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Economia

Renata Moreira Lopes


Paulo César Machado Feitosa
Renata Moreira Lopes
Paulo César Machado Feitosa

ECONOMIA

Belo Horizonte
Novembro de 2015
COPYRIGHT © 2015
GRUPO ĂNIMA EDUCAÇÃO
Todos os direitos reservados ao:
Grupo Ănima Educação

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empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros.

Edição
Grupo Ănima Educação

Vice Presidência
Arthur Sperandeo de Macedo

Coordenação de Produção
Gislene Garcia Nora de Oliveira

Ilustração e Capa
Alexandre de Souza Paz Monsserrate
Leonardo Antonio Aguiar

Equipe EaD
Conheça
a Autora
Renata Moreira Lopes. Graduada em Ciências
Econômicas pela Universidade Federal de
Minas Gerais, graduada em Administração
pela Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais e Mestre em Administração pela
FEAD- MG. Atualmente é professora do Centro
Universitário UNA. Tem experiência como
professora em graduação, pós-graduação e
EAD. Atua na área de Economia (Economia e
Mercado, Microeconomia, Macroeconomia),
da qual ministrou aulas presenciais e de EAD.
Conheça
o Autor
Paulo César Machado Feitosa é Mestre pela
EAESP-FGV, área de concentração Economia
Aplicada e Graduado em Administração pela
FACE/UFMG. Desde 1993 é Professor de Teoria
Macroeconômica I, Economia Monetária e
Economia Industrial no Curso de Ciências
Econômicas da Faculdade de Ciências
Econômicas do Centro Universitário União de
Negócios e Administração. Já atuou como
Professor de Teoria Macroeconômica - Curso
de Pós-Graduação em Economia do Banco
Central do Brasil em Belo Horizonte e PUC/
MG. Também atuou no Banco Central do Brasil
(BCB); Secretaria de Estado da Fazenda de
Minas Gerais; Secretaria de Planejamento e
Coordenação Geral do Estado de Minas Gerais;
Empresa de Processamento de Dados do Estado
de Minas Gerais S.A.- PRODEMGE.
Apresentação
da disciplina
Prezado (a) aluno (a):

O objetivo desse curso é apresentar o estudo da economia. Você


aprenderá conceitos econômicos básicos, mas, ao mesmo tempo,
essenciais para o entendimento da disciplina.

O estudo e entendimento da economia são de grande importância para


todo cidadão, pois se trata de uma ciência muito abrangente e que
impacta diretamente na vida de toda uma sociedade. Compreender a
economia é fundamental para que você possa entender o mundo no
qual vive, além de ajudá-lo no processo de tomada de decisão na vida
pessoal e profissional.

Outro fator importante é que quando estuda-se a economia, você vai


verificar uma grande ampliação no seu conhecimento de país e de
mundo, além de entender as decisões dos governantes quanto às
mudanças de estratégias adotadas e seus resultados na vida de cada
cidadão.

A Ciência Econômica estuda formas de distribuir, da melhor maneira


possível, os recursos que são escassos para todos os indivíduos. Esse
estudo é dividido em dois ramos: Microeconomia e Macroeconomia.
A Microeconomia vai se dedicar ao estudo do comportamento dos
consumidores e produtores dentro do mercado de bens e serviços. Já a
Macroeconomia vai tratar do estudo da economia de forma global, como
um todo.

A partir desse material, você entenderá as forças de oferta e demanda


que acontecem no mercado e como elas afetam os preços e as decisões
de consumo. Aprenderá também como as empresas tomam decisões a
partir do levantamento dos custos dos fatores produtivos, importantes
na formação de preço de um produto.
Compreenderá ainda que o funcionamento dos mercados competitivos
e das outras formas de mercado contam somente com um único
vendedor ou poucos vendedores, afetando o bem-estar econômico.

E, por fim, abordaremos o funcionamento das políticas macroeconômicas,


como as políticas fiscal, monetária e cambial. Além disso, saberemos
como elas interferem na inflação, no desemprego e no crescimento
econômico de um país.

Espero que aproveite o curso e utilize seus conhecimentos a partir de


agora, tanto no seu dia a dia, ao decidir sobre consumo e investimento,
quanto no seu trabalho, a partir das forças que regem a economia.
UNIDADE 1  003
Conceitos iniciais 004
O conceito de economia e sua relação com a escassez 005
A escassez e os problemas econômicos 006
A escassez e o custo de oportunidade 008
Os fatores de produção e a fronteira de possibilidade de produção 010
Fluxos econômicos numa economia de mercado 012
Revisão 016

UNIDADE 2 018
Oferta, demanda e mercado 019
Mercados e competição 021
Demanda 022
Oferta 026
Ofertas e demanda reunidas - equilíbrio de mercado 029
Revisão 032

UNIDADE 3 035
Elasticidade da demanda da oferta 036
Elasticidade-preço da demanda 037
Fatores que interferem na elasticidade-preço da demanda: 039
A elasticidade-cruzada da demanda 042
A elasticidade-renda demanda 044
A elasticidade da oferta 045
Revisão 047

UNIDADE 4 049
A empresa: produção, custos e lucros 050
Empresas 051
Função de produção: curto e longo prazo 052
Custos contábeis e custos explícitos 057
Lucro econômico 057
Revisão 060
UNIDADE 5 062
Estruturas de mercado 063
Estrutura de mercado 066
As caractereisticas específicas de concorrência perfeita 073
O Monopólio 081
O Oligopólio 084
Revisão 090

UNIDADE 6 093
Principais conceitos macroeconômicos 094
A distinção Micro e Macroeconômica 098
Os fundamentos microeconômicos da Macroeconomia 101
O surgimento da Macroeconomia e o princípio da demanda efetiva 102
As principais variáveis e os problemas-chave da Macroeconomia 104
Estrutura básica do modelo macroeconômico 110
Inflação e Sistema de Metas de Inflação 112
Contabilidade Nacional – Medindo o PIB ou Avaliando o
Nível de Atividade Econômica 115
A renda nacional 121
Despesa nacional 124
Revisão 129

UNIDADE 7 132
Política fiscal e monetária 133
A importância econômica (e crescente) do governo 137
Política macroeconômica: conceito, objetivos e
principais instrumentos 141
Variáveis relacionadas à política fiscal 157
Indicadores monetários 159
Indicadores conceitos relativos ao setor externo 160
Política monetária - observações adicionais 162
Revisão 167

UNIDADE 8 171
Economia Internacional 172
Um sobrevoo sobre nosso conteúdo 172
Uma visão paronâmica pelas teorias de comércio
internacional e sua evolução 176
O balanço de pagamentos 182
Conceito de câmbio 190
Política cambial 193
Mercado de câmbio 194
Revisão 197

REFERÊNCIAS 199
Conceitos
iniciais
Introdução

Nesta unidade, estudaremos alguns conceitos econômicos


essenciais para o entendimento de todo o restante do material.

Será abordado inicialmente o conceito de economia e a sua


utilização na vida diária e profissional de todos os cidadãos.

O estudo da economia é muito importante, pois veio para ajudar


o indivíduo e sociedade a fazerem escolhas e decidirem a melhor
maneira para utilizar os recursos que são escassos, de forma a • O conceito de
economia e sua
atender as suas necessidades. relação com a
escassez
Você entenderá que na economia sempre existirá uma escolha a ser • A escassez e
feita. Isso porque há diversas opções possíveis em nossa vida. E os problemas
econômicos
toda a escolha implica em uma renúncia. Por exemplo: para poder
• A escassez
se dedicar ao estudo e tirar boas notas, você terá que renunciar a
e o custo de
muitos convites de festas e baladas. oportunidade
• Os fatores de
Outra abordagem são os fatores utilizados na produção e como as produção e a
fronteira de
empresas fazem sua melhor alocação e observam seus custos de
possibilidade
forma a otimizar seus ganhos, conseguindo se manter no mercado de produção
de forma competitiva e lucrativa. • Fluxos
econômicos
E, ao final, você descobrirá como funciona o mercado econômico
numa economia
de mercado
e a geração de renda. Nesse processo é essencial a presença das
• Revisão
famílias como consumidores e das empresas como vendedores,
para que haja melhor distribuição dos fatores produtivos, fluxo do
dinheiro, geração de riqueza e crescimento econômico.
ECONOMIA

O conceito de economia
e sua relação com a
escassez
Os recursos existentes no mundo são escassos e as necessidades
e desejos humanos são ilimitados. Dessa forma, o indivíduo
irá sempre deparar-se com escolhas para atender às suas
necessidades da melhor maneira.

Para adquirir os bens e serviços necessários para atender aos


seus desejos, as pessoas se ocupam de atividades produtivas, são
remuneradas e essa renda limitará o seu consumo. Dessa forma, as
escolhas devem ser bem feitas para que o indivíduo alcance o nível
de bem-estar material mais alto possível a partir dos recursos que
tem disponível. Os recursos
existentes no mundo
são escassos e as
Segundo Vasconcellos (2006):
necessidades e
A palavra economia vem do grego oikos (casa) e desejos humanos
nomos (norma, lei). Portanto, ‘administração da casa’, são ilimitados.
ou seja, através do estudo da economia, você vai
entender como são distribuídos os recursos que são
escassos de forma a atender as necessidades de
cada indivíduo e da sociedade como um todo. Pode-
se dizer que o objeto de estudo da ciência econômica
é a questão da escassez, ou seja, como ‘economizar’
recursos. (VASCONCELLOS, 2006, p. 3).

TROSTER e MOCHÓN (2006, p. 5), por sua vez, definem a


importância do estudo da economia da seguinte forma: “A economia
estuda a maneira como se administram os recursos escassos,
com o objetivo de produzir bens e serviços e distribuí-los para seu
consumo entre os membros da sociedade.”

005
unidade 1
ECONOMIA

FIGURA1 - Recursos escassos na economia

Fonte: http://humortadela.bol.uol.com.br/
busca?inputBuscaSite=economia. Acessado em 23-
10-2014. Quando os preços
dos produtos se
Essa charge ilustra a escassez dos bens e como o indivíduo se elevam e não é
adapta a esse fato. Quando os preços dos produtos se elevam e possível ter renda
suficiente para
não é possível ter renda suficiente para arcar com os novos preços,
arcar com os novos
é necessário fazer alterações no estilo de vida para adaptar-se às preços, é necessário
novas realidades. fazer alterações no
estilo de vida para
adaptar-se às novas

A escassez e os realidades.

problemas econômicos
Como os recursos não estão disponíveis para todos, as sociedades
se organizam para responder a três problemas econômicos que são
essenciais:

1. O que e quanto produzir? A sociedade deverá decidir em


que se especializar para produzir melhor e quanto deverá
ser produzido. Ex.: O país produzirá mais soja ou mais café?

2. Como produzir? Obtenção de eficiência produtiva no que


foi escolhido. Ex.: Qual tecnologia será envolvida nessa
produção?

006
unidade 1
ECONOMIA

3. Para quem? Decisão relacionada a quem será destinada a


produção. Ex.: Região nordeste ou sul? Mercado externo ou
interno?

A partir dessas decisões, haverá uma especialização da economia e


o país produzirá em maior quantidade e com eficiência, aproveitando
melhor os recursos que são escassos, relacionando-se com os
países estrangeiros, fazendo troca de produtos, atendendo às
necessidades da sociedade e buscando uma melhor distribuição de
renda e geração de riqueza entre os indivíduos.

Os governos, muitas vezes, intervêm nessas decisões que podem


alterar a estrutura econômica de um país e formar a sua economia
de mercado ou simplesmente podem deixar o mercado se
autorregular, mediante as relações existentes entre consumidores
e produtores.
Em geral, os
Conforme KRUGMAN (2007, p. 12), “para os economistas, os
mercados levam
à eficiência na
recursos de uma economia são usados eficientemente quando utilização dos
conseguem explorar plenamente todas as oportunidades de recursos.
melhorar a situação de cada um, atendendo aos objetivos da
sociedade”

Em geral, os mercados levam à eficiência na utilização dos recursos.


Vejamos um exemplo: uma determinada indústria automobilística
vende carros que apresentam diversos problemas mecânicos,
fazendo com que seus donos busquem oficinas para fazerem os
reparos nos veículos. Se esse problema não for resolvido, o que
acontecerá com a venda de carros dessa marca? Provavelmente
haverá uma queda brusca, pois os futuros compradores de carro
obterão informações quanto à qualidade dos carros, o que pode
levar ao fechamento dessa fábrica.

Por isso, podemos dizer que o próprio mercado seleciona os


produtores que são mais eficientes e que oferecem maior bem-
estar. Quando falamos de um mercado competitivo, ou seja, um

007
unidade 1
ECONOMIA

mercado no qual existem muitos produtores, aqueles que não


conseguem sobressair são excluídos.

Às vezes, quando o mercado não consegue ser eficiente para


atender aos anseios da sociedade, os governos podem decidir por
intervir e alterar as formas como os recursos da sociedade estão
sendo utilizados. Por exemplo: se um shopping é construído em
uma determinada região, gerando grandes congestionamentos
no trânsito, podem ser construídos viadutos, ampliadas as
ruas em torno, utilizadas saídas alternativas, reduzindo os
congestionamentos e fazendo com que o trânsito flua de forma
mais eficiente.

Portanto, é muito importante que a sociedade saiba identificar o


mau funcionamento dos mercados, exigindo políticas públicas que
sejam mais adequadas a cada situação, otimizando assim o bem-
Todo ser humano se
depara com escolhas
estar dos indivíduos. no seu dia a dia.
Ao entrar para a
faculdade, você deve
A escassez e o custo ter se deparado com
dúvidas relacionadas
de oportunidade ao curso escolhido.

Todo ser humano se depara com escolhas no seu dia a dia. Ao


entrar para a faculdade, você deve ter se deparado com dúvidas
relacionadas ao curso escolhido. Será que estou fazendo uma boa
escolha? Vou gostar desse curso? Vou conseguir um bom emprego
e ser bem remunerado ao final desse curso?

Esses são exemplos de dúvidas que devem ter passado pela sua
cabeça e você deve estar se perguntando: qual é a relação que isso
tem com o estudo da economia?

Um problema econômico é a escassez, que pode ser de renda,


de tempo, de recursos produtivos. E essa escassez pode ser
cada vez maior se o indivíduo tiver o desejo de adquirir uma

008
unidade 1
ECONOMIA

quantidade de bens e serviços bem maior que a disponibilidade,


de acordo com TROSTER e MÓCHON (2006).

Ao fazer uma escolha, uma renúncia necessariamente acontecerá.


Voltando ao exemplo da faculdade, observe que os benefícios
que você obterá com essa escolha são inquestionáveis, como o
enriquecimento intelectual e melhores oportunidades de emprego.
Mas, quais são os custos relacionados a essa escolha? Você vai
pensar no custo dos livros, transporte, alimentação, mensalidade.
Entretanto, não estou falando somente desses custos. E o tempo
que você passa em sala de aula e estudando em casa? Você poderia
estar, por exemplo, trabalhando ou descansando nesse período.
Caso houvesse a possibilidade de trabalhar no horário da aula, o
salário que você deixa de ganhar pode ser considerado como um
Na economia, esse
custo da sua educação.
custo é chamado
de custo de
Na economia, esse custo é chamado de custo de oportunidade, oportunidade, que
é definido como
que é definido como a quantidade de bens ou serviços que devem
a quantidade de
ser renunciados para a obtenção daquele escolhido. bens ou serviços
que devem ser
FIGURA 2 - Custo de oportunidade renunciados para a
obtenção daquele
escolhido.

Fonte: http://economia-a.blogspot.com.br/2012/03/o-custo-de-
oportunidade.html. Acesso em: 19/12/2014.

009
unidade 1
ECONOMIA

A figura anterior apresenta uma decisão de escolhas: estudar


mais um pouco ou parar e fazer um lanche. Ela não pode fazer as
duas coisas ao mesmo tempo. Se a estudante optar por continuar
estudando, o custo de oportunidade seria deixar de fazer o lanche e
dessa forma, continuar com fome. Caso ela opte por fazer o lanche,
o custo de oportunidade seria parar de estudar e assim o seu tempo
de estudo seria reduzido.

E não somente o indivíduo, mas as empresas se deparam com


essas escolhas diariamente, e vão gerando custo de oportunidade.
Uma empresa, por exemplo, ao dedicar o seu investimento em um
determinado produto, está abrindo mão de investir em outros que
poderiam ser produzidos.

Os fatores de produção E não somente


o indivíduo, mas
e a fronteira de as empresas se
deparam com
possibilidade essas escolhas
diariamente, e vão
de produção gerando custo de
oportunidade.

Para atender às necessidades humanas, as empresas produzem


bens e serviços e, ao fazê-lo, precisam dos chamados recursos ou
fatores produtivos, que serão combinados ao longo do processo
produtivo.

De acordo com VICECONTI e NEVES (2005), os fatores de produção


são classificados como:

1. Terra ou Recursos naturais: o que for fornecido pela


natureza e é utilizado na produção.

2. Trabalho: o tempo e a capacidade intelectual de um


indivíduo dedicado à atividade produtiva.

3. Capital: é o chamado estoque de capital e contempla os


investimentos realizados em edificações, maquinário e

010
unidade 1
ECONOMIA

instalações necessárias à produção dos bens.

Para ajudar na decisão do o que, quanto, como e para quem


produzir, observando a questão da escassez dos recursos,
utilizaremos o conceito de curva ou fronteira de possibilidade de
produção.

A curva ou fronteira de possibilidade de produção demonstrará


as opções que são oferecidas à sociedade e a necessidade de
escolha.

Ao optar por produzir um determinado bem, uma renúncia será feita


(custo de oportunidade).

De acordo com o quadro abaixo, podemos exemplificar a


possibilidade de produção.

QUADRO 1 - Custo de Oportunidade

Opção Algodão Trigo Custo de oportunidade*


A 0 7,5

B 1 7,0 0,5

C 2 6,0 1,0

D 3 4,5 1,5

E 4 2,5 2,0

F 5 0,0 2,5

*Unidades de trigo que não devem ser produzidas para obter-se uma unidade adicional de algodão.

Fonte: TROSTER; MÓCHON, 2002, p. 15.

011
unidade 1
ECONOMIA

GRÁFICO 1 - A curva ou fronteira de possibilidade de produção


TRIGO

7,5 A
7,0

6,0 B
C
4,5 D

2,5 E

1 2 3 4 5 ALGODÃO

Fonte: TROSTER; MÓCHON, 2002, p. 15.

A curva reflete as opções oferecidas à sociedade e as possíveis


escolhas, lembrando que a maior produção de um bem implica na
menor produção do segundo bem.

Nesse exemplo, o custo de oportunidade de uma unidade de


algodão é o número de unidades de trigo que é preciso deixar de
produzir para obtê-la.

Fluxos econômicos
numa economia de
mercado
Ao verificarmos a versão simplificada do funcionamento de
economia de mercado, conforme VICECONTI e NEVES (2005),
é necessário fazer a distinção de dois agentes econômicos
fundamentais: as unidades produtivas ou empresas e as unidades
consumidoras ou famílias.

As famílias, proprietárias do fator de produção Trabalho, utilizam

012
unidade 1
ECONOMIA

os salários (renda originária da cessão de seu uso para empresas)


para comprar os bens e serviços que produzidos pelas empresas, a
fim de satisfazerem suas necessidades.

FIGURA 3 – Fluxo de bens e serviços e dos fatores produtivos e dos pagamentos monetários

o s m o n et á r i o s p e l o
a m en t s pr
Pa g FLUXO MONETÁRIO odu
to s
O DE PRODUTOS
F LU X

Famílias Empresas
• Consomem bens e serviços • Fornecem bens e serviços aos
finais produzidos pelas consumidores
empresas
• Utilizam fatores produtivos
• Fornecem fatores produtivos fornecidos pelas famílias
para as empresas

FATORES
PRODUTIVOS
Terra, trabalho e capital
FLUXO
MONETÁRIO
Pagamentos monetários pelos
fatores produtivos

_____ Fluxos reais


......... Fluxos monetários

Fonte: TROSTER; MÓCHON, 2002, p. 46.

O mercado econômico funcionará somente com o funcionamento


desse fluxo, ou seja, é essencial que haja um consumo e uma oferta
de mão de obra por parte das famílias e de produção de bens e
serviços e pagamento dos salários por parte das empresas.

013
unidade 1
ECONOMIA

O que é custo de oportunidade?

20/12/2010 por RAFAEL SEABRA | EDUCAÇÃO FINANCEIRA21

http://queroficarrico.com/blog/2010/12/20/o-que-e-custo-de-

oportunidade/ Acessado em 23-10-14

Comprar alguma coisa que queremos muito é extremamente prazeroso.

Melhor ainda quando esse bem cabe sem sufoco no nosso orçamento.

Existem vários perfis de compradores, desde os inconsequentes (“ah,

vou comprar e depois vejo como vou pagar”) até aqueles que colocam na

ponta do lápis pra saber se essa aquisição é mesmo viável. Entretanto,

independe do perfil, 99,9% dos consumidores não levam em consideração


Comprar alguma
coisa que o custo de oportunidade.
queremos muito
é extremamente O propósito desse artigo é discutir sobre esse importante fator a ser
prazeroso. Melhor considerado em qualquer aquisição que fizermos, até mesmo para
ainda quando esse escolher opções de investimentos.
bem cabe sem
sufoco no nosso Definição
orçamento.
Segundo o Wikipedia:

O custo de oportunidade é um termo usado em economia para indicar

o custo de algo em termos de uma oportunidade renunciada, ou seja, o

custo, até mesmo social, causado pela renúncia do ente econômico, bem

como os benefícios que poderiam ser obtidos a partir desta oportunidade

renunciada ou, ainda, a mais alta renda gerada em alguma aplicação

alternativa.

Em outras palavras, quando decidimos comprar um determinado bem,

alocando assim parte do nosso capital para adquiri-lo, estamos abrindo

mão (renunciando) de investir esse dinheiro numa aplicação financeira

(oportunidade renunciada), deixando assim de obter o maior retorno

financeiro possível.

014
unidade 1
ECONOMIA

Exemplos

Existe uma infinidade de exemplos para custos de oportunidade, mas

gosto muito de utilizar a aquisição de um automóvel, por ser algo muito

corriqueiro em nossas vidas, pois muitos adoram comprar um carro novo.

Quando você decide ir à concessionária e pagar, digamos, R$ 30 mil num

veículo, você não está apenas imobilizando R$ 30 mil do seu patrimônio (na

verdade, será menos que isso, pois o valor do carro cai consideravelmente

assim que sai da loja) ou R$ 250 de combustível mensalmente ou R$ 150

do seguro rateado em 12 meses ou todos os outros gastos para manter

o bem. Além de tudo isso, você também está deliberadamente abrindo

mão (renunciando) de receber aproximadamente R$ 240 mensalmente

enquanto tiver o carro.


Como o subtítulo
sugere, não devemos Ao optar por comprar o carro e renunciar a rentabilidade desse capital
considerar sempre
investido hipoteticamente em títulos públicos, a uma taxa líquida de 0,8%
o lado financeiro
para tomar nossas ao mês (R$ 30.000 * 0,008 = R$ 240,00), devemos passar a considerar
decisões, mas é esse custo de oportunidade dentre os gastos com o automóvel.
importante saber
o que estamos Nem tudo é apenas o lado financeiro…
renunciando para
ter aquele bem A finalidade de calcular o custo de oportunidade dos bens mais valiosos
desejado. que possuímos (imóvel, carro, casa de praia, entre outros) é sabermos o

quanto estamos deixando de ganhar (financeiramente) para termos aquele

objeto de desejo (que nos faz ganhar de outras formas).

Como o subtítulo sugere, não devemos considerar sempre o lado financeiro

para tomar nossas decisões, mas é importante saber o que estamos

renunciando para ter aquele bem desejado.

Feitas as contas, orçamento adequado e disposto a abrir mão dessa

rentabilidade para adquirir o tão sonhado carro ou casa de praia? Não

pense duas vezes! É assim que faz um consumidor consciente.

Fonte: SEABRA, Rafael. O que é custo de oportunidade?. 20 dez. 2010. Disponível


em: http://queroficarrico.com/blog/2010/12/20/o-que-e-custo-de-oportunidade/>.
Acesso em: 01 dez. 2014.

015
unidade 1
ECONOMIA

Revisão
A economia estuda como administrar os recursos disponíveis, com
o objetivo de produzir bens diversos e distribuí-los para consumo
entre os membros da sociedade.

A escassez não é um problema tecnológico, mas de disparidade


entre desejos humanos e meios disponíveis. Uma vez satisfeitas as
necessidades, surgem novos desejos.

Como os recursos não estão disponíveis para todos, as sociedades


se organizam para responder a três problemas econômicos que são
essenciais: o que e quanto, como e para quem produzir.
Como os recursos
O custo de oportunidade que ocorre ao produzir um produto é ao não estão
disponíveis para
que se deve renunciar em termos de outros bens que deixam de ser
todos, as sociedades
produzidos com os mesmos recursos. se organizam
para responder
Os recursos ou fatores produtivos são insumos utilizados na
a três problemas
econômicos que são
produção de um bem e são divididos em três grandes grupos: terra,
essenciais: o que e
trabalho e capital. quanto, como e para
quem produzir.
A fronteira de possibilidades de produção é côncava em relação
à origem. Isso porque o custo de oportunidade aumenta conforme
continua o processo de substituição da produção de um bem ou
serviço pela produção de outro.

A curva ou fronteira de possibilidade de produção vai demonstrar as


opções que são oferecidas à sociedade e à necessidade de escolha.

Por mercado, entende-se tratar de uma instituição social na qual os


bens e serviços são trocados de maneira livre e voluntária.

O mercado econômico funciona da seguinte forma: as famílias


(proprietárias do fator de produção Trabalho) utilizam os salários

016
unidade 1
ECONOMIA

(renda originária da cessão de seu uso para empresas) para comprar


os bens e serviços que essas empresas, a fim de satisfazerem suas
necessidades.

Olá, aluno!

Este vídeo é muito interessante, pois aborda resumidamente os conceitos

introdutórios vistos nesta unidade. Não deixe de acessá-lo, pois trata-se

de uma fonte complementar aos seus estudos!

ECONOMIA DESCOMPLICADA (PROGRAMA 01). Postado por: Saber mais na web.


(05 min. 55 seg.): son. color. Port. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=lsg3UziSd54>. Acesso em: 01 dez. 2014.

017
unidade 1
Oferta, Demanda
e Mercado
Introdução

Nesta unidade, analisaremos o modelo de oferta e demanda, muito


importante para o funcionamento da economia, pois por meio dele
conseguimos entender o funcionamento dos mercados. Existe uma
relação direta entre a oferta, a demanda e a alteração nos preços de
venda dos produtos.

Supomos que você possui uma loja de eletrodomésticos e


aumentou o seu estoque de ventiladores já pensando na demanda
pelo produto no período do verão.

• Mercados e
Entretanto, devido à forte seca, o calor tornou-se mais intenso competição
mesmo na primavera e você já vendeu praticamente metade do • Demanda
estoque que você tinha adquirido para o verão. Você entra em
• Oferta
contato com o fornecedor, mas ele informa que somente conseguirá
• Oferta e
fornecer mais ventiladores no mês de fevereiro do próximo ano, pois Demanda
ele também não está conseguindo atender à demanda. Reunidas –
Equilíbrio de
Mercado
O que você pode fazer nesse momento? Continuar vendendo os
• Revisão
ventiladores pelo preço inicial e aguardar até fevereiro para receber
mais equipamentos ou aumentar o preço e conseguir obter uma
maior lucratividade, devido à alta demanda por esse produto?

Tenho certeza que você optará por aumentar os preços, tentando


assim garantir um maior lucro nas vendas, por causa do aumento
excessivo da procura pelo ventilador.

É assim que ocorre na maioria das vezes quando temos excesso


de demanda em um determinado mercado e o inverso ocorre, ou
seja, quando a oferta é excessiva. Vamos analisar essas relações
e entender por que os preços alteram quando falamos de um
mercado competitivo.

Portanto, nesta unidade, você terá a oportunidade de estudar o


conceito de oferta e o de demanda e a relação existente entre eles.
A partir disso, constatará que esses conceitos são completamente
aplicáveis no nosso dia a dia.

Também analisaremos outros fatores que interferem na oferta e


na demanda, fazendo com que haja deslocamentos nas mesmas,
demonstrando alterações nas quantidades.

E, ao final da unidade, será estudado o conceito de equilíbrio entre


oferta e demanda e como isso afeta os preços dos produtos no
mercado econômico.
ECONOMIA

Mercados e competição
Agora vamos entender o funcionamento do mercado econômico de
acordo com a oferta e a demanda que acontece apenas no mercado
competitivo.

São a oferta e a demanda juntas que fazem funcionar uma


economia. E é por meio dessa interação que se determina a
quantidade a ser produzida e o preço dos produtos.

O mercado competitivo, como será estudado mais adiante, é aquele


no qual existe um grande número de vendedores e compradores e
nenhum deles, individualmente, consegue exercer alguma influência
sobre os preços.

FIGURA 4 – Mercado Competitivo


São a oferta e a
demanda juntas que
fazem funcionar
uma economia.

Fonte: AAFFonso. O valor do amor.

A ilustração acima mostra, de forma cômica, como ocorre a


concorrência no mercado competitivo.

021
unidade 2
ECONOMIA

Demanda
Para iniciar esse estudo, vamos verificar o comportamento dos
compradores ou demandantes.

Conforme descrito por MANKIW (2009, p. 67), “a quantidade


demandada de um bem qualquer é a quantidade desse bem que os
compradores desejam e podem comprar”.

A quantidade demandada irá variar de acordo com o seu preço


de venda. Quanto menor o preço de um produto, maior será a
quantidade demandada e quanto maior o preço de um produto,
menor será a quantidade demandada. Essa é a chamada lei da
demanda.

A lei da demanda apresenta essa relação inversa entre preço e


quantidade, porque quando o preço de um bem aumenta, alguns A quantidade
demandada irá variar
consumidores deixarão de adquiri-los e outros irão trocá-lo por
de acordo com o seu
outro bem que esteja à altura. Ex.: se o preço do tomate subir, os preço de venda.
consumidores podem simplesmente deixar de consumi-lo ou trocá-
lo por outro legume.

A curva da demanda
Conforme demonstrado na tabela abaixo, quanto maior for o preço
de um produto, menor será a quantidade demandada. Por meio do
gráfico, pode ser verificado que a curva de demanda é decrescente,
pois demonstra essa relação inversa entre preço e quantidade.

022
unidade 2
ECONOMIA

QUADRO 2 - Tabela de demanda

Preço de um Quantidade
DVD (R$) demandada (unid)

10 15

15 12

20 9

25 6

30 2

Fonte: LOPES, Renata Moreira (Autora).

GRÁFICO 2 - Curva de demanda


y
Preço

30

25 O deslocamento da
curva de demanda
20
acontecerá
15 quando houver
uma alteração
10 em qualquer um
0
x dos fatores que
2 6 9 12 15 podem influenciar
Quantidade a demanda, com
exceção do preço.
Fonte: LOPES, Renata Moreira (Autora).

Nesse gráfico, podemos verificar que a curva de demanda mostra


a relação entre o preço de um bem e sua quantidade demandada.
Podemos perceber que quando há um aumento no preço, a
quantidade demandada é reduzida e quando há uma queda no
preço, há um aumento na quantidade demandada.

Deslocamentos da curva de demanda

O deslocamento da curva de demanda acontecerá quando houver


uma alteração em qualquer um dos fatores que podem influenciar a
demanda, com exceção do preço.

023
unidade 2
ECONOMIA

Os fatores que fazem uma curva de demanda deslocar-se são:

• A renda dos consumidores: uma renda menor diminui o


consumo e uma renda maior aumenta o consumo. Se a
demanda por um bem aumenta quando há um aumento na
renda, esse bem é chamado bem normal. Se a demanda por
um bem cai quando a renda aumenta, esse bem é chamado
de bem inferior. Um exemplo de bem inferior pode ser
a passagem de ônibus. Se sua renda aumenta, você vai
querer comprar um carro e deixar de andar de ônibus.

• Preço dos bens relacionados: quando há o aumento


do preço de um bem, você pode deixar de comprá-lo e
adquirir o seu substituto, que pode ser mais barato. Por
exemplo, se houve um aumento na carne bovina, eu posso
adquirir a carne suína, mais barata, no seu lugar. Quando
há o aumento no preço de um bem, eleva a demanda de
outro bem, esses bens podem ser classificados como Se a demanda por
bens substitutos. Quando o aumento do preço de um bem
um bem cai quando
a renda aumenta,
reduz a demanda de outro bem, podemos dizer que esses
esse bem é chamado
bens são complementares. Os bens complementares são, de bem inferior.
frequentemente, pares de bens usados em conjunto, por
exemplo, sanduíche e maionese.

• Preferência dos consumidores: essas alterações


podem ocorrer ao longo do tempo, seja pelas inovações
tecnológicas ou pelas campanhas publicitárias que
divulguem essas alterações. Se há um aumento na
demanda de um produto, a curva se deslocará para direita.
Se há uma redução na demanda do produto, a curva se
deslocará para a esquerda.

• Tamanho do mercado e outros fatores: o tamanho do


mercado está relacionado com a quantidade de pessoas
que demandam aquele tipo de produto. Um outro fator que
pode influenciar essa demanda é a expectativa relacionada
à atividade econômica futura.

024
unidade 2
ECONOMIA

GRÁFICO 3 – Deslocamento da Curva de Demanda


$ D1 D

Q
Q1 Q

Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://www.


youtube.com/watch?v=hlJEZdCRHmI. Acesso em:
19/12/2014.

Conforme demonstrado no gráfico anterior, houve uma redução da


quantidade demandada, mas o preço do bem se manteve o mesmo.
Podemos supor uma queda na renda da população, o que promoveu
uma redução na quantidade demandada dos bens em geral.

Também pode-se
GRÁFICO 4 – Deslocamento da Curva de Demanda supor uma alteração
$ D1 D
na renda, que teve o
seu valor aumentado,
proporcionando um
P maior consumo de
bens pela população.

Q
Q1 Q

Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://www.


youtube.com/watch?v=hlJEZdCRHmI. Acesso em:
19/12/2014.

Nesse segundo gráfico, percebemos que o deslocamento da


curva de demanda foi para a direita, demonstrando que houve um
aumento na quantidade demandada, mas não houve alteração nos
preços. Também pode-se supor uma alteração na renda, que teve o
seu valor aumentado, proporcionando um maior consumo de bens
pela população.

025
unidade 2
ECONOMIA

Uma das grandes inovações, nos últimos anos, no mercado automotivo

brasileiro foi a introdução dos veículos flex fuel, que permitem tanto o uso de

gasolina quanto o de álcool como combustível no mesmo carro. Antes dessa

inovação, o consumidor brasileiro tinha de optar entre um veículo movido

a gasolina ou a etanol, ficando restrito à utilização de apenas um tipo de

combustível. Nesse sentido, a introdução dos veículos flex fuel no mercado

brasileiro aumentou o grau de substitutibilidade1 entre os dois combustíveis

para o consumidor que adquirir um carro desse tipo. Em outras palavras,

caso o preço da gasolina suba, o consumidor que possui um carro flex fuel

pode optar por colocar etanol no seu tanque (configurando um movimento

de mercado típico de bens substitutos entre si).

Oferta
A oferta demonstra a quantidade de produtos que os produtores ou
ofertantes disponibilizarão para o mercado. Na oferta, quanto maior
for o preço de um produto, maior será a quantidade de produtores que
irão ofertar aquele produto no mercado, porque os produtores querem
aumentar os seus lucros. Quanto menor o preço de um produto, menor
a quantidade de produtos que serão ofertados naquele mercado.

QUADRO 3 - Quantidade ofertada de açaí

Preço do Quantidade
açaí (R$) ofertada do açaí

2,00 0

4,00 2

6,00 4

8,00 8

10,00 15

Fonte:LOPES, Renata Moreira (Autora).

1-O
 conceito de substituibilidade refere-se aos bens substitutos, que são aqueles
que podem ser substituídos quando seus preços são aumentados.

026
unidade 2
ECONOMIA

GRÁFICO 5 – Oferta
Y
Preço

10,00

8,00

6,00

4,00

2,00

X
0 2 4 8 15
Quantidade

Fonte: Domínio Público. Disponível em: http://


portalteses.icict.fiocruz.br/transf.php?script=thes_
chap&id=00004303&lng=pt. Acesso em: 19/12/2014.

Quanto maior
Quanto maior o preço do açaí, mais produtores participarão desse o preço de um
produto, maior
mercado e oferecerão mais produtos, pois o que eles querem é
será a quantidade
aumentar seus lucros. Quando o preço está baixo, vários ofertantes ofertada. Essa é a
saem daquele mercado porque não querem obter um baixo lucro Lei da Oferta.
pela venda do produto, pois os custos de produção não serão
cobertos por aquele preço.

A curva de oferta é crescente porque mostra uma relação direta


entre preço e quantidade, ou seja, quanto maior o preço de um
produto, maior será a quantidade ofertada. Essa é a Lei da Oferta.

Deslocamentos da curva de oferta


Os fatores que podem causar o deslocamento da curva de oferta,
aumentando ou diminuindo a quantidade ofertada de um determinado
produto podem ser:

• Preço dos fatores produtivos ou insumos: quando


há uma alteração no preço dos insumos utilizados na
produção de um bem, os custos serão modificados. Dessa
forma, o produtor poderá produzir mais ou menos de um

027
unidade 2
ECONOMIA

determinado bem. Quando aumenta o preço de um insumo,


o produtor ofertará menos daquele bem e o contrário irá
ocorrer na redução do preço desse insumo.

• Tecnologia existente: inovações tecnológicas podem


aumentar a produção de um determinado bem sem
aumentar o custo de produção, o que levará o produtor a
ofertar mais bens no mercado.

• Expectativas: a quantidade de produto produzido


dependerá das expectativas em relação ao futuro da
atividade econômica de um país. No ano da Copa de Futebol
no Brasil, os brasileiros compraram mais televisores, sendo
assim, será percebido um aumento na oferta de televisores
no mercado.
Quando aumenta o
GRÁFICO 6 – Deslocamento da Curva de Oferta preço de um insumo,
$ o produtor ofertará
O O1
menos daquele bem
e o contrário irá
P ocorrer na redução
do preço desse
insumo.
Q
8.000 10.000

Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://


www.youtube.com/user/DestroDois. Acesso em:
11/12/2014.

O deslocamento da curva de oferta para a direita demonstra que


houve um aumento na quantidade ofertada de produtos no mercado,
mas o preço de venda não alterou. Por que então esse deslocamento
ocorreu?

Supomos que foi inventado um equipamento que permite aumentar a


produção sem impactar no custo de venda do produto. Sendo assim,
o ofertante conseguirá disponibilizar mais bens no mercado, conforme
demonstrado no gráfico acima. Esse é um caso de introdução de uma nova
tecnologia.

028
unidade 2
ECONOMIA

GRÁFICO 7 – Deslocamento da Curva de Oferta


$ O O1

Q
8.000 10.000

Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://www.


youtube.com/user/DestroDois. Acesso em: 11/12/2014.

Já nesse gráfico, o que ocorreu foi um deslocamento da curva de


oferta para a esquerda, indicando que os produtores reduziram
a oferta de um determinado bem. Isso pode ter ocorrido, por
exemplo, devido ao custo de produção daquele bem. Vamos
supor que o custo da matéria-prima utilizada foi aumentada, mas
o ofertante não pode repassar esse aumento para a venda, pois
o mercado manteve o mesmo preço. Dessa forma, ele prefere
ofertar menor quantidade desse bem no mercado.

Oferta e Demanda
Reunidas – Equilíbrio
de Mercado
Após a análise, em separado, das curvas de oferta e demanda,
vamos analisá-las em conjunto e verificar o que acontece com
essa interação.

029
unidade 2
ECONOMIA

GRÁFICO 8 – Oferta e Demanda reunidas


y
Preço Excesso de
Oferta
O
Pv

PE E

Px
D
Excesso de Demanda
Qtde
0 QE

Fonte: SANTOS, 2001.

No ponto de interseção das curvas de oferta e demanda é que


vamos ter o chamado ponto de equilíbrio. Nesse ponto, temos o
preço de equilíbrio (onde os planos dos ofertantes e demandantes
se coincidem) e a quantidade de equilíbrio (onde a quantidade
ofertada é igual à quantidade demandada). Quando o preço de
equilíbrio é alcançado, toda a produção ofertada no mercado é
demandada.

Entretanto, esse mercado de equilíbrio nem sempre acontece. Quando


há uma mercadoria excedente, que não foi vendida, a concorrência
entre os vendedores fará o preço descer. Isso ocorre quando há um
excesso de oferta, situação na qual a quantidade ofertada é maior
do que a quantidade demandada. Ao contrário, quando há mais
demandantes do que mercadorias oferecidas no mercado, haverá
uma pressão dos ofertantes para elevar os preços. Isso acontecerá
quando há um excesso de demanda, situação na qual a quantidade
demandada é maior do que a quantidade ofertada.

INFLAÇÃO

IBGE: refeição fora de casa pressiona inflação em 2014

Item já subiu 7,64% de janeiro a setembro, o equivalente a 0,39 ponto

porcentual da inflação de 4,61% registrada pelo IPCA no mesmo período.

030
unidade 2
ECONOMIA

Embora as carnes tenham sido os vilões da inflação em setembro, o

item que mais pesou no bolso dos consumidores até agora em 2014 foi

a refeição fora de casa, segundo dados do Índice Nacional de Preços

ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgados nesta quarta-feira, 08, pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O item já subiu

7,64% de janeiro a setembro, o equivalente a 0,39 ponto porcentual da

inflação de 4,61% registrada pelo IPCA no mesmo período.

“Rio e São Paulo vêm sendo pressionados muito pela refeição fora de

casa, pelos alimentos consumidos fora de casa. E teve esse período

de Copa, que teve um movimento muito concentrado nesses dois

Estados e propiciou aumento”, explicou Eulina Nunes dos Santos,

coordenadora de Índices de Preços do IBGE.

Em 12 meses, a inflação do grupo Alimentação e Bebidas alcançou

9,19% em São Paulo. No Rio de Janeiro, a alta é de 9,86%.

Em 12 meses, a
Eulina explica que a demanda em alta propicia que os preços dos
inflação do grupo
Alimentação e alimentos consumidos fora do domicílio aumentem acima dos custos
Bebidas alcançou dos empreendimentos de alimentação. “O desemprego está baixo, as
9,19% em São Paulo. pessoas estão comendo fora. Os alimentos estão subindo, mas esse
No Rio de Janeiro, a
não é o principal custo dos empreendimentos de refeição. Tem energia
alta é de 9,86%.
elétrica, os salários vêm subindo mais que a inflação. E a demanda

nessa área não coloca muito limite para os aumentos que possam

acontecer”, avaliou.

Em setembro, o item refeição fora de casa aumentou 1,02%, uma

contribuição de 0,05 ponto porcentual para o IPCA de 0,57% registrado

no mês. A maior contribuição para a inflação foi decorrente da alta de

3,17% no preço das carnes, o equivalente a 0,08 ponto porcentual.

“Os pecuaristas argumentam que os pastos ainda estão secos por

conta da seca do início do ano, e esse período é de fato de entressafra.

Outro fator que vem sendo atribuído é a exportação. O Brasil é o

principal exportador de carne, e a arroba do boi vem subindo desde o

início do ano. Os mercados (internacionais) estão muito favoráveis ao

mercado brasileiro (de carne)”, justificou Eulina. Ela mencionou ainda

que também pode haver influência de especulação, de produtores que

031
unidade 2
ECONOMIA

não querem matar o gado para manter os preços mais altos.


Fonte: IBGE: REFEIÇÃO fora de casa pressiona inflação em 2014. In: Jornal do
Commercio – Economia. 08 out. 2014. Disponível em: <http://jconline.ne10.uol.
com.br/canal/economia/nacional/noticia/2014/10/08/ibge-refeicao-fora-de-
casa-pressiona-inflacao-em-2014-150014.php>. Acesso em: 28 out. 2014.

Revisão
Por mercado entende-se a instituição social, onde bens e serviços
são trocados de maneira livre e voluntária.

A demanda de determinado consumidor por um bem específico


demonstra a relação existente entre o preço de um bem e sua
quantidade demandada. Essa relação pode ser visualizada pela
representação gráfica da curva decrescente de demanda, que
apresenta a relação inversa entre preço e quantidade, comprovando
assim a chamada lei da demanda.

A oferta reflete o desejo da quantidade de bens que o empresário


ofertará no mercado mediante os preços relacionados. Essa
interação pode ser visualizada na representação gráfica da curva
crescente da oferta, que demonstra a relação direta entre preço e
quantidade, ou seja, quanto maior o preço maior a quantidade de
produtos ofertada pelos produtores.

O deslocamento da curva de demanda é devido a alguns fatores: renda


dos consumidores, preço dos bens relacionados, preferências dos
consumidores e tamanho do mercado.

As variáveis que podem levar a um deslocamento da curva de


oferta são: preço dos fatores produtivos, tecnologias existentes e
expectativas.

Quando a oferta se iguala à demanda, temos o ponto de equilíbrio,


que mostra o ponto de interseção entre as duas curvas, no qual
toda a quantidade ofertada será demandada. Se o preço oferecido
no mercado fica acima do preço de equilíbrio, haverá excesso de

032
unidade 2
ECONOMIA

oferta no mercado. Por outro lado, se o preço for menor que o de


equilíbrio, haverá um excesso de demanda, ou seja, uma situação
em que a quantidade demandada é superior à ofertada.

Lei da Oferta e da Procura (demanda e oferta)

Por Edson Canal Girardi

Demanda é tudo aquilo que um consumidor almeja adquirir em

determinado espaço de tempo. Temos que entender que é somente

o desejo de adquirir certo bem, e não a consumação de tal, que seria

caracterizado como consumo.

A demanda pode ser influenciada por vários fatores, como:

• • O gosto do consumidor;

• • A relação entre o preço do bem - quanto maior, menor será a

procura pelo mesmo;

• • A relação de seu preço com o preço de bens substitutos. Ex.: o

preço da manteiga e da margarina;

• • A relação de seu preço e o poder de compra do consumidor.

Oferta é a quantidade de bens ou serviços que os produtores dos mesmos

desejam vender em determinado espaço de tempo. Depende de algumas

variáveis:

• • A quantidade ofertada de um bem;

• • O preço deste bem;

• • O preço dos bens concorrentes a este;

• • O custo de produção destes bens;

• • A tecnologia empregada na fabricação destes produtos.

Assim, podemos ver que quanto há o aumento do preço de um produto,

033
unidade 2
ECONOMIA

maior é o estimulo para a fabricação deste bem. Quando a quantidade

deste bem se normaliza no mercado, há a redução de seu preço,

estimulando a demanda e desestimulando a vontade dos fabricantes de

produzi-lo.

Essas forças de mercado vivem em conflito, fazendo com que o preço

dos produtos seja regido pela oferta, que oferecerá pouco para o mesmo

elevar-se, e pela demanda, que almejará muitos produtos para ele chegar a

preços mais acessíveis. E esta lei econômica serve para qualquer produto.

Como exemplo, podemos citar o vídeo-cassete, que no início da década de

80 custava muito caro. Seu preço foi declinando com a chegada de marcas

diferentes, e também de produtos concorrentes (como o DVD) no mercado

– ou significa, sua oferta aumentou para uma demanda estabilizada.

Um bom exemplo que encontramos em nosso dia-a-dia é o supermercado.

Em épocas específicas como Páscoa, Natal, etc., os produtos de época

tendem a ficarem mais caros, pois a demanda pelos mesmos aumenta em

uma proporção muito maior que o aumento de sua oferta.


Fonte: GIRARDI, Edson Canal. Lei da Oferta e da Procura (demanda e oferta). In: Site
“InfoEscola”. Disponível em: <http://www.infoescola.com/economia/lei-da-oferta-e-da-
procura-demanda-e-oferta/>. Acesso em: 01 dez. 2014.

034
unidade 2
Elasticidade da
demanda e da
oferta
Introdução

Na última unidade estudada, vimos que as quantidades


demandadas e ofertadas no mercado sofrem alterações quando
os preços são modificados. Para os produtores é muito importante
entender as reações do mercado frente às alterações nos preços, e
como consequência, o impacto na sua receita de vendas.

Para completar esse entendimento, nessa unidade vamos analisar,


por meio de dados numéricos, qual a alteração real na quantidade
quando os preços são alterados, ou seja, verificar como as • Elasticidade-
preço da
quantidades demandadas e ofertadas serão sensíveis devido às demanda
variações nos preços.
• Fatores que
interferem na
Por exemplo, vamos supor que houve um aumento de 50% nos elasticidade-
preço da
preços dos refrigerantes. Como os demandantes vão reagir a esse
demanda
novo preço? O consumo vai diminuir? Em que magnitude? E em
• A elasticidade-
relação à oferta, vai haver uma alteração na quantidade ofertada? cruzada da
demanda
Por meio do estudo do conceito de elasticidade vamos obter • Elasticidade-
respostas numéricas que nos permitirão responder às perguntas renda da
demanda
formuladas.
• A elasticidade
da oferta
• Revisão
ECONOMIA

Elasticidade-preço
da demanda
A definição de elasticidade, de acordo com VASCONCELLOS (2010), é
“a alteração percentual em uma variável, dada uma variação percentual
em outra. Elasticidade é sinônimo de sensibilidade, resposta, reação
de uma variável, em face de mudanças em outras variáveis”. Esse
conceito é muito aplicado na economia, como veremos a seguir.

Vamos iniciar os estudos da elasticidade pelo lado da demanda,


entendendo o comportamento dos demandantes mediante as
alterações nos preços dos bens e serviços.

MOCHÓN define a elasticidade-preço da demanda (Ep) como “a razão


A definição de
entre a variação percentual da quantidade demandada de um bem e a elasticidade,
variação percentual de seu preço, mantendo-se constantes todos os de acordo com
demais fatores que afetam a quantidade demandada” (2007, p. 40).
VASCONCELLOS
(2010), é “a alteração
percentual em uma
Para calcularmos o coeficiente da elasticidade-preço da demanda, variável, dada uma
faremos o seguinte cálculo: variação percentual
em outra.
Ep = variação percentual da quantidade demandada =
Variação percentual do preço

Para calcular a variação percentual da quantidade demandada,


usamos a seguinte fórmula:

ΔQ x100
Q0

Para calcular a variação percentual do preço, usamos a seguinte


fórmula:

ΔP x 100
P0

037
unidade 3
ECONOMIA

Vamos supor que um sacolão vendia o quilo da laranja a R$ 5,00 e

conseguia dessa forma vender 100 kg de laranja. Houve uma redução

no preço para R$ 3,00 o quilo da laranja, e a quantidade demandada

aumentou para 180 kg.

Calculando a elasticidade-preço da demanda:

ΔQ x100 = 80kg x 100 = 0,80 x 100 = 80%


Q0 100kg

A quantidade demandada aumentou em 80%.

ΔP x 100 = 2 x 100 = 0,40 x 100 = 40%


P0 5 O maior valor
da elasticidade-
preço da demanda
O preço foi reduzido em 40%.
indica que houve
um elevado grau
Calculando a elasticidade-preço da demanda (Ep) de resposta em
relação à quantidade
Ep = variação percentual da quantidade demandada = 80% = 2 demandada quando
Variação percentual do preço 40%
os preços foram
alterados.

O que significa esse resultado? O maior valor da elasticidade-preço da


demanda indica que houve um elevado grau de resposta em relação
à quantidade demandada quando os preços foram alterados, ou seja,
a demanda é mais sensível às alterações nos preços. Se acontecesse
o contrário, quanto menor o valor da elasticidade-preço da demanda,
menos sensível essa demanda seria às variações nos preços.

Demanda elástica: quando o resultado for maior do que 1 (Ep >


1) significa que a demanda é elástica, ou seja, muito sensível à
variação nos preços. Para esses bens, quando há um aumento
no preço, a receita total de vendas do produtor irá diminuir, pois a
quantidade vendida diminui muito mais em termos proporcionais
do que o aumento nos preços. O inverso também ocorre, ou seja,

038
unidade 3
ECONOMIA

quando há um aumento no preço, a receita total será aumentada,


pois os demandantes consumirão muito mais do bem, em termos
percentuais, compensando a redução do preço.

Demanda inelástica: quando o resultado for menor do que 1 (Ep < 1),
significa que a demanda é inelástica, ou seja, pouco sensível à variação
nos preços. Em relação à receita do produtor para esse tipo de demanda,
ela será aumentada quando houver um aumento nos preços dos bens e
será reduzida quando houver uma queda nos preços dos bens.

Elasticidade unitária: quando o resultado for igual a 1 (Ep = 1),


indica que a variação no preço provoca uma variação de mesma
porcentagem na quantidade demandada. No caso da elasticidade
unitária, a variação do preço levará a uma variação proporcional na
receita obtida com a venda desses bens.

E em relação aos
bens supérfluos, se
Fatores que interferem eles ficam caros,
são excluídos ou
na elasticidade-preço da reduzidos da cesta
de mercado do
demanda consumidor.

Bens supérfluos ou bens necessários: quanto mais essencial


um bem, mais inelástica tende a ser sua demanda e, ao contrário,
quanto mais supérfluo um bem, mais elástica é a sua demanda. Isso
ocorre porque mesmo que os bens essenciais fiquem mais caros, a
demanda continua existindo. E em relação aos bens supérfluos, se
eles ficam caros, são excluídos ou reduzidos da cesta de mercado
do consumidor. Ex.: o arroz possui uma demanda mais inelástica,
enquanto que o refrigerante possui uma demanda mais elástica.

Existência de bens substitutos: aqueles bens que possuem


substitutos apresentam uma demanda mais elástica do que os que
não possuem. Quando há um aumento no preço de um bem que possui
um substituto, os demandantes fazem trocas e optam por consumir o
seu substituto, caracterizando assim uma demanda elástica. Ex.: se o

039
unidade 3
ECONOMIA

preço do feijão carioquinha está alto, o demandante pode fazer uma


troca e consumir o feijão preto que possui características similares.

Período de tempo considerado: para a maioria dos bens, quanto


maior for o período de tempo a ser considerado, mais elástica tende
a ser a demanda por aquele bem. Isso ocorre porque a demanda vai se
adaptando a outros tipos de bens que possuem um preço mais baixo.
Ex.: se o preço da gasolina se eleva, a demanda por veículos vai sendo
alterada. Inicialmente as pessoas podem continuar com seus carros, mas
podem trocá-los por carros mais econômicos ou por transporte público.

Peso no orçamento do consumidor: produtos que são mais baratos


tendem a possuir uma demanda mais inelástica do que aqueles que são
mais caros. Por exemplo, se há um aumento de 50% numa bala que custa
R$ 0,20, ela passaria a custar R$ 0,30, não levando a uma grande alteração
na demanda, diferentemente de uma passagem aérea, que se tiver um
aumento de 50% no seu preço, certamente reduzirá a sua demanda.

Gráficos da elasticidade-preço
da demanda

FIGURA 5 - Gráficos da elasticidade-preço da demanda


a) Demanda elástica b) Demanda de elasticidade unitária c) Demanda inelástica
P P P
D D D
1. Redução 5 A 1. Redução 3 A 1. Redução 5 A
de 40 por de 33 por de 20 por
cento no B cento no B cento no B
3 2 4
preço D preço D preço D

0 100 180 Q 0 15 20 Q 0 100 110 Q


2. Origina o aumento 2. Origina o aumento 2. Origina o aumento
de 80 por cento na de 33 por cento na de 10 por cento na
quantidade demandada quantidade demandada quantidade demandada

EP = 80/100 = 80% = 2 EP = 5/15 = 33,3% = 1 EP = 10/100 = 10% = 0,5


2/5 40% 1/3 33,3% 1/5 20%

Fonte: MÓCHON, 2007, p. 41.

Estes gráficos demonstram a reação da quantidade demandada quando


os preços dos bens são alterados.

040
unidade 3
ECONOMIA

Existem dois casos extremos de elasticidade-preço da demanda, que são:

GRAFÍCO 9 - Demanda perfeitamente inelástica


P D2

E=0

Fonte: Domínio Público. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Elasticidade_


pre%C3%A7o_da_procura. Acesso em: 19/12/2014.

Isso ocorre quando a variação no preço não interfere em nada na


demanda, pois a mesma permanece inalterada. O demandante não
está preocupado com o preço, ele quer o bem de qualquer forma!

O demandante não
Vamos supor que um colecionador de obras de arte vai até um leilão está preocupado
comprar o quadro de um pintor famoso. Ele vai adquirir aquele bem com o preço, ele quer
independentemente do preço a ser ofertado, ou seja, a demanda existe o bem de qualquer
forma!
mesmo se o preço de venda for muito alto.

Demanda infinitamente elástica

GRAFÍCO 10 - Demanda perfeitamente elástica


P

P2

P1 D

Q1 Q

Fonte: Domínio Público. Disponível em: http://fateconomia2013.blogspot.com.


br/2013/03/grupo-2-introducao-elasticidade-da.html. Acesso em: 19/12/2014.

Na demanda infinitamente elástica, o preço interfere muito na


decisão de compra. O demandante somente adquire o bem ou
serviço se o preço for aquele que ele considera justo pagar por esse
determinado bem. Se o preço for maior do que o que ele espera, não
existirá demanda.

041
unidade 3
ECONOMIA

As companhias aéreas e a elasticidade da demanda

Uma aplicação no mundo real do conceito de elasticidade da demanda se

dá no setor de transporte aéreo.

Nem todos os clientes são iguais, pois alguns viajam a trabalho e outros

a lazer. Então como proceder para definir os preços das passagens?

Considerando apenas esses dois grupos, concluiremos que as companhias

aéreas devem tentar cobrar o preço mais alto possível dos que viajam a

negócios – um público pouco sensível ao preço, isto é, com elasticidade-

preço muito baixa e demanda mais inelástica – e ao mesmo tempo fixar,

para o público turista, que tem uma elasticidade-preço elevada e demanda

mais elástica, um preço baixo o suficiente para preencher ao máximo os

assentos de cada avião. Logo, o segredo está em identificar os clientes

com elasticidade-preço distinta e fixar preços diferentes para cada tipo de

cliente – ou seja, seguir uma política de discriminação de preços.

Para tanto, os descontos costumam estar condicionados à emissão

antecipada do bilhete ou ao pernoite de fim de semana no destino – enfim,

algo que os clientes do segmento negócio tendam a rejeitar. Além disso,

as companhias aéreas hoje contam com sistemas muito sofisticados

que permitem administrar os assentos disponíveis com grande agilidade

e oferecer descontos de última hora, maximizando assim a taxa de

ocupação dos voos.

Fonte: MÓCHON, Francisco. Princípios de Economia. São Paulo: Pearson,


2007, p. 46.

A elasticidade-cruzada
da demanda
Existem bens que sofrem alteração na quantidade demandada não
apenas devido ao preço, mas também quando há uma alteração nos
preços dos bens relacionados, chamados de bens complementares
e substitutos.

042
unidade 3
ECONOMIA

Bens substitutos: são aqueles que possuem substitutos com


características similares, portanto, quando há um aumento no preço
de um bem, os demandantes vão optar consumir o seu substituto e
vice-versa.

Bens complementares: são aqueles utilizados em conjunto. Quando


há um aumento no preço de um bem, o seu complementar tem a
sua demanda reduzida e vice-versa.

Esse efeito que será analisado na elasticidade-cruzada da demanda,


ou pode ser positivo ou negativo.

Ecz = variação percentual da quantidade demandada do bem i

variação percentual do preço do bem j

Esse efeito que


Para fazer esse cálculo, verifica-se quanto a quantidade de um bem
será analisado na
variou e quando houve alteração no preço de um segundo bem. elasticidade-cruzada
da demanda, ou
pode ser positivo ou
Conforme Móchon (2007, p. 47) “a elasticidade cruzada da demanda
negativo.
mede a influência de uma variação no preço de um bem sobre a
quantidade demandada de outro.”

1) O preço do etanol aumentou 30% e a demanda por gasolina aumentou

60%. Calculando:

Ecz = 60% = 2

30%

Como o valor encontrado foi positivo, podemos dizer que os dois bens

são substitutos, ou seja, quando há um aumento no preço do etanol, os

demandantes que possuem carro flex irão aumentar a sua demanda por

gasolina.

Entretanto, se o resultado fosse negativo, mostraria o exemplo de bens

043
unidade 3
ECONOMIA

complementares, pois o aumento no preço de um bem levaria à queda na

demanda do seu complementar.

2) O aumento no preço do esmalte em 20%, leva a uma redução na

demanda por acetona em 40%.

Ecz = -40% = -2

20%

Resultado negativo, demonstrando que são dois bens complementares.

Elasticidade-renda
da demanda
A renda dos consumidores é um fator que interfere fortemente na
Existem bens
que têm a sua
demanda por bens. Geralmente, quando há um aumento na renda participação
da população, percebemos um aumento na demanda por bens. aumentada no
Esse movimento foi percebido, por exemplo, no Brasil, a partir da orçamento quando
a renda se eleva
implementação do Plano Real, que possibilitou a estabilidade
e outros que têm
econômica. sua participação
reduzida.
Mas o que vamos analisar aqui é a mudança no perfil de consumo
devido à alteração na renda. Existem bens que têm a sua
participação aumentada no orçamento quando a renda se eleva e
outros que têm sua participação reduzida.

Segundo MÓCHON (2007, p. 47), “a elasticidade-renda da demanda


mede o grau em que a quantidade demandada de um bem responde
a uma variação na renda dos consumidores”.

Er = Variação percentual da quantidade demandada


Variação percentual da renda

De acordo com o resultado obtido por meio do cálculo, podemos


dizer se um bem é de luxo ou inferior. Um bem de luxo é aquele
que quando há um aumento na renda, há um aumento no seu

044
unidade 3
ECONOMIA

consumo, e o bem inferior é aquele que quando a renda aumenta, o


seu consumo é reduzido.

Vamos supor que um cidadão teve um aumento na sua renda em


40%. Dessa forma, ele reduziu o consumo de viagens de ônibus em
70% e aumentou o consumo de viagens de avião em 80% em um
ano. Calculando a elasticidade-renda, teremos:

Er ônibus= -70% = -1,75


40%

Er avião= 80% = 2
40%

Para o caso da viagem de ônibus, como o resultado do cálculo foi A elasticidade da


negativo, podemos dizer que esse bem é inferior, ou seja, quanto oferta irá analisar de
forma quantitativa
maior for a renda, menor será o consumo de viagens de ônibus e
a reação dos
vice-versa. Esse bem será classificado com bem inferior. produtores em
disponibilizar
produtos no
Já no caso da viagem de avião, o resultado foi positivo,
mercado mediante
demonstrando que quanto maior a renda, maior será o consumo de as alterações nos
viagens de avião. Esse bem será classificado como bem de luxo. preços.

A elasticidade
da oferta
Analogamente ao estudo da curva de demanda, a elasticidade da
oferta irá analisar de forma quantitativa a reação dos produtores
em disponibilizar produtos no mercado mediante as alterações nos
preços.

Podemos encontrar a elasticidade-preço da oferta, verificando


a variação na quantidade ofertada em relação à variação que
ocorreu no preço, além de verificar a capacidade de adaptação dos

045
unidade 3
ECONOMIA

produtores.

MÓCHON (2007, p. 48) define que “a elasticidade-preço da oferta


está condicionada pela flexibilidade dos vendedores em alterar a
quantidade que produzem desse bem”.

De acordo com o conceito informado acima, podemos afirmar


que se o produtor possui condições de mudança na oferta, ela
tende a ser mais elástica. Entretanto, se ele não consegue alterar
a quantidade ofertada, podemos dizer que ela é mais inelástica.
Um exemplo seria a existência de apartamentos de frente para o
mar em uma pequena cidade praiana. Essa oferta seria inelástica
a partir do momento em que não existissem mais lotes vagos para
construção de novos imóveis.

Outro fator que também interfere na questão da elasticidade é o


período de tempo. No longo prazo, a oferta tende a ser mais elástica, Outro fator que
pois os ofertantes podem adequar a sua produção caso tenham
também interfere
na questão da
um aumento na demanda. Por exemplo, no longo prazo, é possível
elasticidade é o
comprar equipamentos, aumentar as instalações, o que não ocorre período de tempo.
no curto prazo. Por isso, podemos dizer que no curto prazo a oferta
é mais inelástica.

Calculando a elasticidade-preço
da oferta
Elasticidade da oferta= Variação percentual da quantidade ofertada
Variação percentual do preço

A oferta será elástica quando o resultado obtido na equação for


maior do que um, pois a variação na quantidade ofertada em termos
percentuais é maior que a variação no preço.

A oferta será inelástica quando o resultado obtido na equação


for menor do que um, pois a variação na quantidade ofertada em
termos percentuais é menor do que a variação no preço.

046
unidade 3
ECONOMIA

Revisão
A elasticidade-preço da demanda mede o grau em que a quantidade
demandada responde às variações no preço de mercado. A
demanda é elástica quando o percentual de variação na quantidade
é maior do que o percentual de variação no preço. Nesse caso, a
receita total do produtor aumenta quando ele reduz o preço e
diminui quando o preço é aumentado.

A demanda é inelástica quando o percentual de variação na


quantidade é menor do que o percentual de variação no preço.
Sendo assim, quando há um aumento no preço, a receita total do
produtor aumenta e quando há uma redução no preço a receita
total diminui.

Existem dois casos extremos na elasticidade-preço da demanda.


Temos a demanda perfeitamente inelástica, que ocorre quando Existem dois
casos extremos na
a variação no preço não interfere em nada na demanda, pois a
elasticidade-preço
mesma permanece inalterada. E, ao contrário, temos a demanda da demanda.
infinitamente elástica, em que o preço interfere muito na decisão de
compra.

Os fatores mais importantes que determinam se a demanda será


mais elástica ou inelástica são: se os bens são supérfluos ou
necessários, existência de bens substitutos, período de tempo
considerado e peso no orçamento do consumidor.

A elasticidade-preço cruzada da demanda mede a influência de uma


variação no preço de um bem sobre a quantidade demandada de
outro. Quando o seu valor é positivo, tratam-se de bens substitutos
e, quando negativo, de bens complementares.

A elasticidade-renda da demanda mede a alteração na


quantidade demandada em relação a uma mudança na renda.
Quando o resultado é positivo, temos o bem de luxo, e quando o

047
unidade 3
ECONOMIA

resultado é negativo, temos o bem inferior.

A elasticidade da oferta mede a variação da quantidade


ofertada em relação aos preços de venda. Ela também pode
ser classificada como elástica e inelástica, de acordo com o
percentual de variação da quantidade produzida em relação ao
percentual de variação do preço.

ELASTICIDADE

Por meio das leis da oferta e da procura é possível apontar a direção de

uma resposta em relação à mudança de preços – demanda cai quando o

preço sobe, oferta aumenta quando o preço sobe, etc. – mas não o quanto

mais os consumidores demandarão ou os produtores oferecerão.

O conceito de elasticidade é usado para medir a reação das pessoas frente

a mudanças em variáveis econômicas. Por exemplo, para alguns bens

os consumidores reagem bastante quando o preço sobe ou desce e para

outros a demanda fica quase inalterada quando o preço sobe ou desce.

No primeiro caso, se diz que a demanda é elástica e no segundo que ela é

inelástica. Do mesmo modo, os produtores também têm suas reações e a

oferta pode ser elástica ou inelástica.


Fonte: RIBEIRO, Wagner. Conceito elasticidade e fatores da elasticidade. 16 dez.
2014. In: Site “Administradores.com”. Disponível em: <http://www.administradores.
com.br/artigos/negocios/conceito-elasticidade-e-fatores-da-elasticidade/36935/>.
Acesso em: 10 nov. 2014.

048
unidade 3
A empresa:
produção,
custos e lucros
Introdução

Você sabia que a economia é composta por milhares de empresas que


produzem bens e serviços que usufruímos todos os dias? Temos micro,
pequenas, médias e grandes empresas que juntas empregam milhões
de pessoas e constituem a força de trabalho ativa do nosso país.

A atividade econômica funciona por meio da produção de diversos


bens e serviços, cujo destino final é a satisfação das necessidades
dos indivíduos. Os homens, mediante sua capacidade de trabalho,
são organizadores e executores da produção. • Empresas
• A função de
produção: curto e
As atividades produtivas numa sociedade contemporânea realizam-
longo prazo
se por meio das empresas existentes no mercado, sejam privadas
• Custos
ou públicas. Isso se dá pelo uso dos fatores produtivos, como terra, contábeis e
trabalho e capital, a fim de obter os bens e serviços necessários custos explícitos
para satisfazer os desejos humanos. • Lucro
econômico
As empresas, como ofertantes desse mercado, observam os custos • Revisão
dos fatores envolvidos na produção de um bem, com o objetivo de
maximizar seus lucros, otimizando assim a sua sobrevivência no
mercado.

Nesta unidade, vamos entender como as empresas planejam a sua


produção, observando os custos inerentes aos insumos utilizados e as
estratégias necessárias para reduzi-los. Além disso, ao controlarem
os seus custos, elas podem ainda ampliar a sua margem de lucro.
ECONOMIA

Empresas
Nas sociedades modernas, as empresas são responsáveis por
oferecer bens e serviços diversos. Segundo Tróster e Móchon
(2002, p. 20), “a empresa é a unidade de produção básica. Contrata
trabalho e compra fatores com o fim de fazer e vender bens e
serviços”.

Os gestores responsáveis pelo funcionamento das empresas


organizam a produção, incorporam novas ideias, processos
ou atividades, tomam decisões e, para tanto, munem-se das
informações necessárias.

Qualquer que seja o produto ou serviço realizado pela empresa,


o empresário diariamente precisa tomar múltiplas decisões
sobre sua atividade produtiva. De todas essas decisões, as duas
As empresas
mais relevantes são: qual quantidade produzir e como produzir possuem diferentes
determinado bem, objetivando a maximização dos lucros. classificações, de
acordo com a sua
natureza jurídica.
Tipos de empresa conforme sua
natureza jurídica
As empresas possuem diferentes classificações, de acordo com a
sua natureza jurídica.

• Fundações: trata-se de um patrimônio personalizado,


destinado ao desenvolvimento de certas atividades
(religiosas, morais, culturais, de assistência), conforme
previsto no ato de sua instituição.

• Associações: apresentam quadro de associados e não


têm finalidade lucrativa; suas atividades (recreativas,
esportivas, caritativas, assistenciais, culturais, religiosas)
visam atender a seus associados ou terceiros.

• Sociedades: apresentam quadro de sócios e possuem


finalidade lucrativa.

051
unidade 4
ECONOMIA

O que são custos para as empresas?


Praticamente toda decisão implica um custo, já que ao escolher
uma opção estamos deixando de lado muitas outras – custo de
oportunidade. Dentro das empresas, os custos ocupam um lugar
muito importante, pois ajudam a selecionar as melhores decisões
para se ajustar aos objetivos das empresas, como a maximização
dos lucros.

Mas, o que é lucro? Segundo MANKIW (2009), o montante que


a empresa recebe pela venda da sua produção é chamado de
receita total. O que a empresa gasta com os insumos utilizados na
produção é chamado de custo total. O lucro é a receita total menos
o custo total. Veja abaixo a fórmula do lucro.

L = RT – CT
O mercado
econômico é
constituído por
A função de produção: organizações que
produzem bens e
curto e longo prazo serviços para venda.

O mercado econômico é constituído por organizações que


produzem bens e serviços para venda. Para que isso ocorra, os
insumos passam por um processo de transformação e geram o
produto ou o bem final, que será disponibilizado para consumo.

Segundo VASCONCELLOS (2010), a empresa, ao escolher o seu


processo produtivo, poderá avaliá-lo pelo ponto de vista tecnológico
ou econômico, conforme citado abaixo.

• Eficiência técnica: processo que permite produzir maior


quantidade de bens, utilizando a mesma quantidade de
fatores produtivos (terra, trabalho e capital).

• Eficiência econômica: processo que permite produzir


mais com menor custo de produção, procurando

052
unidade 4
ECONOMIA

insumos que possuem um menor valor.

As empresas podem obter, ao mesmo tempo, a eficiência técnica


e a econômica. Como exemplo, podemos abordar uma empresa
que adquiriu um equipamento que permitiu aumentar a produção,
obtendo assim eficiência técnica. Além disso, conseguiu ainda
reduzir o custo de matéria-prima, a partir da contratação de um
novo fornecedor.

Para conhecermos a capacidade produtiva de qualquer empresa


ou da economia como um todo, é necessário saber quanto
de mercadoria será produzida com a quantidade de insumos
disponíveis. Essa relação é chamada de função de produção.

Função de produção é a relação entre a quantidade de insumos


Função de produção
usada para produzir um bem e a quantidade produzida desse bem. é a relação entre
a quantidade de
Para entendermos esse conceito de função de produção, vamos
insumos usada
para produzir um
analisar o funcionamento de uma fazenda produtora de soja, que
bem e a quantidade
utiliza apenas dois insumos: a terra e o trabalho. produzida
desse
bem.
Vamos supor que não há como adquirir mais terra para expandir o
espaço da produção, pois os vizinhos não têm interesse em vender
ou arrendar seus terrenos nesse momento, além de produzirem
outros bens. Portanto, esse será um insumo fixo, pois no curto
prazo essa quantidade não poderá ser aumentada. Já no longo
prazo, caso alguém queira vender o seu terreno, essa quantidade
poderá ser aumentada.

Entretanto, a quantidade de trabalhadores poderá ser alterada, de


acordo com a produção, porque trata-se de um insumo variável. Os
proprietários dessa fazenda sabem que existe uma relação direta
entre a quantidade produzida e a quantidade de trabalhadores
contratados, ou seja, se aumentar a quantidade de trabalhadores, a
produção aumenta, e vice-versa.

053
unidade 4
ECONOMIA

Nesse caso, a função produção será a relação existente entre a


quantidade de trabalho e a de bens produzidos, para uma certa
quantidade de insumo fixo.

Produção no curto prazo


A produção no curto prazo apresenta dois tipos de custos: os custos
variáveis, que dependem do volume da produção, e os custos fixos,
que não dependem do volume de produção, pois incorre neles ainda
que nada seja produzido.

O curto prazo é um período ao longo do qual as empresas


conseguem ajustar a produção, mudando os fatores variáveis,
tais como trabalho e matérias-primas. No curto prazo, os fatores
fixos, como as instalações e os equipamentos, não podem ser
plenamente ajustados.
O custo total de
uma empresa é a
O custo total de uma empresa é a soma dos custos fixos mais os soma dos custos
custos variáveis. Veja como ficará a fórmula. fixos mais os custos
variáveis. Veja como
ficará a fórmula.
CT= CF + CV

O custo médio de uma empresa vai ser encontrado na divisão do


custo total pela quantidade produzida. Observe:

cme= CT
Q

O custo médio é importante porque informa ao produtor a média do


que foi gasto com todos os produtos produzidos.

Custo marginal é o custo adicional ou extra, vinculado à produção


de uma unidade adicional do produto. Podemos dizer que, por
meio do custo marginal, o produtor saberá em quanto seu gasto
será aumentado se ele decidir aumentar em uma unidade a sua
produção.

054
unidade 4
ECONOMIA

O custo fixo por unidade é reduzido à medida que mais bens


são produzidos, ou seja, esse custo fixo será rateado em maior
quantidade de unidades produzidas.

Para analisar a função produção, consideremos o quadro abaixo,


verificando a quantidade de bens produzidos, aumentando o fator
variável trabalho e mantendo fixos os demais fatores produtivos.

QUADRO 4 - Produto total e Produto Marginal do Trabalho – Produção de biscoitos

Quantidade de Produto Produto Custo da Custo dos Custo


trabalhadores total Marginal Fábrica trabalhadores Total
0 0 0 30 0 30

1 50 50-0 = 50 30 10 40

2 90 90-50= 40 30 20 50

3 120 120-90= 30 30 30 60

4 140 140-120= 20 30 40 70

5 150 150-140 = 10 30 50 80

6 155 155-150= 5 30 60 90

Fonte: MANKIW, 2009, p. 261.

O produto marginal de qualquer insumo no processo de produção


é o aumento da quantidade produzida que se obtém a partir de
uma unidade adicional do insumo em questão. Quando o número
de trabalhadores sobe de 1 para 2, a produção sobe de 50 para 90,
de modo que o produto marginal do segundo trabalhador são 40
biscoitos. E, quando o número de trabalhadores sobe de 2 para 3,
a produção de biscoitos aumenta para 120, de modo que o produto
marginal do terceiro trabalhador são 30 biscoitos.

Observe que, à medida que o número de trabalhadores aumenta, o


produto marginal diminui. O segundo trabalhador tem um produto
marginal de 40 biscoitos, o terceiro, de 30, e o quarto, de 20. Essa
propriedade é chamada produto marginal decrescente. O que pode
explicar a redução na produção é que, com o aumento do número
de trabalhadores, eles passam a ter que compartilhar equipamentos

055
unidade 4
ECONOMIA

e trabalhar com uma lotação cada vez maior. Portanto, ao contratar


mais trabalhadores, cada trabalhador adicional contribui menos
para a produção total de biscoitos.

A função de produção na tabela mostra a relação entre o número de


trabalhadores empregados e a quantidade produzida.

A lei dos rendimentos decrescentes afirma que, em uma


produção com, pelo menos, um fator fixo, à medida que vão sendo
acrescentadas mais unidades de fatores variáveis, os incrementos
na produção serão cada vez menores.

A produção e o longo prazo


No longo prazo, diferentemente do curto prazo, todos os fatores
produtivos podem ser alterados de acordo com a quantidade de Um modo para
produção que for necessária. explicar essa
diferença é a análise
de uma fábrica de
Um modo para explicar essa diferença é a análise de uma fábrica carros após um
de carros após um incentivo de redução de IPI. No curto prazo, incentivo de
o aumento de demanda pelos carros pode ser atendido pela redução de IPI.
contratação de horas extras. No longo prazo, se a expectativa de
aumento na demanda permanecer, a fábrica pode ampliar a sua
planta e, dessa forma, produzir mais carros.

No longo prazo, a produção vai acontecer em torno das alterações


realizadas nos fatores produtivos, que são estabelecidas em torno
do conceito de rendimento de escala.

Escala significa o tamanho da empresa medido por sua produção.


Ao verificar a quantidade de produtos produzidos por meio dos
fatores produtivos instalados, a empresa pode apresentar:

• rendimentos de escala crescente: à medida que a


quantidade utilizada de todos os fatores varia em
determinada proporção, a quantidade obtida do produto

056
unidade 4
ECONOMIA

varia em uma proporção maior.

• rendimentos constantes de escala: quando a quantidade


dos fatores utilizados e a quantidade obtida de produtos
variam na mesma proporção.

• rendimentos decrescentes de escala: à medida que a


quantidade dos fatores utilizados varia em determinada
proporção, a quantidade obtida de produtos varia em uma
proporção menor.

Custos contábeis e
custos explícitos
O conceito de custo em economia é mais amplo do que o empregado
na contabilidade. Nas ciências contábeis, o custo corresponde
O conceito de custo
ao gasto monetário no qual se incorre pela utilização dos fatores em economia é
produtivos. Em economia, o conceito de custo relevante é o custo mais amplo do que
de oportunidade, que inclui os custos dos fatores que não exigem o empregado na
contabilidade.
desembolso em dinheiro. Ao fazer um determinado investimento, o
indivíduo tem que analisar as oportunidades existentes para aplicar
aquele recurso financeiro e verificar qual a mais viável.

Lucro econômico
Toda empresa tem que tomar uma decisão básica, que está
relacionada à quantidade de produtos a ser produzida. Essa decisão
é tomada com o objetivo de disponibilizar quantidades no mercado
que possibilitem a maximização dos lucros, que é definido como a
diferença entre a receita total e o custo total.

Lucro = receita total – custo total

Para calcular a receita total, basta multiplicar o preço de venda de

057
unidade 4
ECONOMIA

um produto pela quantidade vendida.

Maximizando o lucro
A maximização do lucro de uma empresa ocorre quando:

receita marginal (rmg) =


custo marginal (cmg)

O conceito de custo marginal já foi analisado nessa unidade. A


novidade aqui é o conceito de receita marginal, definido como a
variação da receita total quando ocorre a venda de uma unidade
adicional. Dessa forma, temos as seguintes situações:

• se a empresa aumenta a produção e a receita marginal


for maior que o custo marginal, o lucro da empresa estará
aumentando, mas o ponto do lucro máximo possível ainda
não será alcançado;

• caso a receita marginal seja menor que o custo marginal, o


lucro estará caindo ou o prejuízo, aumentando;

• no ponto em que há igualdade entre receita marginal e


custo marginal, encontraremos o equilíbrio da firma, cujo
lucro será máximo.

Para VASCONCELLOS (2010, p. 138), “uma observação interessante


sobre essa teoria é que a regra de maximização do lucro exige
que a firma tenha informações detalhadas não só sobre os seus
custos, mas também sobre as receitas previstas (portanto, sobre a
demanda de seu produto).”

O texto a seguir mostra como estratégias de produção são adotadas

pelas empresas no intuito de ampliar a produção, reduzindo os custos

e, consequentemente, aumentando a lucratividade.

058
unidade 4
ECONOMIA

LIÇÕES DE UMA FÁBRICA DE ALFINETES

“Quem tudo faz, nada sabe”. Essa frase ajuda a explicar por que

as empresas, às vezes, usufruem de economias de escala. Alguém

que tenta fazer de tudo geralmente acaba fazendo tudo mal. Se uma

empresa quer que seus trabalhadores sejam os mais produtivos que

puderem, muitas vezes é melhor confiar a cada um uma tarefa limitada

que possa ser dominada. Entretanto, isso só é possível se a empresa

tem muitos trabalhadores e gera uma grande quantidade de produto.

No famoso livro A Riqueza das Nações, Adam Smith descreveu uma

visita que fez a uma fábrica de alfinetes. Smith ficou impressionado

com a especialização entre os trabalhadores e com as economias de

escala resultantes. Ele escreveu:

Um homem estende o arame, o outro estica, um terceiro o corta, um

quarto lhe deixa com a ponta, um quinto lixa o topo para receber a
No famoso livro
cabeça; a feitura da cabeça requer duas ou três operações distintas;
A Riqueza das
Nações, Adam encaixá-la é uma atividade peculiar; branqueá-la é outra; até mesmo
Smith descreveu embalá-los é um negócio por si só.
uma visita que fez
a uma fábrica de Smith relatou que, graças à especialização, a fábrica de alfinetes
alfinetes. produzia milhares de alfinetes por trabalhador ao dia. Ele conjeturou

que, se os trabalhadores tivessem optado por trabalhar separadamente,

e não como uma equipe de especialistas, “eles certamente não

poderiam, cada um por si só, fazer sequer vinte alfinetes por dia”. Em

outras palavras, por causa da especialização, uma grande fábrica de

alfinetes pode atingir uma maior produção por trabalhador e um menor

custo por alfinete do que uma fábrica de alfinetes menor.

A especialização que Smith observou na fábrica de alfinetes prevalece

na economia moderna. Se você quiser construir uma casa, por

exemplo, pode tentar fazer tudo sozinho, mas muitas pessoas recorrem

a um construtor, que, por sua vez, contrata carpinteiros, encanadores,

eletricistas, pintores e muitos outros tipos de trabalhador. Esses

trabalhadores especializam-se em atividades específicas, e isso lhes

permite fazer melhor o seu trabalho do que se fossem generalistas.

Na verdade, o uso da especialização para alcançar economias de

059
unidade 4
ECONOMIA

escala é um dos motivos pelos quais as sociedades modernas são tão

prósperas.

Fonte: MANKIW, Gregory N. Introdução à Economia. São Paulo: Cengage Learning,


2009, p. 271. [Adaptado].

Revisão
A empresa se encarrega de produzir e distribuir a maior parte dos
bens e serviços que circulam na economia.

O objetivo de qualquer empresa é a maximização dos lucros.

A função de produção é a relação técnica que nos diz qual quantidade


máxima de produto é possível obter com cada combinação de
fatores produtivos durante determinado período.

Os custos de uma empresa refletem seu processo de produção.


A propriedade do produto marginal decrescente mostra que
a inclinação da função de produção diminui à medida que a
quantidade de um insumo aumenta.

Ao se analisar o comportamento de uma empresa, é importante


incluir todos os custos de oportunidade da produção.

No curto prazo, os fatores fixos não podem sofrer alterações. No


longo prazo, todos os fatores podem ser alterados de acordo com a
expectativa de demanda existente.

Os custos totais de uma empresa podem ser divididos em custos


fixos e custos variáveis. Custos fixos são aqueles que não mudam
quando a empresa altera a quantidade produzida. Custos variáveis
são aqueles que mudam quando a empresa altera a quantidade
produzida.

No longo prazo, de acordo com a produtividade obtida pela

060
unidade 4
ECONOMIA

empresa a partir do uso dos fatores produtivos, ela pode apresentar


rendimentos de escala crescente, rendimentos de escala
decrescente e rendimentos de escala constante.

Nas ciências contábeis, o custo corresponde ao gasto monetário no


qual se incorre pela utilização dos fatores produtivos. Em economia,
o conceito de custo relevante é o custo de oportunidade, que inclui o
custo dos fatores que não exigem desembolso em dinheiro.

A maximização do lucro de uma empresa ocorre quando: receita


marginal (rmg) = custo marginal (cmg).

Para que você aprenda mais sobre teoria da produção, sugerimos

a leitura do livro Princípios da Economia, dos autores Otto Nogami e

Carlos Roberto Passos.

061
unidade 4
Estruturas
de mercado
Introdução

Inúmeras vezes você já ouviu falar e até já deve ter feito alguma
observação sobre o mercado de automóveis, o mercado imobiliário
ou talvez o mercado financeiro. É comum falarmos disso, embora,
muitas vezes, não tenhamos uma ideia precisa do significado
desses termos. Por isso, começamos nosso texto com a definição
do que é e em que consiste o mercado. Dá-se o nome de mercado
a qualquer ambiente social no qual se realizam trocas; onde
produtores levam seus bens ou serviços para vendê-los a outras
pessoas que desejam adquiri-los. Diferentes bens e serviços
são comercializados em distintos mercados, cada um dos quais
• Estruturas
dotado de uma estrutura que apresenta características próprias, de mercado
que influenciam e são capazes de determinar a forma de seu • As características
funcionamento e os padrões de comportamento de seus produtores específicas da
estrutura de
ou consumidores.
concorrência
perfeita
Assim, enquanto, para alguns produtos, existe um grande número de • O monopólio
produtores, para outros, existe um mercado bem menor. Enquanto
• O oligopólio
o mercado de verduras conta com um número muito elevado de
• Revisão
produtores, outros mercados são atendidos por empresas de porte
gigantesco.

Consideradas essas peculiaridades, não apenas padrões diferentes


de comportamento podem ser identificados, mas o próprio objetivo
dos agentes que os integram pode apresentar divergências. Assim,
a ideia, geralmente aceita, de que a empresa capitalista visa obter
o máximo de lucro possível, adequada a um tipo de empresa e
de mercado, pode não ser verdadeira para outras empresas, que
operam em mercados com outro tipo de configuração.

Para a corrente de pensamento considerada a mais adequada à


compreensão do funcionamento de nossa sociedade, e que tem
como fundamento da análise de mercado a existência da livre
concorrência, o objetivo último de qualquer empresa capitalista
deve ser a maximização de lucros de curto prazo. Tal pressuposto
justifica-se pelo fato de o mercado de livre concorrência ser formado
por empresas pequenas, administradas por seu proprietário, cuja
sobrevivência depende do total de lucro que ele é capaz de obter.
Sendo o lucro sua fonte exclusiva de renda e sua vida temporalmente
limitada, quanto maior seu lucro, maior sua renda e sua capacidade
de desfrutar de um padrão de vida mais confortável. Além disso,
maior será a satisfação para si e para sua família.

Mas todos sabemos que existem mercados nos quais as empresas


são de grande porte, parte delas de capital aberto e milhares de
acionistas proprietários, tendo um grupo de administradores
profissionais contratado para gerenciá-las.

Nesse caso, não seria mais lógico considerar a possibilidade da


existência de outros objetivos?

Como os objetivos são diferentes, diferentes também devem ser os


padrões de comportamento, o que nos obriga a tentar entender as
características de cada forma ou estrutura de mercado particular
existente.

Dessa maneira, quando desejamos saber o processo de formação


de preços de algum produto, devemos partir do estudo do
funcionamento daquele mercado específico. A razão para isso é
que, para alguns tipos de produto, considera-se que os preços são
estabelecidos a partir da interação das forças cegas e impessoais
da procura e da oferta. Já para outros tipos de produto, os preços
podem ser fixados como consequência de outros fatores, como
o poder de mercado. A admissão da existência de um poder de
mercado dá ao empresário a prerrogativa de cobrar os preços que
ele deseja impor ao produto. Em geral, essa é uma situação que vai
acontecer se esse produtor é o fornecedor exclusivo do produto ou
se, havendo um número maior de produtores, eles fizerem acordos
ou conluios para cobrarem um preço único.

É esse o conteúdo dessa unidade, em que procuramos entender os


principais fatores determinantes das características das estruturas
de mercado, procurando identificar cada uma das mais importantes.
A finalidade é extrair conclusões sobre seus padrões possíveis de
comportamento. Para isso, estudaremos as estruturas clássicas, da
concorrência perfeita ou pura, que é a estrutura mais analisada e do
monopólio, no qual uma única empresa é produtora do bem.

Outras estruturas importantes serão tratadas, consideradas


intermediárias entre os dois polos clássicos, que enfocam a
situação na qual existe uma única empresa e o polo oposto, em que
existem milhares de empresas. São elas: o oligopólio, dominado
por poucas grandes empresas; a concorrência monopolística, em
que coexistem muitas pequenas empresas, com algumas poucas
grandes empresas que dominam o mercado.

Também em relação aos mercados que fornecem matérias-primas,


é comum identificar a ocorrência de distintas estruturas, como a
concorrência perfeita, o monopsônio, o oligopsônio e o monopólio
bilateral.
ECONOMIA

Estruturas de mercado
A estrutura de mercado mais analisada e difundida pelos manuais
de economia que expressam as ideias da principal corrente de
pensamento econômico, a abordagem neoclássica, é chamada
“concorrência perfeita ou pura”.

Essa estrutura parte da hipótese da existência de empresários


racionais produzindo bens com o emprego do melhor processo
de produção disponível, ou seja, aquele que proporciona a maior
eficiência técnica e o menor custo. Dessa forma, é coerente com o
objetivo último da empresa capitalista, de maximização do lucro no
curto prazo.

A razão de a maximização de lucros de curto prazo ser o objetivo


Tal visão de empresa
principal de empresas capitalistas deve-se ao fato de o lucro ser a
remete-nos, de
parcela do valor gerado que se transforma em renda do proprietário imediato, à imagem
do negócio. Logo, quanto maior for o lucro no curto prazo, maior da pequena empresa
será a renda pessoal disponível do empresário-produtor, que poderá familiar, criada e
administrada por um
assegurar melhor padrão de vida para si e sua família.
único proprietário.

Tal visão de empresa remete-nos, de imediato, à imagem da


pequena empresa familiar, criada e administrada por um único
proprietário. Uma empresa fadada a encerrar suas atividades
quando do afastamento de seu dono.

Nessa circunstância, não é desprovida de sentido a ideia de o


empresário desejar garantir uma vida melhor, a partir da obtenção
da maior renda possível, ciente da curta duração de sua vida útil
profissional.

Para alcançar seu objetivo de máximo lucro, a teoria argumenta


que ele deveria produzir e oferecer uma dada quantidade de bens,
definida pelo emprego de uma regra que o leva a comparar o custo
de cada unidade adicional produzida, chamado de custo marginal

066
unidade 5
ECONOMIA

(CMg), com o ganho que poderia advir da venda dessa mesma


unidade, denominada de receita marginal (RMg). Enquanto o
resultado auferido com a venda for superior ao seu custo, o produtor
deverá produzir a unidade, já que estará ampliando seu lucro.

Ocorre que, à medida que aumenta sua produção, em função


da técnica, o empresário começa a experimentar uma elevação
de seu custo marginal. Isso se explica pelo fato de, não podendo
expandir rapidamente sua capacidade produtiva, qualquer aumento
de produção se dará pela contratação de mais trabalhadores,
mesmo que isso signifique que o equipamento estará sendo usado
em condições adversas, sem seguir as recomendações de uso.
Fazendo suas máquinas operarem em condições inadequadas, seu
custo marginal deverá se elevar.

Devido ao seu pequeno porte, e sem condições de impor seu preço Para entender
ao mercado, para não perder vendas, o produtor deverá continuar essa ideia, você
produzindo, até que a última unidade a ser gerada permita que ele
deve lembrar que
é no mercado que
obtenha um acréscimo de receita exatamente suficiente para cobrir
se encontram
o acréscimo de custo que experimentou pela produção da unidade produtores e
extra. Ou seja, até que sua receita marginal (acréscimo de receita consumidores.
pela venda de uma unidade a mais) seja igual ao seu custo marginal
(acréscimo do custo pela produção da unidade extra): RMg = CMg.

Quanto à incapacidade de o produtor alterar seu preço, temendo


perder vendas, isso se explica pelo fato de o produtor ser
considerado um agente tomador de preços. Ou seja, ele deve aceitar
e trabalhar com o nível de preços atribuído pelo mercado.

Para entender essa ideia, você deve lembrar que é no mercado


que se encontram produtores e consumidores. Nessa interação,
os compradores desejam adquirir o bem pagando por ele o menor
preço, de forma que lhes sobrem recursos para comprar bens de
outras espécies, permitindo-lhes uma maior satisfação.

No entanto, deparam-se, do outro lado do balcão, com os produtores,

067
unidade 5
ECONOMIA

cujo interesse é exatamente o oposto do deles: o de vender o bem


pelo maior preço possível. No processo de barganha, como garantia
de que conseguirão o bem, os consumidores admitirão pagar um
pouco mais do que estavam dispostos inicialmente, ao passo
que os produtores aceitarão receber um pouco menos, para não
correrem o risco de perder a venda.

Dessa forma, não há um lado capaz de impor sua vontade ao outro.


Nem os produtores serão, individualmente, capazes de impor o
preço que desejam, nem os consumidores o farão. O preço acaba
sendo determinado pelas forças impessoais de mercado, chamadas
de forças cegas, que atuam no livre jogo de mercado, representadas
pelas curvas de demanda (expressão do comportamento do
consumidor) e pelas curvas de oferta (que ilustra o comportamento
dos produtores).

E mais: esse preço


Fechado o negócio, indicando que ambos os lados ficaram
é o que deverá
satisfeitos com o acordo, diz-se que se chegou a um ponto de prevalecer em
equilíbrio, no qual o preço satisfaz a ambos os participantes, qualquer negociação
que se efetivar daí
pelo fato de ter sido acordado entre comprador e vendedor.
em diante.
Generalizando, nesse ponto, todas as quantidades ofertadas serão
vendidas, razão porque o produtor fica satisfeito. Por outro lado, os
compradores encontrarão e comprarão exatamente a quantidade
que desejavam, ou seja, ninguém deixará de ter o bem.

Dada essa situação de equilíbrio, de mútua satisfação, a teoria diz


que é esse o preço que o bem terá no mercado, ou seja, um preço
que nasce da negociação no mercado.

E mais: esse preço é o que deverá prevalecer em qualquer


negociação que se efetivar daí em diante. Na hipótese de um
produtor muito ganancioso desejar incrementar seus ganhos,
elevando o preço, apenas aqueles consumidores comodistas, que
não se dispuserem a fazer uma pesquisa pelas outras lojas, serão
vítimas do ganancioso. Os demais, informados do preço do produto
em outros locais, irão se recusar a pagar um valor mais elevado.

068
unidade 5
ECONOMIA

Impossibilitado de vender a quantidade que desejava, o produtor


formará estoques – situação que significa que não irá recuperar o
dinheiro gasto para bancar os custos de produção.

Do mesmo modo que, ao subir o preço, ele sabe que perderá vendas,
também não irá reduzi-lo, para não ter que receber lucros menores
que os de seus concorrentes que estivessem praticando o preço de
equilíbrio.

O que é concorrência perfeita


e qual o seu significado
Mas o que vem a ser a estrutura de concorrência perfeita? Como
podemos defini-la e caracterizá-la? E o que falar sobre seu
funcionamento, conforme a nossa realidade? Concorrência perfeita
é uma estrutura
de mercado
Concorrência perfeita é uma estrutura de mercado considerada
considerada ideal,
ideal, no sentido de ter validade apenas no mundo das ideias, ou no sentido de ter
seja, não é encontrada na prática. Trata-se de um fruto do intelecto validade apenas
no mundo das
humano, possuindo caráter abstrato e teórico. Apesar dessa
ideias, ou seja, não
caracterização, é a estrutura mais difundida, ocupando a maior é encontrada na
parte dos textos dos manuais e sendo a base para vários modelos prática.
empregados, a fim de explicar o funcionamento dos mercados,
inclusive em outras áreas de interesse da economia.

Várias são as razões para tal importância. Uma delas é de caráter


político, alegando que, ao criar uma explicação do preço a partir das
forças do mercado, não reconhecendo o poder do empresário em
definir o preço de seu bem, disfarça esse poder e ajuda a manter
o status quo. Dessa forma, isentando o empresário de qualquer
responsabilidade quanto ao que produzir, em quais condições e
a qual preço, ajuda a manter intatas as estruturas econômicas e
políticas que definem o poder em nossa sociedade.

Para outros, a estrutura, por sua característica teórica dedutiva,


induz à melhoria da forma de pensar, servindo como ferramenta

069
unidade 5
ECONOMIA

para aprimorar a capacidade intelectual daqueles que o utilizam.

Outra linha de analistas adota a estrutura como o pano de fundo


ideal contra a qual se deve opor a realidade econômica, permitindo
a identificação de desvios e a análise de medidas capazes de serem
utilizadas para intervir na realidade, levando-a, cada vez mais, a
aproximar-se das hipóteses do modelo.

Nesse grupo, podem ser inseridos aqueles que acreditam na


possibilidade de órgãos de defesa da concorrência ou órgãos
como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE),
do Ministério da Justiça, atuarem regulamentando os mercados,
com o fim de impedir ou criar obstáculos ao exercício do poder de
mercado por parte das grandes ou mais poderosas organizações.

Você já ouviu falar sobre alguma ação levada a julgamento no


nível do CADE? O que você sabe sobre a fusão da Colgate com
Diferentes bens
a Kolynos, que determinou que a marca Kolynos ficasse fora de e serviços são
mercado por alguns anos. E quanto à fusão da Lacta com a Garoto, trocados em
distintos mercados.
visando impedir a criação de uma empresa de grande porte, capaz
de, sozinha, dominar e impor sua vontade ao mercado? Há ainda o
caso da compra da Sadia pela Perdigão e o da criação da Ambev,
que teve uma grande repercussão na mídia.

Estruturas de mercado e as
características da estrutura da
concorrência perfeita

Diferentes bens e serviços são trocados em distintos mercados.


A observação do funcionamento desses mercados revela que
existem características próprias em cada um deles, o que distingue
o comportamento de seus integrantes. Melhor dizendo, ao observar
os distintos mercados, pode-se verificar que algumas características
ou dimensões gerais, comuns a todos eles, não são preenchidas da
mesma forma, mas variam conforme cada tipo de negócio.

070
unidade 5
ECONOMIA

Estudar as estruturas de mercado é definir essa lista de dimensões


ou características, verificando como cada um atende ou preenche a
uma ou outra dessas condições.

Para facilitar sua compreensão, imagine que você pretende classificar os

diferentes tipos de mercado, levando em conta o número de empresas

neles existente. Logo você verificará que, em relação à dimensão ‘número

de empesas’, você se lembrará de mercados com uma única empresa

produtora, o que é o caso da CEMIG, no fornecimento de energia e da

COPASA, no fornecimento de água. Ambas em Minas Gerais. Temos então

que colocar essa informação no escaninho, na ala de número de empresas.

Por outro lado, ao observarmos o número de barzinhos da cidade,

verificamos a existência de um número muito grande de estabelecimentos.


Mas o número de
Temos então que preencher os escaninhos de tamanho, usando outro vão. empresas não é
a única dimensão
ou característica
Mas o número de empresas não é a única dimensão ou característica
que podemos
que podemos usar para arquivar as informações necessárias. usar para arquivar
Outra característica possível é o tamanho das empresas existentes as informações
no setor – que guarda forte vínculo com o número de empresas
necessárias.
existentes, já que, para atender aos milhares de consumidores,
um número de empresas muito elevado se faz necessário, caso
elas sejam de pequeno porte. A importância do tamanho revela-
se, inclusive, pela constatação de que grandes empresas, mesmo
em pequena quantidade também conseguem atender ao mercado
consumidor.

O tamanho é também importante para se estabelecer uma relação


entre essa característica e o volume de capital da empresa. Afinal,
quanto maior for o volume de capital, maior será o poder que a
empresa detém. E o que é mais importante: pode indicar se ela
tem condições de afetar as ações de seus concorrentes, ou seja,
controlar o preço do produto do seu concorrente.

071
unidade 5
ECONOMIA

Outra dimensão ou característica que ajuda a definir a estrutura


de mercado é o tipo de produto – se o produto é homogêneo ou
de um tipo exclusivo; se todos os produtores daquela espécie
produzem um produto idêntico. Nesse caso, a única diferença que
o consumidor poderá observar entre as opções existentes é com
relação ao preço. A empresa mais eficiente, que tenha condições de
produzir com o menor custo, será a que manterá um menor preço,
sendo a da preferência dos consumidores.

No caso de o produto ser diferenciado ou heterogêneo, essa


diferença que ele apresenta pode ser importante o suficiente para
que o consumidor aumente sua satisfação e atenda a seu desejo,
admitindo pagar mais por essa maior satisfação. Quando esse for
o caso, o consumidor não estará preocupado em comparar o preço
do produto. Sendo assim, esse preço deixará de ser a arma principal
da concorrência entre os produtores.
Quando esse for o
caso, o consumidor
não estará
preocupado em
comparar o
Exemplo de produto homogêneo pode ser o aço plano ou o cimento do
preço do produto.
tipo Portland. Já os sabonetes podem ter vários perfumes, com algum

consumidor disposto a pagar mais caro por um sabonete com odor

de rosas; os carros podem ter vários modelos; os sapatos podem ser

direcionados às mulheres ou aos homens, serem sociais ou esportivos etc.

Uma terceira característica é a facilidade de acesso ao mercado


ou a existência de barreiras no mercado – se a entrada de novas
empresas é difícil ou impedida, o número delas fica reduzido, o que
levará provavelmente tais empresas a assumirem um tamanho
maior.

A liberdade de entrar ou sair do mercado, o que chamamos de


livre mobilidade, é outra característica importante a ser observada.
Há setores que necessitam de tanto capital para que uma nova
empresa se estabeleça que poucos terão condições de montar uma
fábrica para começar a produzir. É o caso do setor de produção

072
unidade 5
ECONOMIA

siderúrgica. Da mesma forma, se o mercado for mais concentrado


(com número pequeno de grandes empresas) não será apenas a
entrada que se tornará difícil. A própria saída de uma empresa que
não esteja satisfeita no setor, será muito dificultada.

Esse foi um caso muito discutido por ocasião das privatizações, em


especial a da Vale. Naquela época, muitos alegavam que poucas
empresas de capital nacional teriam os recursos necessários para
adquirir a mineradora. Daí, a dificuldade de vender a estatal, evitando
que caísse nas mãos de empresas de capital estrangeiro.

As características
específicas da estrutura
de concorrência Por serem
pequenas e em
perfeita grande quantidade,
apresentam uma
característica
A estrutura de mercado da concorrência perfeita é aquela que atomizada para
apresenta um número muito grande de empresas, mas todas tão atender a toda a
pequenas que sejam consideradas insignificantes. Por tamanho de
demanda.
mercado, você deve entender que as parcelas de mercado às quais
cada empresa tem a responsabilidade de atender são tão pequenas
ou insignificantes que o comportamento de qualquer empresa será
desprezível para afetar o mercado.

Assim, se uma empresa fizesse o esforço descomunal de dobrar


sua capacidade de produção, isso representaria um acréscimo de
pouco menos de 1% no mercado.

Por serem pequenas e em grande quantidade, apresentam uma


característica atomizada para atender a toda a demanda.

Para poder funcionar e gerar os resultados esperados, além da


hipótese da existência de milhares (número) de pequenas empresas

073
unidade 5
ECONOMIA

(tamanho), há também outras que devem ser atendidas. São elas:

• produtos homogêneos – permitir que o preço seja o único


instrumento que cada produtor poderá usar para conquistar
a preferência dos consumidores. Racional, o consumidor
comprará o produto mais barato. A justificativa para essa
condição é que, uma vez que o consumidor é tido como
um ser racional, apenas se os produtos fossem todos
exatamente idênticos, ele optaria pelo produto mais barato.
E só nesse caso os produtores teriam a preocupação de
precisar ser sempre mais eficientes.

No caso de produtos com características distintas, aquele que


tivesse mais características e, por esse motivo, atendesse a uma
variedade maior de necessidades, poderia ter um preço muito
superior a outro produto mais simples.

Vale assinalar que, ao analisar o preço de produtos nos mercados A entrada também
não é impedida
sujeitos à estrutura da concorrência perfeita, não se leva em
por exigências de
consideração os chamados custos de transporte, como se capital vultoso.
tais custos não tornassem os produtos mais difíceis de serem
acessados e adquiridos pelos consumidores.

E é justamente essa questão da distância, da localização, dos


custos do transporte que, muitas vezes, explica por que os bares
ou restaurantes, existentes aos milhares em nossa cidade, não são
concorrência pura, não devendo todos trabalhar sob as hipóteses e
condições dessa estrutura. E isso vale para qualquer atividade que
envolva um tipo de diferença a que o consumidor dê importância,
relativa ao produto que esteja desejando adquirir. Por exemplo,
o dono mais simpático de um bar, uma cerveja mais gelada, um
estabelecimento mais próximo de sua casa.

• livre mobilidade – não há impedimentos de qualquer ordem


à entrada de novos produtores, o que assegura a grande
quantidade de empresas no ramo. A entrada também não é
impedida por exigências de capital vultoso.

074
unidade 5
ECONOMIA

Quanto à saída, não há impedimentos para que o produtor possa


vender suas instalações. Não há perdas importantes de recursos ao
se tentar sair do setor.

• transparência de mercado – supõe-se que todos os


agentes que participam do mercado têm informação plena
dos produtos, capacidade de atender às necessidades,
custos, preços, métodos de produção e fontes de
suprimento de insumos.

As consequências de tais características podem ser analisadas no


curto ou no longo prazo. No curto, o produtor assume a condição de
ser um tomador de preços.

Isso significa que ele assume que não tem tamanho, nem
importância para impor sua vontade ao mercado. Dessa forma,
ou trabalha ao preço vigente ou será aniquilado pela concorrência,
As consequências de
caso queira aumentar o seu preço. tais características
podem ser
Se optar por reduzi-lo, na tentativa de roubar clientes dos analisadas no curto
ou no longo prazo.
concorrentes, não terá êxito. Seu único ganho será o de criar filas
de clientes diante de sua porta. Tão logo venda todo o seu estoque,
de pequena dimensão, dado o seu pequeno tamanho, verá a fila
desfazer-se e os clientes irem comprar o produto mais caro em
outros estabelecimentos.

Assim, não podendo cobrar outro preço, a curva de demanda


individual por seu produto não poderá ter a inclinação tradicional, de
relação negativa entre o preço e a quantidade.

Sua curva de demanda será uma curva plana e paralela ao eixo


horizontal, das quantidades, traçada em uma altura determinada
pelo nível do preço de mercado.

Como, no momento em que tentar aumentar sua produção, irá


incorrer em custos adicionais, também chamados de custos

075
unidade 5
ECONOMIA

marginais, e sabe que tais custos são crescentes, decidirá produzir


até o ponto em que sua curva de Custo Marginal – CMg interceptar
sua curva de demanda, ou receita marginal. O gráfico a seguir ilustra
essa decisão.

Já que a curva de demanda é também a curva de receita marginal,


que indica quanto o empresário irá obter por unidade vendida, esse
valor é exatamente o preço pelo qual o bem será vendido.

GRÁFICO 11 - Maximização de lucros de uma empresa em


concorrência perfeita e definição da quantidade a produzir

Nesse ponto, estará


sendo maximizado
o lucro da firma,
chamado de lucro
extraordinário ou
lucro econômico
puro.
Fonte: Elaborado pelo autor. (FEITOSA, Paulo).

Nesse ponto, estará sendo maximizado o lucro da firma, chamado


de lucro extraordinário ou lucro econômico puro. Como o gráfico
ilustra, o montante de lucro extraordinário que recebe é equivalente
ao retângulo, que tem como base a distância do preço p* até o
ponto onde RMg=CMg, e, como altura, a distância de p* até o CMe
(que significa custo médio).

Em função da existência da característica de transparência do


mercado, ao gerar lucros extraordinários, essa informação se
espalhará, atraindo outros empresários que desejarão entrar
naquele setor. Ao investirem, estarão ampliando a capacidade de
produção daquele bem, o que demanda certo período de tempo.

076
unidade 5
ECONOMIA

Logo, a análise de novos entrantes no mercado remete-nos à


análise de longo prazo, caracterizada pelo fato de que todos os
fatores de produção podem variar sua quantidade, desde a mão de
obra até o volume de equipamentos.

O longo prazo também proporciona a possibilidade de crescimento


de uma firma já instalada, que poderá se expandir para aproveitar
das economias de tamanho ou das economias de escala.

Essas economias podem ser ilustradas por um exemplo simples: suponha

que você é dono de uma livraria e que deve fazer encomendas para

abastecer a loja para o Natal. Ela é pequena, com capacidade limitada de

estocagem e talvez, por isso, sua carga poderá não compensar o custo do

frete de um caminhão. Se esse for o caso, o seu gasto com o transporte


Dessa forma,
será o equivalente ao caminhão cheio, embora a sua carga ocupe apenas
existem reduções de
uma parte da capacidade. Isso iria onerar muito os seus custos para custo por economias
oferecer o livro. Existe a opção de esperar até que o caminhão consiga relativas à maior
dimensão
negociar outra carga para dividir o espaço do transporte com você. Mas
da empresa.
isso pode levar tempo, gerando perda de possibilidade de venda. Ou seja,

você deixará de obter lucros.

Dessa forma, existem reduções de custo por economias relativas


à maior dimensão da empresa. Operando com custos menores em
função de economias de escala e com o preço determinado pelo
mercado, há uma ampliação do lucro extraordinário e, mais uma vez,
o setor atrairá novas empresas. Mas a atração de novas empresas
expande a oferta do produto e com o aumento da disponibilidade do
bem, mantida constante a quantidade demandada, teríamos uma
redução do preço.

Essa redução do preço prosseguirá enquanto as empresas do setor


estiverem obtendo lucros extraordinários – processo que continuará
até o ponto em que o preço em queda se igualar ao custo unitário
de produção de uma nova unidade do bem.

077
unidade 5
ECONOMIA

Nesse instante, embora nosso produtor estivesse maximizando


lucros de curto prazo, produzindo nos momentos em que sua RMg
= CMg, seu lucro anormal ou extraordinário teria desaparecido,
mesmo se ele estivesse aproveitando das reduções de custo
resultantes das economias de escala. Assim, no longo prazo, todo o
mercado, inclusive o do nosso produtor, cobrará um preço igual ao
de seu custo de produção. Isso significa que estará operando com
lucro extraordinário igual a zero, ou seja, sem lucros extraordinários,
apenas com os lucros normais.

Conforme o gráfico anterior, isso significa que o preço deverá cair


até o ponto em que a curva de CMe (curva azul) cruzar a curva de
CMg (curva vermelha). Ou seja, a curva plana da demanda estará
tangenciando ambas as curvas de custo, tocando justamente nesse
ponto de interseção.

A respeito da
A respeito da estrutura de concorrência perfeita, algumas estrutura de
observações adicionais devem ser feitas. A primeira está relacionada
concorrência
perfeita, algumas
ao significado da curva de custo marginal, de inclinação positiva,
observações
revelando que maiores quantidades produzidas são acompanhadas adicionais devem
por custos marginais mais elevados. ser feitas.

Observando o gráfico, podemos verificar que, se imaginarmos


a possibilidade de existência de vários outros preços para o
produto, além do preço p* – todos com o mesmo tipo de curva
de demanda plana traçada a partir deles –, verificaremos
que o ponto que atende a nossa condição de maximização de
lucros, em que a curva de RMg intercepta a curva do CMg é, em
qualquer circunstância, um ponto situado em cima da curva de
custo marginal. A curva que indica a quantidade a ser ofertada
pela empresa em concorrência perfeita a qualquer preço será um
ponto idêntico da curva de custo marginal. Dito de outra forma,
a curva da oferta para a empresa em concorrência perfeita
é idêntica à curva de CMg, ou é a própria curva de CMg, com
maiores quantidades, sendo ofertadas a maiores preços.

078
unidade 5
ECONOMIA

Uma segunda observação diz respeito aos conceitos de lucro


normal e de lucro extraordinário, sobre o qual acabamos de falar
e que causam alguma confusão. Em princípio, devemos deixar
claro que o lucro é uma remuneração pelo uso do fator capital no
processo produtivo, da mesma forma que o salário remunera a mão
de obra. Desse ponto de vista, todos constituem um custo, sendo
este um custo implícito, que não gera desembolso ou saída de
dinheiro do caixa.

Assume-se que o valor que corresponde à remuneração do capital


aplicado em uma empresa específica é exatamente idêntico ao
retorno que poderia ser obtido de seu emprego em qualquer outra
empresa. A isso chamamos de custo de oportunidade – aquilo que
deixamos de ganhar em uma aplicação pelo fato de termos optado
por outra utilização do recurso.
A isso chamamos
de custo de
oportunidade –
Esse lucro normal existe sempre, enquanto o lucro extraordinário aquilo que deixamos
existe apenas enquanto o preço de mercado, em concorrência de ganhar em uma
aplicação pelo fato
perfeita, supera o custo médio ou o custo unitário de produção.
de termos optado
por outra utilização
Como vimos, na estrutura de concorrência perfeita, o lucro anormal do recurso.
é zero, porque, atraídos pelo lucro extra, novas firmas entrarão
produzindo no mercado, o que rebaixará o preço até que o este
deixe de superar o custo médio, igualando-se a ele.

Uma observação final relacionada à anterior refere-se ao momento


no qual o empresário decide que não vale mais a pena permanecer
no mercado, ou seja, que ele deve sair do negócio.

Para muitos, isso deveria acontecer sempre que o custo médio


(custo total de produção dividido pelo total da quantidade produzida)
fosse superior ao preço cobrado – situação em que o empresário
estaria amargando o prejuízo. Entretanto, nem sempre isso é
verdadeiro, pois o empresário pode ter vantagens em trabalhar com
o prejuízo.

079
unidade 5
ECONOMIA

Você acha isso possível? Ou estamos todos ficando malucos?


Nada disso. A questão é que, para ter a sua produção instalada, o
empresário tem que arcar com custos fixos (o capital, o terreno que
vai ocupar) chamados também de capital afundado. E para produzir,
é preciso comprar matérias-primas, pagar por horas de trabalho,
pela eletricidade gasta para fazer as máquinas funcionarem –
custos chamados de variáveis, já que não existiriam se não existisse
produção. Mas, decidindo o empresário produzir ou não, ele deverá
arcar com os custos de manutenção e depreciação das máquinas,
com os cuidados e impostos do terreno que continuarão existindo.
Ou seja, mesmo que produza zero unidade, terá custos fixos.

Assim, pode valer a pena produzir, com a finalidade de reduzir as


perdas acarretadas pelo custo fixo, desde que se saiba que o preço
de venda no mercado é superior aos custos variáveis. Nesse caso, A questão é que,
estará sendo produzida uma margem de contribuição, cujo nome para ter a sua
produção instalada, o
indica o valor que estará sendo gerado para contribuir com a
empresário tem que
diminuição do prejuízo decorrente do custo fixo. arcar com custos
fixos (o capital,
o terreno que vai
Concorrência perfeita e inovação ocupar) chamados
também de capital
Já chamamos a atenção para o fato de o empresário da pequena afundado.
empresa usar todo o lucro que obtém em proveito próprio,
mantendo um padrão de vida mais confortável para si e sua família.
Também mostramos que a empresa que opera em um mercado de
concorrência perfeita não possui recursos suficientes para bancar
os gastos com a pesquisa de novos produtos e novos processos de
produção, que são, em geral, muito elevados e de retorno incerto.
Isso porque como a empresa em concorrência perfeita não opera
com lucros extraordinários, ela apenas gera o volume de ganhos
suficiente para remunerar o sacrifício de seu dono.

Daí o fato de Schumpeter (1984), economista pioneiro em analisar a


importância do processo de inovação (a que deu o nome de processo
de destruição criadora) para a dinâmica e o desenvolvimento do
sistema capitalista, ter afirmado que tal processo não teria como

080
unidade 5
ECONOMIA

ocorrer em um sistema baseado na concorrência perfeita. Isso não


elimina a possibilidade de ocorrer processos de inovação dentro de
pequenos empreendimentos ou até mesmo em oficinas de fundo de
quintal, como consequência da atividade de algum gênio inventivo,
em geral, não compreendido.

Mas, sucede que as grandes inovações, denominadas de inovações


radicais ou disruptivas, acontecem apenas em longos intervalos
de tempo. A maior parte delas é do tipo incremental, que alteram
apenas alguns poucos detalhes do produto original. E essas são
exatamente as que podem ser testadas com o uso de recursos que
a pequena empresa competitiva não tem ao seu dispor.

Assim, Schumpeter mostra a importância de grandes empresas


financiarem o processo de descoberta de novos produtos e novas E essas são
indústrias que, de dentro, destroem as estruturas arcaicas, dando exatamente as
que podem ser
origem ao desenvolvimento do novo, que altera toda a configuração
testadas com o uso
da indústria. de recursos que a
pequena empresa
Talvez, por esse motivo, se deu a acusação feita às empresas competitiva não tem
ao seu dispor.
maiores – a de adquirirem os projetos novos desenvolvidos por
gênios inventores, apenas no intuito de os engavetarem ou os
utilizarem quando a oportunidade lhes fosse mais benéfica. Na
verdade, muitas vezes, o problema é o de desenvolver, em escala
industrial – o que significa custos bem mais elevados, a ideia que
se mostrou viável quando o projeto estava em fase de protótipo.

O monopólio
A segunda mais conhecida estrutura de mercado é a caracterizada
pela existência de uma única empresa produtora, cujo tamanho
deve ser gigantesco, de forma a poder atender a toda a demanda do
mercado.

Sendo a única produtora, toda a oferta do mercado corresponde

081
unidade 5
ECONOMIA

a sua produção, o que permite à empresa monopolista produzir a


quantidade que considerar mais benéfica a seus propósitos. Ela
pode, inclusive, decidir gerar uma escassez artificial do produto,
apenas para poder cobrar preços mais elevados.

Ao contrário da empresa em concorrência pura, cuja demanda


é plana, desde que respeitado o nível de preço praticado pelas
demais empresas, a curva de demanda da firma monopolista é
negativamente inclinada, confundindo-se com a curva de demanda
do mercado como um todo. Consequência disso é o fato de a
empresa não se submeter ao preço de mercado, não precisando
assim utilizar a ideia de igualdade entre procura e oferta para
fixação do preço. Nesse caso, pode fixar o preço que bem desejar,
enfrentando como única restrição o fato de que, ao cobrar preços
extorsivos, pode afastar alguns clientes em potencial, que talvez não Consequência
tenham condições financeiras para pagar pelo produto desejado. disso é o fato de
a empresa não se
submeter ao preço
A esse respeito, uma importante questão está relacionada aos de mercado, não
fatores determinantes do surgimento e da manutenção da situação precisando assim
utilizar a ideia de
de monopólio, podendo se destacar as seguintes condições:
igualdade entre
• existência de monopólio natural – caracterizada pelo procura e oferta para
fixação do preço.
fato de o monopólio ser inequivocamente a forma mais
eficiente para a produção de um determinado tipo de
bem ou serviço. Essa situação ocorre sempre que uma
única empresa pode oferecer um bem ou serviço, para
todo um mercado, por um custo menor aquele que
seria cobrado caso existissem duas ou mais empresas
produtoras. . Em outras palavras, além de essa única
empresa ter condições de cobrar preços baixos para
seu produto, o surgimento de nova empresa acarretaria
ineficiência, e preços maiores por dois motivos: a
empresa entrante teria que realizar investimentos
vultosos, tendo de operar com elevado custo fixo ou
ainda, atendendo a pequena parcela do mercado,
trabalharia com ociosidade.

082
unidade 5
ECONOMIA

• Outra condição de monopólio está vinculada à existência


e à exploração de patentes, que coloca a empresa
detentora do direito do uso da tecnologia em condições
de exclusividade para a produção do bem. Tal condição
apresenta tempo definido de exclusividade.

• Também o direito de propriedade de exploração ou o


controle das fontes de matéria-prima podem servir de
motivo para que uma empresa opere em um mercado
monopolista.

Vale observar que tanto nesse caso como no anterior, o da proteção


por patentes, a empresa pode ser tentada a vender o direito de
exclusividade para outra empresa que concorde em pagar rendas
extraordinárias à instituição monopolista, caso em que a empresa
nova não obteria os ganhos desejados. A teoria ignora que a
maior preocupação
• Por fim, há também a situação de existência de monopólio
da empresa
legal: privilégio conferido a alguma empresa por força de monopolista é a
lei. Essa é a situação de existência de empresas detentoras manutenção, ao
longo do tempo,
da exclusividade no fornecimento de serviços de energia
de sua capacidade
elétrica, água e esgoto. monopolista.

Embora sendo uma estrutura tão diferente da concorrência perfeita,


a teoria econômica não reconhece tais diferenças, atribuindo à
empresa monopolista o mesmo objetivo de maximização de lucros,
como se ela fosse uma empresa de mercado competitivo.

A teoria ignora que a maior preocupação da empresa monopolista é


a manutenção, ao longo do tempo, de sua capacidade monopolista.
E, para evitar ações destinadas a romperem com sua exclusividade,
a firma, muitas vezes, deixa de praticar os preços mais elevados
que poderia adotar.

Tal situação é mais plausível de acontecer no caso de monopólios


por força de determinação legal, a qual é passível de ser cassada
por pressão popular.

083
unidade 5
ECONOMIA

Independentemente dessas considerações, a teoria supõe que o


objetivo principal da empresa é a maximização de lucro, a ser obtido
quando a receita marginal interceptasse a curva de custo marginal,
supostamente crescente.

O gráfico a seguir ilustra a situação.

GRÁFICO 12 – Curvas de receita média, receita marginal e demanda do monopólio

P
D CMg

p CM6

0 q RMg RM6 Q

Fonte: Elaborado pelo autor. (FEITOSA, Paulo).

O oligopólio
É a estrutura de mercado caracterizada pela existência de um
pequeno número de empresas com tamanho suficiente para
atenderem a toda a demanda. Podem ser encontradas tanto
em mercados caracterizados pela existência de produtos
heterogêneos/diferenciados (indústria de calçados, automobilística,
de aparelhos eletroeletrônicos etc.) quanto nas indústrias de
produtos homogêneos (aço plano, cimento Portland etc.). Por esse
motivo, o oligopólio constitui a principal estrutura encontrada na
realidade econômica de qualquer país, inclusive o Brasil.

A característica primordial do oligopólio é a existência de uma


concorrência pessoal, que permite a cada empresário identificar
e estabelecer relações com empresas rivais, possibilitando-lhes

084
unidade 5
ECONOMIA

conhecer as características e antecipar as reações de alguns dos


grupos de consumidores.

A existência de poucas empresas no mercado cria uma relação de


interdependência entre os produtores, com cada empresa admitindo
que suas ações deverão provocar reações ou retaliações dos rivais
que se sentirem prejudicadas ou em condições de disputarem uma
nova parcela de mercado.

Composta de pequeno número de grandes empresas, detentoras


de significativo volume de capital que lhes assegura a sobrevivência
no mercado, mesmo em meio às perdas impostas por uma
concorrência predatória proveniente de uma guerra de preços, a
estrutura oligopólica, devido à facilidade de contato entre as rivais,
facilita a formação de acordos de preço, destinados a evitarem a
Atuando em
inutilidade e os prejuízos de uma competição pela via dos preços. comum acordo,
Assim, costumam operar por meio de um processo no qual os como se fossem
valores monetários são formados por meio de conluios ou acordos
um só produtor,
estabelecem o preço
que facilitam a alta deles e a manutenção de margens de lucro em
utilizando o modelo
desfavor do mercado consumidor. de custo mais lucros,
estratégia cost-plus
ou mark-up.
Atuando em comum acordo, como se fossem um só produtor,
estabelecem o preço utilizando o modelo de custo mais lucros,
estratégia cost-plus ou mark-up. Pelo modelo do mark-up,
identificam e mensuram os custos de produção diretos ou variáveis,
agregando ao valor obtido um percentual destinado à cobertura de
seus custos fixos ou indiretos, acrescido de outro percentual que se
destina à geração de uma margem desejada de lucros.

É comum que as empresas fixem seu preço a partir do chamado


modelo de liderança de preço, no qual a empresa mais eficiente, de
menor custo de produção ou maior parcela de mercado, determina o
preço que deverá ser seguido pelas demais. Nesse caso, o exercício
da liderança obriga a empresa líder a considerar os custos de
produção das demais, de forma que a margem fixada seja suficiente
para garantir a sobrevivência de todas elas, inclusive das empresas

085
unidade 5
ECONOMIA

ineficientes. Tal comportamento pode onerar o consumidor,


mas, por outro lado, permite a obtenção de lucros anormalmente
elevados para as empresas mais eficientes.

Devido a alguns motivos, como as dificuldades envolvidas na


negociação e fechamento de um acordo em torno de um preço
comum, essas empresas costumam trabalhar com preços estáveis
por longos períodos, sendo avessas a modificações constantes
deles. O fato de terem como seu principal objetivo a manutenção de
sua parcela de mercado, o que exige o estabelecimento de relações
de confiança com seus consumidores, é algo que também contribui
para essa estabilidade.

Por esse motivo, ao contrário do objetivo de maximização de lucros


de curto prazo, seu objetivo pode ser exposto como a obtenção Importante frisar
do maior lucro possível (suffice). Outra característica relevante é a que, embora evitem
a concorrência em
adoção de estratégias de atuação destinadas à criação de barreiras
relação aos preços,
à entrada de novos possíveis concorrentes – situação que as leva a isso não significa
trabalharem com capacidade produtiva ociosa, ou de reserva, para que não haja
competição ferrenha
alguma eventualidade de elevação inesperada da demanda.
entre elas, podendo
acontecer, inclusive,
com o uso de armas.

Importante frisar que, embora evitem a concorrência em relação aos

preços, isso não significa que não haja competição ferrenha entre elas,

podendo acontecer, inclusive, com o uso de armas.

Concorrência monopolística
São consideradas estruturas a meio caminho do monopólio e da
estrutura de concorrência perfeita. Nesse sentido, consideram a
existência conjunta de características de ambas estruturas.

Assim, embora existam muitas empresas, concorrentes entre si,


a existência de produtos diferenciados transforma cada produto
em um produto único, o que leva cada empresa a se considerar

086
unidade 5
ECONOMIA

monopolista de seu próprio produto.

Além disso, existem algumas poucas empresas grandes o suficiente


para dominarem o mercado, produzindo produtos substitutos
próximos umas das outras.

Tipos de estruturas do
mercado fornecedor
Considerando o mercado fornecedor dos fatores de produção,
destacam-se as estruturas do monopsônio, em que existe uma
única empresa fornecedora do fator, o que lhe concede um amplo
poder de fixar preços e condições de venda.

Também pode ser identificada a situação do oligopsônio, dominada


por pequeno grupo de fornecedores grandes o suficiente para
combinarem estratégias de atuação conjunta.

Além dessas duas, são identificadas ainda a situação da


concorrência perfeita no mercado de fatores e o caso do
monopólio, situação em que um monopolista se confronta com um
monopsonista.

No material instrucional que integra a estrutura didática e


acompanha esta unidade, você terá acesso a um quadro que
apresenta sinteticamente as principais estruturas aqui tratadas e os
valores que elas apresentam em relação a algumas características
selecionadas.

A formação de preços no oligopólio pelo princípio do custo total

1) Em 1939, na Inglaterra, uma pesquisa empírica conduzida por dois

economistas, Hall e Hitch, junto a 38 empresas líderes de seus segmentos

de atuação (procurando identificar os processos por elas adotados para

087
unidade 5
ECONOMIA

estabelecerem a quantidade a ser produzida e o preço a ser praticado),

concluiu que, ao contrário do que a teoria tradicional sustentava, elas não

adotavam regras estabelecidas para se chegar à maximização de lucros,

não igualando sua receita marginal ao custo marginal. Ou seja, a produção

de uma unidade adicional de produto não dependia da igualação de custos

adicionais, supostamente crescentes, com um preço que deveria ser

constante e igual ao preço praticado pelas demais empresas no mercado.

E o motivo alegado para não se comportarem conforme a explicação

teórica era a de que, desconheciam o conceito de custo marginal e a

curva dele derivada. Quando conheciam o conceito, não se esforçavam

para mensurá-lo e calcular as curvas, já que se dedicavam à produção de

multiprodutos e não de um produto isolado. Quanto às curvas de demanda


Em reforço a essa
das quais poderiam derivar a curva de receita marginal, alegavam
conclusão, os
questionários desconhecê-las, por não saberem prever a reação dos consumidores
e entrevistas diante de alterações de preço.
mostraram que
as empresas não Em reforço a essa conclusão, os questionários e entrevistas mostraram
antecipavam qual
que as empresas não antecipavam qual seria a reação de seus
seria a reação de
seus consumidores, consumidores, principalmente por não saberem prever qual seria o
principalmente comportamento adotado pelos concorrentes.
por não saberem
prever qual seria Dessa forma, simultaneamente, foram jogados por terra dois dos
o comportamento principais argumentos utilizados pela teoria convencional, que dá
adotado pelos
ênfase à formação de preço pelo livre jogo das forças dos mercados. Em
concorrentes.
primeiro lugar, foi questionada a hipótese de que as empresas buscam

maximizar seus lucros quando estão decidindo sobre produção e preço.

Em segundo lugar, foi questionado o papel exercido pela demanda no

processo de formação de preços.

Questionados, os entrevistados admitiram formar seus preços a partir da

identificação de seus custos totais de produção (custos diretos), ao qual

acrescentavam uma margem para cobrir custos gerais, fixos e a margem

desejada de lucro.

A justificativa para tal comportamento era a de que os empresários não

conheciam sua demanda nem a reação de seus consumidores – isso

porque não conheciam seus consumidores nem suas preferências. Além

088
unidade 5
ECONOMIA

disso, não sabiam antecipar, dada a interdependência entre as empresas

rivais, as reações que elas teriam diante das alterações realizadas em suas

políticas de preço e produção.

Logo, era mais interessante fixarem um preço que fosse baseado em

informações objetivas da contabilidade de custos, a qual traria elementos

mais aptos à discussão de acordos de preço. Além disso, a fixação de um

preço por acordo levaria a sua manutenção, já que caso fosse majorado

por alguma empresa, e essa empresa não fosse acompanhada por

seus concorrentes, ela perderia mercado. Em, sentido contrário, caso

uma empresa reduzisse seu preço unilateralmente, elas veriam seu

comportamento ser acompanhado por todas as empresas rivais, o que

traria perdas para todas elas. A repetição de vários estudos em outros

países tem confirmado, inclusive no Brasil, a adoção do princípio da fixação

De um lado, de preços pelo custo total, ou política de custos mais mark-up.


os preços
superestimados 2) Até mesmo nas sessões para abertura internacional de envelopes
permitiriam a contendo as propostas relativas ao fornecimento de pacotes de bens e/
expansão da ou serviços que exigem a realização de concorrência para obras de grande
margem de lucros,
vulto e valor, é comum que os fornecedores derrotados não reclamem ou
com parcela da
margem ampliada, se sintam prejudicados quando do anúncio da proposta vencedora.
sendo dividida
entre os demais Não raras vezes, há, no ambiente de abertura das propostas da
concorrentes. concorrência, a percepção de que todos já sabiam antecipadamente a

proposta e a firma vencedora. Comumente, antes da sessão, as empresas

concorrentes já tinham se reunido e discutido entre si os valores a serem

apresentados. Não é difícil antever a possibilidade de, mesmo os preços

apresentados pela firma vencedora sendo os mais reduzidos, poderem,

ainda assim, ser considerados superfaturados. De um lado, os preços

superestimados permitiriam a expansão da margem de lucros, com parcela

da margem ampliada, sendo dividida entre os demais concorrentes. Por

outro lado, sempre nas grandes concorrências, há a possibilidade de as

empresas vencedoras, com o intuito de respeitar os prazos das obras,

realizarem subcontratações. Também não causa estranheza que as firmas

derrotadas sejam as subcontratadas para a realização da obra.

Em outras reuniões, outras firmas serão as vencedoras, mantendo um

rodízio que se destina, muitas vezes, a dar a impressão de que as empresas

089
unidade 5
ECONOMIA

estão disputando palmo a palmo as oportunidades do mercado.

Não deve ser muito diferente desse quadro a abertura de pacotes de

concorrência para a construção do metrô de São Paulo ou de obras de

construção de refinarias da Petrobras. O que nos leva a perceber a oportunidade

que a fixação de uma margem combinada de lucros cria para incluir em

seu volume, um montante de recursos para ser distribuído para a pessoa

ou o partido que tiver a condição de participar do processo de licitação e da

assinatura do contrato para a realização da obra. À margem ampliada de lucros

uma parcela adicional pode ser incluída para que, de sua distribuição posterior,

possa também participar a pessoa ou o partido que tem o poder de assinar o

contrato de realização de obras.


Fonte: Elaborado pelo autor.

Revisão
Estruturas de mercado – são as formas ou características que
os mercados assumem e que servem para descrevê-los, visando
definir o grau de concorrência ou de colusão (acordos visando à
obtenção de vantagens em prejuízo dos consumidores) existente.
Para isso, as características são definidas a partir de um conjunto
de condições, que podem assumir valores distintos, permitindo
a criação de uma taxonomia (concorrência perfeita, concorrência
monopolística, oligopólio, monopólio), sem expressar um maior
componente de conteúdo teórico. Normalmente as variáveis
que apresentam as condições principais são o número de firmas
produtoras presentes no mercado, a diferenciação do produto,
a capacidade de criar e manter barreiras à entrada de novas
empresas.

Concorrência perfeita – modelo teórico, ideal, que supõe a


existência de grande número de empresas, todas de tamanho
insignificante quando comparadas ao número de consumidores
existentes no mercado. As firmas, atomizadas, produzem um
produto único, dito homogêneo. Supõe-se que há livre mobilidade
para a entrada e saída de firmas de qualquer mercado, além de

090
unidade 5
ECONOMIA

transparência de informação ou informação plena para todos os


participantes no mercado. Dessa forma, a única distinção entre
os produtos das várias empresas, é o preço, que se torna a arma
da concorrência. A hipótese de informação completa concede ao
consumidor o poder no mercado, já que, sendo racional, comprará o
produto ao menor preço.

Monopólio – estrutura de mercado em que há apenas um produtor


para um bem ou serviço, o que lhe confere poderes de impor o preço
que bem pretender ao mercado. Este, por sua vez, pagará o preço
pedido ou desistirá do bem.

Oligopólio – estrutura de mercado em que existem empresas


grandes e em pequeno número, que agem cientes da existência
de interdependência entre elas. Por esse motivo, podem combinar
estratégias de atuação na fixação de preços.

Há uma série de livros e textos que podem servir para aqueles que

quiserem aprofundar no tema.

Alguns são livros que demandam uma dose maior de conhecimento e

domínio dos conceitos e modelos microeconômicos, como é o caso de:

POSSAS, Mário Luiz. Estruturas de Mercado em Oligopólio. São Paulo:

Hucitec, 1985.

Com um estilo mais leve, pode ser indicado:

GALBRAITH, John K. A Economia e o Objetivo Público. São Paulo: Livraria

Martins Editora, 1975.

De cunho mais jornalístico temos:

BAKAM, Joel. A Corporação: A busca patológica por lucro e poder. São

Paulo: Novo Conceito, 2008.

(Existe também um filme baseado na obra.)

091
unidade 5
ECONOMIA

Como bibliografia para sedimentar os conhecimentos aqui tratados,

podem ser indicados:

PINHO, Diva Benevides; VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de.

(Orgs). Manual de Economia: equipe de professores da USP. 5 ed. São

Paulo: Saraiva, 2004.

VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de; GARCIA, Manuel E.

Fundamentos de Economia. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

VICECONTI, Paulo; NEVES, Silvério das. Introdução à Economia. 12 ed. São

Paulo: Saraiva, 2013.

Um livro de literatura que aborda as consequências e os problemas da

concentração de capital que pode ser indicado é o de:

RAND, Ayn. A Revolta de Atlas. Tradução de Paulo Henrique Britto. Rio de

Janeiro: Sextante, 2010.

O site do Ministério da Justiça: Site “Ministério da Justiça – Governo

Federal Brasileiro”. Contém informações relevantes sobre o Sistema

Brasileiro de Defesa da Concorrência e o CADE- Conselho Administrativo

de Defesa Econômica. Disponível em: <www.justica.gov.br>. Acesso em:

09 mar. 2015.

092
unidade 5
Principais
conceitos
macroeconômicos
Introdução

Definida como sendo a parte da economia responsável pelo estudo


e compreensão do comportamento da economia como um todo, a • A Distinção Micro
Macroeconomia procura entender como as decisões de milhares
e Macroeconômica

de agentes individuais acabam afetando o ambiente em que tais • Os fundamentos


microeconômicos
decisões foram adotadas.
da Macroeconomia
• O surgimento da
Algumas vezes, as ações desses indivíduos se somam para produzir Macroeconomia
efeitos que irão afetar a todo o ambiente econômico. Em outras e o princípio da
Demanda Efetiva
ocasiões, as decisões individuais ou microeconômicas podem ter
direções distintas, com algumas delas anulando ou compensando • As principais
variáveis e os
outras decisões. Ao estudo das decisões individuais, subjacentes problemas-chave
ao comportamento econômico dos milhares de agentes, dá-se o da Macroeconomia
nome de fundamentos microeconômicos da macroeconomia, e o • Estrutura
estudo dos efeitos sobre toda a sociedade de tais decisões é o que básica do modelo
macroeconômico
vai compor o objeto de estudo da análise macroeconômica.
• Inflação e Sistema
de Metas de Inflação
Dessa forma, duas decisões consideradas cruciais, nas sociedades
• Contabilidade
capitalistas, podem ser identificadas, no sentido de que, uma Nacional –
vez tomadas, não há mais como se arrepender ou retroceder, Medindo o PIB
ou Avaliando o
exceto a um custo extremamente elevado. São elas: a decisão de
Nível de Atividade
investimento, tomada pelo produtor capitalista, que corresponde à Econômica
decisão de encomendar ou adquirir capacidade de produção, como • A renda nacional
a construção de fábricas, galpões e instalações físicas, além da
• Despesa nacional
compra de máquinas e equipamentos necessários à realização da
• Revisão
produção. Sem tal decisão, não há como o processo produtivo ter
curso.
Mas, tomada a decisão de investir, desse momento até o
instante em que o investimento estiver pronto para entrar em
funcionamento, em geral, há o transcurso de um período longo de
tempo, de forma que a decisão considerada adequada no momento
anterior não seja mais encarada como adequada em um segundo
instante. Surge daí a segunda decisão crucial: de produzir, ou seja,
de por em funcionamento as instalações, o que exige a aquisição
ou a encomenda de matérias-primas, insumos, peças, partes,
componentes, além da contratação de mão de obra.

Por outro lado, também há um tempo, em geral mais curto, que


se estende entre o instante da decisão de o empresário produzir,
à luz da demanda por ele identificada no mercado, e o momento
de a produção estar disponível aos consumidores. Isso significa a
possibilidade de mudança dos desejos dos consumidores, o que
pode gerar a frustração de planos e até a ocorrência de prejuízos.
Ou seja, as decisões empresariais são tomadas sob condições
de incerteza, o que os leva a decidirem o quanto produzir à luz de
expectativas passíveis de erros.

Daí, a importância, para as decisões, de produzir e gerar emprego,


do humor da classe empresarial, o que revela a importância de o
governo zelar sempre pela manutenção de um ambiente econômico
estimulante, positivo e saudável.

É esse enfoque que levou Keynes a formular o princípio da demanda


efetiva, por meio do qual o nível de gasto desejado pelos vários
grupos de agentes em que a sociedade pode se decompor é que vai
determinar o quanto de bens de consumo deverão ser gerados para
atender às necessidades das famílias; o quanto de bens de capital
serão demandados pelos empresários dispostos a investir; o tanto
de bens serão demandados pela máquina do governo, seja para seu
funcionamento, seja para a prestação de serviços à população ou à
criação das facilidades estruturais necessárias ao funcionamento
mais eficiente de toda a sociedade ou aos investimentos em
infraestrutura. Ou ainda, o volume de bens que serão demandados
por clientes localizados no exterior. Classificados em termos
de despesas a que se vincula a produção, para que a economia
esteja em equilíbrio ou para que todos se sintam satisfeitos, o total
produzido deverá somar um valor tal que atenda às somas das
despesas de consumo – C; mais os gastos de investimento – I;
acrescidos dos gastos do governo – G e dos gastos dos clientes do
exterior, deduzidos aqui os bens que, gerados fora de nosso País,
serão usados por todos os nossos habitantes, o que se expressa
pelo valor líquido de exportações menos as importações, em
símbolos, X – M.

Dada a incerteza presente no ambiente econômico, não há razão


para se esperar que os empresários estejam sempre otimistas,
acreditando que terão demanda em nível suficiente para acionarem
toda a sua capacidade produtiva. A possibilidade de existência dessa
demanda agregada insuficiente é o que justifica a possiblidade de
ocorrência de equilíbrio abaixo do pleno emprego, ou seja, todas
as demandas estarem sendo satisfeitas, mas com ocorrência de
ociosidade de máquinas ou existência de desemprego.

Entender, em dado momento, os fatores que explicam o volume


de cada uma dessas demandas e as variáveis ou motivos que
provocam ou justificam alterações desses valores é a preocupação
do modelo dito keynesiano, que se propõe a buscar interferir nas
decisões de cada grupo de agente econômico para que o equilíbrio
da economia possa ser alcançado sem a ocorrência de uma
situação de desemprego.

Por outro lado, em face de haver, em cada momento, uma limitação


da capacidade de produção que uma economia pode por em
funcionamento, há que se procurar adotar medidas de estímulo à
demanda que não gerem gastos em valores superiores àqueles que a
economia tem condições de atender, para que a escassez resultante
não provoque uma disputa por parte dos grupos de consumidores,
que acabem por provocar uma elevação generalizada de preços ou
um processo de inflação.

Logo, poderíamos nos perguntar: quais os problemas


macroeconômicos mais importantes, mais capazes de afetar
nossas vidas e mais merecedores de nossas preocupações? E o
primeiro seria o problema do crescimento da produção ao longo do
tempo, já que as sociedades estão constantemente aumentando
sua população. Expandir o volume produzido é fundamental para a
melhoria das condições de vida de todas as pessoas. O segundo
problema seria o do desemprego e o de saber adotar medidas para
evitar sua ocorrência, não apenas para aproveitar a potencialidade
da geração de riqueza de nosso País, mas porque é pelo trabalho
que as pessoas adquirem renda e podem comprar os bens que
lhes são necessários. Por último, o problema da inflação e de
como evitar que ela possa se manifestar, com todos os problemas
que ela acarreta, especialmente penalizando aqueles que não têm
condições de elevar seus rendimentos e seu poder de compra na
mesma proporção que os preços dos bens.

Como variáveis importantes do instrumental macroeconômico,


devemos tentar entender o que são e como funcionam as variáveis
que podem ser utilizadas no tratamento desses problemas,
destacando o comportamento da taxa de juros, da taxa de salários
e da taxa de câmbio. Pois, são exatamente essas as questões que
iremos abordar nessa unidade do livro.
ECONOMIA

A distinção Micro e
Macroeconômica
Os livros-texto de Economia costumam fazer a apresentação
do objeto de estudo dessa ciência social, dividindo-a em dois
grandes ramos, muitas vezes, completamente independentes:
a microeconomia e a macroeconomia. De acordo com essa
abordagem, enquanto a Microeconomia trataria dos assuntos
relacionados ao funcionamento de mercados e unidades individuais,
procurando analisar e entender as motivações que justificam o
comportamento adotado pelos agentes econômicos na busca de
maximização de seus objetivos, a Macroeconomia seria a parte da
economia que se preocupa com o todo.

Dessa forma, é comum que os textos introdutórios atribuam à


Microeconomia a função de compreender o funcionamento de Quanto à
mercados de produtos isolados, individualizados, na busca de
macroeconomia,
seria o estudo da
explicação dos motivos que justificam o comportamento, seja
Economia dos
do consumidor ou do produtor, procurando explicações para as Agregados.
quantidades oferecidas e demandadas e para o preço vigente e
para suas variações.

Quanto à macroeconomia, seria o estudo da Economia dos


Agregados. Por definição, seria a parcela responsável pelo estudo
dos grandes agregados, como a produção nacional, a despesa
nacional, tendo como principal interesse a análise dos grandes
problemas que afetam a toda a sociedade.

Embora útil do ponto de vista didático, tal distinção pode conduzir


a equívocos, devendo ser utilizada com muito cuidado. Afinal,
também a Microeconomia utiliza-se de variáveis agregadas
quando, depois de analisado o comportamento de um consumidor
médio no mercado, também chamado de consumidor padrão
ou representativo, acaba generalizando seus resultados para a
totalidade dos consumidores restantes. Assim, depois de entender

098
unidade 6
ECONOMIA

as motivações do comportamento do consumidor individual e a


quantidade que ele deseja adquirir a qualquer preço dado, generaliza
aquela conclusão para chegar à quantidade demandada por todos
os consumidores, àquele preço. O mesmo vale também para o
comportamento dos produtores no mercado.

No entanto, o que diferencia a agregação utilizada pela


Microeconomia daquela adotada pela Macro é que, na primeira,
o que se está agregando é um mesmo e único produto, dotado
de uma mesma unidade física de medida, o que permite que as
agregações sejam realizadas utilizando-se quantidades físicas de
produto. Assim, se fala que, se ao preço de R$ 2,00 um consumidor
representativo demandaria cinco unidades de um bem, no caso de o
mercado ser composto de 10 mil consumidores, então, ao preço de
R$ 2,00, teríamos uma quantidade demandada de 50 mil unidades Dessa forma, como
(cinco unidades para cada um dos 10 mil consumidores). na Microeconomia
o estudo sempre
é realizado para
Já na Macroeconomia, os agregados compreendem produtos de mercados de
várias espécies e vários tipos, destinados a satisfazerem distintas produtos únicos,
isolados, pode-se
necessidades, de diferentes tipos de agentes, sendo, em geral,
estudar o mercado
produtos que são medidos por distintas unidades físicas. Assim, ao de tecidos, por
se falar em produção nacional, estamos considerando, ao mesmo exemplo.
tempo, desde alimentos, medidos em dúzias ou toneladas, até
a produção de automóveis medidos em unidades, produção de
carvão medida em metros cúbicos, de máquinas, de litros de leite
ou de metros lineares de tecido, para citar alguns exemplos.

A necessidade do uso de medidas em valores monetários e a


importância da renda

Dessa forma, como na Microeconomia o estudo sempre é realizado para


mercados de produtos únicos, isolados, pode-se estudar o mercado de
tecidos, por exemplo. E, concluir que, em certo período de tempo, em
todo o Brasil, o conjunto de fabricantes de tecidos produziu 10 milhões
de metros de tecidos (ou seja, a informação dada em quantidades
físicas do produto). Quanto à Macroeconomia, que trabalha comum

099
unidade 6
ECONOMIA

conjunto heterogêneo de produtos, verifica-se a impossibilidade de


existência de uma única unidade física de medida. Isso exige que para
poder trabalhar com agregações ou somas, a Macroeconomia exige
que todas as quantidades de produtos sejam reduzidas e expressas em
uma mesma e única unidade comum. Ao se procurar essa unidade
comum, a observação nos revela que a única coisa em comum entre
tantos bens diferentes é o fato de todos serem produzidos para serem
levados ao mercado onde deverão ser vendidos. Logo isso os obriga
a assumir algum valor: ou seja, têm preços. Logo, a única forma de se
somar toda a produção feita em um país, em dado período de tempo, é
por intermédio da soma de seus valores monetários.

Outra questão importante a se destacar é o fato de que, na abordagem

microeconômica, é muito raro que nos deparemos com situações em que


Em outras palavras,
os consumidores de um dado produto sejam, ao mesmo tempo, produtores
consumidores e
daquele bem. Sendo assim, os agentes econômicos têm comportamentos produtores não são
que podem ser tratados como claramente antagônicos ou concorrenciais, as mesmas pessoas
e têm interesses
com os produtores desejando vender seu produto a um maior preço,
divergentes.
enquanto os consumidores desejam pagar o menor preço. Em outras

palavras, consumidores e produtores não são as mesmas pessoas e têm

interesses divergentes. Assim, se os produtores, desejando aumentar seus

lucros, dobrarem seus preços, ou os consumidores terão de pagar o dobro

pelos bens que adquirirem ou desistirão de comprar aquele produto.

Já na Macroeconomia, quando se procura analisar a produção


nacional e confrontá-la com a demanda agregada, os mesmos
agentes que aparecem do lado do consumo são também os
agentes que deverão aparecer como produtores do lado oposto do
mercado. Isso significa que as mesmas pessoas, com interesses
comuns, devem estar presentes tanto do lado da demanda
agregada, quanto do lado da oferta. Tal condição traz implicações
importantes já que, se os produtores desejarem dobrar seus preços,
para aumentarem sua renda, quando passarem para o outro lado
do mercado, como consumidores que são, deverão ter gastos em

100
unidade 6
ECONOMIA

valores dobrados, o que indica que não terão tido qualquer benefício
de sua ação de aumento dos preços. Ou seja, existe na abordagem
macroeconômica o que se denomina fenômeno de feedback da
renda, que é o elemento que permite que produtores, depois de
produzirem e vender seus bens, quaisquer que sejam eles, recebam
uma renda que lhes permite passar ao lado oposto do mercado,
assumindo a figura de consumidores de qualquer que seja o tipo de
bem. Ou seja, em função desse efeito provocado pela renda, que faz
os mesmos agentes estarem dos dois lados do mercado, não pode
haver interesses concorrenciais.

Por isso, a inflação, representada em nossa ilustração pelos preços


dobrados, embora represente um problema econômico dos mais
sérios e preocupantes, não é capaz de afetar o chamado equilíbrio
macroeconômico da sociedade, uma vez que os preços dobram tanto
Na verdade, a melhor
para quem vende os produtos (oferta dobra de valor) quanto para quem forma de tratamento
os adquire (a demanda simultaneamente dobra de valor). dessa distinção
é reconhecer que
ambas fazem parte
Feitas essas considerações, há que se observar que tanto a de um mesmo
abordagem microeconômica quanto a macroeconômica estudam fenômeno e que
os mesmos fenômenos da vida social, tais como a escassez de se integram e se
interagem.
produtos ou o funcionamento dos mercados, as trocas de produtos
no mercado e a presença de dinheiro e preços. Como veremos a
seguir, há muito mais pontos de convergência entre elas.

Os fundamentos
microeconômicos da
Macroeconomia
Na verdade, a melhor forma de tratamento dessa distinção é
reconhecer que ambas fazem parte de um mesmo fenômeno e que
se integram e se interagem. Para isso, devemos compreender e levar
em conta que enquanto a Microeconomia tenta analisar e entender
os motivos que justificam os processos de tomada de decisão dos

101
unidade 6
ECONOMIA

agentes individuais e suas ações, cabe à Macroeconomia tentar


capturar os efeitos de todas essas decisões e comportamentos no
ambiente econômico. Nesse sentido, vale destacar que tais efeitos
não se apresentam apenas sob a forma ou efeito de uma soma,
mas que esses resultados podem ser contraditórios, já que as
decisões de alguns agentes podem anular ou compensar, parcial ou
totalmente, as decisões e ações de outros. Por outro lado, algumas
ações podem reforçar os efeitos e se somar ou potencializar o
resultado de outras decisões.

Em síntese, o ambiente econômico, espaço em que se desenvolve


a análise macroeconômica caracteriza-se por ser um ambiente
instável, dominado por incertezas, em que os agentes devem se
guiar por expectativas que criam a respeito das condições que irão
prevalecer no mercado.
Por outro lado,
algumas ações
podem reforçar os
O surgimento da efeitos e se somar
ou potencializar o
Macroeconomia resultado de outras
decisões.
e o princípio da
demanda efetiva
Feitas essas considerações iniciais, há que se ressaltar que o
termo Macroeconomia e a preocupação com estudos que levavam
em consideração a economia como um todo foi criado em 1929,
em consequência da crise da grande depressão que, iniciada nos
Estados Unidos, atingiu a todo o mundo. Naquela ocasião, o principal
problema da economia era o elevado número de trabalhadores
desempregados, que, para os analistas da época, era um fenômeno
sem qualquer explicação teórica, uma vez que se supunha que o
mercado de trabalho como todos os mercados sempre estariam
em equilíbrio. Além disso, era pensamento corrente que, em
havendo capacidade produtiva instalada, que representou gasto
de recursos por parte dos empresários, seria irracional não utilizar

102
unidade 6
ECONOMIA

toda a capacidade para produzir. Assim, não haveria motivo para


que a produção a cada ano se reduzisse e o desemprego tomasse
proporções alarmantes.

Foi Keynes quem, com seu livro Teoria geral do emprego, do juro
e da moeda, demonstrou que a existência de capacidade instalada
não é suficiente para levar o empresário a querer produzir. E a razão
era simples: para produzir, o empresário incorre em gastos, seja
adquirindo matéria-prima, seja pagando energia ou ainda horas de
trabalho. O problema é que, ao decidir produzir para obter lucro, o
empresário deve ter alguma expectativa de que conseguirá vender
sua produção. Ele deve acreditar que terá demanda para a sua
produção. Caso esteja pessimista e suas previsões indiquem que
não conseguirá vender o produto gerado, recuperando os seus
custos e obtendo lucros, ele preferirá deixar as máquinas paradas, o
que irá acarretar desemprego para seus trabalhadores. O problema é que,
ao decidir produzir
para obter lucro, o
empresário deve ter
alguma expectativa
de que conseguirá
Assim, é a expectativa de gastos, chamada por Keynes de demanda
vender sua
efetiva, que leva o empresário a desejar produzir e gerar emprego e até a produção.
elevar sua capacidade de produção, tomando a decisão de investir. Logo,

Demanda Efetiva é o gasto que os empresários esperam que será feito

pela sociedade e que os estimula a produzir, gerando emprego.

E Keynes foi além, propondo que, quando as expectativas dos


empresários não estivessem otimistas, caberia ao governo
promover medidas para alavancar o crescimento da demanda ou
do desejo de gastar da comunidade, gerando um ambiente que
induzisse ao gasto e à garantia da produção. Em última análise, caso
fosse necessário, o próprio governo deveria elevar suas despesas,
adotando um comportamento que induzisse o empresariado a
manter o nível de sua produção.

Dessa forma, o governo passaria a ter um importante papel perante


a sociedade, atuando no sentido de administrar o nível de demanda

103
unidade 6
ECONOMIA

agregada. Para cumprir essa missão, deveria utilizar-se de


instrumentos de política econômica, dentre os quais, se destacam
as políticas: de caráter monetário – injetando dinheiro no público,
caso os empresários acreditassem que não teriam muitas vendas,
e não se vissem estimulados a produzir. Ou retirando dinheiro de
circulação, caso houvesse a situação contrária de um otimismo
exagerado; de caráter fiscal, reduzindo os impostos para deixar
mais dinheiro à disposição da população, permitindo um aumento
dos gastos, ou aumentando-os na situação contrária.

Ainda considerada uma medida de caráter fiscal, o governo


poderia decidir aumentar seu gasto, ou reduzi-lo, para estimular os
empresários a produzirem ou não:

• praticando políticas de renda, como a fixação do pagamento


de um salário mínimo ou a definição de políticas de
É comum que se
aumento do salário;
aponte a existência
• políticas de câmbio, que afetam a capacidade de o País
de três variáveis
consideradas
realizar vendas para clientes residentes em outros países ou
fundamentais como
a capacidade de brasileiros adquirirem produtos importados. objeto de estudo da
Macroeconomia.

As principais variáveis e
os problemas-chave da
Macroeconomia
É comum que se aponte a existência de três variáveis consideradas
fundamentais como objeto de estudo da Macroeconomia.

A primeira delas é a produção nacional, ou seja, a totalidade dos bens

produzidos em uma sociedade para atender às necessidades de sua

população. Como já foi visto, por englobar bens e serviços de diferentes

espécies, não há como se obter uma soma que expresse o total de bens

104
unidade 6
ECONOMIA

produzidos em um país, em dado período de tempo. Para resolver esse

problema, nos utilizamos de valores monetários, unidade comum a todos os

bens que são gerados e destinam-se ao mercado no qual serão vendidos.

Dessa forma, a variável que nos indica a produção nacional é dada pelo

valor da produção, que os economistas chamam de produto. O produto,

ou valor da produção, é que indica em que medida o país está atendendo

às necessidades de sua população, embora sem entrar no mérito quanto

à qualidade dos bens que estão sendo gerados. Como medida do bem-

estar da população, embora sujeito a críticas, o produto pode ser calculado

em relação a cada habitante, a partir da divisão do produto pelo total da

população, chamado de produto per capita.

Levando-se em conta que a população de um país tende a sofrer Dessa forma, a


variações, experimentando um crescimento, na maioria das vezes, é variável que nos
comum associarmos a essa variável-chave o problema do crescimento
indica a produção
nacional é dada pelo
econômico. Assim, se a população se expande a uma dada taxa de valor da produção,
crescimento vegetativo, a produção deve, no mínimo, crescer a essa que os economistas
mesma taxa, para que cada indivíduo seja capaz de manter o mesmo chamam de produto.
padrão de vida ao longo do tempo.

Como o crescimento depende de o país ter capacidade de aumentar


sua produção ou de expandir sua capacidade produtiva e como
essa é uma decisão que depende dos gastos em investimento dos
empresários, grande importância é dada a esse tipo de decisão de
gasto empresarial.

Atrelada a essa decisão de investir e com grande capacidade de

afetá-la, outra variável importante deve ser considerada pela análise

macroeconômica, a taxa de juros, que representa, de um lado, o custo de

se tomar dinheiro emprestado para poder financiar projetos de expansão

que representa, em geral, gastos elevados. Por outro lado, ciente de que

105
unidade 6
ECONOMIA

o empresário visa não apenas obter lucros, mas obter lucros máximos,

independente de sob qual aplicação de seus recursos, uma taxa de juros

elevada pode induzi-lo a optar por utilizar seu capital em aplicações que

rendem juros, como as aplicações financeiras, o que não contribui para o

crescimento da produção nem para a melhora do bem-estar da população.

A segunda variável-chave a ser considerada é o nível geral de preços,


cujo comportamento está intimamente vinculado ao problema da
inflação, ou seja, a elevação generalizada, sustentada e persistente
de preços em uma economia.

Antes de avançarmos, algumas observações devem ser realizadas para


facilitar a sua compreensão, prezado aluno. Como vimos, a produção
de um país deve ser avaliada de acordo com seus preços de mercado.
Como é fácil
Pelo fato de existirem vários produtos com preços distintos, uns
perceber, um
mais caros, outros mais baratos, é fácil perceber que há uma grande aumento de
diferença quando a alteração se dá no preço de um bem como um 1% no preço de
automóvel, cujo valor por unidade é mais elevado que o preço de um
um automóvel
representaria um
litro de leite ou o aumento de uma passagem do transporte coletivo. valor mais elevado
Como é fácil perceber, um aumento de 1% no preço de um automóvel e teria um impacto
representaria um valor mais elevado e teria um impacto maior que o maior que o aumento
do preço do leite ou
aumento do preço do leite ou do transporte, muito embora esses dois
do transporte.
últimos bens tenham muito mais importância para a população como
um todo e, por isso, sejam consumidos em maiores quantidades na
sociedade.

Justamente para contornar esses problemas, e levar em conta


o peso do aumento principalmente dos bens que sejam mais
importantes para a população, contando com o apoio de
ferramentas estatísticas, a economia criou o conceito de um nível
geral de preços, que pode ser entendido como o preço total de um
carrinho de compras dos produtos que a população, em média,
adquire. Isso nos leva a preocupar em acompanhar alterações
do preço total das compras, sem considerar quais os produtos
que sofreram maiores variações, ou qual deles variou e em que
direção. Nossa preocupação passa a ser então acompanhar o

106
unidade 6
ECONOMIA

comportamento do que chamamos de um índice de preços.

Por isso, a inflação é definida como o aumento generalizado de


preços, não sendo considerada inflação a situação em que apenas
o preço de um produto, como o tomate, por exemplo, apresenta
majoração. Afinal, pode acontecer de o preço do tomate, em alta,
ser compensado pelo preço do feijão em baixa no mesmo período.
Além disso, para caracterizar o fenômeno inflacionário, os preços
têm de estar se elevando de forma sustentada e persistente.
Essa exigência é para impedir de se considerar como problema a
elevação de preços que acontece por motivo de sazonalidade.

Ou seja, você já percebeu que, no verão, os preços de produtos tais como

refrigerantes e sorvetes sobem, ao passo que, no inverno, são os preços de Tais fenômenos,
que tendem a
agasalhos que sofrem acréscimos.
ser anulados na
medida em que as
Tais fenômenos, que tendem a ser anulados na medida em que estações climáticas
se alteram, não
as estações climáticas se alteram, não caracterizam inflação.
caracterizam
Sustentado é o aumento de preços que, na ausência de medidas inflação.
corretivas, tendem a se propagar ao longo do tempo.

Embora a inflação seja o problema mais comum experimentado


na economia brasileira, em relação ao comportamento do índice
geral de preços, outro problema igualmente grave pode ter lugar
na sociedade. Esse é o caso que vem sendo enfrentado por países
europeus como consequência da crise internacional de 2008 e é
denominado de Deflação.

Define-se como deflação a queda generalizada, sustentada e persistente

dos preços, caracterizando uma situação justamente oposta ao fenômeno

da inflação

107
unidade 6
ECONOMIA

O problema sério vinculado à deflação é que ela pode levar os


empresários a se sentirem desestimulados a produzirem, com
receio de os preços não conseguirem compensar os custos da
produção. Com isso, há uma ligação estreita entre a deflação e o
fenômeno do desemprego.

A terceira variável-chave é a taxa de desemprego, ligada ao


problema do desemprego.

Por taxa de desemprego, entende-se o total da população

desempregada dividida pelo total da população economicamente

ativa chamada PEA. Explicando melhor, enquanto a PEA consiste na

oferta de trabalho de um país, sendo igual ao total da população que

se dirige ao mercado de trabalho desejando-se oferecer para trabalhar,

a população desempregada é a parcela que não obteve sucesso, não A terceira variável-
sendo contratada.
chave é a taxa de
desemprego, ligada
ao problema do
Nas discussões relativas ao problema do desemprego, suas causas desemprego.
e as ações necessárias para sua redução, é comum que outras
variáveis importantes sejam consideradas, como a taxa de salários,
o preço da mão de obra. Para alguns, a elevação de salários exerce
um importante papel na explicação do desemprego, especialmente
quando tais aumentos não correspondem a aumentos na
produtividade dos trabalhadores, o que pode gerar o fenômeno da
inflação ou do desemprego.

No caso da inflação, a hipótese é que os empresários que têm


poder de mercado repassam para seus preços o efeito dos
salários maiores. No caso do desemprego, o efeito inicial da
elevação dos salários é a compressão da margem de lucros dos
empresários que não têm capacidade de repassar os aumentos
para seus preços. Com lucros reduzidos, os empresários optam
por reduzir a quantidade produzida, provocando a dispensa de
trabalhadores.

108
unidade 6
ECONOMIA

Por fim, outra variável importante, objeto da análise macroeconômica,

é a taxa de câmbio definida como o preço em nossa moeda, de uma

moeda estrangeira. Ou seja, quando se anuncia que o preço de um dólar

é equivalente a R$ 2,70, isso significa que a taxa de câmbio de um dólar é

de R$ 2,70.

A taxa de câmbio exerce importante efeito tanto na explicação


de nossas relações com outras economias, afetando nossas
exportações e nossas importações, quanto interfere também na
questão do desemprego e da própria inflação.

Vale observar que tais variáveis e os problemas a elas


relacionados podem interagir entre si, levando, em algumas
oportunidades, à situação identificada como de existência de
conflitos de objetivos.

Assim, em geral, admite-se que o problema da inflação seja


causado pela existência de um excesso de Demanda Agregada
que a capacidade produtiva da economia não tem condições de
atender. Ou seja, mesmo que a economia estivesse produzindo
a pleno emprego, não teria condições de fornecer a totalidade
dos bens e serviços demandados pela sociedade. Como
consequência dessa escassez, os preços iriam começar a
se elevar. Para contornar tal problema, a política econômica
recomendada deveria consistir em medidas capazes de induzir a
uma redução do montante da demanda agregada.

Por outro lado, ao atuar no sentido de promover a redução da


Demanda Agregada, a política econômica poderia acarretar a
situação inversa, caracterizada pela insuficiência da demanda
agregada cujo resultado mais imediato seria o surgimento de
capacidade ociosa e desemprego de mão de obra.

109
unidade 6
ECONOMIA

Estrutura básica
do modelo
macroeconômico
Tendo em vista a estrutura básica e o funcionamento do modelo
macroeconômico, verifica-se que ele é composto basicamente por:

• mercados de produtos, em que se trocam bens e serviços,

• mercado de trabalho,

• mercado monetário e

• mercado externo.

Com relação ao mercado de produtos, a condição de equilíbrio


seria dada pela igualdade entre a Demanda Agregada, decomposta Ou a oferta agregada
de bens e serviços
em seus vários elementos, e a produção necessária para seu
deve ser igual à
atendimento. Ou a oferta agregada de bens e serviços deve ser igual Demanda Agregada
à Demanda Agregada de bens e serviços. de bens e serviços.

Tendo em vista que a geração da produção exige o emprego dos


fatores de produção e que o valor da produção gerada corresponde
exatamente ao valor dos pagamentos realizados aos proprietários
desses fatores, incluindo o pagamento do lucro feito ao proprietário
do capital, pode-se afirmar que o valor da produção é de mesma
magnitude que a renda nacional a que ela dá origem.

Fruto dessa condição, podemos afirmar que a equação de equilíbrio é


dada pela igualdade entre a renda nacional (Y) e a soma de valores de
gastos realizados pelas famílias na aquisição de bens de consumo
(C), dos gastos realizados pelos empresários para a aquisição de
bens de investimento (I), dos gastos coletivos realizados pelo governo
(G) e da diferença entre o total dos gastos feitos por nossos clientes
situados no exterior (X), deduzidos os gastos feitos pelos brasileiros
de bens importados (M). Em símbolos:

110
unidade 6
ECONOMIA

Y = C + I + G + (X – M)

Na busca de se administrar a Demanda Agregada, torna-se


importante identificar os fatores determinantes do comportamento
de cada grupo de agentes responsáveis por cada tipo de gastos, de
forma a poder promover alterações em seus comportamentos.

Dessa forma, identifica-se a renda das famílias, deduzida do


pagamento dos impostos, como a principal variável determinante
dos gastos de consumo, com papel auxiliar sendo atribuído a fatores
como a taxa de juros, capaz de afetar o montante de compras a
prazo.

No caso do investimento, o principal fator a afetar a decisão dos


empresários é o custo do dinheiro, representado pela taxa de juros,
Tendo em vista
que deverá ser comparada à rentabilidade esperada do projeto. esses fatores,
adquire especial
Os gastos do governo são considerados como decorrentes de
interesse o
comportamento do
fatores alheios à situação econômica e ao funcionamento da
mercado monetário,
economia, enquanto os gastos do setor externo são influenciados cuja condição de
pela taxa de câmbio. equilíbrio é dada pela
igualdade:

Tendo em vista esses fatores, adquire especial interesse o


comportamento do mercado monetário, cuja condição de equilíbrio
é dada pela igualdade:

Oferta de moeda = demanda de moeda

Nesse mercado, a oferta de moeda é determinada de forma


discricionária pela autoridade monetária, ou o Banco Central,
enquanto a demanda de moeda pela sociedade se justifica
pela necessidade de existência de dinheiro para financiar os
gastos de transações efetuadas pelos agentes econômicos, pela
necessidade de liquidez para honrar compromissos assumidos
e pela manutenção de reservas de saldos monetários, a fim de
lidar com situações inesperadas ou imprevistas ou aproveitar de

111
unidade 6
ECONOMIA

oportunidades de lucros ocasionais.

Do equilíbrio do mercado monetário, decorre a fixação da taxa de


juros, cujos impactos sobre o mercado de produtos não podem ser
desprezados. Quanto aos outros mercados, como o de câmbio (ou
moeda estrangeira), também produzem impactos importantes sobre
nosso mercado de produtos. Isso porque é a taxa de câmbio que
permite comparar e estabelecer relações de equivalências entre os
preços de nossos produtos (fixados em nossa moeda) e os produtos
estrangeiros (em dólares, por exemplo).

Assim, se o preço de uma moeda estrangeira (o dólar, por exemplo) é

igual a R$ 1,00, e o preço de um mesmo produto corresponde a R$ 150,00

em nosso País e a 130 dólares, então, será mais interessante para nós Do equilíbrio do
mercado monetário,
brasileiros comprarmos esse produto nos Estados Unidos, em que ele é
decorre a fixação
mais barato. Contudo, caso nossa moeda perca valor e o dólar passe a da taxa de juros,
valer R$ 2,00, o mesmo sapato feito no nosso País passa a corresponder a cujos impactos
sobre o mercado de
um valor equivalente a U$ 75, ampliando nossas vendas de exportação e
produtos não podem
permitindo o aumento de nossa demanda agregada e de nossa produção, ser desprezados.
emprego e renda.

Inflação e Sistema de
Metas de Inflação
Por ser o problema que acarreta mais preocupações à população
e aos analistas econômicos de nosso país, dados os efeitos
de empobrecimento que provoca em todos os agentes sociais,
a inflação merece um cuidado especial por parte de nossas
autoridades econômicas.

Ao representar o aumento generalizado dos preços dos produtos


em nosso País, a inflação é um problema que corresponde a uma

112
unidade 6
ECONOMIA

corrosão do poder de compra de nossa moeda. Isso significa que,


caso um agente receba a mesma quantia de dinheiro ao longo de
um período de tempo, ele terá condições de consumir cada vez
menores quantidades de bens, o que lhe transmite uma sensação
de gradativo empobrecimento. Evidentemente que essa situação
atinge de forma mais contundente a todos os que vivem de renda
fixa, determinada, como os assalariados, incapazes de aumentarem
seus preços quando o desejam.

Por outro lado, sendo medida pela variação de um índice geral de


preços, que lida com uma média dos preços praticados, a maior parte
dos agentes sabe que alguns preços podem subir mais enquanto
outros podem subir menos que a inflação. Por esse motivo, é que
Evidentemente
a inflação é considerada um elemento que impossibilita o cálculo
que essa situação
econômico ou as previsões que os empresários devem fazer para atinge de forma
verificar se vale a pena produzir ou não, se os investimentos que mais contundente
a todos os que
pretendem realizar serão lucrativos ou não.
vivem de renda fixa,
determinada, como
Sem condições de estabelecer relações confiáveis entre a os assalariados,
velocidade de aceleração dos preços de seus produtos e a dos incapazes de
aumentarem seus
preços dos fatores que utilizam como insumos da produção, já que
preços quando o
tais informações se referem a eventos futuros, a inflação prejudica desejam.
a decisão dos empresários e podem levar à estagnação econômica.

Ciente de tais efeitos, e de forma a transmitir maior segurança


aos agentes econômicos, é que o governo adotou um sistema de
política econômica destinado a assegurar à sociedade qual a meta
de inflação que deverá ser obtida no período de um ano.

Por tal sistema, o governo anuncia à sociedade um valor para


o patamar de elevação dos preços que julga tolerável para a
sociedade. Para dar maior credibilidade a tal compromisso, essa
proposta assume o caráter de uma lei, sendo apreciado e aprovado
pelos representantes da sociedade. Tal anúncio pode ser feito
a partir do estabelecimento de um valor meta, ou, como no caso
brasileiro, indicar, além do alvo, um intervalo de tolerância para a

113
unidade 6
ECONOMIA

variação dos preços.

No caso brasileiro, o limite atual já há alguns anos está fixado em


4,5% para o valor da meta, com tolerância de dois pontos percentuais
para mais ou para menos. No caso de não cumprimento da meta,
ou de desrespeito aos limites aprovados, a autoridade monetária
deverá apresentar suas justificativas em carta aberta à sociedade.

Como pressuposto básico do sistema, pode ser apontada a ideia


de que a inflação é exclusivamente decorrência de um excesso
de demanda, em especial, fruto do excesso de gastos públicos
elevados. Nesse sentido, filia-se à tradição que considera que toda
a intervenção governamental deve ser evitada, já que impede o livre
funcionamento das forças de mercado. Outra premissa
é a de que o
Outra premissa é a de que o instrumento mais apropriado, senão o instrumento mais
apropriado, senão
único, capaz de combater o excesso de gastos consiste na elevação
o único, capaz de
da taxa de juros básica de curto prazo, no caso brasileiro, a taxa combater o excesso
Selic. de gastos consiste
na elevação da taxa
de juros básica de
Aliado a essas condições, o sistema tem como principal curto prazo, no caso
preocupação a de ampliar a transparência de informações brasileiro, a taxa
transmitidas ao mercado, que pode, por meio do acompanhamento Selic.
de um índice de preços selecionado, acompanhar o êxito dos
esforços do governo em obter o objetivo proposto. Serve ainda
para, no caso da antecipação de qualquer insucesso, sinalizar aos
tomadores de decisão quanto à adoção de medidas monetárias de
cunho mais restritivo, permitindo que eles incorporem o impacto de
tais medidas em seus cálculos.

No Brasil, adotado desde o ano de 1999, quando foi criado o índice de


preços utilizado como balizador das decisões do governo, é o INPC
amplo. Vale observar que, enquanto a meta numérica e o intervalo
de tolerância é definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN),
compete ao Conselho de Política Monetária (COPOM), composto
por todo o colegiado de diretores do Banco Central, estabelecer a

114
unidade 6
ECONOMIA

taxa de juros Selic em reuniões que acontecem a cada período de


45 dias.

Contabilidade Nacional
– Medindo o PIB ou
Avaliando o Nível de
Atividade Econômica
Em tese, o PIB deveria ser avaliado pelo grau de satisfação
proporcionado pelos bens e serviços produzidos na economia a
todos que os consumiram. Na impossibilidade de medir grau de
satisfação, mede-se o preço dos bens, supondo que o preço indica
o grau de prazer. Supõe-se que, se
um bem custa duas
Supõe-se que, se um bem custa duas vezes mais do que outro, e vezes mais do que
outro, e ainda assim
ainda assim é adquirido, é porque presta o dobro de satisfação ao
é adquirido, é porque
consumidor. presta o dobro
de satisfação ao
consumidor.

PIB – ou produto interno bruto, corresponde ao valor dos bens e serviços

produzidos no interior de um país, em um ano. A mensuração considera

que, como os bens têm preços, basta multiplicar as quantidades de bens

por seus preços de mercado (aqueles das etiquetas, das tabelas etc.).

Quanto aos serviços, embora tenham mercado para suas


transações, caracterizam-se por não terem um preço único para
um mesmo tipo de serviço.

Serviço de consulta médica – enquanto há médicos que cobram 50

reais, outros cobram 200 por uma consulta. Logo, como tratar o preço de

uma consulta? A resposta, caro estudante, é por seu custo. Serviços são

115
unidade 6
ECONOMIA

avaliados por quanto custaram.

Outro importante tipo de produção, os serviços públicos, também


devem ser avaliados por seu custo. Mas como o governo só
pode gastar o valor que foi orçado, o custo do serviço público de
segurança ou educação ou saúde é o que o orçamento prevê que o
governo venha a gastar.

Existem duas exceções que são consideradas no cálculo do valor


da produção, embora constituídas por produtos que não vão ao
mercado e não têm preço. São produtos que têm valor imputado
ou atribuído. Tais produtos são a lavoura de autossubsistência e o
aluguel de casa própria: a lavoura, avaliada pelo preço que o produto
alcançou no mercado, mesmo que o seu proprietário não o tenha
levado para negociação, retendo-o para seu próprio consumo;
Existem duas
o aluguel da casa própria, pelo aluguel de mercado de imóvel exceções que são
semelhante. A ideia que sustenta tal comportamento é a de que o consideradas no
aluguel é o pagamento feito não pela casa, mas pelo serviço que ela
cálculo do valor da
produção, embora
(tal qual um máquina) presta, no caso de o serviço de habitação ou
constituídas por
moradia. Se quem não tem casa própria paga aluguel pelo serviço produtos que não
de moradia, quem mora em casa própria também obtém serviço vão ao mercado e
não têm preço.
semelhante e deveria pagar um aluguel (a si mesmo).

Ao se medir o PIB, e dado que esse conceito refere-se ao valor da


produção, o primeiro agregado que é avaliado é o chamado PIB a
preços de mercado - PIBpm, obtido pela multiplicação dos produtos
aos preços pelos quais estão sendo negociados no mercado.
Como você pode perceber, na maioria das vezes esse preço tende
a superar o preço que de fato deveria estar sendo cobrado, pela
produção da mercadoria.

Isso acontece porque o governo cobra impostos sobre a produção


e a circulação de mercadorias, e os empresários repassam a
totalidade de tais impostos para os consumidores. Assim, o imposto
que não corresponde a qualquer produção real, eleva o preço do
produto, devendo ser retirado do cálculo, para que o real custo da

116
unidade 6
ECONOMIA

produção seja considerado. Logo:

PIB pm – Impostos Indiretos = PIB a custo de fatores

Para uma minoria de produtos considerados muito importantes, ao


contrário o governo concede subsídios ao produtor, pagando a ele
uma parte, para que ele possa colocar seu produto a venda por um
preço mais reduzido.

Com isso, a fórmula fica:

 PIB pm – Impostos Indiretos + Subsídios = PIB custo de fatores

Outra observação importante é relativa ao fato de a mensuração


do PIB incluir apenas o valor dos bens finais. A justificativa para
tal comportamento é a de que, da mesma forma que o bem final
Outra observação
incorporou a matéria-prima que nele se transformou (deixando de
importante é
ter existência física), o preço do bem final incorpora em seu valor o relativa ao fato de a
preço da matéria-prima. Logo, o preço da matéria-prima produzida mensuração do PIB
incluir apenas o valor
já é automaticamente contabilizado quando tomamos o preço do
dos bens finais.
bem final.

Mas e as matérias-primas que não sofreram transformações


e que ficaram em estoque no fim do ano ou foram exportadas?
Nesse caso, se tais matérias-primas foram produzidas no ano em
curso, como seu valor não foi incorporado no preço de nenhum
bem final, serão também contabilizadas como ajustes ao valor
dos bens finais.

E qual deve ser o tratamento da parte dos bens finais que foi exportada
e não ficou no País? A resposta é que deve ser contabilizada, por tratar-
se de produção feita pelo país, no ano.

No caso de o país utilizar para a produção ou matéria-prima ou


insumo importado ou que tivessem sido retirados de estoque, por
serem objeto de produção em ano anterior, qual seria o tratamento

117
unidade 6
ECONOMIA

dado a elas? Neste caso, embora o bem final incorporasse o preço


do material importado, o fato de esse valor não ter sido fruto de
produção realizada no interior do país, deveria levar à exclusão
desse valor importado no cálculo final.

Caso a matéria-prima tivesse sido gerada – e já contabilizada


como ajuste de variação de estoque de ano anterior, quando foi
produzida – contá-la novamente neste ano seria indevido. Logo, se
ela foi objeto de transformação em bem final, seu valor deveria ser
excluído do preço do bem a que ela deu origem.

Logo: a fórmula adotada para a medição do PIB, pelo método dos


bens finais, é:

Bens finais multiplicados por seu preço.


Caso a matéria-
Mais: exportações (de bens acabados ou de matérias-primas). prima tivesse
sido gerada – e já
Menos: importações. contabilizada como
ajuste de variação
Mais: matérias-primas e bens que foram estocados (acresceram os de estoque de ano
anterior, quando foi
estoques).
produzida – contá-
Menos: matérias-primas retiradas de estoques (decréscimos de
 la novamente neste
ano seria indevido.
estoques).

Ou:

Bens x preços.

+ ou – (exportações – importações).

+ ou – (variações de estoques).

O PIB pode ainda ser calculado por outro método, chamado de


método do valor agregado em cada unidade de produção (ou
empresa). Nesse caso, basta calcular o valor agregado, conceito
que corresponde ao valor do bem produzido pela unidade menos o
valor das matérias-primas ou insumos utilizados.

118
unidade 6
ECONOMIA

Valor Agregado =

Valor do bem produzido (final ou intermediário) –


valor da matéria-prima utilizada na produção

Como já mostrado, o PIB é sempre calculado a preço de mercado.


Mas o preço de mercado é, em geral, inflado artificialmente, por
força do imposto indireto que incide sobre os bens (como o IPI e o
ICMS). O imposto indireto eleva o preço do bem e não corresponde
a qualquer produção, do mesmo jeito que o subsídio pago pelo
governo aos produtores, que reduz o preço de mercado do bem.

Para eliminar as distorções do sistema tributário sobre o valor da


produção, calcula-se o valor a preço de mercado menos o imposto
indireto ou mais os subsídios para se obter o PIB a custo de fatores O PIB não revela
(que indica quanto custou o ato de produzir). o valor que foi
gerado apenas
pelos nacionais.
Custos de fatores são os pagamentos feitos ao trabalho, à terra Ao contrário,
(representando os recursos naturais) e ao capital, fatores de considera todo o
produção sem os quais a produção não seria realizada. valor produzido no
interior do território
nacional, por
agentes de qualquer
nacionalidade.
Ao se falar em PIB, o valor indicado não deduz a depreciação (o desgaste

de máquinas e equipamentos usados na produção e que, por esse motivo,

não valem mais o mesmo que antes).

O PIB não revela o valor que foi gerado apenas pelos nacionais. Ao

contrário, considera todo o valor produzido no interior do território nacional,

por agentes de qualquer nacionalidade.

Cabe ao conceito de PNB expressar o valor produzido pelos nacionais,

em qualquer lugar do mundo (tanto no interior dos limites do território

nacional, quanto em outros países).

Assim, para se calcular o valor do PNB basta aplicar a fórmula que indica

que o PNB é:

119
unidade 6
ECONOMIA

PNB = PIB – renda enviada ao exterior + renda recebida do exterior

Além disso, se deduzirmos do valor da nova riqueza gerada a perda de

valor por depreciação dos bens de capital, teremos que:

PIB – a depreciação = PIL

Ainda, pode ser feita uma distinção entre o valor do PIB que pode ser

chamado de:

PIB nominal – quando o valor da produção é feito utilizando os preços que

estavam sendo praticados no ano, preços correntes ou preços vigentes.

PIB real – quando o valor da produção é realizado utilizando-se os

mesmos preços de um ano escolhido como ano-base, que é usado como

embasamento para comparação. Nesse caso, o valor é obtido como se PIB nominal –
quando o valor da
não tivesse havido inflação no período compreendido entre aquele ano e o
produção é feito
ano o qual estamos avaliando. utilizando os preços
que estavam sendo
A importância desse conceito é impedir que variações do produto, que praticados no ano,
poderiam indicar que o País está crescendo sua produção e melhorando preços correntes ou
o padrão de vida de sua população, não fossem explicadas por meras
preços vigentes.
elevações de preços, mas por melhorias reais na quantidade física dos

bens gerados.

Também pode ser feita referência ao PIB potencial – que indica quanto

o País poderia estar produzindo se estivesse utilizando toda a sua

capacidade produtiva (que tende a se ampliar ao longo do tempo, em

especial, por sempre estar aumentando o número de trabalhadores do

País = crescimento populacional). Também chamado de PIB de pleno

emprego.

Em contraposição ao PIB potencial, existe o PIB efetivo – que indica

o quanto o país está de fato produzindo ou usando de sua capacidade

produtiva.

120
unidade 6
ECONOMIA

Tais conceitos permitem estabelecer que, se o PIB efetivo for maior que

o Potencial, o que é uma impossibilidade física, os preços estão subindo:

INFLAÇÃO. Se o PIB efetivo for menor do que o potencial: DESEMPREGO.

A renda nacional
O pagamento feito aos proprietários dos fatores que participaram do
processo de produção é chamado de renda e pode ser decomposto
em:

Salário – pagamento a quem vendeu mão de obra;

Aluguel (ou renda da terra) – a quem vendeu o direito ao uso de


sua terra ou propriedade;

Além disso, por


Lucro – para aqueles agentes que venderam o direito ao uso de seu definição, temos que
capital (máquinas, instrumentos, equipamentos, prédios) na forma
a renda nacional RN
é sempre de mesmo
física; valor que o PNL a
custo de fatores
Juro – para os agentes que venderam o direito ao uso de capital na (PNLcf).
forma monetária (de dinheiro).

Assim:

RN = Y = Salários + Lucros + juros + aluguéis

Além disso, por definição, temos que a renda nacional RN é sempre


de mesmo valor que o PNL a custo de fatores (PNLcf).

Acompanhe a comprovação:

• PIB pm subtraída da Renda enviada pelos estrangeiros ao


exterior acrescida da renda recebida dos nacionais que
estavam produzindo no estrangeiro = PNB pm

• PNB pm menos Impostos indiretos (mais subsídios, se

121
unidade 6
ECONOMIA

houver) = PNB cf

• PNB cf menos depreciação = PNL cf

• PNL cf que representa o custo dos fatores é o mesmo que


o pagamento feito a esses fatores de produção, ou RN =
Salários + Lucros + juros + aluguéis.

Renda pessoal e renda


pessoal disponível
A partir da renda nacional, pode-se calcular a renda pessoal –
definida pela parcela da renda nacional que não foi paga ao governo
a título de impostos e outros tributos ou contribuições, nem ficou
retida pelas pessoas jurídicas (lucros retidos).

RP = salários +
A renda pessoal consiste na parte da renda gerada no País, que aluguéis + juros +
chegou às mãos das pessoas comuns ou famílias. Normalmente,
exclusivamente a
parcela do lucro
a Renda Pessoal ou R.P = RN – Impostos Indiretos – Imposto pago distribuída aos
pelas empresas – Lucros retidos. donos do capital ou
dividendos.
Ou:

RP = salários + aluguéis + juros + exclusivamente a parcela do lucro


distribuída aos donos do capital ou dividendos.

RP = sal + aluguel + juros + dividendos

O conceito de renda pessoal quer mostrar qual a parcela da renda


nacional chegou às mãos da população, para financiar os gastos
necessários a sua vida. Mas, esse conceito pretende ser uma
medida mais ampla do poder de compra ou poder aquisitivo da
população. A razão é que ao lado das pessoas que participam
da produção, e por esse motivo recebem renda, há também uma
faixa da população que não participa da atividade produtiva, seja
por fazer parte de uma faixa etária muito baixa, como a população

122
unidade 6
ECONOMIA

infantil, seja por estarem na situação oposta: os idosos.

Como essas pessoas recebem recursos financeiros advindos de


pensões, aposentadorias, também esse conjunto de recursos devem ser
incluídos na renda pessoal.

Para isso, devemos acrescentar à renda obtida pelos que


participaram da produção a totalidade das transferências de renda
recebidas por aquelas pessoas que não trabalham mais. Além
disso, deve ser excluída a parcela de transferências que os que
têm renda transferiram compulsoriamente ao governo (pagando a
contribuição ao INSS, por exemplo).

Chama-se transferência de renda o valor de um pagamento feito


sem que houvesse qualquer contrapartida em termos de produção
Como essas pessoas
ou venda. recebem recursos
financeiros advindos
de pensões,
aposentadorias,
também esse
São transferências de renda: a mesada dada pelo pai ao filho; a doação conjunto de recursos
que se faz para ajudar um parente desempregado; o pagamento de devem ser incluídos
na renda pessoal.
contribuição para a previdência social; as pensões e aposentadorias que a

previdência paga aos aposentados e viúvas ou filhos menores.

Então:

RP = sal. + juros + lucros distribuídos + aluguéis – transferências


pagas ao governo (contribuição previdenciária) + transferências que
o governo paga ao povo (pensões e aposentadorias).

Como as transferências pagas pelo governo à população tendem


a superar o valor daquelas que ele cobra da mesma população,
dizemos que a renda pessoal é acrescida da soma de transferências
líquidas (transferências pagas menos as recebidas) pagas pelo
governo.

123
unidade 6
ECONOMIA

RP = salário + juros + lucros distribuídos + aluguéis –


transferências líquidas

Ao receberem esse valor, as pessoas sabem que têm de pagar o


imposto de renda ao governo, e sabem que só poderão gastar o
valor que lhes restar depois de pagos os impostos. Isso torna a
renda pessoal disponível = RPd ou RD = RPessoal – imposto de
renda das pessoas físicas. Calculada a Rd, sabemos que as famílias
podem: financiar seus gastos de consumo e, se sobrar alguma
coisa, poupar.

Rd = Consumo + Poupança

Dessa forma,
Dessa forma, chegamos à definição de poupança – cujo significado não chegamos à
é o de não gastar. Poupança significa, isso sim, não gastar em consumo. definição de
Quem gasta comprando uma ação ou uma cota de um fundo ou empresta
poupança – cujo
significado não é
dinheiro ou compra um quadro de Picasso está poupando esse valor que
o de não gastar.
foi despendido, porque não comprou bens de consumo. Poupança significa,
isso sim, não gastar
em consumo.
Despesa nacional
Ao se considerar as categorias em que se decompõe a despesa
nacional, verificamos que a despesa é a soma dos gastos a seguir:

• gastos das famílias na compra de bens de consumo – C;

• gastos das empresas comprando bens de capital ou


realizando investimentos – I;

• gastos do governo (também chamados gastos coletivos ou


sociais) – G;

• gastos dos clientes que compram a nossa produção, mas


que residem fora do país e que constituem as nossas
exportações - Exportações – X;

124
unidade 6
ECONOMIA

• gastos nossos, comprando bens no exterior - nossas


importações – M.

DN = C + I + G + X – M

a) o consumo das famílias é financiado com a RPd (renda pessoal disponível),

mas as famílias podem, além de consumir, gastar com a compra de casa

própria. Excepcionalmente, nesse caso, a casa própria é considerada

investimento. A rigor, é o único gasto de investimento familiar.

b) a poupança das famílias, por intermediação do sistema financeiro

ou bancário, constitui parte dos recursos que podem ser colocados

à disposição das empresas, para que essas possam investir, ou

emprestados ao governo, para que esse possa financiar seus gastos.


Se o governo
Entretanto, esses recursos compõem a menor parcela dos recursos gasta mais do
utilizados pelos empresários, já que a maior parte de recursos que que aquilo que é
sua arrecadação
obtém, são provenientes da concessão de créditos bancários, ou seja,
de impostos, ou
dinheiro que os bancos criam. arrecadação bruta,
ele tem um déficit
c) outras fontes de financiamentos a que as empresas têm acesso são orçamentário.
ainda aqueles originários de empréstimos externos (poupança externa

feita pelas famílias estrangeiras), ou de incentivos do governo, ou ainda

pelos lucros por elas acumulados, ao longo do tempo (chamados de

lucros retidos).

d) se o governo gasta mais do que aquilo que é sua arrecadação de

impostos, ou arrecadação bruta, ele tem um déficit orçamentário.

Logo, quando:

Gastos públicos > arrecadação, afirma-se que o governo gerou um déficit.

Se:

Gastos < arrecadação, o governo apresenta um superávit.

e) A arrecadação bruta – ou carga tributária bruta – indica tudo que

o governo arrecada, já deixadas de fora as isenções, imunidades

125
unidade 6
ECONOMIA

concedidas. Se, da carga bruta, diminuirmos os subsídios e

transferências pagas à sociedade, teremos a carga líquida.

f) Existem dois tipos de déficit ou de superávit.

Se, nas despesas, não consideramos o gasto do governo pagando

juros ou correção monetária ou cambial àqueles que, sendo seus

credores, permitiram que ele se financiasse, então teremos o que

chamamos de resultado PRIMÁRIO. Se os gastos com juros e correção

são incluídos, o resultado é nominal ou global.

g) O resultado de X – M ou saldo comercial é a soma do resultado da

balança comercial acrescido do resultado da balança de serviços-

mercadoria, também chamados de serviços não fatores. A distinção

que se faz é devido a que a Balança comercial engloba toda a venda

(exportação) e compra (importação) de bens físicos. Os bens que não

têm realidade física como fretes, gastos de turismo, gastos de seguros,

ou gastos de representação diplomática, ou ainda a remessa de lucros

ou o pagamento de juros, integram a balança de serviços (ou invisíveis).

Por fim, pode ser demonstrado que sempre:

PIB = Renda = Despesa

Dessa forma, pode-se mostrar que a renda recebida pelas pessoas

(suponhamos $ 500 mil) é que permite a elas realizarem suas despesas

(no valor de $ 500 mil), comprando os bens e serviços que vão compor a

totalidade da produção (também no valor de $ 500 mil), fechando o círculo

do fluxo de mercado.

Reconhecida a importância do princípio da demanda efetiva, a análise

macroeconômica passou a admitir a possibilidade da ocorrência de

situações de equilíbrio associadas à existência de um nível de produção

em plano abaixo do pleno emprego.

126
unidade 6
ECONOMIA

Isso significava a possibilidade de a economia estar atravessando um

período em que os empresários não se sentissem estimulados a colocar

em funcionamento toda a capacidade produtiva que possuíssem, dado

o nível considerado insuficiente dos gastos pretendidos pelos agentes

sociais.

Nesse caso, embora operando em condição de equilíbrio, já que toda a

demanda estaria sendo satisfeita pela produção, a economia estaria com

uma produção abaixo do pleno emprego, ou seja, estaria convivendo com

o desemprego involuntário, em que os trabalhadores não são contratados,

mesmo desejando trabalhar.

Segundo o modelo keynesiano, identificada essa situação, competiria

Se as medidas ao governo, como agente privilegiado, a adoção de medidas de política


adotadas pelo econômica que pudessem promover alterações no ambiente econômico,
governo não
destinadas a provocar transformações no estado de expectativas dos
fossem suficientes
para levarem o empresários, induzindo-os a se tornarem mais otimistas, mais confiantes
empresariado a e levando-os a expandirem seus projetos de investimento e seus planos de
alterar seu humor, produção.
o governo deveria,
ele mesmo, ampliar Em último caso, se as medidas adotadas pelo governo não fossem
seus gastos,
suficientes para levarem o empresariado a alterar seu humor, o governo
buscando manter ou
elevar tanto o nível deveria, ele mesmo, ampliar seus gastos, buscando manter ou elevar tanto
de emprego quanto o nível de emprego quanto o nível da demanda agregada.
o nível da demanda
agregada. Foi agindo nesse sentido que, em 2008/2009, quando a crise financeira

iniciada nos Estados Unidos espalhou-se por toda a economia mundial e

uma onda de pessimismo varreu todas as principais economias do mundo,

atingindo inclusive o Brasil, cuja produção apresentou retração em 2009,

a equipe econômica do governo do presidente Lula começou a tomar

medidas destinadas a contrabalançar a redução dos gastos empresariais.

Foi essa decisão de adotar medidas ditas anticíclicas, por irem na

contramão da evolução natural da economia, que permitiu ao presidente

Lula afirmar que a crise econômica não atingiria o Brasil como um tsunami,

mas chegaria aqui como uma marolinha.

Mas o que estava ocorrendo, de fato? A resposta é que a quebra de

grandes instituições financeiras americanas acabou levando alguns

127
unidade 6
ECONOMIA

bancos internacionais a limitarem fortemente a sua concessão de

empréstimos. Essa medida tinha como explicação o medo dos bancos de

que alguns clientes não pudessem honrar seus compromissos, tornando-

se inadimplentes em razão de terem perdido suas aplicações nos bancos

falidos.

Sem linhas de capital de giro, as empresas tiveram de reduzir seu nível de

atividade em todo o mundo, reduzindo o volume de produção e vendas, o

que afetou também as empresas brasileiras. Para que essas não tivessem

de promover cortes de produção e empregos, as autoridades econômicas

resolveram adotar medidas de incentivo ao gasto privado. Para isso,

reduziram os impostos sobre a produção de automóveis, o que permitia a

redução do preço dos carros. Da mesma forma, reduziram o IPI (imposto

sobre produtos industrializados) do material de construção, estimulando

os gastos com reformas e compra de imóveis e incentivando a indústria

da construção civil, grande geradora de emprego.


Outra medida foi
a decisão de não Adicionalmente, mantiveram a política de elevação do salário mínimo
repassar aumentos acima da inflação e deram incentivos ao programa de bolsas, visando
do custo do petróleo
manter a renda e o poder de consumo das famílias de menor poder
para a gasolina,
segurando o preço aquisitivo. Aliado a isso, promoveram um programa de redução de juros,
dos combustíveis. puxado pelas taxas de crediário praticadas pelos bancos oficiais, Banco do

Brasil e Caixa.

Também incentivaram os empresários, adotando medidas para desonerar

a folha de pagamentos de ramos da indústria, concedendo empréstimos a

juros subsidiados pelo BNDES, concedendo redução nas tarifas de energia

elétrica.

Outra medida foi a decisão de não repassar aumentos do custo do petróleo

para a gasolina, segurando o preço dos combustíveis.

Foram várias as medidas adotadas, ditas de caráter keynesiano, que

permitiram que o Brasil apresentasse um crescimento do PIB de 7,5% no

ano de 2010.

As mesmas medidas continuaram sendo adotadas no primeiro mandato

da presidenta Dilma, mas o crescimento inexpressivo do PIB a taxas muito

reduzidas deu origem ao surgimento de pesadas críticas em relação às

128
unidade 6
ECONOMIA

políticas adotadas. Alegava-se, agora, que não apenas as medidas tinham

alcançado seus limites, mas que o momento da economia mundial tinha

sofrido alterações, exigindo a desmontagem do pacote em curso.

Abrindo mão de receita, ao tempo em que mantinha suas despesas em

crescimento, o que se viu foi o governo começar a gastar além do que

podia, alimentando a inflação. A política de estímulos ao gasto agravou

processos de inflação, fortalecidos por crises de produção de alimentos,

em função de condições climáticas.

O setor energético e a Petrobrás passaram a viver os efeitos de operarem

com preços que não cobriam seus custos de produção e vendas.

Entretanto, o nível de emprego manteve-se elevado e, curiosamente,

apesar do pequeno crescimento do período, o nível gerado de emprego foi

recorde.

O ambiente econômico, por motivos inclusive políticos, deu margem a

muitas críticas da classe empresarial, cujas decisões foram todas de

aversão aos riscos e à realização de investimentos.

Revisão
Princípio da demanda efetiva – contrapunha-se à chamada Lei
de Say, nome dado à noção corrente da escola Clássica, que
afirmava que os empresários produziriam sempre o máximo
possível tendo em vista sua capacidade instalada. Caso essa
produção fosse superior à quantidade desejada pela população,
os preços iriam cair e com preços menores e, ao final, toda a
produção seria vendida.

Segundo Keynes, sabendo que, para produzir, o empresário


incorre em custos. Ele não produziria exceto a quantidade
de bens que esperasse ser capaz de vender. Ou seja, sua
expectativa de demanda é que iria definir quanto ele iria
produzir. Para o modelo keynesiano, isso foi interpretado como
sendo a precedência do gasto sobre a produção. É o gasto
desejado ou nível de demanda que deve ser atendida pela

129
unidade 6
ECONOMIA

produção realizada pelas empresas.

Logo, é o primado do gasto. Aumenta o gasto esperado da


sociedade, e o empresário decide produzir mais. Ao contrário,
produz menos desempregando fatores de produção, inclusive
trabalho.

Demanda agregada insuficiente – o nível de gasto pode


ser reduzido, por expectativas pessimistas dos agentes
econômicos, que reduzem gastos adiáveis; decidem não
tomarem créditos ou financiamentos; ou não se aventuram
em produzir sem a certeza de poderem vender a produção, no
caso de empresários. Assim, não investem e não expandem a
capacidade de crescer e o nível de emprego do País.

Políticas anticíclicas – medidas que o governo deve adotar Em último caso,


pode o próprio
para criar um ambiente de estímulo ao gasto dos agentes
governo dar início
privados. Em último caso, pode o próprio governo dar início a a uma elevação
uma elevação de seus gastos para incentivar os empresários de seus gastos
para incentivar
a produzirem. Ao contrário, se os gastos privados estão
os empresários a
muito elevados, o governo pode adotar medidas visando sua produzirem.
contenção, de forma a impedir a situação de escassez de
produtos que acarreta elevação de preços ou inflação.

Medidas de política – são aquelas medidas que o governo


adota para administrar a demanda agregada, como a elevação
de impostos, caso a demanda esteja muito aquecida, deixando
menos dinheiro na mão dos consumidores; a redução de
impostos, para estimular a demanda; a elevação da taxa de
juros, para dificultar e encarecer financiamentos, no caso de
se desejar conter a demanda; a queda dos juros, para aquecer
a demanda; a política de câmbio, para favorecer nossas
exportações, tornando nossos produtos mais baratos quando o
dólar passa a valer mais perante o real. Nesse caso, haverá um
estímulo à demanda agregada.

130
unidade 6
ECONOMIA

O livro fundamental é, sem dúvida, o livro “Teoria geral do emprego, do juro

e da moeda de Keynes”. Entretanto, deve ser feito o alerta de que se trata

de um livro muito complexo e que exige muito do leitor.

O livro “Economia monetária e financeira – teoria e política”, de vários

autores, Elsevier Editora, 2007, no capítulo intitulado “A demanda por

moeda, a escolha de ativos e a Preferência pela liquidez em Keynes”, traz

em dois boxes importantes contribuições para o entendimento das razões

que justificam a possibilidade de insuficiência da demanda agregada.

Como para a Em geral, os textos de análise de conjuntura publicados pela imprensa


escola clássica, a
aplicam, mesmo que sem fazer referência direta aos princípios e raciocínios
produção depende
exclusivamente envolvidos, várias das ideias que sustentam o modelo macroeconômico.
do volume de Várias das análises trazem como seu suporte a hipótese de prevalência
capacidade produtiva
do princípio da demanda efetiva de Keynes, ou a ideia antagônica a essa,
instalada, não há
nem espaço, nem vinculada à escola clássica. Como para a escola clássica, a produção
justificativa para que depende exclusivamente do volume de capacidade produtiva instalada,
o governo venha a não há nem espaço, nem justificativa para que o governo venha a intervir
intervir na economia,
na economia, na busca de soluções para a redução do desemprego, a
na busca de soluções
para a redução administração da demanda agregada etc. Para essa corrente e seus
do desemprego, a discípulos, políticas de governo são inócuas e apenas geradoras de
administração da inflação.
demanda agregada
etc. Debates sobre aspectos importantes diretamente relacionados ao objeto

de discussão aqui apresentado, embora não necessariamente destacados,

podem ser citados, como o que vem se travando na atualidade entre os

colunistas da Folha de São Paulo, Marcelo Miterhof e Samuel Pessôa,

com a participação recente de José Luiz Oreiro, sobre o tema poupança e

investimento. Textos desses autores, no Valor Econômico, na Folha ou em

sites da internet costumam ter referências ao conteúdo dessa unidade.

Na internet, YouTube, uma palestra do professor da Unicamp, Luiz

Gonzaga Belluzzo sobre o Keynes pode ser acessada e traz profundos

conhecimentos sobre o tema. Também em pesquisa no Google, textos do

professor Belluzzo podem ser acessados, todos se referindo ao assunto.

131
unidade 6
ECONOMIA

O blog “Também quero dar pitaco” <www.tambemquerodarpitaco.

blogspot.com.br>, de minha autoria, interpretando as políticas econômicas

adotadas pelo governo e seus efeitos e consequências também, tem como

substrato e remete-se a várias das ideias aqui expostas, evidentemente

com limitações bem maiores do que aquelas dos textos recomendados

dos demais professores.

132
unidade 6
Política fiscal
e monetária
Introdução

Ao apresentar os conceitos macroeconômicos na unidade 6,


destacamos o princípio da demanda efetiva, base do modelo
desenvolvido por Keynes na década de 30. Considerando a
importância do princípio, convém recordarmos, de forma breve, que
a decisão empresarial referente ao volume de bens e serviços a ser
produzido depende da expectativa do empresariado em relação à
demanda da sociedade por essa produção.
• A importância
econômica (e
Ao definir a quantidade de bens que deverá produzir, o passo crescente) do
governo
seguinte do empresário corresponde à aquisição de máquinas e
equipamentos, incluindo os bens de capital, insumos e matérias- • Política
macroeconômica:
primas. Esse processo se dá a partir dos fornecedores que, ao conceito, objetivos
disponibilizarem tais recursos, recebem sua renda sob a forma de e principais
instrumentos
lucro. Também será necessária a contratação de trabalhadores, aos
quais será paga uma renda chamada salário. • Variáveis
relacionadas à
política fiscal
Combinados todos esses fatores produtivos, gerada a produção e
• Indicadores
se confirmando a expectativa de venda do empresário, este obterá monetários
uma receita da qual deduzirá os custos que teve para produzir, • Indicadores e
obtendo assim um resíduo, que será o seu lucro. conceitos relativos
ao setor externo

Em resumo: o empresário estima sua demanda agregada, decide • Política


monetária
o quanto produzir, contrata insumos e trabalhadores, produz e – observações
vende as mercadorias. E nesse ciclo determina o produto e a adicionais
renda de equilíbrio da sociedade (a soma de salários e lucros). • Revisão
Esquematicamente:
Demanda agregada Produto Emprego (de todos
os tipos de fatores, e não apenas de mão de obra) Renda
(a seta dupla “ ⇒ ” deve ser interpretada como “determina”).

Como o volume da demanda agregada esperada pode assumir


qualquer valor, é possível acontecer de expectativas pessimistas
recomendarem a produção de um volume insuficiente para
colocar em uso toda a capacidade produtiva. Nessa situação,
parte dos recursos ficará ociosa ou desempregada. Ou talvez,
em momentos de euforia, pode prevalecer a situação contrária,
com os desejos dos consumidores não podendo ser satisfeitos
plenamente, por se encontrarem acima do limite físico que o país
é capaz de produzir. Nesse caso, a escassez de bens pode dar
origem à elevação de preços.

É para lidar com esses problemas que o modelo proposto por Keynes
prevê um papel especial para o governo, de caráter anticíclico, de
forma a administrar o nível de demanda agregada, compensando
os excessos ou as insuficiências esperadas, e evitando problemas
de inflação ou desemprego. Essas medidas, cuja adoção é de
competência do governo, é que serão apresentadas e terão seus
efeitos discutidos nesta unidade 7. Dentre elas, destacam-se as
políticas de caráter fiscal, decompostas em políticas tributárias ou
de gastos públicos, e a política monetária. Outras, adotadas com
menor frequência, são as medidas de caráter cambial (que têm
o poder de afetar a demanda pelos nossos produtos, o que é de
responsabilidade dos clientes do exterior) e as de políticas de renda,
como a fixação de níveis de salário mínimo e seus reajustes.

Em nossa apresentação, novamente você será levado a se deparar


com a conta do orçamento fiscal do governo, na qual devem estar
registradas as receitas tributárias e os gastos efetuados pelo poder
público (parte dos quais integra a demanda agregada do país).
No âmbito da discussão da política monetária, você conhecerá
melhor o papel do Banco Central, a importância das taxas de
juros e como esse banco atua para poder alterá-las. Também
identificará os efeitos que podem ser esperados de alterações
nas taxas de juros.

Finalmente, será abordado o papel desempenhado, nas modernas


sociedades, pelos sistemas financeiros sofisticados, que permitem
às instituições, sob controle e condições impostas pelo Banco
Central, criarem o dinheiro escritural e até o dinheiro eletrônico.
ECONOMIA

A importância
econômica (e crescente)
do governo
Um dos fenômenos econômicos mais característicos das
sociedades humanas, observado ao longo do século XX, é o da
crescente influência do governo e o correspondente aumento dos
gastos públicos.

A rigor, embora muito da importância dos governos pudesse


ser explicado em função das guerras mundiais que marcaram a
primeira metade daquele século, os gastos do governo já vinham O processo de
apresentando elevações constantes há mais tempo, dando origem urbanização
enfrentado pelas
à lei conhecida como lei dos dispêndios públicos crescentes ou “lei
sociedades explica
de Wagner”, em homenagem ao analista alemão que a formulou essa tendência,
(GIAMBIAGI; ALÉM, 2002). especialmente a
partir da Revolução
Industrial e da
O processo de urbanização enfrentado pelas sociedades explica expansão dos
essa tendência, especialmente a partir da Revolução Industrial e centros urbanos,
da expansão dos centros urbanos, além de fatores demográficos, além de fatores
demográficos, como
como o envelhecimento da população.
o envelhecimento da
população.
Abrangendo a todos esses fatores, há também o reconhecimento,
cada vez maior, de que a visão idealizada do funcionamento
do sistema de mercado é incapaz de promover a utilização
dos recursos econômicos, de forma a proporcionar um padrão
mais elevado de satisfação de necessidades a qualquer de seus
indivíduos. Em especial, é impossível que o funcionamento dos
mercados assegurasse a obtenção da situação conhecida como
“ótimo de Pareto” – situação em que qualquer redistribuição e
reutilização dos recursos seria incapaz de melhorar a situação de
algum indivíduo sem prejudicar a outros.

Na verdade, o reconhecimento da existência de “falhas de mercado”

137
unidade 7
ECONOMIA

justifica a intervenção crescente dos governos em nosso cotidiano.


Entre as razões principais que justificam as falhas de mercado,
podem ser citadas a existência de:

a. bens públicos que, por serem de uso público e custo


elevado, não levaria ninguém a se interessar por sua
produção;

b. monopólios naturais – especialmente a prestação de


serviços que, por suas características e elevado custo,
só compensaria ser fornecida se fosse gerada por
um único fornecedor. Nesse caso, para não dar a um
particular o direito de cobrar preços abusivos, o governo se
responsabiliza pela provisão ou pela produção direta de tais
serviços, em geral, de caráter público; E como o governo
não é e nem pode
c. externalidades, que significa as consequências, benéfica ser uma abstração,
ou não, das ações desempenhadas por algum indivíduo a para cumprir suas
finalidades, ele
terceiros que não contribuíram para aquele resultado;
necessita contar
d. mercados incompletos, que não seriam de interesse da
com recursos
extraídos, em última
atividade privada, por causa de suas dificuldades ou seus análise, daqueles que
riscos embutidos, por exemplo, o fornecimento de créditos se beneficiarão de
para atividades de alto risco, como é o caso da atividade sua ação.
rural.

Em especial, o funcionamento do mercado não assegura o


atendimento às necessidades de toda a população e não impede o
surgimento de problemas macroeconômicos importantes, como a
inflação, o nível de desemprego ou a desigualdade da distribuição
de renda.

Por força da existência desses problemas, inclusive a ocorrência


simultânea deles e a possibilidade de verificação de conflitos de
objetivos, amplia-se o papel do governo em nossas sociedades. E
como o governo não é e nem pode ser uma abstração, para cumprir
suas finalidades, ele necessita contar com recursos extraídos, em
última análise, daqueles que se beneficiarão de sua ação.

138
unidade 7
ECONOMIA

Dentre as funções que o governo deve desempenhar, situam-se as


funções alocativa, distributiva e estabilizadora. Por função alocativa,
entende-se a responsabilidade que o governo tem de produzir
ou prover os bens necessários à satisfação das necessidades
coletivas, seja por meio de intervenção direta (uso dos órgãos que
integram a administração direta ou indireta e as empresas estatais),
seja por meio de medidas que induzam, via mecanismo de preços,
o setor empresarial privado à ação. Tudo para poder assegurar à
sociedade o acesso aos bens e serviços por ela demandados.

Em relação às medidas de intervenção via controle de preços, a


literatura do setor costuma apresentar aquelas que são diretas, que
incluem tabelamento e fixação de cotas. Mas as medidas menos
sujeitas a críticas, por seu menor poder de intervenção no domínio
econômico, incluem o que se convencionou chamar de medidas Em relação às
de política econômica, dentre as quais estão as medidas fiscais, medidas de
intervenção via
monetárias, cambiais e de renda.
controle de preços,
a literatura do setor
A função distributiva relaciona-se ao padrão de distribuição de costuma apresentar
renda que a sociedade considera ser a mais justa em dado momento aquelas que são
diretas, que incluem
e aos mecanismos e instrumentos que estão à disposição dela,
tabelamento e
com o objetivo de promover ajustes julgados necessários. fixação de cotas.

Quanto à função estabilizadora, diz respeito à obtenção de um


ambiente macroeconômico que proporcione a produção de bens e
serviços e a utilização plena da capacidade produtiva. Isto é, que seja
capaz de assegurar o pleno emprego de sua população trabalhadora,
aliada à obtenção de níveis reduzidos para a taxa de inflação. Para
alguns analistas, também se inclui nessa função a preocupação com
a estabilidade no âmbito das relações com o exterior.

Assim, resumindo os principais objetivos ou metas a orientarem o


comportamento do governo, podemos listar, em relação a medidas
que visam ao curto prazo: a satisfação das necessidades coletivas;
a manutenção da estabilidade (com baixos níveis de desemprego
e inflação e desequilíbrios externos); uma melhor distribuição

139
unidade 7
ECONOMIA

de renda. Do ponto de vista do médio ou longo prazo, pode ser


lembrada a busca do crescimento econômico e também uma
distribuição de renda mais justa.

Devido à possibilidade da existência de conflitos de objetivos e


situações caracterizadas como dilemas (trade-offs), em que a
solução de um problema pode acarretar o agravamento de outro,
assume fundamental importância a coordenação de ações. De
igual modo, torna-se importante o estabelecimento de medidas
que possibilitem o controle da evolução, da correção da direção, da
intensidade e do grau de sucesso da implantação das medidas.

Nesse sentido, é importante que o processo de planejamento


econômico que integra o conjunto das várias políticas estabeleça
e acompanhe um conjunto de variáveis intermediárias, metas ou Além dessas
objetivos intermediários que, semelhantes a placas de sinalização medidas indicativas
de desempenho da
em uma estrada, possam dar indícios da correção das políticas ou
economia, podem
da necessidade eventual de adoção de medidas de correção de rota. ainda ser citadas
outras, denominadas
Além dessas medidas indicativas de desempenho da economia, indicadores
ou variáveis
podem ainda ser citadas outras, denominadas indicadores ou
operacionais, de
variáveis operacionais, de prazo mais curto. prazo mais curto.

A título de ilustração, com base na política monetária e definida a


manutenção da estabilidade econômica como objetivo principal
da sociedade, compete às autoridades econômicas exercerem
o monitoramento do valor e da evolução das taxas de juros de
longo prazo e de como se comportam os agregados monetários
ao longo do tempo, consideradas como variáveis intermediárias.
Identificado algum tipo de variação que indique a possibilidade de
desvio no alcance do objetivo proposto, as autoridades podem, de
forma tempestiva, adotar medidas corretivas, capazes de afetarem
as variáveis de curto prazo ou operacionais, como as taxas de juros
de curto prazo e as reservas monetárias (CARVALHO et al., 2000).
Daí a importância de o analista econômico conhecer e acompanhar
a evolução desses indicadores.

140
unidade 7
ECONOMIA

Política macroeconômica:
conceito, objetivos e
principais instrumentos
Em geral, entende-se por política macroeconômica as decisões e
o conjunto de medidas que o governo pode utilizar para interferir
nas despesas que os agentes sociais planejam realizar e que vão
caracterizar a demanda agregada, da sociedade visando adequar
essa demanda à capacidade produtiva de um país, visando
assegurar a existência do equilíbrio no mercado de bens e produtos.
De forma complementar compreende também as medidas
destinadas a estimular as decisões dos empresários capazes de
promover a expansão de seu nível de produção ou oferta agregada.

A existência de tal equilíbrio entre demanda agregada e oferta


A existência de
agregada tem efeitos, portanto, capazes de afetar tanto o objetivo
tal equilíbrio entre
do crescimento econômico (de longo prazo) quanto a manutenção demanda agregada e
da estabilidade econômica, caso o governo adote providências para oferta agregada tem
efeitos.
que a economia possa operar a pleno emprego e a baixas taxas de
inflação. No caso do desemprego, o governo deverá adotar medidas
que permitam a criação de um ambiente econômico que induza a
elevação do gasto e a busca de um maior grau de bem-estar. Para
isso, será preciso implantar ações que estimulem o aumento dos
gastos, agindo sobre as condições de compra dos agentes (renda,
juros, crédito etc.). No caso de pretender obter baixas taxas de
inflação, deverá optar por medidas que acarretem alterações no
volume da demanda agregada, apenas em sentido inverso, de forma
a restringir gastos.

No caso da promoção de um padrão mais justo de distribuição de


renda, poderá utilizar-se tanto de políticas que interfiram diretamente
na formação de renda, legislando em relação ao estabelecimento
das condições dos contratos de aluguéis e dos preços cobrados
e seus reajustes, quanto dos reajustes do salário mínimo. Poderá,

141
unidade 7
ECONOMIA

além disso, atuar diretamente sobre as margens de lucros, por meio


de tabelamentos ou medidas de congelamento de preços.

Se estiver preocupado em estabelecer relações equilibradas com


o setor externo, poderá agir no sentido de impor proibições e
restrições às importações ou exportações; estimular exportações,
concedendo estímulos creditícios ou tributários e afetar a taxa de
câmbio.

Dessa forma, independentemente de qual seja o objetivo a ser


alcançado, para intervir no funcionamento da economia como um
todo, o governo poderá usar um conjunto de medidas que integra
as políticas de renda cambial e comercial, além daquelas que são
mais comuns e difundidas, por seu caráter mais amplo e por terem
A política fiscal
a capacidade de geração de efeitos cruzados sobre várias decisões é composta pelo
econômicas, que são as políticas fiscal e monetária. conjunto de medidas
e instrumentos
disponíveis ao
Política fiscal governo relacionados
à política de gastos
A política fiscal é composta pelo conjunto de medidas e públicos e à forma
como esses gastos
instrumentos disponíveis ao governo relacionados à política de
são financiados,
gastos públicos e à forma como esses gastos são financiados, que que vão constituir a
vão constituir a política tributária. política tributária.

Em relação à política tributária, o objetivo é definir o montante e a


estrutura de arrecadação de tributos – se sob a forma de impostos,
taxas e contribuições, e estabelecer e administrar o nível das
alíquotas que deverão vigorar.

Dessa forma, e visando a administração da demanda agregada,


caso o governo estabeleça como prioridade combater a inflação,
será possível aumentar a carga tributária elevando as alíquotas
que incidem sobre a renda dos agentes econômicos ou sobre os
produtos. No primeiro caso, o governo estará atuando sobre a renda
disponível do público, induzindo um corte nas despesas privadas.
No segundo caso, o governo induz a uma redução dos gastos por

142
unidade 7
ECONOMIA

força da elevação dos preços dos produtos. Caso queira estimular


o aumento da produção e do nível de emprego, basta adotar as
mesmas medidas, só que em sentido contrário, de redução dos
impostos.

Outra forma de atuação para administrar a demanda agregada seria


através da política de gastos, reduzindo ou aumentando os gastos
públicos, no caso de, respectivamente querer combater um surto
inflacionário ou a ocorrência de desemprego.

Vale observar que, ao elevar seus gastos sem ter assegurados


os recursos disponíveis para financiar esse acréscimo, o governo
poderá se valer de seu poder exclusivo de emissão de moeda,
emitindo mais dinheiro, ou de empréstimos, tomados junto
às instituições financeiras. Sendo as instituições financeiras Nos dois casos
as guardiãs dos recursos líquidos da sociedade, a procura por descritos, a política
fiscal produzirá
empréstimos por parte do governo representará uma elevação da
efeitos sobre
demanda por crédito, podendo encarecer esse tipo de operações variáveis monetárias,
por meio da elevação dos juros. o volume de dinheiro
em circulação e
a taxa de juros,
Nos dois casos descritos, a política fiscal produzirá efeitos sobre
impactando a
variáveis monetárias, o volume de dinheiro em circulação e a taxa política monetária.
de juros, impactando a política monetária. Mas não é apenas essa
política que pode ser afetada indiretamente pela política fiscal.

Uma elevação de alíquotas de impostos sobre importações pode


trazer consequências para as relações comerciais do país com o
resto do mundo, da mesma forma que uma redução de alíquotas
que incidem sobre a produção nacional ou a concessão de subsídios
podem estimular as exportações do país. É possível também, caso
as medidas sejam adotadas em sentido oposto, provocar a redução
dos preços dos produtos importados, barateando-os e elevando
as importações do país. Tal medida pode, em alguns casos, ser
adotada tanto para permitir o controle da inflação quanto para
estimular a busca por aumento de competitividade por parte do
setor produtivo nacional.

143
unidade 7
ECONOMIA

Além disso, políticas de transferência social, como os gastos


relativos aos programas de assistência ou da previdência social,
também embutidas no conjunto das políticas fiscais, podem
provocar efeitos no padrão de distribuição de renda do país. Essas
transferências podem ser vinculadas, por exemplo, tanto à renda
pessoal quanto à distribuição regional de renda.

Política monetária
Medidas de política monetária são aquelas que atuam sobre
o mercado monetário (moeda), sobre o mercado de crédito
(operações de empréstimos bancários) e, como contraparte da
concessão de créditos, sobre o mercado de títulos, entendidos
estes como o documento que assegura a existência de um débito
ou de um crédito.

Englobam as
Englobam as decisões vinculadas à emissão de moeda – papel
decisões vinculadas
reservado com exclusividade ao Banco Central. E, além delas, as à emissão de moeda
medidas destinadas a controlar a concessão de empréstimos – papel reservado
pelos bancos comerciais, impedindo-os de alimentarem correntes com exclusividade
ao Banco Central.
de gastos das unidades de consumo, o que pode ser feito por meio
da exigência da manutenção de reservas de depósito compulsório.
Nesse caso, o Banco Central exige a colocação, à sua ordem, de
um percentual do total dos depósitos feitos pelo público junto aos
bancos comerciais.

Ao lado do instrumento do depósito compulsório, podem ser citados


ainda outros dois instrumentos clássicos de política monetária: a
taxa de redesconto e a realização pelo Banco Central de operações
no mercado aberto de títulos.

Com relação à taxa de redesconto corresponde a uma taxa de juros,


em geral punitiva, cobrada pelo Banco Central dos bancos que
estejam necessitando de empréstimos, em decorrência de alguma
dificuldade momentânea de caixa.

144
unidade 7
ECONOMIA

Já as operações de mercado aberto, ou “open Market”, são


operações de compra e venda de títulos públicos emitidos pelo
Banco Central, junto aos estabelecimentos bancários. Esses títulos
têm a finalidade exclusiva de controlar a quantidade de moeda em
circulação, já que ao comprar títulos, o Banco Central deve pagar
por eles, injetando dinheiro no mercado. Ao contrário, ao vender
títulos o Banco Central retira dinheiro de circulação, reduzindo a
liquidez da economia.

Outra forma de política, cuja importância tem aumentado nos


últimos tempos, são as chamadas medidas prudenciais, que se
preocupam em regulamentar as operações de concessão de crédito
por parte das instituições financeiras e outros tipos de aplicações
de recursos dos intermediários financeiros, levando em conta o
grau de risco envolvido em cada ativo. A finalidade básica é obrigar Já as operações
o intermediário financeiro e seu grupo controlador a demonstrarem de mercado aberto,
ou “open Market”,
a existência de volume de capital próprio suficiente para suportar
são operações de
os riscos do negócio. Dessa forma, restringem o uso do dinheiro de compra e venda
terceiros por parte de instituições financeiras, transmitindo a ideia de títulos públicos
de maior responsabilidade nas aplicações desses recursos. emitidos pelo Banco
Central, junto aos
estabelecimentos
bancários.

Diferente da política fiscal, que tem limites para poder começar a surtir

efeito, como a da entrada em vigor de um tributo apenas um ano depois

de sua criação (princípio da anterioridade), a política monetária apresenta

mais flexibilidade, podendo ser implementada imediatamente e sendo

considerada mais vantajosa.

Entretanto, assim como a política fiscal, também a política monetária

tem um alcance muito mais amplo do que aquele existente na política

monetária. Isso significa que a adoção de uma política restritiva, de

menor quantidade de moeda em circulação, eleva a taxa de juros, o

que pode afetar as decisões de compra dos consumidores, pelo fato de

encarecer as compras a prazo. Além disso, essa política afeta as decisões

de crescimento da economia e da manutenção de um nível desejado de

145
unidade 7
ECONOMIA

utilização da capacidade instalada, levando os empresários, que se sentem

desencorajados, a reduzirem os gastos com investimento.

Então, elevando a taxa de juros, é possível atrair grandes volumes de

capital externo para o interior do país, acarretando a queda do preço da

moeda estrangeira, a valorização da moeda nacional, o encarecimento de

nossa produção e a queda de nossas exportações.

Política cambial e comercial


São políticas que utilizam de instrumentos cujos efeitos se fazem
sentir sobre as variáveis relativas ao setor externo de nossa
economia: exportações, importações de bens e serviços, remessa
de rendas e aplicações de capital em portfólios ou carteira de títulos.

Basicamente tratam
Basicamente tratam de mudanças na taxa de câmbio, no regime
de mudanças na
de câmbio do país e em medidas relacionadas ao incentivo às taxa de câmbio, no
exportações e desestímulo às importações. regime de câmbio do
país e em medidas
relacionadas
Política de rendas ao incentivo às
exportações e
Antes da implantação do Plano Real, quando a economia vivia desestímulo às
importações.
uma crise de hiperinflação, a política de rendas era utilizada
principalmente como medida de combate à inflação, por meio da
promoção de arrocho salarial. São exemplos de ações dessa época
o congelamento de preços (Plano Cruzado, em 1986) e o controle
deles pelo governo.

Com a estabilidade alcançada após a implantação do Plano Real,


a mais importante política de rendas em vigor atualmente no país
é a que estabelece os critérios para a concessão de reajustes
para o valor do salário mínimo. Ao lado dela, está a política de
transferência de renda (sob o caráter de renda pessoal) por meio
do programa Bolsa Família – outro instrumento que tem permitido
a incorporação de um grande contingente populacional ao mercado
de consumo, alavancando o crescimento do país.

146
unidade 7
ECONOMIA

Com relação à fixação dos valores do salário mínimo, a cada ano,


a lei em vigor assegura a reposição da corrosão provocada pela
inflação no salário do ano anterior. Ou seja, assegura que a correção
será, no mínimo, de mesmo valor que a inflação, a fim de repor o
poder de compra do trabalhador.

Além disso, concede ao trabalhador a obtenção de um ganho real


(acima da inflação), cujo cálculo se dá incorporando ao valor da
correção monetária a variação positiva do PIB real de dois anos
antes. Assim, em 2014, além da inflação de 2013, foi concedido um
percentual equivalente à variação do PIB real de 2012, o mesmo
procedimento valendo para 2015, em relação ao crescimento do
PIB real de 2013.

Muita crítica vem sendo feita a essa lei, que tem sido alvo de muita
pressão para sua revisão. A questão em debate é que ninguém
nega que esse aumento salarial defasado é benéfico a todas as Muita crítica vem
partes envolvidas, sempre que o PIB esteja apresentando taxas sendo feita a essa lei,
que tem sido alvo de
elevadas de crescimento. O problema surge quando o PIB inverte
muita pressão para
sua tendência e passa a apresentar taxas positivas decrescentes sua revisão.
ou esteja em queda. A razão é que, com a perspectiva de vendas e
lucros menores em um dado ano, o custo do salário naquele período
pode ainda permanecer em elevação, caracterizando uma ameaça
de prejuízo para as empresas.

O argumento técnico utilizado diz que o aumento acaba sendo


concedido, em níveis superiores ao do avanço da produtividade. Ou,
dito de outra forma, cresce a capacidade de gasto dos trabalhadores
em proporção maior do que o crescimento da produção. Com
isso, poderá ocorrer escassez de produtos, o que alimentaria uma
provável elevação de preços. Outra crítica comum é a de que tal lei
mantém o perverso efeito da indexação de preços, que transporta a
inflação passada para o presente.

Quanto ao programa de concessão denominado Bolsa Família,


de caráter assistencialista, ele gera um impacto importante no

147
unidade 7
ECONOMIA

orçamento familiar, embora sujeito a condições restritivas e a


valores limitados a um teto rigoroso. Entre as exigências para se
cadastrar no programa e começar a receber os benefícios, estão a
limitação de renda pessoal da família a valores equivalentes a R$
70,00 por mês/família. As famílias que têm jovens adolescentes
precisam comprovar a frequência deles às aulas; famílias com
mulheres grávidas têm que comprovar a frequência a consultas a
exames de pré-natal.

Além dessas imposições, há ainda outras, como a da não


cumulatividade de benefícios, uma vez superado o teto de pouco
mais de R$ 360,00. É certo que há abusos na concessão das bolsas,
cujo custo para o governo não é tão significativo se comparado com
o impacto provocado no orçamento do pagamento dos juros da
s famílias que têm
dívida pública. No entanto, para minorar tais situações, o programa jovens adolescentes
estabelece que o cadastro e a fiscalização de beneficiários sejam precisam comprovar
feitos pelo poder municipal localizado mais próximo das famílias a frequência deles às
aulas; famílias com
beneficiadas.
mulheres grávidas
têm que comprovar
Importante é o reconhecimento de que tal programa não é uma a frequência a
consultas a exames
inovação do governo do Partido dos Trabalhadores (PT), embora,
de pré-natal.
em sua gestão, ele tenha sido transformado, deixando de ser um
programa limitado, com foco restrito em um público-alvo, para se
tornar um programa de atendimento universal.

Principais indicadores
Para poder acompanhar os rumos e verificar o acerto das
decisões tomadas na tentativa de alcançar os objetivos propostos,
oportunamente, existe a necessidade de identificar e acompanhar
a evolução de um conjunto de indicadores e variáveis ao longo do
tempo.

Alguns desses indicadores estão vinculados a conceitos muito


utilizados, razão pela qual, nesse tópico, abordaremos os principais
deles, começando pelos indicadores demográficos ou que dizem

148
unidade 7
ECONOMIA

respeito a alterações na população de um país.

Conceitos e indicadores demográficos


Nem toda população de um país é composta de pessoas com
condições de trabalhar. Da população total de um país, deve ser
excluída a população que não está apta ao trabalho, por não terem
ainda a idade ou a maturidade necessárias para tal ou por já
estarem com idade avançada, como é o caso dos aposentados.

POPULAÇÃO TOTAL DO PAÍS =

POPULAÇÃO PRODUTIVA + POPULAÇÃO IMPRODUTIVA


No interior da
A definição de população produtiva se faz por um critério etário: compõem população produtiva
a população produtiva todos aqueles que estão acima de 14 anos e abaixo e apta ao trabalho,
dois grupos podem
de 65 anos. Entretanto, a fixação da idade para a definição da população
ser identificados:
produtiva pode mudar e variar entre países. a população
economicamente
No interior da população produtiva e apta ao trabalho, dois grupos podem ativa (PEA) e a
ser identificados: a população economicamente ativa (PEA) e a população população não
não economicamente ativa. Assim:
economicamente
ativa.
POPULAÇÃO PRODUTIVA = POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA

(PEA) + POPULAÇÃO NÃO ECONOMICAMENTE ATIVA

A POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA (PEA) constitui a oferta de

trabalho de uma nação. Inclui aqueles que, além de aptos ao trabalho, vão

ao mercado se oferecer para trabalhar.

Os que fazem parte da população não economicamente ativa,


embora em idade e condições para o trabalho, não desejam ir ao
mercado se oferecer para trabalhar.

149
unidade 7
ECONOMIA

Exemplos de pessoas neste grupo são: as donas de casa, que optaram por

cuidar das atividades domésticas, da criação e da educação dos filhos; aqueles

que optaram por prosseguir seus estudos, dando preferência ao aprimoramento

de sua qualificação técnica e profissional antes de se inserirem no mercado

produtivo: os estudantes profissionais e, finalmente, aqueles que voluntariamente

preferem ficar à toa e, como tal, não podem reclamar de desemprego.

A PEA ainda pode ser dividida em:

POPULAÇÃO OCUPADA + POPULAÇÃO DESEMPREGADA

O primeiro grupo dirigiu-se ao mercado de trabalho, oferecendo-


se para trabalhar e teve êxito, sendo todos os seus integrantes
contratados pelas empresas. O segundo grupo integra aqueles
que, mesmo desejando trabalhar, não foram contratados pelas
empresas. Constitui o contingente dos desempregados. São estes
que preocupam as autoridades econômicas e compõem a taxa de
desemprego do país definida como:

Taxa de desemprego = População desempregada/ População


economicamente ativa (PEA)

QUADRO 5 – Decomposição da população de um país por categorias

População População População População ocupada


total produtiva economicamente
ativa – PEA População
(aptos ao trabalho,
com mais de 14 Oferta de trabalho do desempregada

anos de idade e país


menos de 65)

População não economicamente ativa

População improdutiva

(com menos de 14 anos de idade e mais de 65)

Fonte: Elaborado pelo autor.

150
unidade 7
ECONOMIA

Indicadores de preço
Para avaliar o conjunto de bens que compõem a produção de um
país, é necessário somar todos eles, utilizando a única unidade
de medida que permite agregar bens tão distintos, como laranjas,
sapatos, dúzias de ovos, litros de leite e toneladas de minério de
ferro. Essa unidade é o preço, e o que é informado é o valor da
produção ou produto da economia.

Temos duas formas de mensurar o produto interno (PIB) de um


país: uma delas multiplica a quantidade de bens por seus preços de
mercado ou preços vigentes. Nesse caso, temos o produto nominal.
Mas, como nosso interesse é verificar se o país está produzindo
maior quantidade de bens e atendendo melhor às necessidades
de sua população ao longo do tempo, não podemos lidar com os
Temos duas formas
valores nominais do produto, que podem estar crescendo apenas de mensurar o
por força de aumento inflacionário de preço. produto interno (PIB)
de um país: uma
delas multiplica a
quantidade de bens
por seus preços de
Se, em dois anos, um país produziu a mesma quantidade de bens, mas mercado ou preços
os seus preços dobraram, a comparação do produto dos dois anos
vigentes.
apresentará um valor duas vezes maior para o produto – o que não é uma

indicação verdadeira da capacidade que a economia tem de satisfazer

suas necessidades. Assim, calculamos o PIB sem levar em conta a inflação

havida. Multiplicamos as quantidades do segundo ano pelos preços

do primeiro. Você sabe: mantendo os preços invariáveis, por hipótese, o

resultado que calcularmos será aquele que indicará o que aconteceu com

a quantidade física, ou real, produzida.

A esse valor chamamos PIB real. No nosso caso, como as


quantidades eram iguais, o PIB deve apresentar o mesmo valor.
A esse raciocínio e ao cálculo feito, chamamos deflacionar o PIB
(eliminar a inflação do PIB).

151
unidade 7
ECONOMIA

PIB nominal: quantidades multiplicadas por preços correntes.

PIB real: quantidades multiplicadas por preços constantes (de um ano

tomado como base).

Para calcular o PIB real é necessário conhecer um índice de preço e


fazer o uso do cálculo:

PIB real = PIB nominal / Índice de preços

Temos duas famílias de índices de preço muito importantes:

a) Índice geral de preços (IGP) – calculado, em nosso país, pela


FGV, a partir da média ponderada de três outros índices, que são:

Ele é mais amplo,


i- Índice de preço ao atacado, com peso de 60%; não se restringindo
a um tipo de bem
apenas.
ii- Índice de preço ao consumidor, com peso de 30%;

iii- Índice de preço da construção civil, com peso de 10%.

O IGP é um índice amplo, calculado pelos pesquisadores da


Fundação Getúlio Vargas (FGV) e, por definição, caracteriza o
deflator da economia, ou seja, é obtido pelo quociente:

Deflator = PIB nominal/ PIB real

Logo, como se trata do PIB, não é possível incluir impactos de


produtos importados que não fazem parte da produção feita
no interior de nosso país. Além disso, ele é mais amplo, não se
restringindo a um tipo de bem apenas.

152
unidade 7
ECONOMIA

Sua metodologia de pesquisa faz o pesquisador da FGV ir até o


supermercado e encher um carrinho de compras. Ao passar pelo
caixa, e sendo informado do valor do carrinho, ele pergunta e se
informa de quanto teria sido obrigado a pagar, caso fosse feita
exatamente essa mesma compra a um mês atrás ou em outro
período anterior.

As variações de preço que ele observar indicarão uma média.


Diz-se que o deflator trabalha com uma cesta variável de bens, já
que qualquer um pode montar carrinhos com quaisquer produtos
em qualquer dia, levantando o preço daquele carrinho em meses
anteriores. Em termos do cálculo de índices estatísticos, diz-se que
o deflator é um índice de Paasche (nome do estatístico que primeiro
o desenvolveu).

b) Índice de preços ao consumidor (IPC) – outros índices possíveis


de serem utilizados pertencem à família dos índices de preço,
As variações de
com destaque para o IPC da Fundação Getúlio Vargas e o INPC, preço que ele
calculado pelo IBGE. O IPC é um índice estatístico do tipo de índice observar indicarão
de Laspeyres (nome do estatístico que primeiro o desenvolveu) uma média.
e serve, em essência, para medir o custo de vida. Por ele, são
computadas apenas as alterações nos preços de bens de
consumo das famílias do país, o que o torna mais restrito. Como
bens importados são consumidos, variações de seus preços são
consideradas. E, por fim, a pesquisa é feita após a identificação
de uma cesta de bens que a família média brasileira consome.
A partir disso, o pesquisador dirige-se ao supermercado a cada
intervalo de tempo e faz a mesma compra com os mesmos bens
e quantidades. A variação de valor de suas compras indica o
quanto variaram os preços em média.

Algumas observações merecem ser feitas. A primeira delas é que,


por questões metodológicas, dentro de cada família de índices
apresentada, existem vários indicadores. O IGP-M e o IGP-10,
por exemplo, no caso da FGV; o IPCA amplo e restrito no caso
do IBGE. Tais mudanças indicam apenas se a pesquisa foi feita

153
unidade 7
ECONOMIA

considerando a cesta de consumo de famílias que recebem de 1 a


8 salários mínimos (restrito) ou de 1 a 40 salários mínimos (amplo).
Também pode mudar a periodicidade da pesquisa, que pode
cobrir o mês inteiro ou apenas a prévia para o período de 10 dias.
Ou ainda há possibilidade de a pesquisa ser realizada em várias
regiões metropolitanas, mais o Distrito Federal ou em regiões mais
limitadas.

Você pode, no caso de necessidade, consultar os sites desses


órgãos de pesquisa e obter toda a explicação metodológica que for
necessária.

Taxas de juros
Por ser o preço básico do dinheiro ou da moeda, a taxa de juÎros é
um preço que afeta várias decisões da economia, tanto do ponto
de vista do mercado real, de bens e da decisão de fazer compras
A taxa de juÎros é
a prazo ou investimentos empresariais, quanto do ponto de vista um preço que afeta
financeiro. várias decisões da
economia.
Por definição os juros são o pagamento que alguém exige (e
recebe) por abrir mão da conservação de sua riqueza na forma
monetária, que é a forma mais líquida. Mas, porque alguma pessoa
iria querer reter moeda em seu poder? A moeda não rende e não dá
frutos a quem a possui, você deve estar pensando. Mas, ao mesmo
tempo, você deve reconhecer que ela transmite ao seu possuidor a
tranquilidade que nenhum outro bem irá proporcionar, podendo, a
qualquer momento e quando precisar, efetuar compras de bens que
lhe são necessários. Além disso, ela é o único bem que transmite
a certeza e a segurança de que alguém poderá honrar seus
compromissos futuros. Por esses motivos, abrir mão da liquidez
exige um prêmio, que são os juros.

Mas quem empresta seu dinheiro recebe do devedor, em troca, um


título, que é uma promessa de pagamento. Quando você vai a um
banco e toma um empréstimo, assinando uma nota promissória em

154
unidade 7
ECONOMIA

garantia, você se torna um devedor. Quando quem está tomando o


dinheiro emprestado é o governo ou um banco, dizemos que eles
estão nos vendendo um título. A situação é a mesma. Diferente é a
importância que é atribuída ao devedor em cada caso.

E como toda a sociedade deseja manter saldos monetários em


seu poder, seja para ter dinheiro para fazer compras do dia a dia,
seja pela necessidade de pagar compromissos já agendados,
como a conta de luz, a demanda de moeda pela sociedade, em
contraposição ao total de dinheiro que o governo permite que
possa circular, é o que define a taxa de juros.

Mas existem outras taxas que servem de referência por outros


motivos.

Uma é a taxa de
juros básica da
economia (Selic),
Uma é a taxa de juros básica da economia (Selic), que é a média das que é a média das
taxas que os bancos
taxas que os bancos comerciais compram e vendem entre si, títulos da
comerciais compram
dívida pública. e vendem entre si,
títulos da dívida
A situação é a seguinte: o governo gastou mais do que os recursos
pública.
que possuía e, para tanto, financiou-se, vendendo títulos públicos
junto à sociedade. Na verdade, são os bancos que compram, em
sua grande maioria, os títulos da dívida do governo, seja porque
são títulos seguros, já que ninguém duvida de que o governo vai
pagá-los, seja por pagarem um retorno de juros, além de terem a
capacidade de serem negociados a qualquer momento.

Isso significa que um banco que tenha comprado um título, pode


vir a vendê-lo se aparecer outra oportunidade mais lucrativa de
uso desse dinheiro. E quem vai comprar esse título é outro banco.
Então, independentemente das taxas que o título público “promete”
pagar ao seu portador, na ocasião do seu vencimento, os bancos
negociarão o pagamento do título com um deságio, representado
por um juro menor que o do título original.

155
unidade 7
ECONOMIA

São essas taxas de negociação que, ao final do dia, após calcular


a sua média, formarão a taxa Selic. Esse nome se origina do fato
de tais títulos terem que ficar em custódia e serem registrados no
Sistema Especial de Liquidação e Custódia do Banco Central.

Recentemente a Selic ganhou muito destaque, por servir como taxa-


alvo de juros a ser usada pelo governo, para indicar ao mercado
os esforços que está sendo feito para cumprir a meta definida no
sistema de metas de inflação.

O que o governo anuncia é a taxa-alvo, que não é a taxa Selic


praticada realmente pelo mercado dos bancos.

Outras taxas de referência também podem ser mencionadas.

- Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP): taxa de juros subsidiada O que o governo
que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico anuncia é a taxa-
e Social) cobra por financiamentos de interesse da economia alvo, que não é a
taxa Selic praticada
nacional e dos projetos de desenvolvimento considerados
realmente pelo
estratégicos pelo governo. Essa taxa, por ser subsidiada, visa mercado dos
estimular os empresários a investirem. bancos.

- Taxa de Referência (TR): criada na época do governo Collor, com


o objetivo de servir de referência para o nível de juros vigente
no país, tentando impedir que as taxas pudessem incorporar a
inflação passada. Hoje é a taxa que remunera as aplicações da
aplicação nos depósitos em poupança.

-Taxas de Certificado de Depósito Interbancário (CDI): algumas


vezes, por terem realizado muitas operações de empréstimo a seus
clientes, os bancos encerram o dia com menor disponibilidade de
recursos em caixa que o necessário para honrar as obrigações de
manutenção de reservas assumidas junto ao Banco Central. Em
contrapartida, outros bancos apresentam volume de captação
muito maior que o de aplicações. Para não ficarem com dinheiro
parado, e tendo conhecimento da necessidade de recursos dos

156
unidade 7
ECONOMIA

outros, os bancos negociam empréstimos entre eles, chamados de


interbancários, de curtíssima duração, a taxas que são conhecidas
como taxas de Certificado de Depósito Interbancário. A partir delas,
uma vez negociadas livremente entre os bancos interessados, os
clientes que aplicam suas disponibilidades em fundos ou Certificados
de Depósitos Bancários (CDBs –aplicações de renda fixa) negociam
como remuneração um percentual da taxa de CDI.

Variáveis relacionadas à
política fiscal
Vamos nos concentrar no conceito de resultado do orçamento
público – documento que deve conter a totalidade das despesas
que o governo está autorizado a fazer durante um ano (exercício No documento, as
fiscal). Como parte do processo de planejamento do governo, o ações aprovadas são
apresentadas sob a
orçamento é um documento que deve ser consistente e coerente
forma de volume de
com o plano de ação plurianual a ser apresentado ao Legislativo recursos necessários
no início do mandato e que se transformará em lei. A cada ano, ao cumprimento
das ações e
esse plano deverá ser decomposto em ações que darão início à
discriminadas por
elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que, uma vez itens de gasto.
aprovada, dará início à Lei do Orçamento.

No documento, as ações aprovadas são apresentadas sob a forma


de volume de recursos necessários ao cumprimento das ações
e discriminadas por itens de gasto. Por outro lado, deverá haver
previsão da carga tributária bruta que indique quanto o governo
pretende arrecadar, e essa informação deverá vir discriminada por
espécie de tributo.

O cálculo da parcela de carga tributária bruta/PIB, ou seja, o quanto


a sociedade deve gerar de riqueza e dela abrir mão para sustentar
a máquina pública, é um dos indicadores do porte ou tamanho do
governo e sua interferência junto à economia.

157
unidade 7
ECONOMIA

Outro conceito importante é o de carga tributária líquida, obtido


a partir da dedução da carga tributária bruta das transferências
realizadas pelo governo para a sociedade, sob a forma de
incentivos, subsídios, gastos da seguridade social (ex.: Previdência)
e programas (ex.: Bolsa Família), além do pagamento dos juros da
dívida pública.

Quanto aos gastos, uma despesa importante é a relacionada à folha


de pagamentos do funcionalismo público, que abrange também o
pagamento dos funcionários inativos.

Em relação ao orçamento e aos seus possíveis resultados, duas são


as formas de cálculo adotadas. A primeira é pelo Tesouro – trabalha
o conceito de “acima da linha”, levando em conta a diferença entre
os fluxos de receita e o de despesa. A segunda forma, adotada Quanto aos gastos,
pelo Banco Central, é a chamada “abaixo da linha” e considera o uma despesa
importante é a
resultado obtido a partir da variação do financiamento do governo,
relacionada à folha
ou seja, pela variação do volume da dívida pública. No primeiro caso, de pagamentos
o resultado considera apenas a diferença entre as receitas auferidas do funcionalismo
e as despesas realizadas. Aqui, outra diferença deve ser feita para público, que
abrange também
facilitar a análise da influência do governo na demanda agregada
o pagamento dos
do país. Trata-se do conceito de orçamento primário, que engloba funcionários inativos.
o total das receitas e os gastos necessários ao funcionamento
da máquina pública e à prestação dos serviços públicos, excluída
a despesa de pagamento dos juros (aqui considerada despesa
de financiamento). No caso de as receitas superarem os gastos,
temos o resultado primário positivo, ou superávit primário, também
chamado de poupança pública, para assegurar aos credores
que o governo possui verba para remunerar os recursos por ele
emprestados. Caso as receitas sejam inferiores, o resultado é
chamado de déficit primário.

Se ao resultado primário for acrescentado o total de despesas


necessárias para o pagamento de juros, o orçamento transforma-
se no orçamento nominal e seu resultado é o resultado nominal
(superavitário ou deficitário).

158
unidade 7
ECONOMIA

O principal is conceito, no critério abaixo da linha, é o da dívida


líquida do setor público (que inclui o valor das privatizações), e que
é calculada pela soma das dívidas internas e externas do governo
(União, estados, municípios e empresas estatais) à qual se soma o
valor da base monetária, e da qual se deduz os créditos ou ativos
mantidos pelo setor público em relação ao setor privado (incluídos
nesses ativos, as reservas internacionais) .

Sob a forma de equação, temos:

Dívida Líquida = Dívidas internas e externas do governo + Base


Monetária – Créditos ou ativos do setor público

Outro conceito ainda é relativo às necessidades de financiamento do


setor público (NFSP), que são outra forma de mensuração do déficit do
Do ponto de vista
orçamento, que ocorre a partir da variação do endividamento do setor monetário, importa
público não financeiro junto ao setor financeiro e ao setor privado interno conhecer os
ou externo. Se o conceito excluir o pagamento dos juros nominais sobre conceitos de papel
moeda emitido
a dívida financeira, é chamada de NFSP no conceito primário.
pelo Banco Central,
instituição que tem
o monopólio da
Indicadores monetários emissão de moeda.

Do ponto de vista monetário, importa conhecer os conceitos de


papel moeda emitido pelo Banco Central, instituição que tem o
monopólio da emissão de moeda. O papel moeda emitido (PME)
é o total de moeda que esse banco cria. Se parte desse dinheiro
fica reservada no interior do próprio BC, a parte que não fica retida
permite que se obtenha o conceito de papel moeda em circulação
(PMC), também chamado de base monetária.

Se da base monetária, que entra em circulação por intermédio


dos bancos comerciais, excluímos a parcela de dinheiro mantida
em caixa ou como reserva pelo sistema bancário, seja por decisão
autônoma seja por imposição do Banco Central, chegaremos ao
conceito de papel moeda em poder do público (PMPP).

159
unidade 7
ECONOMIA

PMC ou BM = PME – caixa do Banco Central

PMPP = BM – reservas ou encaixes dos bancos comerciais

Além disso, temos os conceitos de agregados monetários, de


amplo uso, classificados segundo o grau de liquidez dos elementos
que os integram.

M1 ou meios de pagamento = PMPP + depósitos à vista nos


bancos comerciais, que consistem no total de ativos com liquidez
plena, à disposição da sociedade para que ela possa efetuar
suas transações e pagamentos por meio de moeda manual ou
moeda escritural (criada pelos bancos e sob a forma de depósitos
Temos os conceitos
bancários à vista, à disposição dos correntistas). de agregados
monetários,
M2 = M1 + títulos públicos + depósitos a prazo de amplo uso,
M3 = M2 + depósitos de poupança classificados
M4 = M3 + títulos privados
segundo o grau
de liquidez dos
elementos que os
É preciso chamar a atenção para o conceito de multiplicador integram.
dos meios de pagamento, por meio do qual o total dos meios de
pagamento constitui um múltiplo da base monetária, sendo a medida
mais importante para avaliar a capacidade de gasto da sociedade.
O multiplicador pode sofrer alterações em seu valor e alterar a
capacidade de os bancos criarem dinheiro, por meio de alteração das
alíquotas de reserva compulsória estabelecida pelo Banco Central.

Indicadores e conceitos
relativos ao setor
externo
São conceitos ligados à taxa de câmbio, definida como sendo o
preço de uma divisa ou moeda estrangeira em termos da moeda

160
unidade 7
ECONOMIA

nacional; ou quanto de moeda nacional custa uma unidade de


moeda estrangeira.

A taxa de câmbio, expressa por quantidade de Reais dada por


unidade de moeda estrangeira (sendo a unidade de moeda
estrangeira, por definição, sempre constante), deverá subir, caso
uma maior quantidade da moeda nacional tenha que ser dada em
troca da unidade da divisa. Isso equivale a dizer que uma elevação
da taxa de câmbio significa que a moeda estrangeira está valendo
mais ou que a moeda nacional foi depreciada. Se a taxa de câmbio
caísse, a nossa moeda estaria mais apreciada.

Importante também é a taxa de câmbio real, que é a variação


experimentada pela taxa de câmbio, descontada a inflação de
nosso país menos a inflação do país cuja moeda está servindo
Importante também
é a taxa de câmbio
como parâmetro. real, que é a variação
experimentada pela
Também os resultados do balanço de pagamento são conceitos taxa de câmbio,
descontada a
importantes, como o resultado do total das exportações sobre
inflação de nosso
o total das importações, chamado de taxa de cobertura; ou o país menos a
resultado da balança comercial sobre algum conceito de referência. inflação do país cuja
moeda está servindo
como parâmetro.
O resultado da conta de transações correntes, com sinal invertido,
indica o conceito conhecido como poupança externa, ou seja,
quanto dos bens de que estamos fazendo uso foram obtidos por
renúncia à sua utilização por seus produtores originais.

Por indicar também a dependência que o país está apresentando


de recursos de financiamento para o fechamento de suas contas,
o saldo da conta de transações correntes e sua evolução indica o
grau de fragilidade e dependência do país.

Relacionado a esse conceito, existem os índices da dívida externa


do país/ PIB, que identifica o esforço que o país deverá realizar para
honrar seus compromissos. Também de uso corrente é o cálculo
da dívida externa em relação ao total de exportações, indicando

161
unidade 7
ECONOMIA

a capacidade que o país tem de gerar recursos para liquidar sua


dívida.

Política monetária –
observações adicionais
Os agentes da política monetária são basicamente o:

- Conselho Monetário Nacional (CMN) – composto pelo Ministro


da Fazenda (que é o seu presidente), o Ministro do Planejamento,
Orçamento e Gestão e o Ministro Presidente do Banco Central do
Brasil (que é o órgão normativo do sistema financeiro nacional).

- Banco Central – é órgão executor das medidas determinadas pelo


CMN, atuando como secretaria executiva daquele Conselho. Suas Ser o responsável
pela manutenção
funções principais são:
da saúde do
sistema financeiro
i- s
 er o responsável pela emissão de moeda e controle da liquidez e da fiscalização
das instituições
da economia;
financeiras.

ii- cumprir a função de banco dos bancos;

iii- s
 er o responsável pela manutenção da saúde do sistema
financeiro e da fiscalização das instituições financeiras;

iv- ser o guardião e o gestor das reservas internacionais do país.

No exercício da função de controlador da liquidez da economia é que


ele se utiliza de instrumentos clássicos de política econômica, como
o compulsório, a definição da taxa de redesconto e a realização de
operações de mercado aberto.

O primeiro instrumento é o depósito compulsório, cuja elevação


obriga os bancos a remeterem mais dinheiro ao Banco Central, o

162
unidade 7
ECONOMIA

que lhes deixa com menos dinheiro para emprestarem sob a forma
de depósitos à vista (DV). Menor compulsório, os bancos têm poder
de criar mais dinheiro, sob a forma de DV.

Menor compulsório: bancos criam mais dinheiro. Tem mais dinheiro em

circulação. A oferta monetária sobe e os juros caem. Isso estimula mais

gastos e pode reduzir o desemprego ou criar inflação.

Maior compulsório. Bancos criam menos dinheiro. Passa a ter menos

dinheiro em circulação. A oferta monetária cai e os juros sobem. Isso reduz

gastos e pode ajudar a combater a inflação, mas pode criar desemprego.

Outro instrumento de política é o chamado open market ou Ao vender títulos


operações de mercado aberto, que significa a venda pelo Banco pelos quais os
Central de títulos públicos (tomando dinheiro emprestado) ou a bancos têm de
pagar, o Banco
compra (na verdade, recompra) desses títulos do mercado.
Central tira dinheiro
de circulação ou
Ao vender títulos pelos quais os bancos têm de pagar, o Banco enxuga a liquidez
da economia,
Central tira dinheiro de circulação ou enxuga a liquidez da economia,
diminuindo a oferta
diminuindo a oferta monetária e fazendo subir os juros. monetária e fazendo
subir os juros.
Se o Banco Central acha que deve estimular a economia e
promover um aumento da demanda, ele vai ao mercado e oferece
dinheiro para comprar de volta ou recomprar os títulos que ele
vendeu antes.

Assim, venda de títulos enxuga a liquidez, ou seja, tira dinheiro do mercado.

A oferta monetária diminui e os juros sobem, enquanto a compra de títulos

injeta liquidez, ou seja, põe dinheiro no mercado. A oferta monetária sobe e

os juros caem. É importante dizer que essa é a forma preferida do BC para

afetar a oferta monetária.

163
unidade 7
ECONOMIA

A terceira opção de instrumento é o chamado redesconto. Como os


comerciantes que vendem a prazo, e ficam sem recursos para pagar
suas despesas, são obrigados a levarem suas duplicatas ao banco
para descontá-las, recebendo dinheiro em troca (na verdade, isso
equivale a tomar um empréstimo, dando as duplicatas em garantia.
Desnecessário dizer que recebem menos que o valor das duplicatas
ou promissórias), também os bancos podem enfrentar crises de
liquidez. Caso emprestem mais do que podem (correndo o risco
de não respeitar o compulsório determinado pelo Banco Central),
deverão descontar os títulos que eles possuem. Esses títulos são
descontados junto ao próprio Banco Central, o que os faz serem
descontados pela segunda vez (uma por parte do comerciante ou
industrial; agora por parte do banco comercial).

Para desestimular os bancos a emprestarem muito, o Banco


Central pode elevar as taxas de juro que cobra para efetuar esse
desconto. Assim, quanto maior a taxa de redesconto, menos os Maior taxa de
bancos correrão o risco de sair emprestando dinheiro sob a forma redesconto – menor
oferta monetária e
de desconto de títulos. Menor taxa de redesconto significa que os
maior taxa de juros.
bancos podem fazer maior volume de desconto de títulos. Menor demanda.

Maior taxa de redesconto – menor oferta monetária e maior taxa de juros.

Menor demanda.

Menor taxa de redesconto – maior oferta monetária e menor taxa de juros.

Maior demanda.

COPOM - O COPOM (Comitê de Política Monetária) é formado pelo


conjunto de diretores do Banco Central. Além disso, é o responsável
pela fixação da taxa Selic, que servirá como meta para o conjunto
dos agentes econômicos, tendo em vista a consecução da meta
determinada para a inflação, conforme o sistema de metas de
inflação que o país adota desde 1999.

164
unidade 7
ECONOMIA

Esse sistema fixa um valor-alvo para ser perseguido pelo Banco


Central, sujeito à variação dentro de um intervalo, para mais ou para
menos. Assim a autoridade se mostra transparente com o público
a respeito das medidas que deverá adotar, caso o índice por ela
escolhido, como índice de preços a ser acompanhado, no caso do
Brasil é o IPCA, apresente valores que possam indicar que o valor-
alvo da meta não está sendo atingido.

Esses são, portanto, os principais indicadores e índices que


permitem aos analistas acompanharem a evolução da economia
brasileira e servem ao governo de balizadores dos impactos que
medidas adotadas estão provocando na sociedade. Dessa forma,
eles sinalizam se a economia está evoluindo na direção ou com a
intensidade desejada permitindo, se necessário, correções de rumo,
seja por alterações do instrumento utilizado, seja da direção ou da
intensidade de sua aplicação.

A crise internacional de 2008 e as respostas do governo brasileiro a ela

Em finais de 2008, a crise financeira iniciada em 2007 nos Estados Unidos

espalhou-se para outros países do mundo, chegando inclusive ao Brasil.

Conhecida como a crise do subprime, foi causada pela concessão de

créditos, contra garantias hipotecárias, a famílias que não apresentavam

condições mínimas para comprar imóveis residenciais com financiamento.

Apesar dessas condições, várias pessoas receberam empréstimos e

comparam suas casas, o que contribuiu para que o preço dos imóveis

sofresse uma grande valorização.

O boom do preço das residências permitia aos compradores terem

ganhos na venda dos imóveis por preço sempre maior que o que pagaram

na compra. Com isso, eles pagavam suas dívidas bancárias. Pelo lado

dos bancos, as operações não apresentavam riscos, exatamente pela

valorização do imóvel dado em garantia.

165
unidade 7
ECONOMIA

De repente, a política americana se alterou e os juros começaram a subir.

Famílias não conseguiram pagar os empréstimos tomados e passaram a

devolver as casas financiadas aos bancos. Outras correram para colocar

suas casas à venda. Todo esse movimento fez o preço desses imóveis

despencarem, levando o nome de “estouro da bolha”.

Grandes instituições financeiras que tinham vultosas carteiras de

empréstimo quebraram. Grandes empresas cujas aplicações de dinheiro

estavam depositadas nessas instituições também quebraram.

Nos demais países do mundo, os grandes bancos, sem saberem quem

tinha as finanças saudáveis ou quem estava em situação falimentar,

optaram por adotar uma postura mais segura, interrompendo qualquer

concessão de crédito. Sem capital para continuar tocando seus negócios,

grandes empresas reduziram sua produção e compras.


Também foi
decidida a redução
No Brasil, bancos e empresas não conseguiram renovar suas linhas de
do IPI (Imposto
sobre Produtos crédito e sofreram o impacto da queda das compras feitas pelos clientes
Industrializados) do exterior. Em especial, as empresas fornecedoras de minérios e produtos
para os produtos agrícolas, cujas vendas estavam em elevação há alguns anos. Com a crise,
da chamada linha
se viram com a necessidade de paralisar a produção.
branca (geladeira,
fogão), linha cinza
Nesse momento, o governo Lula adotou o que se convencionou chamar
(eletroeletrônicos)
e materiais de de receituário keynesiano. Para compensar a queda da demanda vinda
construção. do exterior, decidiu-se promover uma elevação da demanda no mercado

interno. O primeiro passo foi a adoção de uma política tributária mais

frouxa, com a redução do imposto sobre a produção de automóveis, o que

permitiria reduzir o preço e aumentar as vendas dessa indústria.

Também foi decidida a redução do IPI (Imposto sobre Produtos

Industrializados) para os produtos da chamada linha branca (geladeira,

fogão), linha cinza (eletroeletrônicos) e materiais de construção.

Para facilitar ainda mais a compra desses produtos de maior valor unitário,

o governo determinou uma expansão do crédito pessoal. Como as taxas

de juros desses empréstimos estavam elevadas, houve a ordem para que

os bancos públicos (Banco do Brasil e Caixa Econômica) reduzissem suas

taxas, a fim de forçar a queda dos juros dos bancos privados que com eles

concorriam no mercado.

166
unidade 7
ECONOMIA

O BNDES começou a financiar projetos de investimento a taxas

subsidiadas para estimular os empresários a expandirem a sua produção.

O governo aumentou seus gastos, seja com o Tesouro, tendo que repassar

recursos para os bancos oficiais, seja com o pagamento da diferença das

taxas de juros subsidiadas em relação ao custo do dinheiro no mercado.

A queda na arrecadação do governo não impediu que programas

assistenciais, como o Bolsa Família, ganhassem estímulo, bem como

as políticas de correção do salário mínimo acima da inflação, o que

representava um ganho real para o trabalhador.

Todas essas medidas impediram que o consumo fosse reduzido;

pelo contrário, estimularam seu crescimento. Junto a isso, o governo

elevou os gastos de investimentos do PAC (Programa de Aceleração do

Crescimento).

Com investimentos constantes ou crescentes, a demanda agregada se

expandiu e o Brasil foi um dos países que, reconhecidamente, recuperou-

se mais rapidamente da crise.

Tal situação permitiu ao presidente Lula vangloriar-se de que o que fora

um tsunami no resto do mundo não passara de uma “marolinha” no país. O

país cresceu e o nível de emprego não se elevou, como fora previsto.

Revisão
Políticas econômicas são as medidas que o governo tem a seu
dispor para poder proceder a alterações no nível de demanda
agregada, visando reduzi-la, no caso de estar muito elevada e a
capacidade produtiva do país não conseguir atender aos gastos de
todos os agentes.

No caso de demanda agregada maior que a capacidade produtiva


do país, estaríamos convivendo com uma escassez de produtos, o
que levaria a uma elevação generalizada de preços ou INFLAÇÃO.

Caso a demanda se apresentasse insuficiente, por força do

167
unidade 7
ECONOMIA

pessimismo dos agentes econômicos, haveria o risco oposto, ou


seja, de a capacidade produtiva ficar ociosa, caracterizando uma
situação de DESEMPREGO.

As políticas econômicas são anticíclicas, com o governo adotando


medidas para ir na direção contrária ao da demanda, de forma a
compensar seus efeitos, mantendo a economia estável.

As políticas mais importantes são:

1. fiscal – que se relaciona à política tributária que cuida da


arrecadação do governo e à política de gastos públicos. Tal
política se expressa por medidas que afetam o orçamento
público.
No caso da
No caso da política tributária, uma elevação de impostos retira política tributária,
uma elevação
capacidade aquisitiva da população, contribuindo para reduzir a
de impostos
demanda agregada. retira capacidade
aquisitiva da
No caso dos gastos públicos, por serem um elemento direto do população,
contribuindo para
gasto da sociedade, seu impacto é direto e imediato. Corte de
reduzir a demanda
gastos públicos reduz a demanda agregada. Aumento de gastos agregada.
produz o efeito inverso.

2. monetária – trata da colocação de maior ou menor quantidade


de dinheiro em circulação; aumento ou redução do crédito à
disposição das famílias.

Maior dinheiro em circulação significa que as pessoas terão maior


poder aquisitivo e poderão comprar mais. Maior facilidade para a
realização de operações de crédito tem o mesmo efeito.

O efeito dessa política se faz sentir por seu impacto na taxa de


juros, que encarece ou reduz o custo das compras a prazo e dos
financiamentos para investimento.

168
unidade 7
ECONOMIA

3. de rendas – é a ação do governo decidindo a concessão de um


salário mínimo na economia ou o seu reajuste. Ou, ao contrário,
determinando arrochos salariais ou tabelamento de preços e
taxas de juros.

Inclui-se também aqui, as políticas de concessão de transferências


previdenciárias (aposentadorias, pensões) ou de bolsas
assistenciais (como o Bolsa Família).

4. cambial – visa tornar nossa moeda mais barata frente a uma


moeda estrangeira. Ao agir reduzindo o valor da nossa moeda,
o governo automaticamente torna toda nossa produção, cujos
preços são, em nossa moeda, mais baratos. Com isso, auxilia
na venda de nossos produtos para os países cuja moeda foi
valorizada. Além do uso individual dessas políticas, o governo
pode usar um mix de todas elas, para administrar a demanda
agregada.

A maior parte, com um tratamento mais ligeiro, é composta por livros

de introdução à Economia. Destaque para Fundamentos de Economia,

de Marco Antônio Sandoval de Vasconcelos e Manuel e o Manual de

Economia dos Professores da USP (de vários autores, organização de Diva

Benevides Pinho e Marco Antônio Sandoval de Vasconcellos).

O livro de Economia Monetária e Financeira – Teoria e Política (vários

autores, Elsevier Editora, 2007), embora com conteúdo mais complexo,

apresenta importantes contribuições para o entendimento das políticas

monetárias e de como elas agem.

Em geral, os textos de colunistas da área econômica ou a análise de

notícias sobre decisões adotadas pelo governo na grande imprensa

costumam trazer alguma contribuição para identificar as medidas e os

objetivos de sua escolha. Trazem ainda comentários sobre possíveis

efeitos prós ou contras.

169
unidade 7
ECONOMIA

Alguns autores de livros de Macroeconomia costumam apresentar, como

ilustração da matéria que estão abordando, quadros com comentários

de medidas de política que foram adotadas, em alguma ocasião, por

governos de outros países. Nesse caso, podem ser citados os livros de

Macroeconomia de Olivier Blanchard ou o livro, versando sobre o mesmo

assunto, de Richard Froyen.

Textos em páginas especializadas na internet, como o site do IPEA (www.

ipea.gov.br), do Banco Central (www.bcb.gov.br), da Secretaria do Tesouro

Nacional e do Ministério da Fazenda, também trazem publicações que

podem ser consultadas.

Textos de análise de conjuntura ou de medidas políticas em jornais como

Valor Econômico e Folha de São Paulo, ou ainda em revistas, como a

Revista de Economia Política, costumam ter referências ao conteúdo

dessa unidade.

170
unidade 7
Economia
internacional
Um sobrevoo sobre
nosso conteúdo
Desde os tempos mais remotos de sua presença na Terra, os
homens já realizavam trocas – mesmo quando ainda eram
nômades, vagando em busca de regiões onde pudessem encontrar
alimentos em abundância que pudessem explorar.

A princípio, as trocas eram fortuitas, acontecendo quando dois


grupos casualmente se encontravam. Mas essas trocas devem • Um sobrevoo
ter se tornado mais frequentes, à medida que algumas tribos sobre nosso
conteúdo
foram se tornando sedentárias, instaladas nas rotas cruzadas
• Uma visão
pelas outras tribos.
panorâmica
pelas teorias
Também é conhecido o fato de que o litoral grego, que é todo de comércio
internacional e
recortado, interferiu decisivamente no desenvolvimento da sua evolução
habilidade de navegação e na expansão das relações dos cidadãos
• O balanço de
atenienses com outros povos, propiciando o desenvolvimento das pagamentos
artes, da filosofia e da cultura da Grécia.
• Conceito
de câmbio
Histórias sobre as viagens empreendidas pelo navegador italiano • Política
Marco Polo, por ocasião do século XIII, o contato do mundo ocidental cambial
com uma série de bens até então desconhecidos, a difusão restrita • Mercado de
na Europa, além do estabelecimento de relações comerciais com a câmbio

China, davam a ideia da importância do comércio internacional. • Revisão

Da mesma forma, o poder, a riqueza e o desenvolvimento das


cidades-estados italianas que exerciam o controle da passagem
do comércio do Oriente para o Ocidente indicam a importância do
comércio para o desenvolvimento das nações.

É nesse contexto que economicamente surge uma prática de


política econômica, mais tarde denominada escola mercantilista,
elevando o comércio à posição central na formação da riqueza
de uma nação. Confundindo a riqueza do reino com a sua forma
de representação simbólica, o pensamento mercantilista se
caracterizava pelo dogma do metalismo. Ou seja, a crença de que
a riqueza de um país estaria associada à maior quantidade de ouro
ou outros metais que ele mantivesse em seu interior.

Em um mundo no qual as relações comerciais entre os países


eram liquidadas (liquidar, em economia tem o sentido de pagar
ou acertar a dívida), em ouro, o mercantilismo desenvolveu o que
ficou conhecido como o princípio da balança comercial favorável,
com todo o apoio sendo dado às exportações do país, enquanto
as importações deveriam ser limitadas a um mínimo. Assim, ao
lado do dogma do metalismo, percebe-se um segundo dogma,
o do intervencionismo estatal, para estimular a capacidade
produtiva da nação, promovendo reduções de custo por meio
de qualificação, educação e treinamento da mão de obra, além
da prestação de serviços preventivos de saúde, concessão de
subsídios e estímulos à elevação da produção. Por outro lado,
competia ao Estado proibir ou regular as importações, de forma
a mantê-las em um mínimo.

Com a difusão desse pensamento para outras nações e a adoção


do mesmo tipo de comportamento impeditivo às importações, não
deve ser surpresa para você que o comércio quase se extinguiu.

Com isso, a forma de possuir os metais, tornando o país mais rico,


para aqueles países não dotados desse tipo de riqueza natural, eram
as guerras de conquista ou pilhagem, de resultado sempre incerto,
ou a expansão de mercados privativos, o que justifica a expansão
ultramarina e a descoberta de novos territórios.

Assim, a própria descoberta do continente americano é fruto da


necessidade de expansão do comércio, que também explica o
sistema colonial que aí vai prosperar.

Criticando as ideias mercantilistas restritivas ao comércio e à


difusão de seus ganhos para todos os povos, especialmente sua
noção de riqueza, a economia assistiu ao desenvolvimento da ideia
de que a riqueza das nações estava vinculada, em Adam Smith, ao
trabalho anual de cada nação, exercido sobre os fatores produtivos
que possuíam.

Decorre daí a justificativa para o desenvolvimento do comércio


internacional, com base nas diferentes dotações de fatores de cada
economia, permitindo o acesso de todos os povos a alguns tipos de
bens que, do contrário, não teriam condições de produzir nem de
usufruir. É esse o conteúdo do material colocado a sua disposição
nesta unidade.

Além das teorias que justificam o comércio internacional e


sua importância, você terá acesso ao conceito de balanço de
pagamentos, a conta usada pelos países para registrarem os
valores de suas exportações, de suas importações e do resultado
desses fluxos.

Você já viu que para os mercantilistas vigorava o princípio da


balança comercial favorável. Mas em que consiste exatamente essa
balança? E onde devem ser registradas as trocas que os países
fazem, uns com os outros, referentes ao pagamento pela locação
de espaços para a conservação e o transporte de mercadorias em
navios que não sejam de sua propriedade? Ou onde devem ser
registrados os pagamentos dos prêmios de seguros de cargas,
tão importantes para a tranquilidade dos vendedores ou dos
compradores, feitos junto a companhias seguradoras de outro
país? Ou os prêmios de seguros de carga, tão importantes para a
tranquilidade dos vendedores ou dos compradores?

E o registro de empréstimos em dinheiro feitos entre os países ou


de transferência de recursos entre residentes em um país (mesmo
que por pessoas jurídicas) e residentes em outros?

Sobre essas transações, como estabelecer a questão da moeda


que irá vigorar para a liquidação dos compromissos? Ou seja, como
devemos entender e acompanhar os problemas decorrentes de
diferentes moedas e do câmbio aplicado a elas?

Finalmente, como entender os problemas gerados do fato de


a economia brasileira estar inserida em um mundo em que as
relações internacionais ganham cada vez mais importância e
tornam as economias interdependentes?

É esse o conteúdo que você estudará nessa unidade. Aproveite e


faça bom uso dele!
ECONOMIA

Uma visão panorâmica


pelas teorias de
comércio internacional
e sua evolução
Os manuais de Introdução à Economia Internacional costumam
justificar a existência de relações de intercâmbio entre os diversos
países como consequência da distribuição desigual ou dotação
relativa de fatores de produção; da maior ou menor mobilidade
desses fatores; dos preços relativos desses recursos; da existência
de diferentes estágios de avanço tecnológico em cada país e
da capacidade de a estrutura produtiva de cada país gerar ou se
apropriar de novas tecnologias.
Dessa forma,
Dessa forma, o comércio internacional envolveria os bens que o comércio
internacional
o país não pudesse produzir. Os motivos dessa não produção
envolveria os bens
poderiam ser: não dispor dos fatores produtivos necessários; não que o país não
conseguir produzir na quantidade ou no volume necessário para o pudesse produzir.
atendimento das necessidades de sua população; ter à disposição
somente bens cuja produção não se mostrava economicamente
viável, seja por força da qualidade inferior de seus recursos, do
maior custo relativo de produção, da ausência de escala capaz de
justificar o empreendimento, da adoção de técnicas ultrapassadas
e incapazes de permitirem o aumento da produtividade.

Com base nessas concepções é que foram desenvolvidas as


primeiras explicações para os ganhos advindos do comércio
internacional: a Teoria das Vantagens (comparativas) Absolutas,
de Smith e a Teoria das Vantagens Comparativas (relativas), de
Ricardo. As duas teorias são comparativas, só que uma absoluta
e outra relativa, o que as torna conhecidas como teoria das
vantagens absolutas de Smith e teoria das vantagens comparativas
de Ricardo.

176
unidade 8
ECONOMIA

De acordo com a primeira delas, com base nos benefícios da Divisão


Internacional do Trabalho e da especialização, cada país poderia
aproveitar os ganhos de produtividade traduzidos em aumento da
produtividade do trabalho. Isso significa que cada país deveria se
dedicar àqueles bens cuja produção não fosse muito dispendiosa.
Mas os bens que fossem necessários à população deveriam ser
obtidos por meio das trocas internacionais.

Mas outro economista célebre, chamado Ricardo, mostrou


que mesmo quando algum país apresentasse ganhos de
produtividade em todos os bens “tradeables” (ou passíveis de
serem comercializados), em comparação a outros países, não
tendo nenhum produto que fosse menos eficiente, ainda assim
Isso significa que
poderia extrair vantagens do comércio internacional. A condição
cada país deveria
para isso seria se especializar naqueles bens em que relativamente se dedicar àqueles
apresentasse menor custo de produção. bens cuja produção
não fosse muito
dispendiosa. Mas
Mais tarde, dois economistas suecos aperfeiçoaram a tese da os bens que fossem
vantagem comparativa estática, vinculando a especialização necessários à
produtiva do país àquela classe de bens que, para sua produção, população deveriam
ser obtidos por
fizesse uso, em maior escala, dos fatores mais abundantes do país.
meio das trocas
internacionais.
Essa abordagem que predominou no pensamento econômico por
muitos anos foi, a partir de meados do século XX, objeto de uma
série de críticas por parte dos países que apresentavam menor
grau de desenvolvimento, considerados como parte da periferia do
mundo capitalista, em contraposição aos países centrais, que eram
mais desenvolvidos.

Conforme as críticas, o caráter estático das vantagens relativas


acabava servindo como grilhões que mantinham a estrutura
produtiva do país sempre com uma mesma configuração,
cuja consequência era a de perpetuar o atraso econômico
daquelas regiões, em contraposição ao contínuo crescimento e
enriquecimento dos países mais desenvolvidos.

177
unidade 8
ECONOMIA

Mas em que consistiam essas críticas, que conquistaram o apoio


de grupos respeitados de estudiosos do tema, e facilitaram sua
difusão por vários países, contando com estruturas produtivas
distintas, mas expostos à mesma experiência negativa em suas
relações internacionais?

Servindo de base às críticas, estava o conceito de termos de


intercâmbio ou relações de trocas, definido a partir do quociente
entre o preço dos bens exportados pelo país e o preço dos produtos
por ele importados.

No caso dos países mais pobres, a experiência indicava que eles


eram vítimas de uma deterioração dos termos de troca, que os
levava a ter cada vez mais de exportar quantidades maiores de seus Servindo de base
bens, em troca da manutenção de quantidades menores dos bens às críticas, estava o
de que necessitavam. conceito de termos
de intercâmbio ou
relações de trocas,
A justificativa para essa deterioração era a assimetria na capacidade definido a partir
de incorporação de progresso técnico pelos bens em que cada tipo do quociente entre
o preço dos bens
de país se especializava. Assim, especializados na produção de
exportados pelo
bens primários, oriundos da exploração dos recursos disponíveis no país e o preço dos
meio ambiente e cujas técnicas de produção eram as mesmas há produtos por ele
muitas décadas, os países menos desenvolvidos não conseguiam importados.
melhorar as cotações alcançadas pelos preços de seus produtos.
Ao contrário, os países industrializados eram especializados em
produtos que estavam sempre apresentando melhorias decorrentes
da incorporação de progresso técnico, o que permitia que tivessem
seus preços constantemente elevados.

Por esse motivo, havia uma tendência ao declínio constante


dos preços dos produtos dos países pobres, enquanto os
produtos industrializados, frutos de indústrias mais complexas
e diversificadas, próprias da economia dos países centrais,
incorporavam cada vez mais atributos e alcançavam preços
elevados.

178
unidade 8
ECONOMIA

A consequência dessa deterioração era o estrangulamento


externo enfrentado pelos países da periferia, refletido no crescente
endividamento e dependência a que eram submetidos.

Evidenciada a importância da incorporação do progresso


tecnológico para a elevação das taxas de crescimento da
produtividade das economias periféricas e a superação do atraso
em que estavam mergulhados, esses países menos desenvolvidos,
especialmente os latinos, adotaram estratégias de desenvolvimento
fundadas em um modelo de industrialização cuja base estava na
substituição de importações, o que alguns críticos alegam ter
gerado os seguintes resultados:

i) viés pró-mercado interno, por meio da utilização de políticas


locais associadas à ideia de autossuficiência e constituição de
Viés pró-mercado
superávits comerciais; interno, por meio
da utilização de
ii) economia fechada, com altos níveis de barreiras à entrada,
políticas locais
associadas à ideia
capazes de darem origem a uma estrutura oligopolista que
de autossuficiência
sancionava a prática de preços elevados, sem preocupação com a e constituição
redução de custos e o aprimoramento técnico dos processos e dos de superávits
comerciais;
produtos;

iii) redução progressiva dos incentivos ao dinamismo tecnológico,


por força da aplicação da chamada lei de Verdoorn, que afirma
que em ambientes em que não há motivos capazes de induzir o
progresso tecnológico, o crescimento da produtividade se limita
à introdução de novas máquinas, nos momentos de ondas de
inversões.

Entretanto, foi a partir da introdução dessas novas atividades


econômicas que os países puderam capacitar-se ao longo do
tempo, apoiados, inclusive, por argumentos protecionistas como
os da indústria nascente, de Liszt, desenvolvendo vantagens
competitivas em setores até então inacessíveis.

179
unidade 8
ECONOMIA

A partir dos anos de 1980 e 1990, contudo, o mundo passa a conviver

com um fenômeno que, sem ser novo, traz características que vão alterar

profundamente o volume e as taxas de crescimento do comércio de bens,

serviços e principalmente do fluxo de capital em níveis internacionais:

a globalização. Importante destacar que esse processo, mais bem

caracterizado pelo fenômeno da ampliação em escala exponencial dos

fluxos de capital, deveria ser denominado mais apropriadamente de

processo de financeirização. Desse modo, assumiria a feição primeiro

de ampliação dos volumes de capital internacional, do tipo produtivo,

para depois alcançar a sua verdadeira natureza de fluxo de investimento

na esfera financeira, muitas vezes com fins meramente especulativos.

Nesse último caso, consequência da excessiva liquidez dos mercados

internacionais. Pode-se pois afirmar


que assistimos hoje
Pode-se pois afirmar que assistimos hoje a um processo que não tem a um processo que
nenhum precedente, seja no tocante à atividade manufatureira, tecnológica não tem nenhum
precedente, seja no
e especialmente na financeira.
tocante à atividade
manufatureira,
Particularmente na área industrial, o que a globalização provoca tecnológica e
é um aprofundamento da integração econômica, cujo agente
especialmente na
financeira.
mais dinâmico e central pode ser localizado nas empresas
transnacionais. De fato, face à grande capacidade de mobilização
de massas líquidas de capital, essas empresas expandem suas
áreas de localização, ampliando o número de suas instalações
e suas plantas, para poder aproveitar melhor os benefícios dos
custos relativos mais baixos dos recursos que cada país possa
oferecer, numa ampliação do comércio que se caracteriza por ser
mais intraempresarial que interempresarial ou internacional.

É nesse contexto que os países que desejam ampliar sua


participação nos fluxos de comércio de bens, serviços, insumos
e tecnologia, além dos produtos financeiros, devem procurar
aprimorar o nível de sua eficiência produtiva que, nos termos
do pensamento predominante nos círculos econômicos mais

180
unidade 8
ECONOMIA

importantes e mais conservadores exige, entre outros aspectos:

• maior liberalização dos fluxos de capitais, com maior


desregulamentação dos mercados financeiros (uma
situação sob crescente questionamento nos dias de hoje,
face à crise dos mercados financeiros dos Estados Unidos,
com suas consequências de derramamento (spill-over)
para as demais economias nacionais);

• ampliação da capacidade de absorção dos avanços do


progresso técnico-científico, com maior capacitação
e qualificação da força de trabalho e melhoria da
infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento;

• redução dos custos provocados por estrangulamentos


da infraestrutura física, como malha viária e portuária; Dessa forma, o
aparato estatal não
flexibilização das relações de trabalho com redução dos
se constituiria em
encargos sociais e barateamento dos custos da folha de um obstáculo para a
salários; absorção privada da
poupança nacional,
• redução do tamanho do Estado, transformando-o em um estimulando
Estado minimalista, responsável apenas pela administração o processo de
acumulação do
e provisão dos serviços sociais básicos, como saúde e
capital.
educação, a fim de reduzir a carga de impostos que lhe dão
suporte financeiro e reduzir também seus gastos. Dessa
forma, o aparato estatal não se constituiria em um obstáculo
para a absorção privada da poupança nacional, estimulando o
processo de acumulação do capital;

Dentre as propostas, a mais significativa, tendo em vista o patamar


intensivo em conhecimento atingido pelo padrão de industrialização
em escala planetária, é aquela que busca aprimorar o nível da
eficiência da estrutura produtiva, visando obter uma redução mais
ampla dos custos da produção e maior competitividade, pela maior
incorporação nos processos de produção, do progresso científico
e tecnológico, fruto da melhor educação e qualificação da força de
trabalho.

181
unidade 8
ECONOMIA

Quanto às vantagens que o país detém e que o capacitam a alcançar


a meta de maior eficiência, podem ser citadas: presença de uma
população em quantidade expressiva; dotação de fatores produtivos
em grande proporção e de natureza bastante diversificada; estrutura
industrial completa, diversificada, complexa e integrada; além de um
ambiente macroeconômico estável e com políticas conservadoras
que sustentam a manutenção dos fundamentos econômicos em
níveis adequados para satisfazer e atrair para o seu interior os
interesses do capital financeiro internacional.

O balanço de
pagamentos
Entende-se
Esta seção é livremente baseada em anotações pessoais feitas a por balanço de
pagamentos o
partir da leitura do livro de Simonsen e Cisne, capítulo 2 (SIMONSEN;
registro sistemático
CYSNE, 1995). das transações
que acontecem
entre os residentes
e não residentes
de um país, em
Entende-se por balanço de pagamentos o registro sistemático das determinado período
transações que acontecem entre os residentes e não residentes de um de tempo.
país, em determinado período de tempo.

Tal definição destaca o fato de o balanço de pagamentos ser um registro


contábil, que incorpora todos os princípios contábeis do rigor, da precisão,
da uniformidade de registros característicos da contabilidade tradicional.

Entretanto, além de ser um registro contábil, essa conta apresenta e


trabalha com valores estatísticos, ou seja, valores obtidos por meio
do cálculo de médias estatísticas e passíveis de serem motivo de
discrepâncias significativas.

Tais lançamentos podem assumir grande significado e importância


que dão origem, na estrutura do balanço de pagamentos, ao

182
unidade 8
ECONOMIA

surgimento de uma rubrica intitulada de “Erros e Omissões” ou


ainda “Discrepâncias Estatísticas”.

Vejamos mais de perto a razão desses lançamentos. Ao sair do país para

uma viagem internacional, sob qualquer justificativa, somos obrigados a

levar em nosso poder, caso não queiramos nos identificar e nos sujeitar

à fiscalização da Receita Federal e outros trâmites burocráticos, uma

quantia limitada de recursos em moeda estrangeira.

Mas o fato de estarmos sujeitos a adquirir e portar apenas essa


quantia não nos impede de fazer uso de maior quantidade de
recursos, utilizando as facilidades proporcionadas pelo cartão de
Mais importante
crédito, que também estabelece um limite.
é que a existência
desse limite não
Mais importante é que a existência desse limite não impede que impede que alguns
alguns saiam do país com maior quantidade de moeda estrangeira
saiam do país com
maior quantidade de
e principalmente não obriga ninguém a gastar exatamente o valor moeda estrangeira e
permitido. principalmente não
obriga ninguém a
gastar exatamente o
Assim, ou os órgãos de fiscalização deveriam ter um funcionário
valor permitido.
apenas para acompanhar cada viajante, o que seria um absurdo, ou
deveriam ter formas de controle do valor total gasto por viajante, o
que também é uma tarefa impossível. Por esse motivo, os viajantes
são tratados como se gastassem, em média, justamente o valor
que lhes é permitido levar em suas viagens ao exterior.

Ao final do ano, sem condições de ter certeza do valor efetivamente


gasto, os órgãos de governo podem utilizar-se de outro mecanismo
para verificar a existência de erros de registro e corrigir tal problema.
Trata-se de utilizar os conceitos de valores acima da linha ou os
registros que podem ser feitos por meio das declarações, uso de
instrumentos estatísticos ou pela abordagem abaixo da linha.

Na abordagem abaixo da linha, ao final do ano, o Banco Central

183
unidade 8
ECONOMIA

dispõe das informações reais de quanto de divisas está depositado


em seu nome, no exterior, de quanto variaram seus ativos ou
reservas e quanto você tem de passivos, inclusive por força da
posse de sua moeda por não residentes.

A variação desses saldos constitui uma forma de acessar as


informações às quais não se teve acesso por seus próprios controles.
A diferença existente é reconhecida e lançada como erros e omissões.

Outras qualificações merecem ser feitas quanto ao balanço de


pagamentos. A primeira delas refere-se à impropriedade do nome
dessa conta, tendo em vista incluir algumas operações que não
envolvem pagamentos diretos em moeda, ou até qualquer espécie
de pagamento. Nesse caso, alguns autores assinalam que melhor
A variação desses
seria a adoção do nome de balanço de transações (SIMONSEN;
saldos constitui uma
CISNE,1995). forma de acessar
as informações às
Também o registro de operações como os lançamentos que
quais não se teve
acesso por seus
sequer envolvem a realização de transações entre residentes e não próprios controles. A
residentes, como o registro de monetização de ouro. diferença existente
é reconhecida e
lançada como erros
Outra questão que merece comentário é relativa à definição do que
e omissões.
são os residentes e os não residentes.

Para efeito de registro, considera-se como residência o local que


caracteriza o centro de interesse do indivíduo, entendido o lugar no qual
vive de modo permanente, independentemente de sua nacionalidade.
Também são considerados residentes de um país os funcionários que
estão prestando serviço no exterior, ou seja, estão transitoriamente
fora do país, além das pessoas jurídicas sediadas no país.

O balanço de pagamentos é composto por dois grandes grupos de


contas: contas operacionais e contas de caixa. O primeiro grupo
registra os fatos geradores do recebimento ou transferência de
recursos para o exterior; o segundo registra os movimentos dos
meios de pagamento internacionais à disposição do país.

184
unidade 8
ECONOMIA

Contas operacionais – exportações ou importações de bens, compra ou

venda de fretes ou outros serviços, investimentos, transferências unilaterais,

empréstimos. No caso de o fato gerador dar origem a uma entrada de recursos

deve ser escriturado a crédito. Caso dê origem à saída de recursos, deve ser

lançado a débito.

Contas de caixa - Registra-se a variação das reservas internacionais. As

contas são: haveres a curto prazo no exterior, no qual se contabilizam as

variações de estoques de moedas estrangeiras e títulos de curto prazo.

Também se registram as contas de liquidez internacional à disposição dos

residentes, que incluem: o ouro monetário, os direitos especiais de saques

e a posição de reserva no FMI – que não se confunde com empréstimos

de regularização, que são diferentes das reservas.

A razão para essa distinção é o fato de a utilização das reservas no A razão para essa
Fundo não estar sujeita a qualquer condição. distinção é o fato
de a utilização das
reservas no Fundo
Os lançamentos da conta de caixa são registrados de forma não estar sujeita a
semelhante à contabilidade das contas empresariais do Ativo: qualquer condição.
nesse caso, o aumento do valor da conta ou dos direitos deve ser
lançado a débito, enquanto reduções de saldos são lançadas a
crédito.

a) Exportação de mercadorias com pagamento em moeda, cujo

lançamento é feito a crédito de exportações e débito de haveres a

curto prazo no exterior.

b) Importação de mercadorias com pagamento à vista, em moeda

nacional. Registra-se o débito de importações e crédito de capitais de

curto prazo. Um detalhe: obrigações monetárias do sistema bancário

(moeda nacional) e títulos de curto prazo na mão de estrangeiros são

considerados obrigações a curto prazo, contabilizados em capitais a

curto prazo.

185
unidade 8
ECONOMIA

c) pagamento feito por um país, em ouro monetário, a título de amortização

de empréstimo externo, que deve ser lançado a débito de amortização

contra um crédito de ouro monetário.

Se a transação não envolver moeda, deve ser registrada como


se houvesse a ocorrência de duas transações, uma envolvendo a
entrada e outra a saída dos produtos.

Assim, o recebimento de donativos ou a transferência unilateral de


mercadorias deve ser tratado como se houvesse o recebimento
de donativo em dinheiro, seguido da importação da mercadoria
objeto da doação. Nesse caso, os lançamentos seriam a crédito de
transferências unilaterais e débito de importações.

No caso de permuta de mercadorias com o exterior, teríamos o


Se a transação não
lançamento de crédito de exportações e débito de importações. envolver moeda,
Por fim, a aquisição de equipamento estrangeiro, com o uso deve ser registrada
de financiamento externo seria registrado como crédito de
como se houvesse a
ocorrência de duas
financiamentos e débito de importações.
transações, uma
envolvendo a entrada
Do ponto de vista de sua estrutura, o balanço de pagamentos é e outra a saída dos
produtos.
apresentado em uma coluna, classificada conforme os diferentes
grupos de contas, sendo que a soma dos saldos deve ser sempre
igual a zero.

Estrutura do balanço de
pagamentos (BP)
A apresentação do balanço de pagamentos é feita em uma coluna
dividida em diferentes grupos de contas, sendo a soma dos
lançamentos nas contas operacionais ou de caixa devendo ser
compensadas com créditos e débitos iguais a zero.

Por força dessa disposição, ao ser traçada qualquer linha no sentido


horizontal, separando os itens em acima e abaixo da linha, os grupos
formados devem apresentar o mesmo resultado, mas com sinal trocado.

186
unidade 8
ECONOMIA

O BP apresenta duas contas principais: a conta de transações


correntes, que totaliza a movimentação de mercadorias e serviços,
inclusive aqueles provenientes do fator capital – além de indicar o
volume de transações reais; e a conta de movimentos de capitais,
em que são registrados os deslocamentos de moeda, créditos e
títulos de investimento.

Devido à escrituração por partidas dobradas, o saldo da conta


de transações correntes deve apresentar resultado igual ao do
balanço de capitais com sinal trocado, de tal forma que a soma das
transações correntes com o resultado do balanço de capitais seja
igual a zero. Dessa forma:

T + K = 0 ou T = -K

Ao contrário, um
Isso evidencia que se o país tiver um superávit em suas transações déficit nas contas
correntes, sua conta de capital deverá apresentar sinal negativo, o correntes deverá
que significa que deverá haver um aumento de seus ativos externos representar uma
redução no saldo
líquidos. Ao contrário, um déficit nas contas correntes deverá
líquido total de ativos
representar uma redução no saldo líquido total de ativos externos. externos.

A conta de transações correntes pode ser entendida como o


resultado da soma algébrica das contas denominadas de balança
comercial, da conta de balança de serviços e transferências
unilaterais. Assim, sua composição mostra:

I – Balança comercial
• Exportações
• Importações

Essa conta serve apenas para o registro da venda ou da compra


de bens tangíveis, que têm existência física concreta, como café,
açúcar, minério, petróleo, máquinas etc, pelo valor FOB (free on
board), cujo significado é livre a bordo, indicando que o preço da
mercadoria embarcada não inclui – está livre de custos relativos ao
transporte e aos seguros da carga.

187
unidade 8
ECONOMIA

II – Balança de serviços

• Viagens internacionais
• Transportes
• Seguros
• Rendas de capital
• Lucros
• Lucros reinvestidos
• Juros
• Serviços governamentais
• Serviços diversos
• Relativos a fatores de produção
• Não relativos a fatores de produção

Essa conta registra, pelo valor líquido (exportações menos


importações, com sinal do valor maior), as transações que envolvem
Registram
produtos que não têm realidade física, sendo abstratos, intangíveis.
transações que não
têm contrapartida
III – Transferências unilaterais sob a forma de
qualquer pagamento
ou realização
Registram transações que não têm contrapartida sob a forma de
de uma troca.
qualquer pagamento ou realização de uma troca.

Ocorrem em situações de desastre que afetam populações e dão


origem à assistência humanitária. Incluem também a remessa
de valores para sua residência de trabalhadores sem licença que
atuam como clandestinos em países de outra nacionalidade.

IV - Saldo do balanço em conta de transações correntes ou saldo


em transações correntes

Soma algébrica de I + II + III.

V – Movimento de capitais autônomos ou capitais privados

Nos investimentos diretos estrangeiros (IDE), são registrados os

188
unidade 8
ECONOMIA

investimentos estrangeiros no país, em capital produtivo.


• Reinvestimentos
• Investimentos em carteira ou portfólios
• Empréstimos
• Amortizações
• Capitais a curto prazo
• Outros

Servem para registrar o deslocamento de valores monetários entre


dois países, por decisão autônoma do proprietário do capital.

VI – Erros e omissões

VII – Saldo total do balanço de pagamentos


Essa última conta
VIII – Movimentos de capitais compensatórios ou capitais oficiais é o local em que
se registram
• Contas de caixa movimentos oficiais
de capitais utilizados
• Haveres
pelo país para seu
• Ouro financiamento, não
• DES obtida por vontade
• Reservas no fundo dos proprietários
dos capitais.
• Empréstimo de regularização
• Atrasados

Essa última conta é o local em que se registram movimentos


oficiais de capitais utilizados pelo país para seu financiamento, não
obtida por vontade dos proprietários dos capitais.

A conta de atrasados comerciais vale uma observação: trata-se do


reconhecimento e explicitação, para o fechamento da conta, de que
o país não tem como saldar seus compromissos com o exterior,
caracterizando a pior situação possível. A partir desse evento, o país
fica sem qualquer acesso aos mercados internacionais, exceto contra
pagamento em espécie, feito antes da expedição da mercadoria.

189
unidade 8
ECONOMIA

Algumas relações contábeis podem ser estabelecidas de tudo que


foi visto até aqui.

T = -K

O resultado da conta de transações correntes é igual ao movimento


de capitais com sinal trocado.

A conta de transações correntes deve ser de mesmo valor que a


soma, com sinal trocado, da soma de capitais autônomos mais os
capitais compensatórios.

T = - (Ka + Kt)

No qual Kt são os capitais compensatórios


A conta de
transações correntes
T + Ka = - Kt, deve ser de mesmo
valor que a soma,
com sinal trocado,
o que faz da conta de capitais compensatórios o demonstrativo de
da soma de
resultados do BP. capitais autônomos
mais os capitais
compensatórios.
Além disso, se T + Ka é deficitário, então Kt deve ser positivo,
mostrando que o país perdeu reservas ou tomou empréstimos
de regularização junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI)
para financiar o déficit.

Conceito de câmbio

Taxa de câmbio é o valor de uma moeda estrangeira, também chamada

de divisa, com base no valor da moeda nacional; ou o preço, em moeda

nacional, de uma divisa. O que ela deve expressar é o valor da moeda de um

país e dos produtos cujo preço (e custos) seja estipulado naquela moeda.

190
unidade 8
ECONOMIA

Representa-se a taxa de câmbio, pelo quociente:

Taxa = quantidade de moeda nacional / US$ 1,00

Uma vez que se trata de um quociente, há que se tomar cuidado


com o significado da expressão – queda da taxa de câmbio.

Uma vez que, por definição, o denominador da fração expressa


sempre o valor de uma unidade da moeda estrangeira (no caso, 1
US$), a queda da taxa só pode ser dada pela redução do numerador
da fração. Isso significa que menos moeda nacional vai ser dada
em troca de um mesmo dólar ou que nossa moeda se VALORIZOU.

Portanto, cuidado! A expressão ‘queda da taxa’ não significa desvalorização


Portanto, cuidado! A
do câmbio ou do valor da nossa moeda.
expressão ‘queda da
taxa’ não significa
A justificativa da necessidade de realização desse tipo de operação é desvalorização do
câmbio ou do valor
a existência de moedas diferentes entre os países que estabelecem
da nossa moeda.
relações ente si, o que os impede de utilizarem um mesmo meio
de pagamento para saldar os compromissos internacionais.
Adicionalmente, a taxa de câmbio, ao converter o preço de um
bem em determinada unidade monetária permite a comparação de
preços entre as mercadorias.

Alguns países definem ainda uma taxa de câmbio direta, que é


a definição do preço (em moeda nacional) de uma unidade de
moeda estrangeira. Outros adotam a taxa de câmbio indireta, que
é o inverso da taxa direta, indicando o preço de uma unidade de
nossa moeda, em qualquer outra divisa. Em outras palavras, indica
a quantidade de moeda estrangeira necessária para comprar uma
unidade do Real.

Os regimes ou sistemas cambiais são classificados como o regime


administrado ou de câmbio fixo – em que o governo estabelece o

191
unidade 8
ECONOMIA

valor da unidade de moeda estrangeira.

Vale observar que, embora a paridade seja fixa, ela pode ser mudada
a todo o momento, bastando para isso que o governo resolva
mudar constantemente o valor. Pode variar, mas o que a faz ser fixa
é que enquanto o governo a quiser assim, a taxa não muda. A taxa é
administrada porque representa a expressão da vontade ou desejo
do governo.

Para que a cotação seja aquela fixada pelo governo, nenhum agente,
exceto o próprio governo, pode possuir moeda estrangeira, de forma
a se tornar o único agente econômico a vender ou comprar a moeda
No caso de as pessoas poderem manter moeda em seu poder,
poderiam, se o desejassem, vendê-la por preço diferente daquele No caso de, em
estabelecido pelo governo, o que caracterizaria um fracasso da determinado
política do governo. momento, haver
mais demanda
pela moeda, sua
O outro regime de câmbio é o chamado câmbio flexível ou flutuante, falta levará a uma
em que a taxa não é determinada pela autoridade, mas depende elevação de seu
preço. Logo em
das oscilações da procura e da oferta no mercado.
seguida, se tiver
mais oferta da
No caso de, em determinado momento, haver mais demanda pela moeda, o preço
moeda, sua falta levará a uma elevação de seu preço. Logo em dela cai.
seguida, se tiver mais oferta da moeda, o preço dela cai.

Embora a taxa flutuante tenha seu valor determinado pelo mercado,


pela atuação das forças da procura e da oferta e sem interferência
do governo, este pode praticar uma política denominada de
flutuação suja em que, mesmo respeitando as leis do mercado, usa
seu poder de grande detentor de moedas para interferir no preço
do mercado. Nesse caso, venderá muita moeda, se desejar fazer a
cotação dela cair; em caso contrário, comprará muita moeda.

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unidade 8
ECONOMIA

Política cambial
A política cambial é baseada na administração da taxa de câmbio e
controle de operações de câmbio.

• Indiretamente é ligada à política monetária.

• Difere dela por atuar mais diretamente nas variáveis


envolvidas nas transações econômicas do país com o
exterior.

Impactos da política cambial sobre a política monetária

Exportação forte – tem impacto monetário em função da entrada


de grande quantidade de moeda estrangeira no país, em pagamento A maior pressão pela
das exportações. Tal impacto acarreta a depreciação da moeda expansão da oferta
de moeda nacional
estrangeira e apreciação da moeda do país exportador.
gera impactos
sobre o controle
Resultado semelhante pode ser causado pela captação maior via da taxa de juros.
emissão de títulos no exterior (via “comercial papers” ou bônus). Alternativamente,
para enxugar a
liquidez pode haver
Em ambos os casos, a entrada de dólares impõe a necessidade uma expansão da
de uma maior conversão de moeda estrangeira em Reais, o que dívida mobiliária.
significa maior emissão de moeda, fato que pode acarretar em
inflação. Ambas as operações, junto com recursos que entram
para aplicações em Bolsas de Valores, representam, em conjunto, o
volume de fechamento de câmbio das compras financeiras.

A maior pressão pela expansão da oferta de moeda nacional gera


impactos sobre o controle da taxa de juros. Alternativamente, para
enxugar a liquidez pode haver uma expansão da dívida mobiliária.

Tendo em vista que um aumento de reservas no BC rende menos


que os juros da Selic, há que se levar em consideração o custo de
carregamento da carteira de reservas. Daí ser frequente a utilização
do argumento de que uma boa política cambial é aquela que

193
unidade 8
ECONOMIA

possibilita a elevação do fluxo de exportações, juntamente com


o aumento do fluxo de importações. E, para alguns analistas, o
objetivo da política deve ser assegurar que um déficit em transações
correntes que venha a ocorrer possa ser financiado pela entrada de
capitais financeiros.

Mercado de câmbio
É o espaço institucional em que se efetua a negociação de moedas
estrangeiras e dos agentes interessados nelas. Em geral, devem
ser feitas com a interveniência de estabelecimentos bancários
autorizados a operarem em câmbio. A autorização para assumir
posição compradora ou vendedora em câmbio é concedida para
os bancos múltiplos com carteira comercial ou de investimentos;
bancos comerciais e bancos de investimento.
Quanto à operação
Assumindo posições compradoras do mercado de taxas flutuantes,
de câmbio, esta
consiste na troca da
as autorizações são concedidas às sociedades de crédito, moeda de um país
financiamento e investimento (conhecidas como Financeiras), às pela de outro.
corretoras de títulos e valores mobiliários e às distribuidoras de
títulos e valores mobiliários (CTVM e DTVM), além das corretoras
de câmbio.

Quanto aos elementos que participam do mercado, podem ser


identificados os que produzem divisas e trazem dólares, como os
exportadores, turistas estrangeiros, tomadores de empréstimos no
momento da concretização do empréstimo, ou seja, todo aquele que
recebe transferências do exterior. Também os agentes que cedem
divisas ou remetem dólares participam, como os importadores e
tomadores de empréstimos pagando juros ou principal, ou seja, os
agentes que transferem ou remetem recursos para o exterior.

Quanto à operação de câmbio, esta consiste na troca da moeda de


um país pela de outro. A descrição dessas operações pode ser feita
como a seguir: a compra é feita por um banco que compra e recebe

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unidade 8
ECONOMIA

moeda estrangeira pagando em Reais. No ato da venda, o banco


entrega moeda estrangeira e recebe Reais. A operação de entrega
de moeda estrangeira em troca de outra é chamada de arbitragem.

Os efeitos do ciclo econômico e como a globalização os transmitem

Sendo um grande produtor de commodities, que toma a direção de

mercados internacionais (ex.: minério de ferro) ou a produção agrícola,

composta por grãos (ex.: soja, milho, algodão, café), o Brasil sempre se

beneficia quando as condições da economia mundial indicam estar em

curso um processo de desenvolvimento ou auge cíclico.

Foi assim que aconteceu nos anos iniciais do século XXI, quando teve

lugar uma forte e sustentada expansão econômica na China, no mesmo

instante em que a melhoria das condições de renda alcançava também

a Índia, embora em menor intensidade.

Experimentando um processo de crescimento industrial que se

desenvolve a taxas superiores aos dois dígitos, a China constituiu um

mercado cada vez mais importante para o minério de ferro brasileiro,

cujo teor e qualidade sempre foram reconhecidos.

Isso levou o Brasil a produzir e exportar, a partir do ano de 2002/2003,

grande quantidade de minério para o Oriente, o que lhe permitiu dar um

grande salto no quantum físico exportado.

Por outro lado, sempre que há uma elevação importante da demanda

por um bem primário ou diretamente extraído da natureza, como é o

caso do minério de ferro, pode-se esperar uma alteração dos preços

relativos do produto primário, quando comparado com o movimento

dos preços dos produtos industrializados. Em geral em desfavor dos

produtos industrializados.

A razão é que, enquanto os produtos manufaturados podem ter

um número maior de estabelecimentos produtores, à medida que

caminhamos na direção mais ‘à montante’, ou seja, que voltemos

195
unidade 8
ECONOMIA

nossa atenção para as etapas iniciais que integram a cadeia produtiva,

é possível notar uma redução do número de empresas e menor

concorrência dos setores produtores de insumos.

Com isso, dada a limitação do número das empresas fornecedoras,

para quem todo o excesso de demanda será direcionado, e dada a

dificuldade delas expandirem sua capacidade de produção em curto

prazo, é de se esperar uma elevação dos preços das matérias-primas.

No caso brasileiro, a elevação dos preços do minério de ferro alcançou

um patamar próximo aos 72%, o que contribuiu positivamente no

resultado de nossa balança comercial. Assim aconteceu com o minério

de ferro. Movimentos semelhantes também ocorreram com o preço

da soja, nesse caso explicada pela melhoria do padrão de consumo da

população, tanto da China quanto da Índia.


Tal fenômeno, que
Ao lado da melhora do padrão de renda nesses países e da melhoria
afetou nossa taxa
de câmbio, ajudou a do padrão alimentar, deve ser acrescentada a melhoria das condições
conter a inflação no econômicas de outros países com efeitos sobre o aumento de suas
país, especialmente
importações, os chamados emergentes, cujas primeiras letras de
pela elevação
de importação seus nomes deram origem a um acrônimo, os BRICS (B de Brasil, R de
de produtos de Rússia, I de Índia, C de China e o S de África do Sul).
consumo mais
baratos. Em parte, a exportação desses produtos, assegurando resultados cada

vez mais favoráveis na nossa balança de comércio, influenciaram o

aumento de gastos em nossas contas, como aquela que registra viagens

internacionais (para o exterior). Seguramente, também permitiram

grande fluxo de entrada de moeda forte, como o dólar, que sofreu

desvalorização em relação ao Real.

Tal fenômeno, que afetou nossa taxa de câmbio, ajudou a conter

a inflação no país, especialmente pela elevação de importação de

produtos de consumo mais baratos. Auxiliou também na redução de

custos industriais em nosso país, já que importar insumos ficou mais

barato que adquiri-los internamente.

A partir da crise internacional provocada pelo sistema financeiro

americano, em 2008, que se espalhou por todos os países do mundo,

sobreveio uma virada do ciclo econômico, com vários países passando

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ECONOMIA

a viver experiências de recessão. Pior: tal situação recessiva em escala

planetária está longe de chegar ao seu término, e foi o que levou a China

a cortar seus planos de crescimento e, com eles, as compras de nossas

exportações. Você é capaz de identificar que há assim uma inversão de

toda a situação que descrevemos e que foi positiva para o nosso país?

Acarretando, entre outros efeitos, alterações nas exportações, impactos

no preço dos produtos por nós exportados. Mudanças na cotação

do dólar? Retomada da inflação, desemprego, e tantas situações que

estamos tendo a oportunidade de testemunhar?

Revisão
Princípio da balança comercial favorável: princípio mercantilista
segundo o qual o país ficaria rico se exportasse tudo que fosse
possível, evitando importar o máximo de bens possível.

Teoria das vantagens absolutas: todo país deve se especializar na


produção daqueles bens que apresentam maior eficiência produtiva,
ou seja, que produzem a um custo mais reduzido ou com maior
produtividade que outro país.

Teoria das vantagens comparativas: mesmo que um país seja


melhor na produção de todos os bens, se comparado a outro país,
ainda assim vale a pena que ele se especialize e troque o produto
em que sua produtividade ou eficiência é muito grande. Nesse caso,
mesmo sendo mais eficiente na produção do outro bem, ele deve
importar o produto em que sua produtividade não é tão elevada.

Teoria das vantagens comparativas dinâmicas: ao longo do tempo,


países que antes não dispunham de condições de produção com
eficiência podem desenvolver habilidades e qualificação, passando
a produzir o mesmo bem com maior eficiência. Assim, ao longo
do tempo, as vantagens comparativas podem ser alteradas, o
que justifica o fato de algumas situações, políticas de estímulo à
produção daquele bem em que o país era considerado não apto,

197
unidade 8
ECONOMIA

serem estimuladas, gerando benefícios para o país.

Balanço de pagamentos: registro sistemático (contábil) e estatístico


das principais relações realizadas entre os residentes de um país e
os não residentes.

Taxa de câmbio: é o preço, em moeda nacional, de uma unidade de


moeda (ou divisa) estrangeira.

Artigos publicados no Jornal VALOR, de autoria do professor Reinaldo

Gonçalves ou outros relacionados ao mesmo assunto (câmbio) são

sempre uma excelente recomendação. Gonçalves é autor de vários

textos que podem ser acessados no site do Instituto de Economia

da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O Instituto de Economia

da Universidade de Campinas também tem um Centro de Relações

Econômicas Internacionais, com material publicado pelos professores

daquele Núcleo.

Mais recentemente, o professor Luís Carlos Bresser Pereira tem

publicado uma série de artigos em jornais e concedido entrevistas,

visando difundir o problema por ele identificado como “doença

holandesa” e que afeta nossa indústria. O seu mais recente lançamento

é um livro de análise da economia brasileira, em que volta a abordar o

problema do câmbio.

Referências importantes: sites do Banco Central do Brasil, para tratar

das contas externas do país; do IBGE, do IPEA.

198
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