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CONCEITUAL E TECNOLÓGICO
MOSTRA NO MUSEU VITRA
R$ 16.50
VIVER SUSTENTÁVEL
2007
MAIS PERTO DO CONSUMO
2007
Nº 55
Nº 55
QUADRIFOGLIO EDITORA
ARC DESIGN
TRANSPLASTIC
BY CAMPANA
DESIGN URBANO
& FORK
ARQUITETURA EM FOCO
BRASILEIRA E INTERNACIONAL
Lorenz Cugini
Thomas Dix
Jur gen Ma yer pas sou por vá ri as fa cul da -
gias. Seu tra ba lho já foi pu bli ca do e exi bi do pelo mun do todo,
São Fran cis co. Seus pro je tos mais re cen tes in clu em o cen -
Peter Bennetts
Pela interessante combinação de formações
ARC DESIGN
Tom Dixon, Campana, Hella Jongerius, Jurgen Bey, Greg Lynn, Jurgen Mayer, Jerszy Sey-
mour, Ronan & Erwan Bouroullec, Guto Indio da Costa, Marcelo Moletta, Fred Mafra, Ro-
naldo Shinohara, José Ricardo Basiches, Elizabeth Diller, Ricardo Scofidio, Charles Renfro,
Matthias Aron, Simon Heijdens, Jeroen e Joep Verhoeven, Xavier Lust, Lambert Kamps, Ani-
ka Perez, Brice Genre, Michaël Bihain, Cédric Callewaert, todos arquitetos e designers pre-
tras e concursos. O design não fala, necessariamente, de frivolidades. Muito pelo contrário.
O livro “&Fork” publica, entre produtos de todo o mundo, um número considerável de pro-
jetos sobre design urbano. O que vemos? O desejo de humanização das cidades – idéias
De sign Con cei tu al. Aque le que vai além do ex pe ri men tal, que pro cu ra um sen ti do e um
significado para a criação presente e futura. A mostra “MyHouse”, no Museu Vitra, responde
a questões muitas vezes ainda não formuladas, mas já latentes em nossas preocupações.
O design considerado na vanguarda nos mostra hoje – bem além da forma – a conquista de
leiro influencia a Europa, a fusão do industrial com o artesanal cria outras possibilidades,
e é a emergência de propostas para melhor qualidade de vida que está na base da criação.
Um novo assunto, vital, passa também a fazer parte da pauta de ARC DESIGN – a susten-
tabilidade. Nesta edição, a cidade sustentável e os selos ambientais que permitem orien-
Reportagens sobre interiores, produtos, lojas fora do Brasil, a seção Loucos por Design deixam
entrever que, se o design não necessita ser frívolo, um pouco de frescor também é salutar.
10 16 20 24
Exemplos publicados no livro &Fork, Na mostra “MyHome – Sete Experiências A primeira edição da CASA BRASIL apre- As mais recentes incursões dos ir-
como uma árvore feita de luz proje- para a Vida Contemporânea”, em cartaz senta o Salão Design. Entre os premia- mãos Campana, na Europa: a Vitória
tada na fachada de um edifício, e o no Vitra Design Museum – projeto de dos do concurso: sistema Carrapixo, do Régia em tamanho gigante junto a
resultado de um concurso na Bélgi- Frank Gehry –, há um entrelaçar de cami- escritório Indio da Costa Design; torneira uma instalação em bambu, nos jar-
ca, com peças instaladas em um jar- nhos entre o high e o low tech, na criação Lumina, de Juliesse Gamba e Daniel Jor- dins do Victoria & Albert Museum; e a
dim de Bruxelas, mostram a impor- de instalações puramente conceituais. ge Tasca; e luminária PET (foto acima), coleção Transplastic na Galeria Albion,
tância e o desejo de humanização Bouroullec, Campana, Seymour, Lynn, de Leandro Feliciano situada em um prédio do arquiteto
nos equipamentos públicos Jongerius, Bey, Mayer e Arnio Norman Foster. Ambas em Londres
NEWS 4
CA DER NO DE AR QUI TE TU RA
CADERNO SUSTENTAÇÃO
PER CEP ÇÃO APU RA DA
RADIOGRAFIA DE UM PROJETO
TOM DI XON
Daniel Paronetto
Mariana Lacerda
Winnie Bastian
Ana Sant’Anna
28 36 45 65
Conheça Tom Dixon e suas idéias Uma casa noturna em Belo Horizonte, a O novo Caderno de Arquitetura traz pro- ARC DESIGN terá como pauta perma-
sobre design. Na mais nova coleção, Roxy, projeto do arquiteto Fred Mafra, jetos brasileiros e internacionais e as nente a sustentabilidade, em todas
predomina o uso do cobre, alumínio, tem fachada minimalista em contraste últimas notícias do setor. Conheçam o as suas áreas de abrangência. Nesta
aço inox, bronze e aço galvanizado, com o interior, onde a iluminação cênica Institute of Contemporary Arts (ICA), em edição: cidades sustentáveis, crité-
em uma grande diversidade de pro- e as formas orgânicas acentuadas pelo Boston, e uma casa no litoral paulista, rios básicos na escolha de materiais
cessos de fabricação, da velha fun- uso da resina de poliuretano eliminam os projeto do arquiteto José Ricardo Basi- para uma construção saudável e en-
dição até o trabalho de habilidosos limites entre a arquitetura e o mobiliário ches. Panorâmica, uma nova seção, traz trevista com Vanderley John. E mais
artesãos hindus atualidades sobre o que existe e o que seção de notas e resenha de livro
está por “ganhar corpo” na arquitetura
! LUMINÉRIA ,EAF SINTETIZA TODAS AS QUALIDADES QUE
lZERAM DESTA MARCA UMA REFERÐNCIA EM DESIGN
LEVANDO A FUSÎO ENTRE TECNOLOGIA E ARTE PARA SUA
CASA OU ESCRITØRIO %STA NOVIDADE QUE A (ERMAN
-ILLER TRAZ AGORA AO "RASIL PROPORCIONA UMA
EXPERIÐNCIA ÞNICA COM FORMAS ORGÊNICAS QUE
RESPONDEM AO SIMPLES TOQUE DE SEUS DEDOS
%PIGRAM
/ VERDADEIRO DESIGN
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ASSUME NOVAS FORMAS,EAF
-OVIMENTOS AMPLOS DE GIRO E INCLINA ÎO
(ERMAN -ILLER 2EFERÐNCIA ABSOLUTA EM DESIGN 0ARA SEU ESCRITØRIO E SUA CASA $)342)"5)£²/ %- 4/$/ / "2!3), T WWWLEAmIGHTINFO
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7087-NEWS 55 final:NEWS 55 final 9/14/07 9:15 AM Page 4
idéias, ou da intenção
Daniel Paronetto
Aci ma, um dos pro du tos da li nha Swe et Dre ams Se cu rity™ pro je to de Mat thias Aron,
Lon dres. Uma in ves ti ga ção a res pei to da pa ra nóia em re la ção à se gu ran ça e sua re -
la ção com a mo ti va ção do con su mi dor
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ARC DESIGN
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Nesta página, pro du tos con ce bi dos para o con cur so Parck de sign em Bru xe las. Aci ma, Dé jeu ner sur l’om bre, de Ani ka Pe rez e Bri ce Gen re, Fran ça,
uma in ter pre ta ção da na tu re za re cri a da. Abai xo, On di ne, pro je to de Mi chaël Bi hain e Cé dric Cal le waert, Bélgi ca, com três mó du los idên ti cos que,
ao se en cai xarem, for mam uma uni da de de des can so
TECNOLÓGICOS E CONCEITUAIS
Agu çar nos sos sen ti dos. Esta é a pri mei ra im pres são trans mi ti -
De sign Mu seum.
Jur gen Bey, ir mãos Bou roul lec, Hel la Jon ge ri us, Greg Lynn, Jur -
gen Ma yer, Jerszy Sey mour e os ir mãos Cam pa na, com pro je tos
pu ra men te con cei tu ais, apre sen tam as idéi as que nor tei am suas
es tra té gias de cri a ção: ino va çõ es tec no ló gi cas, co res e tex tu ras
em evi dên cia, ma te ri ais já co nhe ci dos uti li za dos de ma nei ra não-
Aci ma, ins ta la ção de Jur gen Ma yer, cujo de se nho de piso e pa re des
se gue o des cons tru ti vis mo de Frank Gehry com pin tu ra ter mossen si -
ti va e o uso da cor e da mí dia ele trô ni ca para cri ar dis tin tas áre as es -
pa ci ais. Abai xo, do es tú dio Mak kink e Bey, par te de sua pes qui sa que
ex plo ra as con di çõ es de tra ba lho no es cri tó rio atu al
Aci ma, do Jon ge ri us lab, te ci dos em di fe ren tes co res, nu an ces e tex tu -
ras são fo to gra fa dos em seu cons tan te mo vi men to, o que ser vi rá co mo
base para o desenvol vi mento de uma nova gama de co res para a Vitra.
Abai xo, ca dei ra em plás ti co bi o de gra dá vel pro du zi da a par tir de ba ta tas
e re a li za da com mol des pri mi ti vos em sua pró pria casa. Mé to dos pré-in -
dus tri ais e ins tru men tos rús ti cos pro pi ci am a au to no mia do pro je to
SALÃO DESIGN
CASA BRASIL
A pri mei ra edi ção da fei ra CASA BRA SIL apre sen tou o seu Sa lão De sign,
um con cur so que inclui toda a Amé ri ca La ti na. Her dei ro do su ces so do
Sa lão De sign Mo vel sul, tam bém pro mo vi do pelo Sind mó veis de Ben to
Gon çal ves, o Sa lão De sign, uma das mos tras da CASA BRA SIL, ino va
Aci ma, Lu mi na, 1° lu gar na ca te go ria In dús tria: duas pe que nas
tur bi nas na par te in ter na da tor nei ra fun ci o nam com a for ça da
água e acionam os leds que a iluminam nas cores azul, vermelha
ou lilás. Design Juliesse Gamba e Daniel Jorge Tasca. Produção:
Me ta lúr gi ca Me ber Ltda., Ben to Gon çal ves, RS. Abai xo, 2° co lo -
ca do na mo da li da de Pro fis si o nal, Fo gão Du plo For no. De sign
Ju lio E. Ber to la, Elec tro lux do Bra sil, Curitiba, PR
Leandro Feliciano
Mario Grisolli
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ARC DESIGN
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Os concursos se multiplicam no Brasil e, muitas vezes, momento e da evolução – ou não – em que se encon-
com mais de 1.000 inscrições! Mas apenas alguns apre- tra o design latino-americano. E a conclusão, se avaliar-
sentam diferenciais significativos. Com relação aos mos os resultados com o critério e o rigor – que ao
projetos dos candidatos às premiações, mesmo com menos o design brasileiro já merece –, o conjunto
prêmios nada desprezíveis, o grau de inovação, sempre ainda deixa a desejar. O primeiro prêmio para Profis-
aguardado, continua baixo. Como sempre, exceções, sionais coube a Guto Indio da Costa com o sistema
principalmente entre os profissionais e as empresas. Carrapixxxo. Excelente qualidade projetual e uma per-
Nas categorias para Estudantes, surge uma dúvida: feita engenharia de produção, que só confirma o pres-
será que as escolas estão cumprindo seu papel... ou tígio já alcançado por esse escritório de design. O siste-
foram os estudantes que erraram de carreira? ma é composto por semi-esferas em alumínio injetado,
Neste concurso, uma análise dos projetos premiados fixadas em paredes ou painéis, em intervalos regula-
e das menções honrosas nas categorias Profissional, res, as quais sustentam uma série de módulos, em
Estudante e Indústria nos fornece um panorama do MDF, variando em tipo, formato e cores diversas. Mini-
Carlos Alberto Ben
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ARC DESIGN
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Studioleco
malismo formal e matérico, respeito ao meio ambiente. riência utilizando o bambu como elemento estrutural
A primeira colocação para as indústrias coube à Meber, de um rack de trabalho. Projeto de um estudante da
com uma torneira que sinaliza a temperatura da água Universidade Tuiuti do Paraná, contou com apoio e
por meio das cores azul, vermelha ou lilás. Desenvolvi- orientação dos professores – condições essenciais
mento brasileiro de um projeto internacional. Boa pre- para a boa conclusão do projeto. No campo experi-
miação também para a Riva, que investe em design bra- mental, uma peça de artesanato se destacou pelo uso
sileiro e qualidade de produção. do material reciclado, pela facilidade de construção,
O júri reitera a opinião de ARC DESIGN ao afirmar que pode ser realizada por comunidades. A luminária
que “dos estudantes esperava-se mais ousadia, con- PET, projeto de um estudante da Fundação Universi-
ceituação, experimentação: com os materiais e com dade Regional de Blumenau, construída em dobradu-
as próprias idéias. Essa é uma sinalização do júri, ras de PET utilizado em garrafas, é “um produto de
não negativa, mas de desafio”. uma linha que se vê hoje como um dos caminhos que
Dentre as “ousadias” louváveis ressaltamos uma expe- o design está tomando”, afirma o júri. ❉
tes de bam bu. De sign Ever ton Has sel mann, Uni ver si da de
Tu i u ti do Pa ra ná. À di rei ta, Sofá Cine, com as sen to de fu ton.
De sign Mar cus Fer rei ra, 3 COM Co mér cio de Mó veis Ltda.,
São Pau lo. Men ção Hon ro sa na ca te go ria Pro fis si o nal
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ARC DESIGN
7087-Campana Transplastic Final:Campana Transplastic Final 9/14/07 9:26 AM Page 2
bu, nos jardins do Victoria & Albert Museum, que comemora 150
Ed Reeve
Acima, Bi bli o te ca com Ca dei ra, na qual o plás ti co é “en go li do” pelo
vime. À direita, o iní cio da “vi a gem”, ca dei ra Café, uma ca dei ra banal,
em plás ti co, en vol vi da pelo vime. Abai xo, lu mi ná ria Ilha (de piso) e
Me te o ro (de pa re de) nas quais os globos de plás ti co apa re cem como
fon tes de luz
zlo
Las
do
nan
Fe r
Ed Reeve
Ed Reeve
Fernando Campana
Victoria & Albert Museum, Londres, comemora 150 anos com a Vitória
Músico e motoci-
clista, numa tarde
foi aprender a consertar sua
moto na oficina de solda de um amigo. Bingo!
A maleabilidade do metal despertou-lhe a
alma de designer. Nascido na Tunísia,
Tom Dixon cresceu na Inglaterra, onde
se tor nou um dos íco nes do de sign
mun di al. Visionário do empreendedorismo, ele
acre di ta na pro fis são como fer ra men ta para
me lho ria da so ci e da de, como diz nes ta en tre -
vis ta concedida a ARC DESIGN
Daniel Paronetto
TOM DIXON
n
Brow
28 sley
Hain
ARC DESIGN
7087-Tom Dixon ok:Tom Dixon entrevista Final2 9/14/07 9:44 AM Page 3
ARC DESIGN – Des cre va sua carrei ra des de seu iní cio, onde
estudou e quais foram as habilidades que teve que lapidar antes de
abrir sua empresa de design?
TOM DIXON – Minha carreira de designer começou em torno de
1984 enquanto ainda estava envolvido no ramo da música. Traba-
lhava de noite e passava os dias fazendo objetos para meu pró-
prio divertimento. Esses objetos eram rapidamente vendidos e
desde então eu procuro métodos de produzir, distribuir e criar
novas peças. Tudo o que aprendi até hoje foi no trabalho e vai
muito além do design. Ganhei muito conhecimento em logística,
distribuição, marketing, varejo e, é claro, design e produção.
AD – Com a ex pan são do de sign para no vos lu ga res, como Xan gai
e Seul, qual é o im pac to que isso pode ter em futu ras ten dên ci as?
TD – Vejo uma gran de opor tu ni da de para em pre sas de de sign
conquistarem um alcance global. No entanto, também vejo que é
necessário que elas mantenham sua identidade local e pessoal.
À es quer da, Fresh Fat Bowl, fru tei ra pro du zi da por fios de
plás ti co ex tru da dos, per mi tin do o ma nu seio en quan to
quen te. Pro du tos ex clu si vos e úni cos com um ma te ri al
as so ci a do à pro du ção em lar ga es ca la
AD – De sig ners são pe nsa do res cri a ti vos e in tu i ti vos. O que, por
de fi ni ção, é um bom desig ner e qual o seu valor para a soci e da de?
TD – Um de sig ner tem que es tar en vol vi do na evo lu ção e me lho -
ria de objetos. Ele traz para a sociedade métodos mais econômicos
Aci ma, as me sas Slab Din ning Ta ble e Low Slab, de ma -
e inteligentes de produção, melhorias nas funções dos objetos deira. Abai xo, sofá Ser pen ti ne: com posto por três módu-
como também no modo de interagir com eles, e sempre busca los per mi te inú me ras con fi gu ra çõ es
AD – No jor nal da fei ra ICFF, N. York, você pro mo veu uma “mi ni -
en tre vis ta” com pro fis si o nais da área e ago ra é a sua chan ce de
res pon der à sua per gun ta: o de sign pode sal var o mun do?
TD – Ele tem que tentar. ❉
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ARC DESIGN
7087-MARCELO MOLLETA:7087-MARCELO MOLLETA 9/14/07 10:09 AM Page 2
ENTREVISTA:
MARCELO MOLETTA
Morador do Leblon, no Rio de Janeiro, e surfista
nas horas vagas. Formado em Desenho Indus-
trial pela PUC, em 2003, Marcelo Moletta
desponta como talento do design nacional com
criações de objetos que, em comum, são por-
táteis, leves e de baixo custo. Não poderia ser
para menos, uma vez que sua principal inspi-
ração vem da observação da vida a seu redor
Mariana Lacerda / Fotos Rudy Hühold
ARC DESIGN – Como nas cem suas idéi as de ob je tos? Como se dá AD – A ca dei ra En ve lo pe tam bém nas ceu de uma neces si da de?
essa inclinação para criar coisas práticas, portáteis? MM – Acho que sim. Todas essas idéias são da época da fa-
MARCELO MOLETTA – Sempre penso no jeito que eu gostaria culdade. No caso da cadeira Envelope, sua construção é bem
que os objetos tivessem. Normalmente, minhas idéias nascem simples, e por isto comecei por ela. É o mesmo processo usa-
a partir das necessidades que tenho. Costumo fazer coisas do para fazer uma caixa de papelão. Vou à fábrica, encomen-
pensando naquilo que eu sinto falta de encontrar no mundo, do o material. Tenho todas as ferramentas, as facas para cor-
geralmente algo que eu gostaria que existisse. Por enquanto, tar. Depois, com a prensa, eu mesmo corto e monto a cadei-
esse tem sido o ponto de partida. Depois, penso no material, ra. Também criei uma cama que pode ser de casal ou de sol-
na viabilidade, no custo. teiro. São duas camas de solteiro, uma em cima da outra,
com um mecanismo que permite que se transformem em
AD – Al gum exem plo? cama de casal. No meio não há batentes: um colchão
MM – A cadeira de fica ao lado do outro, no mesmo nível, sem nenhum ele-
praia. Ela é completa- mento que impeça o conforto. Chama-se cama Sutra.
mente dobrável, a ponto
de caber numa bolsinha, AD – De que forma você acha que essas criações
própria para ser carrega- respondem ao momento atual da sociedade?
da, até mesmo no ônibus ou MM – Acho que toda criação deve
na bicicleta. Chama-se ca- ser um reflexo do seu meio,
deira Carioca. sua cidade, seu tempo. Por
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ARC DESIGN
7087-MARCELO MOLLETA:7087-MARCELO MOLLETA 9/14/07 10:09 AM Page 3
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ARC DESIGN
Project2 8/15/07 2:55 PM Page 1
7087-boate roxy final:7087-boate roxy final 8/25/07 8:29 AM Page 2
RADIOGRAFIA DE UM PROJETO
PERCEPÇÃO APURADA
A bo a te as si na da pelo ar qui te to Fred Ma fra, de Belo Ho ri zon te, guar da con -
cei tos mul ti fa ce ta dos. Par te da ar qui te tu ra, o mo bi li á rio per mi te ao usu á rio
in te ra gir de for ma li vre com o ce ná rio. Já a ilu mi na ção con fe re per cep çõ es
Aci ma, à es quer da, a fa cha da exi be lu zes azu is e rosa, quan do a casa no tur na fun ci o na como Roxy. Nos dias em que abre com o nome
Jo se fi ne, as lu zes ficam laranja e roxo. Na se quên cia, a pis ta de dan ça lo ca li za da no piso in fe ri or. Abai xo, a ou tra pis ta, no an dar su -
pe ri or, comporta 200 pes so as e tem o mes mo nú me ro de pon tos de luz
7087-boate roxy final:7087-boate roxy final 8/25/07 8:30 AM Page 4
Múltiplas funções, sentidos aguçados. No cenário cria- teto. Isso graças à resina autonivelante, usada como
do pelo arquiteto Fred Mafra para esta casa noturna, revestimento. O material, além de resistente, confere
em Belo Horizonte, tudo parece mudar, adquirir novas efeito contínuo e sensação tátil agradável. “Queria que
cores e usos a cada instante. A começar pela fachada, os elementos adquirissem um caráter multifuncional e
que tem efeitos de luz rosa e azul às quartas e sextas- os usuários interagissem de forma livre”, explica Fred.
feiras – quando funciona a boate Roxy – e laranja e roxo Outra característica marcante do projeto é a ilumina-
às quintas, sábados e domingos – dias em que fica aber- ção cênica que, programada por meio de um sistema
to o Club Josefine –, todos os elementos arquitetônicos de automação, permite não só modificações nas tonali-
revelam conceitos multifacetados. Na área externa da dades dos revestimentos e mobiliário, mas também
construção, panos de vidro espelhado revestidos por percepções óticas diferenciadas – como piscas-piscas
películas brancas conferem uma expressão minimalista alternados, olas e mais peripécias luminotécnicas. Isso
ao conjunto. Na concepção do arquiteto: “Quase um ocorre não só nas duas pistas de dança, uma no piso
presente para o caos urbano”. Já no interior da casa, inferior, outra no superior, mas também nos dois loun-
com 850 metros quadrados, formas orgânicas e carre- ges, cinco bares e espaços de circulação. Além disso,
gadas de cor – que remetem à década de 1970 – elimi- espalhadas pelos ambientes, gigantescas cúpulas de
nam os limites entre arquitetura e mobiliário. Bancos pergaminho abraçam os pilares de sustentação. “São
assumem ares de janelas, degraus ou até mesmo apoios, todos recursos que transformam o local em espaço de
enquanto balcões se fundem ao piso, às paredes e ao inúmeras percepções”, conclui Fred. ❉
Abai xo, este loun ge exi be pa re des com re si na em to na li da des de ver de, que se fun dem com piso, teto e mo bi li á rio. Bem à es quer da da foto, o
bal cão ar re don da do faz as ve zes de bar. Ao fun do, as se me lha do a uma ja ne la es cu ra, um gran de ni cho es to fa do tem fun ção de as sen to
7087-boate roxy final:7087-boate roxy final 8/25/07 8:30 AM Page 5
Acima, re si na de po li u re ta no au to ni ve lan te (Re sin flo or) uni fi ca ban cos, bal cão, pa re de e teto. Os ni chos, tam bém em linhas or gâ ni cas,
são es to fa dos e, afastados da parede, ficam iluminados. Abaixo, bar de 12 me tros de com pri men to, pis ta de dan ça e loun ge do ba nhei ro
7087-107 rivoli final:107 rivoli final 8/28/07 10:53 AM Page 2
Thomas Bertrand
alguns mestres do design ou a mais absoluta vanguarda –,
Abai xo, à es quer da, co lar em po li car bo na to, do Ate li er Vers trae ten, Bru xe las. Na se quên cia, lu mi ná ria em pi lhá vel, do es cri tó rio bra si lei ro OVO.
À di rei ta, pra tos e tra ves sas sem or na men tos, Hom broich, re me tem à me mó ria do de sign es can di na vo, ao mi ni ma lis mo e à pra ti ci da de
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ARC DESIGN
7087-107 rivoli final:107 rivoli final 8/28/07 10:53 AM Page 3
Abaixo, à esquerda, a estante Diamond, edição limitada da arquiteta, designer e cenógrafa Índia Mahdavi. Na sequência, as jóias Octopus, Masako Ban,
feitas de espuma expandida e recortadas a laser. À direita, luminária Lotus, da designer Janne Kyttanen, produzida pelo processo de estereolitografia
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ARC DESIGN
7087-Beraldin Final:Beraldin Final 9/14/07 10:15 AM Page 2
Antes de o mundo acordar para a necessidade do uso de materiais ecológicos, os irmãos Ari
e Zeco Be ral din inves ti ram na pro du ção sus ten tá vel de te ci dos e re ves ti men tos. Co nhe ça esta
his tória e os acasos e fatores da trajetória do Empório Beraldin
Mariana Lacerda
O trabalho excessivo na adolescência nunca deixou ferroviária, iniciaram a produção de fios. Em seguida
Zeco Beraldin estudar. “Não tive tempo”, diz ele. Descen- compraram teares, aprenderam o ofício e começaram
dente de imigrantes vênetos, crescido em terras para- a produzir os primeiros tecidos de seda do Brasil usa-
naenses, Zeco conta que começou cedo trabalhando ao dos na decoração.
lado do pai e do irmão Ari. Produziam tapetes e, mais A necessidade de uma produção ambientalmente cor-
tarde, chegaram a importar sedas que serviam para re- reta era clara para Zeco Beraldin, que já havia inaugu-
vestimento de almofadas, sofás, feitura de cortinas. rado seu Empório. Vieram então os testes com pigmen-
“Até que percebemos que no Brasil não se tinha notícia tos naturais, derivados da semente de urucum, folhas
da produção de tecidos de seda para uso na decoração de índigo, raiz da curcuma e da madeira beneficiada da
da casa.” E lá se vão 20 anos. Foi aí que começou a doce região. Depois, surgiu a possibilidade de produzir tam-
ciranda dos encontros fortuitos que ajudaram a erguer bém tecidos em algodão e lã utilizando processos eco-
o que hoje é conhecido no país como Empório Beraldin. lógicos de extração e beneficiamento de matéria-prima
Guiados pelas circunstâncias e pela convicção de que que resultaram em produtos sustentáveis, os quais ge-
abriam novos espaços na produção brasileira, os ir- ram hoje empregos na região e muita vida aos galpões
mãos Beraldin conheceram, em Americana, no interior antes esquecidos.
paulista, um japonês que criava o bicho-da-seda e pro- O caminho da produção de peças para decoração com o
duzia seus fios. Foi ele quem lhes ensinou tudo sobre uso de ma te ri ais na tu rais, ou com subpro du tos
a criação dos insetos e a produção dos fios. O segun- de ou tras in dús tri as, tem
do passo, diz Zeco, foi comprar então galpões abando- ori en ta do a fi lo so fia do
nados na cidadezinha de Gália, nos arredores de Ame- Em pó rio Be ral -
ricana. Ali, nas antigas instalações de uma extinta via d i n .Sempre
Na página ao lado, se das rús ti cas Sa ran di. Em co res va ri a das, têm lar -
gu ra de 1,4 me tro. À direita, fios tin gi dos com pig men tos na tu rais de -
ri va dos da se men te de uru cum, fo lhas de ín di go, raiz da cur cu ma e da
Cacá Bratke
atento e em busca de novas idéias para seguir neste acreditou-se que ecológica seria apenas a matéria-prima
caminho, Zeco nos conta que conheceu no interior do que não tivesse origem animal. “Não é bem essa a ques-
Rio de Janeiro um artesão que desenvolvia pastilhas tão”. Basta lembrar que o couro sintético, conhecido no
feitas de casca de coco. “Investi no trabalho dele”, diz. mercado como “couro ecológico”, tem na sua produção
Em Alagoas, encontraram a matéria-prima em abun- maquinários e processos não necessariamente genero-
dância: o subproduto da indústria de leite de coco sos ao meio ambiente. E que o couro, o chifre e o osso
que, antes, era destinado ao lixo. são subprodutos da indústria da carne bovina que, se
Depois da casca de coco, veio o beneficiamento do não aproveitados, como faziam nossos antepassados
osso e do chifre, igualmente como resultado de en- para se proteger do frio, vão também parar no lixo.
contro com artesãos. E, ainda, o uso do couro de Graças a essa filosofia pioneira, hoje a Empório Beral-
boi para revestimentos e tapetes. din trabalha com fornecedores e artesãos em várias
Era a possibilidade do uso de novos partes do Brasil. Exporta tecidos para o Egito, Estados
materiais, com tudo isso, geração Unidos, México e França. Resultado de uma história
de trabalho e renda para diversas iniciada há 20 anos e que teve na clareza de visão do
comunidades e centros produtores. casal Zeco e Valéria Beraldin o desenrolar feliz que to-
Por muito tempo, destaca Zeco, dos conhecemos. ❉
Abai xo, à es quer da, al mo fa da Tri ân gu lo em cou ro com cor te a la ser; man ta Car va lho, em seda te ci da em tear manu al. Na se quên cia, tam bo re te em
cro co com efei to me ta li za do e al mo fa das em cou ro tra ba lha do a la ser, com de se nhos ge o mé tri cos
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ARC DESIGN
7087-capa caderno arquitetura:capa caderno arquitetura Final 9/12/07 8:14 AM Page 45
CADERNO DE ARQUITETURA
DS+R
7087-arquitetura ICA Final:arquitetura ICA Final 8/28/07 11:01 AM Page 2
CON DU ZIN DO
O OLHAR
Um convite à contemplação – ora da paisagem,
ora das obras de arte – o Institute of Contem-
porary Art de Boston é o primeiro museu a
ser inaugurado na cidade nos últimos 100
anos. A espera foi recompensada...
Winnie Bastian
Um grande filtro, que orienta a atenção do visitante e di-
rige o seu olhar. Foi dessa forma que os arquitetos Eli-
zabeth Diller, Ricardo Scofidio e Charles Renfro, do es-
critório nova-iorquino Diller Scofidio + Renfro (DS+R),
conceberam a nova sede do Institute of Contemporary
Art (ICA), em Boston.
Com cerca de 20 mil m2 de área construída, o prédio
possui quase 5.500 m2 de galerias, além de um teatro
para 325 lugares, restaurante, livraria, escritórios admi-
nistrativos, midiateca, salas para funções educativas e
um estúdio para a criação de obras de arte digitais.
O desafio era equilibrar os dois objetivos do projeto,
concorrentes e complementares: “Atuar como um edifí-
cio cívico dinâmico, preenchido com atividades públi-
cas e sociais e, ao mesmo tempo, como uma atmosfera
controlada e contemplativa para os indivíduos interagi-
rem com a arte contemporânea”, explicam os arquitetos.
Assim, a opção foi conceber o edifício “público” a partir
À di rei ta, vis ta das fa cha das nor te e les te do ICA. Com ex ce ção das ga -
le ri as, no 4º an dar, o edi fí cio or ga ni za-se em duas par tes dis tin tas: na
ala leste (à esquerda, na mesma foto) se concentram as funções admi nistra-
ti vas e de ser vi ço e; na ala oes te, as ati vi da des vol ta das ao pú bli co.
No tér reo, des ta que para a pra ça for ma da pela ex ten são do pas seio:
co ber ta e em des ní vel, con vi da à per ma nên cia e à con tem pla ção
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Iwan Baan
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Peter Vanderwarker
Ne ga da nas ga le ri as expositivas, a vis ta da ci da de sur ge es can ca ra da
na ga le ria nor te (à esquerda) e no te a tro (no pé da pá gi na ao lado).
A au sên cia de co lu nas nas galerias (no alto da pá gi na ao lado) fle xi -
bi li za o es pa ço, que pode ser di vi di do con for me as ne ces si da des de
cada mostra; a ilu mi na ção ze ni tal pro ve ni en te das cla ra bói as é di -
fun di da por um te ci do es ti ca do que faz as ve zes de for ro
Iwan Baan
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Iwan Baan
Aci ma, vis ta da fa cha da les te: a ilu mi na ção des ta ca as ga le ri as, pon to fo cal do edi fí cio, que flu tu am so bre a pra ça e o por to. Abai xo, cor te evi den -
cia a “fita” que se de sen ro la con ti nu a men te pelo edi fí cio a par tir da pra ça em des ní vel, dan do ori gem ao te a tro e, pos te ri or men te, às ga le ri as
Iwan Baan
Acima, a midiateca: o escalonamento do piso permite que todos os ocupantes tenham a vista da água, que assume o papel de um elemento abstrato.
Abai xo, vis ta da fa cha da oes te: o per cur so con tí nuo da fai xa de ma dei ra, que se ini cia no Har bor walk, trans pa re ce cla ra men te nas fa cha das la te rais
Nic Lehoux
fechadas, sem qualquer abertura para o exterior.
A paisagem volta a aparecer com força no teatro, que é
totalmente envidraçado nas fachadas norte e oeste,
permitindo que a água e o horizonte se tornem um ce-
nário para o palco. A presença da vista pode ser contro-
lada conforme as necessidades das apresentações.
Mas a forma mais surpreendente de interação com o
entorno acontece na midiateca, uma pequena sala aces-
sada pelo 4º andar, onde os visitantes podem pesquisar
a coleção do museu. Inclinada em direção ao mar, a mi-
diateca se desenvolve em patamares, permitindo que
todos seus ocupantes possam contemplar a água, que,
emoldurada pelas paredes da própria sala, se transfor-
ma em uma “obra de arte abstrata”, cuja cor e textura
permanecem em constante mutação.
Assim, ao planejarem o edifício para guiar o olhar do vi-
sitante em diversas situações, Diller, Scofidio e Renfro
produzem uma obra que encanta e intriga seus visitan-
tes, mas sempre mantendo o respeito à sua função pri-
meira: a de valorizar as obras de arte nela expostas. ❉
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ARC DESIGN
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Desde que foi construída, no início deste ano, a Resi- uma configuração geométrica de formas depuradas,
dência Acapulco passou a chamar a atenção daqueles uma característica do trabalho de Basiches, que se for-
que transitam pelo condomínio residencial de mesmo mou em arquitetura e urbanismo pela Faculdade de Be-
nome, no Guarujá, onde foi implantada. Aparentemen- las Artes de São Paulo, em 1997. Já o espaço gourmet,
te fechada para o exterior, a construção passou a ser plenamente integrado ao jardim, foi erguido com estru-
conhecida nas redondezas como a “Caixa Branca”, uma tura metálica aparente.
referência clara à linguagem minimalista da obra. A ho- Na Residência Acapulco, o projeto reúne materiais na-
rizontalidade do volume arquitetônico é acentuada pelos turais e neutros com uma volumetria simples e clara.
painéis de madeira freijó que percorrem a extensa fa- Um exemplo é a parede revestida com mosaico portu-
chada, com 37 metros de comprimento. guês que serve como pano de fundo para a sala de estar,
Fechados, os painéis ocultam a caixilharia dos quartos ao mesmo tempo que compõe a garagem, na fachada
e garantem uma fachada sóbria, sem excessos. Trans- principal. À noite, sua superfície irregular ganha vida
mitem a impressão de que a casa não tem aberturas ao ser iluminada tangencialmente por fachos de luz
para o exterior. “Procuro fazer uma arquitetura limpa, concentrados, emitidos pelo piso ou teto.
correta e bem planejada nos detalhes”, justifica o autor O partido arquitetônico adotado foge da solução con-
do projeto. Prova disso são os banheiros das suítes, vencional de implantar a casa no centro do lote, com
que recebem iluminação e ventilação zenital. Assim, recuos laterais. Em vez disso, ocupa as porções extre-
dispensam aberturas que poderiam “poluir” o exterior mas do terreno – frente e fundo – de forma a reservar
da construção. uma generosa parcela central do lote para as áreas de
No volume principal da casa e na edícula, alvenaria e lazer descobertas. “Segui conceitos como simetria,
concreto constroem o espaço tridimensional a partir de amplitude dos espaços e integração entre interior e
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ARC DESIGN
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Aci ma, vis ta da sala de es tar com pé-di rei to du plo; ao fun do, o li ving. Abai xo, co e ren te com a ar qui te tu ra pura e lim pa da casa, a pis ci na com
bor da in fi ni ta no mes mo ní vel do piso ex ter no apa ren ta ser um es pe lho d’água que se pro lon ga até a fa cha da. Fa chos de luz con cen tra dos
va lo ri zam as tex tu ras de al gu mas pa re des
7087-residencia acapulco:residencia acapulco final2 8/25/07 6:58 AM Page 5
Nes ta re si dên cia e na mai o ria dos seus tra ba lhos, o ar qui te to apos ta nos ma te ri ais neu tros e na tu rais para re ves tir pi sos e pa re des. Aci ma, a
pa re de em mo sai co por tu guês ser ve como pano de fun do para a sala de es tar, ao mes mo tem po que com põe a fa cha da prin ci pal da casa. Abai xo,
a ocu pa ção não-con ven ci o nal do ter re no li be ra áre as li vres ge ne ro sas nos fun dos do lote
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Nelson Kon
BRASIL PREMIADO NA HOLANDA
Um importante prêmio para a arquitetura brasileira. O projeto “Vazios
de Água”, do escritório MMBB Arquitetos, foi o grande vencedor do prê-
mio realizado pela 3ª Bienal de Roterdã, cujo tema é “Poder: Produzin-
do a Cidade Contemporânea”. A proposta criada pelo MMBB não só
venceu o prêmio de melhor projeto internacional como também acu-
mulou o título de Best Entry, dado ao melhor projeto da exposição.
A proposta do MMBB busca transformar os piscinões em “lugares ade-
quados à vida urbana e que configurem imagens referenciais na pai-
sagem, contribuindo para a formação de uma relação afetiva dos ha-
bitantes com a cidade”, explicam os arquitetos. “O pressuposto é con-
ferir aos piscinões o ‘poder’ de construir urbanidade onde, até então,
só se aportam valores funcionais”, completam. Essa intervenção rela-
tivamente simples colocaria uma parcela significativa da cidade à dis-
posição dos habitantes, em particular àqueles que vivem nas favelas.
O júri elogiou a proposta por seu realismo e pela forma inteligente
como liga a infra-estrutura oficial ao problema da cidade informal.
Esperamos que também os governantes de São Paulo reconheçam
o potencial da proposta e implantem-na.
O projeto pode ser conhecido em detalhes no site dos arquitetos:
www.mmbb.com.br. Bienal de Roterdã: www.biennalerotterdam.nl
Bebete Viegas
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Nelson Kon
OSCAR NIEMEYER 1
Em dezembro, Oscar Niemeyer completará 100 anos de vida e, em sua homena-
gem, o Instituto de Arquitetos do Brasil e o Instituto Tomie Othake promovem a
exposição itinerante “Oscar Niemeyer – Arquiteto, Brasileiro, Cidadão”.
A exposição, que tem curadoria de Marcus Lontra e coordenação de Ricardo Ohtake
e Kadu Niemeyer, já está acontecendo em Belo Horizonte, onde ocupa o Palácio das
Artes e o Museu da Pampulha até 16 e 23 de setembro de 2007, respectivamente.
No Palácio das Artes, textos, fotografias, desenhos e maquetes retraçam a traje-
tória de Niemeyer, organizando sua obra em fases: “Pampulha: o Berço da Arqui-
tetura Moderna Brasileira” (1940-1943), “Forma Livre e Organicidade” (1943-
1953), “Brasília: Modernidade, Magia e Eternidade” (1953-1965), “Vivendo os
Anos de Chumbo no Exterior e A Caminho de uma Arquitetura Social” (1965-1989)
e “O Museu Pessoal e o Museu do Homem” (1989 até hoje).
O Museu de Arte da Pampulha, por sua vez, concentra os aspectos poéticos da obra
do arquiteto: maquetes em grande escala exploram as curvas do Edifício Copan e
as colunas do Palácio do Planalto, por exemplo. Completando este módulo, a mostra
estabelece o diálogo dessas obras com a produção de artistas plásticos brasileiros.
Após Belo Horizonte, a mostra seguirá para o Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília.
www.palaciodasartes.com.br
OSCAR NIEMEYER 2
Também em comemoração ao centésimo ani-
versário do arquiteto, a Comissão para as Come-
morações Niemeyer 100 Anos Funchal – Madeira,
de Portugal, promove um concurso internacional
de fotografia, cujas inscrições estão abertas até
30 de outubro de 2007.
Podem participar fotógrafos profissionais ou
amadores de qualquer nacionalidade e as obras
fotografadas – da autoria de Niemeyer, evidente-
mente – podem estar localizadas em qualquer
país. Não há limite de fotos por participante,
mas a imagens devem ser inéditas.
Cada uma das duas fotos vencedoras receberá
3 mil euros e uma viagem ao Funchal, com
acompanhante e hospedagem, para a cerimô-
nia de premiação.
Mais informações e o regulamento completo estão
disponíveis no site www.niemeyer-madeira.com
7087-panoramica final:7087-panoramica final 9/14/07 10:21 AM Page 4
arquitetura da gula
fotos: Paulinho Silva
Rua Engenheiro Jorge Oliva, 49 Job: An. Stúdio Culinário O.S Nº: PI0236 Data: 20/07/07
Vila Mascote - São Paulo - SP Cliente: Ciça Cardoso Tipo Prova: Epson 7800 Digital Veículo: Anúncio
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ar mazen49@ar mazen49.com.br
CYAN MAGENTA YELLOW BLACK
Expediente55 final:Expediente55 final 9/11/07 9:24 AM Page 61
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Cristiano S. Barata Apoio Institucional:
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dores da ARC DESIGN são de propriedade dos autores. As
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7087-Loucos por design:Loucos por design 55 final2 9/14/07 10:31 AM Page 2
Aci ma, à es quer da, lu mi ná ria Au ro ra Bo re al, de sign El len Bou tang, em pa pel ve ge tal chi nês; à di rei ta, re cipi en te para ofe ren das (fechado e aberto),
Bir mâ nia, fi nal do sé cu lo XIX, em bam bu, ma dei ra, lâ mi na me tá li ca, laca e fo lha de ouro, é com pos to por di versos pra tos para uso nas ce ri mô ni as.
No pé da página, ca dei ra do ar qui te to Cris ti án Val dés (veja ARC DE SIGN 43), pre cur sor do de sign no Chi le e mes tre no tra to da ma dei ra, da qual
ex plo ra os li mi tes, com es pes su ras e rai os de cur va tu ra me di dos em mi lí me tros
ARC DESIGN – Quan do e com qual ob je to sua aten ção foi des - no México. Não é pela numerologia, a razão da escrita errada,
pertada para o design? mas para ter o mesmo nome nas duas cidades. Começamos
MARIA HELENA CABRAL – A resposta pode parecer meio ma- assim nossa coleção “casa e corpo”, sempre seguindo a intui-
cabra, mas é divertida. Eu tinha uns 10 anos quando meu pai ção, ou nosso próprio modo de ver cada cultura.
quis que desenhássemos, juntos, um caixão de defunto para
ele. Um caixão que lhe permitisse ser colocado sentado. E não AD – Você é ca sa da com um de sig ner, mas es co lheu pe ças de vá -
apenas: também precisava ser ventilado, ter uma sirene e oxi- rios designers e de diversas partes do mundo como suas prefe-
gênio, para o caso em que ele não estivesse realmente morto. ridas. Falando em design brasileiro, quem você ci ta ria como
Foi assim que descobri que as coisas são, antes de se torna- des ta que? Por quê?
rem reais, desenhadas. MHC – Bem, por todas as razões, objetivas e subjetivas, Oswal-
do Mellone. As objetivas? Cito Adélia Borges em uma de suas
AD – A que você dá mais aten ção, na es co lha de um ob je to, seja críticas no jornal Gazeta Mercantil onde, no artigo “Muito Além
ele uma roupa, um vaso ou um ventilador: à forma, ao material da Superfície”, ressaltava o valor de Oswaldo Mellone, sempre
de que é feito, ou à sua utilidade? com engenheiros em sua equipe, para garantir que os concei-
MHC – À forma. Desenho desde pequena, não tenho formação tos do design não fossem deturpados ao longo do
universitária, mas fiz cursos de desenho livre e arquitetônico. processo de industrialização. “Para mim, a fase
Divulgação
Hoje sou uma artista plástica que decidiu, há sete anos, inau- principal de um projeto é, sem
gurar uma loja conceitual, a Esencial. dúvida, o conceito”, afirma o
designer a Adélia Borges, que
AD – Qual o con cei to des ta loja que des per ta ad mi ra ção e es - com ple ta, “os pro je tos de
panto, a começar pelo nome, “escrito errado”? Mel lo ne são de mons tra çõ es
MHC – Sempre viajei muito e procurava, antes de partir, me exemplares do poder do design
inteirar das culturas que iria conhecer. Foi assim com a Tai- quando acompanhado do adje -
lândia, a China, a Índia. Em um dado momento, em parceria ti vo ‘industrial’”. As subjetivas?
com uma amiga, abrimos duas lojas, uma São Paulo e outra Bem, vocês já adivinharam. ❉
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ARC DESIGN
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COMO ENCONTRAR
DE SIGN UR BA NO: Victoria & Albert Museum LOU COS POR DE SIGN
NO VOS HO RI ZON TES www.vam.ac.uk
Esencial
Concurso Parckdesign www.esencial.com.br
www.parckdesign.be/en TOM DI XON
&Fork 100% Design CI DA DES BRA SI LEI RAS: COMO
www.phaidon.com 100percentdesign.co.uk
SE DESENVOLVEM?
Jeroen Verhoeven e Joep Verhoeven Artek Associação Brasileira de Refrigera-
www.demakersvan.com www.artek.fi ção, Ar Condicionado, Ventilação e
Aquecimento (Abrava)
Lambert Kamps Cappellini www.abrava.com.br
www.lambertkamps.com www.cappellini.it
Instituto Polis
Matthias Aron Megyeri Habitat www.polis.org.br
www.sweetdreamssecurity.com www.habitat.net/uk
Cidades Solares do Brasil
Simon Heijdens Tom Dixon www.cidadessolares.org.br
www.simonheijdens.com www.tomdixon.net
Conselho Brasileiro de Construção
ENTREVISTA: MARCELO MOLETTA Sustentável
TECNOLÓGICOS E CON CEI TU AIS www.cbcs.org.br
Frank Gehry Marcelo Moletta
www.marcelomoletta.com Secretaria para América Latina e
www.foga.com
Caribe dos Governos Locais para a
Greg Lynn Sustentabilidade
PER CEP ÇÃO APU RA DA www.iclei.org
www.glform.com
Fred Mafra
Hella Jongerius WWF
www.fredmafra.com.br
www.jongeriuslab.com www.wwf.org.br
Resinfloor
Jerszy Seymour www.resinfloor.com.br
www.jerszyseymour.com MA TE RI AIS CRI TE RI O SOS
ABNT
Jurgen Bey 107, RUE DE RI VO LI, PA RIS
www.abnt.org.br
www.jurgenbey.nl
107 Rivoli
Jurgen Mayer www.lesartsdecoratifs.fr Forest Stewardship Council
www.jmayerh.de www.fsc.org
Ronan Bouroullec e Erwan Bouroullec A ECO LO GIA COMO CON CEI TO Idhea
www.bouroullec.com www.idhea.com.br
Empório Beraldin
www.emporioberaldin.com.br Imaflora
Vitra Design Museum
www.design-museum.de www.imaflora.org
ICA BOS TON: ISO
SALÃO DESIGN CASA BRASIL CON DU ZIN DO O OLHAR www.iso.org
CIDADES BRASILEIRAS
COMO SE DESENVOLVEM?
MATERIAIS CRITERIOSOS
RUMOS DA CERTIFICAÇÃO
VANDERLEY JOHN
DEBATE OS IMPACTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL
Mariana Lacerda
Coordenadora do Caderno SustentAção
Na foto da capa, de ta lhe da tex tu ra da cha pa de Re ci plac. Exem plo de ma te ri al sus ten tá vel, é fei ta a
par tir de em ba la gens Lon ga Vida re ci cla das e pode ser usa da para com por pai néis, mó veis e di vi só ri as
Cidades Final:Cidades Final 9/14/07 11:07 AM Page 2
Mariana Lacerda
“Criar cidades sustentáveis é uma questão já reconhecida pela so-
ciedade, tem solução e pode ser economicamente viável.” A frase
é da arquiteta Laura Valente de Macedo, diretora regional em São
Paulo da Secretaria para América Latina e Caribe dos Governos
Locais para a Sustentabilidade. Ela se refere às ações que pouco
a pouco estão tornando os territórios habitados mais saudáveis.
Pois, nos últimos relatórios da ONU sobre mudanças climáticas,
as cidades aparecem como consumidoras de 75% da energia
produzida, e emissoras de 80% dos gases que provocam o efeito
estufa. No Brasil, os edifícios consomem cerca de 50% da ener-
gia elétrica do país. Não é preciso ir muito longe nos jornais diá-
rios para saber que os problemas de nossas cidades não são
apenas ambientais, mas, também, sociais.
E são eles, os problemas que, feliz ou infelizmente, nos alertam
para a necessidade de mudança. “Geram oportunidades”, disse
o arquiteto Siegbert Zanettini durante o seminário “Cidades Sus-
tentáveis”, em julho deste ano, na FAU/USP, São Paulo. Peque-
nas e grandes, algumas de nossas cidades se mobilizam para te-
Ao lado, uma das prin ci pais vias da ca pi tal pau lis ta, a ave ni da 23 de Maio, que
liga as zo nas nor te e sul da ci da de. Com 5,3 qui lô me tros de ex ten são, por ela tra -
fe gam mais de 1.200 mo tos e 230 mil veí cu los, di a ri a men te
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Afonso Lima
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www.portalunica.com.br
Joe Zlomek
Aci ma, à esquerda, usi na de ál co ol, bi o com bus tí vel que abas te ce rá os cer ca de 5 mi lhõ es de car ros que de vem cir cu lar em ruas bra si lei ras até
2013. Na se quên cia, pai néis so la res: eles po dem ser a saí da para as 12 mi lhõ es de pes so as que, no país, ain da não têm aces so à ener gia elé tri ca
rem infra-estruturas sustentáveis, que garantam a vida e Varginha (MG), uma das primeiras na obrigatorieda-
agora e também no futuro. Embora muito ainda esteja de do uso de aquecedores solares.
para ser feito, especialistas concordam que, ao menos, Avançamos? Sim. Há dois anos, conta o engenheiro
saímos da inércia em prol da construção de territórios Carlos Faria, coordenador da organização Cidades So-
saudáveis. São ações que visam desde o uso racional lares do Brasil, apenas duas cidades do Brasil, Vargi-
de recursos naturais no momento de construir – e na nha e Campina Grande (PB), tinham projetos de lei para
forma de morar – até um planejamento mais justo do uso de energia solar. “Hoje são mais de 50 municípios
ponto de vista social das metrópoles. discutindo projetos de lei que propiciem formas de mo-
rar sustentáveis”, diz ele.
ENER GIA SO LAR
A prefeitura de São Paulo, por exemplo, sancionou em ENER GIA EÓLICA
julho uma lei que obriga novas edificações da capital Os exemplos vão além e não dizem respeito apenas ao
a instalarem sistemas de aquecimento por meio da uso da energia vinda do sol, tão abundante, diga-se, em
energia solar. “É um avanço que mexe na principal nosso país. Um programa do governo federal de incen-
matriz energética do país”, diz Laura Macedo, se refe- tivo às energias alternativas assegura ao investidor
rindo às usinas hidrelétricas. Segundo a Associação em energia eólica a compra de equipamentos com fi-
Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventila- nanciamento em até 20 anos. Com uma linha de crédito
ção e Aquecimento (Abrava), ainda este ano devem do BNDES, estima-se que sejam investidos 700 milhões
ser instalados 40 mil metros quadrados de coletores de dólares em energia eólica no Ceará. A previsão é
solares na capital paulista. A Abrava acredita que, que, até 2008, 30% da matriz energética do Estado te-
com a nova lei, São Paulo tenha pela frente uma pers- nha origem no vento. Em comum, iniciativas assim têm
pectiva de 40% a 80% na redução do consumo de ener- como meta atingir a eficiência energética, que pode pro-
gia elétrica ou a gás para o aquecimento de água. A ca- porcionar uma redução do consumo em até 39%, segun-
pital paulista vem atrás dos municípios de Birigui (SP) do o estudo da organização não-governamental WWF.
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Cidades Final:Cidades Final 9/14/07 11:07 AM Page 5
Aci ma, par que eó li co no Ce a rá, Es ta do que mais in ves te em ener gia eó li ca no Bra sil e que conta com ao menos 34 aerogeradores. Os ca ta-ven tos
mo der nos, estruturas com até 60 metros de altura, pro du zem, inin ter rup ta men te, ener gia lim pa e ines go tá vel
O Brasil, por meio da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), está elaborando, com
a entidade suíça International Standards Organization, os parâmetros da certificação ISO
26.000. Com previsão de conclusão em 2008, a nova ISO poderá ser concedida às empresas
no mundo que atuem com responsabilidade social. A nova certificação será uma ferramenta
para quem deseja construir com materiais sustentáveis, uma equação que também considera
projeto preciso e localização da obra
Giovanny Gerolla
Na prática, com a ISO 26.000, a procedência de produ- certifica diversos materiais em toda a Europa. “Impor-
tos sustentáveis estará assegurada por uma certifica- tante salientar que certificações dizem se o ciclo de vida
ção, indicada em selo. Enquanto a ISO 26.000 não é edi- do material está sendo avaliado por técnicos que não
tada, o mercado dispõe de outras ferramentas que aju- são subvencionados pela indústria, atendendo a quesi-
dam a identificar o quanto um produto é sustentável. No tos técnicos, ambientais e sociais”, aponta Márcio Au-
Brasil, o único selo verde ainda é o da madeira, emitido gusto Araújo, consultor do Instituto para o Desenvolvi-
Randy Mckown pelo representante nacional, o Imaflora, do Forest mento da Habitação Ecológica (Idhea), em São Paulo.
Stewardship Council (FSC). Na Alemanha, o A certificação ISO 14.000 também é uma referência a
conhecido “Anjo Azul” empresas que declaram os impactos ambientais de
seus produtos, os recursos naturais utiliza-
dos e o destino adequado aos des-
cartes. Restaria ao consumi-
dor perceber se a empresa é
idônea ou não. Vale ainda
lembrar que, segundo o
Programa Brasileiro da
Qualidade e
Pro du ti vi da -
Materiais Final:Materiais Final 9/14/07 11:11 AM Page 3
Aci ma, à esquerda, lote com selo do Fo rest Ste wards hip Coun cil, ates tan do que a ma dei ra pro vém de uma das 60 flo res tas ma ne ja das do país.
Na se quên cia, pai néis me la ní mi cos e OSB, da Ma si sa, que uti li za ma dei ra tam bém cer ti fi ca da
de do Habitat (PBQP-H), do Ministério das Cidades, há fera – podem ser alternativas sustentáveis, desde que o
para cada categoria de material de construção uma lis- fornecedor e o aplicador sejam bem selecionados. “O
ta, disponível na internet, de empresas não-conformes, material tem de apresentar durabilidade elevada ou
o que significa que não atendem às normas técnicas maior que a de seus concorrentes na determinada apli-
de desempenho do produto. cação em questão”, explica John.
Segundo o engenheiro do setor de certificação da “A durabilidade do material não é somente proprieda-
ABNT, Alexandre Muniz, a ABNT NBR 16.001 também pode de sua, mas sim consequência de seu uso”, aponta
direcionar quem busca materiais sustentáveis: “É uma Vanderley John. “Se você usar madeira em ambiente
norma de responsabilidade social e que, inclusive, está exposto à umidade, ela vai apodrecer, mesmo que te-
servindo de base para a criação da ISO 26.000”, expli- nha o selo verde!” É preciso pensar, também em pro-
ca. A diferença, diz Muniz, “é que ela terá força interna- jeto, na possibilidade de manutenção e limpeza, já
cional, no que diz respeito ao sistema de gestão de res- avaliando esses processos como parte do ciclo de
ponsabilidade social das empresas”. vida do material.
Comprar produtos cujos selos indiquem a procedência Por fim, cabe ao consumidor avaliar todas as variantes,
é importante, mas não é tudo. “Considerar a disponibi- dos certificados de garantia à localização da obra, na
lidade de materiais na localidade evitam custos com hora de escolher os materiais que serão utilizados. Um
transporte, emissão de gases e gastos energéticos”, projeto “bem amarrado”, com a quantidade exata de
lembra Márcio Augusto Araújo. materiais que se vai utilizar, é imprescindível, mas do-
Também é importante levar em conta que “o material ses de criatividade também. O arquiteto paulista Marce-
sustentável é aquele que melhor exerce sua função no lo Rosenbaum, por exemplo, tem como uma de suas
projeto, em menores quantidades”, diz o professor da marcas transformar madeiras, entre ripas, restos de
Escola Politécnica da USP e membro do Conselho Bra- móveis ou de forros, encontradas nos lixos da cidade
sileiro da Construção Sustentável Vanderley John. Para em novos móveis e revestimentos para paredes. É um
ele, mesmo o gesso, o PVC e o cimento – este último exemplo do quanto a sustentabilidade pode ser tam-
responsável por enormes descargas de CO na atmos- 2
bém uma filosofia de vida. ❉
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ARC DESIGN
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ENTREVISTA :
VANDERLEY JOHN
Professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e um dos
fundadores do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, Vanderley
John é também um dos autores da Agenda 21 de Construção Sustentável para os países em de-
senvolvimento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Voz forte no país quan-
do o assunto diz respeito aos problemas ambientais causados pelo impacto na construção ci-
vil, John é pouco otimista e vê como é urgente a revisão, do ensino às políticas públicas, dos
modos de erguer e habitar qualquer área construída, como diz nesta entrevista à ARC DESIGN
Mariana Lacerda
ARC DESIGN – No mundo, sabe-se que a cons tru ção ci vil con so - além de pontes, aeroportos, escolas. Precisamos recuperar edi-
me de 30 a 75% dos recursos naturais do planeta. São dados fícios degradados, especialmente os públicos. No mundo inteiro,
que também cabem para o Brasil? a qualidade de vida de uma pessoa é muito determinada pelo am-
VANDERLEY JOHN – Temos um problema crônico de falta de biente de que ela dispõe. Então, temos que ampliar o que temos.
dados. Precisamos começar a gerá-los para determinar quais
são as prioridades do setor. Hoje, a construção civil é respon- AD – Mas re al men te te mos que am pli ar, ou po de rí a mos re cu pe -
sável por pouco menos que 9% do PIB nacional. Mas não sa- rar o que temos?
bemos o quanto dos nossos recursos naturais acabam na VJ – O que temos não é suficiente. Não temos como não am-
construção civil brasileira. pliar. Na cidade de São Paulo existem 5 mil quilômetros de
ruas que não estão pavimentadas.
AD – Como cal cu lar o im pac to am bi en tal cau sa do?
VJ – Os Es ta dos Uni dos usam um mé to do cha ma do “Ma te ri al AD – E como a re fle xão so bre a sus ten ta bi li da de pode aju dar a
Flows”, que trabalha com os fluxos econômicos, bases de da- resolver esses problemas?
dos governamentais, taxas de impostos. Calcular isso é uma VJ – Estamos num momento em que a economia cresce, a
tarefa que também temos que cumprir. Mas, num país onde a construção cresce. Temos fatores governamentais e também
informalidade é muito grande, este será um trabalho difícil. capital externo para que isso aconteça. Assim, alguns concei-
De toda a forma, não há, em nenhum país, outro setor da tos da sustentabilidade são fundamentais. Primeiro, é muito
economia que consuma tantos recursos naturais quanto a comum as grandes obras causarem impactos ambientais, que
construção civil. depois são remediados. Estraga-se para depois recuperar.
Esse conceito tem que ser revisto. Porque, quando você repa-
AD – No Bra sil, a cons tru ção ci vil está em cres ci men to (este ra, o ambiente jamais volta ao seu estado original. É preciso
ano, a taxa foi de 7,2% do PIB do setor). Como avaliar o im- economizar recursos. O segundo conceito que precisa ser le-
pacto que irá causar num futuro próximo? vado em consideração é o da durabilidade dos materiais. As
VJ – A construção impacta a natureza para fornecer infra-estru- obras públicas brasileiras, por exemplo, têm um problema
tura para a sociedade. Temos 6 milhões de casas por construir, crônico de baixa durabilidade e de exigência de grande inves-
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ARC DESIGN
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Dioscoro Dioticio
timento em manutenção. Isto produz prejuízo ambiental, eco-
nômico e social. Uma obra sustentável é durável. Na área de
moradia social, a durabilidade está associada à possibilidade
que os residentes vão ter de melhorar suas casas. Muitos pré-
dios sociais, particularmente na Europa do pós-guerra, foram
demolidos porque não puderam ser melhorados. Já as casas
permaneceram, porque são flexíveis. Este é outro lado da sus-
tentabilidade, a flexibilidade.
aumentar o salário dos operários da construção civil, poderí- teis, uma vez que ajudam a formar cultura. O que vai salvar o
amos modificar a situação de pobreza de 10% da população planeta, contudo, são modificações em grande escala.
economicamente ativa no Brasil. Como fazer isso? Aumentan-
do a produtividade, que depende de estratégias industriais, AD – O Bra sil é um país di ver so, de inú me ras re a li da des. Qual
projetos, visões. Outra questão é a da informalidade, que tal- seria um ponto em comum para a sustentabilidade na constru-
vez seja o principal desafio brasileiro para a sustentabilidade. ção civil? Alguns preceitos mínimos a serem considerados para
Temos informalidade fiscal, desrespeito às leis ambientais, in- um construir sustentável?
formalidade nas relações trabalhistas e, até, no uso da terra. VJ – Temos que trabalhar com mecanismos capilares. Por
O caso da madeira explicita bem as implicações ambientais da exemplo, o poder de compra do Estado, ou iniciativas como a
informalidade. A sociedade ainda não relacionou o que a in- do Banco Real (ver nota pg. 75), são importantes. Temos que
formalidade tem a ver com a sustentabilidade. ter políticas industriais de desenvolvimento limpo para dife-
rentes setores, políticas educacionais para mudar a forma de
AD – Cer ti fi ca çõ es como a Leed po dem aju dar a cons tru ção ci - pensar de arquitetos e engenheiros. As pessoas precisam per-
vil a melhorar o seu nível de sustentabilidade? ceber que muitas vezes uma pequena decisão em um projeto
VJ – A Leed está focada em energia, e foi pensada para os Es- simples não vai ter custo nenhum e por trás dela existe uma
tados Unidos – um país onde o governo não investe em sus- resposta ambiental interessante.
tentabilidade, tem a pior matriz energética do mundo e é
campeão mundial de emissão de gases que causam o efeito AD – Por exem plo?
estufa. Assim como a certificação francesa, a HQE, atende às VJ – Selecionar um fornecedor socialmente responsável ou
necessidades da França, está pensada para as articulações, comprar madeiras certificadas, que está ao alcance de qual-
políticas e formas de operar do mercado francês, e seus pro- quer obra. Fornecer segurança aos operários, também. Não
blemas ambientais. Essas certificações não atendem à neces- existe sustentabilidade se os operários correm riscos de vida.
sidade do Brasil. Elas não incluem, por exemplo, a dimensão Os arquitetos, por sua vez, não podem pensar que ou ele faz
social e, muito menos, a questão da informalidade. Porque na um edifício certificado ou ele não faz nada. É preciso fazer
Europa ou nos Estados Unidos a informalidade existe em um ní- sempre alguma coisa. A sustentabilidade está em todas as
vel muito baixo. Os esquemas da certificação miram (exceto na ações que tomamos. Se abandonarmos a fachada de vidro, por
Inglaterra onde são mais amplos) edifícios corporativos, insti- exemplo, estaremos dando uma contribuição para gerações
tucionais ou comerciais. Estas, no entanto, também precisam futuras, um serviço para a humanidade. Porque a fachada de
ser pensadas do ponto de vista da grande escala. No Brasil, vidro, num país com tanto sol como o nosso, é um coletor so-
talvez 70% das habitações são feitas pelo proprietário ou pelo lar e a retenção de calor vai ser grande. Ela foi inventada para
arquiteto que contrata sua equipe e constrói. Os modelos de o Canadá, não para os trópicos. A sustentabilidade é uma
certificação só vão funcionar se incluírem todas essas formas questão muito maior que a certificação e só vai funcionar se
de construir e morar. Não existe nenhuma prova, em nenhum a obra comum se tornar sustentável. Tudo isso é um processo
lugar do mundo, que mostre que a certificação tenha grande que começamos agora. Os dados e as tecnologias estão sur-
impacto no mercado. Mas não estou dizendo que elas são inú- gindo e tendem a aumentar e melhorar nos próximos anos. ❉
Alena Yakusheva
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Apoio:
CAPITAL SOCIAL
Quando ocupações urbanas são legalizadas, podem ter serviços bá-
sicos: rede de água e luz, e também creches, escolas, bibliotecas.
Quando existem esses espaços, a convivência entre moradores é
mais pacífica, pois está criado um capital social que ajuda a comba-
ter a violência. É essa a experiência da cidade de Bogotá que, com a
regularização fundiária, conseguiu reduzir 84% das taxas de homicí-
dio, em nove anos de trabalho. O exemplo da capital colombiana ago-
ra está sendo replicado no Rio de Janeiro, nas favelas da Rocinha e
Vidigal. O Projeto Segurança Cidadã, dos ministérios da Justiça e das
Cidades, pretende, até o final deste ano, dar a posse definitiva dos
terrenos a 7.500 famílias das duas comunidades. E, assim, reduzir os
alarmantes números da violência da capital carioca.
CIDADE DO FUTURO
Por ironia, no paraíso do petróleo, cuja combustão é um dos
principais vilões da liberação de gás carbônico na atmosfera,
há de surgir a primeira cidade com zero emissão de poluição
do mundo. O escritório londrino Foster + Partners, o mesmo
que criou, em Londres, a emblemática sede verde da segura-
dora Swiss Re, está à frente da chamada “Masdar Iniciative”.
Trata-se de uma cidade murada dentro de Abu Dhabi, capital
dos Emirados Árabes Unidos. Com 6 milhões de metros qua-
drados, o ambicioso projeto tem a intenção de ser um labo-
Julio Babin
ratório de conhecimentos sobre como viver numa metrópole
sem poluir. A intenção é, a partir da experiência, contribuir
para a viabilidade de cidades sustentáveis no mundo. Sem
carros, Masdar terá uma rede de ruas pitorescas e curtas, TRILHOS LIMPOS
para incentivar a caminhada. O transporte público, movido a Desde junho, o tema preservação ambiental invade as 17 estações
energias renováveis, será rápido. Estima-se que o projeto do metrô gaúcho – que atendem cinco municípios da Região Metro-
seja concluído em 2009. É esperar para ver! politana de Porto Alegre – e as dependências da Trensurb. Foi imple-
mentada a campanha de coleta seletiva do lixo, batizada de Trem Am-
biental. Funciona assim: o lixo, distribuído nas estações em lixeiras
adequadas, é recolhido pelo Trem Ambiental depois do encerramento
das operações comerciais. O material coletado é encaminhado para
um galpão, no pátio da Trensurb – onde é feita a triagem –, depois re-
colhido pelo Departamento de Limpeza Urbana de Porto Alegre
(DMLU), que repassa o lixo para cooperativas de reciclagem conve-
niadas. O resultado é promissor: em apenas um mês de implantação,
já foram coletados 2.562 kg de lixo reciclável.
Ambiente final2:Ambiente final2 9/14/07 11:14 AM Page 75
FLORESTA MAPEADA
Sabe qual a extensão das florestas no Brasil? De acordo com levan-
tamento do Serviço Florestal Brasileiro, há 193,8 milhões de hecta-
res se somadas as florestas federais em áreas públicas, terras indí-
genas e assentamentos do Incra – e sem contar as matas pertencen-
tes aos Estados e aos municípios. O Amazonas, por exemplo, abriga a
maior área de floresta federal: são cerca de 73,5 milhões de hecta-
res. Já o Rio Grande do Norte é a unidade da Federação com menor
área: 1.500 hectares. O cadastro contém 1.391 florestas públicas, loca-
lizadas em 825 cidades. Embora os dados sejam iniciais, o mapeamen-
to publicado em julho pelo Ibama é importante, já que por meio dele
será possível fazer o planejamento da gestão florestal, o processo de
destinação de áreas públicas, além de aprimorar a fiscalização contra
invasões ou grilagens das áreas de florestas pertencentes à União.
CRÉDITO SUSTENTÁVEL
O Banco Real deu um passo à frente em sua política de crédi-
to imobiliário. No dia 13 de agosto, o banco lançou o Progra-
ma Obra Sustentável. Com uma carteira de crédito imobiliário
no país na ordem de 2,5 bilhões, a partir de agora as novas
CONCEITUAL E TECNOLÓGICO
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Nº 55
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