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ORGANIZAÇÃO:
Jeannette Filomeno Pouchain Ramos
Danielle Mayara Oliveira Pereira
Ana Maria Alves de Almeida
Isabel Maria Sabino de Farias
TRABALHO DOCENTE:
alienação, autonomia e gestão escolar
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
Reitor
José Jackson Coelho Sampaio
Vice - Reitor
Hidelbrando dos Santos Soares
Editora da UECE
Erasmo Miessa Ruiz
Conselho Editorial
Antônio Luciano Pontes
Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes
Emanuel Ângelo da Rocha Fragoso
Francisco Horácio da Silva Frota
Francisco Josênio Camelo Parente
Gisafran Nazareno Mota Jucá
José Ferreira Nunes
Liduina Farias Almeida da Costa
Lucili Grangeiro Cortez
Luiz Cruz Lima
Manfredo Ramos
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Marcony Silva Cunha
Maria do Socorro Ferreira Osterne
Maria Salete Bessa Jorge
Silvia Maria Nóbrega-Therrien
Conselho Consultivo
Antônio Torres Montenegro (UFPE)
Eliane P. Zamith Brito (FGV)
Homero Santiago (USP)
Ieda Maria Alves (USP)
Manuel Domingos Neto (UFF)
Maria do Socorro Silva Aragão (UFC)
Maria Lírida Callou de Araújo e Mendonça (UNIFOR)
Pierre Salama (Universidade de Paris VIII)
Romeu Gomes (FIOCRUZ)
Túlio Batista Franco (UFF)
Jeannette Filomeno Pouchain Ramos
Danielle Mayara Oliveira Pereira
Ana Maria Alves de Almeida
Isabel Maria Sabino de Farias
(Organizadores)
TRABALHO DOCENTE:
alienação, autonomia e gestão escolar
Trabalho docente : alienação, autonomia e gestão escolar
© 2013 Copyright by Jeannette Filomeno Pouchain Ramos
Editora filiada à
Coordenação Editorial
Erasmo Miessa Ruiz
Diagramação
Cristiê Gomes Moreira
Capa
Terezinha do Nascimento Pereira
Revisão de Texto
Danyelle Ribeiro Vasconcelos
Ficha Catalográfica
Bibliotecário Responsável: Francisco Leandro Castro Lopes CRB 3/1103
T758 Trabalho docente: alienação, autonomia e gestão escolar / organização,
Jeannette Filomeno Pouchain Ramos ... [et al.]. - Fortaleza:
EDUECE, 2013.
61p.
ISBN 978-85-7826-168-9
CDD: 371.1
SUMÁRIO
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A formação do gestor da escola básica em debate: diretrizes e política
Jeannette Filomeno Pouchain Ramos, Danielle Mayara Oliveira Pereira,
Ana Maria Alves de Almeida, Isabel Maria Sabino de Farias, Antônia Valéria Vieira
Rocha, Ana Karyna Bezerra Marques, Célia Camelo de Sousa, Daniele Cariolano,
Francisco Garcia Lima, Gabriela Estevão Raposo, Gantoal Barboza Alves
Geane Nunes Rufino, Laura Patrícia G. de Sousa, Lívia Soares Damasceno, Maria-
na Cristina Alves de Abreu, Meyrylane Alves de Castro, Michele Batista Macedo
de Barros, Raquel de Macêdo Melo, Renata Batista dos Santos, Tathiane Rodrigues
Lima, Tatiane Capistrano Ferreira, Tayany Vieira da Silva
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Concepções e práticas de autonomia docente na escola pública
Germana Castro Barbosa, Jeannette Filomeno Pouchain Ramos
49
Trabalho e educação: primeiras impressões da alienação do trabalhador docente
Jeannette Filomeno Pouchain Ramos, José Gilberto Biserra Maia
A FORMAÇÃO DO GESTOR DA ESCOLA
BÁSICA EM DEBATE: DIRETRIZES E
POLÍTICA
1. INTRODUÇÃO
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Jeannette Filomeno Pouchain Ramos, Danielle Mayara Oliveira Pereira, Ana Maria Alves de Almeida et all
4 Pedagoga. Doutora em Educação Brasileira (UFC). Professora do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Líder do Grupo de Pesquisa Educação, Cultura Escolar e Sociedade
(EDUCAS). @ -isabelinhasabino@yahoo.com.br
5 Graduados em Pedagogia com Habilitação em Administração Escolar pela Universidade Estadual do Ceará.
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A formação do gestor da escola básica em debate: diretrizes e política
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Jeannette Filomeno Pouchain Ramos, Danielle Mayara Oliveira Pereira, Ana Maria Alves de Almeida et all
Diante das crises cíclicas do capitalismo, a ende a gestão como uma atividade inerente a
administração empresarial se reinventa e passa a todos os docentes. A docência passa a ser en-
adotar o termo gestão no Brasil e no mundo. Nes- tendida como a base da formação do pedagogo
ta, as organizações passaram a adotar uma nova e esta deve integrar, de modo concomitante, o
racionalidade, objetivando a melhoria da eficácia ensino, a gestão e a pesquisa.
da gestão, mas mantendo a divisão do trabalho.
Entre os desdobramentos deste modelo da 3. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR-
gestão desvela-se a descentralização e autono-
-GESTOR: DIRETRIZES E POLÍTICA
mia administrativa, a mercantilização da educa-
ção escolar e a máxima capitalista, maior produ-
tividade e melhores resultados com menor custo.
As diretrizes da formação docente e, con-
sequentemente, do gestor tem sido disputada
na educação brasileira por duas organizações
A gestão ou gerência da qualidade total
sociais que têm atuado historicamente na área,
(GQT) tem origem no setor produtivo (em-
são elas: a Associação Nacional pela Formação
presas) e seu objetivo é melhorar a eficiên-
dos Profissionais da Educação - ANFOPE e a
cia do processo de produção. Representan-
do mais um movimento de transposição do Associação Nacional de Política e Administra-
modo de produção capitalista para o setor ção da Educação - ANPAE. A Associação Na-
educacional, ela impõe nova racionalidade cional de Pós-graduação e pesquisa em educa-
ao processo educativo, baseada em conceitos ção – ANPED se configura numa entidade que
como cliente (aluno e comunidade/socieda- discute e socializa pesquisas da área.
de), fornecedor, produtividade, processo e A ANFOPE é uma instituição de caráter po-
produto. Deste modo, o aluno passa a ser um lítico, científico e acadêmico originária do movi-
cliente, portanto, não participa do processo mento dos educadores na década de setenta. Na
de produção do conhecimento e as ativida- atualidade constitui-se em uma Associação de
des de dar aulas e a avaliação constituem ro- referência no cenário nacional quando se trata
tina, que pode ser gerenciada externamente. de debates e de proposições para a formação dos
(RAMOS, 2009, 94). profissionais da educação. Ao longo de sua histó-
ria dedicou-se a discussão em torno do curso de
Ao invés de reforçar a fragmentação do tra- pedagogia e das demais licenciaturas, reivindi-
balho na escola, as Diretrizes Curriculares do cando uma base nacional comum para os mes-
Curso de Pedagogia (BRASIL, 2006) compre- mos. Acredita que a base da identidade de todos
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QUADRO I
CARACTERIZAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS QUE ATUAM
NA EDUCAÇÃO ESCOLAR
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Com a LDB/96 é ampliado o lócus de forma- básica, no Estado do Ceará, será exigida a
ção, pois tanto os graduados em Pedagogia com formação do gestor ou administrador escolar
habilitação em administração escolar, como os em curso de graduação em Pedagogia.
demais licenciados com pós-graduação na área
§ 1º Poderá exercer, igualmente, esse cargo o
da gestão escolar podem exercer a direção das
candidato que tenha cursado outra licencia-
escolas básicas.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o tura plena, com pós-graduação na área de
Curso de Graduação em Pedagogia (CNE/CP gestão escolar ou administração escolar.
no. 5/2005 e 3/2006), afirmam que o pedagogo [...] Art. 3º Será exigida, do candidato ao
é um licenciado apto a atuar tanto na docência cargo de direção de estabelecimento de en-
quanto nas funções de administração do siste- sino da educação básica, além da formação
ma escolar, ou seja, apto a realizar o trabalho pe- a que se refere o artigo 1°, desta Resolução,
dagógico em sentido amplo, estabelecendo uma experiência de, pelo menos, 3 (três) anos de
estreita vinculação entre a docência e a gestão. efetivo exercício de docência.
Portanto, todos os graduados do curso de
Pedagogia, com currículo reformulado pela
DCN/2006, ao cursar o aprofundamento em Esta norma complementa as demais ao esta-
gestão escolar estão aptos ao exercício das fun- belecer que:
ções de supervisão, orientação, gestão da educa-
ção em espaços escolares e não escolares. Con- a) a formação do gestor poder ser realizada
sequentemente, todas as antigas habilitações em na graduação para os pedagogos e na pós-gra-
Administração Escolar de 1º e 2º Graus, Super- duação para os demais licenciados;
visão Escolar de 1º e 2º Graus e Orientação Edu- b) a experiência mínima de 03 anos de efeti-
cacional, a partir de 2007, entraram em proces- vo exercício na docência.
so de extinção.
No entanto, no ano de 2008, o Conselho Esta-
Existe uma norma Estadual acerca da For- dual de Educação com a resolução no. 427/2008
mação do Gestor? altera a norma supracitada, estabelecendo que
A Norma Estadual do Ceará, Resolução nº Art.1o. […] § 1º Poderá exercer, igualmente, esse
414 de 2006 do Conselho Estadual de educação cargo o candidato que tenha cursado outra gra-
-CEC dispõe que, duação, com pós-graduação na área de gestão es-
colar ou administração escolar”.
Art. 1° Para o exercício do cargo de direção Deste modo, a norma vigente flexibiliza a for-
de estabelecimento de ensino de educação mação do gestor da educação básica ao romper
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Art. 4° No caso de carência comprovada pelo Qual o conceito de docência segundo as Di-
órgão descentralizado da Secretaria da Edu- retrizes Curriculares Nacionais- DCNs, para
cação Básica do Estado (CREDE), no mu- o Curso de Pedagogia?
nicípio, dos profissionais mencionados nos
artigos anteriores, o CEC poderá autorizar, por Compreende-se a docência como ação edu-
tempo determinado, o exercício de direção cativa e processo pedagógico metódico e in-
a professor(a) habilitado(a) para o mesmo tencional, construído em relações sociais,
nível de ensino que o estabelecimento oferte. étnico-raciais e produtivas, as quais influen-
ciam conceitos, princípios e objetivos da Pe-
Em síntese, destaca-se que com a oferta de dagogia, desenvolvendo-se na articulação
entre conhecimentos científicos e culturais,
disciplinas que abrangem a área de administra-
valores éticos e estéticos inerentes a processos
ção escolar na graduação, torna-se desnecessário
de aprendizagem, de socialização e de cons-
a habilitação. Portanto, com a implementação
trução do conhecimento, no âmbito do diá-
do novo currículo e com a área de aprofunda- logo entre diferentes visões de mundo (CNE/
mento em gestão escolar, justifica-se a extinção CP Nº1, Art. 2º§1º, 2006).
da habilitação em administração escolar.
Qual a carga horária total do Curso de Pe-
4.2 O gestor pedagogo: uma estu- dagogia?
do dos fluxogramas da UECE (1991 e UECE (1991): 2400 h/a
2008) e UFPB (2009) UECE (2008): 3.313 h\a
UFPB (2009): 3.210 h\a
Após analisarmos os referenciais legais so- Qual o objetivo do Curso?
bre a formação do gestor, explicitamos como
UECE (1991): Formar o educador compro-
esta tem se efetivado no Curso de Pedagogia
metido politicamente com a realidade brasileira;
de 02 (duas) Universidades Públicas, são elas a
engajado no processo de transformação social e
Universidade Federal da Paraíba - UFPB (2006) capaz de atuar com competência nos diversos
e Universidade Estadual do Ceará - UECE (1991 âmbitos da escola, do sistema educacional e dos
e 2008). Inicialmente faz-se necessário destacar movimentos sociais onde o fenômeno educativo
que este curso é uma licenciatura plena. se fizer presente.
Neste estudo procuramos desvelar seus ob- UECE (2008): Oferecer ao educando com-
jetivos, destacando as diferenças e semelhanças preensão e análise do contexto e da educação
entre os projetos pedagógicos. no Ceará, no Brasil e no mundo; Propiciar sub-
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A formação do gestor da escola básica em debate: diretrizes e política
sídios teóricos e metodológicos para o ensino; tos, e na Gestão Educacional; 1140 horas de
Contribuir para a formação do professor/ pes- conteúdos complementares obrigatórios, envol-
quisador. vendo atividades teóricas e práticas;120 horas de
UFPB (2008): Formar professores para exer- conteúdos complementares optativos; 270 horas
cer funções de magistério na Educação Infan- de conteúdos complementares flexíveis, em áre-
til e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, as específicas de interesse dos alunos(monitoria,
nos cursos de Ensino Médio, na modalidade participação em eventos etc).
Normal, na Educação de Jovens e Adultos, e/ou
na Educação Profissional na área de serviços e Como se efetiva a formação do gestor?
apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam UECE (1991): Aos graduandos é oferecida a
previstos conhecimentos pedagógicos. habilitação Magistério concomitante ao curso.
Já para os graduados é ofertada a Habilitação
Como é a organização curricular? em Administração Escolar como segunda habi-
UECE (1991): Possui 3 blocos: Dos funda- litação para a formação de especialistas em edu-
mentos da Educação, Pesquisa e Prática Peda- cação. De fato, esta é uma “especialidade”.
gógica e Instrumentalização para a prática edu- UECE (2008): Na proposta curricular não se
cativa. verificou a ocorrência do termo “habilitação”, e
UECE (2008): Possui 3 núcleos de estudos: sim “área de aprofundamento de estudo”, à es-
Núcleo de Estudos Básicos (Educação Infan- colha do graduando: Gestão Escolar, Educação
til e os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental,
Núcleo de Aprofundamento e Diversificação Educação Especial, Educação de Jovens e Adul-
(Gestão Escolar, Educação Especial, EJA, Ensi- tos, Ensino Médio na modalidade normal e Tec-
no médio na modalidade normal, Tecnologias nologias Digitais em Educação e EAD.
Digitais e EAD; Núcleos de Estudos Integrado- UFPB (2008): No novo currículo não tem
res (seminários, estudos em grupo, projetos de habilitação, porém no antigo oferece 04 (quatro)
iniciação científica, monitoria, extensão, ativi- áreas de aprofundamento que o aluno deverá
dades práticas, atividades de comunicação e ex- cursar no último período do curso, sendo assim
pressão cultural). uma habilitação. São elas: Magistério das Maté-
UFPB (2008): 1.680 horas dedicadas aos rias Pedagógicas do Ensino Normal, Magistério
conteúdos básicos profissionais atividades for- em Educação Especial, Magistério em Educa-
mativas (aula, seminários etc); 300 horas dedi- ção de Jovens e Adultos e Supervisão Escolar e
cadas ao Estágio Supervisionado em Educação Orientação Educacional. Portanto, ao curso foi
Infantil, Ensino Fundamental (séries iniciais), inserido mais um semestre para este aprofun-
Educação Especial, Educação de Jovens e Adul- damento.
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4 Disciplinas optativas são disciplinas que complementam o conteúdo prático e teórico do currículo. As disciplinas eletivas são as disciplinas
não constantes da matriz curricular, mas que poderão ser cumpridas pelo aluno a partir de um eixo temático ou núcleo de aprofundamento.
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A formação do gestor da escola básica em debate: diretrizes e política
Há limite para o número de disciplinas op- Coordenação – Não, se o aluno quiser fazer
tativas a serem cursadas pelo estudante? outro aprofundamento tem que ser durante o
Coordenação – Não. período em que está fazendo o curso.
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A formação do gestor da escola básica em debate: diretrizes e política
Trabalho de Conclusão de Curso – TCC que nal que foi realizado durante processo de esco-
poderá ser um artigo ou um relatório analítico lha dos integrantes dos núcleos gestores das es-
do projeto. colas da rede pública. Este curso foi promovido
pela Secretaria de Educação Básica do Estado
Processo de certificação do Ceará - SEDUC em conjunto com o Centro
A certificação obedece às normas da univer- de Políticas Públicas e Avaliação da Educação –
sidade sede do curso. CAED e a Universidade Federal de Juiz de Fora
- UFJF.
Em síntese, podemos destacar que o curso Para auxiliar nosso estudo sobre esse curso,
ofertado pela UFC/MEC é semi-presencial e seu faz-se necessário, primeiramente, conhecermos
público é os profissionais que integram a equi- como se deu o processo de seleção de gestores.
pe gestora da escola pública, no máximo, dois Essa seleção aconteceu em três etapas:
participantes por escola. Comparando com os 1) Processo unificado de avaliação de conhe-
demais programas, percebemos a menor quan-
cimentos e experiência profissional, aferido por
tidade de disciplinas ofertadas, que se reflete na
meio de provas escritas e exames de títulos.
menor carga horária e na ausência de conheci-
2) Eleição direta e secreta pela comunidade
mentos básicos como financiamento e pesquisa.
escolar, exclusivamente para o provimento de
O quadro de profissionais não foi divulgado, en-
cargo de Diretor5.
tão não temos como avaliar sua titulação. Po-
3) Curso de Especialização em Gestão Edu-
demos ainda destacar o referencial teórico que
cacional (CEARÁ. Portaria nº 032/2009-GAB)
enfatiza a noção de educação como direito hu-
mano, a gestão democrática e o Projeto político
pedagógico. Características gerais do curso de Especia-
lização em Gestão Educacional
• Capacitação à distância, com momentos
4.5 A política pública de formação presenciais coletivos planejados pela Coor-
de gestores da SEDUC denação geral do Curso e mediados pelos
diretores das escolas envolvidas;
Oobjetivo da presente pesquisa foi analisar • Material específico para o funcionamento
o Curso de Especialização em Gestão Educacio- do curso (impressos e digitalizados);
5. Faz-se necessário ressaltar que quando houver da transmissão do cargo, o núcleo gestor em exercício deverá entregar ao novo di-
retor o balanço financeiro, o acervo documental e o inventário do material e dos bens móveis existentes na Escola, devidamente pro-
tocolados e assinados, após conferência, pelo novo diretor e pelo presidente do Conselho Escolar. (art. 11º., Decreto nº 29.451/2008).
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A formação do gestor da escola básica em debate: diretrizes e política
6 A partir desse processo, a Seduc disporá de profissionais aptos a exercerem quaisquer funções de direção e coordenação escolar.
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Jeannette Filomeno Pouchain Ramos, Danielle Mayara Oliveira Pereira, Ana Maria Alves de Almeida et all
Esta diretriz também se explicita no art. 13º., Reconhecendo que esta ruptura na atividade
Decreto nº 29.451/2008, que estabelece: O de- de trabalho prejudicou o homem e o processo
sempenho do diretor e dos coordenadores escola- produtivo, o que se reflete nos indicadores de
res será avaliado anualmente, através de proce- aprendizagem, bem como os sociais como Ín-
dimento institucional definido pela Secretaria da dice de Desenvolvimento Humano, etc. Atual-
Educação, ficando os membros do núcleo gestor mente, o desafio que se coloca para todos nós
passíveis de exoneração caso não satisfaçam os educadores é a retomada da unidade do traba-
critérios mínimos de avaliação exigidos. lho docente. Todos temos o direito de exercê-la
Deste modo, podemos a princípio destacar em sua plenitude, portanto, é preciso que se re-
que este programa responsabiliza os gestores pe- distribua a carga horária de trabalho em tempo
los resultados da aprendizagem, negligenciando para planejar e ensinar, tempo para pesquisar e
a responsabilidade do Estado, a totalidade do tempo para gerir.
processo educativo e a complexidade das rela- Partindo deste princípio, o novo currículo da
ções sociais presentes no cotidiano da escola, Pedagogia da UECE possibilita a formação do-
bem como o contexto histórico de desigualdade cente integrada com a formação do pesquisador
econômica e cultural. e a gestão se constitui como área de aprofunda-
mento optativa para os estudantes.
Quais as repercussões destas mudanças na Para ilustrar a concepção ampliada de do-
escola básica? cência, a Portaria nº 04/2010 do Distrito Fe-
Inicialmente é necessário destacar a con- deral estabelece, entre outros, os critérios para
cepção ampliada de docência que se efetiva por distribuição de carga horária aos professores em
meio da atividade de trabalho, concomitante- exercício nas instituições educacionais da rede
mente, no ensino, na pesquisa e na gestão das pública de ensino. Vejamos:
instituições educativas. Decerto esta concepção
rompe com a histórica divisão do trabalho so-
3. Para os professores regentes que atuam 40
cial e, consequentemente, educacional. Antes,
(quarenta) horas semanais, no turno diur-
se partia do princípio de que a fragmentação
no, com jornada ampliada no Ensino Fun-
do trabalho era essencial para produzir mais e
damental - Séries/Anos Finais e no Ensino
melhor. Neste sentido, foram criadas as habilita-
Médio, a coordenação pedagógica dar-se-
ções que formavam os especialistas e a unidade
-á no contraturno ao de regência, totalizan-
foi dividida entre quem pensa e quem executa,
do 15 (quinze) horas semanais, sendo:
quem planeja e decide e quem ensina.
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Quanto à diretriz que estabelece a extinção ANFOPE. Carta de Goiânia. Disponível em:
das habilitações que qualificava o pedagogo www.cedes.unicamp.br. Acesso em: 20 novem-
para atuar na gestão das escolas, o novo currí- bro 2009.
culo contempla área de conhecimento no apro-
fundamento. Deste modo, é importante que os BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Re-
estudantes estejam atentos que é preciso aten- solução 1/2006. Institui Diretrizes Curricula-
der a Resolução do CEC no. 414/2006 e cursar, res Nacionais para o Curso de Graduação em
no mínimo, 04 (quatro) disciplinas da área de Pedagogia, licenciatura. Maio de 2006. Dispo-
aprofundamento em Gestão Escolar, que serão nível em http://portal.mec.gov.br/ cne/arqui-
comprovadas por meio do histórico escolar. vos/pdf/rcp01_06.pdf>.Acessado em 7/5/2009.
Entre os programas e políticas de formação
da UECE, FA7, MEC e SEDUC há diferentes BRASIL. LDB - Leis de Diretrizes e Bases da Edu-
projetos pedagógicos. Os dois últimos eviden- cação Nacional. LEI No. 9.394, de 20 de dezembro
ciam diferentes referenciais teóricos, o primei- de 1996. D.O. U. de 23 de dezembro de 1996.
ro prepara o gestor para promoção do direito
BRASIL. Diretrizes Nacionais do Programa
à educação com qualidade social e o segundo
Escola de Gestores da Educação Básica Públi-
prepara o gestor de resultados, em consonância
ca. Brasília: MEC/SEB, 2009.
com a ênfase nos indicadores.
Enfim, ensejamos que esta cartilha contribua
BRASIL. Orientações Gerais. Rede Nacional
com a formação dos gestores do novo século,
de Formação Continuada de Professores de
capazes de articular os conhecimentos teóri-
Educação Básica. Brasília: MEC/SEB, 2005.
cos aos indicadores na transformação para um
mundo melhor. BRASIL. Projeto do Curso de Especialização
em Gestão Escolar. Brasília: MEC/SEB/CAFI-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SE, 2006.
ANPED. Disponível em: http:// www.anped. BRASIL. Programa Nacional Escola de Gesto-
org.br. Acesso em: 23 novembro 2009. res. Brasília: MEC/SEB/DPR, 2007.
ANFOPE. Moções 2001. Disponível em: http:// CARVALHO, João Gualberto de. Da adminis-
www.lite.fae.unicamp.br/grupos/formac/anfo- tração escolar à gestão democrática: um pouco
pecuritiba.htm. Acesso em: 20 novembro 2009. da história da ANPAE e de como entro nessa
31
Jeannette Filomeno Pouchain Ramos, Danielle Mayara Oliveira Pereira, Ana Maria Alves de Almeida et all
história. 2001. In: Revista Brasileira da Políti- CEARÁ, Universidade Estadual, Proposta cur-
ca e Administração da Educação, v. 17, n. 1, p. ricular de Reformulação do Curso de Pedago-
119-125, jun., 2001. gia, Fortaleza, 1990.
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RAMOS, Jeannette Filomeno Pouchain. Gestão CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DE
democrática da escola pública: a experiência AUTONOMIA DOCENTE NA ESCOLA
do governo das mudanças (1995-2001). Forta- PÚBLICA
leza: UECE, 2004.
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Germana Castro Barbosa, Jeannette Filomeno Pouchain Ramos
cíficos estão relacionados com a consciência Por entender que a ação educativa não é aca-
crítica na identificação de cada modelo. Ques- bada, finalizada, requerendo questionamentos,
tiona-se se o professor se reconhece perante tais planos e decisões, decidimos fazer um estudo
possibilidades. sobre os Modelos de Professor, na visão partici-
Esta análise constitui um estudo que tem pativa que exige contínuo repensar e constante
como objeto o trabalho docente nas Escolas Pú- recriar, como contribuição e ajuda a profissio-
blicas Municipais de Fortaleza. A questão surgiu nais da área para melhor conhecimento de si e
após a verificação de diferentes práticas pedagó- das decisões tomadas.
gicas, em que encontramos, muitas vezes, pro-
fissionais cuja teoria não condiz com a prática. 2. A DOCÊNCIA EM QUESTÃO
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Concepções e práticas de autonomia docente na Escola Pública
vestibular para a formação de intelectuais e pro- aspirações sociais e educativas [...]. Mas ain-
fissionais liberais. da, um processo contínuo de compreensão
Neste ínterim, o sistema público e os profes- dos factores que dificultam não só a trans-
sores passam a ser, [...] infelizmente tão massa- formação das condições sociais e institucio-
crado, tão denunciado, tão chamado de incom- nais do ensino, como também as da nossa
petente e de ineficiente (THERRIEN, 2003, p.5) própria consciência.
e passam a desenvolver um projeto educativo
complementar e paralelo ao da classe burguesa No entanto, como adverte o autor a autono-
(ARROYO, 1986). mia dos trabalhadores docentes está compro-
O exercício da docência passa a limitar a re- metida, em decorrência da história de subordi-
flexão individual e coletiva, o diálogo destes com nação por meio de alterações estruturais, a citar,
o conhecimento, com os outros colegas, com a desvalorização profissional, a fragmentação e
o resultado social do seu trabalho e da escola a hierarquização da produção, a burocratização
como um todo (GANDIM, 2000), revelando a etc; por meio dos limites sociais, entre eles a or-
sociedade em classe na própria organização do ganização da sociedade, do modo de produção
trabalho na escola e as relações de reprodução e da escola e pessoais, como a consciência indi-
social onde uns concebem e outros executam.
vidual e coletiva, o pensar e o agir.
O contexto em que os trabalhadores docen-
Exemplos da fragmentação da ação docente
tes se encontram está permeado pelo modo de
são os mecanismos de controle externo do tra-
produção e de exploração do sistema capitalista,
balho, pois diretores, supervisores e orientado-
pois a educação escolar, historicamente se cons-
titui como uma das estratégias de legitimação e res são funções criadas com o objetivo de fisca-
reprodução deste sistema. Isto porque os edu- lizar. Os professores são postos como soldados
cadores estão inseridos no sistema educacional rasos da indústria, sob a vigilância completa de
imposto pela burguesia, que tende a perpetuar a sargentos e oficiais (MARX e ENGELS, 2002). E
dicotomia entre os trabalhadores intelectuais e a docência perde a sua totalidade, aqui entendi-
os trabalhadores manuais, entre os que pensam da como o ato de ensinar, pesquisar e gerir.
e aqueles que executam, entre outros. Mesmo ciente de que indivíduo, na qualidade
Segundo Contreras (2003, 130) a emancipa- ser histórico e social, nasce num meio determi-
ção, a autonomia docente, pressuporia um pro- nado, portanto, sua estrutura, sua consciência, é
cesso contínuo: determinada pela sua vida. Destarte, o modo de
organização e produção deste sistema reflete e
[...] de descoberta e de transformação das di- é refletido na vida dos trabalhadores como um
ferenças entre nossa prática quotidiana e as todo, ou seja, os indivíduos são tais como ma-
35
Germana Castro Barbosa, Jeannette Filomeno Pouchain Ramos
nifestam sua vida, tanto com o que produzem caracterizado como perito profissional reflexi-
quanto com o modo como produzem, aponta- vo e intelectual crítico (CONTRERAS, 2003).
mos à necessidade premente de repensar a au- A análise das categorias proporciona questões
tonomia dos trabalhadores docentes a partir das complexas que podem determinar a verdadeira
três tendências, são elas: o técnico, o crítico e o concepção da “autonomia profissional docente”.
intelectual crítico ou crítico-reflexivo. A definição de competência é citada por Per-
renoud: “uma capacidade de mobilizar diversos
3. CONSTRUINDO UM PROFESSOR recursos cognitivos para enfrentar um tipo de
COMPETENTE situação.” (2000 p.15). Contreras (2003, p.60)
define que a prática técnica “[...] consiste na
Pela relevância do papel do professor, na solução instrumental de problemas mediante a
aplicação de um conhecimento teórico e técni-
educação não podemos confundir o profissio-
nal competente com a autonomia. Ao se falar co previamente disponível [...]”. A definição de-
em autonomia da docência, vem à mente de- monstra a ação do professor, em que se baseia na
terminada liberdade do educador em aspectos aplicação de técnicas para solução de problemas.
diferenciados. Atualmente, para ser profissional competen-
Contreras (2003: p.59) explicita que te, o professor deve participar da formação con-
tínua que o qualifica para o mercado de traba-
“[...] o que podemos entender por autono- lho. Dessa maneira, a centralidade do professor
mia como chave para a compreensão de um é transferida para o seu local de trabalho. Com
problema específico do ofício educativo, uma isso, o professor competente pode perder sua
característica que se nos revelará essencial identidade e passar a ser controlado e avalia-
na possibilidade de desenvolvimento das do pelos superiores. Para facilitar qualificação,
qualidades essenciais da prática educativa.” existem competências que podem ser classifi-
cadas na prática do professor e também podem
Nessa passagem, ter autonomia é fazer com ser descartadas. Submetendo-se a esta lógica, o
que o profissional desenvolva qualidades na prá- professor busca cursos de formação para me-
tica educativa. Mas, para esse desenvolvimento, lhor qualificação que possam atender sistemati-
o profissional não pode considerar a autono- camente essas competências na prática.
mia como valor humano, mas sim possibilida- O professor competente, para a sociedade
de para compreender determinadas situações. surge como um fenômeno social, pois o mesmo
Para se obter essa autonomia, faz-se necessário pode estar agindo no contexto social, político,
questionar o perfil do educador, que pode ser considerando as circunstâncias e os desafios da
36
Concepções e práticas de autonomia docente na Escola Pública
docência. O professor busca as características de cada situação3, uma única interpretação, para que
competência com a finalidade de tornar-se um haja aplicação de competência correspondente
“bom professor”. Segundo Perrenoud (2000) com a finalidade desejada, em cada momento.
este professor deve apresentar competências Desta maneira, evita a instabilidade da si-
fundamentais, são elas: tuação, pois a intenção é exatamente o contrá-
rio: manter a estabilidade no local de trabalho.
• Organizar e dirigir situações de aprendizagem. É através da aplicação das competências que o
• Administrar a progressão das aprendizagens professor administra o saber e a progressão de
• Conceber e fazer evoluir os dispositivos de aprendizagem, com que o profissional compe-
diferenciação. tente ensina com melhor qualidade.
• Envolver os alunos com sua aprendizagem Ao mesmo tempo, o professor somente com-
e em seu trabalho. petente, para o uso dessa prática que tem como
• Trabalhar em equipe. base a qualificação técnica, individualiza-se no
• Participar da administração da escola. local de trabalho, torna-se dependente de situa-
• Informar e envolver os pais. ções e soluções previamente elaboradas. A não
• Viabilizar novas tecnologias. aplicação da racionalidade técnica pode levar o
• Administrar sua própria formação contínua. professor a ser tido como profissional sem co-
• Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da nhecimento pedagógico.
profissão. Para alterarmos a situação, deve-se enfatizar
a prática reflexiva do educador. O profissional
reflexivo se diferencia do profissional técnico,
Para o autor (2000: p.56) ser competente “con-
devido à reflexão da ação docente, pois o educa-
siste em utilizar todos os recursos disponíveis,
dor reflete sobre as ações em determinadas situ-
em apostar em todos os parâmetros para „orga-
ações, utilizando competências como elemento
nizar as interações e as atividades de modo que
prático e flexível nas decisões.
cada aprendiz vivencie tão frequentemente quan-
to possível, situações fecundas de aprendizagem”.
Professor competente consiste na grande res- 4. O PROFISSIONAL REFLEXIVO E
ponsabilidade de escolha de práticas. A escolha SUAS DIMENSÕES
da prática condiz com a aplicação correta e ne-
cessária de competências, fabricadas, com apli- P
ara se tratar da reflexão, fazem-se neces-
cação considerada a solução do problema. Para sárias as contribuições de Schön, no desenvol-
3 A situação não se restringe somente à sala de aula, no relacionamento professor e aluno, mas também no contato com o grupo
gestor e com o mundo.
37
Germana Castro Barbosa, Jeannette Filomeno Pouchain Ramos
38
Concepções e práticas de autonomia docente na Escola Pública
Para Pimenta (2005, p.169): “De acordo com de fatos passados que interferem no presente e
Contreras, um profissional que reflete sua ação em conseqüências futuras.
deverá refletir também sobre a estrutura organi- Dessa maneira, o professor atribui maior
zacional, os pressupostos, os valores e as condi- importância às questões globais da educação,
ções de trabalho docente.” enfatizando a prática de sala de aula, não esque-
Diante desse conceito, a prática reflexiva cendo ser formador de opinião. De acordo com
deve ultrapassar o processo de ensinagem4, mas Pimenta (2005), se o professor se torna único
incluindo crítica do sistema educacional, cons- protagonista da prática reflexiva, pode haver
cientizando-se das decisões relacionadas à edu- conseqüências:
cação brasileira. Assim, a reflexão deve ampliar
a rotina escolar, para política, social e emocio- • Uma supervalorização de sua prática, po-
nal, fazendo críticas e relacionando os fatos do dendo suprimir a teoria.
sistema educacional. • Um grande individualismo, pois o profes-
sor vai refletir somente a sua prática, ocasio-
Os educadores que refletem acerca de suas
nando ausência de cooperação.
ações estão envolvidos em processo de compre-
• Uma hegemonia autoritária, já que o pro-
ensão de si mesmos procurando melhorar o en-
fessor resolve os problemas, tornando-se se-
sino. Esta é procura constante: criar condições
nhor de suas ações.
para aprendizagens satisfatórias, além de refletir • Um modismo, pois com a apropriação in-
o senso político, criando opinião própria. discriminada deste conceito, o educador leva
O professor reflexivo deve fazer permanen- a reflexão à banalização.
temente auto-análise, incluindo a equipe de
professores com que trabalha alunos, e o pro- Isso pode ocorrer quando o profissional não
cesso entre aprender e ensinar. Pelo processo, usa a prática reflexiva, com o intuito de com-
o docente questiona e reflete sobre situações de preender e pensar a situação, em processo in-
sala de aula. Nessa ação, o professor reflexivo dividual e coletivo, mas sim como um modo de
cria poder emancipatório associado ao contex- somente fazer uso da reflexão em prol do dis-
to social e cultural. Podendo facilitar resultados curso da modernidade e da prática individual.
e repassar, aos alunos, visão crítica, não a dele, Segundo Pimenta (2005, p.206):
mas de mediador, na construção da capacidade
de refletir e associar os fatos, mencionando-os, Percebe-se que o princípio da reflexibilidade
na íntegra, e usando além da atualidade, ou seja, pode ser usado para fins opostos, correndo o
4 Termo adotado para significar uma situação de ensino na qual necessariamente decorra aprendizagem, sendo a parceria entre
professor e aluno. Lea das Graças Camargo Anastasiou. Processos de Ensinagem na Universidade.
39
Germana Castro Barbosa, Jeannette Filomeno Pouchain Ramos
perigo de responsabilizar os professores pelos petente pode estar relacionado diretamente com
problemas estruturais do ensino, em nome o caráter reflexivo da atividade docente. Com
da modernidade e da autonomia do pro- isso, a prática do professor passa a ser fonte de
fessor. Essa visão da reflexão como prática conhecimento pela experiência e reflexão, enfa-
individual, de que os docentes devem refletir tizando a ação e o comportamento do educador,
mais sobre sua prática, leva a supor que são diante da realidade e da necessidade, interagindo
eles que devem resolver os problemas edu- a reflexividade com as competências.
cativos. É necessário, pois, aprofundar essas Ao refletir, o professor reflete sobre compro-
análises para se evitar a confusão e o desgas- misso político, o mesmo passa a ter condições
te do principio da reflexão. de conhecimento e análise dos obstáculos da
docência e suas conseqüências, diante das ações
Dessa maneira, a prática de “reflexão indivi- do sistema educacional. É assim que a “compe-
dual” pode ser utilizada com o objetivo de res- tência técnica inicia o processo de sua transfor-
ponsabilizar somente o professor pela sua prá- mação em vontade política.” (SAVIANI: 2005,
tica, tornando-o profissional único responsável p.37). Nessa direção, o sentido político se am-
pela educação, ignorando questões globais e plia para a ação pedagógica.
locais, econômicas, sociais ou estruturais. Mas, Com tudo isso, não se trata aqui de abando-
devido muitos conceitos citados, complementa- nar a utilização da competência técnica na prá-
-se o perfil do educador, passando a usar a refle- tica docente, em virtude da reflexividade, pois
xão como prática capaz de criticar as desigual- há momentos em que o professor pode não ter
dades sociais, compreendendo e alterando, se como guiar-se somente por critérios técnicos
necessário e dentro dos limites, questões sociais preestabelecidos, e sim utilizar prática como re-
da educação, ultrapassando a relação professor sultado da experiência e da reflexão integrando-
x aluno em sala de aula. -se nas competências e dialogando com a pró-
Em relação ao contexto, qual o perfil ideal do pria ação.
professor? Educador competente ou reflexivo? Nesse contexto, o educador deve usar a re-
É possível a dissociação desses modelos? Pode flexão para alavancar prática. Somente refletin-
haver uma competência técnica5 sem a reflexão? do, o professor pode organizar e compreender a
Assim, constata-se que os professores buscam ação docente. Sabendo que compreensão deve
reformulação dos modelos tradicionais para criar atender às necessidades da profissão, visando ao
educadores competentes que facilitem a aprendi- desenvolvimento de práticas, o professor pode
zagem. Com isso, supõe-se que o professor com- definir procedimentos mais adequados ao en-
5 Nesta pesquisa o termo competência técnica substitui o que chamamos de competência profissional.
40
Concepções e práticas de autonomia docente na Escola Pública
sino – aprendizagem para obtenção de melhor Vê-se que essa prática ainda pode ser insu-
resultado dos alunos. Esse pensamento é confir- ficiente para o “bom professor”. A reflexão é
mado por Pimenta (2005, p.65) insuficiente para conduzir o docente à prática
“igualitária e libertadora” (Freire, 1996). Deve-
A idéia captada especialmente nos artigos de mos também ressaltar que o termo “professor
D. Schon e K. Zeinchner, é a de que o profes- reflexivo” passa por um processo de cópia, pois
sor possa „pensar” sua prática, ou em outros é utilizado por qualquer autor ou profissional
termos, que o professor desenvolva a capaci- da educação, muitas vezes, sem a real consci-
dade reflexiva sobre sua própria prática. Tal ência de princípios, por isso a expressão tor-
capacidade implicaria da parte do professor nou-se no “slogan que ficou vazio de conteúdo”
uma intencionalidade e uma reflexão sobre (Contreras 2003, p.92).
seu trabalho.
5. O DOCENTE CRÍTICO
Com isso, o profissional reflexivo surge como
proposta de modelo docente, capaz de repensar Os questionamentos incitam a busca de
as situações ainda não resolvidas pela da técni- novo modelo, sem negar a pretensão reflexiva.
ca. No momento em que o educador opta por Modelo que seja capaz de suprir as preocupa-
esse modelo, a prática torna-se estável, pois o ções na prática da reflexão docente, modelo de
profissional percebe que, desta maneira, pode intelectual crítico, com tendência à “aceitação
resolver as situações. de uma única interpretação racional e válida
Mesmo com essas características, a reflexão dos acontecimentos”. (Contreras 2003, p.92)
pode não ser interpretada eficazmente. Contre- Para reforçar necessidade de novo modelo, a
ras (2003: p.91) diz: noção de Lawn apud em Contreras (2003, p. 99)
diz que uma coisa é identificar o lugar onde o
[...] vivemos num mundo plural, onde con- docente realiza a sua função e outro é reduzir o
vivem diferentes opções avaliativas, uma problema ao que ali ocorre. Nessa perspectiva,
pluralidade que não pode ser significada é diferente estudar somente o docente, no local
tecnicamente, em função do mérito ou da de trabalho, com determinada função, e estudar
eficácia de uma determinada estratégia (...)” os problemas circunscritos a esse ambiente. Por
e “Como podemos reconhecer a diferença isso, chega-se à hipótese de que se deve estudar
entre pluralidade e desigualdade? Será que o docente no trabalho e no contexto, sem redu-
basta a reflexão simples? zi-lo diante das diversas situações.
41
Germana Castro Barbosa, Jeannette Filomeno Pouchain Ramos
Caso contrário, o docente só trabalha os pro- a reflexão transcende os limites e as práticas que a
blemas da turma, sem desenvolver compreen- escola prioriza. O professor precisa entender como
são do todo, ou seja, da escola, da comunida- interagir seus interesses e conflitos com a escola.
de, da sociedade, ignorando a possibilidade de Conceber o trabalho docente como trabalho
transformação da prática, que pode libertá-lo de intelectual significa “[...] começar a fazer per-
dependências profissionais e institucionais. guntas sobre o que deveria ser um ensino valio-
Dessa maneira, a prática crítica orienta os so e por quê, não se limitando somente a ques-
professores a investigar “(...) quais são as restri- tões sobre o como [...]” (CONTRERAS 2003,
ções que a prática institucional impõe às nossas p.109). Além de desenvolver o conhecimento do
próprias concepções sobre o ensino, de forma ensino que reconheça e questione sua natureza
a despertar o potencial transformador que esta socialmente e historicamente construída.
deve e pode ter” (CONTRERAS 2003, p.101). Para início do processo de crítica, os docen-
Com isso, tem-se um trabalho social, não res- tes devem organizar-se com a comunidade, com
trito somente à sala de aula, em transferência o objetivo de excluir qualquer grupo político ou
de conteúdo curricular, mas também conside- econômico, com influencia prejudicial à políti-
rando o educador e educando, incentivando-os ca escolar. Assim, o professor está a analisar e
e valorizando-os como sujeitos ativos do meio
questionar as estruturas institucionais.
em que estão inseridos.
O modelo de professor reflexivo e do inte-
Para Freire (1997, p.30), o educador deve re-
lectual crítico tem diferenças. A idéia do pro-
fletir sobre estes aspectos:
fissional reflexivo baseia-se na necessidade de
Por que não discutir com os alunos a reali- enfrentar situações adversas e procurar respos-
dade concreta a que se deva associar a dis- tas para as questões, de uma maneira correta. O
ciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade profissional crítico trabalha também um conte-
agressiva em que a violência é a constante údo moral, histórico e dialético.
e a convivência das pessoas é muito maior
com a morte do que com a vida? Por que • Indagações que os docentes críticos podem
não estabelecer uma necessária intimidade questionar:
entre os saberes curriculares fundamentais • De onde procedem historicamente as idéias
aos alunos e a experiência social que eles têm de meu ensino?
como indivíduos? • Como me apropriei delas?
• Por que continuo ainda a apoiar-me nelas
Em conseqüência, para o professor que tem no meu trabalho?
o seu trabalho reduzido em apresentar soluções • A que interesses servem?
de problemas limitados à sala de aula, dificilmente • Quais as relações de poder implicadas?
42
Concepções e práticas de autonomia docente na Escola Pública
• Como influem essas idéias nas minhas re- mesma forma que todas às outras, por uma
lações com os meus alunos? determinada localização social.
• Que luz me permitiu descobrir como posso
trabalhar de forma diferente? A prática crítico-reflexivo também preci-
(CONTRERAS, 2003, p. 115) sa ser compreendida por cada indivíduo. Essa
compreensão deve ser relacionada com o meio
Com esses questionamentos, as críticas não social, sem ser privilégio, pois essa reflexão crí-
se restringem à sala de aula, ou seja, ao relacio- tica não pode ser considerada como proces-
namento professor e aluno. Mas sim fazendo o so final, concluído, ao contrário, caracterizada
professor se conscientizar de suas origens e dos processo inacabado. As experiências, o conhe-
seus efeitos. A prática crítica não pode ter so- cimento e as vivências não são homogêneas en-
mente a função de mostrar as diferenças, mas tre os docentes, nessa condição, a prática crítica
também a perspectiva de transformação. respeita, mas ultrapassa diferenças individuais.
Porém, nesse modelo, também existem con- Para melhor compreensão, mostraremos a ta-
trariedades, quando o professor se organiza em bela V com as principais características dos mo-
delos, com ênfase nos princípios, meios e finali-
grupos, com interesses comuns, o que pode se
dades, ressaltando as diferenças de cada modelo.
tornar processo político, com favorecimento
de grupos. Às vezes, são possíveis movimentos QUADRO I: MODELOS DOCENTES
contrários às lideranças, com determinada in- Modelo de
Princípios Meios Finalidades
tenção política, sem pretender transformação e professor
construção de ações educacionais. • Compreen-
Contreras (2003: p.125), assim se posiciona são dos alunos
• Formação • Apli- com o momen-
sobre o assunto: Técnico – tecnicista cação de
to em questão
Perito • Racionali- técnicas já
dade Técnica fabricadas
• Solução
A reflexão crítica não pode ser concebida instrumental
como aquele processo de iluminação ou ilus- de problemas
tração sobre uma base firme, segura e unifi- • Meditação
cada para todos os afetados, nem tão pouco sobre as • Resolução
como aquela posição privilegiada a partir da práticas
• Reflexão de problemas
qual é possível ter acesso ao conhecimento • Não na ação educativos
Reflexivo reconhece os
das distorções, por que a posição do teórico individual que pode ser
contextos e os
crítico (ou a de uma teoria crítica em si) é pressupostos
e coletiva mudado de
também uma posição que necessita de ser que agem im- imediato.
desvelada e compreendida como afectada da plicitamente.
43
Germana Castro Barbosa, Jeannette Filomeno Pouchain Ramos
44
Concepções e práticas de autonomia docente na Escola Pública
senvolvendo planos de trabalho de acordo com realizar ação coletivamente, ainda é induzido a
as metas estabelecidas para cada área de ensi- refletir sobre aspectos predeterminados. A es-
no, cooperando para o desenvolvimento socio- cola RMM demonstra receio no tratamento dos
cultural e educacional da comunidade escolar, docentes, devido à possibilidade de desagradá-
visando à melhoria da qualidade de ensino em -los, porém esse comportamento não é adequa-
futuro próximo. do, por se tratar de medo da organização dos
A escola, Centro de Educação e Saúde, professores. Em certos momentos, o corpo do-
CMES Vicentina Campos, antes CIES, localiza- cente é considerado pelos gestores ameaçador,
da no conjunto Jardim Primavera, Parque Dois por isso os gestores tentam agradar os docentes,
Irmãos, é resultado de extenso movimento da mas, mesmo assim, nem sempre os objetivos
comunidade preocupada com a possível ocupa- dos professores são alcançados.
ção da área. Os professores entrevistados são do sexo fe-
O objetivo da instituição é desenvolver tra- minino, com graduação em Pedagogia, com até
balho coletivo que contemple mudanças na re- 25 anos de magistério e no mínimo, 02 anos.
alidade do CMES. As metas da escola não estão Assim, o perfil atende ao critério de experiência
especificadas nos documentos, com a justificati- em sala de aula e formação continuada.
va de que serão concluídas no ano seguinte, mas Em primeiro momento, são trabalhadas com
enfatiza os compromissos relacionados à Ges- as professores os modelos de autonomia docen-
tão Escolar, Conselho Escolar. Esta instituição te, com definição de cada modelo, exemplifican-
não tem Projeto Político-Pedagógico concluído, do e informando o tempo de cada prática. Tra-
mas é visível a preocupação com a comunidade, balhamos o modelo de professor competente,
pressupondo-a participativa e presente no am- momento em que ouvimos as mais diversas
biente escolar. respostas. A professora Carol cita ser compe-
Em relação às escolas analisadas, as escolas tente é ser comprometido. Dentre as respostas,
RMM (Raimundo de Moura Matos) e VC (Vi- a mais surpreendente é aquela segundo a qual,
centina Campos) são novas, com diferenças de professor competente induz o aluno a ser crí-
estrutura e de prática pedagógica, embora com tico, desta maneira, a educadora ignora a real
objetivos coincidentes. Não podemos afirmar, definição de professor competente. Para a edu-
porém, que qualquer uma das instituições possa cadora Eliene, os professores devem ser com-
ser considerada a ideal. petentes. Outra definição é que ser competente
Pela entrevista, a escola VC trata o docen- é ter compromisso com o aluno. As entrevista-
te de uma maneira tradicional, muitas vezes, das se consideraram competentes e praticam ro-
o professor não é incentivado a refletir ou, ao tineiramente o modelo.
45
Germana Castro Barbosa, Jeannette Filomeno Pouchain Ramos
Uma definição surpreende, depois de tantas conseguir permanecer em sala de aula”. A res-
respostas, sem noção de conceito de professor posta é negação da professora em trabalhar as
competente. Para a professora Fátima, a resposta mudanças da educação. Com apoio em discus-
é a resolução prática de problemas, com técnicas são com fatos e exemplos de mudanças, mesmo
tradicionais, e completa que não se reconhece assim, a educadora continua com sua opinião,
professora competente, mas muitas educadoras segundo que o professor deve mudar de acordo
utilizam dessa prática, e enfatiza que professo- com as novas imposições, sem, antes, refletir so-
ras, muitas vezes, são mais experientes na área bre as ações. Com isso, a intenção da professora
da educação. é realizar a prática, em virtude de suposta deter-
Pode-se associar resposta ao discutido no minação do sistema, e não devido à qualificação
início do trabalho, deixando explícita uma das pessoal, a fim de melhorar sua prática.
principais características do professor compe- A maioria das respostas associa o intelectual
tente que, na prática docente, utiliza técnicas, crítico-reflexivo ao aspecto político, enfatizan-
caracterizando-se como um trabalho mecânico. do direitos e deveres da educação. A educadora
Após esta abordagem, a situação se torna Gilvânia sugere que o modelo deve ser pratica-
mais complexa para a continuidade da entrevis- do por todos.
ta, pois à menção do modelo reflexivo há confu- Pelas respostas, as professoras fazem uma
são de conceitos de competente e reflexivo. As maior associação desse modelo, por mais que o
entrevistadas se dizem reflexivas, por isso torna conceito, provavelmente, não tenha sido prati-
mais difícil entender o modelo realmente com cado na formação, o que, talvez, aconteça devi-
que cada professora se identifica e pratica no co- do às necessidades de cada profissional. É curio-
tidiano. so entender o porquê de confundir conceitos de
Para as educadoras Ana e Carol ser professor competente e reflexivo e conseguir maior apro-
reflexivo é buscar métodos novos, ou conside- ximação da definição do intelectual – crítico.
rar-se aprendiz na atividade docente, ou ainda As professoras entrevistadas confundem teo-
ser reflexivo é estar aberto a mudanças, a novas rias e conceitos, sempre que elas se consideram
descobertas. A educadora Carol não compreen- determinado modelo, e, em seguida, se dizem
de as noções de cada modelo e afirma exercer as outro modelo. Assim, mencionada outra opção,
duas práticas. sugerem o exercício de outra prática.
Nesse clima tentamos discutir o assunto com Em relação aos modelos docentes, as edu-
a professora Maria que responde da seguinte cadoras não conseguem diferenciá-los, e por
maneira: “Ser reflexivo é nos enquadrarmos às isso indagamos como as professoras conseguem
novas condições da educação, para podermos qualificar a sua prática. Para direcionar uma
46
Concepções e práticas de autonomia docente na Escola Pública
prática, antes o educador deve conhecer cada lação intrínseca e complementar entre ensino,
modelo, para compreendê-lo e exercitá-lo. pesquisa e gestão.
As professoras entrevistadas não se reconhe- Ao fim deste trabalho, percebemos a impor-
cem em nenhum modelo determinado, mas ten- tância de conhecimento das maneiras de prática
tam se identificar nas três opções. Acreditamos de autonomia docente, com a possibilidade de
que a dificuldade de identificação é devido à falta exercitar ou não a docência, nas modalidades
de conhecimento dos modelos ou omissão em existentes, uma interagindo com outra, pois
decidir como se deve dar a ação pedagógica. Para cada modelo de autonomia é decorrente de ou-
as profissionais as teorias se confundem, parecen- tro. Assim podemos afirmar que os conceitos se
do haver a mesma definição para cada modelo. complementam no trabalho docente.
Em síntese, percebemos que as professoras têm
a certeza de que a escola pública precisa mudar em REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
vários aspectos, desde a formulação do sistema até
sua prática. No entanto, nem todas as educadoras ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em
relacionam as modalidades de autonomia docente uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2003.
à problematização da escola pública.
ARROYO,Miguel G. (org) Da Escola Carente à
Escola Possível.São Paulo: Edições Loyola. 1986
7. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
Feita a análise dos modelos docentes, rea- BARBOSA, Germana Castro. Formação e práti-
ca docente entre a técnica, reflexão e criticidade.
firmamos que o conhecimento das modalidades Monografia de Conclusão do Curso de Especia-
é importante para a prática do professor, pois, lização em Docência do Ensino Superior / CED
quando o educador conhece as maneiras possí- / UECE, 2007 (mimeografado).
veis de ação, e as compreende, opta pelo método
mais adequado à realidade e necessidade. Não DOMINGO, José Contreras. A Autonomia da
pretendemos afirmar o modelo correto de práti- Classe Docente. Portugal: Porto, 2003.
ca docente, mas discuti-lo e apresentá-lo. Busca-
mos, com este trabalho, coletar dados que permi- FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Sa-
tam refletir em torno dos modelos de professor. beres Necessários à Prática Educativa. São Pau-
A partir da pesquisa indagamos que a classe lo: Paz e Terra, 1996.
docente não tem embasamento teórico adequa-
do para assegurar na prática, a consciência das GANDIM, Danilo. Escola e transformação So-
escolhas feitas. Muitos ainda desconhecem a re- cial. 6ª ed. Petrópolis: RJ: Vozes, 2000, p.142-150.
47
Germana Castro Barbosa, Jeannette Filomeno Pouchain Ramos
48
TRABALHO E EDUCAÇÃO: PRIMEIRAS
IMPRESSÕES DA ALIENAÇÃO DO
TRABALHADOR DOCENTE
1. INTRODUÇÃO
49
Jeannette Filomeno Pouchain Ramos, Samara Almeida Chaves, José Gilberto Biserra Maia
incidência nas mudanças relativas à organiza- tas contribuições possam eles se posicionar e
ção laboral. Estudos e pesquisas (MARTINEZ, reelaborar uma nova sociabilidade pautada no
2003; OLIVEIRA, 2003; BARRIGA e ESPINO- recobro da dignidade humana. Além da rele-
SA, 2006) registram que o fato de que o trabalho vância social e pessoal, importa ressaltar a im-
docente continua sendo um objeto fragmen- portância acadêmica em aportar discussões em
tário e pouco conhecido, oculto nos processos torno da relação entre trabalho e educação, to-
sociais da educação e do trabalho. Estudos ana- mando como centralidade a alienação do ������
traba-
lisam as teses de proletarização e precarização lho docente.
(OLIVEIRA, 2003), do trabalho docente, mas Revisitamos, então, a literatura pertinente às
não relacionam estes fenômenos com as etapas categorias trabalho (MARX, 1964, ANTUNES,
da alienação descritas por Marx (1964). 1999, 2000, LESSA, 1997a, 1997b), trabalho alie-
A literatura marxista e marxiana se justifica nado (MARX, 1964, LESSA, 1997, ANTUNES,
como fundamental neste estudo por cumprir 1999, 2000) e trabalho docente (SAVIANI,
duas tarefas, de um lado oferecendo amplo es- 2005). Como referencial metodológico, esta
pectro teórico acerca da categoria trabalho e pesquisa é bibliográfica, por constituir numa
trabalho alienado e da divisão do trabalho no produção teórica a partir das obras retrocita-
modo de produção capitalista e, de outra parte,
das. A opção se referenda na contribuição sig-
o marxismo, como doutrina filosófica, oferece a
nificativa dos autores relativamente ao objeto de
alternativa ao modelo social capitalista. Refletir,
estudo, ao mesmo tempo em que solicita rigor
pois, a alienação do trabalho docente a partir do
científico na seleção das fontes e na análise.
marxismo tem dupla função: buscar uma expli-
Este artigo reflete inicialmente a categoria
cação do fenômeno e sugerir opções a alienação.
A relevância social deste ensaio revela-se na trabalho, as transformações no mundo do ���� tra-
importância de refletir criticamente o mundo balho��������������������������������������������
e a crise do capital, para, em seguida ana-
����
e as relações sociais em que vivemos e ques- lisarmos o���������������������������������������
conceito de trabalho alienado e, pos-
tionar a estrutura econômico-política-social e teriormente, relacionarmos esta categoria com o
cultural onde nos encontramos. Desse modo, trabalho docente.
quando analisamos as categorias trabalho do-
cente e alienação do trabalho, poderemos con- 2. O TRABALHO ALIENADO, ESTRA-
tribuir com milhares de educadores que se en- NHADO
contram num estado de submissão às razões
capitalistas, desenvolvendo um a tarefa estranha Partindo do referencial marxista que con-
a ela própria, um trabalho morto. A partir ����
des- ceitua trabalho como produção do humano, ou
50
Trabalho e educação: primeiras impressões da alienação do trabalhador docente
seja, é o modo como o homem se insere na or- então, é um ato de pôr consciente e, portanto,
dem social e produz nova ordem, pelas mudan- pressupõe um conhecimento concreto3. É a úni-
ças das relações humanas e pela mudança das ca lei objetiva e ultra-universal do ser social, que
relações dele com a natureza estabelecendo as é tão eterna quanto o próprio ser social, ou seja,
condições de sua sobrevivência, compreende- trata-se também de uma lei histórica, à medida
mos que a divisão social e do trabalho não exis- que nasce simultaneamente com o ser social,
tiram sempre nem existirão ad aeternun. mas que permanece ativa apenas enquanto este
Dessa forma, pode-se acentuar que o trabal- existir (ANTUNES, 1999).
ho constitui a própria atividade humanizadora Fruto de determinada evolução histórica
do homem. A ação humana difere da atividade da sociedade, a divisão do trabalho tem raízes
irracional dos outros animais inferiores, princi- na estrutura e no desenvolvimento normal da
palmente pela objetivação imposta ao ato criativo. vida econômica e é mantida e acentuada pelas
O trabalho, então, é sempre elemento central instituições e relações humanas. Estas transfor-
em todo o desenvolvimento das forças produ- mações sociais despojaram o homem, da terra
tivas, pois nenhum outro ser possui habilidade e dos instrumentos de produção, obrigando-o,
de ação transformadora que possa alterar seu portanto, a vender a única coisa que lhe restava
cotidiano, seu habitat, de forma ágil e racional. e que o mercado reconhece: a sua força de trab-
Para Lukács, o trabalho é a forma originária alho em troca de sua sobrevivência.
(protoforma) do agir humano, entretanto, nem O trabalho, nesse decurso histórico, passou
todos os atos humanos podem ser considerados da produção artesanal do trabalhador livre4
como trabalho (LESSA, 1997). no mundo pré-industrial, para a produção em
Sendo assim, o ato de produção e reprodução série na sociedade industrial, com o fordismo
da vida humana realiza-se pelo trabalho, pois, e keynesianismo, e, enfim se encontra numa
a partir do trabalho, em sua cotidianidade, o produção flexível.
homem torna-se ser social, distinguindo-se A crise do fordismo e do keynesianismo con-
de todas as formas não humanas. O trabalho, funde-se com a crise mais profunda do capitalis-
3 Marx (1964, p.165), ao refletir na relação entre o trabalho livre e alienado, anota que o homem faz da atividade vital o objeto da
vontade e da consciência, o que o distingue da atividade vital dos animais, se tornando assim, um ser genérico Ou melhor, só é um
ser consciente, quer dizer, a sua vida constitui para ele um objeto, porque é um ser genérico. Unicamente por isso é que a sua atividade
surge como atividade livre. O trabalho alienado inverte a relação que o homem, enquanto ser consciente, transforma a sua atividade
vital, o seu ser, em simples meio da sua existência.
4 O trabalho passa de vivo para morto, também chamado negativo. Em outras palavras passa de um produto cuja função social
apresenta o valor de uso para um produto cujo objetivo último é apresentar o valor de troca, ou seja, o sobretrabalho que fica subs-
tanciado no produto, que por sua vez, nas relações econômicas do modo de produção capitalista, originandoo lucro. Neste caso o
homem deixa-se moldar, desenvolvendo um trabalho estranhado.
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enquanto nas funções humanas se vê reduzido ele produz a si mesmo e ao trabalhador como
a animal. (...) Comer, beber e procriar, etc., são uma mercadoria, e justamente na mesma
também, certamente, genuínas funções huma- proporção com que produz bens.
nas. Mas, abstratamente consideradas, o que
as separa da restante esfera da atividade hu- Antunes (1999, p. 126) prossegue, ressaltan-
mana e as transforma em finalidades últimas do que, na produção fragmentada e em série do
e exclusivas é o elemento animal. capitalismo, o homens é atomizado, pois ‘não
pode realizar a adequada função de mediação
Percebemos, então, que há uma inversão das entre o homem e a natureza, porque ‘reifica’
funções humanas ao realizar o trabalho alien- (coisifica) o homem e suas relações e reduz ao
ado, externo ao homem, ou seja, o homem, ao estado de um animal natural. Ele perde a noção
exercer um trabalho externo, só atende a sua do todo e, nesse tipo de relação, em lugar da
necessidade de sobrevivência física, assim como consciência do ser social passa-se ao culto da
os animais, ocorrendo uma desumanização do privacidade, à idealização do indivíduo tomado
homem, portanto de sua desrealização. As ob- abstratamente:
jetivações operadas pelo ato do trabalho podem
exercer, em momentos historicamente determi- [...] Ao invés do trabalho como atividade
nados, uma ação negativa de retorno sobre o vital, momento de identidade entre o indi-
homem, constituindo-se, pois, em obstáculos, víduo e o ser genérico, tem-se na sociedade
no lugar de estímulos ao desenvolvimento do regida pelo capital uma forma de objeti-
gênero humano.Tal significa a noção de que, ao vação do trabalho, onde as relações sociais
transformar a natureza, o homem pode se tor- estabelecidas entre os produtores assumem
nar um servo do seu objeto. Isto porque ele pode [...] a forma de relação entre os produtos do
passar a depender deste objeto, seja para o seu trabalho. A relação social estabelecida entre
trabalho e/ou para a sua subsistência. Isto ocorre os homens adquire a forma de uma relação
porque, na perspectiva de Marx (1964, 159), entre coisas.
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entre o homem e o produto que ele executou, na mo avançado conseguiu estendê-la até a es-
apropriação deste sob diferentes aspectos. fera do consumo. Com todo arsenal ������
merca-
Lessa (1997), apoiando-se em Lukács, ex- dológico e da mass media, a possibilidade de
plica, então, o que caracteriza o estranhamento. manipulação das necessidades de consumo
Nas suas palavras (1997, pp.114, -5), [...] é uma do ser que trabalha o impossibilita, também
ação de retorno da esfera objetivada sobre a indi- neste plano, de buscar sua realização, acarre-
viduação (e sobre a totalidade social, com todas tando formas complexas de estranhamento.
as mediações cabíveis); uma ação, todavia, que
reproduz a desumanidade socialmente posta [...], Marx (1964) caracteriza a categoria trabalho
são os obstáculos socialmente postos à plena ex- alienado a partir de quatro aspectos, que são a
plicitação da generalidade humana. alienação do trabalhador relativamente: 1) ao
Marx (1964), ao analisar a injustiça social seu produto; 2) ao processo de produção; 3) ao
que há no capitalismo, assinala que se trata de caráter genérico do homem; e 4) aos outros ho-
um regime econômico de exploração, sendo a mens. De acordo com a literatura marxista,
mais-valia uma grande arma do sistema. Assim,
a alienação se manifesta a partir do momento [...] (1) A relação do trabalhador ao produto
em que o objeto fabricado se torna alheio ao do trabalho como a um objetivo estranho que
sujeito criador, vale dizer, ao criar algo fora de o domina. Tal relação é ao mesmo tempo a
si, o trabalhador se nega no objeto criado. A relação ao mundo externo sensível, aos ob-
indústria capitalista utiliza a força de trabalho jetos naturais, como a um mundo estranho
dos operários que não necessitam ter o conhe- e hostil; 2) A relação do trabalho ao ato da
cimento do funcionamento da indústria inteira, produção dentro do trabalho. Tal relação do
a produção é totalmente coletivizada, necessi- trabalho à própria atividade como alguma
tando de vários operários na obtenção de um coisa estranha que não lhe pertence, a ativi-
produto, mas nenhum deles dominando todo o dade como sofrimento (passividade), a força
processo - individualização. como impotência, a criação como emascu-
Antunes (1999, p.129) ao examinar o estran- lação, a própria energia física e mental do
hamento na sociabilidade contemporânea, evi- trabalhador, a sua vida pessoal – e o que é a
dencia o fato de que, vida senão atividade? – como uma atividade
dirigida contra ele, independente dele, que
[...] se esta se objetiva originariamente no não lhe pertence. Tal é a auto-alienação, em
processo de produção - e tem neste momento contraposição com a acima referida alien-
o estatuto ontológico fundante - o capitalis- ação da coisa. (MARX, 1964, p. 169)
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aspectos da alienação com o trabalho docente Sendo assim, no âmbito escolar, o trabalho
na atualidade? Este o de que tratamos a seguir. compreende todas as ações educativas, seja do
docente, do discente, do gestor, do pessoal de
3. TRABALHO DOCENTE ALIENADO apoio escolar, entre outros. Alfabetizar e ser al-
fabetizado são formas de trabalho, pois no mo-
P artindo do referencial marxista, que con- mento em que a criança e o professor entram na
ceitua trabalho como produção do humano-ou sala de aula e começam a desenvolver suas ativi-
seja, é o modo como o homem se insere na or- dades, ambos estão envolvidos num processo de
dem social e produz nova ordem, pelas mudan- trabalho (RODRIGUES, 1986, p.61).
ças das relações humanas e pela mudança das Importa, então, diferenciar as modalidades
relações dele com a natureza estabelecendo as de trabalho material e não material para a com-
condições de se sobrevivência- vê-se, porém, preensão do trabalho docente. A primeira mo-
que o trabalho, no contexto sócio-histórico do dalidade prescinde sempre da segunda, a exem-
capitalismo, objetivou-se de tal forma que se plo da produção de bens materiais, na garantia
tornou estranho, alienado. Este estranhamento da subsistência humana. Para sua efetivação, o
sucede sob diferentes aspectos, na relação com homem necessita antecipar em idéias os objetivos
o produto, com o ato de produção, com o ser ge- da ação, o que significa que ele representa men-
talmente os objetivos reais. Essa representação in-
nérico, ou seja, com os outros homens e consi-
clui o aspecto de conhecimento das propriedades
go mesmo. Com efeito, cumpre-nos agora tecer
‘do mundo real (ciência), de valorização (ética)
algumas relações entre o trabalho alienado e o
e de simbolização (arte) (SAVIANI, 2005, p.12),
trabalho docente na atualidade educacional.
o que caracteriza a dimensão do trabalho não
A Educação é aqui compreendida como di-
material.
reito social, portanto, do ser humano e como Por sua vez, o trabalho não material se dis-
fenômeno-manifesto desde sua origem, con- tingue em duas modalidades: a primeira refere-
fundindo-se, inicialmente, com o próprio ato de -se àquelas atividades em que o produto se sepa-
viver, mas, progressivamente, diferenciando-se ra do produtor como no caso dos livros e objetos
até atingir o caráter institucionalizado, a citar: a artísticos. Há, pois, nesse caso, um intervalo entre
escola e a universidade. Nestes ambientes edu- a produção e o consumo, possibilitado pela auto-
cativos formalizados desenvolvem-se diversas nomia entre o produto e o ato de produção (SA-
ações humanas no sentido de alcançar seus ob- VIANI, 2005, p.12). Na segunda modalidade,
jetivos. Estas são consideradas como trabalho. não ocorre intervalo, pois, os atos de produção
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currículo imposto pelo sistema, por meio dos subordinação por meio de alterações estrutur-
Parâmetros Curriculares Nacionais e promove ais, a citar a desvalorização profissional, a frag-
o estranhamento do trabalhador docente como mentação e a hieraquização da produção, a bu-
produto do seu trabalho. rocratização etc.) Exemplos desta política são
A alienação do trabalho docente quanto ao os mecanismos de controle externo do trabalho
processo de produção do trabalho é caracteriza- docente, pois diretores, supervisores e orienta-
da por Enguita (apud SILVA: 1992) ao analisar a dores são funções criadas com o objetivo de fis-
proletarização a que esta categoria é submetida calizar. Os professores são postos como soldados
ao longo dos tempos: rasos da indústria, sob a vigilância completa de
sargentos e oficiais (MARX e ENGELS: 2002).
[...] o magistério vem adquirindo, de forma Em conseqüência deste prejuízo da auto-
crescente, aspectos estruturais similares aos nomia, muitos trabalhadores docentes não se
do proletariado, isto é, vem se proletarizan- reconhecem como gênero humano, pois sua
do. Isto significa que vem deixando de ter atividade é um simples meio para atender al-
características próprias das profissões, tais gumas das necessidades fisiológicas: comer, be-
como autonomia e controle sobre os meios, ber e procriar (existência física). Esta categoria
objeto e o processo do seu trabalho, para ad- é uma classe hoje oprimida e, segundo Marx e
quirir traços da situação estrutural próprios Engels (2002, 46) [...] para oprimir uma classe
do trabalho assalariado proletário (P. 176). é preciso ao menos garantir-lhe as condições
mínimas que lhe permitam ir arrastando a
Na mesma direção, explica Mariano Engui- existência servil. A esta categoria é garanti-
ta (1991, p.41) que a perda de autonomia do do um salário reduzido que atende apenas e,
trabalho do docente se concretiza pela perda não mais das vezes, em parte, as necessidades
de decisão sobre o resultado da sua atividade, mínimas de sobrevivência física e não social
pois as regulamentações, normas, disciplinas, e e cultural. O educador, portanto, passa a enx-
procedimentos pedagógicos são determinações ergar no outro ser humano um concorrente,
que não contam com a participação do docen- patrão, opressor e inimigo. O educador não se
te. Dessa forma, [...] Os docentes encontram-se reconhece no outro educador.
submetidos a processos cuja tendência é a mesma
que para a maioria dos trabalhadores assalaria- 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
dos: proletarização.
A autonomia dos trabalhadores está com- O presente texto expressa contribuições na
prometida, em decorrência de uma história de formulação da categoria alienação do trabalho
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docente, ao entender que o trabalho do profes- indivíduo não se reconhece na sua atividade e
sor é não material, que o produto não se separa em si mesmo. O seu trabalho passa de um ato
do ato da produção e assume características es- prazeroso de realização humana, de transfor-
pecíficas em relação ao proletário de um modo mação de si mesmo, do outro e do meio, a um
geral. Embora este trabalho, contudo, não confi- mister enfadonho, que mortifica, cansa, aliena,
gure um trabalho material, em que o produto é sacrifica o ser humano, por ser alheio a si mes-
orientado pelo lucro e pelo consumo, tem de se mo, e satisfaz apenas, e às vezes precariamente,
adequar às orientações do mercado. a sua necessidade física, negando a sua sociabi-
Ao mesmo tempo em que reconhecemos que lidade e humanidade. Deste modo, o trabalha-
o sistema capitalista tem reflexos nos aspectos dor não se reconhece mais no outro indivíduo,
políticos, sociais, culturais e educacionais e, passando a vê-lo como um desafeto, um patrão.
portanto, no trabalho docente, percebemos que Na contramão, o indivíduo na sociedade co-
as características da alienação do trabalho do- munista será o homem pleno em sua totalida-
cente estão ficando cada vez mais explícitas. de, livre das alienações e mutilações impostas
O indivíduo, na qualidade ser histórico e so- pela divisão do trabalho reinante na sociedade
cial, nasce num meio determinado, portanto, burguesa e apto a realizar as suas múltiplas po-
sua estrutura, sua consciência, é determinada
tencialidades. O homem será capaz de transitar
pela sua vida. Destarte, o modo de organização
livremente de uma tarefa para outra; de exercer,
e produção deste sistema reflete e é refletido na
sem coações, as tarefas do trabalho manual e
vida dos trabalhadores como um todo. No âm-
intelectual, da docência, da gestão escolar, de
bito escolar, o trabalho perpassa todas as ações
ser pescador, artista, pintor, marceneiro, poeta e
educativas, seja do docente, do discente, do ges-
tor, do pessoal de apoio escolar, entre outros. crítico (MARX e ENGELS: 2002).
O trabalhador docente hoje se encontra num Enfim, tendo tecido algumas reflexões rela-
processo avançado de estranhamento, de aliena- cionando às quatro etapas do trabalho alienado
ção quanto ao seu trabalho, seja na dimensão do ao trabalho docente do professor, e cientes de que
produto, do processo de trabalho, de si mesmo os indivíduos são tais como manifestam sua vida,
e do outro, como ser genérico. Ele se encontra tanto com o que produzem quanto com o modo
alienado na sua relação com o conhecimento como produzem, apontamos a necessidade pre-
por ele participado na aprendizagem e no tra- mente de revolucionar a organização do trabalho
balho controlado externamente, por intermédio na escola e do trabalho docente em busca do esta-
da perda do poder de decisão dos meios, do ob- belecimento de uma nova sociabilidade pautada
jeto e do processo em si. Conseqüentemente, o na dignidade humana, portanto, desalienada.
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LESSA, Sérgio. Trabalho e ser social. Maceió: RODRIGUES, Neidson. Por uma nova escola. 5 ed.
EUFC/EDUFAL, 1997b. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1986.
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Universidade Estadual do Ceará - UECE