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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS

António Filipe Garcez José

Ubi commoda ibi incommoda !


Ces sacrés romains ils ont tout inventé.

CONTRATOS EM ESPECIAL
Universidade Autónoma de Lisboa
Ano lectivo 2005/2006

Teóricas: .......Doutor Luís Manuel Teles de Menezes Leitão


Práticas : .................................................Dr. Fernando Silva

Bibliografia : Direito das obrigações – Vol III - Dr. de Menezes Leitão

Apontamentos e resumos do curso, não isentos de eventuais erros ("errare


humanum est") "destilados" por António Filipe Garcez José, aluno n° 20021078,

Contrato de compra e venda

ARTIGO 874º
Noção

Compra e venda é o contrato pelo qual se transmite a propriedade


de uma coisa, ou outro direito, mediante um preço.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
 Sendo um contrato translativo de direitos, a compra e
venda pressupõe a existência de uma contrapartida
pecuniária

Se não existir qualquer contrapartida ...

- o contrato é qualificável como doação (art. 940°) Comentado [u1]: Doação


SECÇÃO I
Disposições gerais
Se a contrapartida não consistir numa quantia pecuniária... ARTIGO 940º
(Noção)
1. Doação é o contrato pelo qual uma pessoa, por
- trata-se de um contrato de escambo ou troca espírito de liberalidade e à custa do seu património,
dispõe gratuitamente de uma coisa ou de um direito,
ou assume uma obrigação, em benefício do outro
contraente.
CARACTERÍSTICAS 2. Não há doação na renúncia a direitos e no repúdio
de herança ou legado, nem tão-pouco nos donativos
conformes aos usos sociais.

O contrato de compra e venda é um contrato...


Comentado [u2]: Actualmente não está previsto no
Código Civil, embora continuem a ser-lhe aplicáveis as
1. nominado e típico regras da compra e venda, por força do art. 939°. O
contrato de escambo está previsto no art. 480° do Código
Comercial
2. primordialmente não formal

3. consensual

4. obrigacional e real “quoad effectum”

5. oneroso

6. sinalagmático

7. normalmente comutativo, sendo por vezes aleatório

8. de execução instantânea

1. contrato nominado e típico

Nominado
Porque que a lei o reconhece como categoria jurídica

Típico
Porque a lei estabelece para este contrato um regime, quer no
âmbito do Direito Civil (arts. 874° e ss. CC), quer no âmbito do
Direito Comercial (arts. 463° e ss. CCom)

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2. contrato primordialmente não formal

Contrato não formal (art. 219°) Comentado [u3]: Forma


ARTIGO 219º
Regra geral, o contrato de compra e venda não depende de forma (Liberdade de forma)
especial, excepto quando a lei o exige ( ex: art. 875°) A validade da declaração negocial não depende da
observância de forma especial, salvo quando a lei a
exigir.
3. contrato consensual
Comentado [u4]: ARTIGO 875º
(Forma)
Contrato consensual (por oposição a real “quoad constitutionem” ) O contrato de compra e venda de bens imóveis só é
Porque a lei ao prever expressamente a existência de uma válido se for celebrado por escritura pública.

obrigação de entrega por parte do vendedor (art. 879°/b), é o


Comentado [Filipe5]: Efeitos da compra e venda
acordo das partes que determina a formação do contrato, não ARTIGO 879º
dependendo esta da entrega da coisa, nem do pagamento do preço (Efeitos essenciais)
A compra e venda tem como efeitos essenciais:
respectivo. a) A transmissão da propriedade da coisa ou da
titularidade do direito;
b) A obrigação de entregar a coisa;
4. contrato obrigacional e real quoad effectum c) A obrigação de pagar o preço.

Contrato obrigacional
A compra e venda determina a constituição de duas obrigações:

- obrigação de entrega da coisa (art. 879°/b))

- Obrigação de pagamento do preço (art. 879°/c))

Contrato real quoad effectum


Uma vez que produz a transmissão de direitos reais (art. 879°/a))

5. Contrato oneroso

Contrato oneroso
Porque existe uma contrapartida pecuniária em relação à
transmissão dos bens.

6. contrato sinalagmático

Contrato siinalagmático
Uma vez que as obrigações do vendedor e do comprador
constituem-se tendo cada uma a sua causa na outra (o que
determina que permaneçam ligadas durante a fase da execução do
contrato).

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7. Contrato normalmente comutativo, por vezes aleatório

Cumutativo Comentado [u6]: ARTIGO 880º


Uma vez que ambas as atribuições patrimoniais, se apresentam (Bens futuros, frutos pendentes e partes
componentes ou integrantes)
como certas, não se verificando incerteza nem quanto à sua 1. Na venda de bens futuros, de frutos pendentes ou
existência (an) nem quanto ao seu conteúdo (quantum). de partes componentes ou integrantes de uma coisa,
o vendedor fica obrigado a exercer as diligências
necessárias para que o comprador adquira os bens
Em certos casos a lei admite que a compra e venda possa funcionar vendidos, segundo o que for estipulado ou resultar
das circunstâncias do contrato.
como... 2. Se as partes atribuírem ao contrato carácter
aleatório, é devido o preço, ainda que a transmissão
dos bens não chegue a verificar-se.
Contrato aleatório
Como nos casos de ... Comentado [u7]: ARTIGO 881º
(Bens de existência ou titularidade incerta)
Quando se vendam bens de existência ou
- venda de bens futuros, frutos pendentes e integrantes, a titularidade incerta e no contrato se faça menção
dessa incerteza, é devido o preço, ainda que os
que as partes atribuem esse carácter (art. 880°/2) bens não existam ou não pertençam ao vendedor,
excepto se as partes recusarem ao contrato
natureza aleatória.
- venda de bens de existência ou titularidade incerta (art.
881°) Comentado [Filipe8]: Alienação de herança
ARTIGO 2124º
(Disposições aplicáveis)
- venda de herança ou de quinhão hereditário (arts 2124° A alienação de herança ou de quinhão hereditário
e ss.) está sujeita às disposições reguladoras do negócio
jurídico que lhe der causa, salvo o preceituado nos
artigos seguintes.
- venda de expectativas ARTIGO 2125º
(Objecto)
1. Todo o benefício resultante da caducidade de um
legado, encargo ou fideicomisso se presume
transmitido com a herança ou quota hereditária.
8. Contrato de execução instantânea 2. A parte hereditária devolvida ao alienante, depois
da alienação, em consequência de fideicomisso ou
do direito de acrescer, presume-se excluída da
Contrato de execução instantânea disposição.
3. Presume-se igualmente excluídos da alienação os
Porque, quer em relação à obrigação de entrega, quer em relação à diplomas e a correspondência do falecido, bem
obrigação de pagamento do preço, o seu conteúdo e extensão não como as recordações de família de diminuto valor
económico.
é delimitado em função do tempo. ARTIGO 2126º
(Forma)
1. A alienação de herança ou de quinhão hereditário
FORMA será feita por escritura pública, se existirem bens
cuja alienação deva ser feita por essa forma.
2. Fora do caso previsto no número anterior, a
alienação deve constar de documento particular.
 A compra e venda é um contrato essencialmente
Comentado [Filipe9]: Forma
consensual (art. 219°) ARTIGO 219º
(Liberdade de forma)
A validade da declaração negocial não depende da
Mas,... observância de forma especial, salvo quando a lei a
exigir.

 Se a compra e venda tiver por objecto bens imóveis, esta só Comentado [Filipe10]: ARTIGO 875º
é válida quando for celebrada por escritura pública (art. (Forma)
875°),... O contrato de compra e venda de bens imóveis só é
válido se for celebrado por escritura pública.

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excepto se for uma ...

- compra e venda de imóvel com recurso ao crédito


bancário, em que basta a celebração de um documento
particular ( art. 2° do DL 255/93, de 15 de Julho)

- compra e venda de direito real de habitação


periódica (art.12° DL 275/93, de 5 de Agosto)

A escritura pública é, porém, ainda exigida para ...

- a transmissão de herança ou quinhão hereditário


(art. 2126°/1), quando abranja bens cuja alienação deva
ser feita por essa forma.

- as quotas de sociedades (art. 228° CSC)

- a transmissão total e definitiva do direito patrimonial


de autor (art. 44° do Código de Direitos de Autor e dos
Direitos Conexos)

a compra e venda, quanto a bens móveis, é por vezes sujeita a


forma escrita. Assim acontece com...

- a alienação de herança ou quinhão hereditário,


quando não abranja bens sujeitos a alienação por
escritura pública (art. 2126°/2)

- o estabelecimento comercial (ver o novo RAU)

- alienação de direitos sobre bens industriais e registo de


marcas (art. 31°/6 CPI)

 É exigida a redução a escrito do contrato de compra e


venda em certas situações, por razões de protecção do
consumidor ; assim acontece na venda a domicílio (art. 16°
do DL 143/2001, de 26 de Abril)

 O art. 205°/2, refere expressamente que às coisas móveis Comentado [u11]: ARTIGO 205º
(Coisas móveis)
sujeitas a registo é aplicável o regime das coisas móveis em 1. São móveis todas as coisas não compreendidas
tudo o que não seja especialmente regulado. no artigo anterior.
2. Às coisas móveis sujeitas a registo público é
aplicável o regime das coisas móveis em tudo o que
não seja especialmente regulado.

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 Em certos casos, a compra e venda, para além da forma
especial pode obrigar à realização de certas formalidades.
Assim na compra e venda de prédios urbanos e fracções
autónomas, é necessário que se faça prova perante o
notário da inscrição na matriz predial e respectiva licença de
utilização (DL 281/99, de 26 de Julho.

EFEITOS
ARTIGO 879º
Efeitos essenciais

A compra e venda tem como efeitos essenciais:

a) A transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do


direito;

b) A obrigação de entregar a coisa;

c) A obrigação de pagar o preço.

Temos que distinguir, no contrato de compra e venda, entre ...

os seguintes efeitos :

- Um efeito real
a transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do
direito.

e...

- Dois efeitos Obrigacionais


Que se reconduzem à constituição da ...

1. obrigação de entregar a coisa,

e...

2. Obrigação de pagar o preço

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EFEITO REAL
É essencial à compra e venda a alienação de um direito, isto é,
uma aquisição derivada do mesmo.

 A celebração do contrato de compra e venda acarreta logo a


transferência da propriedade (art. 879°/a) e 408°/1)

 A transferência ou constituição do direito real é imediata e


instantânea.

 O efeito real verifica-se automaticamente no momento da


celebração do contrato ( princípio da consensualidade)

Princípio da consensualidade
a propriedade é transmitida apenas com base no simples consenso
das partes, sendo o efeito real verificado nesse momento.

 Foi a escola do jusnaturalismo racional (Grotius, Puffendorf) que


consagrou o princípio de que a vontade das partes
manifestada através do contrato, é por si só suficiente para
produzir o efeito real.

Ligado ao princípio da consensualidade está o ...

Princípio da causalidade
A existência de uma justa causa de aquisição é sempre
necessária para que o direito real se constitua ou transmita.

 Qualquer vício no negócio causal afectará igualmente a


transmissão da propriedade.

 No nosso Código, o contrato de compra e venda está


consagrado no âmbito da venda real.

Venda real
O adquirente após a celebração do contrato adquire imediatamente
a propriedade da coisa vendida que pode imediatamente opor erga
omnes, no caso dos bens não sujeitos a registo, ficando no caso
dos bens sujeitos a registo essa oponibilidade a terceiros
dependente do cumprimento do ónus registral.

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Excepções ao Pº da consensualidade (art. 408º/1 )
O art. 408º/1, deixa em aberto a possibilidade de se reconhecer
hipóteses de venda obrigatória, nos casos em que a transferência
da propriedade venha a ser temporalmente dissociada da
celebração do contrato.

Duas situações em que se verifica essa dissociação:

Primeira situação
ocorre sempre que a lei proceda a uma separação, entre o
momento em que se verifica a conclusão do contrato e o
momento em que ocorre o fenómeno translativo.

ocorre nos casos da...

- venda de coisas indeterminadas (designadamente coisas genéricas) Comentado [u12]: ARTIGO 408º
(Contratos com eficácia real)
- venda de bens futuros
- venda de frutos naturais, ou partes componentes ou 2. Se a transferência respeitar a coisa futura ou
indeterminada, o direito transfere-se quando a coisa
integrantes de uma coisa for adquirida pelo alienante ou determinada com
- venda com reserva de propriedade conhecimento de ambas as partes, sem prejuízo do
disposto em matéria de obrigações genéricas e do
contrato de empreitada; se, porém, respeitar a frutos
 Venda de coisa indeterminada naturais ou a partes componentes ou integrantes, a
transferência só se verifica no momento da colheita
Na venda de coisa indeterminada, a transmissão da propriedade ou separação.
dá-se no momento em que ocorre a determinação da coisa com
Comentado [u13]: ARTIGO 540º
conhecimento de ambas as partes (art. 408°/2), ... salvo se... (Não perecimento do género)
Enquanto a prestação for possível com coisas do
género estipulado, não fica o devedor exonerado
Se tratar de uma venda genérica, em que a transferência da pelo facto de perecerem aquelas com que se
propriedade se dá no momento da concentração da obrigação dispunha a cumprir.

(arts. 540° e 541°).


Comentado [u14]: ARTIGO 541º
(Concentração da obrigação)
 Venda de bens futuros (art. 880°) A obrigação concentra-se, antes do cumprimento,
quando isso resultar de acordo das partes, quando o
A transferência da propriedade ocorre no momento em que a coisa género se extinguir a ponto de restar apenas uma
é adquirida pelo alienante. das coisas nele compreendidas, quando o credor
incorrer em mora, ou ainda nos termos do artigo
797º.
 Venda de frutos naturais ou de partes componentes ou
Comentado [u15]: ARTIGO 880º
integrantes de uma coisa (Bens futuros, frutos pendentes e partes
A transferência da propriedade verifica-se no momento da colheita componentes ou integrantes)
1. Na venda de bens futuros, de frutos pendentes ou
ou separação (art. 880°) de partes componentes ou integrantes de uma coisa,
o vendedor fica obrigado a exercer as diligências
necessárias para que o comprador adquira os bens
 Venda com reserva de propriedade vendidos, segundo o que for estipulado ou resultar
A aquisição integral da propriedade apenas ocorre no momento do das circunstâncias do contrato.
2. Se as partes atribuírem ao contrato carácter
pagamento do preço ou do evento em relação ao qual as partes aleatório, é devido o preço, ainda que a transmissão
dos bens não chegue a verificar-se.
determinaram essa verificação (art. 409°)

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Segunda situação
ocorre quando o fenómeno translativo não se pode verificar por um
impedimento originário, nos casos de venda de coisa alheia
(art.892° e ss.)

 Venda de coisa alheia (art. 892°) Comentado [u16]: Venda de bens alheios
ARTIGO 892º
Na venda de coisa alheia o fenómeno translativo não se pode (Nulidade da venda)
verificar em virtude de o vendedor não ser efectivamente o É nula a venda de bens alheios sempre que o
vendedor careça de legitimidade para a realizar; mas
proprietário do bem vendido. o vendedor não pode opor a nulidade ao comprador
de boa fé, como não pode opô-la ao vendedor de
boa fé o comprador doloso.
 A venda de bens alheios é nula, sempre que o vendedor
careça de legitimidade para a realizar.

 Esta nulidade só pode ser sanada através da aquisição da


propriedade (art. 895°) , o que constitui uma obrigação para o Comentado [u18]: ARTIGO 895º
(Convalidação do contrato)
vendedor (art. 897°) Logo que o vendedor adquira por algum modo a
propriedade da coisa ou o direito vendido, o contrato
torna-se válido e a dita propriedade ou direito
Podemos afirmar que... transfere-se para o comprador.

No Direito português não existe a figura da venda obrigatória Comentado [u17]: ARTIGO 897º
(Obrigação de convalidação)
1. Em caso de boa fé do comprador, o vendedor é
obrigado a sanar a nulidade da venda, adquirindo a
Pois ... propriedade da coisa ou o direito vendido.
2. Quando exista uma tal obrigação, o comprador
pode subordinar ao não cumprimento dela, dentro do
mesmo nas hipóteses em que a venda possui uma eficácia prazo que o tribunal fixar, o efeito previsto na alínea
translativa não imediata ou dependente da eventual verificação de a) do nº 1 do artigo anterior.

certos actos ou factos, o contrato de compra e venda integra


sempre um esquema negocial translativo.

Venda obrigatória
Caracteriza-se especialmente pelo facto de o contrato de compra e
venda nunca produzir efeitos reais, apenas tendo por função a
constituição de obrigações (resultando assim a transferência da propriedade de
um segundo acto, que o vendedor se obriga a praticar, o qual produz os efeitos reais)

PUBLICIDADE

A compra e venda terá que ser registada quando respeitar a


direitos reais sobre bens imóveis ou a bens móveis sujeitos a
registo (arts. 2º/a) CRPred. e 11º/1/a) CRBMóveis), sob pena de não
ser oponível a terceiros nem prevalecer contra uma eventual aquisição tabular,
desencadeada por uma segunda alienação do mesmo bem (arts. 5º e 17º/2
CRPred. e arts. 3º e 38º CRBMóveis)

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 Sendo o direito real um direito absoluto com eficácia erga
omnes é conveniente e útil que todos os parceiros interessados
possam conhecer a sua existência.

 No nosso Direito, a publicidade é normalmente declarativa e


não constitutiva.

 A publicidade é apenas uma condição de eficácia,


relativamente a terceiros, do direito real validamente
constituído por mero efeito do contrato.

 A publicidade apenas será constitutiva na hipótese de


aquisição tabular, caso em que a segunda venda que primeiro for
registada prevalece sobre a primeira.

 No nosso sistema prevalece o interesse do proprietário em


detrimento da protecção de terceiros de boa fé (a posse não vale
título)

RISCO

 Na compra e venda, o comprador torna-se logo proprietário da


coisa vendida e não apenas credor do vendedor relativamente à
sua entrega.

 O comprador (novo proprietário) deixa de estar sujeito ao concurso


de credores no património do vendedor em relação a essa coisa
(art. 604º/1) uma vez que tem sobre ela a propriedade Comentado [Filipe19]: ARTIGO 604º
(Concurso de credores)
(art. 1305º) 1. Não existindo causas legítimas de preferência, os
credores têm o direito de ser pagos
proporcionalmente pelo preço dos bens do devedor,
quando ele não chegue para integral satisfação dos
 Associada à transferência da propriedade aparece a débitos.
2. São causas legítimas de preferência, além de
transferência do risco (art. 796º/1) outras admitidas na lei, a consignação de
rendimentos, o penhor, a hipoteca, o privilégio e o
direito de retenção.
 A partir do momento em que é celebrado o contrato de compra e
venda, o risco fica a cargo do comprador (796º/1). Comentado [Filipe20]: ARTIGO 1305º
(Conteúdo do direito de propriedade)
O proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos
 O risco continua a correr para o vendedor, se a coisa tiver direitos de uso, fruição e disposição das coisas que
lhe pertencem, dentro dos limites da lei e com
continuado em poder deste, em consequência de termo observância das restrições por ela impostas.
estabelecido em seu favor; neste caso, a transferência do
risco só se verifica, com o vencimento do termo ou a entrega da
coisa, salvo se .... o devedor entrar em mora, o que produz a
inversão do risco (796º/2)
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 No caso de aposição de uma condição resolutiva ao contrato,


o risco corre por conta do adquirente se a coisa lhe tiver sido
entregue.

 No caso de aposição de uma condição suspensiva, o risco


corre por conta do alienante durante a pendência da condição
(art. 796º/3)

ARTIGO 796º

Risco

1. Nos contratos que importem a transferência do domínio sobre


certa coisa ou que constituam ou transfiram um direito real
sobre ela, o perecimento ou deterioração da coisa por causa não
imputável ao alienante corre por conta do adquirente.

2. Se, porém, a coisa tiver continuado em poder do alienante em


consequência de termo constituído a seu favor, o risco só se
transfere com o vencimento do termo ou a entrega da coisa,
sem prejuízo do disposto no artigo 807º. Comentado [Filipe21]: ARTIGO 807º
(Risco)
1. Pelo facto de estar em mora, o devedor torna-se
3. Quando o contrato estiver dependente de condição resolutiva, o responsável pelo prejuízo que o credor tiver em
consequência da perda ou deterioração daquilo que
risco do perecimento durante a pendência da condição corre por deveria entregar, mesmo que estes factos lhe não
conta do adquirente, se a coisa lhe tiver sido entregue; quando for sejam imputáveis.
2. Fica, porém, salva ao devedor a possibilidade de
suspensiva a condição, o risco corre por conta do alienante provar que o credor teria sofrido igualmente os
danos se a obrigação tivesse sido cumprida em
durante a pendência da condição. tempo.

EFEITOS OBRIGACIONAIS

O dever de entregar a coisa


Em relação ao vendedor

 A obrigação que surge através do contrato de compra e venda Comentado [Filipe22]: Defesa da propriedade
ARTIGO 1311º
reconduz-se essencialmente ao dever de entregar a coisa. (Acção de reivindicação)
1. O proprietário pode exigir judicialmente de
qualquer possuidor ou detentor da coisa o
 É assim atribuído ao comprador um direito de crédito à reconhecimento do seu direito de propriedade e a
consequente restituição do que lhe pertence.
entrega da coisa pelo vendedor, o qual concorre com a acção de 2. Havendo reconhecimento do direito de
reivindicação (art. 1311º), que pode exercer enquanto propriedade, a restituição só pode ser recusada nos
casos previstos na lei.
proprietário da coisa.
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Em relação ao objecto da obrigação de entrega
Comentado [Filipe23]: ARTIGO 882º
(Entrega da coisa)
 O objecto da obrigação de entrega, corresponde, à coisa 1. A coisa deve ser entregue no estado em que se
encontrava ao tempo da venda.
comprada. 2. A obrigação de entrega abrange, salvo
estipulação em contrário, as partes integrantes, os
frutos pendentes e os documentos relativos à coisa
Há que distinguir entre ... ou direito.
3. Se os documentos contiverem outras matérias de
interesse do vendedor, é este obrigado a entregar
- Venda de coisa específica pública-forma da parte respeitante à coisa ou direito
que foi objecto da venda, ou fotocópia de igual valor.

- Venda de coisa genérica


Comentado [Filipe24]: ARTIGO 918º
(Defeito superveniente)
Venda de coisa específica Se a coisa, depois de vendida e antes de entregue,
se deteriorar, adquirindo vícios ou perdendo
O vendedor apenas pode cumprir entregando ao comprador a coisa qualidades, ou a venda respeitar a coisa futura ou a
que foi objecto da venda, sem que a possa substituir. coisa indeterminada de certo género, são aplicáveis
as regras relativas ao não cumprimento das
obrigações.
 A coisa deve ser entregue no estado em que se encontrava
Comentado [Filipe25]: ARTIGO 799º
ao tempo da venda (art. 882º/1) (Presunção de culpa e apreciação desta)
1. Incumbe ao devedor provar que a falta de
 Recai sobre o vendedor um dever específico relativamente à
cumprimento ou o cumprimento defeituoso da
obrigação não procede de culpa sua.
custódia da coisa. 2. A culpa é apreciada nos termos aplicáveis à
responsabilidade civil.

 Caso a coisa se venha a deteriorar entre o momento da venda Comentado [Filipe26]: Obrigações genéricas
e o da entrega, presume-se existir responsabilidade pelo ARTIGO 539º
(Determinação do objecto)
vendedor por incumprimento dessa obrigação (art. 918º), a Se o objecto da prestação for determinado apenas
quanto ao género, compete a sua escolha ao
menos que demonstre que a deterioração não procede de devedor, na falta de estipulação em contrário.
culpa sua (art. 799º/1)
Comentado [Filipe27]: ARTIGO 400º
(Determinação da prestação)
Venda de coisa genérica 1. A determinação da prestação pode ser confiada a
O vendedor pode cumprir o contrato, entregando ao comprador uma ou outra das partes ou a terceiro; em qualquer
dos casos deve ser feita segundo juízos de
qualquer coisa dentro do género. equidade, se outros critérios não tiverem sido
estipulados.
2. Se a determinação não puder ser feita ou não tiver
 O vendedor terá que entregar as coisas correspondentes à sido feita no tempo devido, sê-lo-á pelo tribunal, sem...
quantidade e qualidade convencionadas no contrato de compra e Comentado [Filipe28]: ARTIGO 918º
venda (arts. 539º e ss. , e 400º) (Defeito superveniente)
Se a coisa, depois de vendida e antes de entregue,
se deteriorar, adquirindo vícios ou perdendo
 O desrespeito destas regras determinará a aplicação do regime qualidades, ou a venda respeitar a coisa futura ou a
coisa indeterminada de certo género, são aplicáveis
do incumprimento das obrigações (art. 918º) as regras relativas ao não cumprimento das
obrigações.

 A obrigação de entrega abrange, salvo estipulação em contrário, Comentado [Filipe29]: ARTIGO 882º
além da própria coisa comprada, as suas partes integrantes, os (Entrega da coisa)
frutos pendentes e os documentos relativos à coisa ou direito 2. A obrigação de entrega abrange, salvo
(882º/2) estipulação em contrário, as partes integrantes, os
frutos pendentes e os documentos relativos à coisa
ou direito.

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 A obrigação de entrega pode ainda incluir, outros objectos como,
por exemplo, a embalagem necessária ao acondicionamento do
bem vendido.

A obrigação de entrega está sujeita a ...

Regras gerais

- quanto ao tempo de cumprimento


- quanto ao lugar de cumprimento
- quanto ao não cumprimento

Regras quanto ao tempo de cumprimento

 Se as partes não convencionarem prazo certo para a sua


realização, o comprador pode exigir a todo o tempo a entrega
da coisa (art. 777º/1) Comentado [Filipe30]: Prazo da prestação
ARTIGO 777º
(Determinação do prazo)
 Com a interpelação do comprador, o vendedor ficará 1. Na falta de estipulação ou disposição especial da
lei, o credor tem o direito de exigir a todo o tempo o
constituído em mora ( art. 805º/1) cumprimento da obrigação, assim como o devedor
pode a todo o tempo exonerar-se dela.

 No caso de ter sido convencionado prazo certo, ou este


resultar da lei, o vendedor terá que entregar a coisa até ao fim
desse prazo, sem o que incorrerá em mora (art. 805º/2)

 A obrigação de entrega da coisa vendida está sujeita ao prazo


ordinário de prescrição de vinte anos (art. 309º)

ARTIGO 805º
Momento da constituição em mora

1. O devedor só fica constituído em mora depois de ter sido judicial ou


extrajudicialmente interpelado para cumprir.

2. Há, porém, mora do devedor, independentemente de interpelação:


a) Se a obrigação tiver prazo certo;
b) Se a obrigação provier de facto ilícito;
c) Se o próprio devedor impedir a interpelação, considerando-se
interpelado, neste caso, na data em que normalmente o teria sido.

3. Se o crédito for ilíquido, não há mora enquanto se não tornar líquido,


salvo se a falta de liquidez for imputável ao devedor; tratando-se, porém,
de responsabilidade por facto ilícito ou pelo risco, o devedor constitui-se
em mora desde a citação, a menos que já haja então mora, nos termos da
primeira parte deste número.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
Regras quanto ao lugar do cumprimento
(caso não ocorra qualquer estipulação das partes)

há que distinguir entre coisas móveis e imóveis ....

Relativamente às coisas móveis

O art. 773° determina que deve ser entregue no lugar em que se


encontravam ao tempo da conclusão do negócio as coisas ...

- determinadas

- genéricas a ser escolhidas de um conjunto determinado

- a ser produzidas em certo lugar

O art. 772° determina que nos outros casos, a coisa deve ser
entregue no domicílio do vendedor.

Relativamente às coisas imóveis

- Naturalmente que a entrega física só poderá ser feita no lugar


em que o imóvel se encontra.

- No caso em que as partes determinem que essa entrega será


realizada simbolicamente, dever-se-à aplicar o critério
supletivo geral do domicílio do devedor (art. 772°) Comentado [u31]: ARTIGO 817º
(Princípio geral)
Não sendo a obrigação voluntariamente cumprida,
Em caso de não cumprimento (por parte do vendedor) tem o credor o direito de exigir judicialmente o seu
cumprimento e de executar o património do devedor,
nos termos declarados neste código e nas leis de
- pode o comprador, nos termos gerais, intentar contra o processo.
vendedor uma acção de cumprimento (arts. 817° e ss.), ...
Comentado [u32]: Execução específica
ARTIGO 827º
- que tratando-se de coisa determinada, pode incluir a (Entrega de coisa determinada)
execução específica da obrigação (art. 827°) Se a prestação consistir na entrega de coisa
determinada, o credor tem a faculdade de requerer,
em execução, que a entrega lhe seja feita
- O vendedor está também sujeito a ter que indemnizar o judicialmente.

comprador, pelos danos que lhe causar o incumprimento da


Comentado [u33]: Falta de cumprimento e mora
obrigação (arts. 798° e ss.) imputáveis ao devedor

ARTIGO 798º
(Responsabilidade do devedor)
O devedor que falta culposamente ao cumprimento
da obrigação torna-se responsável pelo prejuízo que
causa ao credor.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

O dever de pagar o preço


 A obrigação de pagamento do preço corresponde a uma
obrigação pecuniária, sujeita ao regime dos arts. 550º e ss. Comentado [Filipe34]: Obrigações pecuniárias

Obrigações de quantidade
 Não é necessário no contrato de compra e venda que o preço ARTIGO 550º
(Princípio nominalista)
se encontre determinado no momento da celebração do O cumprimento das obrigações pecuniárias faz-se
contrato, bastando que seja determinável em moeda que tenha curso legal no País à data em
que for efectuado e pelo valor nominal que a moeda
nesse momento tiver, salvo estipulação em contrário.

 A lei pode supletivamente indicar a forma de


determinabilidade do preço (art. 883º) Comentado [Filipe35]: ARTIGO 883º
(Determinação do preço)
1. Se o preço não estiver fixado por entidade pública,
e as partes o não determinarem nem
ARTIGO 883º convencionarem o modo de ele ser determinado,
vale como preço contratual o que o vendedor
normalmente praticar à data da conclusão do
Determinação do preço contrato ou, na falta dele, o do mercado ou bolsa no
momento do contrato e no lugar em que o
comprador deva cumprir; na insuficiência destas
1. Se o preço não estiver fixado por entidade pública, e as partes o regras, o preço é determinado pelo tribunal, segundo
não determinarem nem convencionarem o modo de ele ser juízos de equidade.
2. Quando as partes se tenham reportado ao justo
determinado, vale como preço contratual o que o vendedor preço, é aplicável o disposto no número anterior.
normalmente praticar à data da conclusão do contrato ou, na falta
dele, o do mercado ou bolsa no momento do contrato e no lugar em
que o comprador deva cumprir; na insuficiência destas regras, o
preço é determinado pelo tribunal, segundo juízos de equidade.

2. Quando as partes se tenham reportado ao justo preço, é


aplicável o disposto no número anterior.

A obrigação de pagamento do preço está sujeita a regras


específicas quanto ao tempo e ao lugar:

ARTIGO 885º

Tempo e lugar do pagamento do preço

1. O preço deve ser pago no momento e no lugar da entrega da


coisa vendida.

2. Mas, se por estipulação das partes ou por força dos usos o preço
não tiver de ser pago no momento da entrega, o pagamento será
efectuado no lugar do domicílio que o credor tiver ao tempo do
cumprimento.

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António Filipe Garcez José
 A obrigação de pagamento do preço é sujeita à prescrição
ordinária de vinte anos (art. 309º)

 Nos créditos de comerciantes pelos objectos vendidos a não


comerciantes, que não os destinam ao seu comércio , existe
uma prescrição presuntiva ao fim de 2 anos (art.317º/b))

 Transmitida a propriedade da coisa, ou o direito sobre ela, e


feita a sua entrega, o vendedor não pode, salvo convenção
em contrário, resolver o contrato por falta de pagamento do
preço (art. 886º).

 Verificada a definitiva transferência da propriedade e entrega


do bem, o vendedor fica restringido, contra o comprador, à
acção de cumprimento para cobrança do preço (art. 817º),
respectivos juros moratórios (art. 806º/1)

A resolução do contrato por incumprimento da obrigação do


comprador, só é possível nestas situações :

a) Haver convenção em contrário


Nada impede às partes de estipular igualmente que o
incumprimento da obrigação de pagar o preço por parte do
comprador constitua fundamento de resolução.

b) Ainda não ter sido entregue a coisa (mesmo que já tenha


ocorrido a transmissão de propriedade) O contrato ainda não se
encontra totalmente executado, podendo até o vendedor
recusar a entrega de coisa, enquanto o comprador não
satisfizer a obrigação de pagar o preço (art. 428º)

c) Ainda não ter ocorrido a transmissão da propriedade


(mesmo que a coisa já tenha sido entregue) Quando o vendedor
conserva a propriedade com fins de garantia, pode em caso
de incumprimento, proceder à resolução do contrato e exigir a
restituição do bem.

 As despesas do contrato e outras despesas


acessórias ficam a cargo do comprador (art. 878º)

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 As despesas relativas a actos de execução do
contrato, ficam a cargo do respectivo devedor.

Proibições de venda
Casos em que a lei veda a celebração do contrato de compra e
venda entre determinadas pessoas.

a) Venda de coisa ou direito litigioso

b) Venda a filhos ou netos

c) Compra de bens do incapaz pelos pais, tutor, curador,


administrador legal de bens ou protutor que exerça as funções
de tutor.

d) Venda entre cônjuges

Venda de coisa ou direito litigioso

ARTIGO 876º

Venda de coisa ou direito litigioso

1. Não podem ser compradores de coisa ou direito litigioso, quer


directamente, quer por interposta pessoa, aqueles a quem a lei não
permite que seja feita a cessão de créditos ou direitos litigiosos,
conforme se dispõe no capítulo respectivo.

2. A venda feita com quebra do disposto no número anterior, além


de nula, sujeita o comprador, nos termos gerais, à obrigação de
reparar os danos causados.

3. A nulidade não pode ser invocada pelo comprador.

 Faz-se aqui uma remissão para a proibição da cessão de


créditos e direitos litigiosos (art.579º e ss.)

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ARTIGO 579º

Proibição da cessão de direitos litigiosos

1. A cessão de créditos ou outros direitos litigiosos feita,


directamente ou por interposta pessoa, a juízes ou magistrados do
Ministério Público, funcionários de justiça ou mandatários judiciais é
nula, se o processo decorrer na área em que exercem
habitualmente a sua actividade ou profissão; é igualmente nula a
cessão desses créditos ou direitos feita a peritos ou outros
auxiliares da justiça que tenham intervenção no respectivo
processo.

2. Entende-se que a cessão é efectuada por interposta pessoa,


quando é feita ao cônjuge do inibido ou a pessoa de quem este seja
herdeiro presumido, ou quando é feita a terceiro, de acordo com o
inibido, para o cessionário transmitir a este a coisa ou direito cedido.

3. Diz-se litigioso o direito que tiver sido contestado em juízo


contencioso, ainda que arbitral, por qualquer interessado.

 Em certas situações onde não existe um receio de


especulação, a proibição de venda cessa (art. 581º) :

a) A alienação ao titular do direito de preferência ou


remição sobre o bem.

b) A alienação em defesa dos bens possuídos pelo


adquirente (ex: alienação ao arrendatário de um prédio em
risco de execução)

c) A alienação ao credor em cumprimento do que lhe é


devido (ex: alienação em cumprimento de contrato-promessa
celebrado antes de o bem passar a litigioso)

 A venda é considerada nula ( no interesse do vendedor)


se apesar de ser proibida vier a ser realizada, sujeitando-se o
comprador, nos termos gerais à obrigação de reparar os
danos causados. (arts. 876º/2 e 580º/1)

 Esta nulidade não pode ser invocada pelo comprador (arts.


876º/3 e 580º/2)

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Venda a filhos ou a netos

ARTIGO 877º

Venda a filhos ou netos

1. Os pais e avós não podem vender a filhos ou netos, se os


outros filhos ou netos não consentirem na venda; o consentimento
dos descendentes, quando não possa ser prestado ou seja
recusado, é susceptível de suprimento judicial.

2. A venda feita com quebra do que preceitua o número anterior é


anulável; a anulação pode ser pedida pelos filhos ou netos que não
deram o seu consentimento, dentro do prazo de um ano a contar do
conhecimento da celebração do contrato, ou do termo da
incapacidade, se forem incapazes.

3. A proibição não abrange a dação em cumprimento feita pelo


ascendente.

 Esse consentimento pode ser objecto de suprimento pelo


tribunal (art.1425º) Comentado [Filipe36]: PROCESSOS DE
SUPRIMENTO
ARTIGO 1425.º
 A proibição não abrange a dação em cumprimento feita (Suprimento de consentimento no caso de recusa)
1. Se for pedido o suprimento do consentimento, nos
pelo ascendente. casos em que a lei o admite, com o fundamento de
recusa, é citado o recusante para contestar.
2. Deduzindo o citado contestação, é designado dia
para a audiência de discussão e julgamento, depois
Compra dos bens do incapaz pelos seus pais e ... de concluídas as diligências que haja necessidade
de realizar previamente.
3. Na audiência são ouvidos os interessados e,
ARTIGO 1892º produzidas as provas que forem admitidas, resolver-
se-á, sendo a resolução transcrita na acta da
audiência.
4. Não havendo contestação, o juiz resolve, depois
Proibição de adquirir bens do filho de obter as informações e esclarecimentos
necessários.
1. Sem autorização do tribunal não podem os pais tomar de
arrendamento ou adquirir, directamente ou por interposta pessoa,
ainda que em hasta pública, bens ou direitos do filho sujeito ao
poder paternal, nem tornar-se cessionários de créditos ou outros Comentado [Filipe37]: ARTIGO 579º
(Proibição da cessão de direitos litigiosos)
direitos contra este, excepto nos casos de sub-rogação legal, de
2. Entende-se que a cessão é efectuada por
licitação em processo de inventário ou de outorga em partilha interposta pessoa, quando é feita ao cônjuge do
judicialmente autorizada. inibido ou a pessoa de quem este seja herdeiro
presumido, ou quando é feita a terceiro, de acordo
com o inibido, para o cessionário transmitir a este a
2. Entende-se que a aquisição é feita por interposta pessoa nos coisa ou direito cedido.
casos referidos no nº 2 do artigo 579º.
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 Nestes casos se for celebrada uma compra e venda
sem autorização judicial, esta é anulável.

ARTIGO 1893º
Actos anuláveis

1. Os actos praticados pelos pais em contravenção do disposto nos


artigos 1889º e 1892º são anuláveis a requerimento do filho, até
um ano depois de atingir a maioridade ou ser emancipado, ou, se
ele entretanto falecer, a pedido dos seus herdeiros, excluídos os
próprios pais responsáveis, no prazo de um ano a contar da morte
do filho.

2. A anulação pode ser requerida depois de findar o prazo se o


filho ou seus herdeiros mostrarem que só tiveram conhecimento do
acto impugnado nos seis meses anteriores à proposição da acção.

3. A acção de anulação pode também ser intentada pelas


pessoas com legitimidade para requerer a inibição do poder
paternal, contanto que o façam no ano seguinte à prática dos actos
impugnados e antes de o menor atingir a maioridade ou ser
emancipado.

 Apesar de não autorizada, a compra pode ser objecto de


confirmação pelo Ministério Público (art. 1894º)

ARTIGO 1894º
Confirmação dos actos pelo tribunal

O tribunal pode confirmar os actos praticados pelos pais sem a


necessária autorização.

Esta proibição é extensiva ao ...

- tutor (art.1894º e nº1 do DL 272/2001)

- curador (art.156º)

- administrador de bens (art. 1971º/1)

- protutor (art. 1956º/b))

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 apesar desta proibição, se a compra e venda de bens do
menor vem a ser realizada, o negócio não é anulável, mas
nulo, apesar de sanável (art. 1939º)

venda entre cônjuges

 O Pº da imutabilidade das convenções antenupciais,


proíbe que os cônjuges venham alterar, depois da celebração
do casamento, quer as convenções antenupciais, quer os
regimes de bens legalmente fixados (art. 1714º/1)

 Entre os cônjuges esta proibição cessa a partir do momento


em que se encontrem judicialmente separados de pessoas e
bens.

 A dação em cumprimento feita por um dos cônjuges ao seu


consorte, é lícita (art.1714º/3)

Modalidades específicas de venda


1) Venda de bens futuros, de frutos pendentes e de partes
componentes ou integrantes de uma coisa

2) Venda de bens de existência ou titularidade incerta

3) Venda com reserva de propriedade

4) Venda a prestações

5) Venda a retro

6) Venda a contento e venda sujeita a prova

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Venda de bens futuros, de frutos pendentes e de
partes componentes ou integrantes de uma coisa
Esta modalidade específica de venda está prevista no art. 880º CC
e 467º/1 CCom.

A venda de bens futuros ocorre sempre que o vendedor aliena


bens que ...

- não existem ao tempo da declaração negocial (ex. venda de uma


fracção autónoma)

- que não estão em seu poder (ex: venda dos peixes que vier a pescar
nesse dia no lago)

- A que ele não tem direito (ex: um agricultor vende os cereais que lhe
virão a ser fornecidos por outro agricultor)

 A venda de bens futuros é um contrato aleatório (art.880º/2)


no caso em que o objecto da venda é a mera esperança de
aquisição das coisas.

 Nos contratos aleatórios, o comprador está obrigado a


pagar o preço, ainda que a transmissão dos bens não chegue
a verificar-se (ex: a colheita se vir a perder por condições climatéricas
irregulares)

 A venda de bens futuros não constitui uma modalidade


específica de venda obrigatória, na medida em que, a
celebração do contrato já integra o esquema negocial
translativo, que não fica dependente de uma segunda
atribuição patrimonial a realizar pelo vendedor.

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Venda de bens de existência ou titularidade incerta

Esta modalidade de venda específica está regulada nos arts. 881º


CC e 467º/1CCom.

 Se se venderem bens de existência ou titularidade incerta e


no contrato se fizer menção dessa incerteza, o contrato é
válido (art. 881º)

 Se as partes recusarem ao contrato a natureza aleatória, o


preço só será devido no caso de os bens existirem e
pertencerem ao vendedor (art.885º/1)

Venda com reserva de propriedade


A reserva de propriedade vem referida no art. 409º

ARTIGO 409º

Reserva da propriedade

1. Nos contratos de alienação é lícito ao alienante reservar para si


a propriedade da coisa até ao cumprimento total ou parcial das
obrigações da outra parte ou até à verificação de qualquer outro
evento.
2. Tratando-se de coisa imóvel, ou de coisa móvel sujeita a registo,
só a cláusula constante do registo é oponível a terceiros.

REGIME da venda com reserva de propriedade


 A cláusula de reserva de propriedade tem que ser estipulada
no âmbito de um contrato de compra e venda, do qual não
pode ser cindido.

 No âmbito do contrato de compra e venda, a reserva de


propriedade terá que obedecer à forma legalmente exigida
para o contrato, podendo ser consensual nos casos em que o
contrato de compra e venda não esteja sujeito a forma
especial.

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António Filipe Garcez José
 A cláusula de reserva de propriedade pode ser celebrada
exclusivamente em relação a coisa específicas e não
consumíveis.

 No caso de bens imóveis ou móveis sujeitos a registo, só a


cláusula constante do registo é oponível a terceiros (art.
409º/2)

 No que toca a bens móveis não sujeitos a registo, a cláusula


de reserva poderá ser normalmente oposta a terceiros de boa
fé, de acordo com os princípios da causalidade e da
consensualidade vigentes no nosso sistema jurídico.

 A reserva de propriedade extingue-se, se o terceiro adquirir


a propriedade a título originário (ex: na usucapião e na acessão).

 A cláusula de reserva de propriedade implica que por acordo


entre o vendedor e o comprador, a transmissão da
propriedade fique diferida para o momento do pagamento
integral do preço.

 A função da reserva de propriedade, visa apenas defender o


vendedor das eventuais consequências do incumprimento
do comprador.

 O vendedor pode reagir contra uma execução dirigida contra


os bens do comprador, através de embargos de terceiro
(art.351º CPC)

 Ressalvadas as regras do registo, quando se trate de bens a


ele sujeitos, o comprador poderá opor eficazmente a sua
expectativa real de aquisição aos credores do vendedor,
através de processo de embargos de terceiro, dado que é
titular de um direito incompatível com a penhora desses bens
(art. 351º/2)

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OPOSIÇÃO MEDIANTE EMBARGOS DE TERCEIRO

ARTIGO 351.º CPC

Fundamento dos embargos de terceiro

1 - Se a penhora, ou qualquer acto judicialmente ordenado de


apreensão ou entrega de bens, ofender a posse ou qualquer direito
incompatível com a realização ou o âmbito da diligência, de que
seja titular quem não é parte na causa, pode o lesado fazê-lo valer,
deduzindo embargos de terceiro.

2. Não é admitida a dedução de embargos de terceiro relativamente


à apreensão de bens realizada no processo especial de
recuperação da empresa e de falência.

 Relativamente a adquirentes do vendedor, sendo a reserva


oponível a terceiros, a posição jurídica do comprador
prevalecerá sobre a segunda aquisição, devendo aplicar-se a
esta o regime da venda de bens alheios (art. 892º), Comentado [Filipe38]: Venda de bens alheios
ARTIGO 892º
ressalvando-se a situação da coisa comprada de boa fé a (Nulidade da venda)
comerciante (art. 1301º) É nula a venda de bens alheios sempre que o
vendedor careça de legitimidade para a realizar; mas
o vendedor não pode opor a nulidade ao comprador
 Em caso de incumprimento por parte do comprador, o de boa fé, como não pode opô-la ao vendedor de
boa fé o comprador doloso.
vendedor continua a poder resolver o contrato nos termos do
art. 801º/2. Comentado [Filipe39]: ARTIGO 1301º
(Coisa comprada a comerciante)
O que exigir de terceiro coisa por este comprada, de
 Em caso de venda a prestações, é impossível de resolver o boa fé, a comerciante que negoceie em coisa do
mesmo ou semelhante género é obrigado a restituir
contrato se o comprador faltar ao pagamento de uma única o preço que o adquirente tiver dado por ela, mas
prestação e esta não exceder a oitava parte do preço goza do direito de regresso contra aquele que
culposamente deu causa ao prejuízo.
(art. 934º)

Risco
a partir da entrega da coisa, o risco corre por conta de quem
beneficia do direito, logo, por conta do comprador, devendo este
pagar o preço em caso de perda ou deterioração fortuita da coisa.

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Natureza jurídica da venda com reserva de propriedade
Tese maioritária
Esta tese configura a venda com reserva de propriedade, como
uma venda em que o efeito translativo da propriedade é diferido ao
momento do pagamento do preço, obtendo o comprador logo com a
celebração do contrato uma expectativa real de aquisição.

Em relação ao vendedor

 O vendedor conserva a propriedade sobre o bem.

 A conservação da propriedade no vendedor visa


essencialmente funções de garantia do pagamento do preço.

 Se o comprador puser em perigo a subsistência da garantia, o


vendedor poderá exercer contra ele ou contra terceiros a
acção de reivindicação ou as competentes providências
cautelares.

Em relação ao comprador

 Até ao pagamento do preço, se ele não é ainda proprietário, a


sua posição jurídica não é de cariz meramente
obrigacional, pois esse negócio confere ao comprador uma
expectativa real de aquisição, a qual é oponível a terceiros.

 O comprador é titular de uma posição jurídica de natureza


real, uma vez que é dotada de inerência e de sequela.

 O comprador é possuidor em nome próprio, não é um mero


detentor.

 O comprador pode utilizar as acções possessórias


(art. 1276º e ss.) , quer a acção de reivindicação (arts. 1311º e
1315º), bem como pedir uma indemnização pelos danos
causados, caso venha a ser violado o seu direito de gozo.

 Na reserva de propriedade o risco transfere-se logo que a


coisa lhe seja entregue.

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António Filipe Garcez José
Venda a prestações
A venda a prestações está regulada nos arts. 934º e ss.

ARTIGO 934º

Falta de pagamento de uma prestação

Vendida a coisa a prestações, com reserva de propriedade, e feita a


sua entrega ao comprador, a falta de pagamento de uma só
prestação que não exceda a oitava parte do preço não dá lugar à
resolução do contrato, nem sequer, haja ou não reserva de
propriedade, importa a perda do benefício do prazo relativamente
às prestações seguintes, sem embargo de convenção em contrário.

 Como resulta da segunda parte, esta norma refere-se à venda


a prestações em geral, com ou sem reserva de propriedade.

 Genericamente esta norma funciona como uma derrogação


ao art. 781º Comentado [Filipe40]: ARTIGO 781º
(Dívida liquidável em prestações)
Se a obrigação puder ser liquidada em duas ou mais
 Prevê-se injuntivamente que na venda a prestações, a falta de prestações, a falta de realização de uma delas
importa o vencimento de todas.
cumprimento de uma das prestações não acarrete a perda do
benefício do prazo para o comprador

 A posição predominante na doutrina vai no sentido da


imperatividade desta norma, que visa a protecção ao
comprador a crédito.

 Sendo o comprador culpado pelo incumprimento, o recurso à


resolução do contrato não impede o vendedor de exigir
simultaneamente ao comprador a indemnização por todos os
prejuízos causados, sendo ao vendedor que cabe o ónus da
prova

 A indemnização pelo incumprimento do comprador, pode


tomar por base tanto o interesse contratual negativo como o
interesse contratual positivo (arts. 798º e 801º/2)

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Venda a retro
Esta modalidade específica de venda está definida no art. 927º

Noção - Diz-se a retro a venda em que se reconhece ao vendedor a


faculdade de resolver o contrato.

 Modalidade de venda em que a transmissão da propriedade


não se apresenta como definitiva, na medida em que o
vendedor se reserva a possibilidade de reaver o direito
alienado, mediante a restituição do preço e o reembolso das
despesas feitas com a venda.

 A venda a retro desempenha uma função creditícia em


relação ao vendedor e uma função de garantia em relação ao
comprador.

 O pagamento do preço substitui a concessão de um


empréstimo pelo comprador ao vendedor e o exercício do
direito de resolução por este substitui o reembolso desse
mesmo empréstimo.

 O regime da venda a retro harmoniza-se integralmente com o


disposto nos arts. 432º e ss. Comentado [Filipe41]: Resolução do contrato
ARTIGO 432º
(Casos em que é admitida)
1. É admitida a resolução do contrato fundada na lei
Venda a contento e venda sujeita a prova ou em convenção.
2. A parte, porém, que, por circunstâncias não
imputáveis ao outro contraente, não estiver em
Os arts. 923º e ss. referem-se a modalidades específicas de venda condições de restituir o que houver recebido não tem
o direito de resolver o contrato.
em que esta se realiza por etapas, como a venda a contento e a
venda sujeita a prova.

ARTIGO 923º
Primeira modalidade de venda a contento Comentado [Filipe42]: ARTIGO 228º
(Duração da proposta contratual)
1. A proposta do contrato obriga o proponente nos
1. A compra e venda feita sob reserva de a coisa agradar ao termos seguintes:
comprador vale como proposta de venda. a) Se for fixado pelo proponente ou convencionado
pelas partes um prazo para a aceitação, a proposta
mantém-se até o prazo findar;
2. A proposta considera-se aceita se, entregue a coisa ao b) Se não for fixado prazo, mas o proponente pedir
resposta imediata, a proposta mantém-se até que,
comprador, este não se pronunciar dentro do prazo da aceitação, em condições normais, esta e a aceitação cheguem
nos termos do nº 1 do artigo 228º. ao seu destino;
c) Se não for fixado prazo e a proposta for feita a
pessoa ausente ou, por escrito, a pessoa presente,
3. A coisa deve ser facultada ao comprador para exame. manter-se-á até cinco dias depois do prazo que
resulta do preceituado na alínea precedente.

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 venda a contento
o comprador reserva a faculdade de contratar, ou de resolver
o contrato, consoante a apreciação subjectiva (o seu gosto
pessoal) que vier a fazer do bem vendido.

 Venda sujeita a prova


Aqui está em causa uma apreciação objectiva do comprador
em relação às qualidades da coisa, em conformidade com um
teste a que esta será sujeita.

Venda a contento

A lei admite duas modalidades de venda a contento :

1ª modalidade

 A lei qualifica a situação como uma mera proposta de venda

 A transmissão da propriedade e a atribuição do risco ao


comprador só se verificarão com o decurso do prazo
estabelecido, que confirmará a sua intenção de adquirir nos
termos do art. 218º

 Até lá o comprador é considerado um mero detentor


precário.

 Se se verificar o perecimento da coisa antes de findo o prazo


estabelecido, o risco corre para o vendedor.

2ª modalidade

ARTIGO 924º
Segunda modalidade de venda a contento

1. Se as partes estiverem de acordo sobre a resolução da compra e


venda no caso de a coisa não agradar ao comprador, é aplicável ao
contrato o disposto nos artigos 432º e seguintes.

2. A entrega da coisa não impede a resolução do contrato.

3. O vendedor pode fixar um prazo razoável para a resolução, se nenhum


for estabelecido pelo contrato ou, no silêncio deste, pelos usos.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
 Corresponde à concessão de um direito de resolução
unilateral do contrato se a coisa não agradar ao comprador, o
qual segue as regras gerais (art. 432º ss.) Comentado [Filipe43]: Resolução do contrato
ARTIGO 432º
(Casos em que é admitida)
 As partes atribuem ao comprador o direito de resolver 1. É admitida a resolução do contrato fundada na lei
ou em convenção.
unilateralmente o contrato se a coisa não lhe agradar 2. A parte, porém, que, por circunstâncias não
imputáveis ao outro contraente, não estiver em
condições de restituir o que houver recebido não tem
 A concessão de um direito de resolução unilateral não o direito de resolver o contrato.
impede que a propriedade se transmita (art. 408º) , logo o
risco por perda ou deterioração, verificada nesse prazo, corre
por conta do comprador (796º/1)

A venda sujeita a prova

Nesta modalidade de venda, o contrato não se tornará definitivo


sem que o comprador averigue, através de um prévio uso da coisa,
que ela é idónea para o fim a que é destinada e tem as qualidades
asseguradas pelo vendedor.

ARTIGO 925º
Venda sujeita a prova

1. A venda sujeita a prova considera-se feita sob a condição


suspensiva de a coisa ser idónea para o fim a que é destinada e
ter as qualidades asseguradas pelo vendedor, excepto se as partes
a subordinarem a condição resolutiva.

2. A prova deve ser feita dentro do prazo e segundo a modalidade


estabelecida pelo contrato ou pelos usos; se tanto o contrato como
os usos forem omissos, observar-se-ão o prazo fixado pelo
vendedor e a modalidade escolhida pelo comprador, desde que
sejam razoáveis.

3. Não sendo o resultado da prova comunicado ao vendedor antes


de expirar o prazo a que se refere o número antecedente, a
condição tem-se por verificada quando suspensiva, e por não
verificada quando resolutiva.

4. A coisa deve ser facultada ao comprador para prova.

 Os requisitos específicos da venda sujeita a prova referidos


no art. 925º não se distinguem dos requisitos gerais (art. 913º)

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António Filipe Garcez José

Perturbações típicas do contrato de compra e venda


Três casos de perturbações que correspondem a situações de
cumprimento defeituoso das obrigações do vendedor:

- Venda de bens alheios

- Venda de bens onerados

- Venda de coisas defeituosas

Venda de bens alheios

O regime de venda de bens alheios está regulado no art. 892º e ss.

ARTIGO 892º
Nulidade da venda

É nula a venda de bens alheios sempre que o vendedor careça de


legitimidade para a realizar;

mas ...
o vendedor não pode opor a nulidade ao comprador de boa fé,
como não pode opô-la ao vendedor de boa fé o comprador doloso.

 A nulidade da venda não ocorre se a venda tiver por objecto


coisa futura.

ARTIGO 893º
Bens alheios como bens futuros
A venda de bens alheios fica, porém, sujeita ao regime da venda de
bens futuros, se as partes os considerarem nesta qualidade.

 A venda de coisa genérica que não pertença ao vendedor, ao


tempo da estipulação do contrato, não pode ser considerada
nula ( 539º e ss.) Comentado [Filipe44]: Obrigações genéricas
ARTIGO 539º
(Determinação do objecto)
 Em todos os casos recai sobre o vendedor a obrigação de Se o objecto da prestação for determinado apenas
quanto ao género, compete a sua escolha ao
aquisição e entrega ao comprador das coisas que se devedor, na falta de estipulação em contrário.
comprometeu a vender, não sendo consequentemente
aplicável o regime da venda de bens alheios.

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António Filipe Garcez José

!!! O regime da venda de bens alheios apenas se poderá


aplicar se for vendida como própria uma coisa alheia específica
e presente, fora do âmbito das relações comerciais !!!

Haverá aplicação do regime da venda de bens alheios se for


vendida como própria coisa alheia, ainda que no interesse do seu
titular como sucede no ...

- mandato sem representação para alienar (art. 1180º e ss.)

- na gestão de negócios não representativa (art. 471º)

Efeitos da venda de bens alheios


 A venda de bens alheios é nula

 É proibida a invocação da nulidade pela parte que estiver de


má fé contra a outra de boa fé

A obrigação de restituição na venda de bens alheios é sujeita a


regras especiais (art. 894º)

ARTIGO 894º
Restituição do preço

1. Sendo nula a venda de bens alheios, o comprador que tiver


procedido de boa fé tem o direito de exigir a restituição integral do
preço, ainda que os bens se hajam perdido, estejam deteriorados
ou tenham diminuído de valor por qualquer outra causa.

2. Mas, se o comprador houver tirado proveito da perda ou


diminuição de valor dos bens, será o proveito abatido no montante
do preço e da indemnização que o vendedor tenha de pagar-lhe.

 A lei determina para a parte que está de boa fé, apenas a


restituição do enriquecimento, obrigando a restituir o obtido à
custa de outrem para a parte de má fé.

 O art. 894º determina uma restituição por enriquecimento sem


causa, que se harmoniza com os arts. 479º e 480º.

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António Filipe Garcez José
 Ao contrário do que ocorre no regime geral, a nulidade da
venda de bens alheios pode ser sanada (art. 895º)

ARTIGO 895º
Convalidação do contrato

Logo que o vendedor adquira por algum modo a propriedade da


coisa ou o direito vendido, o contrato torna-se válido e a dita
propriedade ou direito transfere-se para o comprador.

 A lei estabelece algumas restrições à Convalidação (art. 896º)

ARTIGO 896º
Casos em que o contrato se não convalida

1. O contrato não adquire, porém, validade, se entretanto ocorrer


algum dos seguintes factos:

a) Pedido judicial de declaração de nulidade do contrato, formulado


por um dos contraentes contra o outro;

b) Restituição do preço ou pagamento da indemnização, no todo ou


em parte, com aceitação do credor;

c) Transacção entre os contraentes, na qual se reconheça a


nulidade do contrato;

d) Declaração escrita, feita por um dos estipulantes ao outro, de que


não quer que o contrato deixe de ser declarado nulo.

2. As disposições das alíneas a) e d) do número precedente não


prejudicam o disposto na segunda parte do artigo 892º.

 Na venda de bens alheios a nulidade instituída é uma


nulidade provisória, que pode ser sanada mediante a
aquisição da propriedade pelo vendedor, salvo se ocorrer
alguma destas situações acima referidas.

 A lei determina que, em caso de boa fé do comprador, o


vendedor seja obrigado a sanar a nulidade da venda,
adquirindo a propriedade da coisa ou o direito vendido
(art. 897º)

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António Filipe Garcez José

ARTIGO 897º
Obrigação de convalidação

1. Em caso de boa fé do comprador, o vendedor é obrigado a sanar


a nulidade da venda, adquirindo a propriedade da coisa ou o direito
vendido.

2. Quando exista uma tal obrigação, o comprador pode subordinar


ao não cumprimento dela, dentro do prazo que o tribunal fixar, o
efeito previsto na alínea a) do nº 1 do artigo anterior.

 Outra consequência da venda de bens alheios é a


possibilidade de atribuição de uma indemnização pelos
danos eventualmente sofridos.

ARTIGO 898º
Indemnização em caso de dolo
Se um dos contraentes houver procedido de boa fé e o outro
dolosamente, o primeiro tem direito a ser indemnizado, nos termos
gerais, de todos os prejuízos que não teria sofrido se o contrato
fosse válido desde o começo, ou não houvesse sido celebrado,
conforme venha ou não a ser sanada a nulidade.

ARTIGO 899º
Indemnização, não havendo dolo nem culpa
O vendedor é obrigado a indemnizar o comprador de boa fé, ainda
que tenha agido sem dolo nem culpa; mas, neste caso, a
indemnização compreende apenas os danos emergentes que não
resultem de despesas voluptuárias.

ARTIGO 900º
Indemnização pela não convalidação da venda

1. Se o vendedor for responsável pelo não cumprimento da


obrigação de sanar a nulidade da venda ou pela mora no seu
cumprimento, a respectiva indemnização acresce à regulada nos
artigos anteriores, excepto na parte em que o prejuízo seja comum.
2. Mas, no caso previsto no artigo 898º, o comprador escolherá
entre a indemnização dos lucros cessantes pela celebração do
contrato nulo e a dos lucros cessantes pela falta ou retardamento
da convalidação.

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António Filipe Garcez José

ARTIGO 901º
Garantia do pagamento de benfeitorias

O vendedor é garante solidário do pagamento das benfeitorias que


devam ser reembolsadas pelo dono da coisa ao comprador de boa
fé.

ARTIGO 902º
Nulidade parcial do contrato

Se os bens só parcialmente forem alheios e o contrato valer na


parte restante por aplicação do artigo 292º, observar-se-ão as
disposições antecedentes quanto à parte nula e reduzir-se-á
proporcionalmente o preço estipulado.

ARTIGO 903º
Disposições supletivas

1. O disposto no artigo 894º, no nº 1 do artigo 897º, no artigo 899º,


no nº 1 do artigo 900º e no artigo 901º cede perante convenção em
contrário, excepto se o contraente a quem a convenção aproveitaria
houver agido com dolo, e de boa fé o outro estipulante.

2. A declaração contratual de que o vendedor não garante a sua


legitimidade ou não responde pela evicção envolve derrogação de
todas as disposições legais a que o número anterior se refere, com
excepção do preceituado no artigo 894º.

3. As cláusulas derrogadoras das disposições supletivas a que se


refere o nº 1 são válidas, sem embargo da nulidade do contrato de
compra e venda onde se encontram insertas, desde que a nulidade
proceda da ilegitimidade do vendedor, nos termos desta secção.

ARTIGO 904º
Âmbito desta secção

As normas da presente secção apenas se aplicam à venda de


coisa alheia como própria.

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António Filipe Garcez José
Venda de bens onerados
A venda de bens onerados encontra-se prevista no art. 905º.

 A disciplina da venda de bens onerados, baseia-se na


atribuição de sucessivos remédios ao comprador, que passam
em 1° lugar pela anulação do contrato por erro ou dolo ou
pela redução do preço, podendo ainda ser exigida uma
indemnização pelos danos causados.

ARTIGO 905º
Anulabilidade por erro ou dolo

Se o direito transmitido estiver sujeito a alguns ónus ou limitações que excedam


os limites normais inerentes aos direitos da mesma categoria, o contrato é
anulável por erro ou dolo, desde que no caso se verifiquem os requisitos legais
da anulabilidade.

 Esses ónus ou limitações constituem vícios do direito, que


afectam a situação jurídica e não as qualidades fáticas da
coisa .

Anulabilidade

 O contrato é anulável por erro ou dolo, desde que se


verifiquem no caso concreto os requisitos legais de
anulabilidade.

 Os requisitos de anulabilidade para o erro,


são a essencialidade e a cognoscibilidade dessa
essencialidade do erro para o declaratário (arts. 251º e 247º)

 Os requisitos de anulabilidade para o dolo


Basta que o dolo tenha sido determinante da vontade do
declarante (art. 254º/1), salvo se provier de terceiro (art. 254º/2) .

ARTIGO 906º
Convalescença do contrato

1. Desaparecidos por qualquer modo os ónus ou limitações a que o


direito estava sujeito, fica sanada a anulabilidade do contrato.

2. A anulabilidade persiste, porém, se a existência dos ónus ou


limitações já houver causado prejuízo ao comprador, ou se este já
tiver pedido em juízo a anulação da compra e venda.
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ARTIGO 907º
Obrigação de fazer convalescer o contrato. Cancelamento dos
registos

1. O vendedor é obrigado a sanar a anulabilidade do contrato,


mediante a expurgação dos ónus ou limitações existentes.

2. O prazo para a expurgação será fixado pelo tribunal, a


requerimento do comprador.

3. O vendedor deve ainda promover, à sua custa, o cancelamento


de qualquer ónus ou limitação que conste do registo, mas na
realidade não exista.

Indemnização

ARTIGO 908º
Indemnização em caso de dolo

Em caso de dolo, o vendedor, anulado o contrato, deve indemnizar


o comprador do prejuízo que este não sofreria se a compra e venda
não tivesse sido celebrada.

ARTIGO 909º
Indemnização em caso de simples erro

Nos casos de anulação fundada em simples erro, o vendedor


também é obrigado a indemnizar o comprador, ainda que não tenha
havido culpa da sua parte, mas a indemnização abrange apenas os
danos emergentes do contrato.

ARTIGO 910º
Não cumprimento da obrigação de fazer convalescer o contrato

1. Se o vendedor se constituir em responsabilidade por não sanar a


anulabilidade do contrato, a correspondente indemnização acresce
à que o comprador tenha direito a receber na conformidade dos
artigos precedentes, salvo na parte em que o prejuízo foi comum.
2. Mas, no caso previsto no artigo 908º, o comprador escolherá
entre a indemnização dos lucros cessantes pela celebração do
contrato que veio a ser anulado e a dos lucros cessantes pelo facto
de não ser sanada a anulabilidade.

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António Filipe Garcez José
ARTIGO 911º
Redução do preço

1. Se as circunstâncias mostrarem que, sem erro ou dolo, o


comprador teria igualmente adquirido os bens, mas por preço
inferior, apenas lhe caberá o direito à redução do preço, em
harmonia com a desvalorização resultante dos ónus ou limitações,
além da indemnização que no caso competir.

2. São aplicáveis à redução do preço os preceitos anteriores, com


as necessárias adaptações.

Restrições convencionais a este regime

ARTIGO 912º
Disposições supletivas

1. O disposto nos nºs 1 e 3 do artigo 907º, no artigo 909º e no nº 1


do artigo 910º cede perante estipulação das partes em contrário, a
não ser que o vendedor tenha procedido com dolo e as
cláusulas contrárias àquelas normas visem a beneficiá-lo.

2. Não obsta à validade das cláusulas derrogadoras destas


disposições supletivas a anulação do contrato de compra e venda
por erro ou dolo, segundo as prescrições desta secção.

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António Filipe Garcez José
Venda de coisas defeituosas
Duas situações distintas ..

1ª - a coisa já e defeituosa ao tempo da celebração do contrato,


sendo a venda realizada, e a propriedade da coisa logo
transmitida ao comprador .

 Neste caso estamos perante uma situação de erro do


comprador ao adquirir uma coisa com defeitos, sendo o
contrato anulável por erro nos termos gerais (arts. 913º e
905º)

2ª - Se o defeito na coisa ocorre após a celebração do contrato


e esta é entregue nessas condições, estaremos perante uma...

situação de ...

- cumprimento defeituoso, (art. 918º) se o defeito é imputável ao


vendedor

ou de ...

- risco, (art. 796º/1) em princípio a cargo do comprador

Efeitos da venda de coisas defeituosas

 aplicam-se também à venda de coisas defeituosas os


remédios da anulação do contrato por erro ou dolo ou a
redução do preço., podendo ainda ser exigida do vendedor
uma indemnização pelos danos causados.

ARTIGO 913º
Remissão
1. Se a coisa vendida sofrer de vício que a desvalorize ou impeça a
realização do fim a que é destinada, ou não tiver as qualidades
asseguradas pelo vendedor ou necessárias para a realização daquele fim,
observar-se-á, com as devidas adaptações, o prescrito na secção
precedente, em tudo quanto não seja modificado pelas disposições dos
artigos seguintes.

2. Quando do contrato não resulte o fim a que a coisa vendida se destina,


atender-se-á à função normal das coisas da mesma categoria.

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António Filipe Garcez José
Anulação do contrato

 O comprador que tiver adquirido a coisa com defeito pode


solicitar a anulação do contrato, por erro ou dolo, desde que
se verifiquem no caso concreto os requisitos legais da
anulabilidade, ou seja, ...

Em caso de erro
Exige-se a essencialidade e a cognoscibilidade dessa
essencialidade do erro para o declaratário (arts. 251° e 247°) Comentado [u45]: ARTIGO 251º
(Erro sobre a pessoa ou sobre o objecto do
negócio)
Em caso de dolo O erro que atinja os motivos determinantes da
vontade, quando se refira à pessoa do declaratário
Basta que o dolo tenha sido determinante da vontade do declarante ou ao objecto do negócio, torna este anulável nos
(art. 254°/1), salvo se provier de terceiro, caso em que se exige termos do artigo 247º.

igualmente que o destinatário conhecesse ou devesse conhecer a


Comentado [u46]: ARTIGO 254º
situação (art. 254°/2) (Efeitos do dolo)
1. O declarante cuja vontade tenha sido determinada
por dolo pode anular a declaração; a anulabilidade
Reparação ou substituição da coisa não é excluída pelo facto de o dolo ser bilateral.
2. Quando o dolo provier de terceiro, a declaração só
é anulável se o destinatário tinha ou devia ter
conhecimento dele; mas, se alguém tiver adquirido
directamente algum direito por virtude da declaração,
ARTIGO 914º esta é anulável em relação ao beneficiário, se tiver
Reparação ou substituição da coisa sido ele o autor do dolo ou se o conhecia ou devia
ter conhecido.

O comprador tem o direito de exigir do vendedor a reparação da


coisa ou, se for necessário e esta tiver natureza fungível, a
substituição dela; mas esta obrigação não existe, se o vendedor
desconhecia sem culpa o vício ou a falta de qualidade de que a
coisa padece.

 No âmbito da venda de coisas defeituosas, o vendedor é


obrigado a reparar os defeitos da coisa, ou de a substituir, no
caso de ser necessário, e esta tiver natureza fungível

 Esta obrigação não existe se o vendedor desconhecia sem


culpa o vício ou a falta de qualidade de que a coisa padece.

 O desconhecimento não culposo do vendedor, não impede o


comprador de solicitar a anulação do contrato por erro ou
dolo, verificados os respectivos pressupostos

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António Filipe Garcez José
Indemnização

 Por força da remissão do art. 913° in fine a indemnização


prevista no art. 908° aplica-se no âmbito da venda de coisas
defeituosas.

 Sempre que o vendedor tiver actuado com dolo, no sentido


referido no art. 253°, tiver empregue sugestões ou artifícios no
sentido de dissimular ao comprador os defeitos existentes na
coisa, este adquire, sendo anulado o contrato com esses
fundamentos, o direito à indemnização pelos danos causados.

 Esta indemnização, embora abrangendo danos emergentes e


lucros cessantes, limita-se aos danos que não teriam ocorrido
se o contrato não tivesse sido celebrado, ou seja, limita-se ao
interesse contratual negativo, que constitui uma solução da
culpa in contraendo (art. 227°)

ARTIGO 915º
Indemnização em caso de simples erro
A indemnização prevista no artigo 909º também não é devida, se o
vendedor se encontrava nas condições a que se refere a parte final
do artigo anterior.

Redução do preço

 A acção de redução do preço é aplicável à venda de coisas


defeituosas por força do art. 913°

 Esta acção constitui uma alternativa à anulação do contrato


em consequência de erro ou de dolo, que é imposta ao
comprador sempre que se possa comprovar que os vícios ou
falta de qualidades de que a coisa padece não influiriam na
sua decisão de adquirir o bem, mas apenas no preço que
estaria disposto a pagar por ele.

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António Filipe Garcez José
Forma e prazos de exercício do direito

ARTIGO 916º
Denúncia do defeito

1. O comprador deve denunciar ao vendedor o vício ou a falta de


qualidade da coisa, excepto se este houver usado de dolo.

2. A denúncia será feita até trinta dias depois de conhecido o defeito


e dentro de seis meses após a entrega da coisa.

3. Os prazos referidos no número anterior são, respectivamente, de


um e de cinco anos, caso a coisa vendida seja um imóvel.

ARTIGO 917º
Caducidade da acção
A acção de anulação por simples erro caduca, findo qualquer dos prazos fixados
no artigo anterior sem o comprador ter feito a denúncia, ou decorridos sobre
esta seis meses, sem prejuízo, neste último caso, do disposto no nº 2 do artigo
287º.

ARTIGO 918º
Defeito superveniente
Se a coisa, depois de vendida e antes de entregue, se deteriorar, adquirindo
vícios ou perdendo qualidades, ou a venda respeitar a coisa futura ou a coisa
indeterminada de certo género, são aplicáveis as regras relativas ao não
cumprimento das obrigações.

ARTIGO 921º
Garantia de bom funcionamento

1. Se o vendedor estiver obrigado, por convenção das partes ou por força


dos usos, a garantir o bom funcionamento da coisa vendida, cabe-lhe
repará-la, ou substituí-la quando a substituição for necessária e a coisa
tiver natureza fungível, independentemente de culpa sua ou de erro do
comprador.
2. No silêncio do contrato, o prazo da garantia expira seis meses após a
entrega da coisa, se os usos não estabelecerem prazo maior.
3. O defeito de funcionamento deve ser denunciado ao vendedor dentro
do prazo da garantia e, salvo estipulação em contrário, até trinta dias
depois de conhecido.
4. A acção caduca logo que finde o tempo para a denúncia sem o
comprador a ter feito, ou passados seis meses sobre a data em que a
denúncia foi efectuada.

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DOAÇÃO (art. 940º)

A doação encontra-se regulada no art. 940º

ARTIGO 940º
Noção

1. Doação
é o contrato pelo qual uma pessoa, por espírito de liberalidade e à
custa do seu património, dispõe gratuitamente de uma coisa ou de
um direito, ou assume uma obrigação, em benefício do outro
contraente.

2. Não há doação na renúncia a direitos e no repúdio de herança


ou legado, nem tão-pouco nos donativos conformes aos usos
sociais.

 Regra geral a doação tem carácter contratual, pois é


indispensável a expressão da aceitação do donatário.

Elementos constitutivos

a) Atribuição patrimonial geradora de enriquecimento


b) Diminuição do património do dador
c) Espírito de liberalidade

Atribuição patrimonial geradora de enriquecimento

 Acto que atribui a outrém uma concreta vantagem patrimonial


(coisa, direito ou assunção de uma obrigação art. 940º);

 O donatário sofre um incremento do seu património em virtude


quer da transmissão da coisa ou do direito objecto do
contrato, quer da aquisição de um novo crédito sobre o
doador, em virtude da obrigação assumida.

Diminuição do património do doador

 Supõe uma efectiva diminuição patrimonial, sem o que não se


estará perante uma doação

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António Filipe Garcez José
Espírito de liberalidade

 Intenção de atribuir o correspondente benefício a outrém por


simples generosidade ou espontaneidade;

 consiste no fim directo de atribuir um benefício ao donatário,


provocando o seu enriquecimento (causa jurídica da doação);

 não há doação na renúncia a direitos, o repúdio de herança


ou legado e os donativos conformes aos usos sociais (940º/2);

 No caso da remissão de créditos pode ser considerada nos


termos do art. 863º/2, bem como no caso de alienação
gratuita de herança nos termos do art. 2057º/2 Comentado [u47]: ARTIGO 2057º
(Caso de aceitação tácita)
1. Não importa aceitação a alienação da herança,
quando feita gratuitamente em benefício de todos
aqueles a quem ela caberia se o alienante a
repudiasse.
2. Entende-se, porém, que aceita a herança e a
aliena aquele que declara renunciar a ela, se o faz a
CARACTERÍSTICAS favor apenas de algum ou alguns dos sucessíveis
que seriam chamados na sua falta.

É um contrato ...

- nominado e típico (940º a 979º)

- primordialmente formal (947º/1/2)

- primordialmente consensual (954º/b))

- que tanto pode ser obrigacional como real(940º e 954º/c))

- gratuito

- não sinalagmático

- tanto pode ser de execução instantânea como periódica

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António Filipe Garcez José
Nominado e típico

 regime próprio no Código Civil, art. 940º a 979º

Primordialmente formal

 Para coisas imóveis é necessário escritura pública (947º/1)

 Para coisas móveis é necessário documento particular;


apenas dispensa forma quando a coisa móvel é
acompanhada da tradição da coisa (947º/2)

Primordialmente consensual (por oposição a real quoad constitutionem)

 não associa a constituição do contrato à entrega imediata da


coisa, admitindo assim a sua vigência antes da coisa ser
entregue (art. 954º/b)

 A doação verbal de coisas móveis, constitui uma


excepção, pois é um contrato real quoad constitutionem, cuja
validade depende da ocorrência concomitante da tradição da
coisa doada

Tanto obrigacional como real quoad effectum,


isolada ou conjuntamente

 A doação tanto pode ser um contrato obrigacional como real


ou quoad effectum, podendo reunir estas duas características
isolada ou conjuntamente, na medida em que se transmite a
propriedade da coisa ou a titularidade do direito para o
donatário (art. 954º/a), ao mesmo tempo que se onera o
doador com a obrigação de entregar a coisa (art. 954°/b).

 Pode também ser estritamente obrigacional (art. 940º in fine e


art. 954º/c)

Contrato gratuito

 não exige contrapartida pecuniária em relação à transmissão


dos bens ou à assunção de obrigações; o encargo previsto no Comentado [u48]: ARTIGO 963º
(Cláusulas modais)
art. 963º não constitui contrapartida da atribuição patrimonial 1. As doações podem ser oneradas com encargos.
do doador, sendo apenas uma mera restrição à liberalidade. 2. O donatário não é obrigado a cumprir os encargos
senão dentro dos limites do valor da coisa ou do
direito doado.

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António Filipe Garcez José
Contrato não sinalagmático

 porque é gratuito, só faz surgir obrigações para uma das


partes

tanto pode ser de execução instantânea como periódica

 normalmente de execução instantânea, porém o art. 943º Comentado [u49]: ARTIGO 943º
(Prestações periódicas)
admite poder abranger prestações periódicas; A doação que tiver por objecto prestações periódicas
extingue-se por morte do doador.

Objecto

ARTIGO 942º
Objecto da doação

1. A doação não pode abranger bens futuros.

2. Incidindo, porém, a doação sobre uma universalidade de facto


que continue no uso e fruição do doador, consideram-se doadas,
salvo declaração em contrário, as coisas singulares que venham de
futuro a integrar a universalidade.

 não pode abranger bens futuros (art. 942º/1) pois não se


pode prescindir daquilo que ainda não se adquiriu;

 se incidir sobre universalidade de facto no uso e fruição do


doador, consideram-se doadas as coisas singulares que
venham a integrar essa universalidade (art. 942º/2)

 quando o objecto for prestações periódicas, a doação


extingue-se com a morte do doador (art. 943º)

ARTIGO 943º
Prestações periódicas

A doação que tiver por objecto prestações periódicas extingue-se


por morte do doador.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
Forma do contrato de doação

 É um contrato formal uma vez que não há liberdade de forma.

 A doação de coisas imóveis está sujeito a forma especial a


escritura pública (art. 947º) sob pena de nulidade (art. 220º)

 A doação de coisas móveis sem tradição da coisa sujeito a


forma escrita, um documento particular (art. 947º/2); esta
forma é dispensada se for acompanhada da tradição da coisa.

ARTIGO 947º
Forma da doação

1. A doação de coisas imóveis só é válida se for celebrada por


escritura pública.

2. A doação de coisas móveis não depende de formalidade alguma


externa, quando acompanhada de tradição da coisa doada; não
sendo acompanhada de tradição da coisa, só pode ser feita por
escrito.

A formação do contrato

 É um negócio jurídico bilateral porque está sempre


dependente de uma proposta e de uma aceitação.

Tem regras especificas que se desviam às regras gerais:

A proposta

 Enquanto a proposta de doação não for aceite o doador pode


proceder à sua revogação (art. 969°) extinguindo assim a
possibilidade de o donatário proceder à sua aceitação.

 O donatário pode aceitar a proposta de doação enquanto o


doador for vivo (art. 945°/1)

 Certas doações, mesmo que haja ingratidão do donatário, não


podem ser revogadas: doações para casamento e doações
remuneratórias.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

 Por outro lado a ingratidão não opera automaticamente na


revogação da doação. O doador tem de querer revogar a
doação pessoalmente. Não podem os seus herdeiros revogar
essa doação.

A aceitação – tácita ou expressa.

ARTIGO 945º
Aceitação da doação

1. A proposta de doação caduca, se não for aceita em vida do


doador.

2. A tradição para o donatário, em qualquer momento, da coisa


móvel doada, ou do seu título representativo, é havida como
aceitação.

3. Se a proposta não for aceita no próprio acto ou não se verificar a


tradição nos termos do número anterior, a aceitação deve obedecer
à forma prescrita no artigo 947º e ser declarada ao doador, sob
pena de não produzir os seus efeitos.

 Se não se pronunciar no sentido da aceitação mas houver


traditio, há aceitação.

 O prazo para a aceitação da doação é o da vida do doador.

 O doador fica vinculado enquanto for vivo e enquanto não


revogar a proposta (art. 945º/1) esta não caduca (art. 228º), Comentado [u50]: ARTIGO 228º
(Duração da proposta contratual)
1. A proposta do contrato obriga o proponente nos
 Só pode caducar por revogação do doador até ao momento termos seguintes:
a) Se for fixado pelo proponente ou convencionado
da aceitação (art. 969º) pelas partes um prazo para a aceitação, a proposta
mantém-se até o prazo findar;
b) Se não for fixado prazo, mas o proponente pedir
 O contrato só está concluído com a recepção ou o resposta imediata, a proposta mantém-se até que,
em condições normais, esta e a aceitação cheguem
conhecimento da aceitação (art. 224º/1). ao seu destino;
c) Se não for fixado prazo e a proposta for feita a
 Há uma dispensa de aceitação quando o donatário seja pessoa ausente ou, por escrito, a pessoa presente,
manter-se-á até cinco dias depois do prazo que
menor ou incapaz e se a doação for pura (sem ónus ou encargos). resulta do preceituado na alínea precedente.
2. O disposto no número anterior não prejudica o
Neste caso basta a doação feita pelo doador (negócio jurídico direito de revogação da proposta nos termos em que
unilateral) (art. 951º) a revogação é admitida no artigo 230º.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
Processo de formação do contrato

capacidade activa (art. 948º).

ARTIGO 948º
Capacidade activa

1. Têm capacidade para fazer doações todos os que podem


contratar e dispor dos seus bens.

2. A capacidade é regulada pelo estado em que o doador se


encontrar ao tempo da declaração negocial.

 quem tenha a capacidade de disposição dos seus bens.

 Faz-se aqui uma equiparação à capacidade contratual geral


(art. 67º);

 a capacidade é regulada pelo estado em que o doador se


encontrar ao tempo da declaração negocial (art. 948º/2)

capacidade passiva (art. 950º)

ARTIGO 950º
Capacidade passiva

1. Podem receber doações todos os que não estão especialmente


inibidos de as aceitar por disposição da lei.

2. A capacidade do donatário é fixada no momento da aceitação.

ARTIGO 951º
Aceitação por parte de incapazes

1. As pessoas que não têm capacidade para contratar não podem


aceitar doações com encargos senão por intermédio dos seus
representantes legais.

2. Porém, as doações puras feitas a tais pessoas produzem efeitos


independentemente de aceitação em tudo o que aproveite aos
donatários.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
 Os incapazes não podem aceitar a doação senão por
intermédio dos seus representantes legais, excepto se a
doação for pura não necessitando, neste caso, de aceitação
(art. 951º/2); exemplo disto é a doação a nascituros de pessoa
viva (art. 952º) Comentado [u51]: ARTIGO 952º
(Doações a nascituros)
1. Os nascituros concebidos ou não concebidos
 A doação pura a incapaz é um negócio jurídico unilateral, podem adquirir por doação, sendo filhos de pessoa
determinada, viva ao tempo da declaração de
produzindo todos os seus efeitos, incluindo a transmissão da vontade do doador.
propriedade para o donatário, com base apenas na 2. Na doação feita a nascituro presume-se que o
doador reserva para si o usufruto dos bens doados
declaração negocial do doador. até ao nascimento do donatário.

Mandato para doar

 A doação tem em regra carácter pessoal admitindo-se que


possa ser feita por mandato para doar - o donatário e o bem
têm de estar referidas no documento. (arts. 949º, 2182º/2 e
1159º/1)

ARTIGO 949º
Carácter pessoal da doação

1. Não é permitido atribuir a outrém, por mandato, a faculdade de


designar a pessoa do donatário ou determinar o objecto da doação,
salvo nos casos previstos no nº 2 do artigo 2182º.

2. Os representantes legais dos incapazes não podem fazer


doações em nome destes.

contrato-promessa de doação

 Questão muito discutida na doutrina, pois este negócio


poderia pôr em causa a espontaneidade necessária deste tipo
de contrato bem como a proibição de doar bens futuros.
Assim não o considera a maioria da doutrina.

 Apesar do seu cariz vinculativo, o contrato-promessa de


doação, não admite a execução específica, por a tal se opôr a
natureza da obrigação (art. 830°/1)

Invalidade e confirmação da doação:


Comentado [u52]: ARTIGO 953º
(Casos de indisponibilidade relativa)
 pode ser nula por força de não ter obedecido à forma legal É aplicável às doações, devidamente adaptado, o
(art. 947º) ou por indisponibilidade relativa (art. 953º) disposto nos artigos 2192º a 2198º.

50
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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

Efeitos

Os Efeitos da doação estão previstos no art. 954º

ARTIGO 954º
Efeitos essenciais

A doação tem como efeitos essenciais:

a) A transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do


direito;

b) A obrigação de entregar a coisa;

c) A assunção da obrigação, quando for esse o objecto do contrato.

Este contrato gera sempre dois efeitos :

- um de natureza obrigacional
para o doador a obrigação de entrega da coisa;

- outro de natureza real


porque é um contrato real que gera a transferencia da
propriedade. É um contrato quoad effectum, pois a partir da
celebração do contrato o direito de propriedade transfere-se
da esfera jurídica do doador para a esfera jurídica do
donatário.

Doação real

Contrato real quod effectum


Quando a doação respeita à transmissão de uma coisa ou direito,
constitui um contrato real quoad effectum , visto que a celebração
do contrato acarreta a automática transmissão da propriedade para
o donatário (arts 408°/1 e 954°/a))

Contrato real quoad constitutionem


Se se tratar de doação verbal de bens móveis, a lei exige a tradição
da coisa para a celebração do contrato, pelo que neste caso a
doação será um contrato real quoad constitutionem (art. 947°/2)

51
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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
 Quando a lei não exige a tradição da coisa para constituir o
contrato de doação, o doador tem a obrigação de a entregar;
 A obrigação de entrega da coisa por parte do doador aparece
regulada no art. 955°

ARTIGO 955º
Entrega da coisa

1. A coisa deve ser entregue no estado em que se encontrava ao


tempo da aceitação.

2. A obrigação de entrega abrange, na falta de estipulação em


contrário, as partes integrantes, os frutos pendentes e os
documentos relativos à coisa ou direito.

doação obrigacional

 limita-se a constituir a assunção de uma obrigação art. 954º/c,


quando for esse o objecto do contrato.

 Neste caso estão preenchidos os requisitos do art. 940° , pois, Comentado [u54]: Doação
SECÇÃO I
a assunção de uma obrigação para com o donatário diminui Disposições gerais
o património do doador, e produz um enriquecimento do ARTIGO 940º
(Noção)
donatário, sendo essa atribuição feita por espírito de 1. Doação é o contrato pelo qual uma pessoa, por
liberalidade, estamos perante uma doação. espírito de liberalidade e à custa do seu património,
dispõe gratuitamente de uma coisa ou de um direito,
ou assume uma obrigação, em benefício do outro
 A doação pode ter como efeito não apenas a constituição de contraente.
2. Não há doação na renúncia a direitos e no repúdio
uma obrigação , mas também a sua extinção (art. 863°/2) de herança ou legado, nem tão-pouco nos donativos
conformes aos usos sociais.

Cláusulas acessórias (típicas) nas doações:

reserva de usufruto (art. 958º)

ARTIGO 958º
Reserva de usufruto

1. O doador tem a faculdade de reservar para si, ou para terceiro, o


usufruto dos bens doados.

2. Havendo reserva de usufruto em favor de várias pessoas,


simultânea ou sucessivamente, são aplicáveis as disposições dos
artigos 1441º e 1442º.

52
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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
 presume-se feita a si próprio no caso de doação a nascituros
até ao nascimento do donatário (952º); pode ser feita a favor
de várias pessoas (958º/2 + 1441º + 1442º)

reserva do direito de dispor de coisa determinada ou de certa


quantia sobre os bens doados (art. 959º)

ARTIGO 959º
Reserva do direito de dispor de coisa determinada

1. O doador pode reservar para si o direito de dispor, por morte ou


por acto entre vivos, de alguma ou algumas das coisas
compreendidas na doação, ou o direito a certa quantia sobre os
bens doados.

2. O direito reservado não se transmite aos herdeiros do doador, e,


quando respeite a imóveis, ou móveis sujeitos a registo, carece de
ser registado.

 faculdade potestativa de disposição do doador que lhe permite


restringir o objecto da doação

cláusula de reversão – 960º

ARTIGO 960º
Cláusula de reversão

1. O doador pode estipular a reversão da coisa doada.

2. A reversão dá-se no caso de o doador sobreviver ao donatário,


ou a este e a todos os seus descendentes; não havendo
estipulação em contrário, entende-se que a reversão só se verifica
neste último caso.

3. A cláusula de reversão que respeite a coisas imóveis, ou a coisas


móveis sujeitas a registo, carece de ser registada.

 quando o doador quer limitar a doação ao donatário não


pretendo que esta suceda nos seus herdeiros.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
substituições fideicomissárias – 962º + 2286º

 disposição pela qual o testador impõe ao herdeiro instituído o


encargo de conservar a herança, para que ela reverta por sua
morte a favor de outrém

doação sujeita a condição – 270º + 276+ + 272º,

 excepção 967º

doação modal – 963º

 oneradas com encargos que consiste numa restrição imposta


ao donatário que o obriga á realização de uma prestação no
interesse do próprio, do autor/doador ou de terceiro; Mesmo
em circunstancias em que ao donatário são atribuídos
encargos, não significa uma contraprestação, porque esse
encargo não tem o valor correspondente ao bem, é sempre
inferior; se não cumprir pode ser responsabilizado
(indemnizar) podendo o doador resolver o contrato – cfr. 966º

ARTIGO 963º
Cláusulas modais

1. As doações podem ser oneradas com encargos.

2. O donatário não é obrigado a cumprir os encargos senão dentro


dos limites do valor da coisa ou do direito doado.

pagamento de dividas do doador – 964º

ARTIGO 964º
Pagamento de dívidas

1. Se a doação for feita com o encargo de pagamento das dívidas


do doador, entender-se-á a cláusula, na falta de outra declaração,
como obrigando ao pagamento das que existirem ao tempo da
doação.

2. Só é legal o encargo do pagamento de dívidas futuras do doador


desde que se determine o seu montante no acto da doação.

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António Filipe Garcez José
cumprimento dos encargos – 965º

ARTIGO 965º
Cumprimento dos encargos

Na doação modal, tanto o doador, ou os seus herdeiros, como


quaisquer interessados têm legitimidade para exigir do donatário, ou
dos seus herdeiros, o cumprimento dos encargos.

ARTIGO 966º
Resolução da doação

O doador, ou os seus herdeiros, também podem pedir a resolução


da doação, fundada no não cumprimento dos encargos, quando
esse direito lhes seja conferido pelo contrato.

condições ou encargos impossíveis ou ilícitos 967º, 2230º e ss.

ARTIGO 967º
Condições ou encargos impossíveis ou ilícitos

As condições ou encargos física ou legalmente impossíveis,


contrários à lei ou à ordem pública, ou ofensivos dos bons costumes
ficam sujeitos às regras estabelecidas em matéria testamentária.

confirmação das doações nulas – 968º

ARTIGO 968º
Confirmação das doações nulas

Não pode prevalecer-se da nulidade da doação o herdeiro do


doador que a confirme depois da morte deste ou lhe dê voluntária
execução, conhecendo o vício e o direito à declaração de nulidade.

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António Filipe Garcez José
Proibições de doação

casos de indisponibilidade relativa – 953º

aplica-se o regime previsto nos artigos 2192º a 2198º):

- a favor de tutor, curador ou administrador legal de bens, ou


protutor que substitua o tutor –

- a favor de médicos, enfermeiros ou sacerdotes

- a favor do notário, interprete ou testemunhas que tenham


intervenção no acto

- a favor de cúmplice do doador adúltero

- entre cônjuges sujeitos ao regime imperativo de separação de


bens – 1761º

- a favor de partido políticos e sindicatos

Modalidades atípicas de doações

a doação remuneratória – 941º

 não pode corresponder a qualquer obrigação por serviços


prestados – é irrevogável cfr. 975º/b

a doação por morte – 946º/1

 à partida são proibidas (nulas) para os bens poderem estar


livremente na esfera do doador, pode ser havida como
disposição testamentária.

a partilha em vida – 2029º

doações para casamento – 1753º segs.

 não há uma liberalidade em sentido amplo, mas estamos


perante uma verdadeira doação, ainda que realizada em vista
do casamento, só produzindo efeitos com a celebração do
casamento – 1755º a 1760º

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

doações ente casados – 1761º a 1766º

 livre revogabilidade – 1765º)

Regime das perturbações da prestação no contrato de doação:

doação de bens alheios

 a mais grave perturbação que importa a nulidade – 956º +


942º + 406º/2;

ARTIGO 956º
Doação de bens alheios

1 . É nula a doação de bens alheios; mas o doador não pode opor a


nulidade ao donatário de boa fé

2 . O doador só responde pelo prejuízo causado ao donatário


quando este esteja de boa fé e se verifique algum dos seguintes
factos:

a) Ter o doador assumido expressamente a obrigação de


indemnizar o prejuízo;

b) Ter o doador agido com dolo;

c) Ter a doação carácter remuneratório;

d) Ser a doação onerosa ou modal, ficando a responsabilidade do


doador limitada, neste caso, ao valor dos encargos.

3. É imputável no prejuízo do donatário o valor da coisa ou do


direito doado, mas não os benefícios que ele deixou de obter em
consequência da nulidade.

4. Não havendo lugar a indemnização, o donatário fica sub-rogado


nos direitos que possam competir ao doador relativamente à coisa
ou direito doado.

57
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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
doação de bens onerados ou de coisas defeituosas – 957º;

 O doador não responde por vícios ou limitações da coisa


doada, salvo se expressamente se tiver responsabilizado
( máxima de “a cavalo dado não se olha o dente”)

Extinção das doações:

Revogação das doações

Revogação da proposta de doação – 969º

ARTIGO 969º
Revogação da proposta de doação

1. Enquanto não for aceita a doação, o doador pode livremente


revogar a sua declaração negocial, desde que observe as
formalidades desta.

2. A proposta de doação não caduca pelo decurso dos prazos


fixados no nº 1 do artigo 228º.

Revogação por ingratidão do donatário

 na ingratidão está na base um acto ilícito praticado pelo


donatário arts. 970° e 974º.

ARTIGO 970º
Revogação da doação

As doações são revogáveis por ingratidão do donatário.

ARTIGO 974º
Casos de ingratidão

A doação pode ser revogada por ingratidão, quando o donatário se


torne incapaz, por indignidade, de suceder ao doador, ou quando se
verifique alguma das ocorrências que justificam a deserdação.

 É a indignidade e a deserção, ou seja, situações que


provocam a incapacidade sucessória – art. 2034º e 2166º. A
acção está sujeita aos prazos estipulados no art. 976º

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
a colação – 2104º

 obrigação que é imposta aos descendentes que pretendam


entrar na sucessão do ascendente de restituir á massa da
herança, para efeitos de igualdade, os bens ou valores que
lhes foram doados por este

a redução por inoficiosidade – 2168º;

 O donatário pode vir a ser afectado por vias sucessórias. Se a


doação afectar a legitima dos herdeiros estes podem vir pedir
a redução da doação. Esta situação só é possível se o bem
doado ainda estiver na esfera jurídica do donatário. Caso
contrário já não é possível.

casos de irrevogabilidade – 975º

ARTIGO 975º
Exclusão da revogação

A doação não é revogável por ingratidão do donatário:

a) Sendo feita para casamento;

b) Sendo remuneratória;

c) Se o doador houver perdoado ao donatário

ARTIGO 976º
Prazo e legitimidade para a acção

1. A acção de revogação por ingratidão não pode ser proposta, nem depois da
morte do donatário, nem pelos herdeiros do doador, salvo o caso previsto no nº
3 e caduca ao cabo de um ano, contado desde o facto que lhe deu causa ou
desde que o doador teve conhecimento desse facto.

2. Falecido o doador ou o donatário, a acção, quando pendente, é transmissível


aos herdeiros de um ou de outro.

3. Se o donatário tiver cometido contra o doador o crime de homicídio, ou por


qualquer causa o tiver impedido de revogar a doação, a acção pode ser proposta
pelos herdeiros do doador dentro de um ano a contar da morte deste.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
ARTIGO 977º
Inadmissibilidade de renúncia antecipada

O doador não pode antecipadamente renunciar ao direito de revogar a doação


por ingratidão do donatário.

EFEITOS DA REVOGAÇÃO

ARTIGO 978º
Efeitos da revogação

1. Os efeitos da revogação da doação retrotraem-se à data da proposição da


acção.

2. Revogada a liberalidade, são os bens doados restituídos ao doador, ou aos


seus herdeiros, no estado em que se encontrarem.

3. Se os bens tiverem sido alienados ou não puderem ser restituídos em espécie


por outra causa imputável ao donatário, entregará este, ou entregarão os seus
herdeiros, o valor que eles tinham ao tempo em que foram alienados ou se
verificou a impossibilidade de restituição, acrescido dos juros legais a contar da
proposição da acção.

ARTIGO 979º
Efeitos em relação a terceiros

A revogação da doação não afecta terceiros que hajam adquirido,


anteriormente à demanda, direitos reais sobre os bens doados, sem
prejuízo das regras relativas ao registo; neste caso, porém, o
donatário indemnizará o doador.

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António Filipe Garcez José
CASOS PRÀTICOS
I)

Doação quanto ao objecto:

Miguel caminhava junto de seu amigo Nuno e, ao passarem por um


stand de venda de automóveis, este (Nuno) revelou especial gosto
por um modelo que se encontrava ali exposto.
Miguel ao ver o entusiasmo de seu amigo Nuno, disse que lhe
oferecia o carro, só não o comprando de imediato porque o stand se
encontrava encerrado. Todavia assegurou-lhe de que no dia seguinte
o compraria e o entregaria tal como acordado.
Reduziram este acordo a escrito.
No dia seguinte, Miguel comprou o carro. Não obstante, quando
Nuno lhe solicitou a sua entrega, Miguel recusou-se, invocando que
decidira, entretanto, oferecer o carro à sua namorada.

Nuno pretende saber como pode solucionar este problema.

Estamos perante um contrato de doação, existe uma vontade de


doar o carro. Corresponde a um contrato definitivo.
A doação tem como objecto uma coisa futura que ainda não está ao
dispor do disponente (art. 211.º do Código Civil).
A doação de bens futuros é proibida por lei – 942º.
Nos termos do art. 242.º do Código Civil não poderia ser celebrado o
contrato.
Diz o art. 294.º que os contratos celebrados contra a lei (proibidos)
são nulos
O contrato de doação pressupõe um sacrifício patrimonial e Miguel
não teve qualquer sacrifício porque, no momento da celebração do
contrato, o automóvel ainda não constava no seu património. Por
isso, trata-se de doação de bem alheio e bem futuro, não podendo
haver propostas de promessa de doacção.
Desta forma, a doação é nula de acordo com o previsto no art. 942.º
do Código Civil, que indica que a doação não pode abranger bens
futuros.
Nuno não poderia fazer qualquer exigência na presente relação com
Miguel.

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António Filipe Garcez José
II)

Paulo pretende agradecer a Rui o facto deste ter ajudado a sua


família enquanto ele esteve ausente em prestação de serviço militar
na guerra e, por isso, ofereceu a Rui um relógio antigo que pertencia
à sua família já há umas décadas.
Rui pegou no relógio e levou-o consigo sem proferir sequer uma
única palavra de agradecimento. Aliás, a partir desse dia deixou de
cumprimentar Paulo.
Descontente com a situação, Paulo pretende revogar a doação
por entender que Rui nem sequer declarou aceitar e por ver no seu
comportamento um gesto de ingratidão. Quid Juris?

Contrato enquanto acto – formalmente e substancialmente válido


A aceitação pode ser tácita e é feita com a tradição da coisa (não há
revogação porque houve tradição, logo aceitação – 945º/2 + 947º +
969º + 970º + 974º + 2034º
No caso concreto há uma declaração tácita (válida) e tradição da
coisa

A duração da proposta de acordo com o previsto no art. 228.º do


Código Civil vincula o autor durante 5 dias; todavia no contrato de
doação a lei estipula um prazo diferente, o donatário pode aceitar a
doação até à morte de doador.
Nos negócios jurídicos, quando é feita uma declaração e esta chega
aos seus destinatários, ela é irrevogável; na doação o doador pode
revogar a doação até à aceitação.
Revogação do contrato – a revogação é feita unilateralmente, a lei
permite que o doador possa revogar unilateralmente o contrato
assentado na ingratidão do contrato, e não por motivos de ordem
moral ou social:
O Código Civil remete para os arts. 2034.º e 2166.º nos casos de
ingratidão.
O art. 974.º do Código Civil remete-nos para as regras do Direito
Sucessório. Excluindo estas situações não poder haver lugar a
ingratidão.
No caso concreto, cabe ainda salientar que estamos perante uma
doação remuneratória, uma vez que Paulo queria compensar Rui
pelo serviço prestado enquanto este se encontrava ausente. Assim,

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
mesmo que se tratasse de um caso de ingratidão, as doações
remuneratórias jamais podem ser revogadas cfr. artº 975º/b, nem
mesmo nos termos previstos nos arts. 2034.º e 2166.º do Código
Civil, já anteriormente mencionados.
O contrato existe, está celebrado, houve aceitação (ainda que tácita)
e houve tradição da coisa, não há ingratidão jurídica e, mesmo no
caso de haver ingratidão, não poderia haver lugar a revogação por
se tratar de um contrato de doação remuneratório, tal como acima já
foi citado.

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António Filipe Garcez José

CONTRATO DE SOCIEDADE art. 980º


 A sociedade é um contrato de execução continuada.

 Nele deve constar o elemento organização, que o artigo não


obriga.

Elementos do contrato sociedade

Instrumento

 o primeiro elemento que constitui o contrato de sociedade: -


bens ou serviços.

 Não é um contrato quoad constitutionem porque não obriga a


uma constituição objectiva.

Objecto

 o exercício em comum de determinada actividade económica


que não seja de mera fruição.

 A sociedade não pode ter actividade comercial.

 A actividade económica não pode ser de mera fruição.

 A fruição não pode ser estática. Se for uma fruição estática


deverá recorrer-se ao instituto jurídico da compropriedade e
não do instituto jurídico sociedade.

 A sociedade pode ser gerida por todos os sócios, por um dos


sócios ou por terceiros que não sócios.

Organização

 instituição de um sistema de órgãos destinados a gerir a


sociedade.

 Deve ter um órgão próprio – 985º e ss.. Deve haver uma


relação de administração.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
Fim

 a repartição dos lucros. É uma pessoa colectiva de fim


interessado (visa os lucros)

Características qualificadoras do contrato sociedade

 O contrato de sociedade destina-se a dar origem a pessoas


colectivas que são as sociedades civis.

 É um contrato de caracter duradouro.

 Na generalidade dos contratos, os mesmos terminam com o


cumprimento das prestações.

 O contrato de sociedade é ao contrário, porque na vida da


sociedade estabelecem-se relações jurídicas, para além das
relações jurídicas da constituição da sociedade.

 Entre a sociedade e os sócios existe uma relação própria:

Especificidades do contrato de sociedade


relativamente aos outros contratos em geral:

 2033º/2/b) – as sociedades civis têm personalidade jurídica

 as partes têm direitos convergentes (diferente da


contraposição de interesses, como é a regra)

 contrato de plurilateralidade (a regra é de bilateralidade)

 contrato associativo ou de fim comum

 contrato consensual por oposição ao contrato quoad


constitutionem

 não formal

 oneroso (tem prestações para os sócios)

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
 sinalagmático no sentido de que os sócios se obrigam para
com a sociedade

 não sinalagmáticos no sentido de que os sócios não têm


prestações reciprocas entre si, mas pode um sócio exercer o
direito de resolução.

 É um contrato aleatório (os lucros podem não existir) (há uma


atribuição de prestação certas e outra incerta, características
dos contratos aleatórios)

 Forma – 981º. Não há forma. Só é exigível forma se a


prestação para realização da entrada for de natureza que
exija forma (se entrar com bens imóveis então o contrato já
necessita de forma)

 O contrato sociedade é contrário à regra quando por


vicissitudes o art.º 981º/2 altera a regra geral e manda aplicar
primeiro o art.º 293º e só depois o art.º 292º, ou seja, primeiro
converte e se não for possível a conversão então parte-se
para a redução. A regra é exactamente o contrário, primeiro
reduz-se (292º) e só depois, se não for possível a redução é
que se converte (293º)

Há três circunstancias a analisar relativamente à


sociedades civis:

A personalidade jurídica

 em lado nenhum a lei diz que tem personalidade jurídica. Mas


tem efectivamente personalidade jurídica porque sendo
composta por vários sócios ela vai tornar-se independente dos
sócios. Ela passa a ser o centro jurídico de relações
autónomas. Mesmo entre os sócios e a sociedade estabelece-
se uma separação jurídica. Quando se celebram negócios
jurídicos é com a sociedade e não com os sócios. Todo o
regime é de como se tivesse, e tem, personalidade jurídica

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
A capacidade de gozo

 as pessoas colectivas regem-se pelo principio da


especialidade. Não tem uma capacidade de gozo ampla. Está
restringida aos actos relativos ao seu objecto social. Quando
no contrato da sociedade se estabelece o objecto da
sociedade, a partir daí ela tem de limitar-se ao seu objecto.

A capacidade de exercício

 as sociedades sendo agrupamentos de pessoas é necessário


determinar a quem cabe a representação da sociedade. Aqui
entra em campo a sua organização.

 Toda a sociedade tem de ter uma organização. Neste sentido


entra em jogo a administração. Quem actua em nome da
sociedade, quem vincula a sociedade, quem a representa,
quem a gere. É à administração que cabe representar a
sociedade e não aos sócios.

 É necessário que o contrato defina quem são os


administradores. Podem ser pessoas diversas dos sócios. É
necessário definir o modelo de administração. Em
conformidade com o modelo de administração assim a
sociedade vai ser gerida.

O art.º 985º C.C. estabelece vários modelos de administração/


de estrutura organizativa :

O modelo de administração disjunta

 a administração será entregue a cada um dos sócios; os


sócios actuam isoladamente entre si e a concertação entre
eles faz-se pela oposição de um sócio ao outro; cada sócio
tem poderes de administração isoladamente e cada um dos
outros sócios pode, não concordando com os actos de
administração de outro sócio, opor-se à prática daquele acto,
reunindo-se depois decidindo-se por maioria (antes da prática
do acto).

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António Filipe Garcez José
O modelo de administração conjunta

 é ao contrário da anterior. Os actos de gestão são praticados


por todos os sócios. Os actos de administração são tomados
por todos os sócios e as decisões são tomadas por
unanimidade.

O modelo de administração maioritária

 as decisões são tomadas por maioria (deliberação). A maioria


pode ser de 2/3 ou outra se assim o for designado no contrato
de constituição da sociedade.

 Art.º 987º - o administrador é tratado como mandatário.

No âmbito das regras que regulam o contrato de sociedade há


três tipos de regras:

Regras de formação e constituição do contrato de sociedade.

 Toda a sociedade nasce do contrato, sendo o contrato o acto


constitutivo da sociedade. Encontramos neste grupo de regras
quem pode celebrar os contratos, etc.

 é um contrato consensual porque não se exige forma


especifica para este tipo de contrato (a não ser que o bem que
serve de entrada esteja obrigado a forma, assim já este
contrato de sociedade carece de forma)

- Regras que regulam as regras internas da sociedade

 Relações dos sócios entre si e das relações dos sócios para


com a sociedade. Estamos no domínio das relações internas
da sociedade. Aos sócios é conferido o mesmo estatuto.
Todos têm o mesmo conjunto de direitos e obrigações, em
termo qualitativos. Não significa que quantitativamente
também tenha de ser igual, porque neste aspecto está
dependente da proporcionalidade da entrada. A análise
quantitativa é feita em relação à entrada de cada sócio. A
obrigação principal do sócio é a sua entrada. A entrada é
condição para se ter estatuto de sócio. A entrada tem de ter
valor pecuniário.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
Há dois tipos de sócios:

o sócio de industria,
é aquele que entra com o trabalho e não entra com capital;

o sócio de capital
é aquele que entra com o capital. Em função da entrada é atribuído
uma participação na sociedade. Em regra a participação nos lucros
depende da participação na entrada. No entanto as normas são
supletivas e podem ser afastadas.

 Os lucros são, em principio, para repartir. Mas os sócios


podem determinar que os lucros não são para repartir mas
sim para investir na sociedade ou outra coisa diversa.

 A entrada do sócio na sociedade é também importante para


quando o sócio pretenda sair e se liquida a sua quota. Esta
liquidação é feita com base na avaliação da sua entrada no
momento da liquidação e não reportando-se ao valor aquando
da entrada.

Normas dirigidas para as relações externas da sociedade

 São relações que se estabelecem entre a sociedade e


terceiros.

 Terceiro pode ser um sócio se ele se apresentar à sociedade


como um terceiro e não como sócio (ex.: se ele pretender
comprar produto da sociedade pode apresentar-se como um
terceiro).

 Nestas relações com terceiros a sociedade faz-se representar


por administradores e não por sócios. Se um sócio que não é
administrador invocar o nome da sociedade para celebrar um
contrato, em principio esse contrato não vincula a sociedade.
Tem de ser o administrador a praticar o acto em nome da
sociedade.

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António Filipe Garcez José
Relações entre os sócios

A entrada – 983º (dotação inicial)

 a entrada tem de ter valor pecuniário porque senão a


sociedade não retira proveito da prestação – 383º/2 (tem de
ter valor pecuniário). Ex.: - a entrada pode ser o próprio nome
de um dos sócios se a utilização do nome revelar interesse
económico para a sociedade. Se for um nome que produza
uma imagem que se traduza em riqueza.

 Nula será a cláusula que defina que determinado sócio faz a


sua entrada na sociedade no sentido de se responsabilizar
ilimitadamente pelas dividas: pois essa é uma das obrigações
do sócio, não carece de ser contratado. (é uma característica
natural)

Os direitos dos sócios

 direito de exprimir a sua vontade durante toda a altura


relevante para a vida da sociedade: -

 982º, 990º, 1008º, são decisões por unanimidade.

 991º, 986º/3 e 1005 são decisões por maioria.

direito de fiscalização

que se traduz no …

- direito à informação que pode ser exercido a todo o tempo


e…
- no direito à prestação de contas, que só pode ser exercido
em determinadas alturas – 988º/2

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
direito aos lucros

há três entendimentos:

- O direito abstracto aos lucros


quer dizer-se que o sócio entra para a sociedade com
determinada prestação. Assume uma obrigação que vai ser
avaliada e que servirá para determinação dos lucros. A
sociedade tem evolução e a quota passa a ter um valor diferente,
ou seja maior ou menor consoante a sociedade tenha ou não
evoluído ou regredido. Quando o sócio sai da sociedade é-lhe
liquidada a sua quota no valor actual e não no valor inicial (da
entrada)

- O direito à distribuição periódica


o sócio quer que o resultado do exercício seja distribuído
periodicamente.

- O direito aos lucros distribuídos


a sociedade tem lucros e os sócios adquirem um direito de
crédito sobre os bens da sociedade.

Há direito à distribuição periódica dos lucros?

 Os lucros a que se refere o art.º 980º, são direitos abstractos


de distribuição de lucros. Nada obriga à distribuição de lucros.
A sociedade pode determinar que os lucros são reinvestidos e
não repartidos.

 Art.º 991º - não há direito à distribuição periódica. E mesmo a


distribuição de lucros está sujeita à aprovação maioritária

 Art.º 992º/3/4: (sócios de indústria – não participam nas


perdas mas a participação nos lucros é menor que os outros
sócios)

 Art.º 993º - divisão dos lucros por terceiro.

 Art.º 994º - os sócios não podem renunciar aos lucros.


(proibição do pacto leonino)

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António Filipe Garcez José
A representação – 996º
 No contrato de sociedade há uma associação entre a
representação e a administração (996 – 985º)

 Os administradores são os representante da sociedade

Tutela de aparência – 996º/2


 Há no entanto possibilidade de limitar a responsabilidade
pelas dívidas.

 A sociedade permite que haja alguns sócios com


responsabilidade limitada mas não podem ser todos – 997º

 Se a administração for feita por todos os sócios – a


responsabilidade é ilimitada

 Se a administração for feita por alguns dos sócios, os


administradores têm de ter responsabilidade ilimitada e só os
outros sócios não administradores podem ter
responsabilidade limitada.

 No caso da relação do comitente/comissário o credor não


pode demandar os sócios enquanto não excutir o património
da sociedade e do comissário – 998º

Extensão do vinculo da sociedade

- Limitada ao sócio – por morte (1001º) – exclusão (1003º) –


exoneração (1002º). É sempre feita a liquidação da quota do
sócio
- Extinção geral da sociedade – 1007º

A extinção da sociedade é um acto complexo.


A dissolução e o primeiro processo de extinção.
O processo extintivo é terminado com a liquidação e depois com a
partilha
O processo extintivo, até à ultimação das partilhas, pode ser
revogado – 1019º
A sociedade não pode ficar unipessoal por mais de 6 meses –
1007º/d)

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António Filipe Garcez José

CASOS PRÁTICOS
Ex.: A, B e C são administradores.
Em 24/4 C é destituído.
Em 25/4 C celebra um contrato em nome da sociedade.
O terceiro desconhece a sua destituição e celebra o contrato
convencido que C era realmente administrador.

A substituição da administração só vincula o terceiro quando o


terceiro toma conhecimento dessa substituição. Logo o contrato
celebrado por C vincula a sociedade – art.º 926º/2
O objectivo é proteger o terceiro.
A sociedade terá de acautelar-se:
- ou comunica individualmente a substituição
- ou faz um anúncio publico dessa substituição em anúncio de
jornal.

Numa relação com terceiros estabelece-se uma relação triangular


entre a sociedade, o terceiro e os sócios.

Paulo, credor da sociedade Amigos unidos, sendo o seu crédito


proveniente de bens fornecidos à sociedade em DEZ/2000 e no valor
de 25.000€ vem exigir o pagamento a Vítor e Zulmira, sócios da
sociedade devedora

1 - Vítor recusa-se a pagar invocando, desde logo, que apenas entrou


para a sociedade em AGO/2001, não se considerando responsável
pelas dividas contraídas antes da sua entrada. Por outro lado a
divida foi contraída por Teresa, sócia, mas sem ouvir qualquer dos
outros sócios. Como o contrato de sociedade omisso quanto ao
modelo de administração entende que ela não pode vincular sozinha
a sociedade.

Colocam-se duas questões: - saber se a divida contraída vincula ou


não a sociedade. O art.º 985º diz que na falta de estipulação cada
sócio pode administrar. O que os restantes sócios poderiam fazer era
oporem-se à prática do acto. Não o fizeram antes da sua prática, não
o podem fazer agora. A oposição é para não praticar actos e não
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para anular actos. Os administradores não são responsabilizados
pelos seus actos, a não ser por actos danosos, culposos. A divida é
anterior à entrada do sócio: - quando o sócio entra para a sociedade
entra no estado em que ela se encontra e assuma as coisas tais como
estão. O sócio pode entrar posteriormente de duas forma: - ou
adquirindo uma participação social de um dos sócios (cessão de
quota) ou – entra porque forma realizados novas entradas de capital
e ele subscreveu parte ou todo desse capital. Na primeira hipótese
faz sentido a aplicação do art.º 997º/4.(esta interpretação do art.º
997º/4 deve ser feita de forma restritiva). Na segunda hipótese, ele
realizando capital, tem de haver uma alteração do contrato e podem
ocorrer duas situações: - ele exime-se das obrigações do contrato já
existentes, ou ele nada diz será obrigado como os restantes, pelas
dividas anteriormente contraídas.

2 - Zulmira informa que dois dias antes entregou à sociedade uma


carta contendo o seu pedido de desvinculação da sociedade e desta
forma já não tem nada a ver com aquela. Para além disso, mesmo
que fosse responsável apenas responderia por 10% da divida por ser
esse o valor da sua quota.

A outra sócia invoca que se desvinculou antes de ser contraída a


divida e que mesmo que seja responsável só será proporcionalmente
à sua quota: - em primeiro estamos perante a exoneração de sócio. É
uma forma dos sócios saírem da sociedade. Esta exoneração é livre?
– há duas hipóteses: - ou a sociedade tem uma duração fixada no
contrato ou – essa duração não está fixada no contrato. Na segunda
hipótese ele pode desvincular-se livremente (porque caso contrário
só com sua morte). Na primeira hipótese o sócio para se desvincular
tem de invocar justa causa. A exoneração implica a saída do sócio da
sociedade e a liquidação da sua quota. A saída do sócio só produz
os seus efeitos no final do ano social (normalmente corresponde ao
ano civil) mas nunca pode sair antes de três meses. Só se efectiva a
exoneração no fim do ano. Apesar do pedido de exoneração ela
ainda está vinculada, ainda é sócia. O art.º 1006º diz que ela
continua a ser responsável pelas dividas até à exoneração mas nem

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António Filipe Garcez José
era necessário porque ela ainda não foi exonerada. A
responsabilidade da sociedade é assegurada pela sociedade e pelos
sócios, na totalidade da divida. Pode é a sócia exigir o beneficio da
excussão prévia do património da sociedade. Nos plano das relações
externas o sócio é responsável pelas dividas da sociedade. No plano
das relações internas o sócio beneficia do direito de regresso sobre
os demais sócios. O regime da solidariedade vigora nesta
sociedades. Art.º 992º/1 – a nível interno. Quando o terceiro é credor
da sociedade o sócio aparece como devedor solidário. A
solidariedade não é reciproca, isto é, a sociedade não responde pelas
dividas dos sócios. O património da sociedade +e autónomo e só
responde pela dividas da própria sociedade. A única coisa que
poderiam executar era: - os lucros; a quota que o sócio tem na
sociedade, mas isto não é da sociedade, mas sim do sócio.

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COMODATO
Encontra-se regulado nos arts. 1129° e ss.

ARTIGO 1129º

Noção

Comodato é o contrato gratuito pelo qual uma das partes entrega à


outra certa coisa, móvel ou imóvel, para que se sirva dela, com a
obrigação de a restituir.

Características
As características qualificativas do contrato de comodato são:

 Contrato real quoad constitutionem


 Contrato não formal
 Contrato gratuito
 Contrato não sinalagmático

Características
 O comodato é um contrato real quoad constitutionem
mediante qual uma das partes entrega à outra certa coisa,
móvel ou imóvel, para que se sirva dela, com a obrigação de a
restituir- art. 1129º

 O comodato é um contrato não formal pois a lei não exige


qualquer forma especial para a sua realização conferindo toda
a liberdade às partes envolvidas – art. 219º

 O comodato é um contrato gratuito pois apesar de fazer


surgir obrigações ao comodatário –art.1135º- nenhuma delas
se apresenta como contrapartida da utilização da coisa.

 É um contrato não sinalagmático.

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Objecto
Podem ser objecto do comodato tanto as coisas móveis como as
imóveis.

Objecto do comodato
 Conforme ao art. 1129º podem ser objecto de comodato tanto
as coisas móveis como imóveis. Porém, as coisas móveis não
podem corresponder a coisas consumíveis.

Obrigações do comodante
obrigação de não perturbar o uso da coisa pelo comodatário

 Por exemplo, reivindicar do comodatário a coisa emprestada


ou dispor dela a favor de outrém.

 Porém, pelo simples exercício dos seus poderes ele está


numa situação propícia a perturbar esse uso.

obrigação de reembolso de benfeitorias

 (1138º, nº 1 e 2 /1273º/1275º)
Obrigações do comodatário

obrigação de guardar e conservar a coisa emprestada – art.


1135º/a)
 actividade de vigilância directa sobre a coisa evitando
deteriorações e manter o bem no estado em que foi recebido;
é que o art. 1136º estabelece um regime especial pois o
comodatário responde se podia salvar a coisa ainda que com
sacrifício de coisa própria de valor não superior, o que
corresponde a um critério de diligência diferente;

 há presunção de culpa nos termos do art. 799º/1 incumbindo


ao comodatário demonstrar que não podia ter evitado a perda
ou deterioração da coisa mesmo com sacrifício de coisa
própria.

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António Filipe Garcez José
 Se o comodatário permitir a utilização da coisa emprestada
por outrém ou a aplicação a um fim diferente daquele a que
ela se destina é responsável objectivamente – art. 1136º/2.

 Porém, nestas situações pode o comodatário elidir a sua


responsabilidade objectiva mediante a relevância negativa da
causa virtual.

 Refere ainda nº 3 do art. 1136º que a avaliação do bem faz


presumir que o risco de perecimento ou deterioração da coisa
corre por conta do comodatário – há como que uma
transferência do risco mesmo que ele não pudesse evitar o
prejuízo)

obrigação de facultar ao comodante o exame da coisa


emprestada – art. 1135º/b)(

 visa possibilitar ao comodante o controle do bom estado da


coisa e a aplicação que dela está a ser feita pelo comodatário,
podendo em consequência dessa averiguação determinar a
resolução do contrato -1140º- ou exigir responsabilidade pelos
danos causados na coisa emprestada – 1136º)

obrigação de não aplicar a coisa a fim diverso daquele a que


ela se destina art. 1135/c); art. 1131º e 1136º/2

obrigação de não fazer da coisa emprestada uma utilização


imprudente- art. 1135º/d); 1137º/3 e 1043º/1

 dever de manutenção da coisa no mesmo estado em que foi


recebida

obrigação de tolerar quaisquer benfeitorias que o comodante


queira realizar na coisa- 1135º/e)

obrigação de não proporcionar a terceiro o uso da coisa,


excepto se o comodante o autorizar – art. 1135º/f) –

 contrato intuitu personae; responsabilidade objectiva em


caso de desrespeito por esta obrigação – 798º e 1136º/2)

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obrigação de avisar imediatamente o comodante, ...

 sempre que tenha conhecimento de vícios na coisa, ou saiba


que a ameaça algum perigo, ou que terceiros se arrogam
direitos em relação a ela, desde que o facto seja ignorado do
comodante - art. 1135º/g)

obrigação de restituir a coisa emprestada, findo o contrato –


art. 1135º/h).

 Surge como consequência da natureza temporária do


contrato devendo aplicar-se ao comodato o regime do art.
1192º em que está vedado ao comodatário recusar a
restituição ao comodante com o fundamento de que este não
é proprietário da coisa, nem tem sobre ela outro direito.

 O comodatário fica constituído em mora se não restituir a


coisa dentro do prazo estabelecido ou logo que o uso finde -
art. 1137º/1 e 779º.

 Caso não tenha sido definido um prazo pelo comodante esta


dever-lhe-à ser entregue logo que solicitada – 1137º/2.

Extinção do contrato:
O contrato de comodato pode extinguir-se por...

- caducidade,
- denúncia ou ...
- resolução

nos termos gerais.

 O contrato de comodato caduca ainda por morte do


comodatário- art. 1141º

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Caso prático
Vasco empresta a Xavier a sua caso no Algarve para este passar
férias durante o mês de Agosto juntamente com a sua família.
Empresta-lhe ainda o seu automóvel para ele poder passear
durante as férias.
Durante as férias Xavier decide participar num rali com o
automóvel obtendo o primeiro lugar, ganhando um prémio no
valor de 1.000€.
Numa das noites Xavier resolva transformar a casa numa discoteca
dando uma festa para 50 pessoas.
No dia seguinte sem que Xavier consiga explicar as causas as
paredes encontram-se riscadas e o chão manchado.
Nessa mesma noite, inesperadamente, ocorreu um violento
temporal que arrastou um contentor do lixo que foi embater no
carro de Vasco que se encontrava estacionado na rua tendo
amolgado a parte da frente.
Ao tomar conhecimento deste facto por terceiro, Vasco decide
dirigir-se ao Algarve e aproveitando o facto de Xavier se encontrar
na praia mudou a fechadura da casa.
Vem agora a exigir-lhe que lhe sejam pagos os danos do veículo,
da casa e ainda que lhe seja entregue o prémio recebido no rali.
Xavier pede uma indemnização a Vasco por este não lhe ter
deixado usar a casa durante todo o mês. Quid iuris.

Relativamente ao comodante: a mudança da fechadura


Relativamente ao comodatário: - dano do veículo, danos da casa,
prémio.
Relativamente ao veículo:
O risco é suportado pelo comodante porque a propriedade não se
transferiu. Transfere-se o risco se o comodante provar que o
comodatário agiu negligentemente – art.º 1136º C.C..
Relativamente à casa:
O art.º 1135º impõe várias obrigações para o comodatário. Ele
utilizou a coisa par fim diverso. No contrato definiu-se que a coisa
se destinava a férias. A nossa lei aplica sanções quando o
comodatário viole as obrigações do contrato. Desta forma há a
inversão da responsabilidade e do ónus da prova. Aqui, sim, o
comodatário poderá invocar a relevância negativa da causa virtual,

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o que neste caso não colhe. É uma excepção para as penalizações do
comodatário pela utilização diversa do estipulado no contrato.
Situações de inversão da responsabilidade da coisa: (são 3)
- quando aplique fim diverso ao estipulado;
- quando o comodatário se tenha responsabilizado por isso;
- quando no momento da celebração do contrato haja uma
avaliação dos bens comodatados.
Quanto ao prémio:
Fruto é o que a coisa tenha capacidade de produzir periodicamente.
Os frutos advêm da própria coisa. Se o comodatário tiver
participado decididamente na obtenção do fruto, não é fruto.
Aqui não há fruto porque foi resultado da perícia do comodatário.
Ao participar na corrida o comodatário está a utilizar o carro para
fim diverso. Desta forma o comodante terá direito a uma
indemnização se provar que há prejuízos.
Quanto à mudança da fechadura:
A forma de celebração do comodato é consensual.
A resolução também pode ser consensual. As forma pode ser de
qualquer forma, porque não exige forma. Quanto à mudança da
fechadura: - podia invocar acção directa porque não conseguiu
contactar o comodatário. Podia invocar que foi o único modo que ele
encontrou para resolver o contrato.
O comodante pode resolver o contrato porque não tem de suportar
os prejuízos. O contrato é sempre feito tendo em conta o comodante
(pois se ele é gratuito não é lógico que seja a favor do comodatário)
(ex.: ele tinha oferta para venda. Mesmo que o comodatário
cumprisse todas as cláusulas do contrato, ele tinha fundamento para
a resolução porque se não vendesse tinha prejuízo, e isso não pode
acontecer.)
Se entendermos que esta forma não é a adequada à resolução do
contrato o comodante é obrigado a indemnizar o comodatário, nos
termos da restituição da posse.

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MÚTUO
O mútuo encontra-se previsto nos arts. 1142° e ss.

ARTIGO 1142º
Noção
Mútuo é o contrato pelo qual uma das partes empresta à outra
dinheiro ou outra coisa fungível, ficando a segunda obrigada a
restituir outro tanto do mesmo género e qualidade.

Características
Características qualificativas do contrato de mútuo :

1) Contrato nominado e típico


2) Contrato primordialmente não formal
3) Cariz real quoad constitutionem (polémico)
4) Contrato obrigacional e real quoad effectum
5) Contrato naturalmente oneroso, podendo ser gratuito
6) Contrato unilateral
7) Contrato cumutativo
8) Contrato sem cariz “intuitu personae”

Objecto
O mútuo tem por objecto dinheiro ou outra coisa fungível;

 O mútuo é considerado um acto de administração


extraordinária..
 É possível fazer um contrato-promessa de mútuo, mas é de
excluir a execução específica nesse âmbito.

Efeitos
O mútuo tem em primeiro lugar um efeito real (art. 1144°) e um
efeito obrigacional (1142°)

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António Filipe Garcez José
COMODATO: 1129º e ss.

Comodato – 1129º - é um empréstimo; é gratuito; incide sobre coisa


certa e determinada.
O contrato de comodato não tem forma especial
Obrigação do comodatário – 1133º/1
Por ser um contrato gratuito não há grande responsabilidade pelo
comodante. Ele só responde pelo art.º 1134º

Direitos do comodatário:
- art.º 1132º - só tem direito ao uso e não aos frutos, salvo
convenção em contrário.

Obrigações do comodatário: - 1135º - 1136º


O art.º 1136º é uma excepção à regra do bom pai de família. É um
critério de responsabilidade mais alargado

Restituição: - art.º 1137º:


- convencional
- não convencional

o comodatário pode reter a coisa enquanto não for pago das


benfeitorias – 755º (contrário à regra)

MUTUO: 1142º e ss. C.C.

Mútuo – incide sobre coisas fungíveis, indeterminadas ou


determinadas apenas pelo género, qualidade e quantidade.
É em rigor um contrato em que há transmissão de bens porque
envolve bens fungíveis.
A entrega de coisas fungíveis implica a transmissão da propriedade.

Dátio de coisas fungíveis tem como consequência:


- transmissão da propriedade
- obrigação de transmissão de outro tanto do mesmo género
(tantum demus)

O mútuo é:
- juridicamente é um contrato de transmissão de bens
- economicamente é um contrato de gozo de bens alheios

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
- é um contrato real quoad constitutionem, porque sem a
entrega não há contrato

Sendo contrato real quoad constitutionem não é sinalagmático


porque só há obrigação para uma das partes, porque a entrega do
dinheiro é condição para a existência do próprio contrato e não uma
obrigação do contrato.

Artº 1143º C.C.:


– o mutuo é formal se for superior a 20.000€
– o mutuo é formal se for superior a 2.000€
– o mutuo é consensual se for inferior a 2.000€

O mutuo é também um contrato real quoad effectum porque a


entrega do dinheiro produz efeitos reais ( a transferencia da
propriedade)
Mesmo que não seja verificada a forma exigida no art.º 1143º há
sempre a obrigação de restituir nos termos do art.º 289º por
nulidade do contrato.
O mutuo concede ao mutuário a propriedade sobre o capital e a
obrigação deste a restitui-la no final do contrato.
Se tiver de restituir todo o tempo é um depósito irregular e não um
mutuo – 1205º C.C.
O depósito bancário não é um mutuo mas sim um depósito irregular
porque pode ser levantado a todo o tempo.
A impossibilidade económica é incompatível porque só existiria se o
dinheiro fosse retirado do mercado.
A extinção do mutuo ocorre normalmente pelo cumprimento (pela
restituição do capital) mas pode ser também pelo não pagamento
dos juros – 1150º C.C.
Art.º 1151º - responsabilidade do mutuante em mutuo gratuito.
Art.º 939º - se o mutuo for oneroso. Há sempre a alienação de bens
e logo aplica-se o regime das coisas defeituosas (aplica-se o regime
da compra e venda)
O contrato de mutuo só passa a existir a partir do momento da
entrega. O mutuário enquanto não tem do dinheiro na sua
disponibilidade não há contrato.
Por vezes os momentos sã distintos acontecendo que antes há uma
prévia negociação do contrato.
Entre o banco e o cliente não há promessa de mutuo quando se
pede um crédito. Há é uma negociação tendente a um empréstimo.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
EMPRÉSTIMO:

- comodato
- mutuo

O comodato e o mutuo distinguem-se pelo objecto sobre o qual


incidem:

- no comodato o contrato incide sobre coisas infungíveis


- no mutuo o contrato incide sobre coisa fungíveis (as coisa
fungíveis determinam-se pelo género, qualidade e quantidade)

O caracter da fungibilidade e infungibilidade pode ser determinado


pelas próprias partes.
São os próprios contratantes que podem determinar a fungibilidade
da coisa, para além das características que a lei manda (género,
qualidade e quantidade)

Diferenças entre o mútuo e o comodato

1 -Quanto ao modo de cumprimento das obrigações:

- no comodato o comodatário tem de restituir a mesma coisa


- no mutuo o mutuário pode restituir outros (interessa a
quantidade, qualidade e género)

2 - Quanto aos efeitos:


- o mutuo atendendo á natureza dos bens fungíveis implica a
transferencia da propriedade, o que implica que o mutuário
seja proprietário da coisa objecto do mutuo e também que o
mutuante seja proprietário da coisa mutuada.
- No comodato não se transfere a propriedade

3 - Quanto à classificação no que concerne à gratuitidade ou não:


- o comodato é por natureza gratuito. Só se está perante um
comodato se for gratuito. Se houver alguma forma de
compensação já não será comodato, poderá, quando muito,
ser um contrato de locação.
- o mutuo pode assumir contrato oneroso ou gratuito,
dependendo das vontades das partes. A existência de juros
implica que seja oneroso e a não existência implica que seja

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
gratuito. No silêncio das partes o mutuo é oneroso, o que
implica o pagamento de juros.
-
4 - Quanto à forma:
- o comodato é sempre consensual independentemente do tipo,
natureza e valor do bem. Como não opera a transferencia de
propriedade é consensual.
- O mutuo depende do montante envolvido. – até 2.000€ é
consensual; a partir de 2.000€ é formal, porque tem de ser por
documento escrito; a partir de 20.000€ tem de ser por
escritura pública – art.º 1143º C.C.. O vicio da forma implica a
nulidade do contrato, o que faz com que não haja juros,
embora tenha de ser restituído o dinheiro - art.º 289º. Quando
o mutuante é uma entidade bancária ele assume forma
diversa.

5 -Quanto ao risco:
- no mutuo o risco corre por conta do mutuário – 1144º - 796º
C.C.
- no comodato o risco corre por conta do comodante.

Casos práticos
I)
Vasco empresta a Xavier a sua caso no Algarve para este passar
férias durante o mês de Agosto juntamente com a sua família.
Empresta-lhe ainda o seu automóvel para ele poder passear durante
as férias.
Durante as férias Xavier decide participar num rali com o
automóvel obtendo o primeiro lugar, ganhando um prémio no valor
de 1.000€.
Numa das noites Xavier resolva transformar a casa numa discoteca
dando uma festa para 50 pessoas.
No dia seguinte sem que Xavier consiga explicar as causas as
paredes encontram-se riscadas e o chão manchado.
Nessa mesma noite, inesperadamente, ocorreu um violento temporal
que arrastou um contentor do lixo que foi embater no carro de Vasco
que se encontrava estacionado na rua tendo amolgado a parte da
frente.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
Ao tomar conhecimento deste facto por terceiro, Vasco decide
dirigir-se ao Algarve e aproveitando o facto de Xavier se encontrar
na praia mudou a fechadura da casa.
Vem agora a exigir-lhe que lhe sejam pagos os danos do veículo, da
casa e ainda que lhe seja entregue o prémio recebido no rali.
Xavier pede uma indemnização a Vasco por este não lhe ter deixado
usar a casa durante todo o mês. Quid iuris.

Relativamente ao comodante: a mudança da fechadura


Relativamente ao comodatário: - dano do veículo, danos da casa,
prémio.

Relativamente ao veículo:
O risco é suportado pelo comodante porque a propriedade não se
transferiu. Transfere-se o risco se o comodante provar que o
comodatário agiu negligentemente – art.º 1136º C.C..

Relativamente à casa:
O art.º 1135º impõe várias obrigações para o comodatário. Ele
utilizou a coisa par fim diverso. No contrato definiu-se que a coisa
se destinava a férias. A nossa lei aplica sanções quando o
comodatário viole as obrigações do contrato. Desta forma há a
inversão da responsabilidade e do ónus da prova. Aqui, sim, o
comodatário poderá invocar a relevância negativa da causa virtual,
o que neste caso não colhe. É uma excepção para as penalizações do
comodatário pela utilização diversa do estipulado no contrato.
Situações de inversão da responsabilidade da coisa: (são 3)
- quando aplique fim diverso ao estipulado;
- quando o comodatário se tenha responsabilizado por isso;
- quando no momento da celebração do contrato haja uma
avaliação dos bens comodatados.

Quanto ao prémio:
Fruto é o que a coisa tenha capacidade de produzir periodicamente.
Os frutos advêm da própria coisa. Se o comodatário tiver
participado decididamente na obtenção do fruto, não é fruto.
Aqui não há fruto porque foi resultado da perícia do comodatário.
Ao participar na corrida o comodatário está a utilizar o carro para

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fim diverso. Desta forma o comodante terá direito a uma
indemnização se provar que há prejuízos.

Quanto à mudança da fechadura:


A forma de celebração do comodato é consensual.
A resolução também pode ser consensual, porque não exige forma.
Quanto à mudança da fechadura: - podia invocar acção directa
porque não conseguiu contactar o comodatário.
Podia invocar que foi o único modo que ele encontrou para resolver
o contrato.
O comodante pode resolver o contrato porque não tem de suportar
os prejuízos. O contrato é sempre feito tendo em conta o comodante
(pois se ele é gratuito não é lógico que seja a favor do comodatário)
(ex.: ele tinha oferta para venda. Mesmo que o comodatário
cumprisse todas as cláusulas do contrato, ele tinha fundamento para
a resolução porque se não vendesse tinha prejuízo, e isso não pode
acontecer.)
Se entendermos que esta forma não é a adequada à resolução do
contrato o comodante é obrigado a indemnizar o comodatário, nos
termos da restituição da posse.

II)

Manuel celebrou com Natália um contrato por escrito pelo qual lhe
emprestava 15.000€.
Determinava o contrato que Manuel lhe entregava de imediato 50%
e passado um ano o restante.
Acordaram que Natália pagaria juros semestrais à taxa anula de
12%.
O empréstimo destina-se á compra de um automóvel.
1. Suponha que Natália apenas pagou juros no 1º semestre
deixando de o fazer a partir daí. Como pode Manuel reagir e
quais os efeitos daí decorrentes.
2. Natália após sair de casa de Manuel é assaltada sendo
desapossada do dinheiro. Como não chegou a empregá-lo no
fim a que se destinava entende nada ter a pagar.
3. no fim do ano Manuel recusa-se a entregar a Natália os
restantes 7.500€. Natália pretende saber como pode reagir.
Quid iuris.

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António Filipe Garcez José
Estamos perante um contrato de mutuo oneroso.
Os juros aplicados não são usurários porque os juros legais são de
7% onde acrescem 5%. O que não havendo garantia real, não
ultrapassa os 12%, logo não são usurários.
É um contrato que foi celebrado por escrito, logo é válido nos
termos do art.º 1143º C.C.
1. o mutuante pode resolver o contrato – art.º 1150º. Quais as
consequências práticas da resolução? São as mesmas da
nulidade. Cada um restitui o que adquiriu. Mas aqui aplica-se
o art.º 434º. O mutuário devolve a quantia mutuada mas o
mutuante não tem de restituir as prestações já vencidas
porque a mutuária até ali usou o dinheiro e disso tirou
proveito pelo que deve juros.
2. o art.º 1144º estipula que as coisas mutuadas tornam-se
propriedade do mutuário. Transferindo-se a propriedade
transfere-se o risco. – art.º 796º C.C.
3. o contrato de mutuo para além de ser quoad effectum é
também quoad constitutionem porque a traditio é um acto de
constituição do contrato (é condição). Só há mutuo com a
entrega. Aqui estão dois contrato: - um de mutuo, quando
entrega parte do dinheiro; o outro não é mutuo porque não há
entrega. Se não é mutuo o que é?
Aqui surgem teorias diferentes:
Antunes varela: - se não é mutuo é promessa de mutuo.
Menezes Cordeiro: - não é promessa porque no contrato
promessa promete celebrar o contrato. Aqui ele não promete
emprestar, diz que empresta. Assim será um mutuo consensual.
É um mutuo atípico. Não se rege pelas regras do contrato mutuo,
mas por outras.
Para ser mutuo tem de haver entrega do bem. No contrato de
mutuo não nasce a obrigação de entrega do bem. Tem de
entregar logo. Se não entregar logo não é mutuo.
O contrato de mutuo neste caso é idêntico ao do comodato. São
ambos quoad effectum porque ambos só se celebram com a
entrega do bem.
Para quem considerar que é um contrato promessa aplica as
regras da promessa.
Para quem considerar que é um contrato atípico tem de ir-se ás
regras gerais do contrato.

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MANDATO
O contrato de mandato está regulado no art. 1157° e ss.

ARTIGO 1157º
Noção
Mandato é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar
um ou mais actos jurídicos por conta da outra.

Elementos essenciais
Obrigação de praticar um ou mais actos jurídicos

 Os actos jurídicos objecto do mandato são normalmente


negócios jurídicos, mas podem igualmente ser simples actos
jurídicos.

 Tanto há mandato quando alguém encarrega outrém de


comprar ou vender um bem, arrendar um imóvel, como
quando alguém encarrega outrém de interpelar os seus
devedores ou pagar aos seus devedores.

Actuação do mandatário por conta do mandante

 É necessário que os actos jurídicos praticados pelo


mandatário sejam realizados por conta do mandante.

 “Por conta” significa a intenção de atribuir a outrém os efeitos


do acto celebrado pelo mandatário, que assim se projectarão
na esfera do mandante e não do mandatário

A repercussão dos efeitos jurídicos na esfera do mandante


pode ocorrer de duas formas :

1) mandato com representação


no mandato com representação, os actos jurídicos praticados
pelo mandatário em nome do mandante produzem os seus
efeitos directamente na esfera jurídica deste último (arts.
1178° e 258°)

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2) mandato sem representação
no mandato sem representação os actos jurídicos praticados
pelo mandatário produzem os seus efeitos na esfera jurídica
deste (art. 1180°)

Características qualificativas
1) Contrato nominado e típico
2) Contrato primordialmente não formal
3) Contrato que tanto pode ser gratuito como oneroso
4) Contrato sinalagmático (oneroso) ou sinalagmático imperfeito
(gratuito)

Contrato nominado e típico

 A lei reconhece a sua categoria e estabelece o seu regime


nos arts. 1157° e ss. Do Código Civil

Contrato primordialmente não formal

 O mandato é normalmente um contrato consensual, dado que


a lei não exige forma especial

 Apenas o mandato judicial é sujeito a uma forma especial

 Quando o mandato seja associado à procuração (arts 1178° e


ss.) terá que revestir forma especial, pois a procuração é
sujeita a forma especial.

 O mandato sem representação não está sujeito a forma


especial (arts. 1180° e ss.)

Contrato que tanto pode ser gratuito como oneroso

 O actual código Civil estabelece uma presunção de


gratuitidade do mandato (art. 1158°)

 Presume-se oneroso o mandato que envolva actos que o


mandatário pratique por profissão.

 Presume-se gratuito o mandato estranho à actividade


profissional do mandatário.

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António Filipe Garcez José

 Ambas estas presunções são ilidíveis por prova em


contrário (art. 350°/2)

 No mandato comercial o art. 232° C. Com. Consagra


injuntivamente a regra da onerosidade.

Contrato sinalagmático ou sinalagmático imperfeito

 O mandato pode ser sinalagmático ou sinalagmático


imperfeito, consoante constitua um mandato oneroso ou
gratuito..

 O mandato gratuito é um contrato sinalagmático imperfeito,


pois apesar de gerar obrigações tanto para o mandante (art.
1167/a)/c)d)°) como para o mandatário (art. 1161°), as
obrigações do mandante não se encontram num nexo de
correspectividade com as obrigações do mandatário, tendo
por fundamento factos acidentais, distintos da obrigação de
executar o mandato.

Forma do contrato
 O mandato é em principio um contrato consensual, dado que
a lei não exige forma especial.

 Exceptua-se apenas o mandato judicial, sujeito a uma forma


especial, nos termos do art. 35° CPC.

 A procuração é sujeita a forma especial (art. 262°/2) , estando


sujeita em princípio à forma do negócio que o procurador deva
realizar;

 No mandato com representação, a procuração associada a


esse contrato, terá de obedecer à forma especial para que o
negócio possa ser celebrado validamente.

 o mandato sem representação não é sujeito a forma


especial; mas, tem-se entendido que terá que obedecer à
forma do contrato-promessa (art.410°/2) para que a obrigação
de transferir os bens por parte do mandatário (art. 1181°/1)
possa ser sujeita à execução específica (art. 830°)

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Mandato geral
Aquele que seja conferido para gestão dos interesses do mandante
em determinada região do país ou para uma das actividades
económicas a que ele se dedica.

 O mandato geral só compreende actos de administração


ordinária, ou seja, actos que correspondem à normal
conservação e frutificação do património (art. 1159°/1)

 Para que se possam abranger actos de disposição, terá que


haver um mandato especial simultâneamente conferido com o
mandato geral.

Mandato especial
Aquele que abranja certos e determinados negócios.

 Uma regra específica no âmbito do mandato especial é a de


que ele abrange, além dos actos nele conferidos, todos os
demais actos acessórios e necessários à sua execução
(art.1159°/2).

 Quem encarrega outrém de vender um prédio, não lhe dá


igualmente mandato para o trocar ou hipotecar, nem sequer
para celebrar a respectiva promessa de venda, uma vez que
nenhum desses actos se pode considerar meramente
acessório da venda e indispensável à sua realização

Obrigações do mandante (art. 1167°)


1) Obrigação de fornecer os meios necessários à
execução do mandato, se outra coisa não foi
convencionada.

2) Obrigação de pagar a retribuição devida e fazer


provisão por conta dela, consoante os usos.

3) Obrigação de reembolsar o mandatário das despesas


feitas

4) Obrigação de indemnizar o mandatário do prejuízo


sofrido em consequência do mandato.

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António Filipe Garcez José
ARTIGO 1167º
Enumeração

O mandante é obrigado:

a) A fornecer ao mandatário os meios necessários à execução do


mandato, se outra coisa não foi convencionada;

b) A pagar-lhe a retribuição que ao caso competir, e fazer-lhe


provisão por conta dela segundo os usos;

c) A reembolsar o mandatário das despesas feitas que este


fundadamente tenha considerado indispensáveis, com juros legais Comentado [u55]: A elegibilidade da despesa para
reembolso é estabelecida com base num critério misto ,
desde que foram efectuadas; simultaneamente subjectivo e objectivo, semelhante ao do
art. 468°/1 , para a gestão de negócios

d) A indemnizá-lo do prejuízo sofrido em consequência do mandato, Comentado [u56]: Compreende-se pelo facto de o
mandatário actuar por conta do mandante, pelo que devem
ainda que o mandante tenha procedido sem culpa. repercutir-se na esfera jurídica deste, não apenas os ganhos
obtidos pelo mandatário, mas também os prejuízos que a
sua actuação tenha causado.
ARTIGO 1168º
Suspensão da execução do mandato

O mandatário pode abster-se da execução do mandato enquanto o


mandante estiver em mora quanto à obrigação expressa na alínea Comentado [u57]: A mora referida aqui é a mora “ex
re”, existente desde a celebração do contrato (art.
a) do artigo anterior. 805°/2/a)) e não a mora “ex persona” , dependente da
interpelação (art. 805°/1

Direitos do mandatário
 Direito ao reembolso de despesas

 indemnização pelos prejuízos causados

 Pagamento da retribuição estipulada, no mandato oneroso

 Direito às provisões para despesas e para honorários

 Direito de retenção (art. 755°/1) – este artigo atribui ao


mandatário direito de retenção sobre as coisas que lhe
tiverem sido entregues para execução do mandato, pelo
crédito resultante da sua actividade

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António Filipe Garcez José
Obrigações do mandatário
1) Obrigação de executar o mandato com respeito pelas
instruções recebidas

2) Obrigações de informação e de comunicação

3) Obrigação de prestar contas

4) Obrigação de entregar ao mandante tudo o que recebeu


em execução ou no exercício do mandato

5) Obrigações acessórias perante o mandante, designadamente a


custódia de objectos que lhe sejam entregues por este para execução do
mandato.

ARTIGO 1161º
Obrigações do mandatário

O mandatário é obrigado:

a) A praticar os actos compreendidos no mandato, segundo as


instruções do mandante;

b) A prestar as informações que este lhe peça, relativas ao estado


da gestão;

c) A comunicar ao mandante, com prontidão, a execução do


mandato ou, se o não tiver executado, a razão por que assim
procedeu;

d) A prestar contas, findo o mandato ou quando o mandante as


exigir;

e) A entregar ao mandante o que recebeu em execução do


mandato ou no exercício deste, se o não despendeu normalmente
no cumprimento do contrato.

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António Filipe Garcez José
ARTIGO 1162º
Inexecução do mandato ou a inobservância das instruções

O mandatário pode deixar de executar o mandato ou afastar-se das


instruções recebidas, quando seja razoável supor que o mandante
aprovaria a sua conduta, se conhecesse certas circunstâncias que
não foi possível comunicar-lhe em tempo útil.

ARTIGO 1163º
Aprovação tácita da execução ou inexecução do mandato

Comunicada a execução ou inexecução do mandato, o silêncio do


mandante por tempo superior àquele em que teria de pronunciar-
se, segundo os usos ou, na falta destes, de acordo com a natureza
do assunto, vale como aprovação da conduta do mandatário,
ainda que este haja excedido os limites do mandato ou
desrespeitado as instruções do mandante, salvo acordo em
contrário.

ARTIGO 1164º
Juros devidos pelo mandatário

O mandatário deve pagar ao mandante os juros legais


correspondentes às quantias que recebeu dele ou por conta dele, a
partir do momento em que devia entregar-lhas, ou remeter-lhas, ou
aplicá-las segundo as suas instruções.

Substitutos e auxiliares do mandatário

 O regime da substituição e utilização de auxiliares pelo


mandatário resulta integralmente de uma remissão para oo
regime da procuração (art.264°)

Substituição do mandatário
Quando o mandatário encarrega outro mandatário de praticar os
mesmos actos jurídicos de que foi encarregado pelo mandante,
havendo assim um subcontrato de mandato, ou seja, um
submandato.

Utilização de auxiliares
Não implica que estes pratiquem os actos jurídicos de que o
mandatário foi encarregado.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
 O mandatário só pode fazer-se substituir por outrém se o
mandante o permitir, ou se essa faculdade resultar do
conteúdo do mandato, ou da relação que o determina

O mandato é em princípio um contrato “intuitu personae”

 O mandatário pode em princípio recorrer a auxiliares para a


execução do mandato; neste caso será responsabilizado
objectivamente pelos actos dos auxiliares, por aplicação
directa do art.800°.

ARTIGO 1165º
Substituto e auxiliares do mandatário

O mandatário pode, na execução do mandato, fazer-se substituir


por outrem ou servir-se de auxiliares, nos mesmos termos em que o
procurador o pode fazer.

A pluralidade de partes na relação de mandato

ARTIGO 1166º
Pluralidade de mandatários

Havendo dois ou mais mandatários com o dever de agirem


conjuntamente, responderá cada um deles pelos seus actos, se
outro regime não tiver sido convencionado.

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António Filipe Garcez José

MANDATO: artº 1157º C.C.


É um contrato de prestação de serviços:

- Não há subordinação jurídica do prestador ao contratante;

- a sua principal obrigação é a realização de uma actividade

- O carácter remuneratório do prestador de serviços não é


fundamental. Há contratos que são gratuitos.

- Obrigação do prestador de serviços (mandatário) praticar


actos por conta e no interesse do mandante. Ele assume uma
obrigação perante o mandante.

Características do mandato:

- é sempre conferido no interesse do mandante porque os actos


que o mandatário praticar repercutem-se na esfera jurídica do
mandante. Mas são exclusivamente no interesse do
mandante.

- O mandante acarreta com todas as despesas, prejuízos,


perdas no resultado do cumprimento do mandato.

- É um contrato de natureza revogável. É livremente


revogável.

- É sempre livremente revogável mesmo com cláusula de


irrevogabilidade do mandato.

- Esta cláusula é válida mas ineficaz quanto à irrevogabilidade.


Esta cláusula tem como consequência a indemnização do
mandatário ou mandante por parte de quem a revogue.

- Para o mandatário é sempre livremente revogável

- Para o mandante nem sempre é livremente revogável. Nos


casos de haver fixação de interesse de terceiro. Só será
revogável se tiver justa causa. É uma excepção à livre
revogabilidade do mandato.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
- O mandato é restrito a : a prática de actos jurídicos (não
abrange actos materiais); por conta do mandante

- O mandato caracteriza-se também por não estar


necessariamente associado à representação (1178º -
mandato com representação; 1180º- mandato sem
representação);

- No mandato com representação, os actos jurídicos


praticados pelo mandatário em nome do mandante produzem
os seus efeitos directamente na esfera jurídica deste último
(arts. 1178º e 258º).

- Já no mandato sem representação, os actos jurídicos


praticados pelo mandatário produzem os seus efeitos na
esfera jurídica deste sendo necessário um posterior acto de
transmissão para que os direitos correspondentes possam ser
adquiridos pelo mandante (art. 1181º/nº 1)

- O mandato pode ser gratuito ou oneroso nos termos do art.º


1158º C.C.
- O mandato é um negócio normalmente não formal - é
consensual.

- A procuração é que é formal. – art.º 262/2º; Assim, quando o


mandato seja associado à procuração, como sucede no
mandato com representação (arts. 1178º e ss), naturalmente
que terá que ser adoptada forma especial para que o negócio
possa ser celebrado validamente (mesmo nestes casos,
porém, é a procuração e não o mandato que tem que
obedecer à forma especial).

- Já o mandato sem representação (arts. 1180º e s.) não é


sujeito a forma especial. Tem-se, porém, entendido que terá
que obedecer à forma do contrato-promessa (art. 410º/ 2),
para que a obrigação de transferir os bens por parte do
mandatário (art. 1181º/nº 1) possa ser sujeita à execução
específica prevista no art. 830º. Esta exigência não é porém,
requisito de validade do contrato, mas apenas uma condição
para que a obrigação de transferência possa ser executada
especificamente.

Subestabelecimento: - art.º 264º C.C. (com reserva; sem reserva)

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
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Obrigação do mandatário (1161º e ss. C.C.):

obrigação de executar o mandato com respeito pelas instruções


recebidas

- o mandatário deve respeitar o mandato não o executando em


desconformidade com a vontade do mandante – art. 1161º a).

- Tem que observar na execução do mandato a diligência do


bom pai de família, de acordo com as circunstâncias do caso
(799º/2; 487º/2). A excepção está contida no art. 1162º.

obrigações de informação e de comunicação.

- O mandatário está sujeito às obrigações de informação (art.


1161º/b)) e de comunicação (art. 1161º c)). A obrigação de
informação é executada a pedido do mandante, e destina-se a
mantê-lo ciente do estado da gestão. Já a obrigação de
comunicação é prestada espontaneamente, devendo o
mandatário, com prontidão, informar o mandante da execução
do mandato ou, se o não tiver executado, da razão por que
assim procedeu (art. 1161º c) e 1162º);

obrigação de prestar contas.

- Esta obrigação restringe-se naturalmente aos casos em que


existam créditos e débitos recíprocos das partes surgidos no
âmbito da relação de mandato, não se confundindo por isso
com as obrigações de informação e comunicação acima
referidas (art. 1161º/1/d)).

obrigação de entregar ao mandante tudo o que recebeu em


execução ou no exercício do mandato.

- O mandatário constitui-se em mora se não fizer a entrega nos


prazos estabelecidos – art. 1161º/e)

-
obrigações acessórias de custódia de objectos
que lhe sejam entregues aos quais se aplica o regime do depósito.

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António Filipe Garcez José
Obrigações do mandante (art.º 1167º e ss C.C.):

obrigação de fornecer os meios necessários à execução do


mandato, se outra coisa não for convencionada

- trata-se da denominada provisão para despesas/preparos –


1167º/a). A lei atribui inclusivamente ao mandatário a
faculdade de suspender a execução do mandato enquanto o
mandante não cumprir essa obrigação (art. 1168º)

obrigação de pagar a retribuição devida e fazer provisão por conta


dela consoante os usos.

- O mandato presume-se gratuito, excepto se tiver por objecto


actos que o mandatário pratique por profissão, caso em que
se presume oneroso (art. 1158º/nº 1).

- Sendo oneroso, e se as partes não estipularem a


remuneração, esta é determinada sucessivamente pelas
tarifas profissionais, pelos usos ou por juízos de equidade (art.
1158º/nº 2). O art. 1167º/b) admite que o mandante possa ser
sujeito a efectuar uma provisão por conta da remuneração.

obrigação de reembolsar o mandatário das despesas feitas


(1167º/c)+468º/1+559º)

obrigação de indemnizar o mandatário do prejuízo sofrido em


consequência do mandato

- responsabilidade objectiva pois é independente da culpa do


mandante; porém, deve existir um nexo de causalidade que deverá
ser provada pelo mandatário nos termos gerais (art. 342º/1)

Direitos do mandatário:

Direito de retenção – 755º, c) C.C.

- Atribui-se ao mandatário direito de retenção sobre as coisas que


lhe tiverem sido entregues para execução do mandato, pelo crédito
resultante da sua actividade. Incluem-se aqui os créditos cobrados,
as mercadorias recebidas, títulos de crédito adquiridos ou
documentos relativos aos actos praticados, que o mandatário tem o
direito de reter até ver satisfeito o seu crédito sobre o mandante.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
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Extinção do mandato:

- As causas de extinção normais dos contratos podem ser


aplicáveis ao contrato de mandato, podendo este extinguir-se
assim:

*por caducidade (arts. 1174º e ss);


*revogação por acordo das partes (art. 406º/nº 1);
*resolução por incumprimento das obrigações da outra
parte (art. 801º/nº 2), de que constitui exemplo o caso do
art. 1170º/nº 2;

*denúncia do contrato, desde que realizada para o fim do


prazo ou com a antecedência conveniente (art. 1172º c) e d)).

Mandato com representação (art. 1178º):


-
- É acompanhado de uma procuração. O mandatário agia ao
abrigo de um mandato mas também ao abrigo de uma
procuração.

- Há uma vinculação estreita entre o mandato e a procuração.


Só existe procuração porque existe mandato.

- São dois negócios jurídicos num contrato comum em que


cada um deles só faz sentido se o outro se mantiver,

- revogado um revoga-se automaticamente o outro. Art.º


265º - 1179º - revogação da procuração e do mandato.
Revogado um revoga automaticamente o outro, porque se
assim não for passamos de mandato com representação para
mandato sem representação.

- A revogação pode ser tácita ou expressa. Sendo tácita


pode ser com uma nova procuração ou nomeação. A
revogação só produz verdadeiramente efeitos quando o
mandatário toma conhecimento da revogação;

- No mandato com representação o mandatário actua por


interesse, por conta e em nome do mandante (contemplatio
domini). Tem procuração (poderes representativos). Significa
que os efeitos jurídicos repercutem-se directamente na esfera
jurídica do mandante por mero efeito do negócio;

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António Filipe Garcez José

- o mandato com representação constitui uma facti species


negocial complexa em que se integram procuração e o
mandato.

- O mandato constitui apenas o mandatário no dever de


praticar actos jurídicos por conta do mandante (1157º),

- enquanto que a procuração se reconduz a uma mera


concessão de poderes representativos (art. 262º).

- A junção dos dois negócios distintos faz surgir, porém, um


dever novo, que é o de exercer o mandato em nome do
mandante (art. 1178º/nº 2).

- As causas de extinção da procuração estendem-se ao


mandato e vice-versa (art. 1179º e 265º/1)

Mandato sem representação (art. 1180º):

- O mandatário actua por conta do mandante mas em nome


próprio, ou seja, sem contemplatio domini.

- Os actos que pratica, os seus efeitos repercutem-se na sua


esfera jurídica e não na do mandante.

Existem duas teses de interpretação:

tese da projecção imediata


(com ou sem representação é igual)

- segundo a qual os efeitos se repercutem na esfera do mandante,


sem ter que passar na esfera de património do mandatário.

tese da dupla transferência

- segundo a qual os efeitos se repercutem na esfera do mandatário,


sendo necessário um negócio autónomo para os transmitir para o
mandante.

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Entre estas existe uma posição intermédia...

- que sustenta a dupla transferência no mandato para adquirir e a


projecção imediata no mandato para alienar.

Ex.: - A mandata B para comprar a C.


Com a tese da dupla transferência a coisa passa de C para B
e depois de B para C.
Com a tese da projecção imediata a coisa passa
automaticamente de C para A.

- O C.C. só fala em mandato sem representação para adquirir.


Neste âmbito a lei portuguesa consagrou claramente a tese
da dupla transferência ao referir no art. 1180º que o
mandatário ao agir em nome próprio adquire os direitos e
assume as obrigações resultantes dos negócios que celebra

- no art. 1181º refere-se a obrigação do mandatário de transferir


para o mandante os direitos adquiridos em execução de
mandato.

- A efectiva aquisição pelo mandante depende de um novo


negócio de transmissão o qual o mandatário é obrigado a
celebrar.

- Caso o mandatário não proceda à transferência dos direitos


adquiridos o mandante goza da possibilidade de intentar
contra o mandatário uma acção pessoal relativa à obrigação
de transferência assumida por este e não uma acção real, de
reivindicação dos bens adquiridos.

- Relativamente à execução específica parte da doutrina e


jurisprudência tem-se pronunciado no sentido de que a
aplicação do art. 830º não pode ter lugar fora do contrato
promessa.

- Porém, a posição contrária é claramente prevalecente


permitindo a aplicação analógica do 830º ao mandato sem
representação desde que este, quando visar a aquisição de
imóveis, seja celebrado por escrito nos termos do art. 410º/2.

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- Outra questão pertinente resultante desta dupla transferência
é a do risco relativo à execução dos bens adquiridos pelo
mandatário pelos seus credores uma vez que estes estão na
sua esfera jurídica antes de serem transmitidos ao mandante.
Porém, o legislador entendeu adoptar a instituição de
separação de patrimónios na esfera do mandatário. (art.
1184º). Esta impenhorabilidade depende porém da existência
de documento anterior à penhora dos bens e do não registo
da aquisição pelo mandatário em ordem a evitar expectativas
de satisfação de crédito nos seus credores.

E se o mandato for para alienar?

É de seguir a tese da dupla transferência admitindo 2 hipóteses:

1. Há uma transferência fiduciária de A para B para este


transmitir a C, transmitindo-se a B o risco.
2. Há a hipótese de convalidar o negócio por B, isto é, B
vende um bem que não é seu mas fica obrigado a
convalidar o negócio, comprando o bem a A para o
entregar a C.

- Na tese da dupla transferência fiduciária defende-se que a


transferência no mandato sem representação corresponde a
um negócio fiduciário, pelo qual o mandatário adquire
previamente a propriedade do mandante, com a obrigação de
a retransmitir a terceiro.

- O prof. Menezes Leitão defende esta teoria pois não


considera concebível que, sendo o mandato sem
representação, ele venha a permitir da mesma forma a
alienação de bens do mandante como se houvesse
representação.

- O mandante deverá previamente transferir fiduciariamente a


propriedade ao mandatário (art. 1167º a)), que assume o
encargo de a retransmitir a terceiro. Se não ocorrer essa
transferência prévia, deverá considerar-se que o mandatário
celebra uma venda de bens alheios (art. 892º), a qual poderá
ser convalidada mediante a aquisição do bem ao mandante
(895º), podendo o mandatário exigir que o mandante
convalide esse negócio ao abrigo do art. 1182º.

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CASOS PRÀTICOS
I)

Francisco pretendia fazer investimentos imobiliários no Algarve.


Para concretizar esses negócios contratou com Guilherme para que
este adquirisse em seu nome próprio os imóveis para Francisco o
qual lhe pagaria uma remuneração de 2.500€.
1. Guilherme adquiriu os imóveis mas recusa-se a entregá-los a
Francisco por ter quem lhe pague uma remuneração superior.
Como pode Francisco reagir?
2. Suponha agora que após Guilherme adquirir os imóveis,
Francisco não lhe paga a remuneração acordada. Guilherme
pretende saber a que tem direito.
3. E se Hélder, credor de Guilherme, ao saber que ele tenha
adquirido os imóveis os pretendesse executar para satisfazer o
seu crédito? Seria diferente no caso de se tratar de um
mandato para alienar?

Estamos perante um mandato sem representação. O mandatário


actua em nome próprio mas por conta do mandante.
Quando a lei refere que o mandatário tem proveito no negócio,
refere-se aos actos que pratica e não relativamente ao negócio
propriamente dito ( os actos podem ser remunerados
individualmente)
1. É um mandato para adquirir. O mandatário celebra o negócio
em seu nome com o terceiro. Mas os seus actos destinam-se a
repercutir os seus efeitos na esfera jurídica do mandante.
Como se faz isso?
Há duas teorias:
- A tese da dupla transferência – o bem na primeira fase passa
do terceiro para a esfera jurídica do mandatário e depois do
mandatário para o mandante.
- A tese da projecção imediata - defende esta tese que não há
dupla transferência porque não é essa a Intenção (vontade) do
mandante e do mandatário. Deve haver uma projecção
imediata do terceiro para o mandante. O terceiro não sabe da
existência do mandante. O terceiro vai exigir a
responsabilidade é ao mandatário. (esta teoria era válida antes
de existir o art.º 1181º/1)

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
O nosso código prevê a tese da dupla transferência. Como é
que o mandatário faz a transmissão para o mandante? Como
os actos que pratica são para o mandante e estão sujeitos à
ratificação do mandante, esse problema resolvia-se com a
ratificação do mandante. Mas não faz sentido esta posição
(eram necessários dois negócios). O mandatário comprou, o
mandatário vende. Mas esta ideia inutiliza o mandato.
- Teoria de Galvão Teles: - o acto que o mandatário está
obrigado a praticar não está tipificado na lei. O objectivo é o
mandatário alienar. É um negócio de alienação. É o negócio
específico deste contrato. Por isso é um negócio alienatório
específico. Esta obrigação que existe é uma verdadeira
obrigação. O mandatário é obrigado a celebrar esta obrigação.
Esta obrigação é assumida aquando da celebração do
mandato. Assumiu duas obrigações: 1ª - cumprir o mandato;
2ª - se cumprir o mandato transmitir os bens para o mandante.
O que está presente no mandato é uma dupla obrigação. - A
obrigação de cumprir o mandato; - O que está inerente é o de
alienação especifica do mandatário para o mandante (é uma
promessa de alienação). Se o mandatário não cumprir esse
negócio o mandante pode invocar acção de incumprimento do
contrato. Pode também recorrer á execução especifica – 830º
C.C... É inerente no mandato uma promessa de venda
especifica ao mandante. O tribunal declara uma alienação
específica. Mas para aplicar o art.º 830º C.C., para além desta
fundamentação, requer ainda a presença de verdadeiros
requisitos formais (o contrato promessa validamente formado.
Tem subjacente as regras do art.º 41º C.C.). Para se recorrer às
regras da execução específica é necessário que as regras do
art.º 410º/1 e 2 estejam respeitadas (as do 410º/3 não fará
sentido). A forma do art.º 410ª é só necessário para se recorrer
ao art.º 830º. A analogia do art.º 410º com o mandato sem
representação é de que o mandatário assumiu a promessa de
vender, adquirindo o bem, ao mandante. Não se podendo
recorrer à execução especifica do art.º 830º recorre-se à acção
de incumprimento do contrato.

2. É um contrato oneroso.
É oneroso quando: as partes o estipulem; o mandatário faça
disso a sua profissão.

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O mandante tem de pagar – art.º 1168º/f).
O mandatário tem direito de retenção nos termos do art.º
755º/c).

3. O art.º 1184º não coloca em causa a tese da dupla transferência


porque os bens entram na esfera jurídica do mandatário para
ele cumprir o mandato. Não há um verdadeiro
enriquecimento patrimonial do mandatário. Os bens estão na
sua esfera jurídica transitoriamente. Se o credor pudesse
executar os bens estaríamos a prejudicar o mandante. Os bens
nesta fase estão na situação de impenhorabilidade transitória
ou temporária. O credor do mandatário pode penhorar os
bens que tenha para alienar? Temos de ver as condições do
mandato porque o art.º 1184º e 1181º referem-se a mandatos
para adquirir.
Há duas posições doutrinárias para resolver esta situação
porque a lei é omissa.
- Teoria de Antunes Varela: - nos casos de mandato para alienar
quando o mandatário vende o bem a terceiro não refere a
existência do mandato. Aqui vigora a projecção imediata, já se
não verificando a tese da dupla transferência.
Mas assim não cairíamos numa situação de venda de bens
alheios? – 892º C.C.. Não porque para ser vender bens alheios
o sujeito não vende o bem que é seu e também não tem
legitimidade para a venda.
Criticas: - se assim é não há a distinção entre o mandato com e
sem representação. No caso de venda de imóveis para a
escritura, não havendo procuração (mandato sem
representação) não poderá o mandatário ir à escritura.
- A tese tem de ser a da dupla transferência mas com forma
especial: - o bem passa para esfera jurídica do mandatário se e
quando ele vender ao terceiro. A transmissão do mandante
para o mandatário fica sob condição. Só adquiriu o bem se o
vende a terceiro. O bem entra e sai simultaneamente. A dupla
transferência actua em simultâneo. Se o mandatário não
vender o bem o bem não chega a entrar na esfera jurídica do
mandatário.
- Então o credor pode executar os bens que o mandatário tem
para alienar? Não porque o bem só entra na esfera jurídica do
mandatário quando este o vende. Se o comprar ao mandante

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António Filipe Garcez José
para depois os vende fica sem justificação para se poder
esquivar aos credores. Assim não estávamos na presença do
mandato.

No que diga respeito ao crédito e dividas que nasçam do contrato


sem representação:
- o terceiro só tem crédito perante o mandatário
- o mandatário nunca poderá dizer ao terceiro que não tem
nada a ver com isso porque ele esteve a exercer o mandato
sem representação.
- Os créditos que nasçam do mandato, o mandante pode
substituir-se ao mandatário. É uma verdadeira sub-rogação
directa.

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EMPREITADA art. 1207º e ss.


(baseado num trabalho de Ana Ramos aluna n° 20021287)

 Não devia estar no Código Civil.

 É uma actividade que exige uma profissionalização.

 Qualificada como um contrato comercial porque é


estabelecido com base numa organização estável (art. 236 C.
Comercial).

 É um contrato oneroso porque é um contrato comercial (é


para realizar uma obra, e se não fosse oneroso era um contrato de prestação
de serviços).

 Não tem um regime único, pois existe também o regime de


empreitada de obras públicas - é um regime especial de direito
administrativo e consta do DL 59/99.Trata-se de um regime bastante mais
protector para o dono da obra e tem vindo a ser aplicado a particulares (direito
privado).

 Nada impede as partes de aplicar um regime diverso do


C. Civil mesmo em contratos entre particulares, no qual se
podem aplicar as regras da empreitada de obres públicas.

 As normas civis (obrigacionais) são supletivas e salvo as normas


imperativas nada impede de se aplicar o DL 59/99.

O que é que está em causa neste tipo de contrato ?

a realização de uma obra material; envolve bens móveis, imóveis,


construção nova, modificação ou demolição do bem porém ...

o conceito de obra é muito polissémico;

podemos aqui abranger as obras intelectuais?

- Na doutrina existem duas posições divergentes:

 Para Antunes Varela e Menezes Leitão, a empreitada não


abrange a obra intelectual

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 Para F. Correia pode ser abrangida tendo em conta o que tem
vindo a ser adoptado na doutrina estrangeira.

 No contrato de empreitada a obrigação assumida pelo


empreiteiro é um resultado e o dono da obra só paga pelo
resultado.

 O empreiteiro não está vinculado a nenhum poder e não


está vinculado juridicamente ao dono da obra.

 A fiscalização é apenas para ver se a obra está a ser feita


conforme o que foi convencionado.

 O dono da obra tem a obrigação de pagar o preço.

 Os problemas principais surgem com a desconformidade


entre o contratado e o resultado.

Características do contrato de empreitada:

- Obrigacional (o contrato em si não produz efeitos reais


Comentado [u58]: ARTIGO 408º
constitui uma excepção ao art. 408º/2) (Contratos com eficácia real)
1. A constituição ou transferência de direitos reais
sobre coisa determinada dá-se por mero efeito do
- Sinalagmático contrato, salvas as excepções previstas na lei.
2. Se a transferência respeitar a coisa futura ou
indeterminada, o direito transfere-se quando a coisa
- Oneroso for adquirida pelo alienante ou determinada com
conhecimento de ambas as partes, sem prejuízo do
disposto em matéria de obrigações genéricas e do
- Consensual (não formal) contrato de empreitada; se, porém, respeitar a frutos
naturais ou a partes componentes ou integrantes, a
transferência só se verifica no momento da colheita
- Cumutativo (não é aleatório) ou separação.

Comentado [u59]: Prazo da prestação


- Prazo – art. 777º/2 ARTIGO 777º
(Determinação do prazo)
1. Na falta de estipulação ou disposição especial da
- Tipificado na lei como contrato de prestação de serviços – lei, o credor tem o direito de exigir a todo o tempo o
1155º cumprimento da obrigação, assim como o devedor
pode a todo o tempo exonerar-se dela.
2. Se, porém, se tornar necessário o
estabelecimento de um prazo, quer pela própria
natureza da prestação, quer por virtude das
circunstâncias que a determinaram, quer por força
dos usos, e as partes não acordarem na sua
determinação, a fixação dele é deferida
ao tribunal.
3. Se a determinação do prazo for deixada ao credor
e este não usar da faculdade que lhe foi concedida,
compete ao tribunal fixar o prazo, a requerimento do
devedor.

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Comentado [u60]: ARTIGO 1209º
Direitos do dono da obra: (Fiscalização)
1. O dono da obra pode fiscalizar, à sua custa, a
execução dela, desde que não perturbe o
- Adquirir e receber a obra. andamento ordinário da empreitada.
2. A fiscalização feita pelo dono da obra, ou por
comissário, não impede aquele, findo o contrato, de
- Fiscalizar a obra (art.1209º) - Apesar da doutrina divergir fazer valer os seus direitos contra o empreiteiro,
embora sejam aparentes os vícios da coisa ou
Menezes Leitão defende que a fiscalização deve ser notória a má execução do contrato, excepto se tiver
entendida como injuntiva-imperativa, pois se a excluirmos havido da sua parte concordância expressa com a
obra executada.
este contrato será de compra de um bem futuro.
Comentado [u61]: ARTIGO 1211º
Deveres do dono da obra: (Determinação e pagamento do preço)
1. É aplicável à determinação do preço, com as
necessárias adaptações, o disposto no artigo 883º.
 Pagamento do preço (é a obrigação principal que deve ser cumprida no 2. O preço deve ser pago, não havendo cláusula ou
uso em contrário, no acto de aceitação da obra.
acto de aceitação da obra) – art.1211º.
Comentado [u62]: ARTIGO 1209º
(Fiscalização)
Existem várias modalidades de pagamento do preço: 1. O dono da obra pode fiscalizar, à sua custa, a
execução dela, desde que não perturbe o
andamento ordinário da empreitada.
- preço global; 2. A fiscalização feita pelo dono da obra, ou por
- por unidade de construção; comissário, não impede aquele, findo o contrato, de
fazer valer os seus direitos contra o empreiteiro,
- por tempo de trabalho; embora sejam aparentes os vícios da coisa ou
- por percentagem.. notória a má execução do contrato, excepto se tiver
havido da sua parte concordância expressa com a
obra executada.
 Não perturbar – 1209º/1, parte final
Comentado [u63]: Defeitos da obra
ARTIGO 1218º
 Fornecimento supletivo de materiais (supletivamente já que (Verificação da obra)
normalmente são fornecidas pelo empreiteiro) 1. O dono da obra deve verificar, antes de a aceitar,
se ela se encontra nas condições convencionadas e
sem vícios.
 Verificação da obra – art. 1218º (verificação e comunicação) – a 2. A verificação deve ser feita dentro do prazo usual
ou , na falta de uso, dentro do período que se julgue
falta leva à aceitação tácita. razoável depois de o empreiteiro colocar o dono da
obra em condições de a poder fazer.
3. Qualquer das partes tem o direito de exigir que a
Direitos do empreiteiro: verificação seja feita, à sua custa, por peritos.
4. Os resultados da verificação devem ser
comunicados ao empreiteiro.
 Receber o preço 5. A falta da verificação ou da comunicação importa
aceitação da obra.

Será que o empreiteiro goza do direito de retenção? Comentado [u64]: ARTIGO 755º
Poderá o empreiteiro reter a obra até ao pagamento do preço? (Casos especiais)
1. Gozam ainda do direito de retenção:
a) O transportador, sobre as coisas transportadas,
– o art.º 755º nada diz. pelo crédito resultante do transporte;
b) O albergueiro, sobre as coisas que as pessoas
albergadas hajam trazido para a pousada ou
acessórios dela, pelo crédito da hospedagem;
A doutrina diverge nesta questão: c) O mandatário, sobre as coisas que lhe tiveram
sido entregues para execução do mandato, pelo
crédito resultante da sua actividade;
d) O gestor de negócios, sobre as coisas que tenha
em seu poder para execução da gestão, pelo crédito
proveniente desta; ...

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- Para Antunes Varela o empreiteiro não goza do direito de


retenção;

- Para F. Correia o empreiteiro goza de direito de retenção, isto


porque, se atendermos que as despesas de reparação gozam
do direito de retenção (ex. reparação de um relógio), por maioria de
razão as despesas de construção possibilitam o direito de
retenção. Trata-se de uma interpretação extensiva do art.
754º C.C.. Comentado [u65]: Direito de retenção
ARTIGO 754º
(Quando existe)
- Menezes Leitão sustenta a atribuição de direito de retenção O devedor que disponha de um crédito contra o seu
credor goza do direito de retenção se, estando
ao empreiteiro obrigado a entregar certa coisa, o seu crédito
resultar de despesas feitas por causa dela ou de
danos por ela causados.
- O direito de retenção do empreiteiro tanto pode ser exercido
como coisas da propriedade do dono da obra, como coisas
da propriedade de terceiro, desde que constituam objecto da
empreitada.

- De salientar que o direito de retenção não é apenas uma


garantia legal mas também uma causa legítima de não
cumprimento.

Deveres do empreiteiro:

 Execução da obra – 1208º

 Fornecer os materiais – 1210º

Quem é o titular do direito de propriedade da obra? art. 1212º Comentado [u66]: ARTIGO 1212º
(derrogam-se as regras da acessão) (Propriedade da obra)
1. No caso de empreitada de construção de coisa
móvel com materiais fornecidos, no todo ou na sua
maior parte, pelo empreiteiro, a aceitação da coisa
No caso de empreitada de construção de coisa móvel importa a transferência da propriedade para o dono
da obra; se os materiais foram fornecidos por este,
continuam a ser propriedade dele, assim como é
- se os materiais forem fornecidos no todo ou na sua maioria propriedade sua a coisa logo que seja concluída.
pelo empreiteiro, então o risco corre por conta deste, sendo a 2. No caso de empreitada de construção de imóveis,
sendo o solo ou a superfície pertença do dono da
propriedade transferida para o dono da obra no momento da obra, a coisa é propriedade deste, ainda que seja o
aceitação da coisa; (art. 1212°/ 1) empreiteiro quem fornece os materiais; estes
consideram-se adquiridos pelo dono da obra à
medida que vão sendo incorporados no solo.
- No caso dos materiais serem fornecidos pelo dono da obra a
propriedade continua dele, assim com é sua propriedade a
coisa logo que esta esteja concluída; (art.1212°/ 1)

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António Filipe Garcez José

No caso de empreitada de construção de imóveis

- sendo o solo ou superfície pertença do dono da obra, a coisa


é sempre propriedade deste mesmo que os materiais sejam
fornecidos pelo empreiteiro (que vão sendo adquiridos pelo
dono da obra à medida que vão sendo incorporados no solo
(art. 1212°/2)

Vicissitudes da empreitada:

A subempreitada – 1213º CC Comentado [u67]: ARTIGO 1213º


(Subempreitada)
Trata-se de um subcontrato semelhante ao previsto no art. 264º 1. Subempreitada é o contrato pelo qual um terceiro
(substituição do procurador) se obriga para com o empreiteiro a realizar a obra a
que este se encontra vinculado, ou uma parte dela.
2. É aplicável à subempreitada, assim como ao
Numa subempreitada quem responde pelos defeitos da obra? concurso de auxiliares na execução da empreitada,
o disposto no artigo 264º, com as necessárias
adaptações.
Se o dono da obra não autorizou a subempreitada é como se o
subempreiteiro nem existisse. Comentado [u68]: ARTIGO 264º
(Substituição do procurador)
1. O procurador só pode fazer-se substituir por
outrem se o representado o permitir ou se a
- O dono da obra exige responsabilidade ao empreiteiro e o faculdade de substituição resultar do conteúdo da
empreiteiro depois terá direito de regresso sobre o procuração ou da relação jurídica que a determina.
2. A substituição não envolve exclusão do
subempreiteiro. procurador primitivo, salvo declaração em contrário.
3. Sendo autorizada a substituição, o procurador só
é responsável para com o representado se tiver
- O empreiteiro não pode afastar a sua responsabilidade agido com culpa na escolha do substituto ou nas
perante o dono da obra. instruções que lhe deu.
4. O procurador pode servir-se de auxiliares na
execução da procuração, se outra coisa não resultar
- Neste caso não há direito de retenção para o subempreiteiro do negócio ou da natureza do acto que haja de
praticar.
porque este não tem relação jurídica com o dono da obra
(Galvão Teles). Ao exercer o direito de retenção iria afectar o
dono da obra quando este nem sequer tinha conhecimento da
sua existência.

- Desta forma nada impede o empreiteiro de fazer


subempreitada, mesmo sem autorização do dono da obra,
porém fica apenas o empreiteiro responsabilizado perante o
dono da obra.

Se o dono da obra autorizou a subempreitada, então o


subempreiteiro é responsável mas o empreiteiro também o é.

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António Filipe Garcez José
- O dono da obra pode exigir aos dois a responsabilidade pelo
incumprimento.

- Neste caso já pode fazer sentido o direito de retenção para o


subempreiteiro. O direito de retenção faz-se perante um
direito de terceiro mas na mesma relação jurídica. Ao aceitar
o subempreiteiro na obra e ao aceitar a obra faz com que esta
passe para a sua esfera jurídica o que também faz com que o
dono da obra entre na relação jurídica com o subempreiteiro.

Alterações e obras novas: art.º 1214º e ss.

Apesar do art. 1208º estabelecer que o empreiteiro deve executar a Comentado [u69]: ARTIGO 1208º
(Execução da obra)
obra conforme esta tiver sido estabelecida, admite-se que possam O empreiteiro deve executar a obra em
ocorrer alguns imprevistos/alterações à obra. conformidade com o que foi convencionado, e sem
vícios que excluam ou reduzam o valor dela, ou a
sua aptidão para o uso ordinário ou previsto no
Alterações da iniciativa do empreiteiro (art.1214º) contrato.

Comentado [u70]: Alterações e obras novas


- alterações sem autorização do dono da obra, unilaterais, ARTIGO 1214º
que são proibidas (nº 1) e gravemente sancionadas (nº 2) já (Alterações da iniciativa do empreiteiro)
1. O empreiteiro não pode, sem autorização do dono
que o empreiteiro perde o direito ao preço suplementar e o da obra, fazer alterações ao plano convencionado.
2. A obra alterada sem autorização é havida como
direito a invocar o enriquecimento sem causa por parte do defeituosa; mas, se o dono quiser aceitá-la tal como
dono da obra. foi executada, não fica obrigado a qualquer
suplemento de preço nem a indemnização por
enriquecimento sem causa.
- alterações com autorização do dono da obra (1214º/3 ) 3. Se tiver sido fixado para a obra um preço global e
a autorização não tiver sido dada por escrito com
fixação do aumento de preço, o empreiteiro só pode
Neste caso é necessário ter em conta os seguintes aspectos: exigir do dono da obra uma indemnização
correspondente ao enriquecimento deste.

- Se para a empreitada tiver sido fixado um preço global, a


autorização tem que ser dada por escrito com a fixação do
aumento de preço, se assim não for o empreiteiro só pode
exigir do dono da obra indemnização pelo valor do
enriquecimento.

- Se tiver sido fixado um preço por volume de construção a


autorização à alteração pode ser verbal.

Alterações necessárias (art. 1215º)


em consequência de direitos de terceiro ou de regras técnicas, que
torna necessário a introdução de alterações ao plano
convencionado.

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- Na falta de acordo compete ao Tribunal fixar o preço e prazo.

- Se em consequência das alterações o preço for elevado em


mais de 20%, o empreiteiro pode denunciar o contrato e exigir
uma indemnização equitativa.

Alterações exigidas pelo dono da obra (art.1216º)


regime diferente ao estabelecido no art. 406º (Eficácia dos contratos);

- O dono da obra pode exigir alterações desde que o valor não


exceda a quinta parte do preço estipulado e não haja
modificação da natureza da obra;

- o empreiteiro tem direito a um aumento do preço


correspondente ao acréscimo da despesa e trabalho, bem
como ao prolongamento do prazo.

- Se das alterações resultar uma diminuição do custo, o


empreiteiro mantém o direito ao preço estipulado, com
dedução das despesas que deixa de ter.

Alterações posteriores à entrega da obra (art.1217º)

- As alterações efectuadas depois da entrega da obra, ou com


autonomia em relação às previstas no contrato, não estão
cobertas pelo regime da empreitada;

- Estas alterações são obras realizadas de má fé em terreno


alheio, em que o dono da obra pode exigir a sua eliminação,
se for possível ou indemnização pelo prejuízo;

- Segue o regime da acessão previsto no art. 1341º.


(Exemplo: contrato para construção de moradia em que o empreiteiro resolve
acrescentar uma piscina não acordada previamente, nem autorizada)

-
Defeitos da obra e responsabilidade do empreiteiro
depois da obra feita – art. 1218º e ss.

Impossibilidade de execução da obra – 1227º

Risco pela perda ou deterioração da obra – 1228º

Extinção do contrato – 1229º

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Casos Práticos

A acordou com B a construção de uma moradia a realizar no


terreno de B.
Acordaram que os materiais seriam de 1ª qualidade e fornecidos
por B.
Estipularam o preço de 500€ por metro quadrado de construção.
A casa teria 250 m2.
Durante a construção e ao implantar a casa no solo B
apercebeu-se que a dimensão do terreno permitia construir mais
uma divisão. Questionou A por conversa telefónica sobre essa
possibilidade tendo este respondido afirmativamente.
Concluída a obra B exige um aumento do preço correspondente
ao valor daquela divisão mas A recusa-se a pagar invocando que
não autorizou por escrito nem estabeleceu qual seria o aumento
do preço.

Resolução

Há duas formas de se estipular o preço numa empreitada:

a) a determinação do preço global, o que significa que


não está determinado o preço para a parte especifica
mas sim para a parte global.

b) A determinação do preço pela unidade a executar.

 Aqui o preço foi determinado pela unidade a


executar. (por metro quadrado).

 A aplicação à contrário do art.º 1214º/3 leva-nos


à determinação do preço pela unidade a
executar.

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António Filipe Garcez José

Daqui se conclui que...

 O empreiteiro terá assim direito ao pagamento do que alterou


na medida do preço por m².

 Não há lugar ao enriquecimento sem causa.

 A fixação do preço pelo preço global importa que a alteração


tenha que ser escrita porque senão não há critério para
avaliar as alterações (só nesta situação havia lugar a enriquecimento
sem causa).

 O preço por unidade de construção é consensual pois não


carece de forma e portanto o negócio era válido.

 Alterações à obra feitas por iniciativa do empreiteiro têm de ter


autorização do dono da obra, neste caso teve oralmente a
autorização aquando da conversa telefónica.

Vejamos agora outra situação ...

B sem nada dizer a A resolveu aumentar o tamanho da cozinha


para o dobro e fazer ao lado da casa um campo de ténis que
sabia ser do agrado de A. Este apenas tomou conhecimento
quando a obra lhe foi entregue e exigido o aumento do preço.
A pretende ficar com essas alterações mas recusa-se a pagá-las.

Relativamente ao regime das alterações há que distinguir:

- alterações ao plano convencionado ou...

- obras novas.

Obras novas
são obras com autonomia relativamente à obra contratada.

Alteração

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António Filipe Garcez José
Uma obra que não tenha autonomia tem de ser considerada como
alteração

Sendo feita uma alteração sem autorização do dono da obra

- aplica-se o art.º 1214º/2. e é tida como obra defeituosa não


ficando este obrigado a pagá-la.

Relativamente a obras feitas com autonomia funcional não se


aplica o regime das alterações, aplica-se o art.º 1217º/1.

- Trata-se de uma obra nova e portanto tem autonomia,


podendo o dono da obra exigir a sua eliminação, não
prevendo a lei a possibilidade de o dono ficar com a obra.

Na nossa hipótese ...

 houve a construção de obra nova e o dono quer ficar com


ela sem pagar,

 porém a obra é autónoma e se o dono da obra ficar com a


obra sem a pagar está a entrar numa situação de
enriquecimento sem causa.

 Alguns autores falam de que se pode recorrer às regras da


acessão industrial imobiliária – art.º 1341º,

porém ...

 esta só se podia aplicar se o terreno fosse do dono da obra.


Mas o terreno é do empreiteiro logo tem de se invocar as
regras do enriquecimento sem causa e não as regras da
acessão.

 Se o dono da obra quisesse o campo de ténis teria de pagá-lo


de acordo com o enriquecimento sem causa.

 Se as partes estivessem de acordo podiam fazer novo


contrato relativamente ao campo de ténis.

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António Filipe Garcez José

Vejamos mais uma situação ...

Finda a obra B comunicou a sua conclusão a A. Este passou a


ocupar a casa sem ter verificado se estava de acordo com o
projecto. Um mês depois tendo recebido a visita de um amigo
engenheiro civil, foi informado que os materiais utilizados eram
de 2ª qualidade. Que direitos tem?

 Qualquer desconformidade com o plano convencionado é um


defeito.

 A verificação é um direito que o dono tem, funcionando como


um direito e como um ónus.

 Nos termos do art.º 1218º/5 se não tiver feito a verificação


aceitou sem reservas, o que implica a aceitação da obra
com os defeitos aparentes.

Distinção entre defeitos aparentes e defeitos ocultos


A distinção de defeitos aparentes dos defeitos ocultos é feita
segundo os critérios do conhecimento de um homem médio
colocado naquela situação. Se o homem médio conseguisse
descobrir os defeitos seriam aparentes, caso contrário seriam
ocultos.

 No caso concreto devem ser entendidos como


defeitos ocultos, - pois os defeitos estão nos materiais e não
se descortinam facilmente.

Assim ...

 o dono da obra pode denuncia-los 30 dias após o seu


conhecimento.

 Os defeitos aparentes - têm de ser identificados logo ao


passo que os ocultos podem ser denunciados posteriormente.

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António Filipe Garcez José
 O dono da obra pode denunciar os defeitos nos termos do
art. 1220º/1.

 Em 1.º lugar o dono da obra tem direito à eliminação dos


defeitos, se for possível (art.1221/1)

Se as despesas de eliminação forem desproporcionadas

 cessa esse direito conforme estipula o artº1221/2, (o que


acontece no nosso caso concreto), havendo então lugar a
uma redução do preço (art. 1222º). Comentado [u71]: ARTIGO 1222º
(Redução do preço e resolução do contrato)
1. Não sendo eliminados os defeitos ou construída
Se o defeito for tal que torne o bem inapto à sua finalidade de novo a obra, o dono pode exigir a redução do
preço ou a resolução do contrato, se os defeitos
tornarem a obra inadequada ao fim a que se destina.
 O dono da obra tem direito à resolução do contrato. 2. A redução do preço é feita nos termos do artigo
884º.

 Para além da redução do preço pode ainda pedir


indemnização pela parte que não for coberta pela redução do
preço . (art. 1223°) Comentado [u73]: ARTIGO 1223º
(Indemnização)
O exercício dos direitos conferidos nos artigos
B sabendo que A se prepara para não pagar a obra pretende antecedentes não exclui o direito a ser indemnizado
nos termos gerais.
não lhe entregar a casa. Pode fazê-lo? Como pode A adquirir a
propriedade da casa?

A obra é do empreiteiro, pois foi construída no solo dele, logo não


há direito de retenção. O direito de retenção só se aplica a bens de
terceiros.
Nos casos em que elas se potenciam:
Para Antunes Varela: no art.º 754º não cabe a situação do
empreiteiro;
Para Menezes Cordeiro, Galvão Teles, Pedro Martinez: -
há direito de retenção. Aplica-se a interpretação extensiva
do art.º 754º. Se por obra/reparação pode reter por
construção ainda mais.

Porque a propriedade era do empreiteiro, como é que o dono da


obra pode adquirir a propriedade?
O art.º 1212º não resolve a questão.
O dono da obra deveria ter celebrado um contrato de promessa de
venda do solo. Depois de construída a obra, o dono da obra pode
obrigar o empreiteiro a vender-lhe o solo pois a casa está paga na
empreitada.

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António Filipe Garcez José
A melhor forma é celebrar dois contratos: um de empreitada e outro
de promessa de venda do solo.
O contrato de empreitada não é um contrato real porque quando se
celebra o contrato ainda não há nada.
A propriedade da obra determina-se pela propriedade do solo.
Mesmo que não seja o dono da obra a fornecer os materiais ele vai
adquirindo a propriedade sobre eles à medida que vão sendo
aplicados na obra.

II)
A vende a B, pelo preço de 30.000 contos uma casa em ruínas
da qual era comproprietário juntamente com os seus três
irmãos.
B com o intuito de recuperar a moradia para a tornar habitável
celebrou com C, construtor civil, um contrato para reparação
do imóvel.
Acordaram que o preço da obra seria 20.000c e que os
materiais necessários para a sua execução seriam fornecidos
por B.
Após ter iniciado a obra e com a sua execução a meio ocorreu
um violento terramoto que provocou um desmoronamento total
da mesma. C informou B do sucedido e pretende que este lhe
forneça novos materiais lhe pague o trabalho já realizado para
que ele possa continuar a executar a obra. B exige que C
conclua a obra mas não lhe fornece mais materiais.

O art.º 1227º é incompatível com o art.º 1228º.


O art.º 1227º é relativo a casos de impossibilidade absoluta.
Aqui se o objecto é recuperar a obra e havendo uma destruição
total não é possível recuperar. Tem de se construir tudo de novo.
Assim aplica-se o art.º 1227º. Se se entendesse que era uma
construção nos termos do art.º 1212º afere-se quem é o dono da
obra.
O dono da obra é B. O dono da obra suporta o risco. Mas que
risco? O dono da obra suporta os riscos dos materiais.
O empreiteiro suporta o risco da mão de obra, do trabalho.

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É um posição doutrinária de Pedro Martinez. Resulta do art.º 1227º
que o empreiteiro tem direito ao trabalho que já realizou. O art.º
1228º na diz. Portanto o empreiteiro tem de suportar o risco do
trabalho. O dono da obra é obrigado a fornecer os materiais, porque
foi isso o estipulado no contrato. Se o dono da obra não fornecer os
materiais não é uma impossibilidade absoluta do art.º 1227º. Se ele
não fornecer os materiais o empreiteiro não pode cumprir o
contrato. O empreiteiro invoca a excepção do art.º 801º e não
cumpre por culpa do dono da obra.

Suponha que ao construir a moradia C atendendo às


dimensões do terreno e sem nada dizer a B constrói uma
piscina ao lado da casa. Ao entregar a obra exige a B um
aumento do preço de 10.000c correspondente ao preço da
piscina. B aprova a ideia da piscina mas recusa-se a pagar o
preço por a não ter autorizado.

A piscina é uma obra com autonomia. Tendo autonomia enquadra-


se dentro do art.º 1217º. O art.º 1217º é omisso quanto à aceitação
da obra. O problema pode resolver-se de duas formas: - faz-se
novo contrato se as partes assim o entenderem relativamente à
piscina. – invoca-se as regras do enriquecimento sem causa
conjugando com as regras da acessão industrial – 1341º - 743º. O
empreiteiro não tem direito ao preço que pede mas o dono da obra
também não pode ficar com a piscina sem pagar nada. Terá de ser
ressarcido o empreiteiro com obediências às regras do
enriquecimento sem causa. O art.º 1341º só se aplica se a
construção do imóvel for feita em solo do dono da obra.

Imagine que 3 anos após B se ter instalado na casa esta ruía


parcialmente por um vício do solo que ambos desconheciam. B
vem exigir a C que este lhe repara a moradia e ainda os danos
causados nas mobilais. C refere que não tem qualquer
responsabilidade no sucedido e que não paga.

O dono da obra tem o direito a exigir do empreiteiro a


responsabilidade do art.º 1225º. O prazo de cinco anos começa a
contar a partir da data da entrega.
O empreiteiro tem de recuperar o imóvel e a reparar os prejuízos
causados.

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António Filipe Garcez José
Regra geral o dono da obra tem 30 dias para denunciar os defeitos
– 1220º. Nestes casos do art.º 1225º tem um ano para denunciar os
defeitos. É uma excepção à regra geral do art.º 1220º.

Questão relativa à compropriedade:


E se os irmãos de A ao tomarem conhecimento da venda que
este fez vierem a reclamar a B que este lhe entregue o imóvel e
B se recusar por desconhecer que A não era o único
proprietário e por já ter realizado as obras. Que direitos têm os
comproprietários de A e que direitos assistem a B?

É uma situação de compropriedade – art.º 1408º/2, aplicam-se as


regras da venda de bens alheios – art.º 892º e ss.
Os direitos do comprador são: - ou exige a restituição do preço –
894º juntamente com indemnização ou – exige a convalidação do
contrato – 895º.
Esta ultima hipótese só é possível se os outros comproprietários
assim o desejarem. Como aqui não é o caso pois eles exigem a
restituição do imóvel, ele é obrigado a restituir o imóvel. Só não era
obrigado a restituir o imóvel se fosse o vendedor alegar a nulidade
do negócio – 892º/2.
O comprador, porque está de boa fé tem direito a exigir o
pagamento das benfeitorias realizadas e o vendedor é obrigado ao
pagamento das mesmas nos termos do art.º 901º.
A indemnização é cumulável com qualquer pedido.

Questão relativa a Mandato:


Para comprar as telhas para a casa B contratou com E,
profissional do ramo da construção civil, que este adquiriria as
telhas para B. No entanto as telhas seriam compradas em
nome de E para que este pudesse beneficiar de preços
especiais. Após ter adquirido as telhas E pretende ficar com
elas para si referindo que não compraria outras. Como pode B
reagir atendendo a que tem urgência na conclusão da obra?

RESPOSTA:

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António Filipe Garcez José
Estamos na presença de um contrato de mandato. É um mandato
sem representação porque o mandatário compra em seu próprio
nome. O mandatário é obrigado a transmitir para o mandante o que
adquiriu – 1161º. Quando o mandatário celebrou o contrato assumiu
duas obrigações: - cumprir o mandato; - quando cumprir o mandato
transferir o bem para o mandante. Por aqui podemos recorrer à
execução específica e com ela obter a declaração judicial que
substitua a vontade do mandatário. Para se recorrer à execução
especifica é necessário que o mandato tenha sido revestido da
forma do contrato promessa, nos termos do art.º 410º/1 e 2. Se
assim não for não pode recorrer-se à execução especifica mas sim
às outras – acção de incumprimento – art.º 817º Comentado [u74]:

... será que o Tonybrussel vai


respeitar o nosso contrato !?

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