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CURSO – DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL (NOITE) Nº 35

DATA – 05/10/2016

DISCIPLINA – DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

PROFESSOR – BRUNO ZAMPIER

MONITOR – LUIZ FERNANDO PEREIRA RIBEIRO

AULA 01

EMENTA:
INTRODUÇÃO
PONTO I - DAS PESSOAS
1). Personalidade
a) Conceito de Pessoa
b) Polêmicas
2). Capacidade
2.1) Capacidade de Direito (ou Capacidade de Gozo)
2.2) Capacidade Fato (ou Capacidade de Exercício)
a) Absoluta Incapacidade
b) Relativa Incapacidade
c) Plena Capacidade

Recados preliminares:
Nesse curso de Delegado da Polícia Federal vamos ter oito encontros de direito civil,
tempo suficiente para abordarmos, de maneira geral, o conteúdo do edital que vem sendo
cobrado no concurso. Saiba que, apesar da antipatia de muitos com a disciplina, direito
civil nas provas de delegado (Civil ou Federal) é o que tem feito a diferença na aprovação.
A grande maioria dos candidatos estudam e vão bem nas disciplinas bases como Direito
Penal, Processo Penal, Direito Constitucional e Direito Administrativo, até pelo fato de se
identificarem com estas disciplinas e por elas serem cobradas na prova discursiva.
Porém, esquecem-se que cada vez mais vem sendo adotada uma nota de corte nas
provas objetivas, para que, somente se atingi-las, possam prosseguir nas próximas fases
do concurso.
No ultimo concurso para o cargo de Delegado de Polícia Federal, a nota de corte na prova
objetiva foi o triplo do numero de vagas, assim, o candidato que atingiu essa nota de corte
teve a sua peça prático-profissional e a suas questões discursivas corrigidas. Então, a
primeira preocupação do candidato deve ser se sair bem nas questões objetivas, para
que assim fique dentro da nota de corte e siga para as próximas fases do certame.
Sendo assim, analisando os últimos concursos de Delegado de Policia Federal, temos
120 questões na fase objetiva, na qual no ano de 2001/02 cinco foram de direito civil, em
2004 seis de direito civil, em 2013 três questões de direito civil, e acredita-se que o
próximo concurso vai seguir a mesma linha do ultimo, pois dentro da academia nacional
de polícia está firmado o conceito de que o concurso de 2013 foi o melhor feito até hoje.
Mas não se pode afirmar que serão só 3 questões de direito civil, pois como no ultimo, a
banca não informa o numero de questões por disciplina.
Então, é lógico que o candidato tem que se sair bem nas disciplinas bases (Penal,
Processo Penal, Direito Constitucional e Direito Administrativo), mas se ele não estudar
as outras como Direito Civil, Processo Civil, Criminologia, Direito Tributário, Direito
Previdenciário, Direito Empresarial, não ira se destacar e ficará fora da nota de corte.

Além de ensinar a matéria, a função dos professores do Supremo Concursos é ser


treinadores, ou seja, apontar o caminho e direcionar o aluno rumo a aprovação. A primeira
dica foi essa: Coloquem no programa de estudos essas matérias para ganhar pontos e
ficar dentro da nota de corte.

Outra questão importante que deve ser levantada é a barreira que muitos alunos de
turmas de delegado criam com o Direito Civil. Porém não sabem que esta disciplina
combina e está muito ligada á atividade policial. Por exemplo, em uma investigação de
lavagem de capitais, descobriu-se que a organização criminosa havia constituído quatro
empresas fictícias para contabilizarem os recursos provenientes do tráfico de drogas.
Como delegado de polícia, o que pode ser feito em relação a essas empresas? Resposta:
Deve-se representar ao juiz mostrando que a criação dessas empresas é um ato nulo,
porque elas nunca exerceram o objeto que está descrito no contrato social, ou seja, a
manifestação de vontade dos supostos sócios com fins de criação daquela pessoa
jurídica é um ato simulado. O negócio jurídico – contrato social – daquela pessoa jurídica
é um negócio simulado e nos termos do art. 177 do Código Civil, esse ato é nulo. Então,
deve-se representar ao juiz para que ele oficie a junta comercial para que esta
desconsidere aquele registro, pois ele se fundamenta em um ato nulo.
Perceba que não só na função de delegado, mas na vida de jurista, o direito civil
proporciona um suporte para situações cotidianas.
Desde o primeiro período da faculdade, quando estudamos a introdução ao estudo do
direito já estamos estudando basicamente uma introdução ao direito civil. No segundo
período passamos a estudar a parte geral. Mas já se perguntaram por que essas matérias
são colocadas no início do curso? Justamente para dar uma base ao aluno no estudo das
demais disciplinas. O aluno ruim em parte geral é ruim em outras matérias e disciplinas, é
fraco juridicamente falando.
Com isso conclui-se que, para ser um bom jurista, a pessoa tem que saber direito
constitucional e direito civil, porque o resto das disciplinas flui naturalmente.
A intenção desses recados preliminares é tirar da cabeça dos alunos o preconceito sobre
direito civil, e mostrar a sua importância para a vida e principalmente para a aprovação no
concurso de Delegado de Polícia (civil e federal).

Pois bem, levando em consideração o modo de aplicação do direito civil nas provas do
Cespe (deixando de cobrar a mera literalidade da lei e começando a trabalhar com o
raciocínio civil em casos hipotéticos), nesses 8 encontros iremos fazer um treinamento
voltado para essa banca, trabalhando com casos hipotéticos, jurisprudência,
apontamentos doutrinários e análise de raciocínio em cima da legislação civil.

INTRODUÇÃO
Vamos começar a aula de direito civil mostrando o que é cobrado nos editais de Delegado
de Polícia Federal a partir da análise do próprio Código Civil.

PARTE GERAL PARTE ESPECIAL


Livros Livros

I – DAS PESSOAS I – DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES


Título I - Das Pessoas Naturais - Contratos é um título dentro do livro
Título II -Das pessoas Jurídicas Obrigações
Título III – Do Domicílio - Responsabilidade civil também é um título
do livro Obrigações
II – DOS BENS
II – DO DIREITO DE EMPRESA
III – DOS FATOS JURÍDICOS
Título I – Do Negócio Jurídico III – DO DIREITO DAS COISAS
Título II – Dos Atos Jurídicos Lícitos
Título III – Dos Atos Ilícitos IV – DO DIREITO DE FAMÍLIA
Título IV – Da Prescrição e da Decadência
Título V – Da Prova V – DO DIREITO DAS SUCESSÕES

Fazendo uma analogia ao direito penal, não adianta a pessoa ser boa na parte especial e
fraca na parte geral. Por exemplo, não adianta a pessoa saber qual o tipo legal que o fato
se enquadra, se não souber que o ato foi praticado com uma causa excludente da
ilicitude, ou ainda que o ato é insiginificante e que por isso exclui a própria tipicidade
material. A mesma coisa acontece no Direito civil. Como a pessoa vai entender
responsabilidade civil, contratos e obrigações, se não souber direitos da personalidade,
atos jurídicos, negócios jurídicos etc... Por isso que mais uma vez lembramos, é
necessário primeiro entender a parte geral para depois prosseguir para a parte especial.

No direito civil, cada parte é dividida em livros, e essa divisão dogmática é proposital, pois
um assunto vai se relacionando a outro. A pessoa primeiramente vai estudar a parte
geral, depois na parte especial vai entender como surge ás obrigações, como elas
impactam no direito das coisas, no direito de família e no direito sucessório.
Perceba que essa sequencia do Código Civil é um pouco similar a nossa própria vida.
Quando a pessoa nasce, trabalhamos isso no título I – Das Pessoas Naturais. Essa
pessoa vai crescendo e trabalhamos isso com a teoria das incapacidades. A partir do
momento que adquire a maioridade ela pode contrair obrigações (Livro I da Parte
Especial), celebrando contratos e sendo responsável civilmente pelo seus próprio atos, e
a partir desse momento ela pode se tornar inclusive empresário (Livro II da Parte
Especial). Movimentando a economia a pessoa passa a ter a possibilidade de titularizar
bens (Título III da Parte Especial). Estruturada, a pessoa passa a fazer o seu projeto
familiar (Título IV da Parte Especial), até que um dia a pessoa vem a morrer (Título V da
Parte Especial).

 Obs do Livro I:
Vamos retratar uma relação clássica de direito civil:

Serviço

Aluno Supremo TV
PN PJ

$
O aluno contratou com o Supremo TV uma prestação de serviço (de fazer). Logo, esse
aluno é credor da prestação de um serviço. Em contraprestação o aluno deve retribuir
dinheiro, uma obrigação de dar quantia certa. Então, quando temos o aluno manifestando
a vontade perante o Supremo TV, e este ofertando o produto, manifestando sua vontade
através de seus representantes, temos a figura típica de um contrato. O contrato institui
entre as parte obrigações, e essas obrigações nasceram de uma manifestação de
vontade. Manifestação de vontade de ambas as partes, porque o aluno não foi obrigado a
contratar com o Supremo TV, e nem o Supremo TV foi obrigado a prestar o serviço ao
aluno.
O aluno, como uma pessoa natural, tem a faculdade, concedida pelo ordenamento
jurídico, de manifestar a sua vontade, que nesse caso foi contratar com o Supremo TV
para adquirir conhecimento para ser aprovado no concurso de Delegado de Polícia
Federal (interesse próprio). Porém, pode existir outro aluno que contratou com o Supremo
TV por outro interesse.
Perceba que cada pessoa possui interesse próprio, e justamente por isso, o direito civil
não exige que o interesse de todos sejam iguais. O direito civil vai tutelar as escolhas de
vida das pessoas. Por exemplo, ninguém é obrigado a se casar. Toda pessoa tem a
faculdade de escolher agir ou não agir, na busca de determinado interesse (facultas
agendi). Quando a lei lhe concede essa faculdade, a isso o direito civil dá o nome de
direito subjetivo.
Mas será que a lei só concede essa faculdade de agir á pessoa natural, ou também
concede á pessoa jurídica?
A pessoa jurídica se for organizada na forma de sociedade empresarial tem como
interesse o lucro. Assim, retomando ao exemplo anterior, toda organização social que
está por trás do Supremo TV visa torná-la uma empresa lucrativa, que possa repartir
dividendos entre os seus sócios, que possa ter dinheiro para remunerar os seus
funcionários, pagar tributo para o Estado etc. Veja que a Pessoa Jurídica também pode se
organizar de acordo com os seus interesses.
Se amanhã os sócios do Supremo TV resolvem alavancar os negócio da empresa e
decidem substituir o objeto social transformando-a em uma editora, isso é possível? Sim,
basta um acordo de vontade dos sócios em alterar o objeto no contrato social da
sociedade empresária.
Então a pessoa jurídica também é titular de direitos subjetivos? Sim, a pessoa jurídica
pode agir de acordo com sua vontade buscando satisfazer seus próprios interesses.
Dito isso, ficou claro que o contrato - Aluno X Supremo TV - só nasceu por que tivemos
um duplo exercício dessa faculdade de agir. Tanto a Pessoa Natural, quanto a Pessoa
Jurídica, manifestaram sua vontade no sentido de fazerem um acordo de interesses, no
qual uma pudesse pagar e a outra pudesse prestar um serviço educacional.
Temos aqui a presença de dois núcleos de onde emanam vontades para que esse
instituto de direito civil, chamado contrato, pudesse ser estabelecido entre as partes. A
esse núcleo de vontades o direito civil da o nome de “Pessoa” (natural ou jurídica).
Porque pessoa vai ser o primeiro livro do código civil? Porque quando se olha para todos
os outros institutos dos outros livros, é preciso, primeiramente, a presença de uma
pessoa, exercendo a sua faculdade de agir, buscando um interesse que lhe é próprio ou
privado (daí vem o nome de direito privado).
Então, como não podia ser diferente, inicialmente trabalharemos o Livro I do Código Civil -
das Pessoas, abarcando as pessoas naturais e as pessoas jurídicas e o domicílio.

 Obs do Livro II – As pessoas quando manifestam suas vontades em uma obrigação


(Por exemplo compra e venda de um livro), essas vontades vão recair sobre certos
bens. Então o livro II do Código Civil é o livro “Dos Bens” (do objeto).
O direito penal quando trata dos crimes contra o patrimônio não define o que é “coisa
alheia móvel”, ficando isso a cargo do direito civil.
Por exemplo: As energias que tenham valores econômicos são o quê? O Código Penal
não traz esse conceito, mas o código civil explica que as energias que tenham valores
econômicos se equiparam a bens móveis.

 Obs do Livro III- Nossa vida é recheada de fatos e acontecimentos. Mas será que
todos fatos são importantes para o direito? Não. A vida em sociedade é repleta de
fatos, e o direito civil vai selecionar os fatos que são relevantes para a ciência jurídica
e passar a estabelecer efeitos para eles. Esses fatos que são importantes para o
direito serão tratados no Livro III – Dos Fatos Jurídicos.
O que são fatos jurídicos?Nada mais são do que aqueles fatos que repercutem
juridicamente. Lembre-se do exemplo acima, Aluno X Supremo TV. Essa manifestação
de vontade das partes passa a ser relevante para o direito e sendo assim o direito vai
regulamentá-las, estabelecendo inclusive um capítulo próprio – Contrato de Prestação de
Serviço. Essa relação vai ser tão importante para o direito, que vai classificá-la como uma
relação de consumo, e vai trazer além do direito civil, um outro instrumento de proteção
que é o Código de Defesa do Consumidor.
Concluindo, toda relação jurídica privada (regida pelo direito civil) vai ter pessoas (naturais
ou jurídicas), no qual praticarão os atos da vida civil em algum lugar chamado de
“Domicílio”, e quando manifestam suas vontades isso vai recair sobre bens (objetos), que
formarão um elo de vontade entre os sujeitos, chamado de negócio jurídico (principal
instituto da parte geral do Código Civil).

Quando estudamos introdução ao estudo do direito, aprendemos que o direito subjetivo


possui três elementos: o sujeito que manifesta a vontade, o objeto sobre o qual a vontade
recai e a relação jurídica (vinculo criado pela manifestação de duas ou mais vontades).
Perceba que os livros da parte geral do Código Civil refletem os elementos do direito
subjetivo, e isso não é por acaso. Assim, estudaremos as pessoas que são os sujeitos
que manifestam a vontade, os bens que são os objetos sobre o qual a vontade recai, e os
vínculos criados pelas manifestações de vontades, que por serem relevantes para o
direito tem-se o nome de fatos jurídicos.

Mas afinal, o que vem sendo cobrado no edital do concurso de Delegado de Polícia
Federal (que por sinal está sendo copiado por diversas bancas organizadoras do
concurso de delegado de polícia civil)?
 Toda a Parte Geral (Pessoas, Bens, Fatos Jurídicos)
 Em relação á Parte Especial só se cobra responsabilidade civil e direito das coisas.

Obs: Veja que não vem sendo cobrado direito de família e direito das sucessões.

Devemos nos lembrar, que antes do Código Civil, temos a antiga lei de introdução ao
Código Civil Brasileiro, que desde 2010 passou a se chamar Lei de Introdução as Normas
do Direito Brasileiro – LINDB, prevista no Decreto-Lei 4.657/42. Esta lei vai disciplinar
questões sobre vigência e validade das leis, a lei no tempo e no espaço, a
inescusabilidade do cumprimento da lei, vai tratar sobre as lacunas do ordenamento
jurídico, e algumas regras relacionadas ao direito internacional. O estudo dessa lei é
indispensável, pois cada vez mais vem sendo cobrada nos concursos de Delegado de
Polícia. Sabe por que o examinador gosta de cobrar a LINDB? Por que vários candidatos
não a estudam ou não a conhecem. Para se ter uma noção, no ultimo concurso de
Delegado da Polícia Federal, uma das três questões de direito civil foi sobre a LINDB.
É pensando nisso que o Supremo Concursos gravou um bloco somente sobre a LINDB.
Verifique na área do aluno e começa a estudá-la o quanto antes.

Feita essa relevante introdução e dada as considerações iniciais, vamos ao estudo do


Direito Civil, iniciando pelo tema Pessoas, que está localizado no livro I da Parte Geral do
Código Civil/02.

Ponto I - DAS PESSOAS


1) Personalidade
a) Conceito de Pessoa: Pessoa para o direito civil é o ser dotado de personalidade.
Tanto no capítulo I, quanto no capítulo II nós temos menções ao vocábulo personalidade.
Então a primeira pergunta é: Será que ao se referir a personalidade, tanto no capitulo I,
quanto no capítulo II, o Código trabalhou esse vocábulo com o mesmo sentido técnico?
Não! Personalidade no direito civil é um vocábulo que possui um duplo sentido técnico
(uma dupla concepção), conforme estipulado no capitulo I (art. 1º e ss) e no capítulo II
(art. 11 e ss).
Na hora da prova, se o candidato se deparar com uma questão que envolve
personalidade, deve parar e pensar qual das duas personalidades o examinador está se
referindo, pois ele adora confundir esses dois sentidos.
No capitulo I, num primeiro sentido, temos a personalidade jurídica ou personalidade civil.
Na literalidade do capítulo II, num segundo sentido, vamos ter os direitos da
personalidade.
Veja o quadro comparativo:

PERSONALIDADE JURÍDICA/CIVIL DIREITOS DA PERSONALIDADE


 Conceito: É a Aptidão genérica para que um  Conceito: Conjunto de direitos que são
sujeito possa vir a ser titular de direito e inerentes a condição de ser humano.
deveres(obrigações na orbita jurídica). Ex: Vida, integridade física e psíquica, imagem,
honra, nome, o corpo, etc...

- Quando nos referimos a essa aptidão, Quando nos referimos aos direitos da
estamos traduzindo um caráter patrimonial da personalidade, estamos nos referindo a um
vida privada. direito existencial.
A proteção se da de maneira imanente, ou seja
sem que tenha que haver uma relação jurídica.
Ex: Se o Supremo utilizar em uma propaganda
comercial, a imagem de um aluno aprovado em
um concurso público, sem sua autorização,
estará violando a imagem deste, que é um
direito da personalidade, e estará sujeito a
reparação dos danos sofridos.
- Já era prevista no Código Civil de 1916 e está - O Código Civil de 2002 tratou dos direitos da
prevista no Código Civil de 2002. personalidade; o Código Civil de 1916 não.

- Quando se inicia? A partir do nascimento com - Quando se inicia? Desde a concepção.


vida. Adoção da Teoria Natalista. Adoção da Teoria Concepcionista.
Previsto no artigo 2º do Código Civil

- Pessoa Jurídica possui personalidade jurídica A Pessoa Jurídica não é titular de direitos da
ou civil. personalidade, tem direitos que são
equiparados aos direitos da personalidade da
pessoa natural.

b) Polêmicas
 Quando se da o início da personalidade?
No Código de 1916, como só tinha uma concepção de personalidade e os direitos da
personalidade foram concebidos ao longo do século XX, começou uma discussão nas décadas de
60 e 70, se os direitos da personalidade( a vida, o nome, a honra, a intimidade, a privacidade
etc...) eram protegidos desde o nascimento com vida ou desde a concepção. Se essa discussão
só começou na década de 60/70, qual era a resposta que o Código de 1916 fornecia? Que a
personalidade se inicia do nascimento com vida. Com isso correntes se formaram. Uns
continuaram defendendo a literalidade do código, natalistas (Personalidade se inicia a partir do
nascimento com vida), enquanto que outros defendiam que, como temos os direitos da
personalidade, esses devem ser protegidos não só a partir do momento do nascimento com vida,
mas desde a concepção (formação do embrião). Para esses, como na época só tinha uma
personalidade, deram o nome de concepcionistas. Uma terceira corrente criou a teoria da
personalidade condicionada, que basicamente dizia que, se o nascituro nascer com vida, a
personalidade retroage a data da concepção. E foi assim que se formaram as três teorias:
Natalista, Concepcionista, e da Personalidade Condicionada.
Porém a doutrina moderna defende que não há mais razão de ser para essa polêmica, uma vez
que o novo código civil trouxe as duas acepções para a personalidade, e basta dividir essas
teorias para cada uma das acepções. A personalidade Jurídica ou civil (do capítulo I do CC/02) se
inicia do nascimento com vida, logo adota a teoria natalista. Já os direitos da personalidade (do
capítulo II do CC/02) se iniciam desde a concepção, adotando a teoria concepcionista.

 Quem é o nascituro?
É o ser já concebido, mas que ainda não nasceu.

 O Nascituro tem personalidade jurídica ou civil?


Não, pois para ter personalidade jurídica ou civil é preciso nascer com vida (teoria natalista).

 Nascituro pode ser titular de bens?


Não, pois não tem personalidade jurídica civil.

 Uma pessoa capaz pode fazer doação a um nascituro?


Sim, mas o nascituro somente terá a expectativa do direito, e só passará a ser titular do bem
doado se nascer com vida.
Se por acaso o nascituro nascer sem vida será considerado natimorto e com isso não adquirirá
personalidade jurídica. Com isso, aquela expectativa não se converterá em direito, ou seja, a
doação anteriormente feita ao nascituro perderá totalmente a eficácia pelo não implemento
daquela condição suspensiva (nascimento com vida).
Então perceba que, se o nascituro nascer morto não fará jus a doação, porém se o nascituro
nascer, e ainda que por um curto espaço de tempo respirar e morrer, ele nasceu com vida e
adquiriu personalidade jurídica, fazendo jus a doação.

 O anencéfalo pode nascer com vida?


A vida do anencéfalo não é viável, porém é possível o nascimento com vida. Essa questão já foi
até discutida no STF que julgou procedente a ação ADPF 54, para declarar atípica a conduta de
antecipação terapêutica da gravidez em casos de feto anencéfalo.
Então é possível o aborto do feto anencéfalo segundo a jurisprudência do STF?
Sim, o nosso bloco de constitucionalidade criou, além das hipóteses do art. 128 do Código Penal
(estupro e risco de vida para a gestante), uma terceira possibilidade de aborto no ordenamento
jurídico brasileiro, a partir da interpretação que se da á constituição, que é no caso de constatada
a anencefalia do nascituro.
Agora, imagine uma mulher grávida de um feto anencéfalo, e este vem a receber uma doação de
uma grande quantia de dinheiro. Será que mesmo diante de toda dificuldade essa mulher iria
optar pelo aborto?
Veja que é um caso complicado, pois há a possibilidade do nascituro anencéfalo nascer com vida.
Se assim ocorrer, o anencéfalo adquirirá personalidade jurídica, e com isso a expectativa da
doação se converterá em direito no qual ele passará a titularizá-lo, e ao morrer, o direito, por
saisine, se transfere para o seus pais que herdarão aquela doação.
Por conseguinte, não há duvidas que quando tratamos da personalidade jurídica estamos diante
da teoria natalista, e isto está disciplinado no art. 2º do Código Civil. Veja:
o
Art. 2 A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo,
desde a concepção, os direitos do nascituro.

 E quando se inicia os direitos da personalidade?


Quando o espermatozoide fecunda o óvulo e forma o embrião já é possível se falar em
uma vida em potencial (sem entrar em discussões e detalhes técnicos), e essa vida em
potencial já é objeto de tutela pelo ordenamento jurídico brasileiro. Logo, os direitos da
personalidade são protegidos desde a concepção.
Hoje em dia, na era da informática, é possível a realização de ultrassom em 3D em
clínicas especializadas. Será que essa clínica pode utilizar um desses ultrassons para fins
de propaganda comercial? Não, pois a imagem do nascituro é um direito da
personalidade, portanto digna de tutela.
Se uma mãe for atropelada e não morre, mas perde o bebê, será que o motorista vai ser
responsabilizado por este aborto? Sim. Isso prova que nascituro é relevante para o direito
civil.
 O nascituro é titular de direitos da personalidade?
Sim. O nascituro é titular de direitos da personalidade, mas ainda não detém
personalidade jurídica.

 O natimorto tem direitos da personalidade?


Sim, mas não tem personalidade jurídica.

 E a Pessoa Jurídica, tem personalidade Jurídica?


Sim, desde o momento do registro do seus atos constitutivos. Veja o que dispõe o Art. 45
do Código Civil:
“Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do
ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou
aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o
ato constitutivo.”

Obs: Se for uma sociedade empresária, ela adquire personalidade jurídica a partir do
registro na junta comercial.
“Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de
Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil
das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a
sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária.”

 A Pessoa Jurídica tem direitos da personalidade?


Devemos fazer uma digressão um pouco mais profunda para responder essa questão.
Se pensarmos simplesmente nos exemplos que nós demos de direitos da personalidade,
iremos conseguir enxergar a pessoa jurídica com alguns deles, tais como, o nome, honra
objetiva (reputação), imagem.
Então por exemplo, quando uma pessoa vende um curso do Supremo TV em sites de
rateio, cometendo um crime contra a propriedade intelectual (tanto quem vende, quanto
quem compra), está violando indevidamente a imagem do Supremo TV, pois não estava
autorizado para tanto, o que enseja, além da responsabilização criminal, a
responsabilização civil.
Se a pessoa jurídica tem nome, reputação e imagem, por esses exemplos, é tentador
dizer que a pessoa jurídica tem direitos da personalidade.
Porém, se nos voltarmos ao conceito de direito da personalidade o posicionamento muda,
pois, como vimos, direitos da personalidade é o conjunto de atributos inerentes a
condição de ser humano. Pessoa jurídica é ser humano? Não. Logo não enquadraria no
conceito, em que pese encontrar exemplos de direitos da personalidade da pessoa
natural que poderiam ser similares a direitos titularizados pela pessoa jurídica.
Quando uma pessoa jurídica sofre lesão na sua honra, imagem ou reputação, o que
poderá cobrar do agressor?
Pessoa Jurídica pode pleitear danos morais?
Dano moral = Violação indevida aos direitos da personalidade da pessoa natural (honra,
imagem, nome etc..)
Ao longo do tempo a jurisprudência vem afirmando que, como a pessoa jurídica tem
direitos similares aos das pessoas naturais, quando esses direitos forem violados
injustamente, aquelas poderão cobrar também o dano moral.
Se cair na prova, a pessoa jurídica pode sofrer dano moral?
Sim. É uma construção jurisprudencial, que inclusive está descrita na súmula 227 do STJ.
“Súmula: 227
A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.”

A doutrina mais moderna diz que a súmula 227 é preguiçosa, pois pegou uma construção
jurisprudencial referente á pessoa natural e a aplicou também á pessoa jurídica. Para a
doutrina moderna, o correto seria a pessoa jurídica sofrer um dano institucional, que
prejudica de alguma forma o exercício de suas atividades, e não um dano moral que é
uma construção feita para a pessoa natural.
Contudo lembre-se que, se cair em uma prova objetiva que a pessoa jurídica pode sofrer
dano moral, deve-se marcar como correto.
Respondendo a questão, a pessoa jurídica não é titular de direitos da personalidade, tem
direitos que são equiparados aos direitos da personalidade da pessoa natural.
Quando falamos de imagem, reputação de uma pessoa jurídica é claro que isso também
tem um valor econômico (vai refletir no caráter patrimonial), ao contrário do que se passa
da honra e da imagem de uma pessoa natural. Quanto vale a honra de uma pessoa
natural? A honra de uma pessoa natural não pode ser mensurada economicamente. Até
uma das características dos direitos da personalidade é o caráter extrapatrimonial, não
econômico. Daí vem a dificuldade da fixação do dano moral. Quanto vale a inscrição
indevida do nome da pessoa no cadastro de inadimplente? Depende da repercussão do
fato. O direito não deve ser encarado como uma fórmula, deve ser raciocinado caso a
caso.

 O Código Civil fala algo a respeito dos direitos da personalidade em relação ás


pessoa jurídica?
Sim. O art. 52 vai trabalhar esse tema. Veja:
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da
personalidade.

Perceba que em nenhum momento o artigo diz que as pessoas jurídicas têm direitos da
personalidade, mas sim, que serão a elas aplicadas, quando cabível, a proteção desses
direitos.
Exemplo: O Supremo TV é citado em uma reportagem de um jornal de grande circulação
como sendo uma empresa de fachada, usada para lavagem de dinheiro, e que está sendo
investigada pela Policia Federal. Porém trata-se de uma informação inverídica, na qual o
editor do jornal ao lançar o nome da empresa criminosa “Supremo de Frango”, se
equivocou e lançou Supremo TV. Devido a isso, criou um tumulto nas redes sociais do
Curso preparatório e ainda vários alunos fizeram pedido de recisão. Nesse caso, o que o
Supremo TV pode fazer nesse dia?
Pode até pedir dano moral, mas só isso não será capaz de estancar o dano. O mais
interessante seria o pedido de uma cautelar satisfativa (tutela inibitória) para que aquele
jornal não cite novamente o nome do supremo, sob pena do pagamento de astreintes,
além do pagamento do dano que for apurado. Ainda seria viável o Supremo TV requerer
direito de resposta e retratação no mesmo espaço utilizado para a reportagem.
Conclui-se então que As tutelas deferidas a Pessoa Natural, no que tange aos direitos da
personalidade, podem ser, quando cabíveis, concedidas ás Pessoas Jurídicas.

Resumindo: As pessoas jurídicas não são titulares de direito da personalidade.


Entretanto, o Código Civil (art. 52) e a jurisprudência (sumula 227 STJ) estabelecem a
possibilidade de utilização das tutelas protetivas dos direitos da personalidade das
pessoas naturais, pelas pessoas jurídicas, quando cabíveis (tutela reparatória, tutela
inibitória, tutela de urgência).

Com isso, finalizamos o estudo da personalidade, e para fechar o capítulo I, passaremos


a abordar o instituto da capacidade.
2) Capacidade
Conceito: Segundo a doutrina a capacidade é a medida da personalidade civil.
Para a doutrina nós teríamos duas espécies de capacidade.

2.1) Capacidade de Direito (ou Capacidade de gozo) – Para grande parte da doutrina, a
capacidade de direito nada mais é do que o sinônimo da própria personalidade jurídica
(civil), ou seja, é uma aptidão genérica para que um sujeito possa vir a ser titular de direito e
deveres (obrigações na orbita jurídica).
Prevista no art. 1º do Código Civil, que dispõe que:
o
“Art. 1 Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.”
Quando a lei diz que toda pessoa é capaz de direitos, esta se referindo a capacidade de
direito, a essa aptidão que todos nós temos para ser titular de direitos e obrigações na
órbita civil.

2.2) Capacidade Fato (ou Capacidade de Exercício) – Para muito essa seria a
verdadeira capacidade. É a possibilidade do sujeito de praticar os atos da vida civil
independentemente da participação de terceiros.
Onde essa capacidade de fato é regulamentada? Nos artigos 3º, 4º, 5º do CC.
É sobre essa capacidade de fato que incide a denominada teoria das incapacidades.
Certas pessoas se não forem protegidas podem ver os seus direitos patrimoniais
dissipados, então a lei vai criar regras para a consecução (proteção) desses direitos.
No direito penal quando tratamos da imputabilidade, vamos nos referir ao sujeito como
inimputável por razões da idade ou por falta/redução do discernimento (deficiente,
psicopata, doente mental), ou imputável.
Se inimputável por razões de idade, ele sofrerá a incidência do Estatuto da Criança e do
Adolescente, que tem como finalidade maior a proteção dessas pessoas que, segundo o
legislador, não são maduras o suficientes para sofrerem a efetiva reprimenda penal.
Como o ordenamento jurídico é um só, o mesmo raciocínio é aplicado no direito civil,
porém aqui, ao invés de tratar o sujeito como imputável ou inimputável, vamos chamá-los
de capaz ou incapaz.

 Para que serve a teoria das incapacidades?


A teoria das incapacidades tem por finalidade proteger pessoas que por alguma razão
não possuem o discernimento necessário para a prática de atos da vida civil. Tal qual no
direito penal, aqui também vamos ter uma finalidade protetiva da especificação da normal.
 Como essa proteção vai se manifestar?
Com a necessidade da presença de um terceiro.
O menor pode ser titular de bens? Sim, pois é titular de personalidade jurídica/civil. Assim,
como titular de direitos, o menor pode ter interesse na gestão de seu patrimônio, e isso se
dará através da presença de seu representante ou assistente.
A criação da figura da representação ou da assistência é uma forma que a lei criou para
auxiliar as pessoas que não tem o necessário discernimento. A necessidade de um
representante ou de um assistente é para fins de se levar a efeito a proteção trazida pela
teoria das incapacidades.

 Mas e se o ato for praticado sem a presença desse terceiro


(Representante/Assistente)?
O ato praticado pelo incapaz sem a presença de seu representante/assistente será
considerado inválido.
Não estamos entrando no grau dessa invalidade, mas apenas falando que o ato será
invalido. Se ele vai ser nulo ou anulável nós estudaremos mais a frente.

 Se cair na prova: Toda sanção de invalidade é punitiva?


Errado, pois pode ter invalidade protetiva (a ausência de representante/assistente
invalida o ato praticado pois naquele momento o incapaz estaria desprotegido).

Uma tradição juridica civilista é traçar as hipóteses de incapacidade (vem sendo muito
debatido e criticado). Quando uma lei traça as hipóteses através de incisos, por vezes,
pode acabar limitando determinado fato. Por exemplo, quando a lei estabelece às
hipóteses de incapacidade, automaticamente está fechando demais quem vai ser ou não
protegido. Perceba que quando a lei define, consequentemente ela exclui. Toda definição
é excludente. Então quando se diz que os menores de dezesseis anos são incapazes,
consequentemente está excluindo a hipótese de ter alguém maior de dezesseis anos e
que por alguma razão não tenha o mesmo discernimento que um menino de dez anos, e
que não possa ser considerado um absolutamente incapaz. E ao mesmo tempo, exclui a
possibilidade daquele menino de quatorze anos, que é genial, e que já tem maturidade
para a prática de vários negócios jurídicos que uma pessoa de vinte e cinco anos talvez
não tenha.
Quando definimos uma hipótese, por um lado pode ser bom, pois ela ajuda a construir
uma segurança jurídica. Mas por outro lado, o jurista pode encontrar dificuldade de
enquadramento diante de casos do dia a dia.
Para facilitar o entendimento veja: A lei civil diz que os viciados em tóxicos e os ébrios
habituais são relativamente incapazes. Todavia, é fato que existem alcoólatras que não
perdem a capacidade de discernimento para a prática de atos privados.
O que pretendemos mostrar é que, se olharmos para o rótulo imposto pela lei a pessoa
vai ser taxada de incapaz (relativamente nesse caso), mas se olharmos para a vida dela,
que é algo muito mais complexo do que uma definição legal, veremos que ela não perdeu
o discernimento para a prática dos atos de sua vida civil.
Temos que entender o direito como uma construção histórica. Houve um momento
histórico em que essa taxatividade foi essencial e auxiliou muito o aplicador do direito.
Mas chega um momento em que chegamos a questionar se é necessário ou não a
definição de hipóteses, sobremaneira quando estamos vivendo em uma sociedade plural
e complexa.
Qual a utilidade em se ter um artigo que diz os toxicômanos e os ébrios habituais são
relativamente incapazes? Será que não seria muito mais eficaz termos um artigo que diga
que uma doença pode gerar a incapacidade a critério do juiz diante de um caso concreto.
E mais, será que alguém muito viciado em drogas (toxicômano da cracolândia), de grande
vulnerabilidade, deve ser encarado como um relativamente incapaz ao invés de
absolutamente incapaz?
O que a doutrina civilista hoje debate é exatamente isso, nós não precisamos mais de
hipóteses legais, mas sim de permissivos legais, ou seja, o legislador reconheceria a
possível incapacidade, mas defini-la entre as várias hipóteses seria uma tarefa do
aplicador da lei diante do caso concreto.
Diante do exposto, o candidato deve ficar atento ao enunciado da questão, e verificar se o
examinador está se referindo a literalidade da lei, ou se formulou um caso concreto que
exige esse conhecimento crítico doutrinário.
Sabemos que o direito passa por uma fase de transição. O código civil sempre trouxe as
hipóteses legais e começa a flexibilizar-se com o código de 2002, e flexibiliza ainda mais
com as alterações promovidas em 2016, com a entrada em vigor do Estatuto da Pessoa
com Deficiência.
Sendo assim, é possível falarmos em um ébrio habitual que seja plenamente capaz,
relativamente incapaz ou absolutamente incapaz. Como do mesmo modo é possível
termos um deficiente mental plenamente capaz, outro relativamente incapaz, e outro
absolutamente incapaz. Esse é o caminho do código civil para os próximos anos, mas
enquanto isso, vamos estudar o momento atual, e o que vem sendo cobrado nas
questões objetivas dos concursos públicos.
O código civil foi reformado nos art. 3, e 4º pelo estatuto da pessoa com deficiência, que é
a lei 13.146/2015. Essa lei traz ações afirmativas em prol do sujeito tido como deficiente.
O Brasil como signatário do tratado internacional de proteção das pessoas portadoras de
deficiência, se comprometeu com a comunidade internacional de elaborar uma legislação
que viesse proteger essa classe.
Como dissemos, esse tratado alterou os arts. 3º e 4º, e criou algumas situações que estão
sendo bastante criticadas na doutrina.
Sabemos que a incapacidade pode ser mensurada em uma incapacidade maior ou menor
(critério quantitativo), e nesse sentido a lei criou três hipóteses:

a) Absoluta Incapacidade (art. 3º)


Antes da entrada em vigor da lei 13.146/2015 tínhamos três incisos no art. 3º que traziam
hipóteses de absoluta incapacidade. Veja:
o
“Art. 3 São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para
a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.”

 O inciso I tratava do fator etário – Os menores de 16 anos.


 O inciso II tratava de hipóteses mais abertas, pois se referia aqueles que por
enfermidade ou deficiência mental, não tinham o necessário discernimento para a
prática dos atos da vida civil;
 O inciso III tratava das pessoas que mesmo por causa transitória, não podiam
exprimir sua vontade. O exemplo aqui era da pessoa que se encontrava em coma.

Na redação atual, a lei rotulou os absolutamente incapazes como sendo somente as


pessoas menores de dezesseis anos.
o
“Art. 3 São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os
menores de 16 (dezesseis) anos.”

Muitos criticam essa reforma, pois como já falamos, ainda é possível ter pessoas com
enfermidade que devem ser consideradas absolutamente incapaz. Imagine por exemplo,
uma pessoa em estado vegetativo após um acidente. Como ela pode ser considerada
capaz (ainda que relativamente) para a vida civil?
Muitos da doutrina andam falando que o Estatuto da Pessoa com Deficiência ao invés de
gerar a proteção esta gerando uma desproteção.

b) Relativa Incapacidade (art. 4º)


o
Art. 4 São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os
exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o
discernimento reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
IV - os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.

A crítica feita pela doutrina é a de que era preferível retirar os ébrios habituais e os
viciados em tóxicos do rol dos relativamente incapazes, e colocar a expressão “por
qualquer enfermidade”, assim, ficaria a cargo do aplicador do direito analisar o caso
concreto.
Lembramos mais uma vez que o candidato deve ficar atento para o enunciado da
questão, pois existem questões que cobram doutrina e jurisprudência e outras que
cobram a literalidade da lei civil. Por exemplo, para o Código Civil, uma pessoa que está
coma, ou até mesmo uma pessoa com estágio avançado de Alzheimer, são consideradas
relativamente incapazes.

c) Plena Capacidade – (art. 5º)


Por exclusão aquele que não for absoluta ou relativamente incapaz, ou seja, os maiores
de 18 anos e que não estiverem no rol dos artigos 3º e 4º do Código Civil.
o
Art. 5 A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à
prática de todos os atos da vida civil.

 Como é classificado o deficiente hoje no Brasil quanto ao grau de incapacidade?


Primeiramente, mister se faz saber quem são os deficientes, e isso bem explica o nosso
legislador ao conceituá-los no art. 2º do Estatuto da Pessoa com Deficiência-
13.146/2015, veja:
o
Art. 2 Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas.
Respondendo a questão, em regra geral, os deficientes maiores de 18 anos são
plenamente capazes, pois não estão mais no rol dos arts. 3º e 4º do Código Civil.
Obs: Qualquer deficiência (física, mental, intelectual ou sensorial).

 Mas é possível que um deficiente seja incapaz?


Imagine um deficiente altamente dependente dos pais, que não consegue por si só
conduzir sua vida, tem grande dificuldade para se locomover e se expressar. Será que é
correto o direito taxar essa pessoa deficiente como plenamente capaz? Se fosse assim, o
direito estaria contrariando a finalidade da própria teoria das incapacidades (proteger
pessoas que por alguma razão não possuem o discernimento necessário para a prática
de atos da vida civil). Então qual foi á ideia criada pelo Estatuto da Pessoa com
Deficiencia? Excepcionalmente, o deficiente pode ser submetido ao regime de curatela
quando o caso concreto demonstrar essa necessidade. É o que dispõe o art. 84, §1º do
Estatuto, veja:
“Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade
legal em igualdade de condições com as demais pessoas.
o
§ 1 Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei.”

Nesse caso, o deficiente será considerado relativamente incapaz com base no inciso III,
do art. 4º do Código Civil, e o curador o seu assistente.
Do exposto, conclui-se que nem sempre o deficiente será considerado plenamente capaz.
Ainda temos uma segunda exceção no regime dos deficientes.
O Estatuto sabe que certos deficientes tem uma dificuldade de expressar sua vontade,
mas que tem um meio de comunicação próprio que algumas pessoas são capazes de
entender. Por exemplo, o surdo-mudo pode não conseguir transmitir sua vontade para
outra pessoa normal, que não conheça a linguagem dos sinais, porém ele pode conseguir
se expressar para pessoas de sua família ou para outras pessoas que conhecem essa
forma de linguagem. Nesses casos, o deficiente tem a plena noção do que se passa em
sua vida, sendo limitado apenas pela sua forma de expressar.
Com isso, o Estatuto criou uma nova figura dentro do Código Civil, a chamada tomada de
decisão apoiada. Ela foi inserida pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência no art. 1.783-A
do Código Civil, e visa preservar a capacidade do deficiente através da nomeação de dois
apoiadores que irão lhe auxiliar no exercício dessa capacidade.
“Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência
elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de
sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil,
fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer sua
capacidade.”
 A TDA é uma forma de supressão da capacidade dos deficientes?
Não. É uma forma de promoção da capacidade, a partir da possibilidade de nomeação de
dois apoiadores que lhe prestarão a devida assistência para a pratica de atos da vida civil.
Veja o resumo através do quadro abaixo:

Regra Geral  Deficiente >18 anos  Plenamente Capaz


Exceção  Deficiente  Curatela – Relativamente Incapaz
Exceção  Deficiente  TDA

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