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As identidades na América
Latina do Século XIX
SÃO PAULO
2018
A região hispano-americana no século XIX passa por um processo de
independência política da Espanha que coloca uma série de demandas para sua
consolidação. Surge, com a montagem dos Estados nacionais, a necessidade histórica de
constituir uma nação que dê legitimidade à autoridade do poder público e crie um fator
de coesão numa determinada população.
Não era de interesse das elites locais, no entanto, um projeto (como proposto por
Bolívar) de construção de uma nação que unisse uma grande amplitude de territórios. A
fragmentação política das antigas possessões espanholas servia muito mais ao
caudilhismo, de forma que cada grupo dominante pudesse exercer o poder político em
sua localidade. A partir disto surge a necessidade de diferenciação entre as múltiplas
comunidades latino-americanas que acabavam de proclamar suas independências
nacionais.
O momento de ruptura política com a Espanha, apesar de ser elemento central na
construção de todas as narrativas nacionais, não presenciou em todas as localidades um
processo imediato de desenvolvimento simbólico, cultural e político de uma identidade
nacional emancipadora, uma vez que nem todas as localidades e suas Juntas de governo
anunciaram um rompimento imediato com a Coroa espanhola após a década de 1810. No
entanto, à medida que se desenha mais claramente a independência política e se conforma
uma outra correlação de classes, diferente do momento de dominação colonial, surge a
necessidade de formar novas identidades que, além de refletir o pertencimento a um ente
comum (a nação), também refletisse e afirmasse as desigualdades existentes.
Por meio de ritos oficiais, foi dado o papel de protagonista a uma elite satisfeita em
participar de bailes, desfiles e cerimônias. A estruturação das celebrações protocolares
oficiais, sem embargo, deu apenas um papel secundário, de mero espectador, aos setores
mais pobres da sociedade. Os rituais nacionais reproduziram, enfim, as hierarquias sociais
próprias da nova ordem republicana.
Também o uso de instituições com maior contato direto com o “baixo povo”, no
esforço de envolver a totalidade da sociedade na identidade nacional. A Igreja, através do
engajamento de parte importante do clero no diálogo direto com as camadas mais pobres,
e as Forças Armadas através de cerimônias grandiosas e atos públicos e solenes, muitas
vezes reforçadas e intensificadas em períodos de guerra. As festividades e cerimônias
tinham papel agitativo de grande valor para um momento pré-comunicação de massas na
função de atingir um grande número de pessoas – a maioria analfabeta – a respeito de um
projeto definido.
Purcell destaca: