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PATOLOGIAS EM CONCRETO

1 – INTRODUÇÃO
1.1 - PATOLOGIA
1.1.1 - Causas

Causa da patologia é o fator que motivou o desempenho insatisfatório.


FATORES: podem ser congênitos ou adquiridos.
Fatores congênitos: decorrentes de falhas originadas na construção.
Fatores adquiridos: decorrentes de alterações impostas, posteriormente, à
construção ou os seus elementos.
FATORES: endógenos ou exógenos
Fatores endógenos, intrínsecos ou internos: inerentes ao próprio imóvel,
decorrentes de falhas de projeto ou execução, aplicação de materiais ou
métodos inadequados, utilização inadequada ou esgotamento da vida útil.
Fatores exógenos ou externos: provocadas por ações, voluntárias ou não,
impostas por elementos não pertencentes à construção.
FATORES: de ordem física ou química.
Fatores físicos: envolvem elementos físicos como ação de cargas, temperatura,
dimensões, etc.
Fatores químicos: envolvem reações químicas

1.2 - CONCRETO

Concreto: pedra artificial, que permite determinação da forma.


Componentes: cimento, agregados, água, aditivos e adições
Cimento: (aglomerante hidráulico) obtido da moagem do clinquer (mistura de
calcário e argila aquecida em forno rotativo a ± 1.450º C) e gesso, mais
compostos.
Agregados: graúdo (pedra) e miúdo (areia – natural ou artificial)
Água: o cimento reage quimicamente com a água (exotérmica - libera calor)
aglutinando os agregados.

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Aditivos e adições.

2 - PATOLOGIAS DO CONCRETO

As patologias no concreto podem ocorrer por:


• Falhas de projeto.
• Defeitos de execução: concreto, formas, armadura.
• Problemas inerentes aos componentes
• Fatores externos
2.1 - FALHAS DE PROJETO
Erro de cálculo, falta de detalhamento, especificações incompletas ou
inadequadas, erros gráficos.
2.2 – DEFEITOS DE EXECUÇÃO
2.2.1 - Concreto
Compacidade: depende de dosagem (proporção, tamanho e forma dos
componentes) e aplicação (mistura, transporte, lançamento e adensamento).
Patologias associadas à (má) compacidade: exsudação, segregação,
porosidade, descamação. Conseqüências: redução da capacidade estrutural e
durabilidade.
Cura: depende das condições climáticas.
Patologias associadas à cura (inadequada): retração, fissuras, porosidade.
Conseqüências: redução da capacidade estrutural e durabilidade.
2.2.2 – Formas
Dimensões, modulação, estanqueidade, umedecimento, remoção.
Patologias associadas às formas: porosidade, alterações estruturais.
Conseqüências: redução da durabilidade e capacidade estrutural.
2.2.3 – Armadura
Espaçamento, recobrimento.
Patologias associadas às armaduras: corrosão e conseqüentes fissuras,
descamação, desplacamento e até ruína da estrutura de concreto.

2.3 - PATOLOGIAS ASSOCIADAS AOS COMPONENTES DO CONCRETO

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De ordem física: presença de argila e/ou pulverulentos nos agregados conduz
à perda de aderência na interface e conseqüente redução da resistência e
possibilidade de formação de fissuras.
De ordem química: contaminação pela presença de agentes químicos (açúcar,
cloretos, hidrocarbonetos, ácidos, sulfatos) na água ou nos agregados, pode
conduzir a patologias que vão desde o retardamento da pega e redução da
durabilidade até expansão e desagregação.

3 - MECANISMOS DE DETERIORAÇÃO
Mecanismos de deterioração podem ser de ordem física, de ordem química e
de ordem físico-química.
Mecanismos de ordem física: deformações ou desgastes devidos à ação de
esforços.
Mecanismos de ordem química: deformações ou deteriorações devidas a
reações químicas.
Mecanismos de ordem físico-química: combinação das anteriores.
As deteriorações mais comuns nas estruturas de concreto estão ligadas a:
deformações, eflorescência e corrosão das armaduras, sendo as duas últimas
de ordem físico-química e a primeira de ordem física ou química. Alem desses,
em casos específicos, os fenômenos de abrasão, cavitação e erosão têm seu
papel, com geral contribuição de fatores exógenos.

3.1 - DEFORMAÇÕES
Deformações podem ocorrer em virtude de fatores internos ou externos.
3.1.1 - Deformações Devidas a Fatores Internos ou Intrínsecos
Dentre as deformações devidas a fatores intrínsecos podemos citar: retração
(plástica, hidráulica, química, autógena, térmica, por carbonatação), expansão
(hidráulica, química, térmica).

3.1.1.1 – Retração
Retração é a redução de volume da peça.
3.1.1.1.1 - Importância da análise da retração

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Na prática, a retração das peças de concreto não ocorre livremente, mas é
restringida por um ou mais fatores dentre os seguintes: presença de
agregados, aderência ou atrito entre a peça e uma superfície de contato,
ligações ou vínculos entre elementos de uma estrutura, aderência do concreto
à armadura (concreto armado).
As restrições fazem com que surjam tensões de tração no material, que,
dependendo da intensidade e do módulo de deformação do concreto, podem
conduzir à formação de fissuras, que além de prejudicar a estética reduzem a
durabilidade.
Os efeitos da retração são mais consideráveis nas chamadas estruturas
contínuas, como cortinas e túneis.

3.1.1.1.2 - Tipos de retração


Há vários tipos de retração: retração plástica, retração hidráulica, retração
química, retração autógena, retração por carbonatação, retração térmica.

Retração plástica: ocorre no concreto fresco, devido à perda de água por


exsudação, evaporação absorção pelas formas ou absorção pelos agregados.
Prevenção (para minimizar as patologias): umedecimento das formas, proteção
das superfícies com material impermeável, cura química, uso de aditivos, uso
de fibras.
Retração hidráulica ou retração por secagem: deve-se à perda de água livre
(ou capilar) que ocorre no concreto endurecido, quando a umidade ambiente é
inferior à do concreto.
Prevenção (para minimizar as patologias): cura úmida, proteção das superfícies
com material impermeável, cura química, uso de aditivos.
Retração química: devida à hidratação do cimento, uma vez que o volume dos
hidratos é inferior ao volume dos compostos anidros somado ao volume de
água.
Retração autógena: decorre da perda de água capilar para a hidratação de
partículas de cimento anidro.

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Retração por carbonatação: decorrente da reação do CO2 da atmosfera com
compostos hidratados do concreto (essencialmente a portlandita) formando
carbonato de cálcio – ou calcita - (solúvel sob tensão) e água.
Retração térmica: decorrente da variação térmica do ambiente ou da
hidratação (exotérmica) - prevenção: usar água gelada ou gelo, cimento de
baixo calor de hidratação (CP-III).
Normalmente as retrações plástica e hidráulica são mais significativas nas
obras comuns e a retração térmica em obras de grande volume de concreto.

3.1.1.1.3 - Fatores que podem influenciar na retração


Tipo de cimento
Tipo e quantidade de agregado: quanto maior teor de agregado menor será a
retração, quanto menor módulo de deformação do agregado maior será a
retração.
Relação água/cimento: quanto maior a relação água/cimento maior será a
retração.
Umidade ambiente: quanto menor a umidade ambiente maior será a retração.
Tempo: a retração tende a se propagar assintóticamente com o decorrer do
tempo (perceptível até um limite).
Geometria e dimensões da peça: quanto maior o caminho que água precisa
percorrer para sair do concreto menor será a chance de retração, quanto maior
a superfície exposta maior a chance de retração.
Aditivos: essencialmente aceleradores de pega aumentam a retração.
Adições: excesso de finos aumentam a retração.

3.1.1.2 – Expansão
Expansão é o aumento de volume da peça, que pode conduzir a
deslocamentos e alterações estruturais. Semelhantemente à retração,
podemos distinguir três tipos principais de expansão: expansão hidráulica,
expansão química e expansão térmica
Expansão hidráulica ou expansão por umidade (saturação): deve-se à
absorção de água que ocorre no concreto endurecido, quando a umidade
ambiente é (muito) superior à do concreto.
Prevenção: impermeabilização das superfícies.

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Expansão química (reação álcali-agregado): reação química dos álcalis do
cimento (K2O e Na2O) com sílica amorfa presente em alguns agregados.
Expansão térmica: decorrente da variação térmica do ambiente ou da
hidratação (exotérmica) - prevenção: usar água gelada ou gelo, cimento de
baixo calor de hidratação (CP-III).
3.1.2 - Deformações Provocadas por Elementos Externos
Deformação imediata: observada logo após a aplicação da(s) cargas.
Deformação lenta (fluência): observada ao longo do tempo.
Desgaste: abrasão, cavitação, erosão.

3.2 - EFLORESCÊNCIA

A formação de eflorescência se deve ao carreamento de sais solúveis para a


superfície, através de infiltrações (principalmente quando há pressão
piezométrica).
Danos: prejuízo estético, insalubridade e, em alguns casos, deterioração do
concreto (sais agressivos).
Sais mais comuns: carbonatos de cálcio, magnésio, potássio e sódio,
originados da carbonatação dos hidróxidos do cimento; hidróxido de cálcio,
proveniente da cal liberada na hidratação do cimento (lixiviação).

3.3 - CORROSÃO DE ARMADURAS (CONCRETO ARMADO)


3.3.1 – Conceitos Básicos
Em linhas gerais, corrosão pode ser entendida como interação destrutiva de
um material com o meio ambiente.
No caso do aço, a deterioração pode-se ocorrer através de dois processos
principais: oxidação direta ou corrosão eletroquímica.
Na corrosão direta ou química, os átomos do aço reagem diretamente com o
oxigênio. Essa reação ocorre geralmente na forma gás-metal ou íon-metal e
produz uma espécie de película uniforme e contínua de óxido de ferro, que
pode até servir de proteção à propagação da deterioração, de modo que não
trás grandes preocupações ao estudo das manifestações patológicas nas
estruturas de concreto.

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Na corrosão eletroquímica, o fenômeno ocorre em face da formação de micro-
pilhas, ou mesmo macro-pilhas elétricas no interior do concreto, onde as barras
de aço passam a desempenhar o papel de eletrodos polarizadores de íons,
decompondo o metal, semelhantemente ao que ocorre em qualquer
experimento de eletrólise. Esse é o tipo mais comum de corrosão nas
armaduras das estruturas de concreto.

3.3.3 - Fatores que Podem Acelerar o Processo Corrosivo


3.3.3.1 - Ação de cloretos

Os cloretos, além de poderem ser adicionados na mistura, através de água de


amassamento contaminada ou aditivos, podem penetrar no concreto, depois de
endurecido (mediante ação da água como veículo), através do contato com
águas ou atmosferas marítimas, precipitações pluviais, lençóis freáticos
contaminados, águas de lavagem e materiais de limpeza.

3.3.4 - Fatores que Podem Afetar a Alcalinidade do Meio


3.3.4.1 - Carbonatação
A penetração de dióxido de carbono no concreto conduz a uma reação com o
hidróxido de cálcio existente na pasta, alterando a alcalinidade do meio, que
pode levar à despassivação da armadura.
A verificação da alteração do pH do meio pode ser feita de maneira bastante
simples, mediante aplicação de solução alcoólica de fenolftaleína a 1%, que
conferirá coloração vermelha ao meio com pH acima de 10 (concreto são) e
manterá incolor no meio carbonatado.
A reação de carbonatação depende consideravelmente da umidade ambiente,
sendo crítica em torno de 65% e praticamente nula abaixo de 50% ou acima de
95%.

3.3.5 - Seqüência dos Efeitos da Corrosão


Despassivação da armadura
Expansão da armadura
Fissuração do concreto
Desplacamento do concreto

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Tratamento: recuperação ou reparo estrutural.

4 - MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS

Uma perícia normalmente exige correlacionar efeito e causa, sendo que o


primeiro contato, na vistoria será com as manifestações patológicas
perceptíveis, das quais deveremos descobrir os agentes causadores. As
manifestações patológicas mais comuns no concreto são: alterações de
tonalidade da superfície, deformações, fissuração, descamação,
desplacamento, ruína. Na maioria das vezes, o perito é solicitado a verificar
fissuras.
4.1 - FISSURAS
Origem: concreto fresco ou endurecido.
Causas: projeto, execução, materiais, elementos externos.
Motivos: endógenos, exógenos.
Fatores: físicos, químicos.
Fatores físicos: térmicos, estruturais.
Fatores térmicos: variações térmicas, secagem precoce.
Fatores estruturais: sobrecarga, sub-dimensionamento, fluência, abrasão,
deformação.
Fatores químicos: reações internas, contaminação (penetração de elementos
agressivos ou nocivos).
Reações internas: hidratação, reação álcali-agregado.
Contaminação: carbonatação, desagregação, corrosão de armaduras.

4.1.1 - Tipologia das Fissuras:


4.1.1.1 - Fissuras de retração
Retração plástica: fissuras superficiais, paralelas, direções aleatórias.
Retração hidráulica: fissuras superficiais, pé de galinha, pele de jacaré,
mapeamento.
Retração térmica: fissuras superficiais, seccionais, regulares.

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4.1.1.2 - Fissuras estruturais
As fissuras estruturais devem-se, normalmente a problemas de
dimensionamento, execução ou sobrecargas.
Recobrimento insuficiente ou corrosão das armaduras: fissura ao longo da
extensão da armadura.
Flexão simples: fissuras radiais em relação à carga.
Flexão composta: fissuras semiparabólicas entre as cargas.
Punção: fissuras perimetrais.
Cisalhamento: fissura entre carga e apoio.
Recalques diferenciais: geralmente inclinadas a aproximadamente 45º (no
sentido do recalque).
Cantos de vãos (pontos de concentração de cargas): geralmente inclinadas (a
partir do canto).

5 - REPARO E RECUPERAÇÃO ESTRUTURAL


Um reparo ou uma recuperação estrutural exige os seguintes cuidados básicos:
• Limpeza da superfície.
• Identificação e delimitação da área deteriorada.
• Escarificação e remoção do concreto danificado ( forma de caixa).
• Limpeza da superfície escarificada.
• Limpeza da armadura (escova, jato abrasivo, produto químico)
• Verificação da perda de seção da armadura.
• Caso seja significativa (10% do ø ou 20% da seção), reforçar ou
substituir a armadura.
• Reconstituir o concreto (argamassa, argamassa polimérica, argamassa
a base de resina epoxídrica, concreto moldado, concreto projetado).
Obs. Produtos cimentícios requerem prévio umedecimento da superfície.
• Proteção da superfície: estucagem, envernizamento.

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6 - REFORÇO ESTRUTURAL

Consiste em proporcionar aumento da capacidade portante à estrutura.


Exige preparo da superfície: normalmente limpeza e apicoamento ou
escarificação.
Aumento da seção da peça: armadura adicional, concreto moldado ou concreto
projetado.
Tirantes: aços próprios para reforço estrutural que podem ficar expostos
(diwidag).
Compósitos: fibra de carbono aderida à superfície.

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