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COMO GRAVAR SOM DIRETO

por David Pennington


SOM DIRETO

INTRODUÇÃO

O som direto em cinema surge com o documentário a partir dos anos sessenta,
principalmente com a disponibilidade dos gravadores "Nagra" e "Uher", dentre
outros. O primeiro Nagra do Brasil foi trazido pelo cineasta sueco Arne Suckdorff
em 1962; trouxe também uma câmara e uma moviola, e esse material ficou no
Ministério de educação e Cultura, no Rio de Janeiro, à disposição dos jovens
cineastas. O sistema câmara-gravador, extremamente portátil, permitiu enorme
mobilidade. Um engenhoso conjunto de circuitos eletrônicos analógicos permitia
manter sincronismo entre o som e a imagem fotográfica registrada, inicialmente
com o auxílio de um cabo interligando a câmara e o gravador, e posteriormente sem
cabo, por meio de "relógios" de cristal de quartzo, um na câmara, outro no gravador.
Atualmente, usamos gravadores digitais para o registro "duplo", som e câmara de
cinema. No próprio conceito de equipamento de gravação de som digital, está como
raiz, o "relógio" de cristal de quartzo. Este texto foi originalmente escrito em 1999, e
embora tenha havido uma forte evolução no que tange aos equipamentos, os
procedimentos básicos não mudaram. Ainda é necessária muita atenção, escolha
cuidadosa dos microfones, sua correta localização, controle dos volumes para não
sobrecarregar ou "estourar" a gravação.

O SOM E O PRIMADO DA IMAGEM

Muitos cineastas freqüentemente menosprezam a importância de obter um som


original bom. Pensam que se a gravação original é pelo menos audível, bom o
bastante, a alquimia da pós-produção "conserta" o som. Isto é absolutamente falso.
A gravação original é regravada muitas vezes passando por muitas gerações,
deteriorando-se, no ambiente analógico principalmente, a qualidade da gravação a
cada passo até chegar à tela do cinema. Se a gravação original for pobre, a trilha
sonora do filme sofrerá muitas perdas. Por isto, a gravação original deverá buscar a
excelência. Devem ser usados o melhor equipamento e técnicas disponíveis para
um resultado de alta qualidade.

Mesmo no ambiente digital, embora as perdas de geração a geração sejam


desprezíveis, se a gravação original for de baixa qualidade, as múltiplas gerações
também o serão. Inclusive alguns autores (Jay Rose, p. ex.) afirmam que graças a
fatores ainda incontroláveis nos estúdios de pós-produção, a situação ideal de
infinitas cópias de um original, sem perdas de qualidade não corresponde à
realidade: principalmente em função da compressão de dados, é bom restringir a
matriz à no máximo cinco a seis gerações para assegurar boa qualidade do produto
final.

SOM SINCRONIZADO COM A IMAGEM

O sistema "duplo" eletronicamente engrena a câmara cinematográfica com o


gravador de som. Os dois são coordenados por meio de um "tom" ou "pulso" de

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sincronismo cuja freqüência é de 50 ou 60 Hertz. 60 Hertz aplicam-se para os
Estados Unidos, Brasil, Japão e alguns países da América Latina, América Central e
África onde a freqüência da rede elétrica alternante é de 60 ciclos por segundo.
Na Europa, onde a freqüência da rede é 50 ciclos por segundo, o tom de
sincronismo é também 50 Hertz. A pulsação de sincronismo tem que se combinar
com a freqüência da rede elétrica para permitir a transferência do som da fita
magnética de ¼ de polegada para o filme magnético perfurado.
Um oscilador de tom de sincronismo faz parte da câmara. Gera um tom de 60 ( ou
50) Hertz quando a câmara cinematográfica está rodando a exatamente 24 (ou 25)
fotogramas por segundo. Na Europa a combinação é normalmente 50 Hertz e 25
fotogramas por segundo. Enquanto a câmara está rodando,
o tom de sincronismo mudará sutilmente com as pequenas e inevitáveis variações
de velocidade da câmara e do gravador de som de cinema. O tom ou pulso de
sincronismo e o som dos diálogos são registrados separadamente sobre a fita de ¼
de polegada.
A freqüência do tom de sincronismo reflete todas as mudanças de velocidade
envolvidas, desde a variação de velocidade do filme na câmara, até variações de
velocidade do transporte da fita de áudio, escorregamento da mesma, encurtamento
ou expansão do comprimento da fita por variações de temperatura e umidade.
Quando a gravação é transferida da fita de ¼ pol. para filme magnético perfurado, o
tom de sincronismo registrado na fita controlará a velocidade do playback do
gravador para obter uma pista de som que combinará com a película, quadro a
quadro exatamente. O método comum de obter som sincronizado em sistema duplo
é conectar a saída do pulso de sincronismo da câmara com um cabo elétrico até o
gravador de fita de ¼ de polegada. Um método mais avançado utiliza controles a
cristal altamente precisos. Com sincronismo a cristal a velocidade da câmara é
constante a exatamente 24 (25) fps; no gravador de fita encontra-se uma unidade
geradora de pulso de sincronismo semelhante, que serve de referência; os dois
geradores de pulso, controlados a cristal, mantém uma precisão de freqüência em
torno de 1: 10.000, o que assegura horas de sincronismo entre imagem e som. A
vantagem do sincronismo por cristal é que não há nenhuma necessidade de
conectar a câmara de cinema ao gravador, através de um cabo.

CLAQUETE E BLOOP

Estando estabelecidas as velocidades da película na câmara e da fita magnética no


gravador, temos que fixar um ponto de sincronismo, ou seja, uma marca que
permita estabelecer com precisão o sincronismo som/imagem. Isto é conseguido
tradicionalmente por meio da "claquete", uma pequena lousa. Nela são escritos o
nome da produção, o numero da cena, a tomada ( "take" ), o nome da produtora, o
nome do diretor, a data, o rolo de filme usado ( "numero de chassis") e o número de
rolo de fita de gravação de som. Subordinada à claquete há um segmento de
madeira que pode ser batido na lousa, produzindo-se um som: assim, temos um
som forte e seco, registrado na fita de som, e que corresponde à imagem do
segmento de madeira fechado na lousa. O "claquetista", em geral função do
continuísta, antes de bater a claquete identifica a fita de som cantando as
informações mais importantes, lidas da própria claquete. Assim temos identificação
na película e na fita de som. Normalmente a claquete é batida no início da cena,
após a câmara e o som estarem rodando, e antes do início da ação. Em situações

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onde o uso da claquete no início da ação perturbaria o assunto (quando filmando
vida selvagem ou crianças) uma "claquete de fim" é usada. Ao término da cena,
ainda com a câmara e o gravador de som ligados, é feita a claquete; só que neste
caso, a claquete é operada de cabeça para baixo, indício de claquete de fim.
Muitas câmaras modernas que usam sincronismo de cristal são equipados com um
dispositivo automático de marca de sincronismo, chamado "dispositivo de
blooping". Este dispositivo automaticamente acende uma pequenina lâmpada
dentro da câmara, velando alguns fotogramas do filme negativo nela colocado.
Enquanto isso ativa um tom de áudio, em geral 1000 Hertz, que é registrado na fita
do gravador de som. Posteriormente, os dois podem ser sincronizados: os
fotogramas velados com o tom de áudio gravado na fita de som. Quando a câmara
de cinema é conectada ao gravador por meio de cabo, o bloop é controlado pelo
cabo. Porém, quando operando com controle a cristal, é necessário que a câmara
tenha instalado um transmissor de rádio, cujo sinal é recebido por um receptor
instalado no gravador, e desta forma o sistema de bloop pode funcionar sem fios.
De qualquer maneira, é sempre necessário identificar o plano de filme rodado e o
trecho de fita gravada correspondente.

GRAVADORES

Somente alguns gravadores de fita de ¼-polegada são adequados para operação de


som sincronizado. O favorito da indústria é o Nagra. Outros gravadores
profissionais incluem o Stellavox, e o Perfectone. Também era utilizado o Uher 4000,
mais barato e adaptado para gravação síncrona.
Está em curso a substituição dos gravadores analógicos pelos gravadores de som
digitais. Mesmo assim, ainda há muitos Nagras em operação por aí, especialmente
no cinema de resistência do terceiro mundo; e em muitos países da Europa, muitos
técnicos de som ainda preferem o Nagra analógico.

MICROFONES

Os microfones são classificados por de sua natureza, e segundo o padrão de


recepção.

Microfones dinâmicos são os tipos mais resistentes.


Empregam um imã forte em sua construção, por isso é aconselhável mantê-los
longe de fitas magnéticas e dos gravadores.
Microfones de condensador ("eletrostáticos") requerem fonte de alimentação à
bateria, ou a partir do gravador para operar. São um pouco mais frágeis e
geralmente mais caros que a maioria do microfones dinâmicos. Muitos técnicos
acreditam que são os de melhor qualidade. Os equipamentos usualmente
apresentam fontes de alimentação embutidos para esses equipamentos, são as
fontes "Phantom" (12 a 48 Volts). É necessário escolher a fonte adequada a cada
microfone. Quando utilizar microfones dinâmicos, as fontes "Phantom" devem ser
desligadas.

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Através de padrão de recepção de som são classificados como segue:

Microfones unidirecionais são freqüentemente usados em filmagem. Favorecem


sons que vêm de uma direção determinada. Os níveis de captação dos sons fora do
eixo do microfone caem rapidamente e assim é possível eliminar sons indesejáveis.
As freqüências altas são as primeiras a serem afetadas, quando a fonte sonora fica
fora do eixo do microfone.

Os microfones ultradirectionais ou "canhão" ( em Portugal, "de espingarda") têm


uma aplicação muito importante em cinematografia. São maiores que microfones
unidirecionais e altamente direcionais, fazendo-os mais seletivos na recepção dos
sons. Seu padrão de recepção estreito fá-los especialmente satisfatórios para
selecionar fontes sonoras ao ar livre onde há normalmente ruído de fundo a ser
evitado; mas exigem muita atenção, pois um pequeno desvio do eixo em relação à
fonte sonora reduz drasticamente o nível de captação.

Microfones omnidirecionais têm um ângulo largo de recepção e detectam


especialmente baixas freqüências de todas as direções. São bons para registrar
sons de ambiente e efeitos sonoros, e para discussões em grupo onde o microfone
tem que permanecer estacionário.

O microfones lavalier (chamados também "microfone globo-repórter")ou microfones


de lapela são construídos para serem colocados sobre a caixa torácica. São
projetados para favorecer freqüências altas, compensando desta maneira a
superabundância de baixas freqüências que se originam nesta área. Por isto sempre
devem ser colocados sobre o tórax. Os microfones de lapela mantêm distância
constante entre o microfone e a boca; tendem a ter uma ação localizada, podendo
às vezes ser usados com uma câmara ou locações ruidosas. Infelizmente, são
suscetíveis a "ruído de cabo", causado pelo cabo que se esfrega na roupa do ator
ou locutor. Algumas medidas podem ser tomadas para aliviar este fato.

OUTROS EQUIPAMENTOS

Fones de ouvido de alta qualidade são necessários para o técnico avaliar a


qualidade de som. Os fones de ouvido devem ser compatíveis com o gravador em
termos elétricos, a impedância dos fones deve combinar com a impedância de saída
de fones do gravador.

A melhor posição para o microfone é geralmente acima e à frente do locutor;


normalmente há necessidade de algum tipo de suporte, uma girafa ou "boom", que
poderá ser improvisando um cabo de vassoura ou até um boom de estúdio
sofisticado.
Em todo caso, o microfone deve ser montado de forma que não toque nenhuma
superfície sólida diretamente. Pode ser suspenso por ligas de borracha, ou em
emergências somente, o microfone pode ser fixado com fita crepe a um cabo de
vassoura, forrando-se o microfone com espuma.

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Para filmagem ao ar livre, um paravento é uma necessidade; normalmente consiste
em uma cobertura de espuma que desliza sobre o microfone para protegê-lo do
contato direto com o vento. Freqüentemente, o paravento também é usado em
recinto fechado.
O microfone e seus cabos são sensíveis e requerem manutenção considerável e
cuidados no manuseio. Há um modo padronizado de enrolar cabos para evitar o
torcer constante dos fios internos delicados. Fios embolados e nós, nunca devem
ser puxados; sempre devem ser cuidadosamente desembaraçados.

MANUTENÇÃO DO EQUIPAMENTO DE SOM

Assim como a câmara, o gravador de fita deve ser conferido antes do uso. As partes
mais importantes a ser examinadas são a cabeça magnética, o mecanismo de
transporte, o oscilador de referencia, os amplificadores, o interruptor e conectores
de cabos.

O problema mais comum é a magnetização das cabeças de gravação. As cabeças de


playback e gravação devem ser desmagnetizadas regularmente. Um
desmagnetizador pequeno deve ser usado após cerca de doze horas de uso ou se a
cabeça vier a ficar nas proximidades de qualquer material magnético, como um
microfone dinâmico, um motor elétrico poderoso, ou ferramentas de metal de
qualquer tipo, como chaves de fenda, alicates, etc.

Sujeira se acumula nas cabeças do gravador pela transcurso da fita sobre elas.
Deve ser removido usando um limpador de cabeça líquido, ou álcool isopropílico.
Álcool comum não é recomendado, porque tem ingredientes adicionais, e uma
quantidade de água (álcool hidratado) que pode prejudicar as cabeças de gravação
e reprodução dos gravadores de fita. Quando limpar, nunca raspe a cabeça com
qualquer instrumento duro. Use cotonetes novos, uma vez apenas para cada
cotonete.
Deve ser tomado cuidado para não sacudir ou forçar as cabeças, que podem ficar
desalinhadas. Se a cabeça está fora de alinhamento, as freqüências altas serão as
primeiras a desaparecer. Nunca tente a realinhar as cabeças você mesmo, a menos
que tenha experiência para isso.

Os gravadores digitais devem ser limpos com discos ou fitas de limpeza próprios, e
a manutenção é sempre através de empresas especializadas.

Muitos dos problemas do gravador podem ser diagnosticados a partir do som


gravado. Um som tremulante normalmente é causado por um mecanismo de
transporte defeituoso que avança a fita a uma velocidade desigual.
Zumbidos e “assobios” podem ser causados por um amplificador defeituoso, mas
também pode a ser a fonte de alimentação nas proximidades de um aparelho
elétrico.
Também fios elétricos nas proximidades podem induzir zumbidos, ou até mesmo
uma estação de rádio pode ser captada ocasionalmente pelos cabos de microfone,
agindo como antenas. Também poderiam ser recebidos pelo adaptador de corrente
alternada do gravador de fita; por essa razão, é sempre bom dispor de um jogo de

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pilhas para o gravador. Se um zumbido está presente, a primeira coisa para fazer é
mudar de lugar todos os cabos dos microfones. Se estiverem captando o zumbido,
esta providencia poderá eliminar a captação.

Sempre deve ser lembrado que se o zumbido é de origem acústica gerado por
alguma fonte audível próxima, é proveniente dos próprios microfones; daí, muitas
vezes, durante uma gravação, mandar desligar um condicionador de ar, TV ou
geladeira resolve o problema. Luzes fluorescentes são notórios geradores de
interferências, e os microfones devem ser mantidos longe deles. Melhor ainda é
desligar as luzes fluorescentes quando possível.

Ruídos semelhantes a fogo crepitando são devidos a cabos de ligação com defeitos.
Finalmente, se o gravador de fita permanece no sol quente, a temperatura excessiva
pode conduzir a mau funcionamento, produzindo ruídos estranhos. Assim, é bom
manter o equipamento em um lugar fresco e ventilado. Não se esqueça que dentro
da mala de um carro, ao sol, a temperatura interna pode chegar a 70 ou 75 graus
centígrados - e alguns plásticos amolecem nessa temperatura.

CUIDADOS COM AS FITAS, DISCOS E CDs

Igualmente importante é manutenção das fitas. Devem ser armazenadas longe de


campos magnéticos, microfones dinâmicos, alto-falantes, motores e
transformadores. Evite extremos de temperatura e umidade. Temperaturas de até 22
Centígrados e umidade até 60 por cento são valores aceitáveis para armazenamento
contínuo. Uma caixa de isopor é interessante para manter o material virgem ou
gravado, durante a produção, a uma temperatura constante. Não ponha gelo dentro
dessa caixa! A temperatura que se estabelece durante a madrugada é
suficientemente baixa para durar o dia inteiro - você retira o material virgem para o
trabalho do dia, de manhã, e à noite rotula e guarda o material gravado.
Quando uma fita gravada foi armazenado e não reproduzida durante seis meses ou
mais, deve ser rebobinada antes de ser reproduzida.
Para gravações profissionais e de alta qualidade, use somente fitas virgens. Sempre
que viajar com materiais gravados com registros magnéticos, tente levá-los com
você mesmo, especialmente quando viajando de avião; se os materiais têm que ser
despachados como bagagem, tenha certeza um funcionário do aeroporto não os
faça passar por Raios-X ou os sujeita campos magnéticos fortes que poderiam
apagar ou danificar
a gravação. Sempre devem ser bem etiquetados quaisquer pacotes, declarando os
conteúdos, com informação suficiente, de forma que os materiais possam ser
abertos facilmente para inspeção.

OS GRAVADORES DE FITA

A velocidade padrão para gravar som de filme é 7 ½ ips (polegadas por segundo); a
esta velocidade um carretel de 5 polegadas - de uso corrente - dura
aproximadamente 15 minutos, o que acompanha bem um chassis de filme de 400
pés (12 minutos). Mas os bons gravadores apresentam ainda a velocidade de 3 e ¾
ips e também 15 ips. A primeira, mais lenta, é usada para gravar entrevistas; a

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segunda, mais rápida, é usada para gravações de música. Mas somente a
velocidade de 7 ½ ips é usada para som direto de cinema.

Ao instalar um carretel novo de fita, a primeira coisa a fazer é cantar uma


identificação de voz no começo da fita, que deve incluir o seguinte: título da
produção, número da produção, nome do operador, número de rolo de fita, numero
do chassis de filme correspondente, e a data. Esta mesma informação também
aparecerá no boletim de som e na caixa da fita, além do número de gravador, o tipo
de fita, e a velocidade de gravação. Depois da identificação de voz, um tom de tom
de referência é gravado na fita por cerca de 20 segundos.
Este tom de referencia é produzido por um oscilador instalado dentro do gravador.
O Tom de referencia
ferencia é de 1000 ou 2000 Hertz, ou ainda uma combinação de tons de
1000 + 10.000 Hertz, e gravado a uma intensidade de -8 8 dB (menos oito dB) ou -10
dB (menos dez dB). Este tom é usado para ajustar os níveis para a regravação (ou
"transferência") do material
ial gravado em fita de ¼ de polegada para a fita magnética
perfurada no estúdio (atualmente
(atualm este procedimento não mais é realizado).
realizado)

OS GRAVADORES DIGITAIS

Com o advento do ambiente digital, os gravadores de fita analógicos foram


substituídos pelos gravadores DIGITAIS, que inicialmente registrando em fita,
posteriormente passaram a registrar em discos rígidos, "HD's" e cartões de
memória tipo flash. Usa-se
se atualmente em gravações de som com câmaras digitais,
com o auxílio de um "mixer" ou misturador de sinais de áudio, registrar a mesma
informação de áudio num gravador digital, e ao mesmo tempo enviar o sinal para a
seção de gravação de áudio da câmara, tendo assim um back-up,
back up, cópia de
segurança da gravação.

Vários tipos de indicadores de nível de


Mixer com indicação luminosa e positiva, gravação: analógicos (de ponteiro)
dá para controlar o volume da gravação e digitais. O último é o modulímetro do
com o "rabo do olho". famoso gravador Nagra, e sua construção é
tal que as indicações se associam à
resposta do ouvido humano aos sons.

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Um trolley ou carrinho de som para
produções grandes. Observe os dois boom,
com seus zeppelins (paraventos).

Operador de boom. No início do dia, o


boom e microfone pesavam uns dois
quilos; no fim do dia, uns trinta...

Equipamentos: Paravento / suporte elástico / microfone direcional / microfone radio


transmissor lapela

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Gravador Zoom H4 c/memória, muito flexível – técnico de som com boom e mixer

CONTROLE DE VOLUME DE GRAVAÇÃO

Dependendo do tipo de trabalho podemos usar o controle de volume de gravação


em automático ou manual. Os profissionais concordam que a gravação manual dá
resultados melhores. O controle de volume automático gera uma gravação com o
som de primeiro plano menos distinto, e com um ruído de fundo mais evidente.
Porém, algumas situações, como em certos aspectos de documentários, podem
pedir a gravação automática. Neste caso, é sacrificada qualidade do som a favor da
flexibilidade. Quando se usa o controle manual, o volume é fixado durante um
ensaio. A distorção mais séria da gravação é a sobrecarga da fita por um sinal de
amplitude excessiva. Neste caso, o ponteiro indicador do VU-meter fica excedendo
constantemente o limite máximo de gravação indicado, zero dB, e diz-se que a
gravação está "estourada". Ajusta-se o volume simultaneamente com a colocação
do microfone, de forma que o ponteiro apenas ocasionalmente chegue à indicação
zero do VU-meter:

Este é o indicador de nível


de volume do gravador
Nagra. É essencialmente um
indicador de PICOS de
volume, diferentemente do
V.U. ímetro ou V.U. meter,
que é um indicador de
valores médios. Tanto assim,
que 0 (zero) V.U. corresponde
a -8 dB indicado no
modulímetro do Nagra.

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...e o "ZERO dB" é
...não ultrapassa essa
indicado no início de uma
volume ideal: aproxima-
marca com muita faixa vermelha, no
se do "ZERO dB", mas...
freqüência... instrumento medidor, o V-
U ímetro.
Esta representação corresponde ao V.U. meter padrão usado na
maioria dos equipamentos de áudio semi-profissionais e
profissionais.

Isto vale para a gravação analógica, no ambiente digital


muita coisa muda.

No caso da gravação digital, é um pouco diferente: ou é TUDO ou NADA.


Ou seja, se o indicador de gravação de um equipamento digital chegar ao
valor 0 dB (ZERO decibéis), a gravação poderá ficar comprometida; se
ultrapassar, a gravação ficará inutilizada. Os gravadores analógicos
suportam mais abusos, pois a distorção por excesso de modulação
instaura-se progressivamente, daí ser possível o ponteiro (ou outro tipo
de indicação) ultrapassar o índice 0 dB vez em quando. Com a gravação
digital, não. Ultrapassado o índice zero dB, ocorre o "overload": a
deterioração da gravação é imediata. Inclusive os indicadores digitais
costumam ser do tipo LED, com indicação luminosa quando ocorre o
overload, o seja, sobrecarga da gravação.

A questão mais importante sobre o indicador de nível de gravação é a


possibilidade do corte dos picos mais altos da gravação, que podem não
ser percebidos pelo operador, e que introduzem distorções. Nesta
atividade, a regra é: faça ensaios, escute-os em caixas de som em volume
de moderado a alto, e desenvolva a sua forma pessoal de ajustar os
volumes de gravação.

A forma de fazer uso dos microfones, no entanto, pouco


mudou nestes últimos sessenta anos.

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O USO DO MICROFONE

Procura-se colocar o microfone o mais perto possível da fonte sonora, de


forma geral. É claro que, se o microfone não deve aparecer na cena,
ficamos restritos aos limites do quadro para aproximar o microfone.
Nestes casos, procura-se usar um microfone direcional, ou um
ultracardióide, pendurado numa girafa. Ás vezes é possível ocultar um
microfone cardióide ou omnidirecional no cenário, no meio de um vaso
com flores, por exemplo. Um microfone de lapela pode ser oculto dentro
das roupas de um ator. Em todos os casos, no ensaio, uma avaliação da
qualidade do som deve ser cuidadosamente feita, e se for o caso,
substituir o microfone ou a forma de captação do som naquela instância.

Se o microfone fica mais longe da fonte sonora, o volume do gravador


tem que ser aumentado, e isto implica num aumento do ruído de fundo.
Talvez seja necessário induzir o ator a projetar a voz de forma mais alta. A
melhor posição de microfone é ligeiramente acima e à frente da cabeça do
ator, e no alcance máximo, digamos, de um metro. O microfone
normalmente deve ser apontado diretamente para a boca do ator. Uma
exceção poderia ser no caso de ator ou atriz com voz sibilante que pode
ser modificada favoravelmente apontando o microfone ligeiramente para
um lado, provocando intencionalmente a perda de altas freqüências.

Quando o ator se vira ou outro começa a falar, o microfone deve ser


mudado rapidamente para mantê-lo na direção da boca dos atores.
Inicialmente é difícil fazer isto, mas com bastante, é plausível.
No caso de dois atores, pode-se usar um microfone para cada um, mas se
a mecânica da cena exigir movimentação dos atores, não é uma solução
viável. Colocar um lapela em cada ator, passar o cabo pela perna da calça,
fixar no tornozelo é uma solução simples, se a mecânica da cena não for
muito complexa. Para situações em que a mecânica da cena é sofisticada,
deve-se usar microfones rádio-transmissores com lapelas, se o local
permitir. Em todo caso, quando se faz uso de microfones de lapela, o som
parece estar permanentemente em primeiro plano. No documentário é
mais prático o uso de um direcional, com e sem paravento, ou então um
ultracardióide permanentemente instalado dentro de um paravento, que
facilita ao operador estar sempre pronto para entrar em ação. Embora os
microfones sem fio sejam bem melhores que os de vinte anos atrás, é
necessário ensaiá-los no ambiente onde serão utilizados, pois são
propensos a captar interferências.

Gravadores digitais de qualidade

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Nagra V, com HD removível

Gravador Cantar, da Aaton

Gravador Nagra VI, com


HD interno e Cartões de memória removíveis

TIPOS DE MICROFONES

Há cinco tipos básicos de microfones: o OMNIDIRECIONAL, O CARDIÓIDE, O HIPER-

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CARDIÓIDE, O ULTRA-CARDIÓIDE e o DIRECIONAL (também: canhão, espingarda (em
Portugal) e o microfone BI-DIRECIONAL (usado em estúdios de gravação, emissoras de
rádio). A esta divisão corresponde um "diagrama polar" que sugere o padrão de captação de
cada tipo; “0”, zero, é para onde o microfone está apontado, para a fonte sonora:

Padrão de captação cardióide:


privilegia a frente do microfone, Padrão hiper-cardióide:
Padrão de captação
podendo o talento se mover apresenta um certa
omnidirecional: capta com a
relativamente, sem grande perda direcionalidade em frente ao
mesma intensidade, qualquer seja
de captação; no entanto, a microfone, embora a rejeição no
a posição da fonte em relação ao
rejeição no sentido contrário ao sentido oposto ao eixo não seja
eixo do microfone
eixo é máximo – por isso é muito muito forte.
utilizado em palco.

Padrão de captação direcional:


apresenta forte captação à frente,
mas decaí rapidamente para os Padrão de captação bi-
Padrão de captação ultra- lados, apresentando um ângulo
direcional: apresenta boa
útil estreito de cerca de 50 graus.
cardióide: é uma espécie de captação frente-verso, e reduzida
Embora a rejeição contra o eixo
cardióide melhorada, mas sensibilidade nas laterais. Bom
seja relativamente pequena,
apresenta ainda pouca rejeição para entrevistas de rádio e
requer muita atenção o seu uso.
contra o eixo gravações de voz com dois
Pequenos desvios do microfone
cantores frente a frente.
em relação à fonte sonora
provocam perdas acentuadas de
sinal.
(Fonte destas ilustrações: ALTEN, Stanley, Audio in Media, Syracuse University Press, Belmont, 1981).

SUSPENSÃO ELÁSTICA E PARAVENTOS

É essencial para o controle dos ruídos provocados pelo vento em torno

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do microfone, o uso de um paravento.

Um paravento de qualidade ("zepelin") é uma estrutura plástica perfurada


que fica em volta do microfone, este por sua vez sobre um suporte
elástico que previne os ruídos de manipulação, e, ainda, uma capa de lã
de carneiro sobre o conjunto todo. Nessas condições, o conjunto é capaz
de enfrentar um vento forte. Como o conjunto não tem arestas, o vento
passa em volta do conjunto sem formar turbulências
.

Paravento para um microfone


direcional. Observe que apresenta
Microfone direcional NEUMANN de
uma superfície aerodinâmica,
alta qualidade instalado em suporte
evitando pontas onde se formar
elástico.
turbulências, e daí, ruídos
provocados pelo vento.

AMBIENTES

Para as finalidades de som direto, algumas sugestões:

A forma do quarto e o tipo de mobília e as texturas dos materiais presentes (roupa


de cama, cortinados, cortinas e tapetes) influem na qualidade acústica do ambiente.
Pouco material absorvente provoca o aparecimento de reverberação, que diminui a
inteligibilidade do som, e caracteriza um ambiente "amplo". Um som gravado com
reverberação não pode ser satisfatoriamente limpo, mesmo com técnicas digitais. É
possível forrar o ambiente todo, piso, paredes e até o teto, com cobertores (desses
de baixo custo), com exceção da área do quadro, e isto ajuda muito a diminuir as
reverberações.
Em locações, este é o melhor remédio. Sempre que possível, o microfone deve ser
posicionado de forma que seu eixo traspassa o quarto diagonalmente. Caso
contrário, um efeito de onda estacionária pode acontecer - as ondas de som saltam
de lado a lado em paredes paralelas, às vezes se cancelam, às vezes se reforçam e o
efeito final é desagradável.
Se o microfone estiver sobre uma superfície lisa, uma mesa ou aparador, forre a
superfície com um pano, cobertor ou uma folha de espuma. Se um locutor está
lendo um texto, o texto não pode ficar entre sua boca e o microfone, pois haverá
uma perda de altas freqüências.

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PERSPECTIVA SONORA

O som e a perspectiva do quadro devem se combinar para reforçar aspectos sutis


de verossimilhança. Se um ator parece "longe" no quadro, sua voz não deve soar
como se estivesse em close. Da mesma forma, o som tem que ajustar-se à locação.
Por exemplo, um salão enorme deve ter bastante reverberação e não o som abafado
de uma alcova. Estas regras podem ser quebradas por razões criativas.

É importante gravar um pouco do som ambiente de todas as locações de cada


seqüência. Para isto, logo após a gravação da cena, pede-se silêncio da equipe (o
que às vezes não é tão fácil assim) e grava-se de 30 segundos a um minuto do som
ambiente. Em seguida fala-se ao microfone, descrevendo a que se refere o trecho
gravado.
Som ambiente da cada cena é inestimável durante a edição do filme.

RUÍDO DE CÂMARA

Muitas vezes estamos com uma câmara ruidosa. De todos os ruídos gerados pelo
sistema, o ruído de câmara é o único que é impossível de remoção satisfatória
posteriormente. Muitas câmaras antigas não tem silenciador (blimp), ou quando
têm, não se usa porque é incomodo demais. Desde insistir para cobrir a câmara com
uns dois casacos grossos, até o uso de microfones de lapela, microfones
direcionais ou o uso de lentes mais longas (75 a 100 mm), todos os recursos são
válidos para reduzir o ruído de câmara de uma velha Arriflex 2C.

DUBLAGEM

Freqüentemente por causa de condições de gravação difíceis, como ruídos de


aviões ou a proximidade de máquinas barulhentas, tráfego intenso, etc., é
impossível conseguir uma gravação adequada. Nestes casos, grava-se da melhor
forma possível, e posteriormente os atores substituem "dublam" suas próprias
vozes, nos trechos defeituosos, em estúdio de transcrição e dublagem.

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Esta figura mostra os elementos essenciais para o registro sonoro: A câmera, o
boom com microfone e paravento, o mixer, os fones de ouvidos e o gravador.

• Podem ser utilizados nas seguintes combinações:


• Microfone/paravento, boom, mixer e câmera;
• Microfone/paravento, boom mixer e gravador;
• Microfone/paravento, boom, mixer, câmera e gravador (a gravação feita no
cartão de memória [ou fita] da câmera é para backup).

A interligação tipicamente é esta:

O sinal de áudio fornecido pelo microfone é encaminhado ao mixer, monitorado

Som Direto – David Pennington Página 16


pelos fones de ouvido (essencial!) e daí pode ser enviado à câmera e, se for o caso,
simultaneamente para o gravador. Se for entendido que a gravação deve ser feita no
gravador de áudio, sempre se deve enviar o sinal adicionalmente para a câmera,
para facilitar a sincronização do áudio do gravador com o áudio registrado na
câmera, o que é realizado posteriormente na ilha de edição.

Um procedimento importante: para utilizar corretamente o mixer, envia-se um sinal


de áudio de 100 Hz (disponível no painel do mixer) para a câmera e/ou gravador.
Ajusta-se no mixer o sinal para ter a leitura 0 dB (zero dB) no VU-Meter. Em seguida
faz-se a seguinte correspondência:

0dB (no VU-meter do mixer) = -12 dB (menos doze dB) no medidor da câmera e/ou
gravador. Esse valor é recomendado pela Sony Corp. para seus produtos (alguns
técnicos de som preferem 0 dB = -18 dB em ambientes mais conflagrados)

(zero dB) = -12 dB

Brasília, julho/1994/setembro/1999 - agosto 2007 - junho 2010

REFERÊNCIAS

Nagra III manual, Kudeski, Lausanne, Switzerland, 1962;


Nagra IV-2 Manual, Kudelski, Lausanne, Switzerland, 1986;
FRATER, Charles, Sound Recording for Motion Pictures, The Tantivity Press, London,
1979;
ALKIN, Glyn, Grabación y Reproducción del Sonido, Centro Universitário de Estudios
Cinematográficos, Universidade Nacional Autonoma de Mexico, Mexico 1988,
DETMERS, Fred, The American Cinematographer Manual, ASC Press, Hollywood, 6a
Edição, 1986,
ALTEN, Stanley, Audio in Media, Syracuse University Press, Belmont, 1981.
ROSE, Jay, Producing Great Sound for Digital Video, CMP Books, San Francisco, 2009

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Este texto foi redigido em 1994, quando o ambiente digital estava surgindo, e as gravações de som
de cinema eram feitas em gravadores analógicos. Essencialmente, o uso dos microfones não se
alterou; mas a gravação de áudio passou dos gravadores, para a seção de áudio das câmaras
digitais. Podendo ser feita, simultaneamente, uma gravação em gravador digital por segurança.

O famoso Nagra 4.2 , e ao lado, o Nagra-D, digital de quatro canais, ambos operando com fita
de um quarto de polegada.

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