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Adoção de crianças por casais homossexuais, um assunto delicado, e bem

discutido atualmente.
Um assunto, que também, não deixa de ser complicado, pois muitas vezes é difícil
entender como uma relação familiar baseada numa união homossexual pode ser
para a convivência com a chegada de uma criança.
A adoção de crianças por um casal gay, não está gerando polêmica somente aqui
no Brasil, pois é sabido que, nas sociedades estrangeiras este, é um tema também
controverso.
A maior discordância, que existe sobre essa questão, é na geração dos grupos
contra e a favor à adoção, e, que envolve dois motivos de extrema relevância, que
são: o reconhecimento perante a sociedade da existência de um núcleo familiar
homoafetivo e a conseqüência gerada aos adotados por estas famílias.
Embora haja todo esse impasse cercando esse assunto, não se pode ignorar o
direito dos homossexuais à adoção, e nem os benefícios trazidos à sociedade em
decorrência da formação de um novo lar aos adotados.
É muito importante ficarmos por dentro do que nos diz o Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), diante desses casos. O ECA não veta, isto é, não proíbe a
possibilidade de um casal homossexual adotar uma criança, isto porque o interesse
do Estatuto é resguardar e zelar pela dignidade da criança e do adolescente através
de um lar, amor e carinho ao menor, sem questionar a orientação sexual dos
adotantes. O ECA não põe como requisito para adoção qualquer elemento
referente à sexualidade do adotante. Limita-se, apenas a prescrever que "podem
adotar os maiores de 21 anos, independentemente do estado civil", dando esta
faculdade aos homens e mulheres em conjunto ou isoladamente. O interesse do
Estatuto é que A adoção seja concedida quando apresentar reais vantagens para o
adotando e fundar-se em motivos legítimos. O Juiz da Infância e Juventude deverá
levar em conta aos benefícios trazidos ao menor com a adoção, decidindo sempre,
pelo seu bem-estar.

As famílias homoparentais existem de fato, e já são uma realidade, em nossa


sociedade. E quando se fala em adoção de crianças por um casal homossexual, há
sempre tanta resistência à idéia de dois homens ou duas mulheres criarem
saudavelmente uma criança?
Muitas fantasias são levantadas para, que barreiras, sejam criadas em torno da
adoção por um casal gay, são estas: “A criança terá mais probabilidade de ter
doenças mentais como a depressão, a criança será homossexual também, a criança
será abusada pelos pais, a criança sofrerá preconceito", mas isso tudo não é
comprovada em estudos.
Nos dias de hoje, as famílias são (re) compostas de diversas maneiras, a realidade
nos mostra, que as famílias compostas por duas mães e seus filhos, dois pais e seus
filhos, irmãos que atuam como pais, crianças criadas por parentes como avós ou
tios, por vizinhos, criando irmãos menores, e muitas outras combinações.
As crianças precisam de dedicação, cuidado, respeito e amor, precisam de alguém
que lhe dê condições para crescer de maneiras saudável, tendo seus direitos e
deveres observados e respeitados. Quase sempre é sabido de caso de crianças, que
são maltratadas, inúmeras vezes por seus próprios pais e mães, e, eles não são
homossexuais. Por isso, é que na hora da adoção, o que deve ser observado é se os
postulantes têm ou não condições de oferecer à criança que desejam um ambiente
em que ela possa se desenvolver de forma saudável e completa.
A adoção por casais homossexuais, ainda gera muita polêmica na justiça, e as
decisões favoráveis na Justiça brasileira ainda são poucas. A prática é que um dos
parceiros adote a criança, como solteiro, e passe a conviver com ela juntamente
com seu companheiro. Essa prática, por ser a mais viável, tem sido a mais
utilizada.
Todo o cuidado sempre é necessário, principalmente quando se trata de algo
“anormal” frente a nossa sociedade discriminatória. A criança adotada por um
casal gay, com certeza vai sofrer preconceitos, e é isso que traz sofrimento e
angústias, tanto para a criança como para os pais. É muito importante lutar contra
o preconceito.Seja ele qual for.

Adriana Sommer
Psicóloga

Homossexualismo

Definições de homossexualismo

Homossexualidade vem do grego “Homos” que significa “igual” ao qual se


acrescenta a palavra latina “sexus”, que evidentemente significa “sexo”. A
junção das duas define uma atração física, emocional, estética ou espiritual
entre seres do mesmo sexo. O termo foi introduzido pelo médico húngaro
Karoly Benkert, em 1869. O termo heterossexual aparece pela primeira vez em
pesquisa de Albert Moll em 1893. O termo travesti foi empregado em 1910 pelo
sexólogo Magnus Hirschfeld. Popularmente, o termo gay é o mais utilizado no
Brasil para designar o homossexual masculino e os termos “sapatão” e
“lésbica” designam mais comumente o feminino.

Estudos de Alfred Kinsey, em 1949, caracterizaram quatro elementos para


identificação da sexualidade: sexo biológico, identidade sexual, papel social e
preferência afetiva. Esse estudo afirma que 10% da população humana tem
uma orientação homossexual, embora acredite-se, atualmente, que esse valor
varie entre 4% e 14%. Alguns estudos da ONU apontam como 10% a 14%.

Para o psicanalista Sigmund Freud, homossexualidade seria uma forma que o


ser humano encontrou para resolver o Complexo de Édipo na infância. O
Complexo de Édipo ocorre na segunda infância masculina quanto o homem
atinge seu período sexual fálico, tendendo a fixar sua atenção libidinosa nas
pessoas de sexo oposto no ambiente familiar. De acordo com a lenda, Édipo
mata seu pai e casa-se com sua mãe, sem saber dos laços. Descobrindo, ele
fura seus olhos e sua mãe, Jocasta, suicida-se. Seu correspondente feminino é
o Complexo de Electra, onde a menina rivaliza-se com a mãe, e onde deseja,
inconscientemente, elimina-la e possuir o pai. Segundo Freud, essa rivalidade
terminaria e os filhos passariam a assumir os papéis masculino ou feminino.
Quando isso não acontece, a pessoa resolveria o problema assumindo o sexo
oposto.

Carl Jung diz que temos duas energias sexuais: a animal, que seria a energia
feminina no homem e a ânimus, que seria a energia masculina na mulher,
sendo que a sobrecarga seria de uma dessas energias na pessoa seria a razão
da homossexualidade.

Durante muito tempo, os manuais de diagnósticos psiquiátricos constaram o


homossexualismo como uma disfunção de comportamento de ordem
patológica. Sua exclusão de tal categoria ocorre em função de novos
entendimentos sobre juízos de valor.

Estudos recentes revelam que existem fatores genéticos que determinam a


homossexualidade da pessoa. O geneticista Dr. Antonio Quirino, do Instituto
Nacional de Saúde dos EUA, alega ter descoberto um genes que determina o
comportamento homossexual. Gleen Wilson e Oazi Rahman, no seu livro Born
Gay: The Psychobiology of Sex Orientation, acrescentam que existem
diferenças biológicas entre homossexuais e heterossexuais e que fetos
masculinos com pré-disposição genética para a homossexualidade são
incapazes de absorver corretamente a testosterona, de modo que os circuitos
neurocerebrais não se desenvolvem suficientemente para provocarem uma
tração pelo sexo oposto. Para os fetos femininos, segundo Rahman, existe
uma proteína no útero responsável pela proteção dos fetos femininos contra a
exposição excessiva a hormônios masculinos.

Outros acreditam que o meio influencia o comportamento humano e determina,


junto com outros fatores, a homossexualidade. Dr. Daryl Bem, da Universidade
de Cornell, nos EUA, coloca a importância da formação intra-familiar na
determinação do homossexualismo. Judith Harris tende a valorizar as relações
interpessoais na determinação da conduta sexual da pessoa. Segundo ela, o
meio influenciaria o comportamento sexual da pessoa.

A maioria das religiões considera o homossexualismo um desvirtuamento do


homem instigado por forças contrárias, conhecidas como “o mal”, sendo uma
falha no caminho para se alcançar a plenitude através de Deus. A destruição
de Sodoma e Gomorra são os exemplos religiosos mais conhecidos sobre a ira
de Deus contra a prática do homossexualismo.

Estudos de laboratórios com ratos, determinaram que o excesso de população,


aliado a pouca comida, água e espaço, provoca tal estresse que alguns dos
indivíduos se transformam em canibais ou homossexuais.

Alguns acreditam que a relação macho-fêmea, com predominância do macho


no controle, é uma forma de condução ao homossexualismo, visto que essa
relação de dominância se estende através do sexo e, portanto, se estende
àqueles que tenham o mesmo sexo. É uma relação dominante-dominado
enfatizada através do sexo.

Uma outra teoria propõe que a homossexualidade é um comportamento


altruísta, em que um dos irmãos se abstém da reprodução a fim de aumentar
as probabilidades de sobrevivência da prole de outros irmãos. Outra diz que na
falha da competição masculina por parceiras, a frustração se transforma em
homossexualidade.

Nenhuma dessas teorias se sobrepôs à outra e nenhuma explicou de forma


conclusiva o assunto. A verdade é que o homossexualismo faz parte da
população humana em todos os países, mesmo naqueles em que a repressão
é forte, e sempre existiu em todas as épocas da história humana.
Curiosamente, mesmo nas sociedades mais abertas a esse comportamento,
sempre existiu uma repressão social e moral.

Cumpre ressaltar que o homossexualismo feminino é pouco falado ou citado,


sendo que a maioria das condenações mais veementes é feita apenas contra o
masculino. O homossexualismo feminino é encarado mais como uma lascívia
da mulher, embora tenha sido e ainda continua sendo reprimido.

O que se pode afirmar é que, sendo tão antagonizado e reprimido em toda a


história humana e mesmo assim ainda existirem pessoas com esse
comportamento sexual, deve existir alguma força natural que provoque essa
tendência. Se considerarmos que a repressão social é extremamente forte,
alem daquela no interior do indivíduo, é lógico supor que ninguém se
predisporia a sofrê-las se não existisse algo extremamente poderoso que a
conduzisse a tal comportamento.

Mesmo nos países em que, ainda hoje, o homossexualismo é punido com


morte ou prisão, existem relatos de sua existência. Se o medo da prisão ou
morte não modifica o comportamento de uma pessoa, podemos acreditar que é
algo superior ao próprio instinto de sobrevivência. Sendo superior podemos
acreditar que faz parte intrínseca do ser humano.

Homossexualismo e o contexto histórico

O homem do gelo, apelidado de “Otzi”, encontrado em uma geleira no norte da


Itália, revelou um fato inédito: alem de ter morrido lutando com seus inimigos,
provavelmente, teve uma relação homossexual antes disso. Vestígios indicam
presença de esperma em seu corpo. Se isso for verdade, considerando que ele
morreu por volta de 5.000 anos atrás, é provavelmente que a história do
homossexualismo anteceda essa era.

A antropóloga norte-americana, nascida em 1901 e falecida em 1978, Margaret


Mead, notou que não existem povos onde a homossexualidade não se
manifesta. Nossos índios chamavam os gays de tibira e às lésbicas de
sacoaimbeguira. Em Angola os homossexuais eram chamados de quimbanda e
na língua yorubá de adé. Na linguagem do candomblé os homossexuais são
chamados monas ou adofiró.
Na Bíblia existem referências sobre o amor do Rei Davi e Jônatas. Outros
apontamentos são: “É uma abominação um homem se deitar com outro
homem como se fosse uma mulher, ou uma mulher se deitar com outra mulher
como se fosse um homem” (Levítico. 18.22; 20.13). “Por causa de certas
abominações, tal como o homossexualismo, a Terra vomitará os seus
moradores” (Levítico. 18.25). O Novo Testamento diz que os homossexuais
não entrarão no reino dos céus “Não sabeis que os injustos não herdarão o
reino de Deus? Não vos enganeis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os
adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas” (1Corintios 6.9-10). Se
considerarmos que o Novo Testamento tem por volta de 2.000 anos e o Velho
Testamento surgiu durante a formação do povo israelita, muito anterior ao
Novo Testamento, e que, se existem condenações e penas para o que se
considerava uma falta grave na época, é certo supor que o homossexualismo
já existia em escala suficiente para provocar reações.

Na Grécia Antiga, o amor entre homens era considerado como a mais alta
forma de afeição, sendo que as relações homem-mulher tinham como fito
apenas a reprodução, não envolvendo aquilo que atualmente designamos
como amor. Geralmente, a relação extrapolava o sexo e se traduzia em uma
relação mestre-aluno ou mentor-tutelado. Na Ilíada, parte da história gira em
torno do relacionamento entre Pátroclo e Aquiles, claramente homossexual. Em
Esparta era comum os pares homossexuais guerrearem lado a lado, pois se
acreditava que essa união fortalecia a unidade do exército e que a afeição de
um pelo outro aumentaria sua capacidade de luta. Diversas pinturas em
cerâmicas do período mostram coitos anais, sendo que algumas sugerem que
era fato comum ser praticado em banquetes ou reuniões. O termo hermafrodita
deriva do deus grego Hermafrodito, filho de Afrodite e Hermes, que sintetizava
a fusão dos dois sexos, sem gênero definido. A poetisa grega Safo canta,
também, o amor entre mulheres. Sua morada, a ilha de Lesbos, deu origem ao
termo moderno lesbianismo. Na Grécia Antiga, as mulheres homossexuais
eram chamadas de tríbades.

Alexandre, o Grande, (356 a.C – 323 a.C.), da Macedônia, teve como seu
grande amor Hephaistion. Grande admirador da cultura grega, conseguiu
espalhar a cultura helênica através de suas conquistas.

O Satiricon, de Petrônio, mordaz no que se refere aos costumes da Roma


Antiga, conta as aventuras de um preceptor adulto e seu discípulo adolescente,
cuja família coloca os dois para dormir no mesmo quarto. Dos quinze
imperadores romanos, somente Cláudio é considerado heterossexual. Julio
César é considerado bissexual. Sobre ele se dizia que “era homem de todas as
mulheres e mulher de todos os homens”. Embora comum, o homossexualismo
era considerado como algo desonroso para os romanos, visto que eram criados
para serem senhores e a passividade era atributo das mulheres e escravos.
Entre as mulheres, Messalina, a terceira esposa do imperador Cláudio, se
destacou por sua fúria sexual. Embora fosse tivesse preferência pelos homens,
não se furtava aos amores com as mulheres.

No Japão feudal, por volta de 1637, a prática do homossexualismo era


chamada de shudo, abreviatura de wakashudo. Era difundida de forma
generalizada entre todas as classes sociais e tinha conceitos semelhantes às
da Grécia Antiga, muitas vezes na forma de preceptor e aluno. A mulher era
vista apenas como elemento de reprodução ou objeto de prazer, não existindo
conotação daquilo que conhecemos como “amor” na relação marido-mulher.

Na China, no período Sung, 960 e 1127, aceitava-se o lesbianismo como


resultado natural da convivência das mulheres nos haréns. O
homossexualismo masculino era severamente reprimido. No período Ming,
existem referências ao amor homossexual, onde, após uma cerimônia em que
se jurava lealdade eterna, o homem mais moço ia morar na casa do mais
velho, sendo tratado pela família como uma afilhado.

Na América primitiva, os maias consideravam a homossexualidade entre


jovens homens e mulheres como natural e normal. Os povos inca e asteca a
consideravam passível de penalidade, sendo que a lei asteca incluía pena de
morte para homossexuais. Em sua história General y Natural de las Índias, em
1535, Gonzalo Fernandez de Oviedo, observou que "em algumas partes
destas Índias, traziam como jóia a um homem por sobre o outro, naquele
diabólico e nefando ato de Sodoma, feitos de ouro”. Francisco Lopes de
Gomara (1552), também se refere a ídolos homossexuais entre os nativos
mexicanos de Sant Anton: "Acharam entre umas árvores um idolozinho de ouro
e muitos de barro, dois homens cavalgando um sobre o outro à moda de
Sodoma".
Por ocasião da descoberta da Península de Yucatan, encontraram os
espanhóis outra comprovação escultórica de que os Maias prestavam culto ao
amor unissexual: "Tenian muchos idolos de barro, unos como con caras de
demonios y otros como de mujeres y otros de malas figuras, de manera que al
parecer, estaban haciendo sodomias los unos indios com los otros". Na
América do Sul, na região dos Andes, existem relatos que os espanhóis teriam
derretido, no Peru, estátuas em ouro representando cópula anal entre dois
homens. A coleção de cerâmica erótica da Família Larco, da cultura Mochica,
tem diversas representações de homossexualismo. Essas cerâmicas datam de
período anterior a 1.000 A.D. Os Códices Maias trazem referências à deusa
Xochiquetzal, uma entidade hermafrodita protetora do amor e da sexualidade
não procriativa. Quando representada sua forma masculina tinha o nome de
Xochipili e se tornava o protetor da sexualidade masculino e controlador das
doenças sexualmente transmissíveis. Fernão Cortez, na sua primeira Carta de
Relación, em 1519, dizia "Soubemos e fomos informados com certeza que
todos [os índios] de Vera Cruz sãon sodomitas e usam daquele abominavel
pecado”. Frei Bernardino de Sahagun, na sua História General de lãs cosas de
Nueva España, assim descreve: "O somético paciente é abominável, nefando e
detestável, digno de desprezo e do riso das gentes; o fedor e fealdade de seu
pecado nefando não se pode sofrer, pelo nojo que causa aos homens. Em tudo
se mostra mulheril e efeminado, no andar ou falar , e por tudo isso merece ser
queimado”. Cieza de Leon, em sua Crônica del Peru, relata: "para os ter o
demônio mais presos nas cadeias de sua perdição, nos oráculos e adoratórios
onde se falava com o ídolo e dava as respostas, fazia entender que convinha
para seu serviço, que alguns moços desde pequeninos estivessem nos
templos para que a seu tempo, cuando fossem feitos os sacrifícios e festas
solenes, os senhores e outros principais, usassem com eles no maldito pecado
de sodomia”.
No Tratado Descritivo do Brasil, de 1587, existem referências sobre a prática
do homossexualismo entre os nossos índios: "Não contentes em andarem tão
encarniçados na luxúria naturalmente cometida, são muito afeiçoadas ao
pecado nefando, entre os quais se não tem por afronta. E o que se serve de
macho se tem por valente e contam esta bestalidade por proeza. E nas suas
aldeias pelo sertão há alguns que têm tenda pública a quantos os querem
como mulheres públicas". Gandavo, em 1576, conta que: "Algumas índias há
que não conhecem homem algum de nenhuma qualidade, nem o consentirão
ainda que por isso as matem. Estas deixam todo o exercício de mulheres e
imitam os homens e seguem seus ofícios como se não fossem fêmeas.
Trazem os cabelos cortados da mesma maneira que os machos e vão à guerra
com seus arcos e flechas e à caça, perseverando sempre na companhia dos
homens. E cada uma tem mulher que a serve, com quem diz que é casada. E
assim se comunicam e conversam como marido e mulher".

O cristianismo, enraizado no judaísmo, trouxe grande repressão aos


homossexuais, principalmente na Idade Média, onde a prática era vista como
obra do demônio. A desobediência de Adão e Eva aos preceitos de Deus e sua
conseqüente expulsão do Paraíso, tirou a imortalidade original do homem e a
transferiu para os seus descendentes. O homem é eterno enquanto se
propagar através de seus filhos. Para se ter uma descendência, é obvio, tem-
se que praticar o sexo e, porisso, o mesmo sempre foi visto como uma forma
de transmissão do pecado original. No conceito cristão todo homem já nasce
com esse pecado original, que se transmite de geração em geração. O sexo
era visto apenas como forma de reprodução e qualquer prática fora desse
conceito era considerada impura e sujeita à penalidades. Embora existissem
algumas penas leves para os praticantes, como em Gales, onde o indivíduo era
obrigado a três anos de penitência e na Borgonha do século VIII, onde o prazo
se estendia por dez anos, o homossexualismo era passível de pena de morte.
O Concílio de Latrão, em 1179, declarou que o homossexualismo era crime e
nos séculos XII e XIII a morte era a pena mais comum para sua prática. Devido
aos vazios demográficos e baixa expectativa de vida existentes na Idade
Média, o homossexualismo era visto como ato atentatório à vontade de Deus.
São Tomas de Aquino justificava a prática sexual apenas como forma de
procriação e via no matrimonio um remédio de Deus para livrar o homem de
sua luxúria.

Nos países islâmicos onde prevalece a sharia, a lei islâmica, o


homossexualismo é considerado como ato atentatório à vontade de Alá e sua
prática ainda pode ser punida pela morte. Convém lembrar que nesses países
não existe separação entre direito e religião e todas as leis são religiosas e
baseadas no Corão e nas interpretações dele. Nesses países não existiu
nenhuma evolução no que concerne ao posicionamento legal sobre o
homossexualismo.

A repressão legal, na França, perdurou até a vigência do Código de Napoleão,


onde o homossexualismo deixou de ser considerado como crime. Trazendo em
seu bojo os ideais da Revolução Francesa de 1789 que eram designados
através do lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, inspirou, praticamente,
todas as constituições européias e americanas, juntamente com a Constituição
Americana de 1787.

Na moral vitoriana do final do século XIX predominou a busca de atavismos


para explicações sobre comportamentos considerados fora dos padrões rígidos
estabelecidos. Alguns clássicos da literatura como The strange case of Dr.
Jekyll and Mr.Hyde, de Robert Louis Stevenson (1886) e Frankenstein, the
modern Prometheus, de Mary Shelley, (edição definitiva de 1831), mostram
claramente essa busca. A propagação errônea dos conceitos evolutivos de
Darwin, no seu livro de 1859, "A Origem das Espécies" (do original, em inglês,
On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of
Favoured Races in the Struggle for Life), tambem foi um fator indutor da
confirmação da supremacia inglesa econômica, racial e moral. Essa busca foi
tão forte que gerou fraudes como a do Homem de Piltdown, crânio humano que
foi mesclado com ossos de símios para conduzir à idéia de que o homem
moderno tinha evoluído em terras inglesas. A supremacia moral vitoriana e a
explicação atávica para comportamentos conduziram à repressão legal do
homossexualismo cujo exemplo mais clássico se encontra na condenação de
Oscar Wilde, em 1895, a dois anos de trabalhos forçados pela prática do
mesmo.

A Revolução Russa de 1917 aboliu as leis contra os homossexuais. Com a


tomada de poder por Stalin, iniciou-se uma campanha de repressão contra os
mesmos e, em 1934, foi introduzida uma lei que punia os homossexuais
masculinos com até oito anos de prisão.

A história não é retilínea, mas cheia de avanços e retrocessos. Na Alemanha


nazista foi considerado como crime e seus praticantes enviados para os
campos de concentração, onde eram identificados com um triângulo cor de
rosa. Frequentemente eram castrados e submetidos à desnutrição para
acelerar sua morte. A curiosidade é que o homossexualismo era chamado de
“o mal alemão”, antes da ascensão de Hitler ao poder. Provavelmente, a
repressão acentuada derivou-se do fato de que a Alemanha estava se
militarizando e necessitava, por causa disso, manter um formato extremamente
masculino para os homens.

Em 1985, foi considerado pelo Código Internacional de Doenças (CID) como


um desajustamento social decorrente de discriminação sexual ou religiosa,
passando à categoria de distúrbios mentais. Nesse mesmo ano, o Conselho
Federal de Medicina do Brasil retirou o termo da categoria de doenças.

Desde 1991, a Anistia Internacional passou a considerar a proibição à


homossexualidade uma violação dos Direitos Humanos.

Em 1993, a Organização Mundial de Saúde retirou o termo "homossexualismo"


do Catálogo Internacional de Doenças.
Em dezembro de 1998, a Associação Americana de Psiquiatria (APA) se
posicionou contra as terapias de cura, como são chamadas as tentativas
destinadas de reverter homossexuais em heterossexuais.

Em 15 de março de 2001 foi aprovada em Portugal a lei que estende aos pares
homossexuais os mesmos direitos reconhecidos às "uniões de facto"
heterossexuais.

Em 01 de abril de 2001, a Holanda tornou legal o matrimônio civil entre


pessoas do mesmo sexo.

Em junho do mesmo ano, a Bélgica aprovou parceria civil entre pessoas do


mesmo sexo. Em 30 de janeiro de 2003, a Bélgica aboliu todas as leis que
proibiam a união civil homossexual.

Em julho de 2001, a Alemanha validou a lei que instaura contrato de vida em


comum para os homossexuais. Com essa nova lei, cada membro do par
poderá adotar o sobrenome de outro, alem de estabelecer questões sobre
herança, doações, impostos imobiliários, seguro de enfermidade e
desemprego.

Em 19 de julho de 2001, o governo romeno aprovou decreto descriminalizando


as relações homossexuais entre adultos com mútuo consentimento.

Em setembro de 2001, a Finlândia aprovou lei concedendo quase todos os


direitos do casamento heterossexual ao casamento homossexual, mas deixou
de fora a adoção de crianças, que continua proibida, assim como o uso do
sobrenome do parceiro.

Na Colômbia, em 22 de novembro de 2001, foi aprovado projeto de lei que


legalizou as uniões homossexuais no país. Ainda não foi aprovada pela
Câmara e Senado, mas a lei visa estabelecer a constituição de sociedades ou
parcerias civis registradas, garantindo direitos sucessórios e de assistência
familiar.

Em 10 de janeiro de 2002, na Califórnia, Estados Unidos, entrou em vigor lei


que oferece união homossexual com direitos semelhantes ao casamento
heterossexual.

Em março de 2002, os parceiros de servidores públicos sul-africanos,


passaram a ter direito integral à pensão no caso de morte de um deles.

Em Cehegin, Múrcia, Espanha, o prefeito aprovou, em 08 de maio de 2002,


registro para pares homossexuais, com objetivo de atender a todos os
parceiros, sem distinção de sexo.

Em maio de 2002, a Assembléia Estadual de Nova Iorque aprovou lei que


reconheceu parceria entre homossexuais, visando beneficiar vítimas do
atentado de 11 de setembro contra o World Trade Center. De acordo com
ativistas locais, mais de 20 homossexuais pereceram no ataque.
Bueno Aires, na Argentina, aprovou em 18 de dezembro de 2002, a legalização
da união civil entre pessoas do mesmo sexo e reconheceu como união estável
aquela cujos companheiros estão a mais de dois anos juntos e reconheceu o
direito do concubino de ser incorporado ao serviço social, ou seja, receber
pensão no caso de falecimento do parceiro, além de fixar cota alimentar para
filhos, em caso de separação.

Em 13 de fevereiro de 2003, o Parlamento Europeu votou a recomendação


pelo reconhecimento das parcerias registradas, contratos de coabitação e
casamentos homossexuais em toda a União Européia.

Em 16 de março de 2003 entrou em vigor em Nova Iorque a lei anti-


discriminação por orientação sexual, com o nome de Ato de Não-Discriminação
por Orientação Sexual.

Existe uma tendência nos países ocidentais e alguns orientais a considerarem


o homossexualismo apenas como uma opção. Aqueles cujos governos são
teocráticos ou sofrem influência extrema da religião, geralmente, são contrários
à prática, quando não determinam ilegalidade e penalidades sobre a mesma.

Em abril de 2003, o Brasil e outros 19 países membros da ONU, propuseram


projeto destinado à proteção dos homossexuais pelos membros da
organização. Uma aliança entre Egito, Paquistão, Arábia Saudita, Líbia,
Malásia e outros países muçulmanos, alem do Vaticano e Estado Unidos,
através de abstenção, conseguiram impedir a votação do projeto, ou seja, o
homossexualismo continua ilegal em quase metade dos países que formam a
Onu e outros quase 70 o consideram como crime, podendo levar, inclusive, à
pena de morte.

Homossexualismo e religião

Não há como se falar de Direito dos homossexuais sem falar um pouco sobre o
posicionamento das religiões sobre o assunto, visto que parte das leis derivam-
se da moralidade advinda das mesmas.

Para Henry Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista “o


judaísmo encara a relação homossexual como antinatural, contrariando a
própria anatomia dos sexos, visivelmente concebido para as relações
heterossexuais. Além disso, o ato homossexual obviamente não leva à
procriação, que é uma das principais funções da sexualidade humana, embora,
certamente, não a única. É importante, entretanto, fazer uma nítida distinção
entre o ato homossexual e o homossexual como ser humano. Acredito que o
indivíduo, no caso o homossexual, tem que ser aceito pela sociedade,
independentemente das suas tendências sexuais serem aprovadas ou
condenadas. A meta é integrar o homossexual, e não aliená-lo. O dever da
religião em geral e do judaísmo, em particular, é estender a mão àqueles que
se sentem marginalizados. Abrir as portas, abrir os nossos corações e não
discriminar. Somos todos filhos de um único Deus". Convém lembrar que as
relações homossexuais em Israel são permitidas por lei a partir dos 16 anos.
Na maioria dos diversos segmentos do cristianismo existe uma condenação
sobre a prática. A Igreja Católica voltou a condenar o homossexualismo em
1993 através da encíclica “Veritatis splendor” (O esplendor da verdade)
lançada em outubro de 1993, pelo papa João Paulo II, “Uma doutrina que
separe o ato moral das dimensões corpóreas do seu exercício, é contrária aos
ensinamentos da Sagrada Escritura e da Tradição: essa doutrina faz reviver,
sob novas formas, alguns velhos erros sempre combatidos pela Igreja,
porquanto reduzem a pessoa humana a uma liberdade «espiritual», puramente
formal. Esta redução desconhece o significado moral do corpo e dos
comportamentos que a ele se referem. O apóstolo Paulo declara excluídos do
Reino dos céus os «imorais, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas,
ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes e salteadores» (cf. 1 Cor 6, 9-10).
Tal condenação — assumida pelo Concílio de Trento 88 — enumera como
pecados mortais ou práticas infames, alguns comportamentos específicos, cuja
aceitação voluntária impede os crentes de terem parte na herança prometida.
De fato, corpo e alma são inseparáveis: na pessoa, no agente voluntário e no
ato deliberado, eles salvam-se ou perdem-se juntos”.

Algumas seitas fundamentalistas como as Testemunhas de Jeová são


radicalmente contra do homossexualismo. No site www. watchtower.org, lição
10, Práticas que Deus Odeia, está explicito a posição em relação ao assunto:
“Fornicação: Relações sexuais antes do casamento, adultério, bestialidade,
incesto e homossexualismo são todos pecados graves contra Deus. (Levítico
18:6; Romanos 1:26, 27; 1 Coríntios 6:9, 10). Os homossexuais são aceitos
apenas se levarem uma vida celibatária.

Para os presbiterianos, o homossexualismo é antinatural e contrário à sua


religião, mas não se condena o interesse de Deus pela pessoa humana, sendo
ou não homossexual, acreditando que Deus ama a pessoa e não o pecado.
Nehemias Marien, do Rio de Janeiro, pastor presbiteriano, realiza casamentos
gays e cultos com a bandeira do arco-íris.

Alguns pastores anglicanos passaram aceitar o homossexualismo como


comportamento natural e não contrário à sua religiosidade. Desmond Tutu,
Prêmio Nobel da Paz de 1984, pediu perdão pelo tratamento dispensado pela
Igreja Anglicana aos homossexuais, dizendo que: “ninguém que seja fiel aos
ensinamentos de Cristo pode condenar pessoas com base em sua orientação
sexual”. Ele iguala a discriminação sexual com as de raça ou gênero.

De acordo com Gottfried Brakemeier, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil,


existem duas fortes correntes nas Igrejas cristãs:

a) Homossexualismo é visto como grave pecado, ofensa a Deus, algo


abominável em todas as suas formas, para o que se invoca o testemunho da
Bíblia. É considerado um desvio da ordem original de Deus que criou homem e
mulher para constituírem o matrimônio como lugar da vivência da sexualidade
e da procriação da prole. Homossexualidade é nada inato ou pré-fixado,
portanto não faz parte da constituição do ser humano. Muito pelo contrário,
seria uma opção capaz de ser alterada mediante tratamento ou esforço
próprio. Não se submeter a tal tratamento seria agir culposo. Sob essas
premissas, evidentemente, não há lugar para pessoas homófilas no ministério
da Igreja. A discriminação é conscientemente assumida.

b) A outra posição defende o homossexualismo como algo absolutamente


normal, sempre existente na história da humanidade. Tratar-se-ia de uma pré-
disposição da pessoa, impossível de ser corrigida. Nessa perspectiva, não há
nada de detestável nas relações homossexuais. As passagens bíblicas,
aduzidas como contra-prova, estariam se referindo não à orientação
homossexual como tal e, sim, a abusos nessa área. Caberia, portanto,
reconhecer a homossexualidade como equivalente à heterossexualidade e
destinar-lhe o mesmo amparo legal. Reivindicam tais grupos, enquanto
cristãos, o livre acesso ao ministério da Igreja e a bênção matrimonial das
parcerias do mesmo sexo. Lutam pelo fim de toda e qualquer discriminação em
Igreja e sociedade.

No Islamismo, existe um posicionamento radical quanto a isso. As relações


entre dois homens, chamadas de lauat, ou entre mulheres, chamadas de
sehak, podem ser punidas com a morte, principalmente nos países onde a
sharia é utilizada como fonte de lei. De acordo com o sheik Movaffagh Kaebi,
do Centro Islâmico no Brasil, CIB, "Deus criou tudo como macho e fêmea. Em
questão de jurisprudência islâmica, por exemplo, um homem não poderá nunca
casar-se com uma irmã de outro homem com quem teve relações sexuais".
Para Nasser Khazraji, os homossexuais devem procurar tratamento
psicológico, posição esta compartilhada por Paloma Awada, também do CIB,
que cita Freud e a teoria dos traumas: "Encaramos a homossexualidade como
um problema que devemos cortar pela raiz". Sendo elemento de grande
influência no pensamento, comportamento das pessoas e no estabelecimento
de parâmetros sociais, os conceitos religiosos estendem-se aos conceitos de
Direito. Nas culturas onde prevalece a inexistência da separação entre Direito e
Religião, as normas estabelecidas são as de ordem religiosa. No caso dos
países islâmicos que adotam a sharia, o Corão, que significa simplesmente
“livro”, é a principal fonte de jurisprudência islâmica, seguida da Sunnah (Vida e
caminhos do profeta). Outras fontes são a Ahadith (Narrações do profeta), o
Ijma (consenso da comunidade), o Oiyas (raciocínio por analogia), Mujtahidun,
usada para situações onde as fontes sagradas não providenciam regras
concretas e, em alguns casos, o AL-urf (costumes locais).

Ponto básico do posicionamento das religiões judaico-cristã-islâmica é o


conceito de que o sexo deve ser utilizado apenas para a reprodução e que sua
ocorrência fora desse padrão é conceitualmente um pecado contra as leis
divinas. É importante destacar que essas religiões foram ou são usadas como
fonte de Direito.

Algumas religiões orientais, voltadas mais para o aperfeiçoamento do indivíduo,


são mais tolerantes com relação ao sexo. De acordo com o budista Caioco
Nagawa, sua religião prega tolerância para as opções individuais em qualquer
aspecto da vida, no que se inclui a sexualidade.

Luciana Ferraz, coordenadora da Associação Espiritual Brahma Kumaris, diz


que os homossexuais são completamente aceitos, sendo que, na Austrália, a
associação tem um serviço espiritual que promove retiros espirituais e cursos
exclusivamente para homossexuais.

Para a religião kardecista, de acordo com Mariuccia Marciano, "o espírito não
tem sexo, tem potencialidades masculinas e femininas, que após muitas
encarnações atingem um equilíbrio". Embora aceitem o fato, o kardecismo
assume a posição de que os homossexuais devem ser celibatários. Na teoria
kardecista os homossexuais são espíritos femininos que se reencarnaram em
corpos masculinos como forma de remissão de erros passados.

No candomblé, alguns dos deuses têm características mórficas masculinas e


femininas ou algum aspecto que combina os dois sexos. Logunedé, filho de
Oxum com Oxossi, tem as duas características sexuais; Oxumaré pode ser
macho ou fêmea devido ser uma serpente sagrada e Oxalá, o pai de todos os
deuses, veste-se sempre de mulher.

A Seicho-no-ie considera o homossexualismo como uma anormalidade da


manifestação da sexualidade, não tendo uma postura favorável ou contra. No
entanto, sua postura é no sentido de as pessoas manifestarem a perfeição
interior, reproduzindo-a exteriormente na expressão plena de características
masculinas e femininas.

A religião Hare Krishna acredita que a homossexualidade deriva do carma da


pessoa e que nasce de seu apego ao corpo anterior. Nascido mulher em outra
encarnação, ela continua mantendo seu formato feminino dentro do corpo de
um homem.

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (mórmons) se declara
abertamente que o homossexualismo é uma aberração, baseado nas
afirmativas da Bíblia, acreditando que o mesmo inviabiliza a formação de uma
família, que é um desígnio de Deus (Crescei e multiplicai-vos!).

A Igreja Adventista do Sétimo Dia aceita o homossexual, mas condena o


homossexualismo, acreditando que não deva incrementar uma cultura que
aprove ou promova o mesmo. A mesma posição é adotada pela Igreja Batista.

Basicamente, nenhuma religião aceita o homossexualismo como natural em


uma sociedade. Algumas toleram o fato, mas a maioria é contra, quando não o
é radicalmente. As poucas que o fazem são exceções e mal vistas pela
sociedade. Posições favoráveis ao homossexualismo também são poucas e
geralmente provocam reações contrárias.

Atualmente, existem igrejas formadas por homossexuais que encontraram essa


maneira de cultivar a espiritualidade dentro de um ambiente que lhes é
favorável, devido à rejeição ou aceitação parcial de seu comportamento. Em
1968, Troy Perry fundou a primeira comunidade evangélica homossexual
denominada Universal Fellowship of Metropolitan Community Churches
(UFMMC). Alguns grupos também foram formados dentro das próprias
religiões, mesmo que não fossem admitidos oficialmente. Em 1976, dois anos
depois de os luteranos terem organizado os Luteranos Interessados, outras
comunidades homossexuais foram formadas em várias religiões cristãs: a
Afirmação (metodistas unidos), o Integridade (episcopal), o Dignidade
(católico), o Afinidade (adventistas do sétimo dia), a Convenção de Lésbicas
Católicas; os Amigos dos Assuntos que Interessam a Lésbicas e Gueis
(quacre) e a Associação para Assuntos de Lésbicas e Gueis, na Igreja de
Cristo Unida.

Homossexualismo e a medicina

Até o final do século XIX, o homossexualismo era considerado como um


pecado e desvio de conduta do homem. Até a extinção da Santa Inquisição e
da descriminalização pela Constituição outorgada de 1824 e pelo Código Penal
Brasileiro publicado em 1830, era considerado pecado pela Igreja e com
punição a ser dada pelo Estado, geralmente a morte. A incipiente medicina
medieval considerava o homossexualismo como um mal contagioso e
decorrente de um defeito genético.

Com os avanços da industrialização e das ciências em geral, os estudos sobre


homossexualismo passaram a ser de ordem médica. Deixou de ser um pecado
e passou a ser considerado como um problema médico. No Brasil, teve grande
influência os estudos do médico espanhol Gregório Marañon, na década de 30
do século XX. Gregório sustentava que os dois sexos não constituem pólos
opostos e antagônicos, mas que se distribuem dentro de um ideal masculino e
feminino, influenciados pelos hormônios. A configuração sexual do individuo
seria a mistura de caracteres femininos e masculinos e o resultado seria devido
ao balanço hormonal. Entre os dois tipos puros teóricos e praticamente
inexistentes estaria toda a humanidade.

Sendo considerado como uma doença, foram feitos estudos para verificar
possíveis diferenças físicas entre heterossexuais e homossexuais. Nos
períodos tenebrosos da Alemanha nazista, foram feitas experiências infames
como implantação de testículos de macaco em homossexuais, na tentativa de
reverter o processo.

Até a década de 80, do século XX, a classificação mais usual para o


homossexualismo era a de perversão sexual. Na literatura médico-legal
brasileira, destacam-se as afirmações de Delton Croce e Delton Croce Jr., de
que a homossexualidade é aberração e perversão sexual. Foram adotados os
termos “uranismo” para a prática sexual entre homens por falta de mulher,
“pederastia” para as relações anais entre um homem adulto e uma criança,
“sodomia” para a prática sexual entre homens adultos, “lesbianismo” para a
prática sexual masturbatória entre mulheres, “safismo” para designar a sucção
do clitóris entre mulheres e “tribadismo” para o atrito dos órgãos sexuais
femininos.

O neurocientista Simon Lê-Vay identificou como causa da homossexualidade o


tamanho reduzido do hipotálamo dos homens, cujas dimensões seriam
semelhantes aos das mulheres. Entre 1991 e 1993, dois estudos foram
publicados na revista “Science”, onde autopsias feitas em 19 homossexuais, 16
homens e 6 mulheres heterossexuais, conduziram à conclusão de que o
hipotálamo dos homossexuais e mulheres tinha metade do tamanho dos
heterossexuais, o que daria uma explicação biológica para o fato.

Outra “descoberta científica” foi a do famoso “gene gay”, onde pesquisa em 40


famílias que tinham dois irmãos gays, revelou que 33 dos pares
cromossômicos estavam principalmente no lado materno, indicando uma
correlação entre orientação homossexual e a herança de marcadores
polifórmicos no cromossomo X.

A Organização Mundial de Saúde, em 1991 e 1993, com a revisão e publicação


da 10º edição da Classificação Internacional de Doenças - CID 10, deixa de
considerar o homossexualismo como doença mental.

O Conselho Federal de Medicina, no Brasil, desde 1985 não considera mais o


homossexualismo como desvio sexual.

A Associação Médica Americana e outras entidades não mais consideram a


homossexualidade como manifestação de qualquer doença. Desde o DSM III -
Manual de Diagnóstico e Estatística - a homossexualidade masculina ou
feminina deixou de ser considerada como perversão e passou a ser vista como
estilo de comportamento.

No entanto, como já dissemos, a história não é linear. Em artigo publicado no


New York Magazine, em junho de 2007, aparece o termo “Gaydar” que
segundos estudiosos é uma espécie de intuição que indica a partir de detalhes
e características se a pessoa é homossexual ou não. Pelo “Gaydar”, um sujeito
que é homossexual se parece com. Deve ser a repetição da velha piada do “foi,
é ou será”. Os estudos sustentam que há maior incidência de homossexuais
entre canhotos e ambidestros, que suas digitais dos polegares e mindinhos são
mais espessas na mão esquerda e que o sentido dos redemoinhos no cocuruto
são anti-horários. Como se pode perceber, parece que deram uma nova face à
pseudociência da Frenologia, que buscava estabelecer relação entre a “psique”
a partir de detalhes físicos da cabeça. Um estudo das formas da cabeça da
pessoa poderia identificar o seu caráter e portadoras de possíveis perversões.
As cabeças do cangaceiro Lampião e de sua companheira Maria Bonita foram
mantidas no Instituto Nina Rodrigues, em Salvador, como objeto de estudos
dessas estranhas teorias. Dizem que, alem de cangaceiro, Lampião era
bissexual.

Até o momento não existe nenhuma explicação médica para o


homossexualismo e todas as teorias se mostraram falhas em algum aspecto,
evidenciando que não são corretas. Algumas correntes são totalmente
contrárias a qualquer explicação biológica sobre o assunto. Geralmente, essas
correntes são de grupos que acreditam que o homossexualismo é um problema
de ordem moral. Se fosse biológico, contrariaria todas as suas teses, ou seja,
seria tão natural quanto o heterossexualismo e essa admissão demoliria
algumas das verdades em que se apóiam.

Homossexualismo e a psicanálise
Caelius Aurelianus, considerado, depois de Galeno, o médico mais
proeminente da antiguidade, e que apregoava contra o uso indiscriminado da
música contra a loucura, no século V, da Antiga Roma, classificou a
passividade masculina e a inversão de papeis sexuais como perturbação
mental.

Freud, em seu texto “A psicogênese de um caso de homossexualismo numa


mulher”, apresentado em 1920, tenta compreender a origem do
homossexualismo feminino através do Complexo de castração ou inveja do
pênis. De acordo com seu estudo, a mudança na jovem estudada ocorreu
quando sua mãe engravidou do terceiro filho. Como a jovem se considerava
substituta da mãe, passou a ter desejos de incesto com o pai. Não podendo
satisfazê-lo, passou a encarar a mãe como rival e, como conseqüência de seu
desapontamento, afastou-se dos homens e passou a se identificar com o pai,
assumindo suas atitudes. Sua homossexualidade servia a dois propósitos:
preservar a mãe de seu ódio e desafiar e punir o seu pai. A base para o
homossexualismo masculino seria a irresolução do Complexo de Édipo onde o
interesse pela mãe como objeto de desejo se choca contra o ódio pelo pai,
possuidor do objeto. Ao evoluir, a criança passaria a identificar-se com o pai, o
que lhe daria as mesmas características masculinas. No entanto, quando mal
resolvido, a força sexual o induziria ao ódio contra o pai e sua identificação com
a mãe. Para Freud, a homossexualidade era uma variação do desenvolvimento
sexual.

Contemporâneo de Freud, Carl Jung diz que a homossexualidade seria


resultado da sobrecarga entre as energias masculina (animal) e feminina
(ânimus), presentes em todas as pessoas.

Até 1973, a Associação Americana de Psiquiatria considerava a


homossexualidade como um distúrbio mental. A partir dessa data, passou a
considerá-la como um reflexo das realidades sociais e políticas.

Judit Harris, psicóloga americana, acredita que as vivências fora da família, são
os fatores que mais pesam no desenvolvimento da personalidade, o que inclui
o homossexualismo.

Desde 1993, A Organização Mundial de Saúde retirou o termo


"homossexualismo" do Catálogo Internacional de Doenças, o que o Conselho
Federal de Medicina já tinha reconhecido desde 1985. Em dezembro de 1998 a
Associação Americana de Psiquiatria (APA) se posicionou contra as "terapias
de cura" - como são chamadas as terapias destinadas a "reverter"
homossexuais em heterossexuais.

Como na Medicina, não existe nenhuma conclusão sobre o surgimento do


homossexualismo na pessoa. Não existem dados comprobatórios sobre se é
genético, psicológico ou sobre sua gênese.

Somos sempre conduzidos a ter pensamentos criando pólos opostos para


identificação do mesmo. O Yin Yang chinês, o conceito de Céu e Inferno, Bem
e Mal, Belo e Feio são traduções fortes de nossa forma de pensar. Para
entendermos algo precisamos compará-lo ao oposto para que tenhamos um
melhor entendimento. Curiosamente, consideramos as formas de homem e
mulher como opostos e quase nunca como complementares. A existência de
estágios intermediários ou a fusão de dois elementos que consideramos
imiscíveis tira um pouco de nosso entendimento. Entendemos bem o branco e
o preto, mas não sabemos exemplificar as gradações decorrentes da mistura
dos dois. Se alguém nos perguntar qual a definição da cor cinza, nossa
primeira resposta é de que é uma mistura do branco e do preto. Quase sempre
esquecemos que o cinza é uma cor própria.

Homossexualismo e o Direito no Brasil

As Ordenações Afonsinas, promulgadas em 1446, do rei Afonso V, de Portugal,


estabelecia em seu Livro V, Título 17, a pena de fogo para o que considerava
“pecado de todos o mais sujo, torpe e desonesto”.

Em 1521 surgiram as Ordenações Manuelinas, que acrescentava à pena de


morte pelo fogo o confisco dos bens alem da infâmia dos filhos e
descendentes. O homossexualismo foi considerado como um crime de lesa-
majestade.

“Toda pessoa, de qualquer qualidade que seja, que pecado de sodomia


por qualquer maneira cometer, seja queimado e feito por fogo em pó,
para que nunca de seu corpo e sepultura possa haver memória, e todos
os seus bens sejam confiscados para a Coroa de nossos Reinos, posto
que tenha descendentes; e pelo mesmo caso seus filhos e netos ficarão
inabilitados e infames, assim como os daqueles que cometem o crime
de lesa-majestade. E esta lei queremos que se estenda e haja lugar nas
mulheres, que umas com as outras cometem pecado contra a natureza,
e da maneira que temos dito aos homens”

Em 14 de fevereiro de 1569 elas foram revogadas pelo Código de São


Sebastião que foi substituído pelas Ordenações Filipinas que vigorou de 1603 a
1830.

Nas Cartas Régias de doação das capitanias hereditárias, em 1523, está


expressa a pena de morte para os sodomitas, que poderia ser aplicada sem
consulta prévia a Portugal.

Alem das disposições legais, cumpre ressaltar que existiam as disposições


religiosas que eram aplicadas pela Santa Inquisição. Nessa época, Igreja e
Estado não eram separados e, embora a Igreja não pudesse executar o
individuo, ela podia processá-la e, após o veredito, entrega-la para ser punida
pelo Estado. Não existindo separação entre Estado e Igreja, que só aconteceu
na Constituição de 1824, as leis laicas e religiosas eram consideradas como
vindas do mesmo poder.

Em 1580, Isabel Antonia, natural da cidade do Porto, considerada lésbica, é


processada pelo Bispo de Salvador. Provavelmente, é o primeiro registro de
punição dada a uma mulher por esse tipo de comportamento.
O Padre Frutuoso Álvares, da Bahia, é considerado o primeiro homossexual
brasileiro a ser inquirido pela Inquisição no Brasil, em 1591. Em seu
depoimento, confessou que era ativo e passivo e que tinha se relacionado com
mais de 40 rapazes.

Em 1592, na Bahia, é açoitada publicamente a lésbica Felipa de Souza. Era


alfabetizada, costureira e casada com um padeiro, mas mantinha relações
duradouras com outras mulheres. Alem do açoitamento, sofreu severas
punições por isso. Seu nome foi dado ao principal prêmio internacional de
Direitos Humanos dos Homossexuais.

O índio Tibira, um tupinambá, é executado pelos capuchinhos franceses, sendo


considerado como o primeiro homossexual condenado à morte no Brasil, em
1613. Conforme dito anteriormente, tibira era o nome que os nossos índios
davam aos homossexuais, devendo seu nome ser outro, portanto. Em 1678 um
escravo é acoitado até a morte pelo crime de sodomia.

Com a extinção do Tribunal de Inquisição e influenciado pelo Código de


Napoleão, o Código Penal de 1823, que passou a vigorar em 1830,
descriminalizou o homossexualismo.

A constituição outorgada de 1824 estabeleceu bases para o direito dos


indivíduos, através de seu artigo 179, onde garantiu a inviolabilidade dos
direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros, e afirmou, no seu artigo 1º.
que “nenhum cidadão pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude da lei”.

No século XIX, o homossexualismo passou a ser encarado como uma doença,


o que não impediu que fosse reprimido através de outras leis. Sua prática era
considerada como atentatória à moral e aos bons costumes.

Em 1930, a Comissão Legislativa criou um projeto de novo Código Penal para


o Brasil, onde previa que “os atos libidinosos entre indivíduos do sexo
masculino serão reprimidos, quando causarem escândalo público, impondo-se
a ambos os participantes detenção de até um ano”. Esse código não foi
aprovado e o projeto de lei não constou no Código Penal de 1940.

Em Janeiro de 2001 foi criado em Brasília, o Disque Cidadania Homossexual,


destinado a combater abusos contra homossexuais. Nesse ano ocorre o Caso
Néris, onde o assassinato de Edson Néris da Silva por Juliano Filipini Sabino e
José Nilson Pereira da Silva foi considerado como um crime de ódio e
caracterizado como intolerância aos homossexuais.

Em 14 de março de 2001 a 7ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça, em Porto


Alegre proferiu decisão reconhecendo a uma união de homossexuais os
mesmos direitos conferidos à união estável, deferindo a meação ao
companheiro, não como uma sociedade de fato, mas a uma sociedade de
afeto. Diz o texto:
"Não se permite mais o farisaísmo de desconhecer a existência de
uniões entre pessoas do mesmo sexo e a produção de efeitos jurídicos
derivados destas relações homoafetivas. Embora permeadas de
preconceitos, são realidades que o Judiciário não pode ignorar, mesmo
em sua natural atividade retardatária. Nelas remanescem
conseqüências semelhantes às que vigoram nas relações de afeto,
buscando-se sempre a aplicação da analogia e dos princípios gerais do
direito, relevados sempre os princípios constitucionais da dignidade
humana e da igualdade.".

Em maio de 2001, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) assegurou o


pagamento de pensão a viúvos de casamentos homossexuais, extensivo aos
formados antes de 2.000.

Em 23 de outubro de 2001, a justiça de Minas Gerais, em sentença proferida


pelo Juiz da Vara Criminal e de Menores da Comarca de Santa Luzia, na
região metropolitana de Belo Horizonte, concedeu ao par homossexual José
Geraldo Dias e Jarbas Santarelli Porto, o direito de criar e educar uma menina
de dois anos, filha de José Geraldo Dias com a empregada doméstica Ilma
Ogando.

O governador Geraldo Alckmin, em 05 de novembro de 2001, sancionou a lei


10948 que pune a discriminação, no Estado de São Paulo, contra orientação
sexual.

Em 08 de dezembro de 2001 é sancionada pelo governador do Rio de Janeiro,


Antony Garotinho, a Lei Estadual 3406 de 15 maio de 2000, que estabelece
penalidade aos estabelecimentos que discriminem pessoas em virtude de sua
orientação sexual.

Em 09 de 2002, por decisão da 3ª. Vara da Justiça Federal do Rio Grande do


Sul, o INSS é obrigado a considerar o companheiro ou companheira
homossexual como dependente preferencial dos segurados do Regime Geral
da Previdência Social. A sentença é válida para todo país.

Em Minas Gerais, em 15 de janeiro de 2002, o governador Itamar Franco,


sanciona a lei 14170 coibindo a discriminação em virtude de orientação sexual:

Em 16 de Março de 2002, a cidade de Recife, em Pernambuco, inclui


benefícios de concessão de pensão, em caso de morte, aos companheiros e
filhos de servidores públicos homossexuais.
Entra em vigor no Rio de Janeiro, em 20 de março de 2002, a Lei Estadual
3786, que garante os direitos previdenciários aos companheiros de servidores
estaduais.

Em 27 de março de 2002, é reconhecida pela lei 4798/02, no município de


Pelotas, RS, a união entre parceiros do mesmo sexo para fins de previdência
municipal.
No Rio de Janeiro, em 10 de abril de 2002, o desembargador José Carlos
Schmidt Murta Ribeiro concede liminar tornando sem efeito a Lei Estadual
3.786, que concede direitos de pensão para homossexuais.

Em 14 de maio de 2002, a Câmara de São José do Rio Preto, em São Paulo,


aprova o projeto de lei 181/01 que proíbe discriminação por orientação sexual.

Em 23 de maio de 2002, a Câmara dos Vereadores de Londrina, no Paraná,


aprova a lei 117/02, que penaliza com multas qualquer estabelecimento que
discrimine homossexuais.

Em 06 de agosto de 2002, é publicado acórdão da 8ª. Câmara Cível do


Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, reconhecendo e legitimando a união
estável de pessoas do mesmo sexo como verdadeira família, concedendo
usufruto de 25% do patrimônio ao parceiro sobrevivente e direito à divisão da
metade dos bens adquiridos.

Em 16 de dezembro de 2002, no Rio Grande do Sul, é aprovado o projeto de


Lei 185/02, que proíbe ações discriminatórias contra homossexuais.

Em 04 de abril de 2003, Santa Catarina promulga lei que pune discriminação


por orientação sexual.

Em 30 de abril de 2006, o Centro de Ressocialização Feminino de São Jose do


Rio Preto, interior de SP, passa a permitir visitas íntimas para homossexuais (O
Estado de São Paulo, METRÓPOLE, Domingo, 30 abril de 2006, CHICO
SIQUEIRA, ESPECIAL PARA O ESTADO).

Alguns projetos de lei que condenam a discriminação sexual estão tramitando


no Congresso, mas enfrentam resistência principalmente das bancadas
evangélicas lideradas pelo senador Marcos Crivella, sobrinho do fundador da
Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo. A sustentação contra o
projeto é que pastores e padres podem ser presos se pregarem contra a
homossexualidade. Do meu ponto de vista, sendo o Estado laico, a supremacia
das leis deve prevalecer sobre os ditames religiosos, e a aprovação desses
projetos de leis daria amplitude nacional às leis já aprovadas anteriormente por
algumas municipalidades. O papa Bento 16, em visita ao Brasil em maio de
2007, disse que demonstrava profundo respeito pelo Estado laico brasileiro.
Segundo frase veiculada pelo Itamaraty, "conhecedor das qualidades religiosas
do Brasil, quero dizer que nosso empenho é preservar e consolidar o Estado
laico e ter a religião como instrumento para tratar da espiritualidade e dos
problemas sociais", teria dito o presidente.

Se considerarmos que prevalece o espírito da Constituição sobre as normas e


que ela não permite qualquer discriminação no que concerne ao sexo,
estabelecendo igualdade de todos perante a lei, acreditamos que qualquer ato
discriminatório, independente da aprovação ou não de projetos de lei, deve ser
punido. A aprovação desses projetos daria, apenas, maior clareza às leis já
existentes. No entanto, deve-se firmar com mais clareza o que já está
estabelecido e, porisso, a aprovação desses projetos é de suma importância,
não só do ponto de vista legal, mas também do ponto de vista social e cultural.
Pode-se começar a mudar um pensamento dominante contrário aos ditames
igualitários da Constituição através de algumas palavras tipificadoras de
crimes, ao inseri-las em nossos Códigos

A relação entre o casal gay e a crianca adotada.

Adoção por casais gays: A relação entre o casal gay e a crianca adotada.
Entrevista concedida ao Jornal O SEXO; Rio de Janeiro
Respostas por: Paulo Bonança, autor desta coluna

Como deve ser a relação entre o casal homossexual e a criança adotada? De que forma o
casal deve proceder perante o filho adotado? Essas e outras questões somente um
psicólogo pode responder. Com a palavra, DR. Paulo Bonança
Pode acontecer de uma criança adotada por um casal homossexual ser homossexual
devido ao convívio?
Seria muito difícil poder afirmar que uma criança adotada por um casal gay venha a ser
gay devido ao convívio. Seria o mesmo que afirmar que filhos de héteros serão héteros
devido ao convívio com os pais héteros.

Como o casal homossexual deve encarar a relação com o filho adotado?


Em primeiro lugar não centralizando a relação com o filho na orientação sexual dos
pais. Se a orientação sexual dos pais não estiver bem trabalhada por eles, a insegurança
pode ser transferida ao filho.
Em um casal hétero, os pais se beijam na frente dos filhos. Com um casal gay o
comportamento poderá ser o mesmo?

Existem pais que se sentem cômodos se beijando na frente dos filhos, alguns vão a praia
nudista com os filhos e caminham de roupa intima dentro da casa, já outros não se
sentem cômodos com estas situações. Cada família é “um mundo em constante
movimento”. Caberá aos pais decidir se eles se sentem cômodos ou não se beijando na
frente do filho, o importante é não “forçar a barra”, nem para um lado nem para o outro.

Como os pais adotivos devem proceder quando a criança rejeita os pais por eles serem
gays?
Interessante a sua pergunta, na minha pratica clínica já escutei muitos relatos de pais
que abandonaram ou discriminaram os filhos por eles serem gays, mas até hoje nunca
escutei de um filho que tivesse rejeitado o pai ou a mãe.

Qual a faixa etária ideal de uma criança ser adotada por casal gay?
Não existe idade para se entregar e receber amor e cuidados, e não se espera ser amado
para amar.
O Senhor acredita que os testes psicológicos aplicados pelo Juizado de Menores
conseguem realmente diagnosticar se o casal tem condições de conviver com o filho
adotado?
Creio que os testes, as entrevistas, a busca de informação sobre o casal é necessária e
importante em todos os casos, afinal é uma vida que esta sendo entregue aos cuidados
de um casal. Ninguém pode afirmar com 100% certeza, mesmo com as avaliações, que
esta criança estará protegida e bem cuidada, mas penso que este procedimento é parte
importante de qualquer processo de adoção, seja por héteros ou gays.
O Senhor recomenda que o casal que quer adotar ou adotou faça acompanhamento
psicológico?
Se o casal tem dúvidas sobre o tema ou está inseguro de como tratar a criança, penso
que o acompanhamento de um psicólogo poderia ser útil. Com respeito à criança não
temos porque patologizar a situação. Diariamente crianças vão ao psicólogo, isto
independente da orientação sexual dos pais ou de serem adotadas ou não. Cada caso é
um caso e deve ser observado com critério, sem patologizar a situação, mas também
sem negar-la caso seja necessário o acompanhamento de um psicólogo.

Como os pais devem encarar o preconceito existente nas escolas e no dia a dia?
Infelizmente, o preconceito e a discriminação podem vir a alcançar as crianças. Frente a
isto creio que manter os canais de comunicação abertos é fundamental. Dizer ao filho
que eles estão dispostos e disponíveis a conversar sobre o tema e a responder as dúvidas
que ele possa vir a ter. Que a orientação sexual deles não é algo tão importante, mas que
para algumas pessoas pode ser. Isto ocorre porque elas não sabem, elas não entendem o
que é a homossexualidade.

Escolas, empresas, comunidades entre outros estão preparados para encarar de frente
um casal homossexual junto ao seu filho?
A adoção de uma criança por um casal homossexual , como tema social é algo novo,
talvez a sociedade como um todo e as instituições em particular não estejam preparadas,
mas a vida é feita de desafios.
O senhor acha que o casal deve omitir da criança adotada que é gay?

Omitir que é gay é instalar um segredo dentro do convívio familiar, é negar uma
situação que pode ser obvia, é negar os avanços sociais que levaram o casal a
possibilidade de adotar esta criança, é colocar a homossexualidade dos pais dentro de
um contexto obscuro. Talvez antes de negar ou afirmar algo, seja melhor averiguar o
que a criança já sabe e o que pensar sobre a situação.

Entrevista concedida ao Jornal O SEXO; Rio de Janeiro


Respostas por: Paulo Bonança C.R.P 05-30190
Psicólogo e Sexólogo
Diplomado em Sexualidade Humana pela Universidade Diego Portales- Chile-
Autor da Tese “A AIDS entre os homossexuais; A confissão da soropositividade ao
interior da família”.
Membro da SBRASH (Sociedade Brasileira de Estudos da Sexualidade Humana)
Rio de Janeiro, Copacabana (21) 2236-3899, 9783-9766
www.paulobonanca.com
paulopsi2000@yahoo.com.br

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