Você está na página 1de 8

Correlação de Dados de Chuva com Instabilidade de Encostas do

Revervatório da UHE 14 de Julho, no Rio Grande do Sul


Felipe Gobbi, D.Sc.
Geosoluções Engenharia Geotécnica e Ambiental, Porto Alegre, Brasil
Geobrugg AG
felipe@geosolucoesengenharia.com.br

Anderson Fonini,M.Sc.
Geosoluções Engenharia Geotécnica e Ambiental, Porto Alegre, Brasil
fonini@geosolucoesengenharia.com.br

Alvaro Pereira,M.Sc.
Geosoluções Engenharia Geotécnica e Ambiental, Porto Alegre, Brasil
alvaro@geosolucoesengenharia.com.br

RESUMO: O enchimento e operação de reservatórios de Usinas Hidrelétricas (UHE) pode afetar a


estabilidade das encostas em seu entorno. Atendendo as demandas legais para licenciamento de
UHE, os responsáveis por estes empreendimentos devem executar o monitoramento geotécnico de
encostas nas áreas dos reservatórios. O presente trabalho trata da apresentação do mapeamento de
risco geotécnico, desenvolvido para uma UHE no estado do Rio Grande do Sul, e o consequente
plano de monitoramento executado. Durante o monitoramento foram registradas as instabilidades
de encostas verificadas em campo as quais foram correlacionadas com índices pluviométricos,
sendo que os melhores dados de correlação foram obtidos utilizando a metodologia proposta por
Wilson (1997) e com dados de chuva acumulada em 3 dias. Foi possível estabelecer valores de
indicativos de pluviosidades críticas para estabilidade de encostas na área do reservatório da UHE.
Estes valores foram: 90mm de chuva acumulados em 3 dias ou índice medido de chuva normalizada
igual a 3, o que representou em chuva diária: 36mm em 2007, 41mm em 2008 e 54mm em 2009.

PALAVRAS-CHAVE: Mapa de risco, Estabilidade de Taludes, Monitoramento de encostas,


Pluviosividade.

1 INTRODUÇÃO Por este motivo, a identificação de possíveis


locais cuja estabilidade das encostas seja crítica
A estabilidade de taludes de solo e rocha está e, principalmente, represente risco (sócio-
diretamente ligada às condições de saturação econômicos ou ambientais) é de grande
dos mesmos, quer seja pela alteração das importância para estes empreendimentos.
tensões efetivas devido a variação da poro- Em função disto o monitoramento
pressão, pela perda de coesão aparente (sucção) geotécnico das encostas de reservatórios de
dos materiais, ou ainda pelas forças de UHE´s e PCH´s é item comum em termos de
percolação geradas pelo fluxo em meio poroso. referência para o licenciamento ambiental
O enchimento e operação de reservatórios de destes empreendimentos. Atendendo a estes
usinas hidrelétricas geram oscilações nos níveis termos de referência a Geosoluções Engenharia
freáticos das encostas marginais aos mesmos, Geotécnica e Ambiental desenvolveu e aplicou
podendo gerar alteração na estabilidade destes vários planos de monitoramento de encostas em
taludes. Estas alterações são dependentes das reservatórios de UHE´s e PCH´s no Estado do
fases do reservatório e da realação entre o nível Rio Grande do Sul.
freático com o nível do rio/reservatório: O presente artigo consiste na apresentação
enchimento, operação, rebaixamento. de um destes monitoramentos de encostas, mais
precisamente na UHE 14 de Julho a qual está predominância ocorrente na Formação Serra
sobre controle da Companhia Energética Rio Geral é de rochas básicas, sendo que 90% do
das Antas (CERAN), cujo resultado final volume desta formação são compostos por
possibilitou uma estimativa de correlação das basaltos, 7% do volume é ocupado por
instabilidades mapeadas com índices andesitos e 3% por rochas ácidas, que são os
pluviométricos daquela região. riolitos e riodacitos. A ocorrência das rochas
Este artigo apresenta, além desta introdução, ácidas da Formação Serra Geral está limitada à
no item 2, a localização da UHE 14 de Julho, borda sudeste da Bacia do Paraná, que abrange
com foco para as condicionantes geológicas da a região nordeste do estado do Rio Grande do
área, no item 3 a metodologia de mapeamento Sul.
de risco empregada e o monitoramento de A estrutura de um derrame basáltico tem
encostas realizado, no item 4 as correlações características próprias, podendo este ser
obtidas com os índices pluviométricos da reigão dividida em zonas, que são:
e no item 5 as conclusões do trabalho.  Zona de material vítreo e brecha
vulcânica, base de derrame, originada
2 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE devido ao resfriamento rápido e ao fluxo
ESTUDO no contato das primeiras lavas do
derrame com a superfície;
2.1 Localização  Zona de diaclasamento horizontal, base
de derrame, decorrente dos gradientes
A UHE 14 de Julho, sobre controle da CERAN, de temperatura quando do resfriamento
objeto deste artigo está localizada no rio das da lava, estrutura de resfriamento;
Antas; entre os municípios de Bento Gonçalves  Zona de diaclasamento vertical ou
(ao Norte) e Cotiporã (ao Sul), no estado do Rio disjunção colunar, a região central do
Grande do Sul. derrame, é caracterizada por rocha
Seu reservatório tem uma extensão maciça com diaclasamento
aproximada de 26 km e abrange em parte os predominantemente vertical decorrente
territórios das cidades de Bento Gonçalves, dos gradientes de temperatura quando
Cotiporã e Veranópolis. Tendo como principais do resfriamento da lava, estrutura de
acessos as rodovias RSC-470, RS-431 e RS- resfriamento;
359.  Zona amigdalóide, topo de derrame,
além da presença de material vítreo e
2.1 Caracterização Geológica brecha vulcânica, sendo que pode,
também, ocorrer no topo de derrame
A área de instalação da UHE 14 de Julho está zona de diaclasamento horizontal.
situada na porção sul da chamada Bacia A espessura, e até mesmo a ocorrência, de
Sedimentar do Paraná a qual consiste de cada uma destas camadas varia de acordo com
formações sedimentares que foram, cada derrame.
posteriormente, cobertas em grande parte por
derrames basálticos que são os principais
constituintes da Formação Serra Geral (Leinz e
Amaral, 1978).
Ainda de acordo com Leins e Amaral (1978)
a Formação Serra Geral consiste de sucessivos
derrames de lava, com espessuras variando de
350m nas bordas e 1000m na região central da
bacia, sendo a sua espessura média de 660m. A
espessura de cada derrame pode variar desde
poucos metros até 100m, sendo que a espessura
Figura 1. Estrutura dos derrames basáltidos segundo
média dos derrames varia de 10m a 20m. A Leinz e Amaral, 1978.
levantamento de ocupações, elaboração do
Esta estrutura gera velocidades diferentes de mapa de suscetibilidade, elaboração do mapa de
alteração dentro de um mesmo derrame. Sendo risco e finalmente elaboração e implantação do
as regiões de topo e base de derrame locais com plano de monitoramento.
ação mais rápida do intemperismo devido à
concentração de drenagem e da própria 3.1 Mapeamento Geotécnico
estrutura da rocha nestes locais. Isto explica a
forma característica de “degraus” dos morros O mapeamento geotécnico consiste
compostos por estas rochas, sendo estes degraus primeiramente em um trabalho de escritório
formados pelas escarpas de rocha sã, centro de onde são verificados todos os dados
derrame, em meio a camadas de rocha alterada bibliográficos disponíveis sobre a área, mapa
e solo, topo e base de derrame. Na base dos geológico, pedológico, levantamento estrutural
“degraus”, contato entre derrames, é comum a por fotointerpretação, análise do projeto com
ocorrência de uma zona de acúmulo de material cotas finais de enchimento, etc. Este
proveniente dos mecanismos de evolução da levantamento é realizado em todo o trecho do
encosta, os tálus e colúvios. reservatório, envolvendo todas as encostas até a
A ação erosiva dos rios esculpiu vales em crista dos morros.
“V” atravessando vários derrames da Formação Posteriormente é realizado extensivo
Serra Geral, seguindo, preferencialmente, trabalho de campo onde são delimitados os
lineamentos estruturais nos maciços. Nestes diferentes materiais geotécnicos presentes nas
vales, devido ao alívio de tensões gerados pela encostas. Importante ressaltar que esta
escavação, ocorre ainda outro tipo de delimitação consiste principalmente em separar
fraturamento das rochas constituintes dos materiais e regiões submetidas a um mesmo
derrames, que são as fraturas de alívio, mecanismo de ruptura, por exemplo, separar
normalmente dispostas paralelas a superfície do áreas sujeitas a rupturas de taludes do tipo
terreno nas vertentes dos vales. “talude infinito” dos depósitos de colúvios onde
rupturas circulares profundas são esperadas.
3 METODOLOGIA DE MAPEAMENTO Este trabalho é realizado em uma faixa
DE RISCO específica acima da cota de alagamento do
reservatório.
Para e execução do monitoramento geotécnico Aproveitando o trabalho de campo para o
das encostas do reservatório, primeiramente foi mapemaneto geotécnico já é realizado um
elaborado um mapa de risco geotécnico do inventário de todas as ocupações na área
reservatório. estudada, onde entende-se como ocupações:
A metodologia utilizada é semelhante a residências, vilas, estradas, ferrovias, etc.
apresentada por Gobbi et al. (2008) e será
sucintamente apresentada neste item. 3.2 Mapa de Suscetibilidade
O risco pode ser definido pela equação:
O mapa de suscetibilidade consiste em um
R  H .E.V (1) mapa que identifica a probabilidade de
Sendo que: Perigo (H) = susctibilidade de ocorrência de processos de instabilidade nas
ocorrência de um evento em um local específico encostas do reservatório da UHE. Esta
e em um período específico de tempo; probabilidade de ocorrência de instabilidade é
Elementos em risco (E) = pessoas e obtida através do cruzamento do mapa
propriedades; Vulnerabilidade (V) = grau de geotécnico com os parâmetros chave
perda de um determinado elemento. determinados para cada mecanismo de ruptura
associado a determinadas regiões das encostas.
Para a aplicação desta equação às encostas Os tipos de instabilidades contemplados foram:
do reservatório as seguintes etapas foram rupturas em solo do tipo “talude infinito”,
realizadas: mapeamento geotécnico e rupturas e movimentos lentos em colúvios.
Instabilidades do tipo rupturas em rocha Após estes cruzamentos as encostas eram
segundo as fraturas de alívio, e os fluxos de definidas com de baixa, média e alta
detritos, não puderam ser previstos pelos suscetibilidade a ocorrência de instabilidades de
procedimentos adotados neste trabalho. Mesmo encostas. A Figura 2 apresenta o resultado do
assim, os talvegues foram marcados e mapeamento, representado pelo mapa de
inspecionados para serem acompanhados suscetibilidade de parte do reservatório
durante o monitoramento. avaliado.

Figura 2. Resultado do mapeamento representado pelo Mapa de Suscetibilidade de parte do reservatório da UHE 14 de
Julho. Àreas em verde, baixa suscetibilidade, amarelo, média suscetibilidade e vermelho, alta suscetibilidade à
ocorrência de instabilidades geotécnicas.
Tabela 1. Matriz de cruzamento do mapa de
3.2 Mapa de Risco suscetibilidade com as conseqüência de ocorrência de
uma instabilização para definir o risco geotécnico.
Susceti- Pto.Susce- Conse- Pto. Pto. Risco
O mapa de suscetibildiade proporcionou a bilidade tibilidade quência Conseq. Risco
determinação de um dos termos da Equação 1. Baixa 1 Baixa 1 1 Baixo
Utilizando o inventário das ocupações no Baixa 1 Média 2 2 Baixo
entorno do reservatório foram atribuídos pesos Baixa 1 Alta 3 3 Médio
Média 2 Baixa 1 2 Baixo
para cada tipo de ocupação considerando os
Média 2 Média 2 4 Médio
elementos em risco (quantidade de pessoas Média 2 Alta 3 6 Alto
sujeitas ao risco ou valor da estrutura submetida Alta 3 Baixa 1 3 Médio
ao risco). O cruzamento entre o mapa de Alta 3 Média 2 6 Alto
suscetibilidade e os elementos em riscos Alta 3 Alta 3 9 Alto
classificados, gerou o mapa de risco. A matriz
de cruzamento utilizada para definição do grau
de risco é apresentada na Tabela 1. 4 MONITORAMENTO
Como produto do mapa de risco foram representou um aumento no número de
delimitadas áreas de risco ao longo do instabilidades quando comparados com os
reservatório. Este procedimento é, obviamento, resultados anteriores, 95 instabilidades
indicativo de locais submetidos ao risco. Sendo mapeadas após o enchimento contra 41
assim as áreas (manchas) de risco alto, foram verificadas antes do enchimento.
delimitadas no mapa e então numeradas como Aproximadamente 70% das instabilizações
áreas de risco. Ao todo 8 áreas de risco foram registradas se concentraram em áreas mapeadas
delimitadas e para cada uma delas ações como de alta e média suscetibilidade.
específicas foram determinadas, como
monitoramento com marcos superficiais, Tabela 2. Informações relacionadas aos eventos de
inclinômetros, ou simplesmente inspeções instabilidade observados durante as vistorias trimestrais.
Tri- E (eventos) Idade
detalhadas dos riscos geotécnicos existentes. P*
mes E
Como este trabalho tem foco nas (mm) Ruptura Erosão Recente Antiga
-tre
correlações obtidas com as chuvas da região, 1 10 473 10 - 10 -
não serão abordadas as medidas específicas 2 8 644 8 - 8 -
destas áreas de risco, e sim as medidas 3 5 360 5 - 5 -
contempladas para o reservatório como um 4 12 426 12 - 10 2
5 6 430 6 - 6 -
todo. A medida realizada para o reservatório Enchimento do Reservatório
como um todo consistiu na inspeção trimestral 6 17 710 15 2 17 -
do reservatório e o registro das instabilidades 7 11 513 11 - 10 1
verificadas em cada trimestre. 8 19 159 14 5 11 9
9 30 459 26 4 28 2
10 34 1119 29 5 25 9
4.1 Resultado do Monitoramento de Campo
*Valor medido para o período. E – número de eventos
registrados
Durante as vistorias de campo foram registradas
rupturas e erosões, as quais foram compiladas Tabela 3. Informações relacionada aos tipos de
para cada trimestre. Estas vistorias foram instabilidade e sua localização quanto ao nível de
realizadas antes e posterior ao enchimento do suscetibilidade mapeado no cadastramento geotécnico.
reservatório. Para cada instabilidade foram Trimestre Eventos Suscetibilidade*
registrados: (i) tipo do evento, ruptura ou A M B
erosão; (ii) a magnitude do evento; (iii) a 1 10 5 5 -
provável causa do evento com base nas 2 8 4 - 4
3 5 1 3 1
condicionantes locais; (iv) a suscetibilidade do 4 12 6 5 1
local do evento com base no mapeamento 5 6 1 3 2
pregresso; (v) a média pluviométrica do Enchimento do Reservatório
trimestre dos postos com dados disponíveis. As 6 17 4 6 5
rupturas eram marcadas e depois verificadas se 7 11 - 4 7
8 19 - 6 10
haviam ocorrido no trimestre vigente ou não, se
9 30 2 15 8
fossem rupturas já demarcadas as mesmas eram 10 34 3 19 7
classificadas como “antigas”. *Suscetibilidade: A – alta; M – média; B - baixa
Foram realizadas 10 vistorias com
periodicidade trimestral, sendo que 5 foram
anterior ao enchimento do reservatório e 5 após. 5 INSTABILIDADES VERSUS
Os resultados dos monitoramentes são PLUVIOSIDADE
apresentados nas Tabelas 2 e 3.
De acordo com o monitoramento e Com o intuito de definir índices pluviométricos
conforme observado nas Tabelas confirma-se onde fossem esperadas instabilidades foram
que a a grande maioria dos eventos coletados os dados de chuva disponíveis na
instabilizantes são ocasionados pela influência região para então correlacioná-los com os
da água. O enchimento do reservatório eventos de instabilidades registrados no
reservatório ao longo do período do
monitoramento.
Os dados de chuva utilizados consistem
nos dados de chuva diária disponibilizados pela
defesa civil para os municípios de Bento
Goncalves e Veranópolis (um de cada lado do
reservatório). Certamente seriam obtidos dados
muito mais confiáveis de estações
pluviométricas instaladas diretamente na área
monitorada, entretanto foram utilizados os
Figura 3. Número e tamanho de instabilidades versus
dados disponíveis. índices pluviométricos normalizados.
Após tentativas de correlação com
diferentes índices, como chuva diária máxima, Verifica-se na Figura 3 a maioria das
chuva acumulada em diferentes intervalos de instabilizações foram de pequeno porte e que
tempo, etc. foi aplicada a metodologia proposta em período de maiores de chuva normalizada
por Wilson (1997) onde foi utilizada a chuva houve um aumento no número de
diária normalizada e também foi utilizado o instabilidades. Pelos gráficos foi possível
valor de chuva acumulado em 3 dias. Com estas correlacionar as rupturas decorrentes de causas
correlações foram obtidos os melhores diversas com o índice normalizado, sendo que,
resultados para este estudo de caso. quando o valor oriundo da equação 2
Os gráficos apresentados a seguir ultrapassou 3,0 (referência), situações de
apresentam no eixo das abscissas (x) o tempo, instabilizações de solo e/ou rocha ocorreram.
período do monitoramento em dias, e no eixo Outra análise da relação instabilidades
das ordenadas (y), valores normalizados obtidos versus pluviosidade foi a consideração de chuva
a partir da equação 01 (Wilson, 1997). acumulada. Para o período de monitoramente
CD
y (2) plotou-se todos os resultados de chuva
CAA acumulada para três dias. A Figura 4 apresenta
NDC os dados de chuva acumulada com as
instabilidades verificadas no período de
Onde, CD é a chuva acumulada do dia (mm), monitoramento.
CAA é a chuva acumulada no ano de análise e
NDC o número de dias em que ocorreram
precipitações, também no ano de análise.
Levando-se em consideração a localização e
tamanho do reservatório, procurou-se
compatibilizar os dados pluviométricos de
ambos município onde foram utilizados os
dados de chuva. Para os dados, optou-se por
realizar uma média aritmética das precipitações
ocorridas durante os mesmos dias dos dois
locais. Figura 4. Número e tamanho de instabilidades verus
A Figura 3 apresenta os dados de chuva chuva acumulada para 3 dias.
normalizados segundo a metodologia proposta
por Wilson (1997) e todos os tipos de Da mesma forma que para a avalição da
instabilizações observados durante o período de chuva normalizada (equação 2), pode ser
monitoramento. determinado um valor de chuva acumulada em
3 dias a partir do qual verificam-se
instabilidades com maior frequência. Este valor
de chuva acumulada foi definido como 90 mm.
6 OSCILAÇÃO DO NÍVEL DO A Figura 5 apresenta a oscilação do nível do
RESERVATÓRIO reservatório associada às rupturas ocorridas em
função desta variação (neste gráfico foram
Conforme citado no item 1 deste artigo o apenas inseridas as rupturas ocorridas na
enchimento e operação de um reservatório margem, atribuída a variação do nível do
geram alterações nos níveis de água reservatório na inspeção de campo). Os valores
subterrânea, e consequentemente na referentes ao nível do reservatório
estabilidade das encostas. Supondo que o nível compreendem a média diária entre as cotas
freático de um talude seja praticamente medidas a montante do barramento.
nivelado com o nível do rio que adjacente ao
mesmo: (i) ao se elevar o nível do rio
(enchimento do reservatório) inicia um
processo de saturação da encosta e, se a
velocidade do enchimento for maior do que a
velocidade de saturação do solo, haverá durante
um período de tempo um nível d´água na face
do talude superior do que o nível d´água no
interior do mesmo, esta condição é favorável
em uma análise de tensões totais e ainda soma-
se a isto o efeito positivo das forças de
percolação atuando na frente de saturação do Figura 5. Oscilação do nível do reservatório associada à
talude; (ii) após um período de tempo a frente instabilidades ocasionadas por esta variação.
de saturação já se instalou e o nível d´água no
interior do talude esta aproximadamente Da análise do gráfico apresentado na Figura 5
nivelado com o reservatório, nesta situação não é possível afirmar que a ocorrência de
cada talude deve ser analisado especificamente, determinado valor de oscilação do nível do
devido a alteração das tensões efetivas no reservatório desencadeou rupturas, muito
maciço de solo, entretanto se houver um (iii) menos relacioná-las com sua magnitude.
rebaixamento rápido do reservatório (mais Todavia, é evidente que o número de variações
rápido que a dissipação do excesso de poro expressivas da cota do reservatório é
pressão) encontrar-se-á a situação mais crítica diretamente proporcional ao número de
para o talude, pois o nível d´água no interior do rupturas.
talude será superior ao nível d´água junto a face
do talude, e as forças de percolação também
estarão atuando em direção desfavorável. 7 CONCLUSÕES
Devido ao próprio procedimento de operação
do reservatório para geração de energia, chuvas Foi realizado um trabalho de mapeamento de
nas áreas de contribuição do reservatório, risco na área do reservatório da UHE 14 de
chuvas na cabeceira do rio e afluentes, períodos Julho, sob controle da CERAN, apresentado
de estiagem, entre outros, é comum a neste estudo.
ocorrência de oscilações do nível do A partir do mapeamento de risco foram
reservatório. Para a usina estudada neste delimitadas áreas especificas e foi proposto um
trabalho estas oscilações são normalmente da plano de monitoramento, fora das áreas de risco
ordem de 1m para a rotina diária de operação, específicas foram realizadas vistorias
entretanto variações de até 4m foram trimestrais à área do reservatório, antes e após
registradas por motivos alheios como chuvas, seu enchimento. Nestas vistorias foram
estiagem, etc. Este tipo de variação pode ser mapeadas as rupturas ocorridas e as mesmas
considerado um rebaixamento rápido em foram classificadas quanto a magnitude,
pequena escala, afetando pequenas porções dos tipologia e possível causa.
taludes na margem do reservatório. Verificou-se que cerca de 70% das
rupturas ocorridas estavam enquadradas em
áreas classificadas previamente como de média dos reservatórios. Estes valores podem balizar
e alta suscetibilidade à ocorrência de ações de prevenção e controle de eventuais
instabilidades, o que é um indicativo de instabilidades permitindo um planejamento de
validação da metodologia aplicada. ações mitigadoras.
Foi verificado um aumento do número Os autores acreditam que esta medologia
de instabilidades após o enchimento do pode ser empregada para outras situações
reservatório. Este aumento é caracterizado envolvendo áreas com potencial risco de
como normal, uma vez que boa parte das instabilidade de taludes.
instabilidades consistem em rupturas pequenas
de margem do reservatório. Estas rupturas já AGRADECIMENTOS
haviam ocorrido no nível anterior do rio, em
magnitude tal que um equilíbrio das encostas de Os autores agradecem a Companhia Enegética
margem foi alcançado. Existe a tendência de Rio das Antas (CERAN) pela disponibilização
que o número de instabilidades junto a margem dos dados e informações que possibilitaram a
do reservatório seja decrescente com o tempo realização deste estudo.
(mantendo-se as mesmas condições de
operação) até que seja atingido novo equilíbrio REFERÊNCIAS
destas encostas (como na antiga margem do
rio). Goobi, F.S; Bressani, L. A. ; Rigo, M.L.; Bortolli, C. R.;
Em termos da verificação de correlação entre Pereira, A. Identificação de Áreas com
Suscetibilidade a Instabilidade Geotécnica com Base
as instabilidades verificadas e a pluviosidade em Geoprocessamento. In: 14 Congresso Brasileiro
foi possível, com base nos dados existentes de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica,
(pluviosidade) e gerados (monitoramento), 2008, Búzios. Anais 14 COBRAMSEG. São Paulo :
estabelecer valores de indicativos de ABMS, 2008. v. 1.
pluviosidades críticas para estabilidade de Wilson R.C. (1997). Normalizing rainfall/debris-flow
thresholds along the U. S. Pacific coast for long-term
encostas na área em questão. Está análise foi variations in precipitation climate. In: Proceedings
realizada por dois métodos, a chuva acumulada 1st International Conference on Debris-Flow Hazard
em 3 dias e a metodologia de Wilson (1997). Os Mitigation (Chen CL, ed). San Francisco: American
valores encontrados foram: Society of Civil Engineers, p. 32-43.
• 90mm de chuva acumulados em 3 dias Leinz, V.; Amaral, S.E. (1978) Geologia Geral. São
Paulo: Nacional, 1978.
dos obtidos através de valores médios entre os
municípios de Bento Gonçalves e Veranópolis;
CD
•  3 , que representou em chuva
CAA
NDC
diária: 36mm em 2007, 41mm em 2008 e 54mm
em 2009.
Embora tenha-se ciência de que a fonte de
dados de chuva não é exatamente na área do
reservatório, que o período de análise é curto
em relação a uma série histórica de
precipitações, que a definição da causa das
instabilidades foi realizada em campo de acordo
com a experiência da equipe técnica e não
foram realizadas retro-análise das mesmas, e
outras incertezas, acredita-se que as
metodologias apresentadas neste trabalho
permitram determinar valores de referência, em
relação a quantidade de chuva, para a
deflagração de novas instabilidades na região

Você também pode gostar