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‘Se a Econom € 0 motor da Histéi, esta & 0 motor do Diteko. Nao se pode compreender 0 Dieta senio hstorcaments, o que demansia Importincis deste liro da ptofessora deFLAVIALAGES DECASTRO.” ‘Alexandre Freitas Csmara “Nao pode inerpretr coretamente ale de seu tempo quem nie conhece oprocesso cevoluvo dens sitemajuttico. "Nessa ina, a obra de FLAVIA LAGES DE CASTRO ¢ um guia seguro paca conhecer a nossa evoluto. que, se ahistétia,porss6,jséa demonstra de um quadroeveutva aleiura deste fir, escito com inwlgar ddfies e completa, permite una ampla compreensio xs lwansformagoes que marearam a cidncs jurda, desde tempos remotes até peiodos mas comtemparineos” Cristiano Chaves de Farias "estado de ums pesquisa competentee aprofundsds, escrito de forma simples, 0 livode FLAVALAGES DECASTRO cunprea ungzohejndlspensivel deoferecer20esudoso ‘€20profissianal do Dicetooconhecimento acerca dahistvia queesténabasedetudo aqua que © Direto 6. Com iso, esutos0se profissionastém diane des a oportunidade de entender ‘mefior a sua feramenta de abla e tua no dina em eoneigbes bastante seis, 56 porissoolurojialeserlido” GeraldoPrado do Direito e Brasil 5a edigao OS © OOOO OOOO OOOOHOHOHSCEHHHHHHHOE Lumen} Joao ‘Conseso Boron ‘Alexandre Fae Cimara ‘Amiton Buono de Carvaiho (orar Robert Btoncout (ona Faces Ctistiano Chavos de Favs Carlos Bavaria Adan dapines hia Donizt Poual tiacan Chole Fly Nadeimeato Fito Franioc da Asse. Toes Gustave Sénéchal de Gothodo 4. Loon! Lopes de Olas Uteia Antinio Choon Jusae Monee! Messes Pessina Darooe vena Villa Sota olson Resonate Paulo de Bessa Antunes Paulo Range leado sine Gomes Faas Salada Carvalho Vitor Goma Brummond ‘Tata Mamotaa Sota Jonge (Centro =n d Asai, 10 Loft ep seoit.ana Cate ‘na cn) 25912109 roe z202 3040 ac en Amin Da Deva Tce Rl do Jana ‘tl @ny em asin 3150500 ‘nee (1) S806 020 / 50-772 SOLS quad, 402 boeoB ja 35 {Cee venas sta han Sa Doin DE ‘na nnzas ses ' b furis| Brora wwwwlumenjuris.com.br Eorrones Jodo de Almeida Tule da Siva Almeida, CConezue Consura ‘Atwaro Maite a Costa Antonie Cvs Martine Somes ‘gusto Zimmermann ‘ute Wander Baton Bhda Sogn Flivie Lagos de Castro via Aver Marine (ies Catan unter Dalla Bernat de Pino Jojo Thestonio Mendes da Almeida J ‘out Fornanda de Carre Farias 1 Fran Mesos Marella iotola (rae Gana Ten Kauss Raft Baneto Sepia Demero Haman as Ge tesa 800i ‘muan aarti Tan et reabe 909 Cue 4770235, mon anne isrande dat ih apa « Goa Fo Sy aia pnt santo ‘nivten aavenennazaee0 FLAvia Laaes pe CASTRO ‘Mostro om Histéria Social HistTOrIA DO DIREITO GERAL E BRASIL 58 edicao Eprrora Lumen Junis Rio de Janeiro 2007 Copyright © 2007 by Flavia Lagos de Castro Produgio Bditoriat Livraria ¢ Bditora Lumen Juris Lida. ALIVRARIA E EDITORA LUMEN JURIS LTDA. nao se responsabiliza pelas opiniées emitidas nesta obra. proibida a reprodugao total ou parcial, por qualquer melo ou processo, inclusive quanto as caracteristicas graficas o/ou editoriais. A violagao de direitos autorais constitul crime (Cédigo Penal, art. 184 e §§, e Lei n® 10.695, ide 18/07/2003), sujeitando-se A busca ¢ apreensio ¢ indenizagoes diversas (Lei ne 9.610/98), ‘Todos os diteitos desta edigio reservados & Livratia e Editora Lumen Juris Ltda. Impresso no Brasil Pring in Drawil Para minha mae. © © © © OY OO OOOO OOOOH OHHKEEHHHHSBIVE Sumario INTRODUCAO: HISTORIA E HISTORIA DO DIREITO 1. Historia ns Dir@ito wren Historia do Direito Objetivos do Estudo de Histéria do Direito. Esto Livro CAPITULO I: 0 DIREITO DOS POVOS SEM ESCRITA 1, Caracteristicas Gerais dos Direitos dos Povos Agratos. 2, Fontes dos Direitos dos Povos Agrates. 3, Tansmissio das Regras. CAPITULO II: AS PRIMETRAS LEIS ESCRITAS E © CODIGO DE HAMMURABL 1. O Crosconte Fértil © as Primeiras Leis Esoritas 2. Algumas Consideragdes Sobre as Leis Anteriores a Hammu- abi. i ssn 3. A BabilOnia de Hammurabi... 4, Sociedade e Economia da Babilénia Hammurabiana 4.1, Questées Acerca dos Escravos 5, Alguns Pontos do Cédigo de Hammurabi. CAPITULO I: DIREITO HEBRAICO 1. Introdugio i 2. A Sociedade e a Vida Economica... 3. ALei Mosaica. sttninnnnn 4, A Formagio do Direito Hebraico — da Legislagtio Mosaica 0s Dias de Hoje. 5. Algumas Leis do Deuteronémio.. CAPITULO IV: 0 CODIGO DE MANU 1. Introdugio... 2. Contuxt Historice u 2 13 16 16 ”7 27 28 29 31 32 43 43 3. Sociedade... 4. Religiao 5. Alguns Pontos do Cédigo de Mane CAPITULO V: GRECIA cal 1. Introdugio 2. spartans 2.1. Sociedade 2.2. Eeonomia 2.3, Politica. 7 2.4. Cultura @ Ideologia sn 3, Atenas 3.1, Drécon 3.2, Sélon 3.2.1. Economia . 3.2.2. Sociedade. 3.2.3. Politica, \PITULO VI: ROMA E O DIREITO ROMANO: 1, Introdugéo 2, Histéria do Roma: Divisao Politica... 2.1. A Realeza e suas Instituigbes Politicas 2.2, A Repiilica e suas Instituigdes Politicas 2.3, O Império @ suas Instituig6es Politicas... 2.4, As Mudangas em Roma Apés as Conquistas. 2, © Diteito Romano 3.1, Definigées ¢ Caracteristicas 3.2, Periodizacao do Direito Romano, 8.2.1, Periodo Arcaico 3.2.2, Period ClAssi00 3.2.3, Periodo Pés-Classico . 3.3, Fontes do Direito Romano 3.3.1. Costume: 7 3.3.2, Leis @ Plobiscites. 3.3.8, Bdito dos Magistrados 3.3.4, Jurisconsultos 3.3.5, Senatus-Consultos. 3.3.6. Constituig6es Imperiais 3.4, Diviséo do Direito Romano. 3.4.1, Divisdo Baseada na Origem. 4a 46 a 65 66 or 69 n n 2 73 14 1” % % 7 78 19 73 82 ag 83 83 Ba 84 a5 a5 86 86 87 88 89 90 a 92 92 3.4.2, Divisio Baseada na Aplicabilidade 93 3.4.3. Divisdo Baseada no Sujeito, 93 3.8. Capacidade Juridica de Gozo. 93 3.1, Status Libertatis. . 9.5.2. Status Civitatis...ssunnnnnnmn winsence 16 3.8.3. Status Familiae.. . casino: (OB 3.84, Causas Restritivas da Capacidade Juridica do Goro.. : 97 3.6. Direito de Familia. 97 36.1. O Patrio Poder 98 3.6.2. O Casamento.... 99 3.6.3. O Divércio. 103 3.6.4. 0 Date - 104 3.6.5. A Adogio 104 3.7. Tutela e Curatela, 105 3.7.1. Tutela, 105, 3.72. Curatela, 106 3.8. Sheassso, 107 3.8.1. Heranga.. 108 3.82. Testamento.... 108 3.9. Posse e Propriedade. 109 3.10. Delitos 110 3.10.1, Causalictade 12 310.2, Imputabilidade. 12 3.10.3. Extingéo da Punil 113 3.10.4, Co-Delingéneia . 13 3.10.5, Retroatividade da Lei Penal. 14 3.10.6. Aiguns Delitos.. 14 3.11, 0 Estudo do Diteito e os Advogados em Roma. 15 capiTULo vi: A EUROPA MEDIEVAL. 1. Introdugao. 9 2. Sistema Foudal 120 2.1, Caractoristicas.. 120, 2.2, Contrato Feudo-Vassalico. 2 322 2.2.1. Os Bfeitos do Contrato Feudo-Vassalica .. 123 2.2.2. O Fim do Contrato Foudo-Vassilico.... 124 2.2.3. Os Direitos de Uso e Propriedade no Contrato Foudlo-Vassalico 2. As Relagdes Foudo-Vassiilicas © a Justiga 128 126 © OOOH OO MOH OOOOH HOEHESHHEHHHHIOE 3. Os Direitos da Idade Madi nonnnn ss 127 3.1. Diteito Germanico...... 127 3.1.1, O Reino Vandalo 129 3.1.2. O Reino Ostrogodo. 130 3.1.3. O Reino Visigodo.... 130 3.1.4, O Reino dos Burgindics. 131 3.1.8, O Reino dos Francos : 131 8.2, 0 Direito Canénico.. 132 3.3. 0 Direito Romano. fonnnnnnnnnnnenn 138 4, A Inquisicao 137 4.1. O Tibunal do Santo Offcio o os Tubunais Secvlares..... 138 CAPITULO VII: 0 ISLA. 1. Introdugao, 145 2. O Ambiente do Surgimento do Isla. 146 3. A Pundagdo do Islamismo 147 4, © Ditelto dos Mugulmanos, 150 5. O Alcorio.. 152 5.1, Alguns Pontos do Aleorio. 154 CAPITULO IX: O DIREITO INGLES |. Introdugao. 181 2, Direito Inglés ~ A Histéria e a Formagao do Statute Law... 182 3. A Divisao do Direito Ingles 196 CAPiTULO X: DA MONARQUIA ABSOLUTA AO ILUMINISMO_ 1. © Absolutismo Mondrquico 199 1.1. A Franga de Luis XIV... 200 2, O lluminismo o as Criticas ao Estado Absolutista. 205 3. Cesare Becearia, 210 3.1, As Idéias de Cesare Beccatia... 212 4, Outros Pensadores ~ Criminalistas do lluminismo... 222 CAPITULO Xt: AS REVOLUGOES - ESTADOS UNIDOS E FRANGA NO SECULO XVI 1. A Independéncia dos EUA. 225 La Inudugie.. 225 1.2. O Inieio do Processo de Independéncia e a Declaragio de Direitos do Bom Povo da Virginia .. 230 1.3. A Declaragao de Independéneia ..... . 235 1.4, A Constituicao Norte-Americana.. nissan 297 1.8, A Equity ¢ a Common Law nos Estados Unidos. 2a3 A Revolugio Francesa. 245, 2.1. Introdugao. 245, 2.2. Conjuntura Politico Beonémica Pré-Rovolucionavia..... 245 2.3, A Assembléia Constituinto 0 a Doslaragéo dos Dicetes do Homem e do Cid 2a7 2.4. A Declaragio dos Diteitos da Muther o da Cidada. 251 2.8, As Constituigdes Revolucionarias.... i 259 2.6. Era Napolednica e 0 Cédigo Civil... 260 CAPITULO XII: AS LEIS PORTUGUESAS 1. Os Primettos Habitantes e a Romanizacao . 267 2, Os Mugulmanos na Peninsula... . were: 260 3. O Nascimento de Portugal... 270 4. A Era das Ordenagéos 272 4.1. As Ordenacées Afonsina: 272 4.2. As Ordenacées Manuelin: 7 2n7 4.3. As Ordenagées Filipinas : 281 8. O Periodo Pombalind...nsmnsnnmnnnnnnnn soe 291 6. As Constituicdes Portuguesas... 233 CAPITULO XII: BRASIL COLONIA 1, Sem Fé, som Lei, sem Roi 297 Os "vatados Antes do Brasil o Limites de Terras 300 © Antigo Sistema Colonial e os Primeitos Documentos Jurt dicos na Coldnia.. © Municipio, 0 Governo Geral va * Montage do um Apara to Juridico na Coléni 304 © Diteito sob o Dominio Holandés no Nordeste Brasitei... 311 302 6. A Legislagao Especifica da Regiao das Minas. 314 CAPITULO XIV: BRASIL REINO 1. Introdugae.. 319 2 A Corte Portuguesa no Brasil @a Subordinagio A Inalatowe 21 2.1. A Chegada da Corte o a Abertura dos Portos. 2.2. A Liberagao de Manufatras eco. 3. A Reorganizagao do Estado Portuguas no Brasil ¢ a lin troga do Mereade Brasileiro 321 327 2.4, A Justiga no Periodo Joanino 2.5. A Blevagao do Brasil & Condigao de Reino Unido. CAPITULO XV: BRASIL IMPERIO 1. A Independéncia do Brasil e a Constituinte de 1823... 2. A Constituigdo Outorgada de 1824.. 2.1. Aiguns Pontos da Constituigao do 1824... © Gédigo Criminal de 1830 4. 0 Cédigo de Proceso Criminal de 1832 ¢ 0 Ato Adicional do 1834. . 4.1. O Cadigo de Processo Criminal. 4.2. O Ato Adicional 43, Outras Leis do Period Imperial. Nascimento da Tradigo Juridica Brasileira. 6. A Escravidao e a Lei: Condigdes e Abolicao .. 6.1. As Leis Abolicionistas G.1.1. A Lei Eusébio de Queiroz 6.1.2. A Lei do Ventre Livre. 6.1.3. A Lei dos Sexagenatios. 6.1.4. A Loi Aurea... CAPITULO CVE: REPURLICA VELHA 1. A Proclamagao da Ropiblica e a Constituicao de 1891 1.1. Alguns Pontos da Constituigao de 1891 1.11, A Repiblica Federativa dos Estados Unidos do Brasil. 1.1.2, 0 Poder Executivo.. 1.1.8, O Poder Judiciatio. 114. O Poder Legislative. 1.15, 0 Sistema Eleitoral... 1116. As Novidades da Constituigao de 1891 . 2, © Cédigo Penal do 1890. : 2.1, Alguns Pontos do Gédigo Penal de 1890. 3, O Cédigo Civil de 1916... . CAP{TULO XVI: ERA VARGAS - 1930 A 1946 1. A Revolugao de 1930 e o Governo Provisério..... 11. A Organizagio das Cortes de Apelagio do Distito Fo- io da Ordem dos Advogados Brasileiros eral ¢ a Cri 1.2. 0 Cédigo Eleitoral de 1932 333 341 345 354 355 37 381 332 384 385 385 387 394 397 398 402 405, 407 ais as 416 416 420 422 424 427 428 434 . 439 442 443 2. A Constituigao de 1994 . 2.1, Caracteristicas Gerais do Estado Brasileiro... 2.2. A Competéncia para a Elaboragao de lesisingao i 2.3. Municfpios . i 2.4, Poder Executivo Federal... 2.8. Poder Legislativo Federal. 2.6, Poder Judiciario, 2.7. Consellios Técnicos 2.8, O Voto ¢ o Sistema Eleitoral 2.9. Garantias Individuais 2.10. Trabalho, 2.11. A “Justica" do Trabalho. 2.12. Nacionalismo 2.18, Educagao..., 2.14, Assisténcia do Estado ¢ Casamento. 2.15. A Mudanga da Capital 3. A Constituigao de 1937 e a Ditadura Estadonovista 3.1, Antecodentes .. 3.2. A Constituigao de 197 3.2.1. A Justificativa da Constituigao 3.2.2, Uma Constituicao de Ditadura: Todo Poder a0 Bxocutive Podoralinnnrn 3.2.3. 0 Consetho da Economia Nacional... 3.2.4. 0 Poder Judiciatio.. 3.2.5, Voto ueninly 3.2.6. Os "Direitos © Garantias Individuais" 9.2.7. Educacdo e Familia.. A Policia, a Justiga @ Outras Instituigoes da Eva Var. G8 oe i aii 4. © Movimento Operirio: Da Década de 20 2 CLT. CAPITULO XVII: BRASIL - DE 1946 A DITADURA MIITAR 1. O Fim do Estado Novo e a Constituigéo de 1946 1.1. A Constituigao de 1946 .. : 1.1.1. O Poder Executivo.. 1.1.2. O Poder Legisiativo... 1.1.3. 0 Podior Judiciao. 444 446 407 449 450 482 455 457 458 459 467 408 469 469 476 arr . an 492 483 . 404 434 408 490 - 481 492 496 505 508 806 508 510 © OO OY OOOOH OHOOEH OHHH HHHOSCHHESHOE 1.1.4, Ministério Pablico.... 1.15, Estados e Municipios..... LLG. Os Diroitos . 2. A Ditadura Militar. 2.1, Antecodentes ... : 2.2.0 Ato Institucional (0 n" 1) 2.3. O Ato Institucional na 2 . 2.4. 0 Ato Institueional ne 3 25, 0 Ato institucional n2 4 @ a Constituigao de 1967 2.6. O Ato Institucional ne 5.. 2:7, Outras Leis do Regime Wilitar e a Emenda Constitucio- nal ne 1 de 1969. CAPITULO XX - A REDEMOCRATIZAGAO E A CONSTITUICAO DE 1988 1. 0 Fim do Rogie Milita 2. AConstituinte de 1987. 3. Caracteristicas Gerais da Constituigao de 1908. Referéneias Bibliogriificas 516 817 519 523 523 528 504 543 544 550 587 561 562 cd 865 Prefacio Foi com grande prazer que recebemos 0 convite da Professora Flavia Lages para prefaciar seu livro Hist6ria do Direito ~ Geral e Brasil. Sabemos que sua escola nao foi, como poderia parecer a priori, por sermos historiadoras nem por nosso conhecimento do Direito Romano. ‘Temos certeza de que a amizade nasceu entre nis no Mestrado em His: teria da USS quando fomos professoras, e sua Orientadora foi responsai- vel pela gontiloza de Flavia. Naquola ocasifo a autora iniciava sua ca- minhada na dificil “arte de escrever", quando defendeu com brilhantis- ‘mo sua Dissertagao de Mestrado e redigiu seu srimeiro trabalho como historiadora, Nossa alegria foi enorme ao vé-la continuar sew caminho, escrevendo este livro, onde procura defender verdades incontestes, nem sempre compreendidas pela comunidade académica. Referimo- nos a importincia que muitas vezes néo 6 concedida ao conhecimento histérico por especialistas do algumas aroas das Ciéncias Sociais, Flavia, ao conseguir desenvolver de forma sintética assunto tao abrangente ¢ complexo, mostrou sua inclinagio para Pesquisa Giontifica, revelando que a defesa de sua Dissertagao nfo foi somente uma exigancia para concluséo do Curso de Mestrado em Histéria Social A Historia do Dizeito & condigdo sine qua non para que os futuros advogades possam melhor conhecer as estrutucas, as conjunturas & 0 contexto que levaram os legisladores a elaborarem as normas do Direito. ‘Aleitura de sua obra é importante nao sé para os estudantes que desejam conhecer a histéria do Direito, mas também para os profissio- nhais @ 0 piiblico em geral Aeescrita do livro de Flavia nao se reduz. a uma narrativa historico- linear, “fragmentada em migalhas". £ um trabalho que incentiva 0 leitor & pesquisa e & reflexio critica Sou estilo é objetivo, dospojado, ologante ¢ de agradiivel leitura, embora sua narrativa pouco convencional reflita sua personalidade, ‘sua formagio ¢ um profundo conhecimento da Metodologia Cientifica, No decorrer da leitura de seu Texto, sente-se sua constante preocupagdo em realizar ensaios reflexivos acerca do Dircito dos diferentes povos, inclusive especificamente a trajetéria brasileira no campo de sua anilise, Seu livro constitui um amplo painel sobre 0 Direito de diferentes Civilizagdes, comproondidas sob 0 ponto de vista politico, econémico e cultural. Em decorréncia deste fato, podemos considera-lo ao mesmo tempo analitico, sintético e polémico. ‘Nao 6 por apresentar uma visio de conjunto sobre a historia do Dizeite que deve ser considerado genérico ou apenas como um simples Manual, Embora este tipo de abordagem possa conduzr a gene- ralizagéos, isto ndo acontece com Flavia porque sou Toxto nao porde do vista a reflexao. Sou mérito repousa justamente na contundéncia com que a autora procura a reflexio ¢ nao no fato de revisar ocorréncias, passadas. (O livro da autora trata de forma sintétiea de aspectos importantes da evolugao juridica, mas néo o faz de forma linear ¢ cronolégica porque analisa, critica e interprota os fatos. Nolo a historia do Diroito & vista em um viés pouco explorado em obras similares porque contém informagao, refloxao e fundamentagao. Como especialista em Histéria Romana, dentro tantos pontos que consideramos fundamentais, ¢ absolutamente indispensaveis, analisa- dos por Flavia Lages ¢ que podem sor considerados polémicos, comen- taremes especificamonte aquoles quo se roferem ao Direito Romano. ‘A autora, ao afirmar a grande importancia do Direito Romano na atualidade para os advogados e juristas, é profundamente pertinente. ‘Nao 6 possivel que se ignore o legado do Direito Romano para 0 pensamento juridico ocidental nem sua importancia para o Dircito Civil em seu ordenamento juridico. ‘A Lei das Doze Tabuas também no foi esquecida pela autora. Como deixar de lembrar a Lol que assinalou a passagem do direito oral para direito escrito, a primeira compilagdo do Direito Romano que serviria de base ao Direito Piblico de Roma até a época do Imperador Juliano? © simples fato de admitir a igualdade de todos os cidadaos somanos perante a Loi ea soberania do pove faz da Lei da Doze Tabuas um documento de grande relovancia para conhecimento da historia do Direito. © Corpus luris Givilis, codificagao do Direito, felta na epoca de Jus- tiniano, teve influéncia significativa nos Cédigos Modernos e permitiu o conhecimento das obras dos grandes jurisconsultos romanos, E difici! avaliarmos 0 valor de nosso débito intelectual para com Roma no que se refere ao logado do Direito Romano, pois os romanos fundaram, desenvelveram e sistematizaram a jurisprudéncia no mundo. ‘Todas estas promissas lembradas por Flavia corroboram para defesa de sua propositura a necessidade do estudo do Diteito Romano. Gostariamos de continuar analisando toda a Sintese elaborada pola autora, mas eertamente nao terminariamos a redapio deste Néo podeius, pure, tinalizar esta Introdugao sem deixar de enfatizar um dos pontos mais relovantos do trabalho de Flavia Lages. A autora conseguiu redigir uma obra geral sobre a Historia do Dircito baseacla em uma pesquisa profunda ¢ acurada de Fontes Primarias, 0 que torna a leitura do seu Texto indispensavel para todos os estudiosos do Diteito, Convidamos 0 leitor a percorrer a Historia do Direito ~ Geral e Brasil de Flavia Lages e a oliar com admiracéo 0 excelonte trabalho emproendido pela jovem ¢ talentosa historiadora. Marilda Corréa Ciribelli Doutora em Histéria pola USP Pos-doutora om Histéria Social pela UERS ROORKEE ASDE AA DA RRDAKA READER REO © OOOO OY HO OCOHOHOOHHOHHOHTHHHOHHHHOOEG INTRODUGAO HISTORIA E HISTORIA DO DIREITO © que 6 Histéria? O que Mistéria do Diteito? Quais pontos His t6ria e Diteito tom em comum? Qual o objetivo do estudo de Histéria do, Direito? Ao responder a estas porguntas, ostaromos mais aptos a compreender de fato a Histéria do Direito dos Povos e das Culturas que estudaremos a seguir. Esta necessidade do conhecimento do objeto antes de uma ani lise de seus pontos é a base para a compreensio global do objeto de estudo de qualquer ciéncia, 1. Historia ‘Quando se pensa em Histéria a palavra “passado" logo nos vern a mente. O passado seria histéria? Todo 0 passado? Tudo no passaco? Uma bela frase pode iniciar nosso raciocinio: “A histéria 6 a meméria da humanidade, mas nao 6 suficiemte recordar para ser historiador."! Sem ativida, 0 tempo é a cimensio do trabalho do historiador, mas analisemos: — 6 possivel “hist6ria das baleias"? ~ ndo parece menos estranho “historia da caga as baleias"? A “histéria das baleias" nfo 6 possivel porque as baleias néo transformam, ndo se transformam... A transformaggo 6 a esséncia da Histéria © somente o ser humano pode executar tal tarefa. Por isso a “Histéria da caga as baloias” parece soar menos estranho aos nossos ouvidos. Quem caga é 0 homem, ¢ esta atitude (que hoje em dia é um tanto estiipida) mudou no tempo. IRAROE 0 PALMADE apud CHAUNU, Piers A hstéria come eifnla socal Ro de “anon: Zaha, 1976, p. 22 ‘iivia tages do Casts Pode-se, entao, chegar 4 primeira conclusio acerca da Histéria: seu objeto é 0 homem, isto , 0 estudo da Histéria concentra-se no Ser ‘Humano e a sucessdo tomporal de seus atos.? Ser Humano estudando o ser humano, qual o objetivo? Par que isto nos ¢ tao caro? Por que é téo importante mesmo para pessoas comuns? Paul Veyne apresenta dois motivos: “Primoiramente, 0 fato de pertencermos a um grupo nacional, familiar... pode fazer com que 0 assade desse grupo tonha um atrative parti- cular para nés; a segunda razio 6 a curiosidade, seja anedética ou acompanhada de uma exi- gdncia da inteligibilidade."3 2, Direito ‘A palavra “Direito", bem como ele proprio no sontide amplo da Cigncia do Direito, vem dos Romanos antigos e 6 a soma da palavra DIS (muito) + RECTUM (20%, justo, certo), ou soja, Diroito em sua origem significa 0 que 6 muito justo, o que tem justiga, Entende-se, em sentido comum, o Direito como sendo 0 conjunto de normas para a aplicagao da justiga e a minimizagao de conflitos de uma dada sociedade.t Estas normas, estas regras, esta sociedade nao sa0 possiveis sem o Homem, porque ¢ 0 Ser Humano quem faz o Direito 6 para cle que a Direito é feito. Esta dependéneia do fator humano é exteriorizada por Vicente Réo da soguinte maneira: “0 aireito pressupde, necessariamente, a exis téneia daquele ser e daquela atividade. Tanto va- Ie dizer que pressupée a coexisténcia social, que 6 0 préprio homem."5 7 BOGE, Mave, mtrodugio & stra, Snes: Buopa-Andica {18.—L CARR, EH. Que Peat Rio'do Jotocr Pas e Torn, 1076. DESSELAAR, J. VD. tntrodupio ace 3 VEVNE fut Conose essewe a hari: ouratreoluiona astra 4c, Basa Universe do Brio, 1009.0. _ eee eee ae nal olroce oer dotnigso de Di, mas 360 suerte pana tn anne que gov comprownto de Hira do Diao, MRO means ince es wien dos ertesn Se Soo Pao 1000p ‘Mitra do Disoto Gora Brasil © Jurisconsulto romano Ulpiano nos dé uma ligao do que é 0 Direito, indicando os tipos de direito e definindo-os. Vale a pena en- cerrar esta definigao com a ligdo, dedicada aos estudantes de Direito, deste mestre da Antiguidade: "Os que se vao dedicar a0 estude do Dircito dovem comegar por saber donde vem a palavra ‘ius’. Na verdade, provem de ‘iustitia’: pois (te- tomando uma elagante definicdo de Celso) 0 direito é a arte do bom e do eqtiitative, § 1. Pelo que ha quem nos chame da sacarcotes..Na ver, dade, cultivamos a justiga e, utilizando o conheci- mento do bom e do eqiiitative, separamos 0 justo do injusto, distinguimos o lcita do ilicito...§ 2. Ha duas partes neste astudo: 0 diseito piiblico, que diz respeito ao estado das coisas de Roma; e 0 rivado, relativo utilidade os particulares, pois certas utilidades 40 piblicas e outras, privadas © diteito piblico consiste (nas normas relativas) as coisas sagradas, aos sacerdotes @ magistra- dos, O direito privado é tripartido: 6, de fato, coli- gido de preceitos naturais, ou das gentes, ou Historia do Direito 4J4 f01 possivel perceber quo Historia e Dizeito tém algo em comum: © Homem. Assim, partindo do Ser Humano, é necessério salientar al- guns pontos primordiais, © Homem 6 naturalmente produtor de Cultura. Nao somente aqui- Jo que chamam comumente de cultura, como saber sobre autores clas- ULPIANO,Digesta de Justiniano Ler Pious: DE IUSTIA FF UR, tal pera {tur pris mete oer unt nmon hes taeda, Sosa ea ‘mt gtr as na rat ana Cis ea Sesuum ab ileus separants, lekum ab Mckim dccunanases 92 Hajes Sees, int poston: bums utd satel onion aoe ata ce Enola wlio: sun on gusset pubes wie nosee ae a in ori tn scerdein, in maps consi Pheer rec ‘ice eta eat x tables posse sat pene ns eke © OOOO OOOO HOH OOOOOHO OHHH HHHHHHHSHE livia Lagos de Castro sicos, vinhos catos e literatos, mas a Cultura no sentido corrato da palavra, Entende-se por Cultura “o processo pelo qual o homem acumula as experiéncias que vai sendo capaz de realizar, disceme entre elas, fixa as de ofoito favoravel e, como resultado da agio exorcida, converte om idéias as imagens e lembrangas (...)."7 Isto 6, tudo 0 que o homem produz faz parte da cultura do homem. A cultura 6 temporal, histérica, Ela depende do momento em que doterminado individuo ou comunidade esto vivendo para ter as caracteristicas que a definem. Assim como afirma o velho professor Bloch baseando-se em um ditado arabe: “O Homem se parece mais com sou tempo que ‘com seus pais. Pode-se concluir, portanto, que, sendo o Direito uma produgao humaria, ele também ¢ cultura e é produto do tempo histérico no qual a sociddade que 0 produziu ou produz esta inserida, Plagiando o ditado arabe, poderiamos afirmar que o direito se parece com a necessidade histérica da sociedade que o produziu; 6, portanto, uma produgao cultural e um réflexo das exigéncias desta sociedade. Conforme as belas palavras de Jayme de Altavila: "Os direitos dos povos esquivalem pracisamente 20 seu tempo @ se explicam no espaco de sua gestagdo, Absurdos, dogméticos, licides @ li- berais - foram, todavia, os anseios, as conquistas eos haluartes de milhdes de seres que, para eles, levantariam as mios, em gesto de siiplica ou de enternecide reconhecimento."? 4, Objetivos do Estudo de Historia do Direito A Histéria do Diroito é primordial para o estudante de Diteito na mo- dida em que o auxilia na compreensio das conexdes que existem entre 7 PRVTO, V.apued ARANHA,M. 1. do A. Martins, MH. PFlosofando:introdugao 3 flesofia ‘ko Paulo: Moderna, 1996, 8 BLOCH, Mare. Op. ct, p. 36. 5) ALTAVILA, Jayna de, Origem do direlto dos povos. 7. ed. So Paulo: one, 1989, p. 16 Histrin do Ditetea Gerad Bras asociedade, suas caracteristicas, ¢ 0 direito que produziu, "treinando-o" Para uma melhor visualizagdo © ontendimento do préprio direito, A Historia em si tem multo deste objetivo; ala 6, nas palavras de Collinqwood, para “autoconhecimento” nao somente pessoal ou social, mas também no exerciecio de tarefas profissionais, ‘Conhoeer-se a si mesmo significa saber 0 que se pode fazer. E como ninguém sabe © que pode antes de tent, a tnica indicacao para aquilo que ‘ohomem pode fazer & aquilo que jé fez, O valor da hiistéria esta ento om onsinar-nos o que o homer, tem feito e, deste, modo, o que o homem é,"10 Portanto, o valor do estudo da Histéria do Direito nao esta em ensinar-nos nao somente o que o dircito tem “feito”, mas o que o direito & Tendo isto em mente, podemos avancar neste estudo, buscando compreender nao somente as regras de povos que viveram no passado, mas sua ligagio com a sociedade que a produzi para assim, e somente assim, entender 0 “nosso” Direito. 5. Este Livro O Principal objetivo deste livro dar ao leitor um espectro geral da Histéria do Diteito a partir da compreensao da sociedade que envolve a elaboragao das leis. Tomando por pressuposto légico que no sio as leis que formam uma sociedade, mas que estas, historicas em si, so feitas a partir do que uma sociedade pensa ou deseja de si. Para que isto pudesse ser feito, dada a abrangéncia do tema, fo- ram escolhides cronologicamente alguns povos ¢ respectivas legis- Jagdes que pudessem contribuir para a compreensao da ligagao entre © povo e suas leis e/ou para o entendimento da legislae historia, ‘Tomando por base fontes secundarias de historia ¢ Diteito, bem ‘como fontes primérias relativas 4s leis propriamente ditas, analisamos pormenorizadamente, sempre que possivel, a conexiio sociolegal exis. 1o brasileira e cua, 30 COLLINGWOOD, R. G. A abla de Diskin Lishow: Prosenga 192, p. 17, Fivia Lagos de Gastro Assim podemos pensar de fato em uma Histéria do Diteito. Nao com um olhar descritivo sobre leis do passado que parecem ter surgido do nada, mas a partir do cardter, imengao e nogdes ce moral ¢ objetivos dos povos que acharam por bem escrever suas normas. CAPITULO I O DIREITO DOS POVOS SEM ESCRITA Embora algumas vezes as pessoas confundam Direito e Lei escri- ta, se partirmos do pressuposto de que um conjunto de regras ou nor- mas que regulamentam uma sociedade pode ser chamado (ainda que humildemente) de direito, todas as comunidades humanas que existem 0u existiram no mundo — indiferentemente de quaisquer caracteristicas que tenham ~ produziram ou produzem seu "Diteito”. 56 poiemos estudiar Histéria e, portanto, Histérla do Direito a par- tirdo advento da escrita (que varia no tempo de povo para povo), antes disso chamamos do Pré-histéria. A Pré-histéria do direito é um longo caminho de evolugao juridica gue povos percorreram e, apesar de podermos supor que foi uma es- trada bastante rica, temos a dificuldade, pola falta da escrita, de ter acesso a ela, Esta riqueza pode ser comptovada polo fato de as sociedades ao sarem pela primeira vez da escrita (e do direito escrito) j4 terem instituigées que dependem muito de conceitos juridicos, como casa- ‘mento, poder paternal ou maternal, propriedade, contrates (ainda que verbais), hierarquia no peder piblico ete. As origens do Direito situam-se na formagio das sociedados ¢ isto Temonta a épocas muito anteriores & esorita e 0 que se mostra mais interessante neste estudlo especificamente é que, dependendo do povo de que tratamos, esta "época” ainda ¢ hoz. Povos sem escrita ou grafos (a= necagao + grafos~ eserita) nao tém um tempo determinado. Podem ser og homens da caverna de 3.000 .C, ou os indios brasileiros até a chegada de Cabral, ou até mesmo as tribos da floresta Amazénica que ainda hoje nao entraram em contato com o homem brance. Diante desta multiplicidade de povos e tempos podiemos ‘somente comentar algumas caracteristicas gerais destes grupos. Em geral, no tém grande desenvolvimento tecnolégico ¢ somente uma minoria dos- tes tem agricultura. Séo, em sua maior parte, cagadores-coletores e co- mo tais sominémades ou némades. Os rovos agrafos que possuem © OOOO OO OOOOH OHOOCHEHHOHHHEOEETSEUVOE livia tagee do Cost agricultura séo sedentarios e todos eles, sem excegdo, baseiam seu dia adia em uma religiosidade profunda. Pela quantidade destes direitos e a diversiciade destes buscamos onto, como introdugao ao estude de Histéria do Diteita, apontar ca racteristicas ¢ fontes do dircito comuns que auxiliam na compreensao de um todo tio distinto. 1. Caracteristicas Gerais dos Dirt 10s dos Povos Agrafos!t \_ Sio Abstratos: como sao direitos nao escritos, a possibilidade de abstragao fica limitada. As regras devem ser decoradas e passadas de pessoa para pessoa da forma mais clara possivel. Y Sao Numerosos: cada comunidade tem seu préprio costume @ vive isolada no espago e, muitas vezes, no tempo. Os raros con: tatos entre grupos vizinhos (que porventura vivem no mesmo tempo e dividem o mesmo espago) tém como objetivo a guerra V_Siio Relativamente Diversificados: Esta distincia (no tempo e no ‘espago) faz com que cada comunidade produza mais disse- melhangas do que semelhangas em seus direitos, Sao Impregnados de Religiosidade: como a maior parte dos fendmenos sao explicados, por estes povos, através da roligidio, a regra juridica nao foge a este contexto. Na maior parte das vvoz05 a distingdo entre rogra religiosa e regra juridica torna-se impossivel, Sao Diroitos em Nascimento: a diferenca entre 0 quo 6 juridico © © que nao & muito dificil, Esta diotingéo s6 ze torna possivel quando 0 direito passa do comportamento inconsciente (deri- vvado de puro reflexo) 20 comportamento conscionte, fruto do roflexio. TT Werte ponto segulremos de pero es apuntamentos de CILISSEN, J. Tntrodugio histér- cea ao digelto, 2 od. Lisboa: CalousteGulbokan, 1986, p. 3135, isteia do Dieta oral Basi 2, Fontes dos Direitos dos Povos Agrafos Entendemos como “fontes de direito” tudo aquilo que é utilizado ‘como base ou “inspiracdo" para a feitura de regras ou codigos. Os povos agrafos basicamente utilizam os Costumes como fonte de suas normas, ou seja, o que é tradicional no viver e conviver de sua Comunidade torna-se reara a ser soguida.1? Entretanto, o costume nao é a tinica fonte do direito destes povos. Nos grupos sociais onde se pode distinguir pessoas que detém algum tipo de poder estes impdem regras de comportamento, dando ordens que acalbam tendo carater geral e permanente. © precedente também é utilizado como fonte. As pessoas que julgam (chefes ou anciéos) tendem a, voluntiria ou involuntariamente, aplicar solugées ja utilizadas anteriormente. 3, Transmissio das Regras Muitos grupos utilizam 0 procodimonto de, em intervalos regu- ares de tempo, terem suas regras enunciadas a todos pelo chefe (ou chefes) ou anciaos. Outras formas so os Provérbios e Adagios quo de-+ sempenham papel decisivo na tarefa de fazer conhecer as normas da comunidade. 720 correo malo: ou menor ga fn det Duo Us vanes tenlsiamente qv nope asco sn sociedade, por mais gow sua mocal como CAPITULO I AS PRIMEIRAS LEIS ESCRITAS E © CODIGO DE HAMMURABI 1. 0 Grescente Fértil as Primeiras Leis Escritas Ha um lugar no mundo onde quase tudo que consideramos “civie lizado" nascou: 0 Crescente Fértil, onde hoje esta o Iraque, uma parte do Ira parte de sous vizinhos, Este lugar tem este nome por causa da fertilidade que os rios Tigre e Eufrates dao a uma regido que 6 se- melhante a uma lua crescente de cabega para baixo. Nesta regido o homem primeiro dividiu as horas, os minutos ¢ os segundos em sessenta, fez tijolos e erigiu grandes construgdes com oles, criou (para a felicidade dos olhos e da alma) a jardinagem, inven tou 0 Estado e o Governo, fez as primeiras escolas, inventou a cerveja,.. Mas, a mais grandiosa invengao dessa gente da Mesopotdinia fol assar para uma superficie simbolos que expressavam idéias; a isso chamamos de escrita.19 © tipo de escrita que inventaram foi a cunei. forme. Nao se pode estranhar, portanto, que tenham sido estas pessoas 4s primeiras a terem leis esctitas. Tom-se noticia de um chefe da cidade. de Lagas de nome Urukagina, no tercelro milénio antes de Cristo, sor apresentado pelos textos de época como um grande legistador o reformacor. Rouzon informa, contudo, que as inscrigées de Urukagina nao transmitem leis ou normas legais, mas medidas sociais adotadas ara coibir abusos e cortigir injusticas vigentes.15 © compo de leis mais antigo que se conhece 6 0 de Ur-Nammu (fandador da texceira dinastia de Ur, 2111-2084 a.G.) do qual chegou até 439" Mesopotamia (~ entre os) foo ome dado patos grogos i regite onto os ise Tgte 14 *Gunelfrme: sltoma de exert, sem divide © mals antigo coahocid, o vuneletn (do Jatim cuncus, “ewe” e forma, fxm, fo. iaventada pelos smetianae soguremente de 0 de miléno, O vermo cuneiforme earactriza © aspecto angulosa des cisteeg har rosz09 om agi mica ou rarameate, em peda (~1.” AZEVEDO. A.C. dA Diciondte fe nomes, terraos ¢conceitosnistéecor io do Janel: Nova Rronain 1606 0 an 18 BOUAUN, sO Codigo de Hammurabl & wd, Ptsopols Wares 1008 eda PO-AmRA AAA Aen eesenae OOOO OHO OOOO HOHE OHEEO HEHEHE HHHHEHHHVSG Fiivia tages de Casto és somente dois fragmentos de um tablote de argila. Em 1948 outras, leis foram identificadas também na mesma regiao; sao as leis de Eshunna, No final de 1901 e inicio do 1902 d.C. uma expedigio arcquoolégica francesa encontrou uma estela (ou peda) de diorito negro de 2,25 mde altura contendo um conjunto de leis com 282 artigos, postos de ma- neira organizada, ao qual chamamos hoje de Cédigo de Hammurabi por ter sido feita a mando do Rei Hammurabi, que reinou na Babilénia entre 1792.0 1750 aC. 2. Algumas ConsideracSes Sobre as Leis Anteriores a Hammurabi Antos de tratarmos especificamente do Cédigo de Hammurabi & imteressamte que nos detenhamos, ainda que rapidamente, nas ca- racteristicas gerais das leis escritas anteriores a Hammurabi ‘Tanto Ur-Nammu quanto Eshunna foram reis de Cidades Estado no Crescente Fértil e do nome as primeiras leis escritas que conhe- ‘cemos; a influéncia que Ur-Nammu (sei sumeriano) exerceu sobre as, leis de Eshunna sao tao grandes quanto a que estas duas legislagoes provocaram no Cédigo de Hammurabi. A questao da justica, aliés, era importantissima ja para os sumerianos, desta forma explica Kramer: “A lei e a justiga eram conceitos fundamentais da antiga Suméria, que impregnavam a vida social € econémica sumeriana tanto na teoria como na ritica. No decurso do século passado {séc. XIX .C}, 08 arqueélogos revelaram, a luz do dia, mi Ihares de tabuinhas de argila representando toda espécie de documentos de orem juridica: con- ‘tratos, atos, testamentos, notas promissérias, re- cibos, acérdios dos tribunais. Entre os sumérios, © estudante mais adiantado consagrava uma grande parte de seu tempo ao estudo das leis ¢ exercitava-se regularmente na pritica de uma terminologia altamente especializada, bem como 16 A podia ou Eetela) pou ser vista hoje om dia no Maso do Louse, om Pais Haste do Ditto Geral e Bras! na transcrigho dos eSdiges legais © dos julga- ‘mentos que tinham formado jurisprudéncia."! O direito privado sumeriano reconhecia alguma independéneia em relagio ao marido. O divércio era realizado através de decisio judicial © poderia favorecer a qualquer dos conjuges. © repiidio da mulher acarretava uma indenizagao pecuniisia e somente era permitido pelos motives indicades pela lei. © adultério era um delito, porém sem conseqiiéncias se havia o perdido do marido. O filko que renogasse seu Pai poderia ou ter a mao cortada ou ser vendido como escravo. A esposa era responsivel polas dividas do marido, As leis penais dos sumerianos muitas vezes substituiam 0 Prin- ipio da Pena de Taliéo (que sera explicado a sequiz) por multas ou por indenizagoes legais. 3. A Babilénia de Hammurabi Embora a Babilénia mais famosa soja a do rei Nabucodonosor (séc. V a.C.) por causa da participagio deste na Histéria dos Hebr contada na Biblia, a Histéria da Babilénia remonta o segundo milénio Ga era pré-Crista, quando um grupo némade (arcadiano) fixou-se em ‘uma localidade chamada Babila ou Bab lim (Babilénia ou Babet ~ porta de deus), is margens do rio Eufrates, O xeque deste grupo arcadiano, Sumuabum (1894-1881 a.C.), co- ‘megou a expansao territorial da babildnia, mas foi sou successor, Sumu- la’el (1880-1845 a.C.), que, com vitorias sucessivas sobre os vizinhos, consolidou a independéncia da cidade. Os teis posteriores incorporaram a cultura suméria ¢ somaram-na 4 cultura arcddicn; entretanto, em termes de expansio territorial somente em 1792 a.C. com a ascensio ao poder de Hammurabi a Babi- nia cresceu em poder. Este rei, com imonsa habilidade em politica de aliangas, mais que dobrou o territério que seu pai havia deixado, © rei Hammurabi constriiu um grande império que abrangia os territérios dominados anteriormente pela dinastia de Agadé - do mar Imferior o do Elam até a Siria e o litoral do Mediterraneo. Ele assumit: 0s titulos de roi de Sumer, rei de Acad, rei das Quatro Regides, roi do 7T7” KRAMER apud GIORDAN!, 2 C Histérin da antiguldade orton, 1, ed Yozos, 2008 9.138 eee livia Lages do Castro Universo e, 0 mais interessante: “Pai de Amusru” (Amurru significa Ocidente), Hammurabi nao foi apenas um grande conquistador e um ex- celente estrategista; foi, antes de mais nada, um eximio administrador. Conforme afirma Emanuel Bouzon: "Seus trabalhos de regulagem do curso do Bufrates © a construgio conservagao de canais, para a irrigagdo e para navegagao incrementaram enormemente a produgao agricola ¢ 0 comércio. Em sua politica externa Hammurabi preocupou- se, sempre, em reconstruir as cidades vencidas ‘em reedificar ¢ ornamentar ricamente os templos dos douses locals (..)."¥8 a am (0 poder judlicifrio, na Caldéia anterior a0 roinae do de Hammurabi, era exercido nos templos pelos sacerdotes em nome dos deuses. Na Babilénia, desde 0 inicio da I dinastia, comegaram a ser or ganizados, & imitagao do que ja existia em Sumner, tribunals civis depondentes diretamente do so- berano. Hammurabi conferiu & justiga teal supre- macia sobre a justiga sacerdotal; deu-Ihe unifor- Te BOUZON, &. op. ci, p20. 4 stra do Dieta Gora Basi midiade de organizagio e regulamentou cuidado- Samente o processamento das ages, compreen- dendo nessa regulamentagéo a propositura, © recebimento ou nao pelo juz, a instragio com- Pletada pelo depoimento de testemunhas o diigéncias “in loco" e, fnalmente, a sontenga. Foi estabelecida entao uma organizagio judiiéria ue inclula até 0 ministério pitblico © um diveito processual,"!9 Apés a morte de Hammurabi a dinastia manteve-se por aproxi- ‘madamente 150 anos, mas em 1594 os Hititas invadiram e incendiaram 4 Babilénia, abandonando-a em seguida, A queda da dinastia de Hammurabi fez asconder 05 Cassitas que iniciaram um novo periode da Historia da Babilénia, 4. Sociedade e Economia da Babilénia Hammurabiana A Sociedade da Babilénia da época de Hammurabi 6 dividida, conforme indica 0 préprio cédligo, em trés camadas sociais: V Os “awitum”: 6 homem livre, com todos os direitos de ‘cidadao, Este é 0 maior grupo da sociedade hammurabiana ¢ comprocn. Gia tanto ricos quanto pobres desde que fossem livres, Y Os “muskénum’: séo uma camada que ainda suscita muita Giivida por parte dos estudiosos, Parecem ter side uma camada intermediria entre os awilum e os escravos, formada por fun, cionatios piblicas, com direitos e deveres especificos, Os escravos: exam a minoria da populagdo, geralmente prisio- neiros de guerras,29 A economia era basicamonte agricola e u iaior parte cas terras era de propriedade do Palacio, ou seja, co governo, Mas havia comércio © este era bastante forte, principalmonte o externa conforme mostra o 419, GIORDANL Mt. . Histéria da Antiqued pct p. 166 2 OCéige de Haman dw nme de wana fa um para eacravos e ameum para escavas 1s © OOOO OY UO WHEW EEUU OOOOH HOHOHHOHSEE Fllvia tages de Cast préprie Cédigo que afirma existirem inclusive banqueitos que finan- ciavam as expedicoes. © pequeno comércio varejista estava nas maos de mulheres, as “taborneiras" que vendiam ndo somente bebidas, mas também géneros de primeira necessidade. O vefculo de pagamento, que hoje denominamos moeda, era a cevada ou a prata, Assim nos indica 0 Cédigo de Hammurabi: “Se uma tabemeira nao aceitou cevada como prego da cerveja, (mas) aceitou prata em peso grande ou diminuiu o equivalente de cerveja em. relagio a0 curso da covada, comprovario (i550) contra a taberneira e a langardo na dgua."2 4.1, Questées Acerca dos Escravos A medida que utilizaremos amplamenta, principalmente na An- tiguidade, a nogio de escravidao, faz-se necessario empenhar-nos em entender 0 que significa a Instituigdo Escravidéo, Isto faremos levando em conta a Escravidao como wm todo, néo somente na Babilénia, que & © toma deste Capitulo. Definir escravidao ndo é somente considerar que todo aquele que trabalha sem nada receber ¢ escravo: muitos de nés serfamos, até mes mo 05 honrados voluntirios que oxistiram e existem no munca, cole cados nesta posigéo, que nao é vordadeira no caso deles, Escravo é propriedade, bem aliendvel, ou seja, algo que pode ser comprado, vendido, alugado, dado, eliminado... Escravo é, portanto, coisa. Na Antiquidade nao era condigdo imperiosa ser de outra raga para tomar-se escravo. De fato, a escravidao originava-se de guerras —quan- do 0 individuo era, apés a derrota de seu grupo, pego pelos vencedo res ~j de dividas ~ quando 0 individuo penhorava o préprio corpo ou de ‘um membro da familia, como garantia de pagamento ¢ nao 0 fazia ~ ou por nascimento. Assim define o Diciondrio de Nomes, Termos e Conceitos Histéricos: “Institui¢ao secular earacterlzada pela situagio do individuo juridicamente considerado um obje- 6 “Hiscria do Ditto Geral Bras 10, do qual outra pessoa pode disper liveemente exercendo direitos de propriedade. A eseravidio ‘conheceu extraordinaria difusaa no munilo anti- 90, originando-se, de modo geral, da querra ~ ce leiro inesqotivel -, das dividas © da heredita- Hledlade (.,)."22 Ofilésofo grego Aristételes explica a eseraviclao desta forma: A produgéo precisa de instrumentos dos quais uns so inanimads ¢ outros, animados. Todos os wrabalhadores sao instrumentos animados neces- sitios, porque of instrumentos inanimados no 80 movem espontaneamente (as langadeiras nao tecom panos por si préprias). O escravo, instm- mento vivo como toco trabalhador, constitu: ademals “uma propricdade viva’. A nogao de pro- riedade implica a de sujeigao a alguém fora dela (08 5, Alguns Pontos do Cédigo de Hammurabi a) A Pena de Taliao © Principio da Pena ou Lei de Talido 6 um dos mais utilizados por todos os povos antigos. £ apontado por alguns como sondo a primeira forma que as sociedades encontraram para estabelecor as penas para seus dolitos, Este principio, que é exemplificado na Biblia coma frase “olho por otho, dente por dente, nao é uma tel, mas uma idéia quo indica que a ena para o delito é equivalente ao dano causado nesto. Assim send, ninguém softe “pena de taligo", mas, baseado neste principio, soft como pena o mesmo sofrimento que impée ao cometer o crime. 22 RISVEDO, Antonio Cates do Amatal,Diionésio de nomes, termos ¢ conesitos his tirion. Rio do Janeio: Nova ranteita, 1990. 187, 29. ARISTOTELES spud GORENDER Jacob. 0 ‘teraviema rolonia. 839 Gute: Ate, 1860, ” Flivia tages de Caso 0 Cédigo de Hammurabi utiliza muito este principio no tocante a danos fisicos, chegando a aplicé-lo radicalmente mesmo quando, para conseguir a equivaléneia, penaliza outras pessoas que nao o eulpado, "Se um awilum destruiu o olho de um outro awilum, destruirdo seu olho."24 “Se um construtor edificou uma casa para um awilum, mas nf reforgou seu trabalho, ¢ a casa, ‘que construi, caiu e causou a morte do dono da ‘casa, esse construtor sera morto."25 "Se causou a morte do filho do dono da casa, matardo o filo desse construtor."26 0 Principio da Pena de Talido néo contava quando os danos fisicos oram aplicados a escravos A medida que estes podem ser definidos como bens alienaveis; o dano contra um bem deve ter ressarcimento material. ) Falso Testemunho © falso testemunho ¢ tratado com severidade pelos povos antigos porque provas materiais eram mais dificois; assim sendo, contavam ~ ha maior parte des processos ~ somente com testemunhas. 0 Cédigo separa uma causa de morte de uma causa que envolve pagamento, nesta titima 0 énus do falso testemunho é o pagamento da pena do processo. Em outros casos a sang para falso testemunho ¢ a Pena de Morte. “se um awilum apresentou-se em um proceso com testemunho falso e nao pode comprovar 0 ‘que disse: se ease procosso é um proceso capi tal, esse awilum sara morto."27 wm 5136 25 52 26 $230. 10 istria do Dieta Garale Brasil “Se a aresoniou com um tosemune (azo om causa) do covada ou prata: ee cartegar a penn desse processo.” 28 me c) Roubo e Receptagao © Cédigo Hammurabiano penaliza tanto 0 que roubou ou furtou quanto 0 que recebeu a mercadoria roubada, “Se um awilum cometeu um assalto @ foi preso: esse awilum sera morto."29 “Se um awilum roubou um bem de propriedade de um deus ou do paldcio: esse awilam sera ‘morto; ¢ aquele que recebeu de sua milo 0 objeto roubado sera morto."30 d) Estupro __O estupro sem pena alguma para a vitima era previsto neste cédigo somente para "vicgons casadas" (como na legislagio mosaica), ou seja, mulheres que, embora tenham o contrato de easamento fir. mado, ainda nao coabitavam com os maridos. #¢ um awilum amarrou a esposa de um (outro) awrilum, que (ainda) néo conhecou um homem ¢ mora na casa de seu pai, dormiu em seu seio, ¢ 6 Surpreanderam, esse awilum sord morto, mas a mulher seré libertada."31 ¢) Familia © sistema familiar da Babildnia Hammurabiana era patriarcal ¢ 0 casamento, monogamico, embora fosse admitido o concubinato, Esta aparente diserepancia era resolvida pelo fato de uma concubina jamais 90% a 22 30 §00. at bam. 19 COO OOO OO HEHEHE OHHH OEEHHEHHOHHEHEUHOG ‘via Lagos do Casto ter 0 “status” ou os mesmos direitos de esposa. O casamento legitimo era somente valido se houvesse contrato: “So um vellum tomou uma esposa e nao redigiu © seu contrato, essa mulher nao 6 esposa."S2 Havia também a possibilidade de casamentos entre as camadas sociais e 0 cédigo nfo somente admitia isto como regulamentava a heranga dos filhos nascidos deste tipo de casamento: “Se um escravo do paldcio ou um eseravo de um muskénum tomou por esposa a filha de um awilum ¢ ela Ihe gerou filhos, © dono do escravo no poderd relvindiear para a escravidao os filhos da filha de um awilum."3 Ocasamento era no que chamamos hoje bens" ragime de comunhao de depois que a mulher entrou na casa de um awilum, recaiu sobre eles uma divida, ambos dovordo pagar ao mercador."3 1 Escravos Havia duas maniras basicas de tomar-se escravo nao somente na Babilénia, mas também na Antiguidade como um todo. Como prisionelro de guerra ou por no conseguir pagar dividas e assim ter que entregar-se a si mesmo, a esposa ou aos filhos, mas Hammurabi (assim como os Hebrous posteriormente) vai limitar o tempo desta escravidao por divida. "Se uma divida pesa sobre um awilum e ele vendeu sua esposa, seu filho ou sua filha ou os ‘entregou em sorvigo pela divida, durante és anos trabalhario na casa de sou comprador ou mo MBS, striae Dieta Geral Basi daquele que os tém em sujeigéo, no quarto ano ser concedida sua libertagio." 35 ‘Uma escrava, tomada como concubina por seu senhor ou dada por ‘sua senhora ao marido, tinha uma sitagio bastante interessante se dosse a este filhos que ele reconhecesse, Ela nao mais poceria ser vendida conforme atesta 0 artigo 146 do referide Cédigo, 4g) Divorcio © marido podia repudiar a mulher nos casos de recusa ou negligéncia em “seus deveres de esposa e dona-de-casa’ Qualquer dos dois conjuges podia repudiar o outro por ma con: duta, mas neste caso a muller para repudiar homem deveria ter uma conduta ilibada, "Se uma mulher tomou aversio a seu esposo © disse-Ihe: "Th nao teris relagées comigo’, seu caso sor’ examinado om sou distrite, Se cla se ‘guarda ¢ ndo tem falta e seu marido é um saidor © a despreza muito, essa mulher nio tem culpa, ola tomard seu dote e ird para casa de seu pai."36 h) Adultério Somente a mulher cometia crime de adultério, o homem era, no méximo, etimplice. Desta forma, se um homem saisse com uma mulher asada, ola seria acusada de adultério ¢ ele de ctimplice de adultério ¢ 0 a mulher fosse solteira, nao comprometida, nao havia crime nem cumplicidade, mesmo porque este é um povo que admite concubinato, ‘Quando pegos, os adiilteros pagavam com a vida, entretanto Cédigo prevé o perdao do marido: “Se a esposa de um awilum for surpreendida dormindo com um outro homem, eles os amarrario @ os langario n'gua, Se © esposo a Flivig Lagos do Gasco deixar viver sua esposa, o rei também deixard viver seu servo."37 4) Adagio Esta sociedade foi bastante humana no tocante & adogao, veja: = Se uma crianga fosse adotada logo apés seu nascimento, nio poderia mais ser reclamada, = Se a ctionga fosse adotada para aprender um oficio e 0 ensi- namento estivesse sendo foito, ela ndo poderia ser reclamada, Caso este ensino nao estivesse sendo feito, o adotado deveria voltar a casa patemna. = Se acrianga, ao ser adotada, ja tivesse mais idade e reclamasse por seus pais, tinha que ser devolvida, = Em outros casos, se 0 adotado renegasse sua adogao, seria severamente punico ~ Seo casal, apés adotar, tivesse filhos e desejasse romper 0 con- trato de adogio, 0 adctado teria direito a uma parte do patri- ménio deles a titulo do indenizagao.38 §) Heranga No caso da diviséo da heranga, a sociedade hammurabiana néo previa a primogenitura, ou soja, os bens nao ficavam somente com © fillio mais velho, entrctanto oste poderia, na hora da partilha, set © primeiro a escolher sua parte. A tendéncia era sempre dividir em partes iguais indiferentemonte de quom era a mée da crianga, bastava o reconhecimente do pai. Se a primeira esposa de um awilum The gerou. fhos ¢ a sua escrava lhe gerou filhos, (se) © Pai durante a sua vida, disse aos filhos que a escrava the gerou: 'Vés sois meus filhos' e os contou com os filhos da primeira esposa, depois que 0 pal Snorres, os filhos da primeira esposa e os filhos da fscrava diviitéo om partes iguais os hens da casa ‘atria do Diroito Gora Brast paterna, mas 0 herdeiro, filo da primeira esposa, escolherd entre as partes e tomara para $i."39 Estavam excluidas da heranga as filhas jé casadas, pois estas ja haviam recebido o dote. As filhas solteiras, quando casassem, recebe- riam sau dote das maos dos irméoa.40 ‘Mas os filhos, mesmo reconhecidos, ou frutos de casamento, podiam ser deserdados, mas para isto deveria haver um exame por parte dos juizes, “Se um awilum resolveu deserdar seu filho © disse aos juizes: ‘fu quero desercar meu fluo’, os juizes examinardo a questo. Se 0 filho nao come- teu falta suficiontemente grave para exchii-lo da heranga, 0 pai nao poderd deserdar seu filo. 9 Proceso As leis babilénicas desta época permitem e prevéem a mistura do sagrado e do profano no julgamento, embora a justiga leiga tenha tido maior importineia que a sacerdotal & época de Hammurabi. Um juiz odia ser um leigo, um sacordote ¢ até forgas da naturoza como neste caso onde quem “julga” 6 0 rio: “Se um awilum langou contra um (outro) awilum (uma acusagéo do) foiticaria, mas nao pode comprovar: aquele contra quem foi langada (a acusagio de) feitigaria iré ao rio e mergulharé no tio, Se 0 rio purificar aquele awilum ¢ ole sair ile- 0; aquele que langou sobre ole (a acusagao de) feitigaria seré morto © 0 que morgulhou ne rio tomara para si a casa de seu acusador."42 0 juiz leigo nao poderia, contudo, alterar seu julgamento apds o encerramento do process sim, 40 s§1030% a1 8168. 2 OW OOOOH OOOO HOHE OOOOH EHH EHCOHOEHHHHHE Fiivia Lages de Casto "Se um juiz fez um julgamento, tomou uma de- cisdo, fez exarar um documento selado e depois alterou 0 seu julgamento: comprovario contra esse juiz a alteragao do julgamento que fez: ele pagar, entdo, deze vazes a quantia reclamada nesse process e, na assembléla, fé-lo-so levan- tarse do seu trono de juiz. Ele nfo voltaré a sentar-se com os juizes em um proceso." 1) Trabalho © Gédigo de Hammurabi aborda leis sobre trabalho. Ele, por exemplo, prevé e pune o erro médico:*4 "Se um médico fez em um awilum uma operagio dificil com um escapelo de bronze e causou a morte do awilum ou abrlu o nakkaptum de um awilum com um escapelo de bronze e destruit 0 olho do awilum, eles cortardo a sua mio."45 ‘Ao mesmo tempo este Cédigo é 0 primeira que conhecemos indicar néo somente o pagamento que um médico deve ter, mas tam- ‘bém 0 pagamento de iniimeros profissionais como lavradores, pastores, tijoleiros, alfaiates, carpinteiros etc.‘ 1m) “Defesa do Consumidor" ‘Na Babilénia de Hammurabi havia lois que protegiam os cidadaos do mau prestador de servigos, pelo menos em alguns casos (pocle-se atestar esta idéia j4 no pardgrafo 108 - o que trata da tabemeira - citado anteriormente): 05, $300 erro moaieo ft eomoudo em um eseravoo resseccimenta & material Gai Embora muitas partes destos paryrafos tenia sido epagadas pelo ‘confer esta lista de "honoririos"e pagamontos nos patigratos 21832 mez, pe, pocemos 1-257, 261,271, Py 7 gm a0 205 Histxia do Diroito Goral e Beast “Se um pedreiro contreiu uma casa para um awilum @ nfo executor © trabalho adequada. mente @ o muro ameaga cait, esse pedreiro devera reforgar o muro as suas custas."*7 “Se um barquelro calafetou um barco para um aviilum © no oxceutou © seu trabalho com cui dado © naquele mesmo ano esse barco adernou ou soffen avatia, 0 barquetio desmontard esse bbarco, roforgilo-a com seus proprio recursos, & entregara 0 barco reforgado ao proprietirio do barco."40 2% CAPITULO II DIREITO HEBRAICO 1. Introdugao Os Hebreus sao um povo de origem semita que vivia na Meso- potdmia (entre 0s rios Tigre e Eufrates no Crescente Fértil) no final do segundo milénio a.C. Por esta época iniciaram um doslocamento que terminou por volta do século XVII a.C, na regiao da Palestina. A Palestina pode ser dividida em varias ragiées: uma de planicie casteira a0 longo do Mediterraneo, uma de picoe olavador no ecntro, © outra, 0 curioso vale do Jordao, que fica quase totalmente abaixo do nivel do mar. A terra dos Hebreus tem, portanto, © mar Mediterraneo de um lado, 0 deserto de outro @, o mais importante, a qualidade de ter sido 0 local de passagem entre a Africa @ a Asia, isto 6, 0 Egito e a Mesopo- tmia, Os Hebreus, como a maioria dos povos da regio, eram agri- cultores ~ pastores. Viviam do pastoreio de ovelhas e, principalmente, cabras, do plantio de uvas, trigo, ¢ outros produtos. Mas havia neste ovo um diferencial que na Antiguidade era nico: eram Monoteistas {mono = um, théos = deus). Esta caracteristica marca toda a histéria desse povo, bem como toda e qualquer produgéo cultural que tenham realizado. A Histérla destas pessoas pode ser acompanhada pela Biblia, ‘mais especificamente pelo Antigo Testamento, que ratine a Tord (ou a Lei), os Profetas e os Escritos. O Novo Testamonto inclui a histéria (e 03 ensinamentos) de parte dos Hebreus que acreditaram que Jesus é 0 ‘Messias que 0 Antigo previa Eles acreditavam em um sé Deus, cue por vontade prépria havia se revelado a um Patriarca, Abrado, ¢, a partir deste momento, iniciou um relacionamento entre Ele e os quo ciamava de “Povo Escelhico”. Este era sou diferencial, os tinicos da face da terra com um Deus, iniciando a histéria do monoteismo que hoje ¢ dominante no mundo.43 @ Gat

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