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Ciências e Cognição 2012 - Anais do II Encontro Ciências e Cognição

Organização Ciências e Cognição (Org.), Anais, Ciências e Cognição 2012 - II Encontro Ciências e Cognição. 28 a
30 de março de 2012. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 2012.
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Ciências e Cognição 2012 – II Encontro Ciências e Cognição

Atividade: IV Seminário Ciências e Cognição: Neurociências Aplicadas à Educação


Seção: Neuroestética
Palestra [Trabalho Completo]
Para citação (APA):
Beresford, H., Junior, E.D., Cardoso, F.B., & Silva, I.C.L. (2012). Neurociências, Arte e
Filosofia [Trabalho Completo]. Em: Ciências e Cognição 2012, Anais do II Encontro
Ciências e Cognição (online). Rio de Janeiro: Ciências e Cognição. Disponível em:
http://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/ecc

Neurociências, arte e filosofia


Neuroscience, Art and Philosophy

Heron Beresford, Enio Dias Junior, Fabrício Bruno Cardoso, Íris do Céu Lima e
Silva

Laboratório de Temas Filosóficos em Conhecimento Aplicado (LABFILC),


Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro/RJ.

1. Considerações Iniciais

Este ensaio tem por objetivo apresentar, ainda que resumidamente, as questões
relativas à natureza, ao fim e como se processa a experiência da beleza ou do belo,
assim como também, as relações entre atividade estética com outras atividades
humanas, mais especificamente no âmbito da neuroeducação, da cognição, das artes,
da música, da dança, dos esportes, entre outras.
Todavia, para efeito de delimitação deste estudo, evidencia-se que isso será
feito com o foco preferencial ou principal em torno da seguinte questão norteadora do
ensaio: A obtenção do conhecimento relativa ao tema da beleza ou do belo é
essencialmente de natureza objetiva ou subjetiva?
Também se destaca que este ensaio será finalizado com uma singela descrição
que propõe uma alternativa de aplicação belo no âmbito da educação em geral e de
forma muito particular e especial com um enfoque neuroeducacional.

2. Uma Interpretação acerca de Como se Processa a Experiência da Beleza ou do


Belo: A Objetividade Versus a Subjetividade na Filosofia migrando para a
História da Arte.

A dificuldade de se obter uma concepção universal acerca da beleza ou do belo


não é um problema apenas nos dias atuais. Já na Grécia Antiga Sócrates (469-399 a.C)
havia indicado que toda beleza é difícil.
Fazendo-se um corte sincrônico na perspectiva histórica da filosofia e também
sem a menor pretensão de se estabelecer algum rompante de originalidade, mas sim de
apenas se fazer um singelo, porém importante recorte ou delimitação em um enfoque

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acerca do tema da beleza ou do belo evidenciam-se duas perspectivas de estudo muito


bem pontuadas no Período Antigo ou Clássico.
A primeira que define a beleza como uma idéia objetiva. Como exemplo pode-
se citar Aristóteles, pois para ele os principais critérios ou formas de se conhecer a
beleza giram em torno das questões com a ordem, a simetria e a definição clara que
se encontram nos entes portadores de tal valor.
Como segunda perspectiva para se alcançar a beleza, pode-se, como exemplo
mencionar o pensamento de Platão, pois o mesmo defende o ponto de vista que a
beleza é determinada pela experiência de prazer suscitada pelas coisas belas.
No Período Moderno, mais especificamente no Renascimento, surge no
pensamento Kant (1724 - 1804), na Crítica do Juízo (1790), uma espécie de síntese
para tentar superar os posicionamentos entre esses dois pólos antitéticos oriundos entre
os pensamentos de Platão e Aristóteles. Isso porque Kant distinguiu a beleza de
qualquer juízo racional ou moral.
Desse modo, defendeu o caráter não determinado do juízo estético, pois
quando se afirma que algo é belo isso é feito sem ter por base um conceito que
respeite essa afirmação, ainda que supostamente seja válida para todos.
A beleza até então era algo que a razão não poderia compreender, a arte era
quem transpunha o incognoscível absoluto e pelos símbolos trazia o ideal para o real.
O que tornava a arte apreciável até então era o prazer do deleite com o belo, a
influência moral que exercia sobre natureza humana.
Para Kant, o juízo estético é oriundo do sentimento e funciona
no Homem como intermediário entre a razão e o intelecto. A função da razão é
prática, já função do intelecto é elaborar teorias sobre os fenômenos.
Os fenômenos que são percebidos pelos sentidos através da intuição,
transformam-se em algo compreensível o que permitiria a emissão de um juízo
estético.
Tal juízo não conduziria a um conhecimento intrínseco do objeto, portanto não
teria um valor cognitivo, nem tampouco seria um juízo sobre a perfeição do objeto ou
fenômeno, sendo correto independentemente dos conceitos ou das sensações
produzidas pelos objetos.
Os sentimentos de prazer e desprazer em Kant estão ligados as sensações
estéticas e pertencem ao sujeito, são estes sentimentos subjetivos, não racionais que
emitem o conceito do belo, são eles que formam o juízo do gosto.
A percepção de um objeto ou fenômeno que instiga a sensação de prazer
provoca a fruição ou gozo e a essas sensações damos os nomes de belo, bonito e
beleza.
Em outra obra intitulada de “Crítica da Faculdade do Juízo”, Kant consegue
realmente estabelecer uma harmonia entre sentimento e razão, referindo-se ao
conhecimento do valor estético inserido na aplicação de seu método crítico ao mundo
do belo, onde estudo tanto a beleza quanto o juízo do gosto.
Ao tratar do valor do belo, ele nos diz que este valor é considerado como um
objeto de um prazer necessário, ou uma necessidade subjetiva, pois julgar algum ser,
belo, não é uma necessidade lógica, ou experimental, e sim, uma necessidade pessoal
(por isso o imperativo estético).
Nessas condições, é, portanto, uma ordem que repousa sobre fundamentos a
priori de nossa consciência estética, a qual nós faltamos se julgamos de outro modo.

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Segundo Kant (1993) esse prazer estético funda-se no livre jogo das
faculdades, mais especificamente, na harmonia entre a imaginação e o intelecto. Ou
em suas próprias palavras:

Visto que a liberdade da faculdade de imaginação consiste no fato de que esta


esquematiza seus conceitos, assim o juízo do gosto tem que assentar sobre uma simples
sensação das faculdades reciprocamente vivificantes da imaginação em sua liberdade
e do entendimento com sua conformidade a leis, portanto sobre um sentimento que
permite ajuizar o objeto segundo a conformidade final da representação (pelo qual um
objeto é dado) à promoção da faculdade de conhecimento em seu livre jogo e o gosto
como faculdade de juízo subjetiva contém um princípio da subsenção, mas não das
instituições sob conceitos e sim da faculdade das intuições ou apresentações (isto é, da
faculdade da imaginação) sob a faculdade dos conceitos (isto é, o entendimento), na
medida em que a primeira em sua liberdade concorda com a segunda em sua
conformidade a leis (p. 133-134, grifo nosso).

Através dos destaques tipográficos da última citação, nos permite abstrair para
esta pesquisa, que, Kant considera, pelo menos com relação ao conhecimento ocorre
com o sentimento, e que a razão representada pelo entendimento e ao ser despertada
pelo sentimento, contribui de forma harmônica e ampla para tal ato cognoscitivo, ou ao
juízo do gosto.
E mais, que o método de aquisição do conhecimento do valor estético, ou do
belo, não é racional em termos de dedução, mas sim o da intuição emocional e/ou
fenomenológica.
Muito embora o pensamento estético kantiano tenha sido e continua sendo de
um marco ou uma referência básica para os filósofos que o sucederam, alguns deles
divergem de tão ilustre pensador e outros procuram, de alguma forma apresentar
formulações que procurem atualizar ou dar continuidade para o que fundamentalmente
foi por ele apresentado e, que por isto mesmo, são considerados como neokantianos.
Um dos pensadores que dele diverge e que merece destaque para este trabalho é
o filósofo Contemporâneo Greenberg (1909 - 1994), pois, segundo este, os dois
enunciados sobre o belo, um que acentua os aspectos objetivos e o outro que sublinha
a apreensão subjetiva ainda permanece vivo.
Isso porque o duplo modo de conceituação da beleza é utilizado ao longo da
história da arte, desde a Grécia Antiga. Ele é reanimado na oposição entre o belo
clássico - objetivo, universal e imutável - e o belo romântico - que se refere ao
subjetivo, ao variável e ao relativo.

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Figuras 1 e 2 - “Vênus de Milo” (Sec. I a.C.) atribuída a Praxíteles, em 350 a.C.; “Davi” (1501-1504)
de Michelangelo Buonarroti (1475 - 1564)

Todavia, destaca-se que, se a dicotomia “belo clássico versus belo romântico”


tem utilidade para definir contornos mais amplos, não deve levar ao estabelecimento
de uma oposição radical entre os modelos, que se encontram combinados em
diversos artistas e obras.
O belo clássico define-se na arte grega com base ou no critério em um ideal
de perfeição, harmonia, equilíbrio e graça que os artistas procuram representar pelo
sentido de simetria e proporção.
No Período Moderno, mais especificamente a arte renascentista italiana retoma
o projeto de representação do mundo com bases nesses critérios em um ideal de
perfeição, harmonia, equilíbrio e graça representados pelo sentido de simetria e
proporção.

Figuras 3, 4 e 5 - “Sibila Líbia no Teto da Capela Sistina” (1508 – 1512) de Michelangelo Buonarroti
(1475 - 1564); Ninfa Galatéia (1514) de Rafael (1483 – 1520); “Ninfa dorniente” (1822) de Antonio
Canova (1757 -1822).

A visão romântica anuncia a ruptura com a racionalista da Ilustração.


Se o belo clássico remete à ordem, ao equilíbrio e à objetividade, o belo
romântico apela às paixões, às desmedidas e ao subjetivismo.
O belo romântico, longe de ser eterno, é social e historicamente
condicionado.
O cerne da visão romântica do mundo é o sujeito, suas paixões e traços de
personalidade, que comandam a criação artística.
A imaginação, o sonho e a evasão; os mitos do herói e da nação; o acento na
religiosidade; a consciência histórica; o culto ao folclore e à cor local são traços que
definem os contornos do ideal romântico do belo.

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Figuras 6 e 7 - “O Viajante sobre as Nuvens” (1818) de Caspar David Friedrich (1774 - 1840);
“Paisagem nas Montanhas da Silésia” (1815 -1820) de Caspar David Friedrich (1774 - 1840).

Figuras 8 e 9 - “Os Fuzilamentos do 3 de Maio”(1808) de Francisco José de Goya y Lucientes (1746 -


1828); “Marcella” (1910) de Ernst Ludwig Kirchner (1880 - 1938).

O "feio" permanece também idealizado como indica G.C. Argan ao descrever


que o "feio" é uma expressão do que seja o belo decaído e degradado.
Na arte moderna do século XIX – o impressionismo, juntamente com o
romantismo e o realismo, assume uma atitude crítica em relação às convenções
artísticas e aos parâmetros do belo clássico, sancionados pelas academias de arte.
A industrialização em curso e as novas tecnologias colocam desafios ao
trabalho artístico, entre eles, as relações entre arte, técnica e ciência, exploradas por
parte significativa das vanguardas construtivas do século XX.
A disputa entre o belo, o útil e o funcional assume o primeiro plano com o
construtivismo russo, por exemplo, que almejam matizar as fronteiras entre arte,
artesanato e produção industrial.
Nos movimentos antiarte como o dadaísmo, por sua vez, as distâncias entre
arte e vida cotidiana são abolidas, o que obriga a redefinição da arte e de suas
interpretações.
A ampla e variada produção do Século XX impõe a reavaliação das medidas
de aferição do trabalho artístico.
Greenberg indica a impossibilidade de aplicar normas, padrões e preceitos
para a emissão de juízos críticos.

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Para ele, os juízos estéticos são somente a experiência, e a reflexão acerca


da mesma, permitiria distinguir a arte de boa qualidade das demais.
Na segunda metade do século XX, com o surgimento da arte pop e
o minimalismo, quando as categorias usuais para pensar a arte, como a pintura e a
escultura, perdem a razão de ser, a discussão sobre os juízos artísticos se torna
ainda mais complexa.
Todavia, é justamente nessa referida metade do XX que surge na filosofia a
axiologia, ou seja, o estudo, teoria ou doutrina acerca dos valores que, de certa forma
se constitui no campo mais recente na história do saber filosófico.
Portanto, é justamente a axiologia que pode trazer contribuições significativas
para com ontologia ou a gênese e também com a gnoseologia e a epistemologia ou a
teoria do conhecimento geral e científico acerca de todos os tipos valores de uma
forma mais ampla.
Da mesma forma para com o tema do valor da beleza ou do belo e também
com a problemática da estética de forma muito particular relativa à aplicação deste
tema e problemática não só para as artes como também na moda, na música, nos
esportes e outras áreas do conhecimento humano e, mais ainda, de forma muito
especial na Educação, por ser esta o alicerce em que toda a sociedade deve ser
construída.

3. Uma Proposta Neuroeducacional para um Trabalho Transversal.

Foi visto que alguns autores defendem que o tema da beleza ou do belo deva
ser enfocado com exclusividade, ou de forma independente da interferência de outros
temas, problemáticas ou questões devido aos seus aspectos peculiares próprios.
Todavia, pensamos ao contrário, pois a beleza ou o belo deve ser um dos
valores básicos de uma proposta educacional fundamentalmente humanizada e, que,
para isto, não deve estar dissociada do tema do agir humano, baseada nas
problemáticas da moral e da ética.
Uma referência básica para fundamentar tal ponto de vista, vem do ideário da
Kalocagathia concebido, originalmente, no Período Antigo ou Clássico da nossa
Civilização Ocidental. Para vermos algumas particularidades de tal ideal, inicialmente
pergunta-se:
- Afinal, qual é a essência do ideário da Kalocagatia?
- A resposta é esta:
Que o Homem para ser Bom ele tem que ser Belo, e que para ser Belo e tem
que ser Bom.
Destaca-se assim, a justa preocupação para com uma ampla visão de Homem
designada por termos como integral, global e holista, entre outros, sempre nos
apontando para um mesmo rumo, ou seja, a imperiosa necessidade de se alcançar uma
interação, equilíbrio ou harmonia entre as dimensões micro e macro-cósmicas de
um ser humano.
Na dimensão micro-cósmica, aparecem os desafios de interação, equilíbrio
ou harmonia entre as estruturas exteriores ou visíveis com as propriedades
interiores ou invisíveis do Homem, ou, noutras palavras, entre o corpo físico e
biológico com a mente, espírito, alma, caráter ou virtudes dos indivíduos.
Enquanto que na dimensão macro-cósmica, surgem outros desafios de
interação, equilíbrio ou harmonia entre as duas estruturas ou propriedades

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comentadas anteriormente com os seres da natureza terrena (minerais, vegetais,


animais e demais hominais) e também com o universo como um todo.
É sabido que podem existir muitas teorias e interpretações diferentes sobre as
questões comentadas anteriormente. Entre elas, neste tópico, ficaremos limitados,
inicialmente, a um enfoque eminentemente filosófico e terá como objetivo abordar
tais assuntos através de algumas das temáticas próprias desta área do saber, ou seja,
entre os temas do “Belo” e o “Bom” com suas respectivas problemáticas de resolução
que são a “Estética” e a “Moral e a Ética”.
A expressão Kalocagathia é formada por três étinos da língua grega, ou seja,
kalos ou Belo; kai ou e; e por agathós ou Bom. Sendo que destes, o vocábulo agathós
não passou comumente para as línguas ocidentais modernas, ao contrário de kalós, que
constitui muitas expressões, como, por exemplo, caligrafia, isto é, a escrita bonita.
A Kalocagathia é uma atitude que institui o Homem no sentido da nobreza, da
honra e da dignidade, se aproximando, portanto do conceito grego de virtude, ou da
areté, que pode ser designada por virtude da harmonia e do equilíbrio.
A areté, cuja equiparação mais próxima do mundo moderno e até mesmo
contemporâneo é a de virtus do Renascimento Italiano, é aquela postura que
harmoniza ou que traz harmonia à unidade ou ao todo, ou seja, o hólos do Ser do
Homem como um “ser humano”. Portanto, dessa forma, liga-se ao campo ético,
político, social e estético. Platão e Aristóteles, em suas obras, destacaram muito bem
a importância da areté.
Pelo menos duas funções exercidas pela kalokagathia são fundamentais e
merecem destaque especial.
Uma delas é a de equilibrar o Homem como uma manifestação, um
compendium, um reflexo moral de algo maior, ou noutras palavras, considerar o
Homem um microcosmo no universo ou no macrocosmo, e a sua interação com o
cosmo ou com a natureza, chama-se a physis, que se processa de modo regular e
harmônico, quando ele possui na sua virtude, na sua areté, a kalokagathia.
Uma delas é a de equilibrar o Homem como uma manifestação, um
compendium, um reflexo moral de algo maior, ou noutras palavras, considerar o
Homem um microcosmo no universo ou no macrocosmo, e a sua interação com o
cosmo ou com a natureza, chama-se a physis, que se processa de modo regular e
harmônico, quando ele possui na sua virtude, na sua areté, a kalokagathia.
Não há kalokagathia sem que o “dentro” e o “fora”, ou os aspectos invisíveis
e visíveis da vida Humana se harmonizem. Isto implica no fato de ser negada toda e
qualquer possibilidade de esteticismo. O elemento estético o kalós ou o belo, por
conseguinte, relaciona intrinsecamente com o elemento moral que é o agathós, ou o
bom, instituindo assim a unidade.
Essa harmonia ou educação é a paidéia e se processa por uma orientação
correta, justa ou humana do Homem. Assim a paidagogia é o processo, através do
qual o homem, e mais especificamente a criança, o jovem e o adolescente ou o rapaz
ou ainda o país ou paidós é conduzido ao ago.
O ideal da kalokagathia, não obstante ainda persistir na época áurea da cultura
grega, ou na 2a metade do Século V, e na primeira metade do Século VI a.C,
portanto na época da sofística, assim como de Sócrates e Platão, é basicamente um
modelo da antiga educação ateniense.

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PARA SER BELO OU ESTÉTICO TEM QUE


SER, AO MESMO TEMPO, BOM OU ÉTICO
E VICEVERSA

K A L O K A G A T H I A

KALOS KAÍ AGATHÓS

BELO E BOM

ESTÉTICO ÉTICO

PARA SER BELO OU ESTÉTICO TEM QUE


SER, AO MESMO TEMPO, BOM OU ÉTICO
E VICEVERSA

K A L O K A G A T H I A

KALOS KAÍ AGATHÓS

BELO E BOM

ESTÉTICO ÉTICO

ARETÉ

VIRTUS

HÓLOS DO SER
HUMANO

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FUNÇÕES DA
KALOKAGATHIA
I

COMPENDIUM

EQUILÍBRIO DO INTERAÇÃO DO
HOMEM HOMEM COMO
MICROCOSMO NO COSMO OU NATUREZA
MACROCOSMO - A PHISIS

FUNÇÕES DA
KALOKAGATHIA
II

ASPECTO HOMEM DIMENSÃO


EXTERIOR INTERIOR
EQUILÍBRIO

CORPO CARÁTER

PAI D É IA

P A I D A G O G I A

PAÍS AGO GIA


PAIDÓS
HARMONIA
HOMEM ou PROCESSO
EDUCAÇÃO
CRIANÇA
JOVEM
ADOLESCENTE
RAPAZ
Figura 10 – Esquemas conceituais

A despeito disso, esse ideal da Kalocagathia associado à educação não foi


esquecido ou até mesmo abandonado. No Período Moderno, Freidrich Schiller (1759-
1805), em sua obra “A Educação Estética do Homem”, expressou o seu pensamento
mantendo-se, essencialmente, no mesmo ideário da Kalocagathia ao descrever que há
três momentos ou estágios do desenvolvimento verdadeiramente humano que não

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podem ser saltados, assim como também a ordem de sucessão não pode ser invertida
pela natureza ou pela vontade.
Para ele, o Homem no estado físico apenas sofre o poder da natureza, já no
estado estético, liberta-se do poder da natureza e, por último, no estado moral ele
domina o poder da natureza.
Já contemporaneamente, em 1999, Howard Gardner, em seu livro intitulado
“O Verdadeiro o Belo e o Bom: Os princípios básico para uma nova educação”,
apresenta as bases neurais que possam servir para fundamentar cientificamente o
conhecimento e aplicação desses três valores, por meio de seis caminhos pedagógicos
que, de alguma forma representa uma concepção atual da Kalocagathia.

4. Considerações finais

Neste tópico apresentaremos algumas sugestões que talvez possam servir como
uma referência para futuros estudos no âmbito da neuroeducação:
a) Fundamentar epistemologicamente a Teoria dos Valores ou Axiologia ou
Neuroaxiologia, por meio de bases neurobiológicas ou das neurociências, de maneira
que se permita emitir um juízo de valor de uma maneira geral;
b) Fundamentar, da mesma maneira, a problemática da estética ou da
neuroestética de maneira que se permita emitir um juízo de valor acerca do tema da
beleza ou do belo;
c) Fundamentar, da mesma maneira, a problemática da moral/ética ou da
neuroética de maneira que se permita emitir um juízo de valor acerca do tema do agir
humano;
d) Com isso poder fundamentar cientifica ou epistemológicamente a dimensão
social/coletiva ou interpessoal da emissão de um juízo de valor acerca da beleza ou do
belo, baseado em princípios estéticos fundamentados nas neurociências;
e) Com isso poder fundamentar cientifica ou epistemológicamente a dimensão
individual ou intrapessoal da emissão de um juízo de valor acerca da beleza ou do
belo, baseado em princípios estéticos fundamentados nas neurociências;
Como, por exemplo, nas áreas:
Das artes, da moda, da medicina, da dança, dos esportes, entre outros.

5. Bibliografia

Bastos, F. (1987). Panorama das idéias estéticas no ocidente: de Platão a Kant.


Brasília: Editora da Universidade de Brasília.
BENSE, M. (2003). Pequena estética. São Paulo: Perspectiva.
Beresford, H. (2009). Valor: saiba o que é. Rio de Janeiro: Shape.
Gardner, H. (1999). O verdadeiro, o belo e o bom: os princípios básicos para uma
nova educação. Rio de Janeiro: Objetiva.
Huisman, D. (1994). A estética. Lisboa/Portugal: Edições 70.
Kant, I. (1993). Crítica da faculdade do juízo. Trad. Valério Rohden e António
Marques. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
Marrou, H. (1990). História da educação na antigüidade. Trad. Mário Leônidas
Casanova. São Paulo: E.P.U.
Moderno, J.R. (1997). Estética da Contradição. Rio de Janeiro: Moderno.
Suassuna, A. (2005). Iniciação à estética. Rio de Janeiro: José Olympio.

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