observar pri-

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meiramente a falta de estruturas necessárias que gêneros e formas. A intenção era mostrar músicas
ajudariam nas aulas de música. Além disso, nesse diferentes que possibilitassem um referencial novo
contexto, nem a escola e nem os alunos estavam a ser explorado em seus trabalhos composicionais.
verdadeiramente preparados para terem aulas de Os alunos deveriam anotar os detalhes que lhes
música de maneira “convencional e tradicional”. pareciam interessantes durante a audição das com-
Dessa forma, abriram-se as portas para uma pro- posições. Entre as músicas para apreciação foram
posta alternativa de se estudar e fazer música. escolhidas: Barbapapas Groove do grupo Barbatu-
Outro fator importante para o direcionamen- ques, Meta-Funk de James Correa, Apocalyptic Fear
to do trabalho foi a quantidade de tempo dispo- da banda Deicide, Invocation de Bobby McFerrin,
nível para ministrar as aulas a cada turma. Foram Slow Foodde Yanto Laitano com o grupo Ex-Machina
quatro encontros de quarenta e cinco minutos de e Fonocromia de Antonio Carlos Borges Cunha.
aula, sendo estes realizados uma vez por sema- Após a audição de cada música, os alunos e o
na. As quatro turmas de aproximadamente vinte professor discutiam sobre quais pontos poderiam
e cinco alunos cada, as quais foram submetidas ser aproveitados para as novas composições que
ao processo de musicalização, tinham peculiari- os grupos deveriam realizar. O professor buscou
dades muito semelhantes, o que contribuiu para a sempre ressaltar que mesmo que os alunos não
escolha de um único plano de ensino. estivessem gostando ou estivessem achando estra-
O ponto inicial do tema trabalhado tange pri- nhas as músicas expostas, o objetivo era mostrar
meiramente ao limite de onde começariam para o quanto a música pode ser organizada de formas
os alunos experiências que os levariam a ampliar diversificadas, isto é, diferente de organizações so-
a concepção de música. Com a utilização de um noras convencionais. É necessário salientar que na
questionário, ainda nas observações do estágio, segunda vez em que decidimos trabalhar a mesma
chegou-se à resposta que funk, rock, hip hop e atividade, durante o primeiro semestre de 2010,
pagode eram os gêneros musicais que preferidos antes de iniciar as apreciações, compreendemos
dos alunos. A partir destes dados, observou-se uma que uma discussão coletiva sobre o significado da
possível dimensão sobre os conceitos que eles pos- arte musical concederia maior suporte para uma
suíam sobre música, possibilitando um ponto de apreciação mais “aberta”, ou seja, menos precon-
partida de onde as aulas poderiam proporcionar no- ceituosa das obras que trouxemos para serem apre-
vas experiências para uma provável ampliação de ciadas. Isso colaborou ainda mais para a ampliação
suas escutas, experiências e concepções musicais. de conceitos musicais dos jovens que se educavam
Supondo não ser tão interessante aos alunos musicalmente neste segundo momento, como pu-
aulas onde apenas se reflete coletivamente e demos constatar em outra pesquisa (LEONINI,
teoriza-se sobre o significado da música, pensou-se 2010). Portanto, a ação de pesquisa do professor
na utilização de meios apreciativos, composicio- é essencial, na medida em que ajusta suas condu-
nais e de execução musical para que os alunos tas progressivamente para ampliar os processos de
sentissem essas mudanças a partir de experiências aprendizagem dos alunos (BECKER; MARQUES,
concretas e vivenciadas. A proposta aos alunos foi 2007).
de que, após as duas primeiras aulas de apreciação A segunda aula foi destinada a uma apreciação
de músicas e um vídeo, eles teriam de compor, em auditiva/visual com a exposição do vídeo do grupo
grupos de aproximadamente seis componentes, Stomp, que produz música apenas com materiais
uma música com utilização de objetos sonoros alternativos (ferros, bolas, panelas, cabos de vas-
que não fossem instrumentos musicais conven- soura, etc.). O objetivo desta apreciação era tornar
cionais, podendo usar também os próprios corpos visível aos alunos como fazer música sem instru-
como instrumento sonoro e utilização da voz sem mentos musicais, destacando sempre que poderiam
articulação de palavras. Esses desafios em relação ser aproveitados muitos dos materiais utilizados no
a suas composições seriam essenciais na busca de vídeo como referência para seus trabalhos. Este
novas ideias e possibilidades de se fazer música. momento foi fundamental para que houvesse in-
A primeira aula foi destinada a uma apre- tervenções para explicação dos parâmetros do som
ciação auditiva de materiais contrastantes entre (altura, timbre, duração e intensidade), salientando

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que se explorassem estes elementos em suas com- curassem estruturar e representar estes sons com
posições, poderiam torná-las ricas em detalhes. A vistas a reproduzir estes ambientes. Assim, alguns
discussão coletiva sobre os parâmetros do som teve grupos começaram a criar suas composições com
como objetivo possibilitar aos alunos a compreen- temas específicos, e outros ficaram atrelados às
são sobre organizações sonoras diversificadas. So- ideias do vídeo do grupo Stomp, prevalecendo
bre os parâmetros do som neste contexto, Kebach combinações organizadas de sons dentro de um
(2008, p.41) afirma: ritmo. Esse processo criativo de escolhas de te-
mas em suas composições remete-nos as propo-
São essas bases sólidas que poderão pro-porcio-
nar o desenvolvimento progressivo das noções
sições de Penna e Marinho (2005, p. 131) sobre o
a serem construídas sobre as possibilidades de trabalho de rearranjos, cujos autores também su-
organizações sonoras em forma musical, sejam gerem processos de criação musical com alunos
elas baseadas na música ocidental ou nas novas
formas de organização da música contemporânea.
sem experiência de estudos musicais:

Após as duas aulas de apreciação musical, os Visando prioritariamente a alunos não familia-
rizados com a linguagem de música erudita e/
grupos de alunos teriam de, durante o período de ou que não tiveram estudos (formais) de mú-
dias até a próxima aula, pensar em formas de orga- sica anteriormente, a estratégia criativa de re-
nização de suas composições, refletindo sobre quais -arranjo revela-se bastante produtiva quando
são selecionadas músicas que remetem a temas;
materiais sonoros iriam utilizar e qual a função de músicas que se relacionem com vivências pes-
cada componente na criação da composição. soais ou com temáticas culturais, isto é, com
No terceiro dia, a aula foi realizada em um temas que se ligam ao imaginário social.
ginásio de esportes para que os grupos pudessem A diferença das práticas realizadas para
elaborar suas músicas. O amplo espaço e materiais este estudo e as sugeridas por Penna e Marinho
disponíveis no ginásio ajudaram os grupos a tra- está no fato de que foram oferecidas apreciações
balhar com liberdade e autonomia em suas produ- de gêneros desconhecidos aos alunos de Ensino
ções. Os jovens trabalharam com os mais variados Médio observados, que serviriam de referencial
tipos de objetos musicais, entre eles vassouras, para suas posteriores produções musicais, e não
bolas, mesas, cadeiras, madeiras, ferros, garrafas, músicas que já faziam parte de seus repertórios de
estojos, latas de lixo, cadernos, além das suas vozes escuta habitual. Entretanto, pensamos que as duas
e sons percussivos dos próprios corpos. formas de se musicalizar são produtivas: aquelas
Inicialmente, estes grupos começaram a que se utilizam de novas formas de arranjar mú-
compor com ideias de ritmos que já conheciam, sicas que os adolescentes já conhecem, como su-
como pagode e funk, algo comum nas condutas gerem os autores, e também esta oferta de acesso
daqueles que estavam compondo pela primeira a novos modos de estruturação sonoro-musical.
vez. São os esquemas já construídos pelo sujei- Porém o foco específico das reflexões que aqui
to que, num primeiro momento, servem de base trazemos está nesta segunda proposta de ação de
para suas ações sobre os objetos, em qualquer musicalização que consideramos complementar a
circunstância nova que surja (PIAGET, 1990). diversas outras ações que podem ser desenvolvi-
Compreendendo isto, foi oportunizado aos alunos das no ambiente de educação musical em forma
que aproveitassem o momento para se expressa- de Oficina Pedagógica.
rem através das organizações sonoras partidas de No quarto e último dia de aula, foi destinado
suas construções precedentes. Logo em seguida, tempo para que terminassem suas composições e as
para desafiá-los a irem um pouco mais além, em apresentassem. Entre os grupos, houve reproduções
termos criativos de organizações sonoras, o pro- de ambientes temáticos, como por exemplo, traba-
fessor fez uma intervenção sugerindo que esque- lhadores na construção de um edifício, um jogo de
cessem os ritmos que conheciam e pensassem em futebol, e até mesmo os processos de uma pessoa
ambientes sonoros. Foi sugerido que imaginas- durante suas necessidades fisiológicas. Esses gru-
sem como seriam os sons de diversas paisagens pos experienciaram, assim, novas formas de se fa-
sonoras (centro da cidade, aeroporto, parque de zer música, através da escuta de novos gêneros e de
diversões, etc.). Foi pedido, então, que eles pro- atividades de composição musical. Na verdade, este

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era o principal objetivo das tarefas propostas: fazer alunos de compor, pois servem de fonte de infor-
com que os adolescentes tivessem acesso a uma di- mações para suas produções musicais, além daque-
versidade de formas de organizações sonoro-musicais las que eles já construídas no seio de sua cultura.
e produzissem suas próprias músicas a partir desta Pensamos também que o momento de criar suas
experiência, ampliando seus conceitos sobre as pos- próprias músicas e executá-las é fonte de constru-
sibilidades de se ouvir e fazer música, o que poderia ção de conhecimento musical, pois o que está em
servir de base para construções musicais progressivas. jogo neste momento, além da capacidade de coor-
Entendemos que o momento em que tenta- denação de ação coletiva, é a capacidade criativa
ram compor com os ritmos que lhes agradavam faz de imaginação de cada um.
parte deste processo de musicalização e integra um Entre as respostas livres do que era música
momento muito significativo em suas construções para os alunos após as quatro aulas realizadas, des-
de conhecimento musical. Como podemos mapear no tacamos as seguintes:
início das aulas, os alunos se musicalizam também Aluno A: “É o conjunto de sons compostos
no interior de sua cultura. Demonstraram também por instrumentos de corda, percussão ou sopro fei-
isto ao organizarem suas composições a partir da- tos a partir de uma tablatura.”
quilo que ouvem no cotidiano. Portanto, esses mo- Aluno B: “Algo tocado com instrumento
mentos devem ser valorizados pelos professores musical.”
para que haja aprendizagem significativa e contex- Aluno C: “O que eu escuto: rock.”
tualizada para os educandos. Aluno D: “Pra mim música é aquilo que o
Guns’n Roses faz.”
4 Avaliação sobre o processo de Analisando de forma mais ampla as respostas
construção musical dos alunos A, B, C e D, percebemos que os alunos
partem de seus conhecimentos prévios para explicar
Na busca de uma avaliação sobre o trabalho o significado da música. A resposta do aluno A mos-
realizado, foi elaborado um pequeno questionário tra certa experiência ou noção de escrita musical,
com este objetivo. O questionário foi entregue aos sugerindo que as novas experiências musicais não
noventa e seis alunos que participaram do processo surtiram efeito para que mudasse suas ideias sobre a
de musicalização. Através dele, observamos que a música. As respostas dos alunos C e D demonstram
maioria dos alunos, ao ser indagada se havia mu- o quanto a música do cotidiano dos sujeitos deve
dado ou ampliado suas concepções sobre música, ser inserida no contexto da educação musical, pois
afirma que sim, e alguns afirmaram que não. Entre muitas vezes, os alunos demonstram resistência às
os alunos que se disseram terem modificado em novas propostas musicais. Essas observações, por-
termos de concepções de música, alguns afirmam tanto, possibilitam ao professor entender que é im-
que isso aconteceu ao assistirem à apresentação portante resgatar, em algum momento, as músicas
do vídeo do grupo Stomp, outros afirmam que o do cotidiano do adolescente para abarcar seus dese-
momento de todas as audições possibilitou uma to- jos em se musicalizar. É comum observar nesta faixa
mada de consciência perante novas possíveis orga- etária, como já propusemos, a resistência à audição
nizações sonoras. Para poucos alunos, o momento de variados gêneros musicais.
de compor a música foi essencial para suas refle- Assim, esse tipo de resposta também pode es-
xões sobre novas possibilidades de organizações e, tar relacionado a certo grau de protesto, resistência e
para outros poucos, foi determinante o momento da pertencimento a determinado grupo, muito comum
execução de suas composições. Portanto, todas as nesta faixa etária. Ou seja, procurando legitimar sua
ações parecem ter sido significativas, mobilizando própria estética musical e expressar certo pertenci-
de modo diferente os estudantes. mento a determinada tribo social (KLEBER, 2006),
Através destes dados e também da observa- estes alunos reafirmam seus gostos musicais e de-
ção sobre suas composições, pudemos inferir que negam o novo conhecimento. Mas isso não quer
as apreciações musicais diversificadas possibilitam dizer que não possam, em determinado momento,
um acesso importante a novas formas de organi- vir a se abrir às novidades. Ao contrário, ao agir de
zações sonoras e ampliam as possibilidades dos acordo com a dialética entre músicas do cotidiano e

142 Revista Liberato,


sugestões de novas possibilidades de escuta e orga- Ainda destacamos as seguintes respostas de
nização sonora, estaremos possibilitando momentos alunos que dizem ter modificado suas concepções
de mobilização interior aos educandos e, portanto, sobre possibilidades de se ouvir e fazer música:
construção progressiva musical. Aluno I: “É todo som emitido por qualquer
Destacamos também as seguintes respostas coisa que faça som, contanto que esse som tenha
de alunos que disseram ter modificado suas con- sentido para mim.”
cepções musicais: Aluno J: “É um conjunto de barulhos orga-
Aluno E: “É todo tipo de som que tenha al- nizados. Algo pensado.”
gum ritmo.” Examinando as respostas dos alunos I e J,
Aluno F: “Algo com ritmo.” podemos perceber que progressivamente os alu-
Aluno G: “É qualquer coisa com ritmo.” nos vão se abrindo a novas possibilidades de se
Aluno H: “São objetos sonoros que com- ouvir e de se fazer música. Essas respostas foram
põem um ritmo.” desencadeadas na passagem pelas experiências
Analisando as respostas dos alunos E, F, G e H, alternativas oferecidas no ambiente de musicali-
a questão rítmica atua como agente necessário para zação proposto em forma de oficina, partindo da
a existência da música. Se pensarmos pelo ponto de ação (escuta ativa ou fazer musical) à compre-
vista de que o fator tempo seja imprescindível para ensão (momento em que tiveram que falar sobre
que a música aconteça, e que o ritmo desta forma a experiência e responder ao questionário). As
estaria diretamente ligado a este fator, estas respostas respostas desses alunos tratam inclusive do tema
estariam bem fundamentadas. A ideia de que o fator emissão e recepção em música, já que abordam
tempo seja necessário para existência da música é a importância de haver necessariamente uma in-
expressa por Maffioletti (2002, p. 102), da seguinte tenção em produzir algo musical para ser com-
forma: “em experiência mais complexa, fazer mú- partilhado com um receptor. Esta seria em suas
sica também supõe organizar eventos sucessivos concepções, uma condição necessária para a
no tempo, onde as combinações de alturas, dura- existência musical.
ções, intensidade, texturas e timbres dão dinâmica
ao produto musical.” Porém acreditamos que estas 5 Conclusões
respostas estejam significativamente associadas a
alguns dos exemplos expostos e bastante absorvidos A educação musical aos poucos começa a se
pelos alunos, pois nestes a parte rítmica foi bastante renovar, mesmo que lenta e tardiamente, com a
explorada, como o vídeo do grupo Stomp e a música abordagem de novos estudos sobre processos de
do grupo Barbatuques. Podemos inclusive observar ensino e aprendizagem musical. A atual conjun-
esse grau de influência pelo elevado número de es- tura escolar não comporta mais as ideias tradicio-
tudantes que disse que, ao escutarem esses grupos, nais de ensino musical, principalmente em rela-
modificaram suas concepções sobre possibilidades ção ao ensino coletivo de jovens adolescentes de
de se fazer música. escolas públicas. Seus interesses atuais são dife-
Entretanto, devemos levar em conta que o rentes daqueles dos alunos do passado, e de tempo
ritmo é apenas um dos elementos que compõe a em tempo suas formas de agir e pensar se modi-
linguagem musical, ou seja, o ritmo é apenas um ficam de acordo, principalmente, com as mudan-
dos elementos implícitos nas organizações sonoras ças culturais. Nós, educadores musicais, devemos
apreciadas, produzidas e executadas. Ou seja, os constantemente nos atualizar e nos colocarmos no
alunos, ao centrarem-se em apenas um dos aspec- papel de nossos alunos. Só assim descobriremos
tos da linguagem musical para explicá-la ainda a seus reais interesses e as formas mais eficazes de
compreendem de modo parcial. Assim, os dados alcançar nossos objetivos.
apresentados na avaliação são relevantes, pois Através das experiências realizadas neste
mostram ao professor que é necessário que outros estudo, observamos que é possível ampliar as
elementos também devam ser trabalhados para se- concepções de música e o interesse pela escu-
rem significados pelos alunos, como as alturas, os ta de gêneros musicais diversificados através de
timbres, a dinâmica variada pelas intensidades, etc. atividades alternativas, diferentes dos meios tra-

Revista Liberato, 143


dicionais de se fazer e estudar música. Essas ex- BERNARDES, V. A percepção musical sob a
periências revelaram que as estruturações e fór- ótica da linguagem. Revista da ABE. Porto
mulas previamente elaboradas e direcionadas ao Alegre, v.6, p.73 - 86, set.2001.
objetivo principal deste trabalho surtiram efeitos
BOURDIEU, Pierre. As regras da arte: gênese e
positivos no desenvolvimento da construção do
estrutura do campo literário. São Paulo: Compa-
conhecimento musical por parte dos alunos, pos-
nhia das Letras, 1996.
sibilitando que os estes construíssem conheci-
mentos suficientes para que pudessem apreciar CUNHA, E. S. A avaliação da apreciação mu-
músicas diferentes ou mesmo produzi-la. Os sical. In: HENTSCHKE, L.; SOUZA, J. (Org.)
alunos, em sua maioria, demonstraram interesse Avaliação em música: reflexões e práticas. São
e satisfação na realização das tarefas, que lhes Paulo: Moderna, 2003. p.64 -75.
pareceram até mesmo lúdicas, especialmente a FERNANDES, José Nunes. Oficinas de música
parte de composição musical. no Brasil. Teresina: Fundação Cultural Monse-
Concluindo, acreditamos que para ajudar nos- nhor Chaves, 2000.
sos alunos a se construírem musicalmente, precisa-
FREIRE, V. L. B. Currículos, apreciação musical
mos primeiramente estar abertos à diversidade de
e culturas brasileiras. Revista da ABEM. Porto
organizações sonoro-musicais que existem e à escu-
Alegre, v.6, p.69 - 72, set.2001.
ta daquilo que agrada aos nossos alunos. Entretanto,
ainda encontramos professores presos a determinados KEBACH, Patrícia. A construção do conheci-
estilos ou limitados pelas ações didático-pedagógi- mento musical: um estudo através do método clí-
cas baseadas em modos tradicionais de se ensinar e nico. 2003. Dissertação (Mestrado em Educação)
aprender música. Com a ampliação do mercado de – Faculdade de Educação, Universidade Federal
trabalho, devido à nova Lei 11.769, que abrirá inú- do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.
meras oportunidades para educadores musicais, de-
vemos estar preparados e atentos para a condução de ____. Musicalização coletiva de adultos: os pro-
cessos de cooperação nas produções musicais em
aulas de música com pouquíssimos recursos, o que
tornará difícil a tarefa de quem mantém pensamentos grupo. 2008. Tese (Doutorado em Educação) –
Faculdade de Educação. Universidade Federal do
tradicionais em relação ao ensino de música.
Ajudar nossos alunos a se abrirem para a es- Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.
cuta de uma diversidade musical possibilitará pri- KEBACH, Patrícia; DUARTE, Rosangela. Ofici-
meiramente a abertura de um leque de oportunida- nas Pedagógicas Musicais: espaço construtivista
des e variedades de trabalhos e exercícios a serem privilegiado de formação continuada. Disponível
realizados, podendo contar com o que o universo em <http://www.marilia.unesp.br/scheme> Acesso
musical realmente nos possibilita, ou seja, infinitas em: 10 de novembro de 2010.
ideias de se apreciar, fazer e estudar música. Insis- KLEBER, Magali Oliveira. A prática da Edu-
tindo em manter propostas tradicionais limitadas e cação Musical em ONGs: dois estudos de caso
estagnadas, estaríamos condicionando nossos alu- no contexto urbano brasileiro. 2006. Tese (Dou-
nos a explorar uma pequena parte desta imensidão torado em Música) – Instituto de Artes, Uni-
chamada “música”. versidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2006.
Referências LEONINI, Márcio. Educação musical com
BEYER, Esther A construção do conhecimento adolescentes: inovando métodos e ampliando
musical na primeira infância. Em Pauta. Porto conceitos. 2010. Trabalho de Conclusão de Cur-
Alegre, v.5, n. 8, p. 48 - 58, dez 1993. so (Especialização). Universidade Feevale, Novo
Hamburgo, 2010.
BECKER, Fernando; MARQUES, Tania B. I. (Orgs).
Ser professor é ser pesquisador. Porto Alegre: MAFFIOLETTI, L. Conhecimento e aprendiza-
Mediação, 2007. gem musical. In: BECKER, F. (Org.). Aprendiza-

144 Revista Liberato,


gem e conhecimento escolar. Pelotas: EDUCAT, ____. Epistemologia Genética. São Paulo:
2002. p. 97 - 111. Martins Fontes, 1990.
____. Diferenciações e integrações: o conhecimen- SCHAFER, R. M. O Ouvido Pensante. São
to novo na composição musical infantil. 2010. Tese ( Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1991.
Doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade
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