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Sérgio Domingos
Professor Universitário, Defensor
Público no Distrito Federal, Mestre em
Direito Público pela Universidade
Federal de Pernambuco.
1 NOÇÕES GERAIS
1
BOBBIO, Norberto. A era dos Direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho, Rio de Janeiro: Campus,
1992, p. 37.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002. 191
Desde já, evidencia-se que estes direitos não alcançarão seu escopo
maior, caso não sejam dotados de remédios capazes de compelir a inércia estatal,
principalmente a legislativa, para que esse abuso de poder tenha um termo. O
início já foi dado pela separação dos poderes; todavia, no caso brasileiro, a
incipiência tem levado a que a harmonia e a independência entre esses poderes
redundem em mera subserviência.
2
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. “Discricionariedade administrativa e controle judicial”. São
Paulo: Revista de Direito Público, ano VII, n. 32, p. 20.
192 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002.
2 EFICÁCIA PLENA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Ao se abrir este ponto, a atenção, uma vez mais, deve-se voltar para o §
1º, do art. 5º da Constituição brasileira de 1988.
Por outro lado, não se pode confundir, e isso é o que vem incomodando
a doutrina nacional e a estrangeira, o fato de que algumas normas carecem de
um complemento integrador, e dessa forma optam por indicar essas normas
constitucionais como sendo programáticas, especialmente as que apontam para
o campo social.
3
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
1998, p. 234.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002. 193
ou mesmo, dentro de uma visão figurada, é um vulcão adormecido que a qualquer
momento soltará suas larvas, ponto que se aplica aos direitos fundamentais, que,
ocorrida sua completude, seja pelo próprio legislador, seja pelo cidadão, alcançará
aquele direito em seu nascedouro, fazendo-o vivo como se sempre ali estivesse
insculpido.
Fato que se evidencia e que não pode prosperar é não tomar a sério os
direitos fundamentais, principalmente os do campo social e, em muitas das vezes,
relegá-los a planos inferiores, até mesmo com o apoio do Poder Judiciário em
clara repulsa a uma efetiva prestação jurisdicional.
Esse ponto pode ser verificado nas decisões do Supremo Tribunal Federal
ao se impor contenções aos direitos fundamentais, especificamente os sociais,
ao não reconhecer a auto-aplicabilidade do Mandado de Injunção.
Em outra vertente, surgem ainda aqueles que apontam os limites dos direitos
fundamentais à hipótese da reserva do possível.
4
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais, Porto Alegre: Livraria do Advogado,
1998, p. 255.
194 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002.
Contudo, algumas observações devem ser apresentadas quanto ao perigo
dessa tese: a primeira pertine a que esta reserva não aponta, em princípio, a uma
simples negação dos direitos, porém é a que mais se vislumbra na realidade
jurídica; a segunda atém-se a aguardar a efetivação destes direitos conjugando-se
às propostas orçamentárias do Poder Executivo. Porém, chama a atenção
CANOTILHO que “(...) ao legislador compete, dentro das reservas orçamentais,
dos planos económicos e financeiros, das condições sociais e económicas do
país, garantir as prestações integradoras dos direitos sociais, económicos e
culturais”5, o que faz concluir que não se pode suprimir, por mais que se tente,
os efeitos vinculantes dos direitos fundamentais.
Observe o leitor o perigo a que estas teses levam, dado que a visão estreita
do tema faz que existam dois pontos estanques, porém contando com vasos
comunicantes. Estanques devido à indicação da independência legislativa em
concretizar a norma e comunicantes pelo fato de a ocorrência do complemento
legislativo estar adstrita à existência de recursos financeiros do País, que, em
síntese, levariam à ineficácia dos direitos fundamentais, principalmente os sociais.
5
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador – contributo
para a compreensão das normas constitucionais programáticas. Coimbra: Coimbra Edital, Limitada,
1982, p. 369.
6
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
1998, p. 260.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002. 195
A essa pergunta poderia tomar como resposta a colocação feita por
SÍLVIO DOBROWOLSKI de que aquelas normas carentes de regulamentação,
para contarem com eficácia, devem “aguardar regulamentação legislativa”7.
Todavia, poder-se-ia responder a essas colocações com outra pergunta: ao juiz
é dado o direito de negar a prestação jurisdicional, sob o argumento de inexistência
de legislação? Mas, para se evitar uma petição de princípio, a solução deve ser
apontada. Buscando-se o disposto no art. 126 do Código de Processo Civil
– CPC, encontra-se clara indicação que ao Juiz não é dado o direito de eximir-se
de sentenciar, alegando obscuridade na lei, pois a ele é facultado valer-se da
analogia, dos costumes e dos princípios gerais do direito, ou seja, a concretização
do direito deve vir por normatização jurisdicional.
Assim, a indicação de que o julgador não conta com meios para decidir é
um argumento contra o homem, logo, uma falácia.
Dessa forma, a inação legislativa não pode ser óbice ao exercício pleno
dos direitos fundamentais, pois como alude ANNA CANDIDA DA CUNHA
FERRAZ
7
DOBROWOLSKI, Sílvio. “Os meios juridicionais para conferir eficácia às normas constitucionais”,
São Paulo: Revista dos Tribunais, maio de 1989, ano 78, vol. 643, p. 16.
8
FERRAZ, Anna Candida da Cunha. “A inércia no plano constitucional”. São Paulo: Revista da
Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, dezembro 81 – dezembro 82, n. 19, p. 95.
196 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002.
Outro dado interessante é o destaque feito por CELSO ANTÔNIO
BANDEIRA DE MELLO de “(...) que a imprecisão ou fluidez das palavras
constitucionais não lhes retira a imediata aplicabilidade dentro do campo
induvidoso de sua significação. Supor a necessidade de lei para delimitar este
campo, implicaria outorgar à lei mais força que à Constituição.”9. Assim,
tomando-se o que dispõe o § 1º do art. 5º da Constituição Federal de 1988,
verifica-se a inexistência de termos obscuros, ou mesmo que demandam qualquer
integração legislativa, em síntese, a eficácia plena dos direitos fundamentais.
9
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. “Eficácia das normas constitucionais sobre justiça social”. São
Paulo: Revista de Direito Público, janeiro-junho 1981, n. 57-58, p. 245.
10
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
1998, p. 364.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002. 197
é referido a um critério de valor; os direitos fundamentais são
obrigatórios juridicamente porque são explicitações do princípio
da dignidade da pessoa humana, que lhes dá fundamento. É que
a unidade dos direitos fundamentais, como a unidade da ordem
jurídica em geral, há de ser uma unidade axiológica, material, que
funde e legitime o seu conteúdo normativo.”11.
O que não se vem levando em conta, ao menos por aqueles que defendem
uma mitigação nos direitos fundamentais, é que esses direitos devem ser, na
acepção pura da palavra, fundamentais sob uma ótica material, de tal sorte que
venham a proteger a dignidade humana dentro de um contexto amplo, não se
restringindo a hipóteses prévias, ou mesmo a meras circunstâncias conjunturais
legislativas, pois, segundo aduz CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO,
11
ANDRADE, José Carlos Vieira de. Os direitos fundamentais na Constituição portuguesa de 1976.
Coimbra: Almedina, 1987, p. 113.
12
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. “Eficácia das normas constitucionais sobre justiça social”. São
Paulo: Revista de Direito Público, janeiro-junho 1981, n. 57-58, p. 248.
13
SEGADO, Francisco Fernández. “La teoría jurídica de los derechos fundamentales en la Constitución
Española de 19789 y en su interpretación por el Tribunal Constitucional”. Brasília: Revista de
Informação Legislativa, janeiro-março 1994, ano 31, n. 121, p. 74.
198 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002.
Evidencia-se, assim, que os direitos fundamentais vêm se tornando a pedra
de sustentação de qualquer Estado Democrático de Direito, dada as funções
estruturais que eles apresentam em sintonia com os próprios princípios
constitucionais, ou como prefere FRANCISCO SEGADO,
14
Idem, ibidem, p. 81.
15
MIRANDA, Jorge. “A recepção da declaração universal dos direitos do homem pela Constituição
portuguesa – um fenômeno de conjugação de direito internacional e direito constitucional”. Rio de
Janeiro: Revista de Direito Administrativo, janeiro-março 1995, v. 199, p. 2-3.
16
GUAITA, Aurelio. “Regimen de los derechos fundamentales”. Madrid: Revista de Derecho Político,
primavera 1982, número 13, p. 87.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002. 199
Pode-se, sob esse aspecto, assentar em CANOTILHO que
“Fundamentando originariamente direitos a prestações, não é legítimo dizer-se
que as normas consagradoras destes direitos são leges imperfectae, sem qualquer
conteúdo jurídico-constitucional antes da sua concretização legislativa.”17, pois
se impõe reforçar a necessidade da eficácia positiva de tais normas, inclusive
com mecanismos de sanção em havendo a não-observância a esses direitos, de
tal sorte que “(...) ensejaria a responsabilização dos poderes públicos, quando
estes se mostrassem indiferentes, omissos e negligentemente impedissem o
cumprimento das normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais.”18 .
Contudo, em nada adiantaria falar-se em eficácia plena dos direitos
fundamentais, não fossem disponibilizados remédios protetivos capazes de
solucionar conflitos ou mesmo espancar violações ou abusos praticados seja
pelo Executivo, pelo Legislativo ou pelo Judiciário, e, com isso, impedir que
ocorra a negativa à imediata aplicabilidade desses direitos. Nesse diapasão,
WILLIS SANTIAGO GUERRA FILHO indica que:
“A impotência do constitucionalismo de Weimar diante da
ascensão nacional-socialista é a prova cabal, que nos fornece a
história, da insuficiência de uma Carta Fundamental que apenas
consagre direitos fundamentais, sem fornecer os meios judiciais
para sua defesa e implementação.”19
17
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador – contributo
para a compreensão das normas constitucionais programáticas. Coimbra: Coimbra Edital, Limitada,
1982, p. 379.
18
PIOVESAN, Flávia C. "Constituição e transformação social: a eficácia das normas constitucionais
programáticas e a concretização dos direitos e garantias fundamentais". São Paulo: Revista da
Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, junho 1992, n. 37, p. 72.
19
GUERRA FILHO, Willis Santiago. Processo constitucional e direitos fundamentais. São Paulo: Celso
Bastos Editor, 1999, p. 100.
20
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. Coimbra: Almedina,
3ª ed., 1999, p. 443.
200 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002.
enfim, meros objetivos estatais a serem alcançados em futuro incerto, como
aliás ficou apontado em observações feitas por ROSITA DE NAZARÉ SIDRIM
NASSAR: “(...) as normas constitucionais que consagram os chamados direitos
sociais, especialmente os trabalhistas, são normas de natureza programática”21,
e ainda por RUY RUBEN RUSCHEL:
Também já ficou indicado que não há margem para negar-se a plena eficácia
dos direitos fundamentais, incluindo-se aqui os sociais, havendo claras imposições
ao legislador e ao Estado para que garantam meios para o exercício pleno desses
direitos, pois como alerta INGO WOLFGANG SARLET há
21
NASSAR, Rosita de Nazaré Sidrim. “A eficácia constitucional dos direitos socais”. Belém: Revista do
Tribunal Regional do Trabalho da 8a. Região, janeiro-junho 1987, n. 38, v. 20, p. 59.
22
RUSCHEL, Ruy Ruben. “A eficácia dos direitos sociais”. Porto Alegre: Revista da Associação dos
juízes do Rio Grande do Sul, julho 1993, ano XX, vol. 58, p. 293.
23
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
1998, p. 318.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002. 201
Nessa visão programática que muitos pretendem atribuir aos direitos
sociais, lembra CANOTILHO que:
24
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. Coimbra:
Almedina, 3. ed., 1999, p. 448.
25
ANDRADE, José Carlos Vieira de. Os direitos fundamentais na Constituição portuguesa de 1976.
Coimbra: Almedina, 1987, p. 206.
202 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002.
“No caso de não haver legislação sobre a matéria ou na parte em
que esta se revelar insuficiente para permitir o cumprimento das
normas constitucionais, estas não poderão ser actualizadas e
aplicadas pelo juiz ou pela Administração. É aqui indispensável o
juízo autónomo do legislador e ele não pode ser substituído por
outra entidade.”.
Todavia, existem ainda aqueles que preferem deixar que os direitos sociais
fiquem apenas no campo platônico, ancorados ora na discricionariedade
legislativa, ora na ausência de recursos, e sequer procuram disciplinar o mínimo
social, deixando um aberto na Constituição. Há ainda os que admitem normas
constitucionais vazias de eficácia, dando azo ao alerta feito por ROBERTO
PFEIFFER de:
26
PFEIFFER, Roberto Augusto Castellanos. Mandado de injunção. São Paulo: Atlas, 1999, p. 66.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002. 203
essa vindicação ou, como indica ADELMO FIORANELLI JÚNIOR,
Considerar:
Essa eficácia plena dos direitos sociais, que vem sendo defendida, está
em linha de consonância com as transformações sociais por que passam os
Estados de Direito, buscando, dessa forma, impedir as postergações legislativas,
insatisfações sociais e, com isso, manter a estabilidade constitucional, dado que
não existem normas constitucionais despidas de eficácia, ou mesmo normas inúteis,
haja vista todas contarem com eficácia. Em raciocínio que se amolda ao que ora
se defende, FLÁVIA C. PIOVESAN assenta: “Maximizar a eficácia das normas
programáticas é tornar concreta a realização dos direitos e garantias fundamentais,
acentuando o papel da Constituição enquanto instrumento a favor do
desenvolvimento social.” 28.
27
JÚNIOR, Adelmo Fioranelli. “Desenvolvimento e efetividade dos direitos sociais”. São Paulo:
Revista da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, junho 1994, vol. 41, p. 26.
28
PIOVESAN, Flávia C. "Constituição e transformação social: a eficácia das normas constitucionais
programáticas e a concretização dos direitos e garantias fundamentais". São Paulo: Revista da
Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, junho 1992, n. 37, p. 73.
204 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002.
cuyo contenido material a todos (ciudadanos y poderes
públicos) vincula de modo inmediato, siendo sus preceptos,
como regla general, sin prejuicio de algunas matizaciones
particulares a esta regla, alegables ante los tribunales y
debiendo considerarse su infracción antijurídica.”29
29
SEGADO, Francisco Fernández. “La teoría jurídica de los derechos fundamentales en la Constitución
Española de 1978 y en su interpretación por el Tribunal Constitucional”. Brasília: Revista de
Informação Legislativa, janeiro-março 1994, ano 31, n. 121, p. 80.
30
ANDRADE, José Carlos Vieira de. Os direitos fundamentais na Constituição portuguesa de 1976.
Coimbra: Almedina, 1987, p. 250, 300, 301.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002. 205
indivíduos posições jurídicas subjectivas (a que chamamos
pretensões) ou estabelecem garantias institucionais, impondo ao
legislador a obrigação de agir para lhes dar cumprimento
(imposições legiferantes). Em segundo lugar, o conteúdo desses
preceitos e das pretensões correspondentes não é, a não ser num
mínimo, determinado pela Constituição e não pode ser-lhe
imputado pela via da interpretação ‘actualizadora’: esse conteúdo
depende, no essencial, da vontade do legislador ordinário, ao
qual se deve entender que foi delegado, por razões técnicas ou
políticas, um poder de conformação autónoma.”.
31
MENDES, Gilmar Ferreira. "A doutrina constitucional e controle de constitucionalidade como garantia
da cidadania – necessidade de desenvolvimento de novas técnicas de decisão: possibililidade da declaração
de inconstitucionalidade sem a pronúncia de nulidade no Direito brasileiro". São Paulo: Cadernos de
direito público e finanças públicas, abril-junho 1993, n. 3, ano 1, p. 28.
206 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002.
específicos e distintos entre si que buscam materializar esses direitos fundamentais
denegados pela Administração: a ação direta de inconstitucionalidade e o
Mandado de Injunção.
32
SANCHÍS, Luis Pietro." Los derechos sociales y el principio de igualdad sustancial". Madrid: Revista
del Centro de Estudios Constitucionales, septiembre-diciembre 1995, vol. 22, p. 37.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002. 207
PIETRO SANCHÍS sustenta ainda que existem dificuldades de ordem
prática para que os direitos suscetíveis de prestações sejam autênticos direitos:
33
Idem, ibidem, p. 51.
34
ANDRADE, José Carlos Vieira de. Os direitos fundamentais na Constituição portuguesa de 1976.
Coimbra: Almedina, 1987, p. 346.
208 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002.
restabeleçam os direitos fundamentais, ou como afirma FRANCISCO
FERNÁNDEZ SEGADO “Es preciso, pues, que esos derechos que Bidart há
denominado ‘imposibles’, esto es, aquelos que un hombre no alcanza a ejercer
y gozar, encuentren un remedio efectivo.” 35.
Nos objetivos dos direitos sociais e no que está expresso no § 1º, art. 5º,
Constituição Federal de 1988, dúvidas não restam de que estes direitos podem
ser exigidos, seja em nível legislativo, executivo e judiciário, posição esta que
também é defendida por CANOTILHO:
35
SEGADO, Francisco Fernández. "La teoría jurídica de los derechos fundamentales en la Constitución
Española de 1978 y en su interpretación por el Tribunal Constitucional". Brasília: Revista de
Informação Legislativa, janeiro-março 1994, ano 31, n. 121, p. 75.
36
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição dirigente e vinculação do legislador – contributo
para a compreensão das normas constitucionais programáticas. Coimbra: Coimbra Edital, Limitada,
1982, p. 295-296.
37
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. "Eficácia das normas constitucionais sobre justiça social". São
Paulo: Revista de Direito Público, janeiro-junho 1981, n. 57-58, p. 255.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002. 209
Do que se afirmou evidencia-se que, havendo vindicação de direito
fundamental, a sua concretização deve ser deferida de forma imediata, afastando-se,
dessa forma, a negativa da sua prestação, seja pelo Judiciário, Legislativo ou
Executivo.
38
MIRANDA, Jorge. "A recepção da declaração universal dos direitos do homem pela Constituição
portuguesa – um fenômeno de conjugação de direito internacional e direito constitucional". Rio de
Janeiro: Revista de Direito Administrativo, janeiro-março 1995, v. 199, p. 18.
39
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. "Discricinariedade administrativa e controle judicial". São
Paulo: Revista de Direito Público, 1974, n. 32, ano VII, p. 18.
210 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002.
“Los derechos constitucionales son susceptibles de diversas
clasificaciones, pero en cualquier caso se espera de los poderes
públicos, especialmente del Estado, que promuevan las
condiciones para que la libertad y la igualdad del indivíduo y
de los grupos en que se integra sean reales y efectivas,que
remuevan los obstáculos que impidan o dificulten su plenitud, y
que faciliten la participación de todos los ciudadanos en la
vida política, económica, cultural y social.”40
Veja que o autor aponta outro objetivo dos direitos sociais, i. e., a perfeita
integração do cidadão dentro de uma comunidade via eficácia plena dos direitos
fundamentais.
Não se deve perder de vista que a eficácia do direito pode ser encarada
sob o ponto de vista social e sob o ponto de vista jurídico, e que a norma só é
socialmente eficaz quando a conduta nela prevista é efetivamente cumprida, e
isso é alcançado com a efetividade dos direitos fundamentais, ou conforme prefere
falar DALMO DE ABREU DALLARI: “Apesar da pobreza e do profundo
desequilíbrio social existem direitos fundamentais que poderão ser gozados por
todos, ainda que com desigualdade.”, pois direitos fundamentais são exercidos
de forma equânime por todos os cidadãos.
40
GUAITA, Aurelio. "Regimen de los derechos fundamentales". Madrid: Revista de Derecho Político,
primavera 1982, número 13, p. 80.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002. 211
uma insuficiência de juridicidade estatal deverá atender à
natureza das posições ameaçadas e à intensidade do perigo de
lesão de direitos fundamentais.”41
Essa crítica feita por Canotilho mostra bem a gravidade do tema, dado
que outra não é a conclusão de que nessa citação há óbices claros à
discricionariedade legislativa, e aponta para a proteção explícita dos direitos
sociais, espancando assim teses que sustentam ser esses direitos fundamentais
apenas programas, o que é uma grande inverdade, uma falácia, pois se valem de
argumentos contra o homem.
Diante do que ora se expõe, conclui-se que os direitos sociais têm como
objetivo buscar a perfeita integração da pessoa humana, indicando caminhos a
serem seguidos, para que haja uma correta distribuição de rendas e de recursos
do Estado. Tendo como reflexos uma minimização das desigualdades entre os
mais fortes e os mais débeis, o que implica dizer serem esses direitos garantidores
da dignidade humana, e consolidando, dessa forma, a estrutura do Estado
Democrático: liberdade, igualdade e fraternidade, além de não constarem apenas
de uma carta de intenção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
41
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Op.cit., p. 365
212 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002.
5.BOBBIO, Norberto. A era dos Direitos. Tradução de Carlos Nelson
Coutinho, Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 37.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002. 213
15._____. "Regimen de los derechos fundamentales". Madrid: Revista de
Derecho Político, primavera 1982, número 13, p. 80.
18_____. “Eficácia das normas constitucionais sobre justiça social”. São Paulo:
Revista de Direito Público, janeiro-junho 1981, n. 57-58, p. 245.
19._____. “Eficácia das normas constitucionais sobre justiça social”. São Paulo:
Revista de Direito Público, janeiro-junho 1981, n. 57-58, p. 248.
20_____. "Eficácia das normas constitucionais sobre justiça social". São Paulo:
Revista de Direito Público, janeiro-junho 1981, n. 57-58, p. 255.
214 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002.
internacional e direito constitucional". Rio de Janeiro: Revista de Direito
Administrativo, janeiro-março 1995, v. 199, p. 18.
Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002. 215
34._____. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 1998, p. 364.
216 Rev. Fund. Esc. Super. Minist. Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 19, p. 191–216, jan./jun. 2002.