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REVISTA DE DESIGN ARQUITETURA SUSTENTABILIDADE INOVAÇÃO

CONCEITUAL E TECNOLÓGICO
MOSTRA NO MUSEU VITRA

TOM DIXON NO BRASIL

R$ 16.50
VIVER SUSTENTÁVEL

2007
MAIS PERTO DO CONSUMO

2007
Nº 55
Nº 55
QUADRIFOGLIO EDITORA
ARC DESIGN

TRANSPLASTIC
BY CAMPANA

DESIGN URBANO
& FORK

ARQUITETURA EM FOCO
BRASILEIRA E INTERNACIONAL
Lorenz Cugini
Thomas Dix
Jur gen Ma yer pas sou por vá ri as fa cul da -

des durante sua formação, entre elas a Uni-

versidade de Stuttgart, a Cooper Union e a

Princeton University, as últimas em N. York.

Fundou a J. Mayer H., em 1996, focando seu trabalho em

in ter ven çõ es ar qui te tô ni cas, co mu ni ca ção e no vas tec no lo -

gias. Seu tra ba lho já foi pu bli ca do e exi bi do pelo mun do todo,

como ex po si çõ es no MoMA de N. York e no SFMO MA, em

São Fran cis co. Seus pro je tos mais re cen tes in clu em o cen -

tro de estudantes da Universidade de Karlsruhe, na Alemanha,

e a reconstrução da Plaza de la Encarnacion, em Sevilha, Es-

panha. Já deu aulas em inúmeras faculdades norte-americanas,


Aci ma, imagem da capa, insta la ção “Hou se war ming”, de
Jurgen Ma yer, na mostra MyHo me, em car taz no Mu seu como Princeton, University of Arts e Harvard. Atualmente leci-
Vitra. Ao fundo, o es pa ço “Ro bo Li ving”, cria do pelo ar -
quite to Greg Lynn ona na Metropolis University, em Barcelona.

Peter Bennetts
Pela interessante combinação de formações

em filosofia e arquitetura, Greg Lynn sem-

pre esteve envolvido em reunir as realida-

des do design e da construção com o lado

especulativo, teórico e experimental. Essas áreas se comple-

mentam de uma forma única, dando-lhe uma visão ampla dos

projetos em que participa. Ele é autor de seis livros que envol-


Aci ma, “Heat Seat”, chai se-lon gue de Jurgen Ma yer, um
vem seu interesse na cultura contemporânea e popular, com os
ob je to cuja su per fí cie é sen sí vel à tem pe ra tu ra; pro du -
zi do pela Ar chi lab, per ten ce à co le ção do SFMOMA, de ri go res da ar qui te tu ra e his tó ria, como “In tri cacy” (2003)
São Fran cis co. À di rei ta, ca dei ra Ravi o li, de Greg Lynn,
presente no es pa ço “Ro bo Li ving” e lan ça mento da Vi- “Ani mate Form” (1998), “Folds, Bodies and Blobs: Collected
tra no Sa lão do Mó vel de Mi lão de 2007
Essays” (1998), “Folding in Architecture” (1993). Greg

leciona nas escolas norte-americanas UCLA,

em Los Angeles, e em Yale, e acredita que


ann
Eggim

ser professor o mantém sempre criativo e


Marc

ligado às novas tendências.


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ARC DESIGN
Tom Dixon, Campana, Hella Jongerius, Jurgen Bey, Greg Lynn, Jurgen Mayer, Jerszy Sey-

mour, Ronan & Erwan Bouroullec, Guto Indio da Costa, Marcelo Moletta, Fred Mafra, Ro-

naldo Shinohara, José Ricardo Basiches, Elizabeth Diller, Ricardo Scofidio, Charles Renfro,

Matthias Aron, Simon Heijdens, Jeroen e Joep Verhoeven, Xavier Lust, Lambert Kamps, Ani-

ka Perez, Brice Genre, Michaël Bihain, Cédric Callewaert, todos arquitetos e designers pre-

sentes nesta edição de ARC DESIGN.

Arquitetura, interiores, sustentabilidade, ecologia, design conceitual, novos produtos, mos-

tras e concursos. O design não fala, necessariamente, de frivolidades. Muito pelo contrário.

O livro “&Fork” publica, entre produtos de todo o mundo, um número considerável de pro-

jetos sobre design urbano. O que vemos? O desejo de humanização das cidades – idéias

simples ou mais elaboradas, que nos fazem sorrir, ou refletir.

De sign Con cei tu al. Aque le que vai além do ex pe ri men tal, que pro cu ra um sen ti do e um

significado para a criação presente e futura. A mostra “MyHouse”, no Museu Vitra, responde

a questões muitas vezes ainda não formuladas, mas já latentes em nossas preocupações.

“Transplastic”, dos irmãos Campana, é também território de pesquisa – e de surpresa –

na criação de um corajoso universo híbrido.

O design considerado na vanguarda nos mostra hoje – bem além da forma – a conquista de

novos significados, e de valores ampliados pela ausência de pré-conceitos. O design brasi-

leiro influencia a Europa, a fusão do industrial com o artesanal cria outras possibilidades,

e é a emergência de propostas para melhor qualidade de vida que está na base da criação.

Os Cadernos de Arquitetura estão de volta à ARC DESIGN, com projetistas brasileiros e

internacionais e uma resenha de notícias da atualidade e de projetos futuros.

Um novo assunto, vital, passa também a fazer parte da pauta de ARC DESIGN – a susten-

tabilidade. Nesta edição, a cidade sustentável e os selos ambientais que permitem orien-

tar nosso consumo.

Reportagens sobre interiores, produtos, lojas fora do Brasil, a seção Loucos por Design deixam

entrever que, se o design não necessita ser frívolo, um pouco de frescor também é salutar.

A escolha é possível. Boa leitura!


Maria Helena Estrada
Editora
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DE SIGN UR BA NO: NO VOS HO RI ZON TES

TECNOLÓGICOS E CON CEI TU AIS

SALÃO DESIGN CASA BRASIL

TO TENS SEM TA BUS


Maria Helena Estrada

Maria Helena Estrada


Maria Helena Estrada
Daniel Paronetto

10 16 20 24

Exemplos publicados no livro &Fork, Na mostra “MyHome – Sete Experiências A primeira edição da CASA BRASIL apre- As mais recentes incursões dos ir-
como uma árvore feita de luz proje- para a Vida Contemporânea”, em cartaz senta o Salão Design. Entre os premia- mãos Campana, na Europa: a Vitória
tada na fachada de um edifício, e o no Vitra Design Museum – projeto de dos do concurso: sistema Carrapixo, do Régia em tamanho gigante junto a
resultado de um concurso na Bélgi- Frank Gehry –, há um entrelaçar de cami- escritório Indio da Costa Design; torneira uma instalação em bambu, nos jar-
ca, com peças instaladas em um jar- nhos entre o high e o low tech, na criação Lumina, de Juliesse Gamba e Daniel Jor- dins do Victoria & Albert Museum; e a
dim de Bruxelas, mostram a impor- de instalações puramente conceituais. ge Tasca; e luminária PET (foto acima), coleção Transplastic na Galeria Albion,
tância e o desejo de humanização Bouroullec, Campana, Seymour, Lynn, de Leandro Feliciano situada em um prédio do arquiteto
nos equipamentos públicos Jongerius, Bey, Mayer e Arnio Norman Foster. Ambas em Londres

NEWS 4

REVISTA DE DESIGN ARQUITETURA SUSTENTABILIDADE INOVAÇÃO


ENTREVISTA: MARCELO MOLETTA 32

nº 55, setembro 2007 107, RUE DE RIVOLI, PARIS 40


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CA DER NO DE AR QUI TE TU RA

CADERNO SUSTENTAÇÃO
PER CEP ÇÃO APU RA DA
RADIOGRAFIA DE UM PROJETO
TOM DI XON
Daniel Paronetto

Mariana Lacerda
Winnie Bastian
Ana Sant’Anna

28 36 45 65

Conheça Tom Dixon e suas idéias Uma casa noturna em Belo Horizonte, a O novo Caderno de Arquitetura traz pro- ARC DESIGN terá como pauta perma-
sobre design. Na mais nova coleção, Roxy, projeto do arquiteto Fred Mafra, jetos brasileiros e internacionais e as nente a sustentabilidade, em todas
predomina o uso do cobre, alumínio, tem fachada minimalista em contraste últimas notícias do setor. Conheçam o as suas áreas de abrangência. Nesta
aço inox, bronze e aço galvanizado, com o interior, onde a iluminação cênica Institute of Contemporary Arts (ICA), em edição: cidades sustentáveis, crité-
em uma grande diversidade de pro- e as formas orgânicas acentuadas pelo Boston, e uma casa no litoral paulista, rios básicos na escolha de materiais
cessos de fabricação, da velha fun- uso da resina de poliuretano eliminam os projeto do arquiteto José Ricardo Basi- para uma construção saudável e en-
dição até o trabalho de habilidosos limites entre a arquitetura e o mobiliário ches. Panorâmica, uma nova seção, traz trevista com Vanderley John. E mais
artesãos hindus atualidades sobre o que existe e o que seção de notas e resenha de livro
está por “ganhar corpo” na arquitetura

A ECOLOGIA COMO CONCEITO 42 COMO ENCONTRAR (ENDEREÇOS) 64

LOUCOS POR DESIGN: MARIA HELENA CABRAL 62 ENGLISH VERSION www.arcdesign.com.br


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DESIGN EXCELLENCE BRAZIL


O Design Excellence, que tem encaminhado proje-
tos brasileiros ao Prêmio IF, muda sua estrutura.
Por iniciativa da APEX-Brasil, em parceria com o Mi-
nistério do Desenvolvimento, Indústria e Co-
mércio Exterior, o Design Excellence Brazil
tem o objetivo de promover o reconhecimento
internacional do design de produtos e servi-
ços desenvolvidos no país. Sua organização passa a ser reali-
zada pelo Centro de Design Paraná. Nesta primeira edição
inscreveu produtos brasileiros no IF Design Award, prêmio
alemão de maior relevância no mercado europeu, e no IDEA,
EXPOSIÇÃO ABRE EVENTO NO SENAC
importante premiação norte-americana de desenho industri-
A mostra Amor Líquido – Laboratório de Desenho Experimental com
al. As categorias premiáveis são: áudio/vídeo, telecomunica-
Descartes abre a 3ª edição do evento Design Essencial 2007. A insta-
ções, computadores, iluminação, mobiliário/casa, utensílios
lação no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, é composta por pe-
domésticos, estilo de vida/lazer, construção e indústria, me-
ças criadas pelos alunos do Senac São Paulo, com orientação do desig-
dicina e cuidados com a saúde, escritório/negócios, design
ner Alejandro Sarmiento e da jornalista especializada em design Lujan
público/design de interiores, transporte, estudos avança-
Cambarieri, de Buenos Aires. Realizada pelo laboratório de desenho
dos, embalagens. www.designbrazil.org.br
experimental com descartes Satorilab, em parceria com a Natura, a
exposição fica aberta de 25 de setembro a 14 de outubro. O tema: o
descarte presente no universo de objetos em que estamos imersos e
nas relações humanas. www.mcb.sp.gov.br, www.sp.senac.br
TRÊS FACES DE UM SOFÁ
Sofá com braços largos,
6º PRÊMIO MAX FEFFER
apoios móveis ou pu-
Com o objetivo de reconhecer o talento
fes acoplados? Todas as
de profissionais que agregam valor ao
alternativas estão corretas. O modelo Cê – inspirado
papel e destacar trabalhos desenvolvi-
na forma da letra – apresenta várias faces. Tem assento e en-
dos em Reciclato, papelcartão Supremo
costo com medidas variáveis (1,60 m ou 1,90 m, para o sofá
Duo Design e Supremo Alta Alvura, a Su-
de dois lugares; e 2,20 m ou 2,40 m para a versão de três lu-
zano Papel e Celulose criou o Prêmio Max
gares) e laterais (54 cm x 60 cm) que, estruturadas sobre ro-
Feffer de Design Gráfico. A novidade do
dízios, se movimentam conforme a necessidade do usuário:
ano é a categoria Estudantes, que concor-
de simples braços a apoios para bandejas ou pufes.
re a um Macintosh, um tablet e um equipamento fotográfico. Os três
Produzido pela Nada se Leva, www.nadaseleva.com.br, está à
primeiros colocados de cada uma das outras quatro categorias (Em-
venda em diversas lojas do país. Entre elas: Brentwood, Al. Ga-
balagem, Promocional, Editorial e Miscelânea) e as respectivas grá-
briel Monteiro da Silva, 1.130, São Paulo, SP, tel. (11) 3082-
ficas receberão prêmios em dinheiro. Já o autor da Peça Destaque
8577; e Emily Interiores, Av. Getúlio Vargas, 757, Cuiabá, MT,
ganhará uma viagem internacional. Ao todo serão premiados os 15
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melhores produtos inscritos, e a Peça Destaque.
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INDIRETA E DIRETA: LUZ


Vencedora dos mais importantes concursos nacionais e internacio-
nais de design, só neste ano a luminária Bossa recebeu os prêmios
máximos no IF (IF Gold Award) e no Red Dot Design Award (Best of
the Best), ambos na Alemanha, além do Good Design Awards nos Es-
tados Unidos. Assinada pelo designer Fernando Prado, a luminária em
alumínio permite o controle de intensidade e o tipo de efeito de luz
por meio da movimentação do seu refletor. "À medida que o usuário
move a peça para cima e para baixo, sua luz é alterada de direta para
indireta, tornando assim a luminária mais versátil e seu desenho di-
ferenciado", diz o designer. Pendente e própria para lâmpada incan-
descente de até 150W ou halógena tipo Halolux até 150W, possui
controle de ofuscamento através de um anteparo posicionado na sua
TAPETE VERSÁTIL
Um novo produto da Resinfloor foi lançado no Espaço da FIESP
parte inferior. Nas versões pequena (34 cm de diâmetro) e grande
durante o Prêmio Top Design XXI, promovido por ARC DESIGN,
(50 cm de diâmetro), seu acabamento é texturizado, em branco ou
com três tapetes de 9 m x 3 m, fundo vermelho, cores vibran-
preto, e também titânio. À venda na Lumini, Al. Gabriel Monteiro da
tes e forma irregular, compondo o ambiente da exposição.
Silva, 1.441, tel. (11) 3898-0222, www.lumini.com.br
O produto, executado pela Resinfloor, com desenho de Fer-
nando Siena, foi desenvolvido em resina de poliuretano flexí-
vel podendo ter seu tamanho, desenho e formato conforme
especificação do cliente. Possui ainda proteção UV, impedin-
do o desbotamento, possibilitando sua utilização em áreas
de grande intensidade de luz solar. Os tapetes Resinfloor pro-
porcionam inúmeras possibilidades de customização, uma
Nelson Kon

idéia nova, que permite versatilidade na decoração das casas


contemporâneas. Tel. (11) 3666-9629, www.resinfloor.com.br

MÁQUINA + GENTE TECNOLOGIA A TODA A PROVA


Base produzida industrialmente, em larga escala, e assento e en- O suporte para TV e monitores é mais um dos tantos acessó-
costo feitos manualmente, um a um. A cadeira Flórida, criação do rios criados para as camas Auping. O fabricante holandês de-
designer Estevão Toledo, foi concebida justamente com a intenção senvolveu um sistema próprio para acomodar telas planas –
de unir as vantagens da produção em escala industrial à artesanal. LCD ou plasma – de até 17 polegadas. Encaixado à base me-
Ou seja, segundo o designer: "Agilidade na fabri- tálica da cama, o suporte de aço com pintura de alumínio
cação e linguagem diferenciada no desenho". anodizado gira para a esquerda e para a direita em 110 graus
Fabricada em eucalipto certificado pelo Forest e ainda pode ser inclinado para cima e para baixo em 20
Stewardship Council (FSC), a Flórida guarda graus para melhor ajuste da posi-
outra característica importante: foi inspirada ção. Aguenta no máximo 15
nas bolachas-do-mar. Seu assento e encosto kg. A versão com pés se
têm furos cavados à mão. adapta a outros tipos
Tel. (11) 6694-2404. de cama. Collectania:
www.collectania.com.br
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acabar com o tempo.

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LEITURA ILUSTRADA DESIGN NO BANHO


Três títulos acabam de ser lançados. Desenho italiano e fabricação brasi-
“Interiores – Lojas e Restaurantes”, leira dão forma à ducha Quadro, lan-
da Viana & Mosley, tem texto do ar- çamento da Altero. A peça (21 cm x
quiteto e designer Ivan Rezende e 21 cm) permite instalações mono-
obras dos mais importantes arquite- comando ou com dois registros e
tos brasileiros. Entre eles: Paulo Men- tem acabamento cromado. Um trata-
des da Rocha, Isay Weinfeld, Marcio mento anticalcário, em seu interior –
Kogan, David Bastos, Esther Giobbi e Sergio Rodrigues. Já “O uma borracha que evita o entupimento da saída de água – mantém o
Livro e o Designer II – Como Criar e Produzir Livros” e “Lingua- jato sempre uniforme. Garantia de 12 anos.
gens do Design: Compreendendo o Design Gráfico”, ambos da À venda na Altero, tel. (51) 3559-1000, www.altero.com.br
Edições Rosari, abordam o projeto gráfico. No primeiro, o au-
tor Andrew Haslam tirou par- CURSOS DE FORMAÇÃO AVANÇADA
tido de ilustrações, fotografi- A instituição de ensino internacional Istituto Europeo di Design
as e diagramas para condu- (IED) abre inscrições para os seus cursos máster de formação
zir o leitor por todas as eta- avançada. Para graduados e profissionais que buscam aprimoramen-
pas que envolvem o design to e atualização, os cursos têm duração de 15 meses e carga horária
de livros: da interpretação de de 360 horas. As aulas são das 19h às 22h. Algumas das opções no
um briefing de projeto à segmento: Design Estratégico, Interior Design e Industrial Design.
construção de grades, pas- Há também cursos relacionados à moda, além dos que abordam a
sando pelo design de capas comunicação visual, como o Design Editorial: Gestão e Direção de
e pela compreensão do processo de produção, incluindo re- Arte e o Graphic Design. Tel. (11) 3660-8000, www.iedbrasil.com.br
produção, impressão e encadernação. Na obra “Linguagens
do Design: Compreendendo o
LUIS CALAZANS LUZ
Design Gráfico”, Steven Heller
Excelente fotógrafo, amigo, colaborador.
preferiu examinar uma grande
Suas fotos contribuíram para o sucesso de
variedade de objetos clássicos e
ARC DESIGN desde as primeiras edições da
contemporâneos em todo o tipo
revista. Destacou-se, sempre, por seu ca-
de mídia, enfocando seu signifi-
ráter e talento impecáveis.
cado em contextos históricos
Em sua homenagem reproduzimos a úl-
mais amplos – tanto do design
tima capa fotografada para nós.
gráfico quanto da cultura popular –, em vez de apenas reali-
zar estudos de casos convencionais. Viana & Mosley Editora:
tel. (21) 2111-9206, vmeditora@globo.com; Edições Rosari:
ERRATA
Na edição 54 de ARC DESIGN, divulgamos, na seção News, uma nota
tel. (11) 5063-2467.
sobre o Prêmio Tok & Stok de Design Universitário. Ao contrário do
www.rosari.com.br, vendas@rosari.com.br
que publicamos no título da nota, o prêmio não está em sua 20ª edi-
ção e sim em sua 2ª.

Diferentemente do que publicamos na seção News da última edição,


o telefone de contato da designer brasiliense Flavia Amadeu – que
assina a coleção “Jóias Orgânicas” – é (61) 8453-7490.
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7087-design urbano final:7087-design urbano final 9/14/07 9:19 AM Page 2

DESIGN URBANO: NOVOS HORIZONTES


www.phaidon.com
Para que serve o design urbano?

Conforto, beleza, soluções ambien-

tais, poesia, humanização, segu-

rança, emoção. Publicamos duas

abor da gens do tema: pro du tos

apresentados no livro &Fork, com designers de diver-

sas partes do mundo; projetos para um concurso em

Bruxelas. Nos dois casos, vemos surgir o design con-

ceitual, utópico ou não, que se move no mundo das

idéias, ou da intenção
Daniel Paronetto

© Matthias Aron Megyeri

Aci ma, um dos pro du tos da li nha Swe et Dre ams Se cu rity™ pro je to de Mat thias Aron,
Lon dres. Uma in ves ti ga ção a res pei to da pa ra nóia em re la ção à se gu ran ça e sua re -
la ção com a mo ti va ção do con su mi dor
10
ARC DESIGN
7087-design urbano final:7087-design urbano final 9/14/07 9:19 AM Page 3

Nesta página, trabalho de Simon Heijdens, usa projeções de luz,


som e animação para interagir com o movimento da rua. Uma fo-
lha da árvore “cai” a cada pedestre que passa e as folhas, tam-
bém projetadas, se movem de acordo com o som. No detalhe, pro-
jeção de uma planta dentro de casa: sua vida é recriada e “cres-
ce” em direção ao sol, obedecendo aos movimentos da natureza
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Raoul Kramer e Bas Helbers


Aci ma, pro je to dos gê me os ho lan de ses Je ro en e Joep Ve rho e ven que Dizem que todo italiano é artista porque desde bem pe-
transforma um produto de utilidade urbana em um objeto de beleza. Abai-
quenos, ainda no carrinho, tudo que vêem em volta, na
xo, projeto Banc-vélo de Xavier Lust produzido com uma placa de aço que,
ao ser dobrada, toma a forma final aproveitando ao máximo seu material. rua, nas praças, é bonito. Essa talvez seja uma das fun-
Na página ao lado, pon te in flá vel de Lam bert Kamps, Ho lan da, brin - ções – e a mais simples – do design urbano: tornar a ci-
ca com as sen sa çõ es dos usu á ri os ao pro je tar um pro du to fun ci o nal,
dade bonita. No entanto, seu desafio é outro: é o de
fa cil men te fi xá vel, e que tam bém de sa fia a co ra gem
moldar um espaço físico pesquisando as necessidades
do local e de quem o utiliza, imaginando como as pes-
soas vão interagir com os equipamentos, trazendo so-
luções para problemas ambientais, de trânsito, de segu-
rança, estéticos, ou outros. Essa é uma área bastante
abrangente e complexa do design, que pode ir desde a
concepção do traçado de uma cidade inteira, como
Washington, Canberra e, mais próximo de nós, Brasí-
lia, até a produção de móveis ou equipamento para
espaços públicos.
Hoje, os grandes desafios dizem respeito ao retorno
à humanização das cidades, tornando-as sus-
tentáveis e, ainda, com projetos que facilitem
a vida e aliem um “toque artístico”, ou emo-
cional. Chama a atenção, nos exemplos encontrados em
12 Elixir Sprl
ARC DESIGN
7087-design urbano final:7087-design urbano final 9/14/07 9:19 AM Page 5

&Fork, a unanimidade de soluções de caráter subjetivo.


O design conceitual torna-se importante por lançar
uma luz sobre futuros caminhos do design. É a tentati-
va de alguns profissionais empenhados em criar solu-
ções, mesmo ainda utópicas no momento, de resgatar
e de propor respostas para problemas emergentes ou,
muitas vezes, cruciais.
Um ótimo exemplo é o projeto Tree, do holandês Simon
Heijdens, que trabalha com luz e som para interagir com
os habitantes. Consiste em projetar uma árvore na fa-
chada de um edifício e, a cada pessoa que passa, deixar
cair uma folha, o que dá início a um balé de folhas pro-
jetadas no chão e sons de vento vindos de alto-falantes,
escondidos, e devidamente posicionados. Além da bele-
za, o projeto tem a função de iluminar as ruas da cidade.
Neste caso, a foto é da mostra em uma rua de Milão.
A agressividade evidente no desenho de grades e cer-
cas de segurança também é minimizada por respostas
simples e divertidas, como nos projetos publicados
em &Fork.
13
ARC DESIGN
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Nesta página, pro du tos con ce bi dos para o con cur so Parck de sign em Bru xe las. Aci ma, Dé jeu ner sur l’om bre, de Ani ka Pe rez e Bri ce Gen re, Fran ça,
uma in ter pre ta ção da na tu re za re cri a da. Abai xo, On di ne, pro je to de Mi chaël Bi hain e Cé dric Cal le waert, Bélgi ca, com três mó du los idên ti cos que,
ao se en cai xarem, for mam uma uni da de de des can so

Muitas vezes ainda empírica, quando se trata de resolver


os grandes problemas das cidades, a temática do design
urbano tem promovido concursos com temas dos mais
variados: economia energética, racionalização da água,
projetos de espaços públicos e, ilustrados aqui, os equi-
pamentos para um parque em Bruxelas.
O design urbano ultrapassa as próprias fronteiras
quando atua com recursos da informática. Já existe
um projeto em andamento na Irlanda de equipar uma
cidade inteira com uma rede wireless pública, possibi-
litando o acesso à internet em qualquer local. Outro
exemplo fala de uma cidade na Coréia chamada New
Songdo City. Este projeto é chamado U-Life e pretende
testar novas tecnologias, como nas moradias para pes-
soas idosas, onde um chão com sensores de pressão
detecta qualquer acidente doméstico enviando um
alerta para uma central de atendimento. O projeto da
U-Life visa identificar como as pessoas gostam e pre-
tendem se relacionar com as altíssimas tecnologias
existentes hoje. ❉
14
ARC DESIGN
7087-vitra final:7087-vitra final 8/25/07 8:37 AM Page 2

TECNOLÓGICOS E CONCEITUAIS
Agu çar nos sos sen ti dos. Esta é a pri mei ra im pres são trans mi ti -

da pe las ins ta la çõ es pro je ta das para a mos tra “MyHo me – Sete

Ex pe ri ên ci as para a Vida Con tem po râ nea”, em car taz no Vi tra

De sign Mu seum.

Jur gen Bey, ir mãos Bou roul lec, Hel la Jon ge ri us, Greg Lynn, Jur -

gen Ma yer, Jerszy Sey mour e os ir mãos Cam pa na, com pro je tos

pu ra men te con cei tu ais, apre sen tam as idéi as que nor tei am suas

es tra té gias de cri a ção: ino va çõ es tec no ló gi cas, co res e tex tu ras

em evi dên cia, ma te ri ais já co nhe ci dos uti li za dos de ma nei ra não-

usu al e o de sen vol vi men to de in te ri o res mó veis. De sign, arte e

ar qui te tu ra, ago ra sem fron tei ras


Maria Helena Estrada / Fotos Thomas Dix
16
ARC DESIGN
7087-vitra final:7087-vitra final 8/25/07 8:37 AM Page 3

Na pá gi na ao lado, fa cha da e en tra da do Mu seu Vi tra du ran te a mos tra


“MyHo me”, com ins ta la ção de Fer nan do e Hum ber to Cam pa na em rá -
fia. Aci ma, es pa ço do ar qui te to Greg Lynn com pol tro nas Ra vi ó li, lu mi -
ná ri as Nu mi nous Flo wers e mais uma im pres so ra pro gra ma da para
pro du zir mu ta çõ es em vo lu mes ar qui te tô ni cos. Abai xo, a co le ção de
“mons tri nhos” do ar qui te to e o robô aspirador de pó

Desde a fachada, com a instalação em fibra de ráfia,


que se estende até o hall de entrada, os irmãos Campa-
na dessacralizam o rigor da arquitetura de Frank
Gehry, autor do projeto do Museu Vitra, situado em
Weil am Rhein, Alemanha, e nos preparam para esse
espetáculo de sensibilidade e tecnologia.
Nos espaços internos, mais seis instalações, a começar
por Jurgen Bey (Holanda), com “Ferramentas para um
Escritório em Casa”, uma sala desmontável, cons-
truída em pele sintética semelhante ao papel.
Nela, um local de trabalho simula uma cabana
e, como uma plataforma, permite o isolamento.
Esse conceito de reclusão, de autoproteção, já
havia inspirado a poltrona Earchair, de Bey,
com suas “orelhas”, agigantadas.
Outro tema abordado na mostra é a sensorialida-
de, que vemos na instalação “Inside Colours”, do
Jongeriuslab (Holanda), criadores de uma palheta
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ARC DESIGN
7087-vitra final:7087-vitra final 8/25/07 8:38 AM Page 4

Aci ma, ins ta la ção de Jur gen Ma yer, cujo de se nho de piso e pa re des
se gue o des cons tru ti vis mo de Frank Gehry com pin tu ra ter mossen si -
ti va e o uso da cor e da mí dia ele trô ni ca para cri ar dis tin tas áre as es -
pa ci ais. Abai xo, do es tú dio Mak kink e Bey, par te de sua pes qui sa que
ex plo ra as con di çõ es de tra ba lho no es cri tó rio atu al

tridimensional de cores e texturas com os tecidos da


coleção Vitra. Neste cenário há ainda a versão em mi-
niatura da cadeira Pastilli, de Eero Arnio, em 100 dife-
rentes tons. A intenção do trabalho de Hella Jongerius
não é o de estimular o uso de mais cores, mas de um
consumo mais consciente da cor.
Ainda no terreno da pesquisa com a cor e a forma, Jur-
gen Mayer (Berlim) criou a instalação “Housewarming”,
na qual se inspira no desconstrutivismo de Frank
Gehry. O espaço, pintado com tinta termossensível,
permite deixar traços da passagem dos visitantes. E
uma corrente elétrica, aplicada com intervalos, faz com
que as cores desapareçam pouco a pouco, quando a
temperatura esfria ao máximo. Ao fundo deste espaço,
o arquiteto norte-americano Greg Lynn (Los Angeles)
criou o “Robot Living”, uma habitação para seres robó-
ticos. Da idéia à execução, vê-se o pioneirismo de Lynn,
já observado em sua arquitetura. Neste espaço, de ins-
piração na cultura Pop, ele coloca personagens de sua
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ARC DESIGN
7087-vitra final:7087-vitra final 8/25/07 8:38 AM Page 5

Aci ma, do Jon ge ri us lab, te ci dos em di fe ren tes co res, nu an ces e tex tu -
ras são fo to gra fa dos em seu cons tan te mo vi men to, o que ser vi rá co mo
base para o desenvol vi mento de uma nova gama de co res para a Vitra.
Abai xo, ca dei ra em plás ti co bi o de gra dá vel pro du zi da a par tir de ba ta tas
e re a li za da com mol des pri mi ti vos em sua pró pria casa. Mé to dos pré-in -
dus tri ais e ins tru men tos rús ti cos pro pi ci am a au to no mia do pro je to

coleção particular como alienígenas, dinossauros, figu-


ras japonesas e pequenos aspiradores de pó robotiza-
dos, que passeiam pelo espaço. A poltrona Ravióli, par-
tiu de um quadrado em três dimensões, no qual a par-
te superior foi moldada para formar um encosto e, da
inferior, extraíram-se os quatro pés. A luminária Numi-
nous Flowers, assim como a poltrona, utilizou o pro-
cesso CNC e foi produzida em fibra de vidro.
Os irmãos franceses Ronan e Erwan Bouroullec explo-
ram as qualidades acústicas e táteis do espaço em sua
“Stitch Room”, com paredes modulares em tecido.
O designer canadense Jerszy Seymour alugou uma
sala vazia em Berlim, cidade onde nasceu e agora vive
e, durante semanas, mobiliou e equipou o espaço com
objetos feitos por ele em plástico biodegradável. Primei-
ro usou apenas batatas e moldes abertos feitos de areia
e barro para experimentar uma vida auto-suficiente e
autônoma. Para a mostra “MyHome”, o laboratório foi
totalmente transferido para a sede do museu. ❉
19
ARC DESIGN
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SALÃO DESIGN
CASA BRASIL
A pri mei ra edi ção da fei ra CASA BRA SIL apre sen tou o seu Sa lão De sign,

um con cur so que inclui toda a Amé ri ca La ti na. Her dei ro do su ces so do

Sa lão De sign Mo vel sul, tam bém pro mo vi do pelo Sind mó veis de Ben to

Gon çal ves, o Sa lão De sign, uma das mos tras da CASA BRA SIL, ino va

na va ri e da de de ti po lo gias que abran ge do mo bi -

li á rio e lu mi ná rias aos aces só ri os para ba nhei ros e

co zi nhas, e todo o uni ver so da casa


Maria Helena Estrada

Aci ma, Lu mi na, 1° lu gar na ca te go ria In dús tria: duas pe que nas
tur bi nas na par te in ter na da tor nei ra fun ci o nam com a for ça da
água e acionam os leds que a iluminam nas cores azul, vermelha
ou lilás. Design Juliesse Gamba e Daniel Jorge Tasca. Produção:
Me ta lúr gi ca Me ber Ltda., Ben to Gon çal ves, RS. Abai xo, 2° co lo -
ca do na mo da li da de Pro fis si o nal, Fo gão Du plo For no. De sign
Ju lio E. Ber to la, Elec tro lux do Bra sil, Curitiba, PR
Leandro Feliciano

Aci ma, 2° lu gar da ca te go ria Es tu dan te, Lu mi ná ria Lu mi nous


PET: ar te sa nal, uti li za so bras de gar ra fas PET re cor ta das,
do bra das e en cai xa das. De sign Le an dro da Sil va Fe li ci a no;
Fun da ção Uni ver si da de Re gio nal de Blu me nau, SC
20
ARC DESIGN
7087-Salao Design.qxd:7087-Salao Design.qxd 9/12/07 11:26 AM Page 3

Mario Grisolli

Nes ta pá gi na, 1º lu gar do Prê mio Pro fis si o nal, Sis te -


ma Car ra pi xxxo. Pro je ta do a par tir de semi-es fe ras
em alu mí nio in je ta do, pre sas a uma pa re de ou pai nel
e ati ran ta das com cor do a lhas de aço, per mi tem to -
das as con fi gu ra çõ es, de tam pos de mesa a ar má ri os.
Criação Indio da Costa Design, Rio de Ja nei ro

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ARC DESIGN
7087-Salao Design.qxd:7087-Salao Design.qxd 9/12/07 11:27 AM Page 4

Carlos Alberto Ben

À esquerda, Menção Honrosa da categoria Indústria, Sistema de Armários


Evviva. Conceito flexível em móveis planejados, visando nova forma de
projetar e vender modulados: oferecer peças de armários componíveis em
vez do móvel já completo. Design Gustavo Bertolini, José I. Ferro, Diogo
F. Pinheiro e Janir de Bona. Produção: Bertolini S/A, Bento Gonçalves, RS

Os concursos se multiplicam no Brasil e, muitas vezes, momento e da evolução – ou não – em que se encon-
com mais de 1.000 inscrições! Mas apenas alguns apre- tra o design latino-americano. E a conclusão, se avaliar-
sentam diferenciais significativos. Com relação aos mos os resultados com o critério e o rigor – que ao
projetos dos candidatos às premiações, mesmo com menos o design brasileiro já merece –, o conjunto
prêmios nada desprezíveis, o grau de inovação, sempre ainda deixa a desejar. O primeiro prêmio para Profis-
aguardado, continua baixo. Como sempre, exceções, sionais coube a Guto Indio da Costa com o sistema
principalmente entre os profissionais e as empresas. Carrapixxxo. Excelente qualidade projetual e uma per-
Nas categorias para Estudantes, surge uma dúvida: feita engenharia de produção, que só confirma o pres-
será que as escolas estão cumprindo seu papel... ou tígio já alcançado por esse escritório de design. O siste-
foram os estudantes que erraram de carreira? ma é composto por semi-esferas em alumínio injetado,
Neste concurso, uma análise dos projetos premiados fixadas em paredes ou painéis, em intervalos regula-
e das menções honrosas nas categorias Profissional, res, as quais sustentam uma série de módulos, em
Estudante e Indústria nos fornece um panorama do MDF, variando em tipo, formato e cores diversas. Mini-
Carlos Alberto Ben

À es quer da, Car ri nho de Lim pe za Do més ti ca, em ABS. De sign Pa -


trí cia Caseragh, Universidade Tuiuti do Paraná. À direita, Lámpara
Carlos Alberto Ben

Multiuso: em policarbonato, formado por três lâminas que deslizam


quan do pre sas ao teto, mu dan do sua con fi gu ra ção. De sign Is mael
Que sa da Chow, Ins ti tu to Su pe ri or de De se nho, Ma dru ga, Cuba.
Am bos re ce be ram Men çõ es Hon ro sas na mo da li da de Es tu dan te

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ARC DESIGN
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Studioleco

Carlos Alberto Ben


Acima, Menção Honrosa na modalidade Indústria, faqueiro, design Arthur
Casas: desenho minimalista, “inspirado na geometria da cobra jararaca”.
Versões em aço inox e prata. Produção: Riva. Ao lado, Mamma, enorme
luminária, Menção Honrosa na modalidade Profissional. Design Ronaldo
Mafra, Yrurá Garcia Júnior e Eduardo B. Lopes. Iluminar, Nova Lima, MG

malismo formal e matérico, respeito ao meio ambiente. riência utilizando o bambu como elemento estrutural
A primeira colocação para as indústrias coube à Meber, de um rack de trabalho. Projeto de um estudante da
com uma torneira que sinaliza a temperatura da água Universidade Tuiuti do Paraná, contou com apoio e
por meio das cores azul, vermelha ou lilás. Desenvolvi- orientação dos professores – condições essenciais
mento brasileiro de um projeto internacional. Boa pre- para a boa conclusão do projeto. No campo experi-
miação também para a Riva, que investe em design bra- mental, uma peça de artesanato se destacou pelo uso
sileiro e qualidade de produção. do material reciclado, pela facilidade de construção,
O júri reitera a opinião de ARC DESIGN ao afirmar que pode ser realizada por comunidades. A luminária
que “dos estudantes esperava-se mais ousadia, con- PET, projeto de um estudante da Fundação Universi-
ceituação, experimentação: com os materiais e com dade Regional de Blumenau, construída em dobradu-
as próprias idéias. Essa é uma sinalização do júri, ras de PET utilizado em garrafas, é “um produto de
não negativa, mas de desafio”. uma linha que se vê hoje como um dos caminhos que
Dentre as “ousadias” louváveis ressaltamos uma expe- o design está tomando”, afirma o júri. ❉

À es quer da, E-bam bu, Menção Honrosa na categoria Es -


tu dante. Es ta ção de tra ba lho es tru tu ra da por três has -
Carlos Alberto Ben

tes de bam bu. De sign Ever ton Has sel mann, Uni ver si da de
Tu i u ti do Pa ra ná. À di rei ta, Sofá Cine, com as sen to de fu ton.
De sign Mar cus Fer rei ra, 3 COM Co mér cio de Mó veis Ltda.,
São Pau lo. Men ção Hon ro sa na ca te go ria Pro fis si o nal

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ARC DESIGN
7087-Campana Transplastic Final:Campana Transplastic Final 9/14/07 9:26 AM Page 2

TOTENS SEM TABUS


A Vitória Régia em tamanho gigante junto a uma instalação em bam-

bu, nos jardins do Victoria & Albert Museum, que comemora 150
Ed Reeve

anos. A coleção Transplastic apresentada na Galeria Albion, situa-

da em um prédio do arquiteto Norman Foster. São duas das recentes incursões na

Europa dos designers brasileiros Fernando e Humberto Campana


Maria Helena Estrada

Acima, Bi bli o te ca com Ca dei ra, na qual o plás ti co é “en go li do” pelo
vime. À direita, o iní cio da “vi a gem”, ca dei ra Café, uma ca dei ra banal,
em plás ti co, en vol vi da pelo vime. Abai xo, lu mi ná ria Ilha (de piso) e
Me te o ro (de pa re de) nas quais os globos de plás ti co apa re cem como
fon tes de luz

zlo
Las
do
nan
Fe r
Ed Reeve

Transplastic ou, como define


Marco Romanelli (Abitare 467),
“infectar o sintético com próteses naturais”.
Primeiro o “cheiro”, a informação visual e tátil, a fisici-
dade do material. Depois as mãos, o gesto descuidado
de quem procura entender o que diz aquela matéria, do
que ela é capaz, quais transmutações poderão ocorrer.
O processo de criação dessas peças? Como em outros
projetos, aconteceu mais ou menos assim: Humberto
colecionava galões de plástico, à espera de uma idéia
que lhes desse outra utilidade. Havia também a vontade
dos dois irmãos de trabalhar o vime, elemento natural
substituído pelo plástico. Material que se acreditava ter
seu potencial de inovação esgotado. Desse possível acos-
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ARC DESIGN
7087-Campana Transplastic Final:Campana Transplastic Final 9/14/07 9:26 AM Page 3

Ed Reeve

Aci ma, vis ta ge ral da mos tra na Galeria Albion, com di -


ver sas mor fo lo gias da lu mi ná ria Ga lão. À di rei ta, o gran -
de to tem Trans Block, ma ni fes to de um de sign con cei tu al

tamento nascia, no entanto, de forma espontânea, um cadeira, que é envolta na trama


processo de hibridação. E os objetos iam surgindo aos do vime e, camuflada, desapare-
poucos. Sem papel, lápis ou teclas. ce. É o início de um novo universo, ago-
Como conectar os dois materiais? O primeiro produto ra pleno de significados. Embora seja
foi a luminária de galões empilhados e conectados por sempre o resultado de um trançado que se
tramas em vime. Cada galão é furado em uma lateral e avoluma, que transcende os limites da cadei-
por esses furos inicia-se a tecer a malha. ra e também das fontes de luz, Ilhas, Meteoros
Nos anos 1970, 1980, surgiu o vime de plástico e, de- e Nuvens transmitem, como primeiro impacto, a
pois, começaram a ser reproduzidas as velhas cadeiras imagem de uma rocha escavada, ou mesmo de uma
de vime, que hoje saltam como “bolachinhas”, de uma ruína pré-histórica, de paredes corroídas. As cadei-
simples máquina injetora. O plástico engoliu o vime e, ras perdem seu volume, reduzidas a pequenos coad-
agora, pelas mãos de Fernando e Humberto, o vime, li- juvantes de um novo cenário.
teralmente, engole o plástico. Uma vez finalizados os protótipos, toda a coleção é
A coleção começa a se desenvolver a partir de uma só produzida no Brasil, pela Cerello, e, bipartidos, voam
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ARC DESIGN
7087-Campana Transplastic Final:Campana Transplastic Final 9/14/07 9:26 AM Page 4

Fernando Campana
Victoria & Albert Museum, Londres, comemora 150 anos com a Vitória

Luis Calazans Luz


Régia em seu jardim, onde também os irmãos Campana instalaram um
percurso em bambu
V&A images

para Londres, onde são montados. Apenas a “caverni-


nha”, biblioteca autoportante, seguiu inteira.
Todas as luminárias e quase todos os outros mode-
los foram vendidos nos primeiros dias da exposição.
O olhar estrangeiro muitas vezes enxerga melhor e
mais longe!
Design conceitual que, no universo do design europeu,
alarga seu poder e se expressa como território de pes-
quisas, de novos significados, contaminando fronteiras –
é este o terreno onde atua esta dupla brasileira. Sem dis-
cursos, sem alardear bandeiras, criando o novo a partir
do olhar sobre o próprio entorno, do quase nada.
“Cada objeto tem um novo significado, próprio, e é
também o registro de uma época. Se não for assim,
qual o sentido de se fazer uma nova cadeira?”, comen-
tam os irmãos. ❉
26
ARC DESIGN
7087-Tom Dixon ok:Tom Dixon entrevista Final2 9/14/07 9:44 AM Page 2

Músico e motoci-
clista, numa tarde
foi aprender a consertar sua
moto na oficina de solda de um amigo. Bingo!
A maleabilidade do metal despertou-lhe a
alma de designer. Nascido na Tunísia,
Tom Dixon cresceu na Inglaterra, onde
se tor nou um dos íco nes do de sign
mun di al. Visionário do empreendedorismo, ele
acre di ta na pro fis são como fer ra men ta para
me lho ria da so ci e da de, como diz nes ta en tre -
vis ta concedida a ARC DESIGN
Daniel Paronetto
TOM DIXON

n
Brow
28 sley
Hain
ARC DESIGN
7087-Tom Dixon ok:Tom Dixon entrevista Final2 9/14/07 9:44 AM Page 3

Nes ta pá gi na, lu mi ná ri as Beat Lights,


ins pi ra das nos recipientes de trans por -
te de água usa dos so bre a ca be ça pe los
in di a nos e manufaturados na Índia. Na
pá gi na ao lado, aci ma, ou tra pers pec ti -
va das Beat Lights; e abai xo, a S Chair,
um dos pro du tos mais fa mo sos de Tom
Di xon, para Cap pel li ni
7087-Tom Dixon ok:Tom Dixon entrevista Final2 9/14/07 9:44 AM Page 4

ARC DESIGN – Des cre va sua carrei ra des de seu iní cio, onde
estudou e quais foram as habilidades que teve que lapidar antes de
abrir sua empresa de design?
TOM DIXON – Minha carreira de designer começou em torno de
1984 enquanto ainda estava envolvido no ramo da música. Traba-
lhava de noite e passava os dias fazendo objetos para meu pró-
prio divertimento. Esses objetos eram rapidamente vendidos e
desde então eu procuro métodos de produzir, distribuir e criar
novas peças. Tudo o que aprendi até hoje foi no trabalho e vai
muito além do design. Ganhei muito conhecimento em logística,
distribuição, marketing, varejo e, é claro, design e produção.

AD – Qual é a sua vi são glo bal do de sign? Para onde você o vê


cres cer nos pró xi mos anos?
TD – Acre di to que ve re mos uma evo lu ção de nos sa pro fis são
para to das as áre as. Ve re mos o de sign e a pro du ção se tor na -
rem cada vez mais di gi ta li za dos e as pes so as te rão a opor tu -
ni da de de cri ar seus ob je tos em for ma de “mi croin dús tri as”.
Será uma re vo lu ção mu i to pa re ci da com a que hou ve com a
im pres são ca sei ra.

AD – Com a ex pan são do de sign para no vos lu ga res, como Xan gai
e Seul, qual é o im pac to que isso pode ter em futu ras ten dên ci as?
TD – Vejo uma gran de opor tu ni da de para em pre sas de de sign
conquistarem um alcance global. No entanto, também vejo que é
necessário que elas mantenham sua identidade local e pessoal.

AD – Des de a Re vo lu ção In dus tri al, a In gla ter ra sem pre es te ve à


fren te quan do o as sun to é tec no lo gia in dus tri al. Quais são as ca -
rac te rís ti cas que fa zem o de sign britâ ni co “ser bri tâ ni co”?
TD – O de sign bri tâ ni co sem pre foi mu i to di fí cil de se ca te go ri -
zar, tendo em vista sua dimensão internacional. Gosto de vê-lo
Acima, cadeira Wire Chair: com estrutura em aço inox, tem
como algo que se preocupa menos com estilo e pensamentos
como ins pi ra ção um sim ples clips. No topo da pá gi na, as
es cul tu rais Cop per Sha de. Pro du zi das em co bre, elas des - conceituais do que os outros países e que carrega em si um tipo
ta cam o uso di nâ mi co e fle xí vel do ma te ri al de inovação robusta.
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ARC DESIGN
7087-Tom Dixon ok:Tom Dixon entrevista Final2 9/14/07 9:44 AM Page 5

À es quer da, Fresh Fat Bowl, fru tei ra pro du zi da por fios de
plás ti co ex tru da dos, per mi tin do o ma nu seio en quan to
quen te. Pro du tos ex clu si vos e úni cos com um ma te ri al
as so ci a do à pro du ção em lar ga es ca la

AD – O de sign está se tor nan do o pró xi mo gê ne ro cri a ti vo, ul tra -


pas san do em im por tân cia a in dús tria da moda. Você acredi ta que
isto contra diz os valo res que hoje estão re gen do o de sign, como os
cri té ri os da sus ten ta bi li da de?
TD – Eu acredito que esse interesse extra dentro do design tem seu
valor, mas concordo que, no momento, os valores, como tam-
bém os resultados, estão um pouco superficiais. Cabe a nós,
os designers, assumir essa postura de criar soluções
úteis e usar esse lado do glamour para evidenciar
com vigor a necessidade de projetos sustentáveis.

AD – De sig ners são pe nsa do res cri a ti vos e in tu i ti vos. O que, por
de fi ni ção, é um bom desig ner e qual o seu valor para a soci e da de?
TD – Um de sig ner tem que es tar en vol vi do na evo lu ção e me lho -
ria de objetos. Ele traz para a sociedade métodos mais econômicos
Aci ma, as me sas Slab Din ning Ta ble e Low Slab, de ma -
e inteligentes de produção, melhorias nas funções dos objetos deira. Abai xo, sofá Ser pen ti ne: com posto por três módu-
como também no modo de interagir com eles, e sempre busca los per mi te inú me ras con fi gu ra çõ es

cores e formas adequadas.

AD – Em quais pro je tos você está fo ca do atu al men te?


TD – Es tou tra ba lhan do na fei ra lon dri na 100% De sign como
di re tor cri a ti vo e, na Ar tek, o foco está
no con cei to de an ti de sign. Tam bém
es tou en vol vi do no
pro je to de uma
bo a te na co ber tu -
ra de um ar ra nha-céu de
Lon dres e, fi nal men te, de -
di co um tem po para meu apar ta men to, tam -
bém em Lon dres.

AD – No jor nal da fei ra ICFF, N. York, você pro mo veu uma “mi ni -
en tre vis ta” com pro fis si o nais da área e ago ra é a sua chan ce de
res pon der à sua per gun ta: o de sign pode sal var o mun do?
TD – Ele tem que tentar. ❉
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ARC DESIGN
7087-MARCELO MOLLETA:7087-MARCELO MOLLETA 9/14/07 10:09 AM Page 2

ENTREVISTA:
MARCELO MOLETTA
Morador do Leblon, no Rio de Janeiro, e surfista
nas horas vagas. Formado em Desenho Indus-
trial pela PUC, em 2003, Marcelo Moletta
desponta como talento do design nacional com
criações de objetos que, em comum, são por-
táteis, leves e de baixo custo. Não poderia ser
para menos, uma vez que sua principal inspi-
ração vem da observação da vida a seu redor
Mariana Lacerda / Fotos Rudy Hühold

ARC DESIGN – Como nas cem suas idéi as de ob je tos? Como se dá AD – A ca dei ra En ve lo pe tam bém nas ceu de uma neces si da de?
essa inclinação para criar coisas práticas, portáteis? MM – Acho que sim. Todas essas idéias são da época da fa-
MARCELO MOLETTA – Sempre penso no jeito que eu gostaria culdade. No caso da cadeira Envelope, sua construção é bem
que os objetos tivessem. Normalmente, minhas idéias nascem simples, e por isto comecei por ela. É o mesmo processo usa-
a partir das necessidades que tenho. Costumo fazer coisas do para fazer uma caixa de papelão. Vou à fábrica, encomen-
pensando naquilo que eu sinto falta de encontrar no mundo, do o material. Tenho todas as ferramentas, as facas para cor-
geralmente algo que eu gostaria que existisse. Por enquanto, tar. Depois, com a prensa, eu mesmo corto e monto a cadei-
esse tem sido o ponto de partida. Depois, penso no material, ra. Também criei uma cama que pode ser de casal ou de sol-
na viabilidade, no custo. teiro. São duas camas de solteiro, uma em cima da outra,
com um mecanismo que permite que se transformem em
AD – Al gum exem plo? cama de casal. No meio não há batentes: um colchão
MM – A cadeira de fica ao lado do outro, no mesmo nível, sem nenhum ele-
praia. Ela é completa- mento que impeça o conforto. Chama-se cama Sutra.
mente dobrável, a ponto
de caber numa bolsinha, AD – De que forma você acha que essas criações
própria para ser carrega- respondem ao momento atual da sociedade?
da, até mesmo no ônibus ou MM – Acho que toda criação deve
na bicicleta. Chama-se ca- ser um reflexo do seu meio,
deira Carioca. sua cidade, seu tempo. Por
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ARC DESIGN
7087-MARCELO MOLLETA:7087-MARCELO MOLLETA 9/14/07 10:09 AM Page 3

Na página ao lado, embaixo, a pasta e as folhas


de po li propile no (com 2 mm de espessura), em -
ba la gem e pe ças da ca dei ra En ve lo pe. Nesta
página, a En ve lo pe já mon ta da
7087-MARCELO MOLLETA:7087-MARCELO MOLLETA 9/14/07 10:10 AM Page 4

exemplo: um carregador de celular que professor, o Carlos Pogge, muito bom, a


funcione à energia solar. Por que não? fazer esculturas de isopor. Trabalhei também,
Fazê-lo foi quase como uma brincadeira, em 2005, no escritório de design Indústria Nacional.
que inventei para aprender como funcionava a tecnologia e, Desde o ano passado, estou no ateliê do artista plástico e ce-
assim, poder usar de outras formas. Tenho o protótipo, mas nógrafo Ernesto Neto, com quem estou aprendendo muito: tra-
ainda não foi fabricado. É o único projeto meu que precisaria balho com esculturas de tecido, com instalações, salas, a par-
ser vendido para alguma indústria, para sua fabricação. Acho tir dos desenhos, que coloco na escala certa, e os entrego às
ainda que toda a criação reflete a forma como você lida com costureiras. Às vezes também desenho, projeto na parede, faço
o mundo, com as pessoas. moldes. Vejo ainda as questões estruturais, como as peças se-
rão erguidas, colocadas nas salas. O Ernesto Neto, cada vez
AD – Suas cri a çõ es são da época da facul da de? mais, identifica e coloca as pessoas bacanas para fazer as
MM – Sim. Na faculdade, você tem liberdade e tempo disponí- coisas legais.
vel para fazer o que quiser. Se você está trabalhando em um
escritório, de alguma forma está amarrado com as demandas AD – Como se dá essa in ter fa ce entre de sign e arte?
do cliente. MM – É uma ex pe ri ên cia in te res san te, por que ge ral men te
meus trabalhos são simétricos, geométricos, ligados à forma,
AD – E após a fa cul da de, o que foi fa zer? à precisão, enquanto o trabalho do Ernesto Neto é muito or-
MM – Ain da na fa cul da de, co me cei a tra ba lhar com es co las gânico. Isso está me fazendo descobrir que posso chegar a
de samba, na Unidos da Tijuca e um equilíbrio, sem demasiada preocupação com a simetria.
na Mocidade. Eu ajudava um Muito inspirador! ❉

No alto da pá gi na, ca dei ra Ca ri o ca, em alu mí nio e lona, to tal men te do -


brá vel, e a bolsa para trans por tá-la. Ao lado, car re ga dor de ce lu lar
(13,5 cm x 9,5 cm) que fun ci o na a ener gia so lar. Ain da em pro tó ti po,
aguar da uma in dús tria que o pro du za em in je ção de plás ti co

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ARC DESIGN
Project2 8/15/07 2:55 PM Page 1
7087-boate roxy final:7087-boate roxy final 8/25/07 8:29 AM Page 2

RADIOGRAFIA DE UM PROJETO

PERCEPÇÃO APURADA
A bo a te as si na da pelo ar qui te to Fred Ma fra, de Belo Ho ri zon te, guar da con -

cei tos mul ti fa ce ta dos. Par te da ar qui te tu ra, o mo bi li á rio per mi te ao usu á rio

in te ra gir de for ma li vre com o ce ná rio. Já a ilu mi na ção con fe re per cep çõ es

óti cas di fe ren ci a das


Ana Sant’Anna / Fo tos Jo mar Bra gan ça
7087-boate roxy final:7087-boate roxy final 8/25/07 8:29 AM Page 3

Aci ma, à es quer da, a fa cha da exi be lu zes azu is e rosa, quan do a casa no tur na fun ci o na como Roxy. Nos dias em que abre com o nome
Jo se fi ne, as lu zes ficam laranja e roxo. Na se quên cia, a pis ta de dan ça lo ca li za da no piso in fe ri or. Abai xo, a ou tra pis ta, no an dar su -
pe ri or, comporta 200 pes so as e tem o mes mo nú me ro de pon tos de luz
7087-boate roxy final:7087-boate roxy final 8/25/07 8:30 AM Page 4

Múltiplas funções, sentidos aguçados. No cenário cria- teto. Isso graças à resina autonivelante, usada como
do pelo arquiteto Fred Mafra para esta casa noturna, revestimento. O material, além de resistente, confere
em Belo Horizonte, tudo parece mudar, adquirir novas efeito contínuo e sensação tátil agradável. “Queria que
cores e usos a cada instante. A começar pela fachada, os elementos adquirissem um caráter multifuncional e
que tem efeitos de luz rosa e azul às quartas e sextas- os usuários interagissem de forma livre”, explica Fred.
feiras – quando funciona a boate Roxy – e laranja e roxo Outra característica marcante do projeto é a ilumina-
às quintas, sábados e domingos – dias em que fica aber- ção cênica que, programada por meio de um sistema
to o Club Josefine –, todos os elementos arquitetônicos de automação, permite não só modificações nas tonali-
revelam conceitos multifacetados. Na área externa da dades dos revestimentos e mobiliário, mas também
construção, panos de vidro espelhado revestidos por percepções óticas diferenciadas – como piscas-piscas
películas brancas conferem uma expressão minimalista alternados, olas e mais peripécias luminotécnicas. Isso
ao conjunto. Na concepção do arquiteto: “Quase um ocorre não só nas duas pistas de dança, uma no piso
presente para o caos urbano”. Já no interior da casa, inferior, outra no superior, mas também nos dois loun-
com 850 metros quadrados, formas orgânicas e carre- ges, cinco bares e espaços de circulação. Além disso,
gadas de cor – que remetem à década de 1970 – elimi- espalhadas pelos ambientes, gigantescas cúpulas de
nam os limites entre arquitetura e mobiliário. Bancos pergaminho abraçam os pilares de sustentação. “São
assumem ares de janelas, degraus ou até mesmo apoios, todos recursos que transformam o local em espaço de
enquanto balcões se fundem ao piso, às paredes e ao inúmeras percepções”, conclui Fred. ❉

Abai xo, este loun ge exi be pa re des com re si na em to na li da des de ver de, que se fun dem com piso, teto e mo bi li á rio. Bem à es quer da da foto, o
bal cão ar re don da do faz as ve zes de bar. Ao fun do, as se me lha do a uma ja ne la es cu ra, um gran de ni cho es to fa do tem fun ção de as sen to
7087-boate roxy final:7087-boate roxy final 8/25/07 8:30 AM Page 5

Acima, re si na de po li u re ta no au to ni ve lan te (Re sin flo or) uni fi ca ban cos, bal cão, pa re de e teto. Os ni chos, tam bém em linhas or gâ ni cas,
são es to fa dos e, afastados da parede, ficam iluminados. Abaixo, bar de 12 me tros de com pri men to, pis ta de dan ça e loun ge do ba nhei ro
7087-107 rivoli final:107 rivoli final 8/28/07 10:53 AM Page 2

107, RUE DE RIVOLI, PARIS


Uma loja de museu sempre desperta atenção – de quem ama

desbravar o desconhecido ou penetrar no mundo do “cult

de sign”. Na rue de Rivo li, no mes mo pré dio do Mu sée des

Ar ts Dé co ra ti fs, no Lou vre, este es pa ço é im per dí vel. Lá

se encontra uma seleção de objetos de todo o mundo, sem-

pre renovada, escolhida com faro certeiro. Para pinçar do

utilitário ao decorativo, dos livros às jóias – sejam peças de

Thomas Bertrand
alguns mestres do design ou a mais absoluta vanguarda –,

este é o endereço certo

Acima, o escritório Suz, de Osaka, Japão, expõe


na fachada da loja o que é possível fazer com
seus Re:mo Blocks. À esquerda, os simpáticos
animais produzidos pela D-torso, design Yuki
Matsuoka, em papelão

Abai xo, à es quer da, co lar em po li car bo na to, do Ate li er Vers trae ten, Bru xe las. Na se quên cia, lu mi ná ria em pi lhá vel, do es cri tó rio bra si lei ro OVO.
À di rei ta, pra tos e tra ves sas sem or na men tos, Hom broich, re me tem à me mó ria do de sign es can di na vo, ao mi ni ma lis mo e à pra ti ci da de

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ARC DESIGN
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Aci ma, in te ri or da loja 107 Ri vo li, em Pa ris, par te


do Mu sée des Ar ts Dé co ra tifs. Com 300m 2, con -
tém aces só ri os de moda, jo gos, li vros, jói as e ar -
ti gos de de sign. À es quer da, as Skin Bags, de Oli -
www.skinbag.net

vi er Gou let, que, se gun do o de sig ner, re pre sen -


tam uma ex ten são do cor po. De pele sin té ti ca,
“al guns as acham re pul si vas”, diz o au tor, mas
são ca ti van tes

Abaixo, à esquerda, a estante Diamond, edição limitada da arquiteta, designer e cenógrafa Índia Mahdavi. Na sequência, as jóias Octopus, Masako Ban,
feitas de espuma expandida e recortadas a laser. À direita, luminária Lotus, da designer Janne Kyttanen, produzida pelo processo de estereolitografia

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ARC DESIGN
7087-Beraldin Final:Beraldin Final 9/14/07 10:15 AM Page 2

A ECOLOGIA COMO CONCEITO


7087-Beraldin Final:Beraldin Final 9/14/07 10:15 AM Page 3

Antes de o mundo acordar para a necessidade do uso de materiais ecológicos, os irmãos Ari
e Zeco Be ral din inves ti ram na pro du ção sus ten tá vel de te ci dos e re ves ti men tos. Co nhe ça esta
his tória e os acasos e fatores da trajetória do Empório Beraldin

No alto das duas páginas, bichos-da-seda e casulos; seleção manual dos


ca su los que, des fi a dos, dão ori gem ao fio. Por fim, se ca gem do pro du to

Mariana Lacerda
O trabalho excessivo na adolescência nunca deixou ferroviária, iniciaram a produção de fios. Em seguida
Zeco Beraldin estudar. “Não tive tempo”, diz ele. Descen- compraram teares, aprenderam o ofício e começaram
dente de imigrantes vênetos, crescido em terras para- a produzir os primeiros tecidos de seda do Brasil usa-
naenses, Zeco conta que começou cedo trabalhando ao dos na decoração.
lado do pai e do irmão Ari. Produziam tapetes e, mais A necessidade de uma produção ambientalmente cor-
tarde, chegaram a importar sedas que serviam para re- reta era clara para Zeco Beraldin, que já havia inaugu-
vestimento de almofadas, sofás, feitura de cortinas. rado seu Empório. Vieram então os testes com pigmen-
“Até que percebemos que no Brasil não se tinha notícia tos naturais, derivados da semente de urucum, folhas
da produção de tecidos de seda para uso na decoração de índigo, raiz da curcuma e da madeira beneficiada da
da casa.” E lá se vão 20 anos. Foi aí que começou a doce região. Depois, surgiu a possibilidade de produzir tam-
ciranda dos encontros fortuitos que ajudaram a erguer bém tecidos em algodão e lã utilizando processos eco-
o que hoje é conhecido no país como Empório Beraldin. lógicos de extração e beneficiamento de matéria-prima
Guiados pelas circunstâncias e pela convicção de que que resultaram em produtos sustentáveis, os quais ge-
abriam novos espaços na produção brasileira, os ir- ram hoje empregos na região e muita vida aos galpões
mãos Beraldin conheceram, em Americana, no interior antes esquecidos.
paulista, um japonês que criava o bicho-da-seda e pro- O caminho da produção de peças para decoração com o
duzia seus fios. Foi ele quem lhes ensinou tudo sobre uso de ma te ri ais na tu rais, ou com subpro du tos
a criação dos insetos e a produção dos fios. O segun- de ou tras in dús tri as, tem
do passo, diz Zeco, foi comprar então galpões abando- ori en ta do a fi lo so fia do
nados na cidadezinha de Gália, nos arredores de Ame- Em pó rio Be ral -
ricana. Ali, nas antigas instalações de uma extinta via d i n .Sempre

Na página ao lado, se das rús ti cas Sa ran di. Em co res va ri a das, têm lar -
gu ra de 1,4 me tro. À direita, fios tin gi dos com pig men tos na tu rais de -
ri va dos da se men te de uru cum, fo lhas de ín di go, raiz da cur cu ma e da
Cacá Bratke

ma dei ra be ne fi ci a da da re gião de Gá lia, em São Pau lo


7087-Beraldin Final:Beraldin Final 9/14/07 10:15 AM Page 4

Fotos Cacá Bratke


Ao lado, col méia pen den te. Com pos ta por lâ mi nas
trans lú ci das de chi fre mar rom, medem 0,56 cm x
0,31 cm. Abai xo, ca dei ra Ma dra em ma dei ra eba ni -
za da, re ves ti da em cou ro

atento e em busca de novas idéias para seguir neste acreditou-se que ecológica seria apenas a matéria-prima
caminho, Zeco nos conta que conheceu no interior do que não tivesse origem animal. “Não é bem essa a ques-
Rio de Janeiro um artesão que desenvolvia pastilhas tão”. Basta lembrar que o couro sintético, conhecido no
feitas de casca de coco. “Investi no trabalho dele”, diz. mercado como “couro ecológico”, tem na sua produção
Em Alagoas, encontraram a matéria-prima em abun- maquinários e processos não necessariamente genero-
dância: o subproduto da indústria de leite de coco sos ao meio ambiente. E que o couro, o chifre e o osso
que, antes, era destinado ao lixo. são subprodutos da indústria da carne bovina que, se
Depois da casca de coco, veio o beneficiamento do não aproveitados, como faziam nossos antepassados
osso e do chifre, igualmente como resultado de en- para se proteger do frio, vão também parar no lixo.
contro com artesãos. E, ainda, o uso do couro de Graças a essa filosofia pioneira, hoje a Empório Beral-
boi para revestimentos e tapetes. din trabalha com fornecedores e artesãos em várias
Era a possibilidade do uso de novos partes do Brasil. Exporta tecidos para o Egito, Estados
materiais, com tudo isso, geração Unidos, México e França. Resultado de uma história
de trabalho e renda para diversas iniciada há 20 anos e que teve na clareza de visão do
comunidades e centros produtores. casal Zeco e Valéria Beraldin o desenrolar feliz que to-
Por muito tempo, destaca Zeco, dos conhecemos. ❉

Abai xo, à es quer da, al mo fa da Tri ân gu lo em cou ro com cor te a la ser; man ta Car va lho, em seda te ci da em tear manu al. Na se quên cia, tam bo re te em
cro co com efei to me ta li za do e al mo fa das em cou ro tra ba lha do a la ser, com de se nhos ge o mé tri cos

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CADERNO DE ARQUITETURA

Institute of Contemporary Art, Boston


Residência Acapulco, Guarujá

DS+R
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ICA BOS TON

CON DU ZIN DO
O OLHAR
Um convite à contemplação – ora da paisagem,
ora das obras de arte – o Institute of Contem-
porary Art de Boston é o primeiro museu a
ser inaugurado na cidade nos últimos 100
anos. A espera foi recompensada...

Winnie Bastian
Um grande filtro, que orienta a atenção do visitante e di-
rige o seu olhar. Foi dessa forma que os arquitetos Eli-
zabeth Diller, Ricardo Scofidio e Charles Renfro, do es-
critório nova-iorquino Diller Scofidio + Renfro (DS+R),
conceberam a nova sede do Institute of Contemporary
Art (ICA), em Boston.
Com cerca de 20 mil m2 de área construída, o prédio
possui quase 5.500 m2 de galerias, além de um teatro
para 325 lugares, restaurante, livraria, escritórios admi-
nistrativos, midiateca, salas para funções educativas e
um estúdio para a criação de obras de arte digitais.
O desafio era equilibrar os dois objetivos do projeto,
concorrentes e complementares: “Atuar como um edifí-
cio cívico dinâmico, preenchido com atividades públi-
cas e sociais e, ao mesmo tempo, como uma atmosfera
controlada e contemplativa para os indivíduos interagi-
rem com a arte contemporânea”, explicam os arquitetos.
Assim, a opção foi conceber o edifício “público” a partir

À di rei ta, vis ta das fa cha das nor te e les te do ICA. Com ex ce ção das ga -
le ri as, no 4º an dar, o edi fí cio or ga ni za-se em duas par tes dis tin tas: na
ala leste (à esquerda, na mesma foto) se concentram as funções admi nistra-
ti vas e de ser vi ço e; na ala oes te, as ati vi da des vol ta das ao pú bli co.
No tér reo, des ta que para a pra ça for ma da pela ex ten são do pas seio:
co ber ta e em des ní vel, con vi da à per ma nên cia e à con tem pla ção
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Iwan Baan

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Peter Vanderwarker
Ne ga da nas ga le ri as expositivas, a vis ta da ci da de sur ge es can ca ra da
na ga le ria nor te (à esquerda) e no te a tro (no pé da pá gi na ao lado).
A au sên cia de co lu nas nas galerias (no alto da pá gi na ao lado) fle xi -
bi li za o es pa ço, que pode ser di vi di do con for me as ne ces si da des de
cada mostra; a ilu mi na ção ze ni tal pro ve ni en te das cla ra bói as é di -
fun di da por um te ci do es ti ca do que faz as ve zes de for ro

do chão em direção ao alto e o edifício “privado”, do céu


em direção ao solo. Livraria e restaurante ocupam o piso
térreo. Por meio de um grande elevador envidraçado, os
visitantes podem ter acesso a uma sala educativa multi-
uso, no 2º pavimento, ao teatro, no 3º, ou às galerias e à
midiateca, no 4º. As funções de apoio e serviço foram
concentradas na ala leste do edifício (exceção feita ape-
nas ao 4º pavimento, que é ocupado pelas galerias).
O ICA situa-se às margens do Porto de Boston e do
Harborwalk, um passeio costeiro com 75 km de exten-
são (parcialmente concluído) que interligará diversos
bairros da cidade. Conectando o prédio ao espaço urba-
no, o Harborwalk se estende simbolicamente ao novo
edifício e desdobra-se de modo a definir os principais
espaços da nova construção e atuar como o elemento
de conexão entre as áreas públicas e as semipúblicas.
As tábuas que revestem o passeio fluem em direção ao
ICA, dando origem a uma grande praça (coberta pelo
próprio edifício) com arquibancadas que se voltam
para a água. O deck da praça, então, assume um cará-
ter maleável, curvando-se e “escalando” o edifício para
formar o piso do palco, que se eleva diagonalmente
para suportar os assentos do teatro, curva-se a 90
graus para se transformar em parede, e novamente se
dobra para criar o piso das galerias do 4º pavimento.
Iwan Baan
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Iwan Baan
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Iwan Baan

Aci ma, vis ta da fa cha da les te: a ilu mi na ção des ta ca as ga le ri as, pon to fo cal do edi fí cio, que flu tu am so bre a pra ça e o por to. Abai xo, cor te evi den -
cia a “fita” que se de sen ro la con ti nu a men te pelo edi fí cio a par tir da pra ça em des ní vel, dan do ori gem ao te a tro e, pos te ri or men te, às ga le ri as

As galerias são o foco principal do ICA, a forma do edi-


fício foi definida em função delas. Como o desejo da
direção do museu era de que, para garantir flexibilida-
de máxima de uso, o espaço expositivo ocupasse um
9 8 único andar, os arquitetos retraíram a planta do edifí-
10 7 cio ao nível do solo na fachada norte, voltada para o
6
porto, e ampliaram a planta do 4º pavimento na mes-
5
4
ma direção. O resultado é uma caixa translúcida, que,
3 2 1
graças a um balanço de quase 25 metros, flutua de for-
ma dramática sobre o Harborwalk em direção à água.
Livre de colunas e com pé-direito de 4,8 metros, o
espaço expositivo se divide em duas galerias (leste e
oeste), conectadas por uma longa passagem envi-
draçada, que abarca toda a extensão da fachada nor-
1. LOBBY 6. TEATRO (platéia)
te. Esse gran de mi ran te é par te da es tra té gia pro -
2. LIVRARIA 7. ACESSO AO TEATRO
3. PASSEIO 8. GALERIA OESTE jetual adotada por Diller, Scofidio e Renfro: ao sele-
4. PRAÇA COBERTA 9. GALERIA NORTE cionar a exibição de determinadas vistas em mo-
5. TEATRO (palco) 10. MIDIATECA mentos específicos, evita-se que o visitante divida sua
atenção entre as obras expostas e a vista exuberan-
te. As galerias expositivas, por essa razão, são caixas
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ARC DESIGN
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Iwan Baan

Acima, a midiateca: o escalonamento do piso permite que todos os ocupantes tenham a vista da água, que assume o papel de um elemento abstrato.
Abai xo, vis ta da fa cha da oes te: o per cur so con tí nuo da fai xa de ma dei ra, que se ini cia no Har bor walk, trans pa re ce cla ra men te nas fa cha das la te rais

Nic Lehoux
fechadas, sem qualquer abertura para o exterior.
A paisagem volta a aparecer com força no teatro, que é
totalmente envidraçado nas fachadas norte e oeste,
permitindo que a água e o horizonte se tornem um ce-
nário para o palco. A presença da vista pode ser contro-
lada conforme as necessidades das apresentações.
Mas a forma mais surpreendente de interação com o
entorno acontece na midiateca, uma pequena sala aces-
sada pelo 4º andar, onde os visitantes podem pesquisar
a coleção do museu. Inclinada em direção ao mar, a mi-
diateca se desenvolve em patamares, permitindo que
todos seus ocupantes possam contemplar a água, que,
emoldurada pelas paredes da própria sala, se transfor-
ma em uma “obra de arte abstrata”, cuja cor e textura
permanecem em constante mutação.
Assim, ao planejarem o edifício para guiar o olhar do vi-
sitante em diversas situações, Diller, Scofidio e Renfro
produzem uma obra que encanta e intriga seus visitan-
tes, mas sempre mantendo o respeito à sua função pri-
meira: a de valorizar as obras de arte nela expostas. ❉
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ARC DESIGN
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Na página ao lado, fa cha da prin ci pal da residência: os pai néis


de ma dei ra com põ em por tas do tipo ca ma rão que, quan do es tão
fe cha das, fi cam ni ve la das e se trans for mam em um ele men to
úni co; na ex tre mi da de di rei ta da casa, um pai nel ver ti cal pi vo -
tan te com o mes mo aca ba men to con fi gu ra o aces so prin ci pal da
re si dên cia. À esquerda, de ta lhe da fa cha da pos te ri or, com o pai -
nel de aces so aber to

Neutra no emprego dos materiais, simples


LIVRE DE EXCESSOS

e clara na sua volumetria. Assim poderia

ser descrita a Residência de Acapulco, lo-

calizada em um condomínio fechado no

Guarujá (SP). O projeto, assinado pelo ar-

quiteto José Ricardo Basiches com a co-

autoria de Ronaldo Shinohara, privilegia os

es pa ços am plos, in te gra dos e bem dis tri -

bu í dos. As for mas si mé tri cas e a plan ta

fun ci o nal agra da ram ao júri do 8º Prê mio

Jo vens Ar qui te tos que, em ju nho des te

ano, con ce deu men ção hon ro sa à obra

Valentina Figuerola / Fotos Graziela Widman


7087-residencia acapulco:residencia acapulco final2 8/25/07 6:58 AM Page 3

Desde que foi construída, no início deste ano, a Resi- uma configuração geométrica de formas depuradas,
dência Acapulco passou a chamar a atenção daqueles uma característica do trabalho de Basiches, que se for-
que transitam pelo condomínio residencial de mesmo mou em arquitetura e urbanismo pela Faculdade de Be-
nome, no Guarujá, onde foi implantada. Aparentemen- las Artes de São Paulo, em 1997. Já o espaço gourmet,
te fechada para o exterior, a construção passou a ser plenamente integrado ao jardim, foi erguido com estru-
conhecida nas redondezas como a “Caixa Branca”, uma tura metálica aparente.
referência clara à linguagem minimalista da obra. A ho- Na Residência Acapulco, o projeto reúne materiais na-
rizontalidade do volume arquitetônico é acentuada pelos turais e neutros com uma volumetria simples e clara.
painéis de madeira freijó que percorrem a extensa fa- Um exemplo é a parede revestida com mosaico portu-
chada, com 37 metros de comprimento. guês que serve como pano de fundo para a sala de estar,
Fechados, os painéis ocultam a caixilharia dos quartos ao mesmo tempo que compõe a garagem, na fachada
e garantem uma fachada sóbria, sem excessos. Trans- principal. À noite, sua superfície irregular ganha vida
mitem a impressão de que a casa não tem aberturas ao ser iluminada tangencialmente por fachos de luz
para o exterior. “Procuro fazer uma arquitetura limpa, concentrados, emitidos pelo piso ou teto.
correta e bem planejada nos detalhes”, justifica o autor O partido arquitetônico adotado foge da solução con-
do projeto. Prova disso são os banheiros das suítes, vencional de implantar a casa no centro do lote, com
que recebem iluminação e ventilação zenital. Assim, recuos laterais. Em vez disso, ocupa as porções extre-
dispensam aberturas que poderiam “poluir” o exterior mas do terreno – frente e fundo – de forma a reservar
da construção. uma generosa parcela central do lote para as áreas de
No volume principal da casa e na edícula, alvenaria e lazer descobertas. “Segui conceitos como simetria,
concreto constroem o espaço tridimensional a partir de amplitude dos espaços e integração entre interior e
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ARC DESIGN
7087-residencia acapulco:residencia acapulco final2 8/25/07 6:58 AM Page 4

exterior”, conta Basiches. Ele revela que um dos mai-


ores desafios do projeto foi atender a um programa de
necessidades extenso, criado para uma família nume-
rosa, sem comprometer a qualidade das áreas co-
muns e descobertas.
Por dentro, a residência surpreende pelos espaços
vastos e integrados, com destaque para a sala de es-
tar com lareira e pé-direito duplo, localizada entre o li-
ving e a sala de jantar. A escada revestida com madei-
ra de demolição escura se destaca em meio a um mo-
biliário e revestimentos de tons claros, como o piso ci-
mentício branco e o acabamento em travertino roma-
no bruto da lareira. Na parede de mosaico português,
nenhum quadro ou enfeite, apenas a iluminação que
valoriza a textura rústica do material. “Não havia a ne-
cessidade de nenhuma informação além desta”, con-
clui Basiches. ❉

Aci ma, vis ta da sala de es tar com pé-di rei to du plo; ao fun do, o li ving. Abai xo, co e ren te com a ar qui te tu ra pura e lim pa da casa, a pis ci na com
bor da in fi ni ta no mes mo ní vel do piso ex ter no apa ren ta ser um es pe lho d’água que se pro lon ga até a fa cha da. Fa chos de luz con cen tra dos
va lo ri zam as tex tu ras de al gu mas pa re des
7087-residencia acapulco:residencia acapulco final2 8/25/07 6:58 AM Page 5

Nes ta re si dên cia e na mai o ria dos seus tra ba lhos, o ar qui te to apos ta nos ma te ri ais neu tros e na tu rais para re ves tir pi sos e pa re des. Aci ma, a
pa re de em mo sai co por tu guês ser ve como pano de fun do para a sala de es tar, ao mes mo tem po que com põe a fa cha da prin ci pal da casa. Abai xo,
a ocu pa ção não-con ven ci o nal do ter re no li be ra áre as li vres ge ne ro sas nos fun dos do lote
7087-panoramica final:7087-panoramica final 9/14/07 10:21 AM Page 2

Nelson Kon
BRASIL PREMIADO NA HOLANDA
Um importante prêmio para a arquitetura brasileira. O projeto “Vazios
de Água”, do escritório MMBB Arquitetos, foi o grande vencedor do prê-
mio realizado pela 3ª Bienal de Roterdã, cujo tema é “Poder: Produzin-
do a Cidade Contemporânea”. A proposta criada pelo MMBB não só
venceu o prêmio de melhor projeto internacional como também acu-
mulou o título de Best Entry, dado ao melhor projeto da exposição.
A proposta do MMBB busca transformar os piscinões em “lugares ade-
quados à vida urbana e que configurem imagens referenciais na pai-
sagem, contribuindo para a formação de uma relação afetiva dos ha-
bitantes com a cidade”, explicam os arquitetos. “O pressuposto é con-
ferir aos piscinões o ‘poder’ de construir urbanidade onde, até então,
só se aportam valores funcionais”, completam. Essa intervenção rela-
tivamente simples colocaria uma parcela significativa da cidade à dis-
posição dos habitantes, em particular àqueles que vivem nas favelas.
O júri elogiou a proposta por seu realismo e pela forma inteligente
como liga a infra-estrutura oficial ao problema da cidade informal.
Esperamos que também os governantes de São Paulo reconheçam
o potencial da proposta e implantem-na.
O projeto pode ser conhecido em detalhes no site dos arquitetos:
www.mmbb.com.br. Bienal de Roterdã: www.biennalerotterdam.nl

INICIAM-SE AS OBRAS NA BIBLIOTECA MÁRIO DE ANDRADE


As obras de re for ma da Bi bli o te ca Má rio de An dra de já começaram. In fil tra -
ções, rachaduras, danos na rede elétrica e acervo mal-conservado são alguns dos
problemas que atingiam a segunda maior biblioteca do país, considerada um marco
da arquitetura art déco em São Paulo.
O projeto desenvolvido por José Armênio de Brito Cruz e Renata Semin, do Piratininga
Arquitetos Associados, envolve a recuperação, a ampliação e a modernização do
edifício projetado por Jacques Pillon, em 1935. A proposta envolve o restauro do mo-
biliário original e da fachada, a impermeabilização das lajes, a implantação de novas
cabines para pesquisa, o retorno do setor de empréstimos (hoje situado em outro lo-
cal) e a adaptação do edifício a portadores de necessidades especiais.
Em uma segunda etapa, a Biblioteca deverá ser integrada ao prédio vizinho do Insti-
tuto de Previdência do Estado (IPESP), em projeto também realizado pelo Piratininga.
Esse anexo abrigará os laboratórios de microfilmagem e o arquivo de jornais e revis-
tas, liberando espaço no edifício original para o acervo de livros e para a sala de con-
sulta de obras raras. A Biblioteca ficará fechada para visitação durante as obras, que
têm duração prevista de um ano e meio. www.piratininga.com.br

Bebete Viegas
7087-panoramica final:7087-panoramica final 9/14/07 10:21 AM Page 3

Nelson Kon
OSCAR NIEMEYER 1
Em dezembro, Oscar Niemeyer completará 100 anos de vida e, em sua homena-
gem, o Instituto de Arquitetos do Brasil e o Instituto Tomie Othake promovem a
exposição itinerante “Oscar Niemeyer – Arquiteto, Brasileiro, Cidadão”.
A exposição, que tem curadoria de Marcus Lontra e coordenação de Ricardo Ohtake
e Kadu Niemeyer, já está acontecendo em Belo Horizonte, onde ocupa o Palácio das
Artes e o Museu da Pampulha até 16 e 23 de setembro de 2007, respectivamente.
No Palácio das Artes, textos, fotografias, desenhos e maquetes retraçam a traje-
tória de Niemeyer, organizando sua obra em fases: “Pampulha: o Berço da Arqui-
tetura Moderna Brasileira” (1940-1943), “Forma Livre e Organicidade” (1943-
1953), “Brasília: Modernidade, Magia e Eternidade” (1953-1965), “Vivendo os
Anos de Chumbo no Exterior e A Caminho de uma Arquitetura Social” (1965-1989)
e “O Museu Pessoal e o Museu do Homem” (1989 até hoje).
O Museu de Arte da Pampulha, por sua vez, concentra os aspectos poéticos da obra
do arquiteto: maquetes em grande escala exploram as curvas do Edifício Copan e
as colunas do Palácio do Planalto, por exemplo. Completando este módulo, a mostra
estabelece o diálogo dessas obras com a produção de artistas plásticos brasileiros.
Após Belo Horizonte, a mostra seguirá para o Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília.
www.palaciodasartes.com.br

OSCAR NIEMEYER 2
Também em comemoração ao centésimo ani-
versário do arquiteto, a Comissão para as Come-
morações Niemeyer 100 Anos Funchal – Madeira,
de Portugal, promove um concurso internacional
de fotografia, cujas inscrições estão abertas até
30 de outubro de 2007.
Podem participar fotógrafos profissionais ou
amadores de qualquer nacionalidade e as obras
fotografadas – da autoria de Niemeyer, evidente-
mente – podem estar localizadas em qualquer
país. Não há limite de fotos por participante,
mas a imagens devem ser inéditas.
Cada uma das duas fotos vencedoras receberá
3 mil euros e uma viagem ao Funchal, com
acompanhante e hospedagem, para a cerimô-
nia de premiação.
Mais informações e o regulamento completo estão
disponíveis no site www.niemeyer-madeira.com
7087-panoramica final:7087-panoramica final 9/14/07 10:21 AM Page 4

MUSEU DO IPIRANGA DEVE SER AMPLIADO


Construído no final do século XIX e tombado pelo Patrimônio Histórico, o
Museu Paulista da Universidade de São Paulo – mais conhecido como
Museu do Ipiranga – receberá melhorias e terá sua área atual quadrupli-
cada. Na proposta dos arquitetos Eduardo Colonelli e Silvio Oksman, do
Escritório Paulistano de Arquitetura, duas novas torres envidraçadas, ex-
ternas ao edifício antigo, concentrarão elevadores e escadas de emer-
gência. As áreas administrativas, didáticas e de pesquisa serão transfe-
ridas para um novo prédio, que será construído no terreno hoje ocupado
pelo Corpo de Bombeiros, com acesso pela Avenida Nazareth, lado opos-
to à entrada principal do museu. Para ligar o prédio antigo e o novo, serão
construídos dois subsolos, preservando o desenho do Parque da Inde-
pendência e minimizando a interferência nas fachadas históricas. As
áreas subterrâneas abrigarão espaços para exposições, auditório, loja e
café; o destaque fica por conta da clarabóia de cobertura, que será dis-
posta a 80 centímetros do nível do chão. O projeto está em fase de apro-
vação nos órgãos competentes da Prefeitura de São Paulo.

CONPRESP TOMBA IMÓVEIS NA MOOCA


Tradicional bairro paulistano, a Mooca está no centro de um debate de 18 mil m2, vão recorrer da decisão na Justiça. No local, planejam
sobre o destino de antigas construções que remontam à fase de in- construir um condomínio residencial com 4 torres de 20 andares,
dustrialização da cidade. Para preservar a história arquitetônica da mas a proposta é doar parte do terreno (2.700 m2) para uso público.
região, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico Segundo o arquiteto Gianfranco Vannucchi, autor do projeto, estu-
(Conpresp) aprovou recentemente o tombamento de antigas fábri- dos técnicos foram realizados para assegurar a preservação arqui-
cas e galpões ferroviários situados ao longo da Rua Borges de Figuei- tetônica da região. “O Moinho será restaurado e toda a área do entor-
redo. Um dos imóveis protegidos é o antigo Moinho Santo Antonio, no ganhará com a revitalização das calçadas e a construção de uma
hoje Moinho Eventos, projetado entre 1909 e 1938. As incorporadoras praça para a população, dando vida à região”, afirma. Após o restau-
Stan e Quality Desenvolvimento Imobiliário, proprietárias do terreno ro, o Moinho será doado à prefeitura, informam as incorporadoras.
7087-panoramica final:7087-panoramica final 9/14/07 10:21 AM Page 5

Zaha Hadid Architects


A ARQUITETURA E O DESIGN DE ZAHA HADID
Uma grande exposição sobre a obra de Zaha Hadid acontece até 25
de novembro no Design Museum, em Londres. A arquiteta iraquiana,
que tem escritório na capital londrina, possui projetos em execução
em diversos países, como um centro para artes performáticas em
Abu Dhabi, um museu em Roma e um conjunto de arranha-céus em
Dubai. No ano passado, inaugurou dois edifícios importantes na Ale-
manha: uma fábrica de carros para a BMW, em Leipzig, e o Centro de
Ciências Phaeno, em Wolfsburg, que foi indicado recentemente ao
Prêmio Stirling, promovido pelo Royal Institute of British Architects.
Além disso, seus móveis e produtos para a casa atraem a atenção
de colecionadores e críticos de design em todo o mundo.
A exposição se inicia com uma introdução a alguns projetos já con-
7ª BIENAL INTERNACIONAL DE ARQUITETURA
“Arquitetura: o Público e o Privado” é o tema da 7ª Bienal Interna-
cluídos de Hadid, como o Centro Rosenthal de Arte Contemporâ-
cional de Arquitetura de São Paulo, que acontecerá de 11 de novem-
nea, em Cincinatti (EUA), e os já citados Phaeno e BMW. Diversas
bro a 16 de dezembro, no Pavilhão da Bienal, Parque do Ibirapuera.
maquetes, plantas e perspectivas demonstram sua capacidade
Trata-se, essencialmente, de discutir a relação entre espaços pú-
em construir um novo vocabulário para a arquitetura. O processo
blicos e privados. “Não existe uma simplória bipolaridade entre o
projetual é examinado com uma análise profunda do Centro Maxxi
público e o privado; esse conceito de domínio é relativo, em função
de Arte Contemporânea, em Roma. Fechando a parte de arquitetu-
de um conjunto de atributos espaciais que, com diferenças graduais,
ra, uma visão de futuro é apresentada em uma “cidade de maque-
estabelecem ‘infinitas’ possibilidades de propostas para esses es-
tes” dos edifícios ainda não-concluídos.
paços arquitetônicos. Portanto, nos interessa considerar nesse
Um blog montado especialmente para a exposição – e atualizado
debate aquelas situações que representem a riqueza de relações
constantemente – traz mais informações sobre a mostra e a
humanas do nosso mundo real e multicultural”, informa o Instituto
arquiteta: www.zahahadidblog.com
dos Arquitetos do Brasil (IAB), entidade organizadora do evento.
A programação, a exemplo das edições anteriores, incluirá a Expo-
sição Geral de Arquitetos, Mostras Especiais nacionais e interna-
cionais, Fórum de Debates e o Concurso Internacional de Escolas
de Arquitetura.
A divergência de pontos de vista entre o IAB e a Fundação Bienal
fez com que a realização da 7ª BIA só se confirmasse tardiamente,
sendo anunciada oficialmente somente no final de julho. “A 7ª BIA
quase foi adiada, mas o grande empenho do IAB tornou-a viável,
embora com um prazo de elaboração muito curto em função dos
problemas ocorridos”, diz Gilberto Belleza, presidente do IAB. O es-
forço se justifica, pois a Bienal é um importante momento de dis-
cussão da arquitetura brasileira e internacional.
Até o fechamento desta edição não havia uma relação das exposi-
ções e dos debates programados. Mais informações em breve nos
sites www.iab.org.br e www.iabsp.org.br
AnArcDesign 20.08.07 14:29 Page 1

arquitetura da gula
fotos: Paulinho Silva

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Uma Publicação Quadrifoglio Editora Apoio:


ARC DESIGN nº 55, setembro 2007

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Cristiano S. Barata Apoio Institucional:
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dores da ARC DESIGN são de propriedade dos autores. As
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arquiteto Julio Katinsky; Emanuel Araujo; Maureen Bisilliat; João ção de toda e qualquer parte da revista só é permitida
Bezerra, designer, especialista em ergonomia; Rodrigo Rodriquez, com a autorização prévia dos editores, por escrito.
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para assuntos internacionais Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores
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7087-Loucos por design:Loucos por design 55 final2 9/14/07 10:31 AM Page 2

LOUCOS POR DESIGN


Maria Helena Cabral, sem ser uma de-
signer, tem sua vida enredada no design
e na cultura material, do Brasil e de di-
versos povos, principalmente os asiáti-
cos. Isto sem esquecer de lançar olhares
para Paris, Londres, Milão e de detectar,
descobrir, aquelas peças que só um olhar
bem treinado sabe reconhecer
Da Redação / Fotos Nelson Aguilar

Ma ria He le na Ca bral jun to à lu mi ná ria So fia, 2003, de Os wal do


Mel lo ne. Co lu na e base re sul tam de uma mes ma do bra du ra do
aço, com o gran de de sa fio de en con trar o pon to de equi lí brio
da peça. Ao fundo, pintura em pólvora da São Paulo antiga
7087-Loucos por design:Loucos por design 55 final2 9/14/07 10:31 AM Page 3

Aci ma, à es quer da, lu mi ná ria Au ro ra Bo re al, de sign El len Bou tang, em pa pel ve ge tal chi nês; à di rei ta, re cipi en te para ofe ren das (fechado e aberto),
Bir mâ nia, fi nal do sé cu lo XIX, em bam bu, ma dei ra, lâ mi na me tá li ca, laca e fo lha de ouro, é com pos to por di versos pra tos para uso nas ce ri mô ni as.
No pé da página, ca dei ra do ar qui te to Cris ti án Val dés (veja ARC DE SIGN 43), pre cur sor do de sign no Chi le e mes tre no tra to da ma dei ra, da qual
ex plo ra os li mi tes, com es pes su ras e rai os de cur va tu ra me di dos em mi lí me tros

ARC DESIGN – Quan do e com qual ob je to sua aten ção foi des - no México. Não é pela numerologia, a razão da escrita errada,
pertada para o design? mas para ter o mesmo nome nas duas cidades. Começamos
MARIA HELENA CABRAL – A resposta pode parecer meio ma- assim nossa coleção “casa e corpo”, sempre seguindo a intui-
cabra, mas é divertida. Eu tinha uns 10 anos quando meu pai ção, ou nosso próprio modo de ver cada cultura.
quis que desenhássemos, juntos, um caixão de defunto para
ele. Um caixão que lhe permitisse ser colocado sentado. E não AD – Você é ca sa da com um de sig ner, mas es co lheu pe ças de vá -
apenas: também precisava ser ventilado, ter uma sirene e oxi- rios designers e de diversas partes do mundo como suas prefe-
gênio, para o caso em que ele não estivesse realmente morto. ridas. Falando em design brasileiro, quem você ci ta ria como
Foi assim que descobri que as coisas são, antes de se torna- des ta que? Por quê?
rem reais, desenhadas. MHC – Bem, por todas as razões, objetivas e subjetivas, Oswal-
do Mellone. As objetivas? Cito Adélia Borges em uma de suas
AD – A que você dá mais aten ção, na es co lha de um ob je to, seja críticas no jornal Gazeta Mercantil onde, no artigo “Muito Além
ele uma roupa, um vaso ou um ventilador: à forma, ao material da Superfície”, ressaltava o valor de Oswaldo Mellone, sempre
de que é feito, ou à sua utilidade? com engenheiros em sua equipe, para garantir que os concei-
MHC – À forma. Desenho desde pequena, não tenho formação tos do design não fossem deturpados ao longo do
universitária, mas fiz cursos de desenho livre e arquitetônico. processo de industrialização. “Para mim, a fase
Divulgação

Hoje sou uma artista plástica que decidiu, há sete anos, inau- principal de um projeto é, sem
gurar uma loja conceitual, a Esencial. dúvida, o conceito”, afirma o
designer a Adélia Borges, que
AD – Qual o con cei to des ta loja que des per ta ad mi ra ção e es - com ple ta, “os pro je tos de
panto, a começar pelo nome, “escrito errado”? Mel lo ne são de mons tra çõ es
MHC – Sempre viajei muito e procurava, antes de partir, me exemplares do poder do design
inteirar das culturas que iria conhecer. Foi assim com a Tai- quando acompanhado do adje -
lândia, a China, a Índia. Em um dado momento, em parceria ti vo ‘industrial’”. As subjetivas?
com uma amiga, abrimos duas lojas, uma São Paulo e outra Bem, vocês já adivinharam. ❉
63
ARC DESIGN
7087-como encontrar55_ok:como encontrar55 Final2 9/14/07 10:33 AM Page 80

COMO ENCONTRAR
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Concurso Parckdesign www.esencial.com.br
www.parckdesign.be/en TOM DI XON
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www.phaidon.com 100percentdesign.co.uk
SE DESENVOLVEM?
Jeroen Verhoeven e Joep Verhoeven Artek Associação Brasileira de Refrigera-
www.demakersvan.com www.artek.fi ção, Ar Condicionado, Ventilação e
Aquecimento (Abrava)
Lambert Kamps Cappellini www.abrava.com.br
www.lambertkamps.com www.cappellini.it
Instituto Polis
Matthias Aron Megyeri Habitat www.polis.org.br
www.sweetdreamssecurity.com www.habitat.net/uk
Cidades Solares do Brasil
Simon Heijdens Tom Dixon www.cidadessolares.org.br
www.simonheijdens.com www.tomdixon.net
Conselho Brasileiro de Construção
ENTREVISTA: MARCELO MOLETTA Sustentável
TECNOLÓGICOS E CON CEI TU AIS www.cbcs.org.br
Frank Gehry Marcelo Moletta
www.marcelomoletta.com Secretaria para América Latina e
www.foga.com
Caribe dos Governos Locais para a
Greg Lynn Sustentabilidade
PER CEP ÇÃO APU RA DA www.iclei.org
www.glform.com
Fred Mafra
Hella Jongerius WWF
www.fredmafra.com.br
www.jongeriuslab.com www.wwf.org.br
Resinfloor
Jerszy Seymour www.resinfloor.com.br
www.jerszyseymour.com MA TE RI AIS CRI TE RI O SOS
ABNT
Jurgen Bey 107, RUE DE RI VO LI, PA RIS
www.abnt.org.br
www.jurgenbey.nl
107 Rivoli
Jurgen Mayer www.lesartsdecoratifs.fr Forest Stewardship Council
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www.bouroullec.com www.idhea.com.br
Empório Beraldin
www.emporioberaldin.com.br Imaflora
Vitra Design Museum
www.design-museum.de www.imaflora.org
ICA BOS TON: ISO
SALÃO DESIGN CASA BRASIL CON DU ZIN DO O OLHAR www.iso.org

Salão Design Diller Scofidio Renfro


Programa Brasileiro da Qualidade
www.salaodesign.com.br www.dillerscofidio.com e Produtividade do Habitat
www.cidades.gov.br
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Fernando e Humberto Campana José Ricardo Basiches
www.campanas.com.br www.josericardobasiches.com.br
7087-capa sustentacao_ok:capa sustentacao Final2 9/14/07 10:43 AM Page 1

SUSTENTABILIDADE NA ARQUITETURA, CONSTRUÇÃO CIVIL, URBANISMO

CIDADES BRASILEIRAS
COMO SE DESENVOLVEM?

MATERIAIS CRITERIOSOS
RUMOS DA CERTIFICAÇÃO

VANDERLEY JOHN
DEBATE OS IMPACTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Quem investe em SustentAção:


7087-editorial sustentacao:7087-editorial sustentacao 9/12/07 8:34 AM Page 1

Ao incluir em suas páginas o caderno SustentAção, ARC DESIGN tem

como propósito apresentar e debater as oportunidades que o tema sus-

tentabilidade desperta, além de mostrar iniciativas, caminhos e soluções.

Conceitos, idéias exemplares no Brasil e no mundo – da pesquisa em

materiais, ao projeto e produção de objetos, do construir ao morar, do

consumo ao descarte, além das múltiplas relações da vida na cidade, e

que possibilitem a melhoria de condições do planeta – são assuntos

dessas páginas. Nesta edição, duas matérias e uma entrevista ilustram

a idéia central de SustentAção. A primeira traz exemplos de medidas

que, aos poucos, estão transformando as cidades brasileiras em terri-

tórios mais amigáveis. O texto a seguir, Materiais Criteriosos, aborda

as certificações enquanto garantia de compras socialmente justas. A

entrevista com professor da Escola Politécnica da USP Vanderley John

nos situa sobre os desafios da construção civil no Brasil e no mundo.

São exemplos que, somados à seção Ambiente, com notícias breves,

apontam rumos e soluções para a consolidação de habitats sustentá-

veis. E referenciam aquilo a que o caderno SustentAção se propõe:

mostrar iniciativas em prol da sustentabilidade, como novidades em

fontes de energia, reciclagem, biodiversidade e soluções em construção

e urbanismo, desenvolvimento e preservação dos territórios habitados,

sempre apresentados como temas fundamentais à vida contemporânea.

Mariana Lacerda
Coordenadora do Caderno SustentAção

Na foto da capa, de ta lhe da tex tu ra da cha pa de Re ci plac. Exem plo de ma te ri al sus ten tá vel, é fei ta a
par tir de em ba la gens Lon ga Vida re ci cla das e pode ser usa da para com por pai néis, mó veis e di vi só ri as
Cidades Final:Cidades Final 9/14/07 11:07 AM Page 2

Uso de energias renováveis, como a solar e a eólica,


o estímulo ao uso de biocombustíveis, as discussões
sobre novas políticas públicas. A sociedade se organi-
za para fazer dos lugares habitados espaços que fun-
cionem sem agredir a natureza, nem a nós mesmos.
Embora muito ainda esteja por ser feito, iniciativas
mostram que o Brasil já saiu da inércia para a criação
de territórios que sejam social e ambientalmente justos

Mariana Lacerda
“Criar cidades sustentáveis é uma questão já reconhecida pela so-
ciedade, tem solução e pode ser economicamente viável.” A frase
é da arquiteta Laura Valente de Macedo, diretora regional em São
Paulo da Secretaria para América Latina e Caribe dos Governos
Locais para a Sustentabilidade. Ela se refere às ações que pouco
a pouco estão tornando os territórios habitados mais saudáveis.
Pois, nos últimos relatórios da ONU sobre mudanças climáticas,
as cidades aparecem como consumidoras de 75% da energia
produzida, e emissoras de 80% dos gases que provocam o efeito
estufa. No Brasil, os edifícios consomem cerca de 50% da ener-
gia elétrica do país. Não é preciso ir muito longe nos jornais diá-
rios para saber que os problemas de nossas cidades não são
apenas ambientais, mas, também, sociais.
E são eles, os problemas que, feliz ou infelizmente, nos alertam
para a necessidade de mudança. “Geram oportunidades”, disse
o arquiteto Siegbert Zanettini durante o seminário “Cidades Sus-
tentáveis”, em julho deste ano, na FAU/USP, São Paulo. Peque-
nas e grandes, algumas de nossas cidades se mobilizam para te-

Ao lado, uma das prin ci pais vias da ca pi tal pau lis ta, a ave ni da 23 de Maio, que
liga as zo nas nor te e sul da ci da de. Com 5,3 qui lô me tros de ex ten são, por ela tra -
fe gam mais de 1.200 mo tos e 230 mil veí cu los, di a ri a men te
2
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Cidades Final:Cidades Final 9/14/07 11:07 AM Page 3

Afonso Lima

69
3
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Cidades Final:Cidades Final 9/14/07 11:07 AM Page 4

www.portalunica.com.br

Joe Zlomek
Aci ma, à esquerda, usi na de ál co ol, bi o com bus tí vel que abas te ce rá os cer ca de 5 mi lhõ es de car ros que de vem cir cu lar em ruas bra si lei ras até
2013. Na se quên cia, pai néis so la res: eles po dem ser a saí da para as 12 mi lhõ es de pes so as que, no país, ain da não têm aces so à ener gia elé tri ca

rem infra-estruturas sustentáveis, que garantam a vida e Varginha (MG), uma das primeiras na obrigatorieda-
agora e também no futuro. Embora muito ainda esteja de do uso de aquecedores solares.
para ser feito, especialistas concordam que, ao menos, Avançamos? Sim. Há dois anos, conta o engenheiro
saímos da inércia em prol da construção de territórios Carlos Faria, coordenador da organização Cidades So-
saudáveis. São ações que visam desde o uso racional lares do Brasil, apenas duas cidades do Brasil, Vargi-
de recursos naturais no momento de construir – e na nha e Campina Grande (PB), tinham projetos de lei para
forma de morar – até um planejamento mais justo do uso de energia solar. “Hoje são mais de 50 municípios
ponto de vista social das metrópoles. discutindo projetos de lei que propiciem formas de mo-
rar sustentáveis”, diz ele.
ENER GIA SO LAR
A prefeitura de São Paulo, por exemplo, sancionou em ENER GIA EÓLICA
julho uma lei que obriga novas edificações da capital Os exemplos vão além e não dizem respeito apenas ao
a instalarem sistemas de aquecimento por meio da uso da energia vinda do sol, tão abundante, diga-se, em
energia solar. “É um avanço que mexe na principal nosso país. Um programa do governo federal de incen-
matriz energética do país”, diz Laura Macedo, se refe- tivo às energias alternativas assegura ao investidor
rindo às usinas hidrelétricas. Segundo a Associação em energia eólica a compra de equipamentos com fi-
Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventila- nanciamento em até 20 anos. Com uma linha de crédito
ção e Aquecimento (Abrava), ainda este ano devem do BNDES, estima-se que sejam investidos 700 milhões
ser instalados 40 mil metros quadrados de coletores de dólares em energia eólica no Ceará. A previsão é
solares na capital paulista. A Abrava acredita que, que, até 2008, 30% da matriz energética do Estado te-
com a nova lei, São Paulo tenha pela frente uma pers- nha origem no vento. Em comum, iniciativas assim têm
pectiva de 40% a 80% na redução do consumo de ener- como meta atingir a eficiência energética, que pode pro-
gia elétrica ou a gás para o aquecimento de água. A ca- porcionar uma redução do consumo em até 39%, segun-
pital paulista vem atrás dos municípios de Birigui (SP) do o estudo da organização não-governamental WWF.
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Cidades Final:Cidades Final 9/14/07 11:07 AM Page 5

Aci ma, par que eó li co no Ce a rá, Es ta do que mais in ves te em ener gia eó li ca no Bra sil e que conta com ao menos 34 aerogeradores. Os ca ta-ven tos
mo der nos, estruturas com até 60 metros de altura, pro du zem, inin ter rup ta men te, ener gia lim pa e ines go tá vel

NO VOS COMBUSTÍVEIS perder o sentido se as próprias estruturas urbanas não


Muito se avançou também, no Brasil, em relação aos corresponderem ao que todos nós almejamos por con-
combustíveis. O etanol e o hidrogênio, menos poluen- siderarmos boas. Afinal, “sustentabilidade não se res-
tes, são cada vez mais utilizados. Ônibus urbanos mo- tringe apenas a uma questão ambiental. Ela é também
vidos a biodiesel derivado do óleo vegetal – utilizado sociopolítica”, diz o urbanista Kazuo Nakano, do Insti-
em restaurantes e reciclado – já circulam no Rio de Ja- tuto Polis. Para ele, avanços também foram feitos no
neiro. “De alguma forma, são iniciativas que indicam o sentido de envolver cidadãos no exercício saudável
quanto a sociedade já comprou a idéia da sustentabili- de se pensar a cidade. Como exemplo, o urbanista cita
dade”, diz o engenheiro Marcelo Takaoka, diretor-pre- a própria criação, em 2003, do Ministério da Cidade.
sidente do Conselho Brasileiro de Construção Susten- Dentre as iniciativas do novo ministério há, segundo
tável, entidade que reúne 90 associados de vários seto- Nakano, o apoio à implementação das determinações do
res da construção civil e tem por objetivo, nas palavras Estatuto da Cidade e à realização de Conferências das
de Takaoka, “ser fonte de conhecimento das boas prá- Cidades. Esta última, uma ferramenta premiada pela
ticas de construção civil”. Para ele, as cidades e seus Organização das Nações Unidas, a ONU – que estimula a
governos “têm que dar o exemplo”. Pensando nisso, o sociedade civil a discutir as soluções urbanas desejadas.
município de São Paulo está elaborando o projeto de lei Pois os territórios em que vivemos são como pergami-
Compras Públicas Sustentáveis, que deve instituir que nhos cujas escrituras vão sendo apagadas, corrigidas
toda compra de produtos ou serviços considere o me- e transformadas para dar lugar a outras que, espera-
nor impacto ambiental possível. “Em médio prazo, isso mos, sejam melhores. A questão, agora, é que estamos
irá criar outros mercados e estimular o surgimento de aprendendo – com erros como os dos loteamentos in-
novas tecnologias”, diz Laura Macedo. discriminados junto a aeroportos, ou até mesmo com
as alarmantes notícias do aquecimento global – que
POLÍTICAS SO CI AIS devemos construir espaços sustentáveis e contar his-
Iniciativas como essas são bem-vindas, mas arriscam tórias melhores no futuro. ❉
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Materiais Final:Materiais Final 9/14/07 11:11 AM Page 2

O Brasil, por meio da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), está elaborando, com
a entidade suíça International Standards Organization, os parâmetros da certificação ISO
26.000. Com previsão de conclusão em 2008, a nova ISO poderá ser concedida às empresas
no mundo que atuem com responsabilidade social. A nova certificação será uma ferramenta
para quem deseja construir com materiais sustentáveis, uma equação que também considera
projeto preciso e localização da obra

Giovanny Gerolla

Na prática, com a ISO 26.000, a procedência de produ- certifica diversos materiais em toda a Europa. “Impor-
tos sustentáveis estará assegurada por uma certifica- tante salientar que certificações dizem se o ciclo de vida
ção, indicada em selo. Enquanto a ISO 26.000 não é edi- do material está sendo avaliado por técnicos que não
tada, o mercado dispõe de outras ferramentas que aju- são subvencionados pela indústria, atendendo a quesi-
dam a identificar o quanto um produto é sustentável. No tos técnicos, ambientais e sociais”, aponta Márcio Au-
Brasil, o único selo verde ainda é o da madeira, emitido gusto Araújo, consultor do Instituto para o Desenvolvi-
Randy Mckown pelo representante nacional, o Imaflora, do Forest mento da Habitação Ecológica (Idhea), em São Paulo.
Stewardship Council (FSC). Na Alemanha, o A certificação ISO 14.000 também é uma referência a
conhecido “Anjo Azul” empresas que declaram os impactos ambientais de
seus produtos, os recursos naturais utiliza-
dos e o destino adequado aos des-
cartes. Restaria ao consumi-
dor perceber se a empresa é
idônea ou não. Vale ainda
lembrar que, segundo o
Programa Brasileiro da
Qualidade e
Pro du ti vi da -
Materiais Final:Materiais Final 9/14/07 11:11 AM Page 3

Aci ma, à esquerda, lote com selo do Fo rest Ste wards hip Coun cil, ates tan do que a ma dei ra pro vém de uma das 60 flo res tas ma ne ja das do país.
Na se quên cia, pai néis me la ní mi cos e OSB, da Ma si sa, que uti li za ma dei ra tam bém cer ti fi ca da

de do Habitat (PBQP-H), do Ministério das Cidades, há fera – podem ser alternativas sustentáveis, desde que o
para cada categoria de material de construção uma lis- fornecedor e o aplicador sejam bem selecionados. “O
ta, disponível na internet, de empresas não-conformes, material tem de apresentar durabilidade elevada ou
o que significa que não atendem às normas técnicas maior que a de seus concorrentes na determinada apli-
de desempenho do produto. cação em questão”, explica John.
Segundo o engenheiro do setor de certificação da “A durabilidade do material não é somente proprieda-
ABNT, Alexandre Muniz, a ABNT NBR 16.001 também pode de sua, mas sim consequência de seu uso”, aponta
direcionar quem busca materiais sustentáveis: “É uma Vanderley John. “Se você usar madeira em ambiente
norma de responsabilidade social e que, inclusive, está exposto à umidade, ela vai apodrecer, mesmo que te-
servindo de base para a criação da ISO 26.000”, expli- nha o selo verde!” É preciso pensar, também em pro-
ca. A diferença, diz Muniz, “é que ela terá força interna- jeto, na possibilidade de manutenção e limpeza, já
cional, no que diz respeito ao sistema de gestão de res- avaliando esses processos como parte do ciclo de
ponsabilidade social das empresas”. vida do material.
Comprar produtos cujos selos indiquem a procedência Por fim, cabe ao consumidor avaliar todas as variantes,
é importante, mas não é tudo. “Considerar a disponibi- dos certificados de garantia à localização da obra, na
lidade de materiais na localidade evitam custos com hora de escolher os materiais que serão utilizados. Um
transporte, emissão de gases e gastos energéticos”, projeto “bem amarrado”, com a quantidade exata de
lembra Márcio Augusto Araújo. materiais que se vai utilizar, é imprescindível, mas do-
Também é importante levar em conta que “o material ses de criatividade também. O arquiteto paulista Marce-
sustentável é aquele que melhor exerce sua função no lo Rosenbaum, por exemplo, tem como uma de suas
projeto, em menores quantidades”, diz o professor da marcas transformar madeiras, entre ripas, restos de
Escola Politécnica da USP e membro do Conselho Bra- móveis ou de forros, encontradas nos lixos da cidade
sileiro da Construção Sustentável Vanderley John. Para em novos móveis e revestimentos para paredes. É um
ele, mesmo o gesso, o PVC e o cimento – este último exemplo do quanto a sustentabilidade pode ser tam-
responsável por enormes descargas de CO na atmos- 2
bém uma filosofia de vida. ❉

73
ARC DESIGN
entrevista vanderley final:entrevista vanderley final 9/14/07 11:18 AM Page 78

ENTREVISTA :

VANDERLEY JOHN
Professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e um dos
fundadores do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, Vanderley
John é também um dos autores da Agenda 21 de Construção Sustentável para os países em de-
senvolvimento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Voz forte no país quan-
do o assunto diz respeito aos problemas ambientais causados pelo impacto na construção ci-
vil, John é pouco otimista e vê como é urgente a revisão, do ensino às políticas públicas, dos
modos de erguer e habitar qualquer área construída, como diz nesta entrevista à ARC DESIGN
Mariana Lacerda

ARC DESIGN – No mundo, sabe-se que a cons tru ção ci vil con so - além de pontes, aeroportos, escolas. Precisamos recuperar edi-
me de 30 a 75% dos recursos naturais do planeta. São dados fícios degradados, especialmente os públicos. No mundo inteiro,
que também cabem para o Brasil? a qualidade de vida de uma pessoa é muito determinada pelo am-
VANDERLEY JOHN – Temos um problema crônico de falta de biente de que ela dispõe. Então, temos que ampliar o que temos.
dados. Precisamos começar a gerá-los para determinar quais
são as prioridades do setor. Hoje, a construção civil é respon- AD – Mas re al men te te mos que am pli ar, ou po de rí a mos re cu pe -
sável por pouco menos que 9% do PIB nacional. Mas não sa- rar o que temos?
bemos o quanto dos nossos recursos naturais acabam na VJ – O que temos não é suficiente. Não temos como não am-
construção civil brasileira. pliar. Na cidade de São Paulo existem 5 mil quilômetros de
ruas que não estão pavimentadas.
AD – Como cal cu lar o im pac to am bi en tal cau sa do?
VJ – Os Es ta dos Uni dos usam um mé to do cha ma do “Ma te ri al AD – E como a re fle xão so bre a sus ten ta bi li da de pode aju dar a
Flows”, que trabalha com os fluxos econômicos, bases de da- resolver esses problemas?
dos governamentais, taxas de impostos. Calcular isso é uma VJ – Estamos num momento em que a economia cresce, a
tarefa que também temos que cumprir. Mas, num país onde a construção cresce. Temos fatores governamentais e também
informalidade é muito grande, este será um trabalho difícil. capital externo para que isso aconteça. Assim, alguns concei-
De toda a forma, não há, em nenhum país, outro setor da tos da sustentabilidade são fundamentais. Primeiro, é muito
economia que consuma tantos recursos naturais quanto a comum as grandes obras causarem impactos ambientais, que
construção civil. depois são remediados. Estraga-se para depois recuperar.
Esse conceito tem que ser revisto. Porque, quando você repa-
AD – No Bra sil, a cons tru ção ci vil está em cres ci men to (este ra, o ambiente jamais volta ao seu estado original. É preciso
ano, a taxa foi de 7,2% do PIB do setor). Como avaliar o im- economizar recursos. O segundo conceito que precisa ser le-
pacto que irá causar num futuro próximo? vado em consideração é o da durabilidade dos materiais. As
VJ – A construção impacta a natureza para fornecer infra-estru- obras públicas brasileiras, por exemplo, têm um problema
tura para a sociedade. Temos 6 milhões de casas por construir, crônico de baixa durabilidade e de exigência de grande inves-
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ARC DESIGN
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Dioscoro Dioticio
timento em manutenção. Isto produz prejuízo ambiental, eco-
nômico e social. Uma obra sustentável é durável. Na área de
moradia social, a durabilidade está associada à possibilidade
que os residentes vão ter de melhorar suas casas. Muitos pré-
dios sociais, particularmente na Europa do pós-guerra, foram
demolidos porque não puderam ser melhorados. Já as casas
permaneceram, porque são flexíveis. Este é outro lado da sus-
tentabilidade, a flexibilidade.

AD – Os pro je tos, en tão, pre ci sam ser fle xí veis?


VJ – Sim. Uma escola pode perder a sua função com o tempo,
mas, se tiver um projeto flexível, poderá ser transformada
para outra finalidade. Mas essa escola, por sua vez, deve ser
construída de forma a durar no tempo. Evita-se assim sua de-
molição e possibilita a instalação de um centro de saúde, por
exemplo. O que vai certamente diminuir os custos de reposi-
ção de estoques, de manutenção, de impacto ambiental. No fi-
nal, até o custo Brasil, do qual todos nós falamos tanto, ou
uma parte dele, vai diminuir.

AD – Mas o que ga ran te a du ra bi li da de de um ma te ri al?


VJ – A questão da durabilidade tem duas dimensões. Uma é
aquela relativa à degradação e isso depende do projeto e da
forma de se construir. Hoje, temos uma deficiência crônica de
projetos. Falo em projetos num sentido amplo, arquitetura, en-
genharia e mesmo na área do design. Na Europa, e também
em mu i tas em pre sas do Bra sil, por exem plo, os ob je tos são
fa bricados após testes em máquinas que simulam a sua dura-
bilidade. Mas nós ainda somos um país que não tem a visão
de futuro. Estamos pensando no hoje.

AD – Você acre di ta que já en ten de mos o pro ble ma e a ur gên cia


da construção sustentável no Brasil?
VJ – As pessoas ainda têm muita dificuldade em entender a di-
mensão social da sustentabilidade. Em um recente concurso
da Holcim, menos de 30% dos candidatos declararam em seus
projetos alguma medida visando a sustentabilidade social, mui-
to embora fosse uma exigência do edital. Ou seja, tiveram a
chance e não a utilizaram, talvez porque não entenderam. A
questão social no Brasil tem também múltiplas dimensões. O
fato é que os trabalhadores da construção são muito pobres
e, por si só, isto não é sustentável. Tem implicações em qua-
lidade, produtividade, estabilidade social. Se o setor conseguisse
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ARC DESIGN
entrevista vanderley final:entrevista vanderley final 9/14/07 11:18 AM Page 80

aumentar o salário dos operários da construção civil, poderí- teis, uma vez que ajudam a formar cultura. O que vai salvar o
amos modificar a situação de pobreza de 10% da população planeta, contudo, são modificações em grande escala.
economicamente ativa no Brasil. Como fazer isso? Aumentan-
do a produtividade, que depende de estratégias industriais, AD – O Bra sil é um país di ver so, de inú me ras re a li da des. Qual
projetos, visões. Outra questão é a da informalidade, que tal- seria um ponto em comum para a sustentabilidade na constru-
vez seja o principal desafio brasileiro para a sustentabilidade. ção civil? Alguns preceitos mínimos a serem considerados para
Temos informalidade fiscal, desrespeito às leis ambientais, in- um construir sustentável?
formalidade nas relações trabalhistas e, até, no uso da terra. VJ – Temos que trabalhar com mecanismos capilares. Por
O caso da madeira explicita bem as implicações ambientais da exemplo, o poder de compra do Estado, ou iniciativas como a
informalidade. A sociedade ainda não relacionou o que a in- do Banco Real (ver nota pg. 75), são importantes. Temos que
formalidade tem a ver com a sustentabilidade. ter políticas industriais de desenvolvimento limpo para dife-
rentes setores, políticas educacionais para mudar a forma de
AD – Cer ti fi ca çõ es como a Leed po dem aju dar a cons tru ção ci - pensar de arquitetos e engenheiros. As pessoas precisam per-
vil a melhorar o seu nível de sustentabilidade? ceber que muitas vezes uma pequena decisão em um projeto
VJ – A Leed está focada em energia, e foi pensada para os Es- simples não vai ter custo nenhum e por trás dela existe uma
tados Unidos – um país onde o governo não investe em sus- resposta ambiental interessante.
tentabilidade, tem a pior matriz energética do mundo e é
campeão mundial de emissão de gases que causam o efeito AD – Por exem plo?
estufa. Assim como a certificação francesa, a HQE, atende às VJ – Selecionar um fornecedor socialmente responsável ou
necessidades da França, está pensada para as articulações, comprar madeiras certificadas, que está ao alcance de qual-
políticas e formas de operar do mercado francês, e seus pro- quer obra. Fornecer segurança aos operários, também. Não
blemas ambientais. Essas certificações não atendem à neces- existe sustentabilidade se os operários correm riscos de vida.
sidade do Brasil. Elas não incluem, por exemplo, a dimensão Os arquitetos, por sua vez, não podem pensar que ou ele faz
social e, muito menos, a questão da informalidade. Porque na um edifício certificado ou ele não faz nada. É preciso fazer
Europa ou nos Estados Unidos a informalidade existe em um ní- sempre alguma coisa. A sustentabilidade está em todas as
vel muito baixo. Os esquemas da certificação miram (exceto na ações que tomamos. Se abandonarmos a fachada de vidro, por
Inglaterra onde são mais amplos) edifícios corporativos, insti- exemplo, estaremos dando uma contribuição para gerações
tucionais ou comerciais. Estas, no entanto, também precisam futuras, um serviço para a humanidade. Porque a fachada de
ser pensadas do ponto de vista da grande escala. No Brasil, vidro, num país com tanto sol como o nosso, é um coletor so-
talvez 70% das habitações são feitas pelo proprietário ou pelo lar e a retenção de calor vai ser grande. Ela foi inventada para
arquiteto que contrata sua equipe e constrói. Os modelos de o Canadá, não para os trópicos. A sustentabilidade é uma
certificação só vão funcionar se incluírem todas essas formas questão muito maior que a certificação e só vai funcionar se
de construir e morar. Não existe nenhuma prova, em nenhum a obra comum se tornar sustentável. Tudo isso é um processo
lugar do mundo, que mostre que a certificação tenha grande que começamos agora. Os dados e as tecnologias estão sur-
impacto no mercado. Mas não estou dizendo que elas são inú- gindo e tendem a aumentar e melhorar nos próximos anos. ❉
Alena Yakusheva
7087-an cbca final:7087-an cbca final 9/12/07 8:29 AM Page 1

Construindo um futuro sustentável

Recente pesquisa entre arquitetos em todo mundo

indicou o aço como o material de construção mais

sustentável para o século XXI

Apoio:

Visite o site: www.cbca-ibs.org.br www.ibs.org.br


Ambiente final2:Ambiente final2 9/14/07 11:14 AM Page 74

CAPITAL SOCIAL
Quando ocupações urbanas são legalizadas, podem ter serviços bá-
sicos: rede de água e luz, e também creches, escolas, bibliotecas.
Quando existem esses espaços, a convivência entre moradores é
mais pacífica, pois está criado um capital social que ajuda a comba-
ter a violência. É essa a experiência da cidade de Bogotá que, com a
regularização fundiária, conseguiu reduzir 84% das taxas de homicí-
dio, em nove anos de trabalho. O exemplo da capital colombiana ago-
ra está sendo replicado no Rio de Janeiro, nas favelas da Rocinha e
Vidigal. O Projeto Segurança Cidadã, dos ministérios da Justiça e das
Cidades, pretende, até o final deste ano, dar a posse definitiva dos
terrenos a 7.500 famílias das duas comunidades. E, assim, reduzir os
alarmantes números da violência da capital carioca.

CIDADE DO FUTURO
Por ironia, no paraíso do petróleo, cuja combustão é um dos
principais vilões da liberação de gás carbônico na atmosfera,
há de surgir a primeira cidade com zero emissão de poluição
do mundo. O escritório londrino Foster + Partners, o mesmo
que criou, em Londres, a emblemática sede verde da segura-
dora Swiss Re, está à frente da chamada “Masdar Iniciative”.
Trata-se de uma cidade murada dentro de Abu Dhabi, capital
dos Emirados Árabes Unidos. Com 6 milhões de metros qua-
drados, o ambicioso projeto tem a intenção de ser um labo-

Julio Babin
ratório de conhecimentos sobre como viver numa metrópole
sem poluir. A intenção é, a partir da experiência, contribuir
para a viabilidade de cidades sustentáveis no mundo. Sem
carros, Masdar terá uma rede de ruas pitorescas e curtas, TRILHOS LIMPOS
para incentivar a caminhada. O transporte público, movido a Desde junho, o tema preservação ambiental invade as 17 estações
energias renováveis, será rápido. Estima-se que o projeto do metrô gaúcho – que atendem cinco municípios da Região Metro-
seja concluído em 2009. É esperar para ver! politana de Porto Alegre – e as dependências da Trensurb. Foi imple-
mentada a campanha de coleta seletiva do lixo, batizada de Trem Am-
biental. Funciona assim: o lixo, distribuído nas estações em lixeiras
adequadas, é recolhido pelo Trem Ambiental depois do encerramento
das operações comerciais. O material coletado é encaminhado para
um galpão, no pátio da Trensurb – onde é feita a triagem –, depois re-
colhido pelo Departamento de Limpeza Urbana de Porto Alegre
(DMLU), que repassa o lixo para cooperativas de reciclagem conve-
niadas. O resultado é promissor: em apenas um mês de implantação,
já foram coletados 2.562 kg de lixo reciclável.
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FLORESTA MAPEADA
Sabe qual a extensão das florestas no Brasil? De acordo com levan-
tamento do Serviço Florestal Brasileiro, há 193,8 milhões de hecta-
res se somadas as florestas federais em áreas públicas, terras indí-
genas e assentamentos do Incra – e sem contar as matas pertencen-
tes aos Estados e aos municípios. O Amazonas, por exemplo, abriga a
maior área de floresta federal: são cerca de 73,5 milhões de hecta-
res. Já o Rio Grande do Norte é a unidade da Federação com menor
área: 1.500 hectares. O cadastro contém 1.391 florestas públicas, loca-
lizadas em 825 cidades. Embora os dados sejam iniciais, o mapeamen-
to publicado em julho pelo Ibama é importante, já que por meio dele
será possível fazer o planejamento da gestão florestal, o processo de
destinação de áreas públicas, além de aprimorar a fiscalização contra
invasões ou grilagens das áreas de florestas pertencentes à União.
CRÉDITO SUSTENTÁVEL
O Banco Real deu um passo à frente em sua política de crédi-
to imobiliário. No dia 13 de agosto, o banco lançou o Progra-
ma Obra Sustentável. Com uma carteira de crédito imobiliário
no país na ordem de 2,5 bilhões, a partir de agora as novas

Luiz da Motta / Serviço Florestal Brasileiro


adesões terão que atender aos requisitos de construção sus-
tentável no momento da aprovação. As obras que estiverem
em conformidade serão identificadas com uma placa de reco-
nhecimento do programa. A medida alinha-se à política do
Banco que, desde 2004, avalia os riscos sócioambientais
dos negócios antes de conceder créditos. É coerente, ainda,
com as crenças que o Banco exibe: recentemente, uma de
suas agências (na Granja Viana, em Cotia, Região Metropoli- DESIGN ECOEFICIENTE
tana de São Paulo) obteve a certificação Leed. Trata-se da pri- Uma tonelada de papel. Esse é o gasto mensal da operação brasileira
meira construção no país a receber o selo. Uso de tijolos reci- da HP, uma das maiores fabricantes de impressoras do mundo, para
clados, tintas e massa corrida sem solventes, assoalho e mó- realizar testes nas cerca de 10 mil impressoras fabricadas no Brasil
veis de madeira certificada, além de um sistema de ar condi- todos os meses. Durante alguns anos, esse montante teve como des-
cionado que não emprega gases nocivos à camada de ozô- tino a reciclagem. Mas após dois anos de estudos em design, a mon-
nio, entre outros detalhes, renderam à obra o selo. tanha de papel passou a ter outro destino: fabricação dos protetores
para as embalagens das impressoras. Com isso, a HP reduziu o
uso do isopor, material derivado do petróleo e de di-
fícil reciclagem, e obteve economia de 10% nos
custos de embalagem, transporte e armaze-
namento. Num exemplo de que reduzir cus-
tos financeiros se alia a fechar ciclos produti-
vos, seguindo conceitos de ecoeficiência. Em tempo: o
protetor da embalagem também pode ser reciclado.
Ambiente final2:Ambiente final2 9/14/07 11:14 AM Page 76

PE LAS CONS TRU ÇÕ ES AÇÃO SUSTENTÁVEL: ELOISE AMADO


SUS TEN TÁ VEIS O Brasil é o primeiro país da América do Sul a inte-
Já parou para pensar que quase to- grar o Green Building Council. A criação do Green
das as nossas atividades cotidia- Building Council Brazil, o GBCB, foi firmada em To-
nas exigem um ambiente construí- ronto, Canadá, em julho de 2007
do? Fornecer esse ambiente, entre
O que muda?
prédios, casas, vias de acesso – enfim, a maioria dos lugares
A idéia é viabilizar a sustentabilidade no setor da construção civil. O
onde colocamos os pés –, é papel da construção civil, setor
Green Building Council é o responsável mundial pela emissão dos se-
que é o maior responsável por causar impactos ambientais
los Leed, que atestam as edificações sustentáveis. Agora, temos um
ao planeta. Estima-se, por exemplo, que cerca da metade dos
representante brasileiro no conselho para acompanhar e entusias-
recursos extraídos da natureza seja consumida pelo setor.
mar as empresas e os arquitetos. Estamos, por fim, dentro de uma
Outro dado importante: a construção de um novo edifício,
rede para troca de experiências e conhecimentos.
por exemplo, gera um custo inicial financeiro que será pago
pelos seus compradores. Mas o custo ambiental de um em-
Quais são as atribuições do GBCB?
preendimento, como o impacto na vida em seu entorno, gas-
A certificação Leed mundial não traduz necessariamente a realidade
tos de água e energia elétrica, será sentido por toda a socie-
brasileira. Um dos trabalhos do GBCB será a adaptação da certifica-
dade, ao longo de sua vida útil. Por estes e outros motivos, o
ção para a nossa realidade. Para isso, vamos trabalhar em parceria
governo inglês elegeu a construção civil como sendo a área
com o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável.
mais estratégica de seu país para induzir a sociedade em di-
reção à sustentabilidade. Reflexões e exemplos como estes Eloise Amado é coordenadora do Grupo de Sustentabilidade da Associa-
ção Brasileira dos Escritórios de Arquitetura, a AsBea
foram citados no lançamento oficial do Conselho Brasileiro
de Construção Sustentável (CBCS), instituído no início de
agosto, em São Paulo. Prever e reduzir o impacto de uma LIVROS: CAMINHAR PELA CIDADE
construção, do projeto ao material empregado, do lugar que Um imenso “arquivo de signos”, ou “nota por nota”,
ocupará até os recursos que utilizará em sua vida útil, são como em uma partitura musical. Assim é uma cida-
as preocupações centrais do CBCS. Com 90 associados, o de, com todos os seus elementos. São territórios
conselho deve trabalhar articulando ações e reunindo infor- que, como na música, sobressaem ou sobrepõem-
mações e experiências no setor, com o objetivo de estimular se e, não raro, uma nota ou uma letra engole a outra.
o mercado e seus clientes diversos, debatendo inclusive po- Foi somente a partir dos anos 1970 que os urbanis-
líticas públicas, modelos de certificação (embora não seja tas desistiram da missão de entender os espaços urbanos afogando-
seu papel certificar) e ensino nas universidades, em prol de se em números e voltaram os olhos para as cidades, vivendo-a, pé
construções de cidades com estruturas sustentáveis. ante pé, para entender todas suas notas, os seus percalços. As diver-
sas correntes dessa ciência, concordâncias e discordâncias entre
as linhas teóricas aparecem no livro “Primeira Lição de Urbanismo”,
que a Editora Perspectiva lançou recentemente. Escrito por Bernar-
do Secchi, autor italiano de obras que refletem a formação dos terri-
tórios habitados, o texto percorre a história dessa disciplina. E tem
um caminho que termina por descortinar outras áreas do conheci-
mento. E nem poderia ser diferente, pois, como o próprio autor afir-
ma, “o urbanismo finca suas raízes na história de nossa cultura e no
tempo que a alimentou”.
510524_Arc Design_326.pdf July 18, 2007 19:37:32 1 de 1

O Mestrado em Design do Centro Universitário Senac


tem como objetivo principal formar pesquisadores
na área de design,aprofundando competências
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Esses profissionais poderão atuar como professores
em instituições de ensino superior,ou em setores de
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