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- Abuso dos direitos processuais: existência de limites à atuação daqueles que, em tese, agem
em conformidade com a norma legal – entre agir conforme ou praticar um ilícito. Separação
entre o direito e a moral, a norma e a aplicação da norma.
- Esta controvérsia se move no campo da distinção entre a razão prática e uma razão teórica,
incapaz de apreender o significado social de abuso de direito.
- Revolução de Wittgenstein que põe em xeque as elaborações do Círculo de Viena, ao
mostrar o significado das categorias culturais, que revelam diversas formas de vida.
As palavras não são apenas representativas, cumprindo, outrossim, determinadas
funções. Seu significado não pode ser reduzido ao modelo triádico significante-
significado-coisa.
Com isso, a epistemologia jurídica, até então presa a uma filosofia da consciência (racional
e empírica), passa a conhecer uma maneira como os operadores do direito elaboram
categorias ricas em significado, entre as quais ‘abuso de direito’, que surge da trama das
relações intersubjetivas.
- Investigações voltadas, assim, para o uso da linguagem, perspectiva na qual os sujeitos
processuais constroem intersubjetivamente o significado de suas ações.
Ao falar, as partes estão praticando atos processuais cujo significado não está no plano
verdadeiro-falso, mas sim no plano dos proferimentos performativos, que dizem com
a efetividade social do Direito, noção que desenvolve na esfera das ‘condições de
felicidade’ dos atos de fala.
- Teoria da ação comunicativa de Habermas permite resgatar a dimensão ética do Direito,
que está nas regras de fundamentação discursiva. Sucede que as relações de poder se
encontram na própria gênese do direito. A decisão, no limite, aponta sempre para a
possibilidade do exercício da força. Isso sugere que o discurso jurídico se constitui no campo
da ação estratégica, no qual a ideia do consenso não passa de eufemismo.
Essa tentativa de reatar teoria e práxis, no contexto das sociedades pós-tradicionais, em que
os valores são substituídos por interesses, nos quais as preferências pessoais passam a
ocupar o espaço antes reservado à virtude, revela-se como expressão da angustia do homem
contemporâneo diante de um saber tecnológico que também pede limites.
- Procura-se, assim, desenvolver uma reflexão crítica sobre o processo judicial, conhecer o
processo intersubjetivo das formas e formulas desenvolvidas pelos operadores do direito,
para entender o sentido do abuso dos direitos processuais, particularmente em uma
sociedade onde os valores foram substituídos por interesses.
3. A Teoria do Significado
3.1. A cosmovisão da Antiguidade
- O discurso jurídico, Foucault, se move muito mais no campo da persuasão do que
propriamente no terreno do conhecimento.
A justificação é questão de ordem lógica e é feita por meio de um argumento, no qual o
enunciado, que deve ser justificado, figura como conclusão. A descoberta do enunciado, em
contraste, é um processo psicológico que leva à sua concepção, defesa e aceitação.
Modelos de verdade:
Empirismo-Racionalismo, origem do conhecimento. Para os empiristas, a experiência é a
única origem do conhecimento, que só é valido quando verificado por fatos metodicamente
comprovados. Já os Racionalistas entendem que a razão tem papel preponderante no
processo cognoscitivo.
Idealismo-Realismo, essência do conhecimento. Para os realistas, o objeto tem prioridade
sobre o sujeito. Ao passo que para os Idealistas a prioridade é o sujeito, ou seja, o
pensamento sobre o objeto.
Aristóteles sustenta que a linguagem não é manifestação do real, mas apenas um símbolo,
que não toma o lugar da coisa, e também admite que os estados da alma, mediadores da
linguagem e do ser, têm correspondência com o real. A palavra é símbolo – e não signo –
exatamente porque a convenção em torno dela é doadora de sentido.
A conduta descrita como obrigatória ou proibida não tem um significado unívoco. Existe
entre essas condutas um espaço vazio que há de ser preenchido com um conteúdo
significativo. A pluralidade de sentidos do texto legal remete, assim, ao campo das
valorações, pelo que se tem de reconhecer que as proposições não são sempre descritivas.
O direito está num campo de uma razão prática e não teórica.
Mas os juristas seguem propondo classificações que supostamente refletem a
natureza intrínseca das coisas. Tanto na argumentação dogmática como na zetética, a
discussão acerca do abuso de direito reflete uma disputa em torno da verdadeira
classificação, uma falácia metafísica que vem alimentando o pensamento jurídico.
Lógica Apodítica de Aristóteles – Sugere a distinção entre juízos, tratando-se não só de
categorias lógicas, mas ontológicas, pois se mostram como condição de possibilidade do
conhecimento. Mas a par da distinção que Aristóteles estabelece entre juízos apodíticos e
juízos dialéticos, entre episteme (conhecimento racional) e doxa (simples opinião).
Filosofia da Consciência – Inicia-se com Descartes e prossegue com Husserl. Para Descartes,
as coisas só existem por intermédio do pensamento, sendo o objeto intangível, por isso se
deve duvidar de tudo. Esta dúvida metódica trata de adquirir a certeza, com a qual pretende
fundar as bases para uma ciência universal, postulando uma prioridade do intelecto sobre as
experiências. Reconhece que apenas o ato de pensar, a capacidade de duvidar, é a certeza
da própria existência, com a rejeição ao conhecimento fundado nos sentidos. Descrevendo
o processo semiótico exclusivamente na base de categorias mentais, acaba produzindo uma
concepção idealista, que leva a consciência ao papel preponderante na produção de
conhecimento.
A inteligência, para Descartes, não alcança tudo, é finita, ao passo que a vontade, esta
sim, é infinita. Os erros são precisamente o resultado do descompasso entre o
conhecimento e a vontade, entre o poder de conhecer e o poder de escolher. Vontade
e entendimento são duas espécies de pensamento. Sentir, imaginar e conceber as
coisas, são formas diferentes de apreender, enquanto desejar, ter aversão, duvidar,
são formas diferentes de querer. A razão está orientada ao conhecimento dos fatos,
enquanto a vontade está orientada aos valores.
Realismo representativo de Locke (idealismo) – Emprega a palavra ideia no sentido que
Descartes utiliza a expressão cogitatio. Locke começa por negar a existência de ideias inatas
e sustenta que a alma passa a ter ideias a partir da percepção, colocando-se sobre o signo da
psicologia. Locke também reconhece a existência de qualidades primárias, inerentes às coisas
mesmas. Nesta medida, só é possível ter conhecimento direto das sensações e nunca das
coisas mesmas; delas só temos cópias, que são modificações subjetivas do espírito, o
perceber-se a consciência a si mesma. Pensamento é uma ação solitária.
No campo da linguagem, Locke elabora uma teoria da designação. Existem duas
espécies de signos – ideias e palavras. As ideias representam as coisas na mente
daquele que as contempla, ao passo que as palavras nada mais representam senão as
ideias na mente de quem as emprega. A linguagem, seria, assim, simples instrumento
de ideias particulares, cuja existência independe da palavra, mas que só podem ser
manifestadas através dela. Sendo a linguagem arbitrária. Como sinais das ideias, as
palavras não se aplicam às coisas mesmas.
Berkeley – Não se pode falar na existência de um mundo físico independente das ideias, na
existência de coisas anteriores às experiências sensoriais, como supunha Locke. Daí porque
é insustentável a afirmação de que ao homem só é dado perceber a cópia dos objetos. O que
existe é uma série ordenada de percepções que permite ao homem conhecer o objeto.
No campo da linguagem, este idealismo ontológico e Berkeley, implica uma posição
nominalista. Como as sensações não existem a não ser na mente de quem as percebe,
tudo o que se dá no mundo é interpretado como processo de semiose – em vez de
relações de causa e efeito, vê apenas relações entre signos e coisas significadas. Com
isso, todo o mundo natural é permeado de signos. Assim, tudo que não possa ser
conhecido através das sensações é destituído de significado.
Hume – Impossibilidade de se conhecer as coisas, desenvolvido num procedimento
metodológico fundado em dois princípios. O primeiro diz que todas as ideias derivam,
mediata ou imediatamente, de suas impressões correspondentes. Assim é que a percepção
surge no espírito humano a partir das impressões e das ideias, estas cópias daquelas. As
ideias são pálidas imagens das sensações, das paixões, enfim, das impressões. Enfim, jamais
se poderia ter ideia de uma coisa que nunca se revelou aos sentidos.
- O idealismo moderno supera a concepção ontológica da Antiguidade, onde as ideias
existem por de trás das coisas, independentemente do sujeito cognoscente. Mas tem-se de
reconhecer que há uma relação entre significante e significado que não inclui
necessariamente a coisa real (teoria referencial) ou a ideia, como expressão sensorial
carregada de materialidade (teoria idealista).
As palavras são doadoras de sentido que não pertencem a elas próprias, mas sim do
uso social que delas se faz. O signo não aponta para si próprio e tampouco para uma
realidade empírica, que possa ser experimentada através dos sentidos, mas sim para
outros signos, construídos de acordo com as práticas sociais.