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Curso de Teologia JMJ

Introdução à Bíblia

(1 e 1.1 extraídos de BETTENCOURT, Estêvão Tavares; LIMA, Maria de Lourdes C. Curso Bíblico Mater Ecclesiae. 2d. Rio de Janeiro: Letra Capital,
2016. p. 36-38; 40-41)

1 Inspiração Bíblica: noção

O estudo da Bíblia deve começar pela prerrogativa que cristãos e judeus reconhecem a este
livro: é a Palavra de Deus inspirada. Por causa disto é que tanto a estimamos.

a) Mas, quando se fala de inspiração bíblica, talvez aflore à mente a noção de ditado mecânico,
semelhante ao que o chefe de escritório realiza junto à sua datilógrafa; esta possivelmente escreve
coisas que não entende e que são claras apenas ao chefe e à sua equipe. Ora tal não é a inspiração
bíblica. Ela não dispensa certa compreensão por parte do autor bíblico (hagiógrafo) nem a sua
participação na redação do texto sagrado.

b) A inspiração bíblica também não é revelação de verdades que o autor humano não conheça.
Existe, sim, o carisma dom da Revelação, que toca especialmente aos Profetas, mas é diverso da
inspiração bíblica; esta se exercia, por exemplo, quando o hagiógrafo descrevia uma batalha ou outros
fatos documentados em fontes históricas, sem receber revelação divina

c) Positivamente, a inspiração bíblica é a iluminação da mente do autor humano para que


possa, com os dados de sua cultura religiosa e profana, transmitir uma mensagem fiel ao pensamento
de Deus. Além de iluminar a mente, o Espírito Santo fortalece a vontade e as potências executivas do
autor para que realmente o hagiógrafo escreva o que ele percebeu (cf. 2Pd 1,21). As páginas que assim
se originam, são todas humanas (Deus em nada dispensa a atividade redacional do homem) e divinas
(pois Deus acompanha passo a passo o trabalho do homem escritor). Assim diz-se que a Bíblia é um
livro divino-humano, todo de Deus e todo do homem; transmite pensamento de Deus em roupagem
humana; assemelha-se ao mistério da Encarnação, pelo qual Deus se revestiu da carne humana, pois
na Bíblia a palavra de Deus se revestiu da palavra do homem (judeu, grego, arameu, com todas as
particularidades de expressão)

d) Notemos agora que a finalidade da inspiração bíblica estritamente religiosa. Os livros


sagrados não foram escritos para nos ensinar dados de ciências naturais (pois, estas, o homem as pode
e deve cultivar com seus talentos), mas, sim, para nos ensinar o plano de salvação divina, o sentido do
mundo, do homem, do trabalho, da vida, da morte... diante de Deus. Não há, pois, contradição entre
a mensagem bíblica e as das ciências naturais, nem se devem pedir à Bíblia teorias de ordem física ou
biológica... Mesmo Gênesis 1-3 não pretendem ensinar como nem quando o mundo foi feito.

1.1 Veracidade da Bíblia: âmbito

Se a Bíblia é a Palavra de Deus feita palavra do homem, entende-se que ela deva ser inerrante
(sem erro de espécie alguma) ou veraz (portadora da verdade). Mas como se pode sustentar isto, se à
Escritura, à primeira vista, está cheia de "erros"? O sol terá parado no seu curso em torno da terra,
conforme Js 10,12-14: Is 38,7... Nabucodonosor era rei de Nínive, segundo Jt 1,5; Dario terá sido filho
de Assuero, conforme Dn 9,1.

Eis a resposta:

1) E isento de erro ou veraz tudo aquilo que o hagiógrafo como tal afirma...

2) ...no sentido em que o hagiógrafo o entendeu.

Comentemos:

1) O autor sagrado pode afirmar algo em seu nome, como pode afirmar em nome de outrem.
Por exemplo, em Jo 1,18, o Evangelista afirma que Jesus nos revelou Deus Pai. Mas no salmo 52/53.2
se lê: "Deus não existe". Como explicar a contradição? Em Jo 1,18 é o autor sagrado como tal quem
afirma; a sua afirmação é absolutamente verídica; mas no SI 52/53, o salmista apenas afirma que o
insensato diz em seu coração: "Deus não existe". Quem diz que Deus não existe, não é o autor sagrado;
este apenas afirma (e afirma com plena veracidade) que o insensato nega a existência de Deus (o
insensato erra ao negá-la; o salmista apenas verifica o fato).

2) ... no sentido em que o hagiógrafo o entendeu. Com outras palavras: de acordo com o
gênero literário e as figuras de estilo adotados pelo autor bíblico. Se este quis usar de metáfora, não
deverei tomá-lo ao pé da letra; se quis usar de linguagem precisa não deverei entendê-lo
metaforicamente. Voltando aos casos apontados, diremos: quando Js 10,12-14 diz que Josué mandou
parar o sol, o gênero é de poesia lírica; há, pois, uma imagem literária, segundo a qual o
"estacionamento do sol"' quer dizer "escurecimento da atmosfera, clima de tempestade de granizo";
por conseguinte, Josué pediu a Deus uma tempestade de granizo que o ajudasse a vencer a batalha,
tempestade da qual fala o texto de Js 10,11. Quando os livros de Judite e Daniel parecem errar na
cronologia dos reis, estão recorrendo à maneira judaica de interpretar chamada de midraxe, que
intencionalmente não pretende ser crônica, mas apresenta a história como veículo de edificação.
Quando Mateus 1,17 diz que de Abraão até Cristo houve 42 gerações (na verdade houve mais do que
isto), quer jogar com a simbologia do número 42 – o que também pertence à forma de utilização de
dados da tradição judaica chamada midraxe.

CARTA ENCÍCLICA PROVIDENTISSIMUS DEUS (trecho, n. 41)

Papa Leão XIII


A INSPIRAÇÃO DIVINA DOS LIVROS SANTOS
41. Essa é a antiga e constante fé da Igreja, definida também com sentença solene dos Concílios
Florentino e Tridentino e finalmente confirmada e declarada mais expressamente no Concílio Vaticano
[I] que assim decretou, da maneira mais absoluta: “É preciso ter como sagrados e canônicos os livros
inteiros do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas partes, como são elencados pelo decreto
do mesmo Concílio (Tridentino) e como se encontram na antiga edição Vulgata latina. E a Igreja os tem
como sagrados e canônicos não porque, compostos unicamente pelo talento humano, tenham sido
depois aprovados por sua autoridade e tampouco pelo simples fato de conter a revelação sem erros,
mas porque tendo sido escritos sob a inspiração do Espírito Santo, têm Deus como autor”. Por isso não
tem valor aqui dizer que o Espírito Santo teria tomado alguns homens como instrumentos para
escrever, como se algum erro possa ter escapado não certamente ao autor principal, mas aos
escritores inspirados. Com efeito, ele próprio assim estimulou-os e levou-os a escrever com sua virtude
sobrenatural, assim assistiu-os enquanto escreviam, de forma que todas aquelas coisas e somente as
que ele queria, as concebessem retamente com a mente, e tivessem a vontade de escrevê-las
fielmente e exprimissem-nas de maneira condizente com a verdade infalível: diversamente não seria
ele próprio o autor de toda a Sagrada Escritura. Foi isso que os santos Padres sempre julgaram:
Agostinho diz: “Portanto, desde que eles escreveram o que ele lhes mostrava e dizia, absolutamente
não se pode dizer que não tinha sido ele a escrever, quando seus membros fazem o que conheceram
pela palavra do chefe”. E São Gregório Magno diz: “É verdadeiramente inconsistente querer procurar
quem tenha escrito tais coisas, quando se crê fielmente que o autor do livro é o Espírito Santo.
Portanto, escreveu tais coisas quem as ditou para serem escritas; escreveu aquele que foi o inspirador
na obra daquele”. Consequentemente deriva que os que admitem que nos lugares autênticos dos
Livros sagrados se possa encontrar algum erro, certamente estes ou pervertem a noção católica da
inspiração divina ou fazem o próprio Deus autor do erro. Todos os Padres e doutores estavam de tal
modo convencidos que as Letras divinas, assim como foram compostas pelos hagiógrafos, estão
absolutamente imunes de todo erro, que não poucos daqueles trechos que parecem apresentar
alguma coisa de contrário ou diverso (isto é, quase os mesmos que agora são propostos como objeções
sob o nome de ciência nova) procuraram de maneira não menos sutil e religiosamente compô-los e
conciliá-los entre si, professando à humanidade que aqueles livros, quer inteiramente, quer nas suas
partes singulares, eram igualmente inspirados divinamente e que o próprio Deus que falou por meio
dos autores sagrados não pôde absolutamente inspirar algo falto de verdade. Sirva para todos os que
o próprio Agostinho escrevia a Jerônimo: “Eu, com efeito, confesso à tua benevolência que aprendi a
prestar tal veneração e honra somente aos livros das Escrituras, que já são chamados canônicos, e que
creio firmissimamente que nenhum de seus autores tenha cometido algum erro ao escrever. E se, por
acaso, encontrasse neles alguma coisa que parecesse contrária à verdade, não tenho a mínima dúvida
de que isso dependa ou do códice defeituoso, ou do tradutor que não interpretou retamente o que foi
escrito, ou que a minha mente não conseguiu entender”.

1.3 O Cânon das escrituras


(texto extraído de AQUINO, Felipe. A Igreja Católica e a Bíblia. cleofas.com.br/a-igreja-catolica-e-a-biblia [adaptado])

Se não fosse a Igreja Católica, não existiria a Bíblia como a temos hoje, com os 72 livros
canônicos, isto é, inspirados pelo Espírito Santo.
“Foi a Tradição apostólica que fez a Igreja discernir que escritos deviam ser enumerados na
lista dos Livros Sagrados” (Dei Verbum 8).
Portanto, sem a Tradição da Igreja não teríamos a Bíblia. Santo Agostinho dizia: “Eu não
acreditaria no Evangelho, se a isso não me levasse a autoridade da Igreja Católica”(CIC,119).
Por que a Bíblia católica é diferente da protestante? Esta tem apenas 66 livros porque Lutero
e, principalmente os seus seguidores, rejeitaram os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc,
Eclesiástico (ou Sirácida), 1 e 2 Macabeus, além de Ester 10,4-16; Daniel 3,24-20; 13-14.
No ano 100 o Sínodo de Jâmnia (ou Jabnes), [realizado por judeus de Jerusalém definiu critérios
para definir os Livros do Antigo Testamento que deveriam ser recebidos como canônicos, formando a
Bíblia Hebraica]:
1. deveria ter sido escrito na Terra Santa;
2. escrito somente em hebraico, nem aramaico e nem grego;
3. escrito antes de Esdras (455-428 a.C.);
4. sem contradição com a Torá ou lei de Moisés.

Versão dos Setenta: Alexandria – 200 anos antes de Cristo, incluiu os livros que os judeus de Jâmnia,
por critérios nacionalistas, rejeitaram. Havia então no início do Cristianismo duas Bíblias judaicas: uma
da Palestina (restrita) e a Alexandrina (completa – Versão dos LXX).
Os Apóstolos e Evangelistas optaram pela Bíblia completa dos Setenta (Alexandrina),
considerando canônicos os livros rejeitados em Jâmnia.
Das 350 citações do Antigo Testamento que há no Novo, 300 são tiradas da Versão dos Setenta,
o que mostra o uso da Bíblia completa pelos apóstolos.
Verificamos também que nos livros do Novo Testamento há citações dos livros que os judeus
nacionalistas da Palestina rejeitaram. Por exemplo: Rom 1,12-32 se refere a Sb 13,1-9; Rom 13,1 a Sb
6,3; Mt 27,43 a Sb 2, 13.18; Tg 1,19 a Eclo 5,11; Mt 11,29s a Eclo 51,23-30; Hb 11,34 a 2 Mac 6,18; 7,42;
Ap 8,2 a Tb 12,15.
Nos mais antigos escritos dos santos Padres da Igreja (patrística) os livros rejeitados pelos
protestantes (deuterocanônico) são citados como Sagrada Escritura.
São Clemente de Roma, Papa, no ano de 95 escreveu a Carta aos Coríntios, citando Judite,
Sabedoria, fragmentos de Daniel, Tobias e Eclesiástico; livros rejeitados pelos protestantes.
Pastor de Hermas, no ano 140, faz amplo uso de Eclesiástico, e do 2 Macabeus;
Santo Hipólito (†234), comenta o Livro de Daniel com os fragmentos deuterocanônicos
rejeitados pelos protestantes, e cita como Sagrada Escritura Sabedoria, Baruc, Tobias, 1 e 2 Macabeus.
Vários Concílios confirmaram isto: os Concílios regionais de Hipona (ano 393); Cartago II (397),
Cartago IV (419), Trulos (692). Principalmente os Concílios ecumênicos de Florença (1442), Trento
(1546) e Vaticano I (1870).
Lutero, ao traduzir a Bíblia para o alemão, traduziu também os sete livros (deuterocanônicos)
na sua edição de 1534, e as Sociedades Biblícas protestantes, até o século XIX incluíam os sete livros
nas edições da Bíblia.

2 VISÃO GERAL DA HISTÓRIA DO POVO DE ISRAEL

(Texto extraído de AQUINO, Felipe. A Sagrada Escritura. Coleção Escola da Fé, Vol. II. 7ª ed. Lorena : Cléofas, 2010, p. 54 a 63 [adaptado])

Para se poder compreender o Antigo Testamento é importante que conheça a história do povo
hebreu, pois sabemos que é através desse povo que Deus se manifestou à humanidade e preparou-a
para receber seu Filho amado.
A história do povo hebreu começou na região da Caldeia, hoje é o Iraque. Era uma região bem
desenvolvida para aquela época, 4000 anos antes de Cristo (a.C.). Também havia outra grande
civilização que era a do Egito. Entre a Caldeia e o Egito havia pequenos reinos, como a Síria e Canaã
(Palestina). Já havia um código de leis, o Código do rei Hamurabi, por volta do ano 1800 a.C.
Ali vivia o patriarca do povo hebreu, Abrão, depois Abraão (Gn 17,1s). Deus o chamou para uma terra
distante, tirando-o do meio dos pagãos que adoravam muitos deuses, para formar o “seu” povo, de
onde nasceria o Salvador de toda a humanidade.
Para que o Verbo Divino pudesse se
encarnar e salvar a humanidade afastada de Deus
pelo pecado, Deus preparou este povo durante
cerca de 1800 anos. Esta é a longa e bela história
que o Antigo Testamento nos conta, mostrando a
ação de Deus.
Abraão, conduzido por Deus, deixa a cidade
de Ur na Caldeia, e vem para a terra prometida por
Deus, a Palestina, hoje Israel. Ali o povo de Abraão
viveu muitos anos.
De Abraão com Sara nasceu Isaac; de Isaac com Rebeca nasceu Jacó; de Jacó e Raquel nasceram os
doze filhos que se tornaram depois as doze tribos de Israel (Rubem, Simão, Levi, Judá, Issacar, Zabulon,
José, Benjamin, Dã, Neftali, Gad e Aser). É importante notar que o número doze para os judeus se
tornou importante, símbolo de plenitude. Por exemplo, Davi era descendente de Judá, a profetisa Ana
era da tribo de Aser.
No tempo de Jacó na palestina, uma grande fome assolou o povo judeu que precisou ir para o
Egito, por volta do ano 1600 a.C. Deus providenciou isto aproveitando-se do pecado dos filhos de Jacó,
os quais tinham vendido o irmão caçula, José, por inveja, a mercadores que o levaram para o Egito.
Ali, na presença de Deus, José se tornou grande e governador do Egito. Assim, Jacó pôde vir
para a região do delta do rio Nilo, a mais próspera do Egito; ali seu povo ficou cerca de 400 anos.
Quando o faraó do Egito morreu, sua descendência escravizou o povo de Israel. Deus libertou o seu
povo daquela escravidão por meio de Moisés (Êxodo), por volta do ano 1250 a.C.; fazendo o povo
atravessar milagrosamente o mar Vermelho “a pé enxuto”, o levou para o deserto, onde celebrou com
o povo, por intermédio de Moisés, no monte Sinai, uma Aliança.
O sinal desta Aliança, que vigoraria até que chegasse Jesus Cristo, foram as tábuas da Lei. Ali,
Deus escreveu “com o próprio dedo”, os mandamentos que o povo devia seguir sempre. Neste
momento o povo celebrou a Páscoa, como um acontecimento a ser lembrado para sempre. O sinal da
presença de Deus era a Arca da Aliança, dentro da qual estavam as tábuas da Lei.
Depois de caminhar 40 anos no deserto o povo chegou a Canaã, a terra prometida. Essa
travessia poderia ter sido feita em apenas duas semanas, mas Deus deixou o seu povo peregrinar pelo
deserto a fim de lhe purificar da idolatria, e para formá-lo segundo as suas leis, especialmente para
aprender o monoteísmo (adorar o único Deus).
Israel conquistou a Palestina (Canaã, terra dos cananeus), por volta do ano 1200 a.C.,
atravessando o rio Jordão, sob o comando de Josué que sucedeu a Moisés. Israel tomou Jericó e
conquistou a Palestina que foi então dividida em doze territórios de acordo com as doze tribos.
Houve muitas lutas contra os antigos povos dessa região, mas Israel, por vontade de Deus,
ocupou Canaã. Foi o período dos Juízes, que vieram após Josué e duraram cerca de 200 anos, até cerca
do ano 1000 a.C. Os Juízes mais importantes foram Débora, Baraque, Jefté e Sansão.
Assim o povo hebreu aos poucos foi se organizando e formando um reino no meio dos seus
vizinhos: moabitas, filisteus, jebuzeus, amorreus, etc. O último juiz, que também era profeta, Samuel,
depois de alguma resistência, por ordem de Deus, sagrou o primeiro rei de Israel, Saul, por volta do
ano 1000 a.C.
Saul foi apenas um rei pequeno e local, coube a Davi, seu sucessor, firmar o poder real,
primeiro sobre a tribo de Judá e depois sobre as demais tribos, tornando-se assim, de fato, o primeiro
rei de todos os hebreus. Davi reinou 40 anos em Israel. A ele Deus prometeu através do profeta Natan
que um dos seus descendentes seria o “Rei eterno” (2Sm 7,1-17). Davi foi sucedido por seu filho
Salomão, no ano 970 a.C.
Salomão fez aliança com Tiro e com o Egito e construiu o Templo de Jerusalém. O filho de
Salomão, Roboão sucedeu-lhe depois de 40 anos; mas no ano 930 houve um grande desentendimento
entre as doze tribos de Israel (Cisma) e o reino se dividiu em duas partes: as dez tribos do Norte
separaram-se das tribos do Sul, Judá e Benjamim.
Roboão tornou-se o rei das tribos do Sul, Judá, com sede em Jerusalém, enquanto Jeroboão,
que era uma espécie de general dos exércitos de Salomão, tornou-se rei das tribos do Norte, com sede
em Siquém, na Samaria. Este foi o tempo
dos profetas Elias (850 a.C.) e Eliseu.
Os profetas Isaías (primeira parte)
e Miqueias (725 a.C.) atuaram junto às
tribos de Judá, enquanto os profetas Elias,
Eliseu, Amós, Oseias (750), atuaram junto
ao Reino do Norte.
O Reino do Norte teve duração de
aproximadamente 200 anos; no ano de
722 a.C., o rei da Assíria, Sargão II
conquistou a Samaria e levou o povo, das
tribos do Norte, cativo para a Assíria.
Gente da Mesopotâmia e da Síria foi
trazida para a Samaria e se misturaram
com os que ainda ali ficaram. Por isso é que
os judeus eram inimigos dos samaritanos,
pois os julgavam pagãos ou infiéis.
O Reino de Judá, com sede em
Jerusalém, continuou a existir entre os
reinos do Egito e da Assíria. Logo em
seguida a Assíria foi dominada pela
Babilônia. A Assíria e a Babilônia formavam
a chamada Mesopotâmia, hoje no Iraque.
Do período de 722 a.C. até a queda de Judá na mão dos Babilônios (578 a.C.), atuaram em Judá
os profetas Jeremias, Sofonias, Naum, Habacuc e Ezequiel.
No ano de 622 a.C. o rei Josias, de Judá, agora Israel, promoveu uma grande reforma religiosa
e social, mas de poucos resultados. Em 598 a.C. o rei Nabucodonosor, da Babilônia, que já tinha
subjugado a Assíria no ano 612 a.C., ocupou Jerusalém e fez da Judeia um estado vassalo (dependente)
e levou parte da população para a Babilônia.
O rei, os grandes do reino, os líderes do povo e sete mil guerreiros foram deportados para a
Babilônia. Não se tratava propriamente de um cativeiro, mas de um exílio; os deportados receberam
autorização para se estabelecerem onde quisessem, de cultivar a terra, de comerciar e de se
organizarem em comunidade.
O que mais lhes causava pesar, não era propriamente o cativeiro, mas as saudades da pátria e
da vida religiosa e nacional, bem como a decepção de se verem vivendo no meio de pagãos. O salmo
136 (137) mostra bem esse desespero.
Infelizmente, sob a influência pagã o povo judeu foi se corrompendo em seus costumes e foi
adotando os ritos da idolatria dos babilônios. Foi então que surgiu o profeta Ezequiel, em 593 a.C., no
Exílio, antes da segunda deportação, que ocorreu em 587 a.C.
Nabucodonosor deixou em Jerusalém, como vice-rei, Sedecias, que se revoltou contra a
Babilônia. Por causa desta revolta, Nabucodonosor tomou novamente Jerusalém e a incendiou em 589
a.C. Quase todo o resto do povo havia sido levado para a Mesopotâmia em 587 a.C., ficando Jerusalém
sob o governo dos caldeus. Foi a segunda deportação para a Babilônia.
No tempo do Exílio atuaram os profetas Ezequiel e Abdias e é desta época a segunda parte do
livro de Isaías.
Algum tempo depois, no ano 538 a.C., o rei da Pérsia, Ciro, tomou a Babilônia e assinou um
Edito autorizando os judeus a voltarem para Jerusalém sob os cuidados de Zorobabel. Os persas não
colocaram dificuldades para Israel viver o seu culto a Deus, mas após a volta foi um período difícil para
Israel.
Os que voltaram do Exílio foram mal recebidos pelos que estavam na Judeia e foi difícil a
reconstrução das muralhas da cidade e do Templo, profanado e destruído. Foi um período sem reis,
em que o povo procurou organizar-se como uma comunidade religiosa.
Após o Exílio atuaram o governador Neemias e o sacerdote Esdras, que tiveram um papel
muito importante na vida de Israel. Nessa época atuaram os profetas Ageu (520 a.C.), Zacarias (520
a.C.), Abdias, Malaquias, Joel e a última parte de Isaías (onze últimos capítulos). A renovação da fé na
Torá (Pentateuco), relatada em Ne 8, é o evento mais marcante como fundamento do Judaísmo, que
teve seu nome tirado da tribo de Judá. Portanto, só é possível falar em povo judeu após o retorno do
Exílio da Babilônia.
Graças à ação dos profetas, Israel, um povo pequeno e sem qualquer expressão, se tornou fiel
a Deus, mesmo no Exílio. Os profetas foram os primeiros personagens a revelarem o rumo e o sentido
da História, apontando para o futuro do Messias. Eles souberam mostrar que no mundo só haverá
harmonia quando a vontade dos homens se unir à santa vontade de Deus. É uma lição que o mundo
ainda não aprendeu. Souberam mostrar a Israel que ele era o que devia ser um dia toda a humanidade
resgatada, “sacerdócio régio, nação santa, povo escolhido”.
No ano 338 a.C., a Palestina inteira foi conquistada por Alexandre Magno, rei da Macedônia,
que venceu os persas em 331 a.C. (batalha de Arbelas), os quais dominavam a Palestina no tempo da
volta do Exílio. Alexandre teve vida curta (+323 a.C.) e seus generais e as suas dinastias passaram a
governar os territórios que ele deixou, dividindo entre eles o grande império grego.
Ptolomeu I Lago ficou com o Egito e, a partir de 295 a.C., com a terra de Judá. O domínio desta
família se estendeu até o ano 198 a.C., sem incômodos religiosos para Israel, exceto no reinado de
Ptolomeu IV, de 221 a 203 a.C. Em 198 a.C., Antíoco III, que reinava na Síria, venceu Ptolomeu IV na
batalha de Panion e passou a dominar a Palestina. Não atrapalhou a vida religiosa dos judeus e
respeitou o Templo. O seu sucessor, Seleuco IV (187 – 175 a.C.) também deixou os judeus em paz
religiosa até o último ano do seu reinado quando tentou depredar o Templo de Jerusalém (2Mc 3,1-
40).
O rei seguinte, Antíoco IV Epífanes (175 – 163 a.C.), ocupou Jerusalém e quis impor aos judeus
costumes pagãos (a helenização), com anfiteatros, estádios esportivos, consumo de carne de porco,
etc. Antíoco IV Epífanes profanou o Templo ao instalar nele um altar ao deus Zeus.
O sacerdote Matatias levantou-se como chefe de guerrilha e guerra santa contra os sírios, com
os seus filhos João, Simão, Judas, Eleazar e Jônatas (1Mc 2,1-4). Foi a época da revolta dos Macabeus;
liderados por Judas Macabeu (166 – 160 a.C.), Jônatas (160 - 142 a.C.) e Simão (142 - 134 a.C.), que
saíram vitoriosos e a Judeia viveu 130 anos de independência, o que aconteceu poucas vezes.
É desta época (160 a.C.) o surgimento na Palestina de uma espécie de ordem monástica
chamada “filhos da luz”, ou essênios, que viveram fora do mundo, no deserto. Por volta do ano 140
a.C., o seu chefe, que chamavam de “mestre da justiça”, fundou uma colônia às margens do mar
Morto, em Qumran. Era uma grande comunidade com cerca de 4000 pessoas, aguardavam
ansiosamente a chegada do Messias e estavam certos de que no dia do Juízo, todos morreriam, menos
eles.

CRONOLOGIA BÁSICA DA HISTÓRIA DE ISRAEL


Ano Evento

1220 Êxodo do Egito

1000 Davi conquista Jerusalém

931 Jeroboão I com as tribos se revoltam contra Roboão

884 a
841 A dinastia de Amri (Amri, Acab, Ocozias, Jorão)

841 a
752 A dinastia de Jeú (Jeú, Joacaz, Jeroboão II, Zacarias)

722 Destruição de Samaria pelos Assírios

640 a
609 Reino de Josias em Judá (Reforma)

597 Deportação de Joaquim à Babilônia


586 Destruição de Jerusalém

538 Retorno sob Sasabassar

520 a
515 Reconstrução do Templo de Jerusalém

445 a ? Governo de Neemias

332 Alexandre Magno conquista a Palestina

301 a
198 Governo Ptolomeu sobre a Palestina

167 a 164 Insurreição dos Macabeus

63 Pompeu conquista Jerusalém para Roma

66 a 70
d.C Primeira guerra contra Roma: destruição do Templo

132 a 135
d.C Segunda guerra contra Roma
APÊNDICE
Alfabeto Grego

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