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Biocombustíveis em FOCO

Ano I – Nº 4 Abril de 2009

Notícias
Conferência ARPEL 2009 .......................................................................................................................................... 4
30 de Abril de 2009. Fonte: Renato Carvalho – IICA Brasil e Federico Ganduglia – IICA Argentina.

Câmara discute diversificação para produção do biodiesel ...................................................................................... 4


30 de Abril de 2009. Fonte: Assessoria de Comunicação Social – MAPA.

Brasil x Argentina ..................................................................................................................................................... 5


27 de Abril de 2009. Fonte: BiodieselBR.

Livro analisa a controvérsia dos biocombustíveis ..................................................................................................... 5


27 de Abril de 2009. Fonte: Printec Comunicação.

Investimento em etanol expulsa produtores paulistas de grãos ............................................................................... 6


23 de Abril de 2009. Fonte: Gazeta Mercantil.

Carro movido a CO2 é uma das apostas em biocombustível .................................................................................... 6


19 de Abril de 2009. Fonte: CorreioWeb.

Usina de biodiesel de Montes Claros é "elefante branco" ........................................................................................ 7


13 de Abril de 2009. Fonte: BiodieselBR.

Subvenção beneficia produtores de cana-de-açúcar no nordeste ............................................................................ 7


09 de Abril de 2009. Fonte: Assessoria de Comunicação Social – MAPA.

FAO defende o papel da bioenergia no desenvolvimento de países pobres ............................................................. 8


08 de Abril de 2009. Fonte: Agência de Notícias EFE.

Governo discute panorama atual para o etanol ....................................................................................................... 8


04 de Abril de 2009. Fonte: Assessoria de Comunicação Social - MAPA.

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

Artigos e Estudos
Biodiesel não se firma como alternativa para produção familiar ........................................................................... 10
Reportagem de 29 de abril de 2009, elaborada pela Agência de Notícias Repórter Brasil.

"O Mercado do Etanol Ainda é Muito Promissor" .................................................................................................. 14


Matéria elaborada por Leonardo Attuch e Ibiapaba Netto da Revista Dinheiro Rural em abril de 2009, publicando
a entrevista concedida pelo especialista nos mercados de açúcar e etanol do RaboBank Andy Duff.

Biodiesel 2008/2017 .............................................................................................................................................. 17


Artigo de abril de 2009, escrito por Décio Luiz Gazzoni, Engenheiro Agrônomo da Secretaria de Assuntos
Estratégicos da Presidência da República e publicado no Portal BiodieselBR.

Usinas – Radiografia do setor de biodiesel ............................................................................................................. 21


Análise de janeiro de 2009, escrita por Alice Duarte, publicada no Portal BiodieselBR.

“A crise dos alimentos não é causada pelos biocombustíveis” ............................................................................... 25


Entrevista de março de 2008, concedida à UnB Agência pelo professor do Instituto de Química da Universidade de
Brasília (UnB) Paulo Anselmo Ziani Suarez.

Ações e Iniciativas
Ethanol Brasil Blog: um blog com três anos de desenvolvimento ........................................................................... 29
Abril de 2009. Responsável: Marcelo Acuña Coelho.

Micro-Destilarias de Etanol no Brasil (Em Inglês) ................................................................................................... 32


Estudo de caso analisando a iniciativa brasileira do Projeto Gaia em janeiro de 2009, publicado em um relatório
elaborado pela FAO e PISCES denominado: “Small-Scale Bioenergy Initiatives: Brief description and preliminary lessons on
livelihood impacts from case studies in Asia, Latin America and Africa”.

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Ano I – Nº 4 Abril de 2009

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

Conferência ARPEL 2009


30 de Abril de 2009. Fonte: Renato Carvalho – IICA Brasil e Federico Ganduglia – IICA Argentina.

Foi realizada entre os dias 21 a 24 de abril em Punta del Este, Uruguai, a


Conferencia ARPEL 2009 “Desenvolvimento Sustentável – A Atuação das industrias
de Petróleo e Gás na América Latina e no Caribe” que abordou assuntos de alta
relevância para esses e outros segmentos. A conferência teve como principal foco
promover o diálogo entre todos os sectores associados à indústria energética,
incluindo atores do governo, empresários, entidades financeiras, universidades e
organismos não-governamentais. O evento contou com uma intensa divulgação,
obtendo picos de mais de 200 pessoas nos ápices da conferência. O evento foi
acompanhado pelo especialista em política e Agronegócios da Representação do
IICA na Argentina, Lic. Federico Ganduglia que dissertou no terceiro dia do evento
na mesa redonda Nº 4 denominada: “Os biocombustíveis no setor energético”.
Ganduglia relata que “a conferência se concentrou em aspectos bem generalizados
relacionados com a sustentabilidade, cobrindo temas bastante relevantes, não só para os biocombustíveis, mas sim para
o agronegócio em geral, tais como responsabilidade social das cadeias de valor, direitos humanos e ética nas indústrias,
governos corporativos, capital humano, mudanças climáticas é vários outros”. A dissertação de Ganduglia se intitulou
“Agricultura, biocombustíveis e sustentabilidade”, se concentrando nos aspectos ambientais do segmento agrícola da
cadeia sul-americana dos biocombustíveis (o impacto da expansão da fronteira agrícola e ordenamento territorial,
agricultura de conservação, certificação de sustentabilidade, competência pelo uso da água, desafios das regiões em
matéria de sustentabilidade agrícola, entre outros). Houveram também dissertantes do Brasil de renome, como Ernani
Filgueiras – IBP, Fábio Rosa de Carvalho – Petrobras Biocombustíveis e Livia Kosaka – Diretora International Fuels Quality
Center & Global Biofuels Center. A descrição do evento, agenda de apresentações e outros detalhes podem ser
visualizados no link: <http://www.conferenciaarpel.com/>.

Câmara discute diversificação para produção do biodiesel


30 de Abril de 2009. Fonte: Assessoria de Comunicação Social – MAPA.

Estudos para a diversificação da matéria-prima para a produção de óleo a ser misturado ao


diesel mineral foi um dos assuntos debatidos na reunião da Câmara Setorial de Oleaginosas
e Biodiesel, nesta quinta-feira (30/04). De acordo com o presidente da Câmara e
coordenador-geral de Agroenergia, da Secretaria de Produção e Agroenergia do Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Denílson Ferreira, todos os segmentos da
cadeia do biodiesel voltaram a se reunir após 19 meses e discutiram culturas alternativas,
como pinhão-manso, dendê e mamona. O chefe geral da Embrapa Agroenergia, Frederico
Durães, apresentou as pesquisas em andamento com as oleaginosas. O Ministério de Minas
e Energia pretende aprovar o aumento de 3 para 4% na mistura do óleo ao diesel, o B4, para
julho deste ano. Atualmente, são acrescentados 100 mil litros de óleo ao mês no diesel. Cerca de 36 mil agricultores
familiares trabalharam em 2008 nas lavouras de mamona (estados do Nordeste), dendê (estados do Norte) e soja e
canola (RS). A expectativa é de que este número avance para 82 mil agricultores. O Programa Nacional de Produção e Uso
do Biodiesel leva em consideração a sustentabilidade ambiental, o balanço energético e a questão social. Atualmente
estão autorizadas a funcionar 46 usinas de biodiesel.

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Ano I – Nº 4 Abril de 2009

Brasil x Argentina
27 de Abril de 2009. Fonte: BiodieselBR.

Diferentemente do Brasil, a produção de biodiesel na Argentina não tem apoio do governo e


não foi criado nenhum programa para este biocombustível. A construção de usinas e a
elevada produtividade argentina em 2008 aconteceram somente pelo aspecto econômico. Os
empresários viram oportunidades de lucros e construíram usinas. Muitas, antes mesmo da
criação da lei que prevê a mistura obrigatória B5 a partir de 2010. Esse mercado obrigatório
será de aproximadamente 800 milhões de litros por ano. E mesmo sem o apoio do governo,
em 2008 a produção do país vizinho foi maior que a brasileira. No Brasil a exportação é libe-
-rada, mas o real valorizado e o incentivo à exportação do grão de soja tornam o biodiesel pouco competitivo
internacionalmente. Esses fatores foram determinantes para que o Brasil produzisse cerca de 31 milhões de litros a
menos que a Argentina no ano passado. No país vizinho as usinas de biodiesel foram construídas em sua maioria por
empresas que já operavam na industrialização da soja. Já no Brasil, apenas ADM, Caramuru, Granol e Oleoplan são
verticalizadas na extração de óleo de soja e a Bracol no sebo bovino. Para essas empresas, biodiesel não é o negócio
principal e elas podem suportar períodos de baixa produção, mas grande parte das outras usinas brasileiras tem o
biodiesel como principal produto. Por isso seria importante para o setor que houvesse, dentro do governo, uma
preocupação com as razões que permitem a exportação argentina de biodiesel e o que impede o Brasil de fazer o
mesmo. Na Argentina a produção de biodiesel é quase exclusivamente para exportação, o que lhe deu posto de terceiro
maior exportador deste combustível em 2008.

Livro analisa a controvérsia dos biocombustíveis


27 de Abril de 2009. Fonte: Printec Comunicação.

O professor Ricardo Abramovay, da Faculdade de Economia, Administração e


Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), lançou no dia 27 de abril, o livro
Biocombustíveis - A energia da controvérsia. Organizada por Abramovay e publicada
pela Editora Senac São Paulo, a obra reúne textos de Ignacy Sachs, Marcos Jank, Jean
Marc Von der Weide e Arnoldo de Campos. O objetivo do organizador foi compor um
panorama amplo e heterogêneo, indispensável ao debate sobre o tema. "Como explicar
a tão forte oposição internacional ao etanol brasileiro?", pergunta Abramovay logo no
início do livro. "Os biocombustíveis se tornaram alvo de questionamentos quanto a sua
sustentabilidade. A imprensa internacional afirma que sua expansão ameaça florestas
tropicais - em especial a Amazônia - e, além disso, afetaria a produção de alimentos em
escala mundial, acarretando inflação e fome”. Todos esses argumentos são esmiuçados
e rebatidos pelos autores, que acreditam ser necessário convencer os opositores do
biodiesel de suas vantagens, não somente com idealismos ecológicos - que, embora
importantes, não prevalecem numa mesa de negociação global, mas com sólidos
argumentos construídos sobre pesquisas e estudos detalhados. A obra Biocombustíveis
- A energia da controvérsia foi escrita para ampliar os pontos a serem debatidos a
respeito dessas questões, hoje discutida em âmbito global.

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

Investimento em etanol expulsa produtores paulistas de grãos


23 de Abril de 2009. Fonte: Gazeta Mercantil.

A valorização das terras desencadeada pelos investimentos em etanol foi um dos


principais motivos para os canaviais "roubarem" espaço dos grãos no Estado de São Paulo
nos últimos 12 anos. O Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuária
(Lupa), com informações detalhadas sobre toda a produção agropecuária, corrobora essa
afirmação. A cana-de-açúcar ocupa 5,4 milhões de hectares (31% da área total), segundo
análise da Secretaria de Agricultura e Abastecimento entre 2007 e 2008. No último
levantamento realizado em 1995/96, o milho era a maior cultura da região com 1,23
milhão de hectares, o equivalente a 30% da área plantada à época. As maiores reduções
de área foram observadas entre o milho e a soja. Conforme dados do LUPA, a área da soja
recuou 80% em doze anos, para 396 mil hectares e milho passou de 1,23 milhão de
hectares em 1996 para 667 mil hectares em 2008, queda de 84%. A área de pastagens
recuou 30% nos últimos 12 anos e agora ocupa 40% da área total. Em contrapartida, o
rebanho diminuiu 12%. Os problemas com pragas foram determinantes para redução na
área cultivada com laranja. Em 2008, o espaço das lavouras alcançou 714 mil hectares, queda de 16% na comparação
com 1996. Rodrigo Martini, analista da FCStone, revela que a cana é uma cultura que possui um ciclo de cinco anos. "Por
isso, mesmo com preços em baixa, como está ocorrendo agora, não é possível que o produtor desista de uma hora para
outra". Mesmo com o mercado negativo, ele não acredita que o setor sucroalcooleiro seja um mico. "As usinas que só
produzem etanol podem se complicar. Mas quem consegue produzir açúcar pode se sair melhor".

Carro movido a CO2 é uma das apostas em biocombustível


19 de Abril de 2009. Fonte: CorreioWeb.

Cientistas de Cingapura descobriram uma maneira de transformar o CO2, elemento


que provoca o efeito estufa, em metanol ecológico, utilizando um processo que
consome menos energia do que os já testados até hoje. Em comunicado, o instituto
explicou que os pesquisadores, liderados por Yugen Zhang, utilizaram carbânios
heterocíclicos (NHCs), um catalisador orgânico da reação química do dióxido de
carbono. Os NHCs são estáveis e a reação entre eles e o dióxido de carbono pode
acontecer em ambientes moderados no ar seco. Além disso, é necessária apenas uma
pequena quantidade do catalisador. O processo também inclui hidrosilano – um
composto de silano e hidrogênio. “O hidrosilano fornece hidrogênio, que se une ao
dióxido de carbono em uma reação de redução. Essa redução de dióxido de carbono é
eficientemente catalisada pelos NHCs mesmo em temperatura ambiente”, esclareceu
Zhang. “Por fim, o metanol pode ser facilmente obtido a partir do produto da redução
do dióxido de carbono”, acrescenta. Tentativas anteriores de transformar CO2 em
produtos úteis e que não prejudicam o planeta consumiam mais energia e as reações
químicas demoravam muito mais tempo, de acordo com os cientistas.

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Usina de biodiesel de Montes Claros é "elefante branco"


13 de Abril de 2009. Fonte: BiodieselBR.

A usina de biodiesel Darcy Ribeiro, inaugurada pela Petrobras em Montes Claros, já nasceu
com fama de elefante branco. "O problema é de localização (está a 417 km de Belo
Horizonte). A escolha é política e não técnicoeconômica", criticou o consultor Univaldo
Vedana, do portal BiodieselBR.com. A usina custou cerca de R$100 milhões. “Para uma usina
de biodiesel dar certo são dois os pré-requisitos: ficar perto do consumidor e da produção
agrícola. No caso de Montes Claros, nenhum desses detalhes foi observado", reforça Vedana.
No quesito custos, Vedana apresenta a seguinte conta: R$ 2 o litro de soja, mais R$ 0,30 pelo
processo de transesterificação (clique no quadro ao lado para ampliar), outros R$ 0,50 de
PIS e R$ 0,22 de Cofins, R$ 0,36 de ICMS, R$ 0,30 de custo da usina, mais lucro da usina de R$
0,20, atingindo, no total, R$ 4. "Isso sem margem de lucro para ninguém da distribuidora e na
bomba, o que tornaria seu preço inviável economicamente", ressalta. A rota metílica
também gera polêmica. A tecnologia utilizada pelas grandes usinas brasileiras é importada de
empresas como a norte-americana Crown, assim como o álcool metanol é adquirido, na
maior parte, dos nossos vizinhos chilenos. O metanol é necessário para separar o biodiesel da
glicerina encontrada nos óleos vegetais e animais, num processo chamado transesterificação.
Outro componente eficiente na separação é o etanol, o álcool anidro utilizado como
combustível e produzido a partir da cana-de-açúcar. Baseado em metanol, o consultor explica
que o mote do "biodiesel verde" cai por terra porque não é 100% renovável. O professor Antônio Machado descreve o
metanol como um combustível fóssil. "Quando queima, está incorporando no meio ambiente um carbono que já tinha
sido retirado dele. É usado porque a reação é mais econômica", explica. A Petrobras não se manifestou sobre o assunto e
não apresentou respostas quanto aos custos de produção das usinas.

Subvenção beneficia produtores de cana-de-açúcar no nordeste


09 de Abril de 2009. Fonte: Assessoria de Comunicação Social – MAPA.

Já estão em vigor os requisitos para o pagamento de subvenção econômica aos


produtores de cana-de-açúcar da safra 2008/2009 destinada à fabricação de açúcar e
etanol na Região Nordeste. A medida foi publicada nesta quinta-feira (09/04), no Diário
Oficial da União (DOU), por meio da Portaria Interministerial nº 217. A subvenção será
paga no valor de até R$ 5 por tonelada de cana-de-açúcar a produtores independentes,
quando o preço médio da tonelada for inferior a R$ 40,92. O benefício será concedido a
um limite de 10 mil toneladas por produtor. O programa tem por objetivo fortalecer os
produtores independentes de cana-de-açúcar do Nordeste e representa uma resposta
emergencial às dificuldades encontradas pelo setor na região, explica o diretor de Cana-de-açúcar e Agroenergia,
Alexandre Strapasson. O próximo passo será realizar a operação dessa subvenção por meio da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab), completa.

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FAO defende o papel da bioenergia no desenvolvimento de países pobres


08 de Abril de 2009. Fonte: Agência de Notícias EFE.

A bioenergia em pequena escala pode desempenhar um papel-chave no


desenvolvimento de países pobres, afirmou a Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e a Alimentação (FAO, em inglês). Esta é uma das conclusões de um estudo
que a FAO realizou junto ao Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino
Unido (DFID, em inglês), no qual são analisados 15 projetos sobre bioenergia em 12
países de América Latina, África e Ásia. Segundo a pesquisa, entre os potenciais
benefícios deste tipo de energia estão a obtenção de subprodutos úteis, como adubos
acessíveis derivados da produção de biogás, e um aumento na eficiência no uso dos recursos naturais. Além disso, fica
aberta a possibilidade de produzir simultaneamente alimentos e combustíveis e de criar um novo capital financeiro por
meio do uso de terras marginais. O estudo também indica que o uso da bioenergia pode ter um papel relevante para
atenuar a dependência das populações rurais pobres aos combustíveis fósseis, que passam por grandes variações de
preço no mercado. O relatório ainda assinala que, apesar de as iniciativas sobre bioenergia apresentarem desafios em
sua aplicação, estes são similares aos problemas de outras atividades produtivas em áreas rurais, entre eles dificuldades
técnicas e falta de capitais.

Governo discute panorama atual para o etanol


04 de Abril de 2009. Fonte: Assessoria de Comunicação Social - MAPA.

Representantes do Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool (CIMA), do Banco


Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e da Casa Civil da Presidência da
República, discutiram, nesta sexta-feira (03/04), o panorama do setor sucroalcooleiro e
as medidas que poderão ser adotadas para dar maior sustentabilidade a esse segmento
do agronegócio. Também foram tratadas questões relacionadas à comercialização, ao
financiamento e às perspectivas do mercado de etanol. As atividades do Plano de
Desenvolvimento da Produção (PDP) do etanol foi outro assunto debatido. Fazem parte
do CIMA, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Ministério da Fazenda (MF) e
Ministério de Minas e Energia (MME). De acordo com o diretor de Cana-de-açúcar e Agroenergia, da Secretaria de
Produção e Agroenergia do Mapa, Alexandre Strapasson, “em apoio ao setor, o governo federal, como ação imediata,
retomou o programa de financiamento à estocagem de etanol, com a liberação de R$ 2,3 bilhões para financiar cerca de
5 bilhões de litros de etanol a serem escoados na próxima entressafra”. Essa medida reduz a volatilidade de preços,
melhora a condição de abastecimento futuro do biocombustível e fornece capital novo para as usinas durante a safra.

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Biodiesel não se firma como alternativa para produção familiar


Reportagem de 29 de abril de 2009, elaborada pela Agência de Notícias Repórter Brasil.

Para fazer a pesquisa, a equipe do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis (CMA) percorreu 21,4 mil
quilômetros, por meio aéreo e terrestre, nos estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso e Rondônia, além do Distrito Federal.

Pelo menos por enquanto, o discurso de que a produção do biodiesel pode ser um vetor para a melhoria das
condições de vida dos agricultores familiares não está sendo comprovado na prática. Atualmente, 80% do biodiesel
produzido no Brasil vem do óleo de soja. A participação dos pequenos na cadeia de biodiesel da soja tem se limitado à
venda de grãos às usinas, que detém o Selo Combustível Social concedido pelo governo federal e desfrutam das
respectivas facilidades de financiamento e incentivos fiscais.
Em vez de aumentar a autonomia das famílias que estão
na base da pirâmide rural, a expansão da soja tem, em diversos
casos, intensificado a pressão sobre pequenos produtores em
áreas como o Baixo Araguaia - conhecido como "Vale dos
Esquecidos" entre o Norte do Mato Grosso e o Sul do Pará. A
expectativa de asfaltamento de um novo trecho da BR-158, que
viabilizará a exportação da soja pelo Porto de Itaqui, no
Maranhão, foi suficiente para dobrar o preço do hectare de terra
e agravar conflitos fundiários na região.
Em Rondônia, o crescimento das áreas cobertas por soja
também influiu no aumento da concentração fundiária, a exemplo
de Corumbiara, onde os sojicultores já invadem áreas de reforma
agrária. Sem contar os flagrantes de desrespeito à lei ambiental Produção de mamona se destina à indústria química
(como o plantio de transgênicos e a utilização de agrotóxicos e não gera biodiesel (Foto: Verena Glass).
proibidos) no entorno do Parque Nacional das Emas, em Goiás.
A despeito da inauguração de três usinas de processamento da Petrobras em Quixadá (CE), Candeias (BA) e
Montes Claros (MG), a mamona - apontada como alternativa para agricultores familiares, em especial em áreas
empobrecidas do país - praticamente não é utilizada para a produção de biodiesel.
Toda a produção brasileira se destina à ricinoquímica, mesmo a parcela adquirida pelas empresas de biodiesel,
que, neste caso, atuam como meros atravessadores entre a agricultura familiar e a indústria química.
A dificuldade de incluir pequenos agricultores na "onda" do biodiesel pode ser verificada nos números oficiais do
Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), que completa cinco anos em 2009. Se o programa conseguir
cumprir a meta de inclusão deste ano, apenas 80 mil pequenos produtores, de um universo de mais de quatro milhões de
agricultores familiares, serão beneficiados. O último levantamento do governo federal, principal promotor da iniciativa,
aponta apenas 28 mil famílias ligadas ao PNPB.
As informações acima fazem parte do quarto relatório "O Brasil dos Agrocombustíveis - impactos das lavouras
sobre terra, meio e sociedade", lançado nesta quarta-feira (29/04). O estudo analisa os impactos econômicos, sociais,
ambientais, fundiários e trabalhistas da produção de soja e de mamona nos últimos 12 meses. Para fazer a pesquisa, a
equipe do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis (CMA) da Repórter Brasil percorreu 21,4 mil quilômetros, por
meio aéreo e terrestre, nos estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso e Rondônia, além do Distrito Federal.

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SOJA
Com a diminuição de crédito ao agronegócio, a quantidade
colhida de soja em 2009 (58,1 milhões de toneladas de grãos) manteve-se
no mesmo patamar de 2008 (60 milhões de toneladas), de acordo com a
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Apesar disso, entre março
de 2008 e março de 2009 foram construídas 14 usinas de biodiesel no
Brasil, aumentando para 65 o número total de unidades e ampliando a
capacidade nacional de produção do combustível em 23%, atingindo 4
bilhões de litros por ano. Apenas um quarto (cerca de 1 bilhão de litros por
ano) da capacidade instalada no país está sendo efetivamente utilizada.
O óleo de soja continua sendo a matéria-prima mais utilizada na
produção de biodiesel no Brasil, respondendo por 80% do total, em média.
Com isso, os agrocombustíveis ainda não representam uma alternativa
concreta de fortalecimento da agricultura familiar. No Rio Grande do Sul,
por exemplo, estado campeão em vendas de biodiesel no mais recente
leilão promovido pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP), a participação dos pequenos agricultores tem se
limitado à venda de soja em grão às usinas, que assim obtêm do Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA) o Selo Combustível Social e as
respectivas facilidades de financiamento e incentivos fiscais.
Nos latifúndios, a mecanização intensa e o baixo uso de mão-de-obra nas lavouras de soja não impediram que no
ano passado 125 trabalhadores escravos fossem libertados pelos grupos móveis de fiscalização em sete propriedades
onde havia plantio do grão. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o caso mais grave em área de soja ocorreu
em uma fazenda em Goiás, onde foram encontrados 78 trabalhadores escravos.
Os povos e comunidades tradicionais também sofrem com a aposta brasileira no agronegócio. Não por acaso, a
2ª Assembléia Geral da Mobilização dos Povos Indígenas do Cerrado (Mopic), ocorrida em dezembro de 2008, teve como
tema "O impacto da soja sobre as terras indígenas do Cerrado".
Além da campanha da bancada ruralista para que a demarcação de terras indígenas deixe de ser atribuição
exclusiva da Fundação Nacional do Índio (Funai) e passe pelo Congresso Nacional, há impactos diretos, como invasão de
áreas por fazendas de soja e a poluição (causada pelos agrotóxicos) de nascentes de rios que entram em terras indígenas.
Apesar disso, diante da dificuldade em consolidar alternativas de renda sustentáveis para as aldeias, o povo Paresi, no
Mato Grosso, produz soja em grande escala, em parceria com fazendeiros e uma empresa de farelo da região.
O lobby ruralista se expressa também na reivindicação por investimentos em infra-estrutura, como o
asfaltamento da BR-158, rodovia que viabilizará a exportação da soja pelo Porto de Itaqui, no Maranhão. Apesar de cruzar
uma área de transição entre floresta e Cerrado e passar por duas terras indígenas, a obra não tem despertado no governo
os mesmos cuidados que a rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163).
Na região do Baixo Araguaia, o chamado "Vale dos Esquecidos", só a expectativa de asfaltamento da BR-158 já
foi suficiente para dobrar o preço do hectare de terra, agravar conflitos fundiários e atrair investimentos das
multinacionais de soja (a Cargill, por exemplo, quadruplicará a capacidade de armazenamento de um silo localizado à
margem da rodovia).
Dentre os impactos socioambientais da produção de soja no Brasil, o relatório traz ainda flagrantes de
desrespeito à legislação ambiental no entorno do Parque Nacional das Emas, em Goiás, como o plantio de soja
transgênica e a utilização de agrotóxicos proibidos.
Na Amazônia, a pressão da soja sobre a floresta diminuiu, segundo os signatários da Moratória da Soja. Mas
ambientalistas avaliam que o desmatamento continua ocorrendo, agora em outros moldes, principalmente em áreas

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menores. Municípios como Feliz Natal, Gaúcha do Norte e Querência, no Mato Grosso, e Dom Eliseu, no Pará, campeões
de desmatamento e importantes produtores de soja, continuaram a desflorestar e a plantar o grão nestas áreas.
Estado eleito pelo CMA para uma análise mais minuciosa, Rondônia vive uma expansão da soja que, de forma
geral, tem empurrado a pecuária para áreas de floresta, causando assim o desmatamento indireto. Os produtores do
estado - que em 2008 apresentou o segundo maior crescimento percentual da área de soja do Brasil -, também estão
pressionando por mudanças no Código Florestal que permitam uma ampliação do desmatamento legal. A soja em
Rondônia também é responsável pelo aumento da concentração fundiária, a exemplo de Corumbiara, onde os
sojicultores já invadem áreas de reforma agrária.

MAMONA
Em 2009, a área plantada de mamona voltou a
sofrer uma pequena queda. Segundo o relatório de safra
da Conab de abril de 2009, a oleaginosa deve ocupar
cerca de 150 mil hectares, diminuição de 7,8% em
comparação com 2008, quando o país plantou cerca de
160 mil hectares. Esta queda atinge principalmente a
Região Nordeste, maior produtora do país, que, dos 156
mil hectares cultivados em 2009, plantou apenas 142 mil
este ano.
Este fenômeno pode parecer estranho, já que
em 2008 a mamona atingiu ótimos preços (um pico de R$
85 na Bahia e R$ 80 no Rio Grande do Sul). O cultivo da
oleaginosa também recebeu um novo incentivo com a
inauguração de três usinas da Petrobrás - em Quixadá
(CE), Candeias (BA) e Montes Claros (MG) - e a opção
política da estatal de investir prioritariamente nos
produtores familiares de mamona.
A catastrófica atuação da empresa Brasil Ecodiesel nos últimos anos - atraso nos pagamentos, quebra de
contratos, abandono da produção, entre outros -, no entanto, assustou muitos agricultores, que abandonaram a cultura.
De acordo com o governo, de três a quatro das seis usinas da Brasil Ecodiesel devem perder o Selo Combustível Social -
mecanismo que garante a participação das usinas nos leilões de biodiesel e implica ainda em vantagens fiscais - este ano
porque grande parte dos requisitos não foram cumpridos. Segundo o MDA, esta medida deve "quebrar a Brasil
Ecodiesel".
Os pequenos agricultores também afirmam que tanto as empresas de biodiesel quanto os governos estaduais
atrasaram a entrega de sementes ou entregaram sementes de baixa qualidade. Além disso, não providenciaram a
assistência técnica prometida, o que impactou o desenvolvimento da cultura. Outra crítica é a falta de visão sistêmica e
de investimentos mais amplos nas propriedades familiares. Em Cafarnaum, município campeão de produção da mamona
na região de Irecê, Bahia, centenas de agricultores migram para outros estados em busca de trabalhos temporários
porque não sobrevivem da própria produção.
De qualquer forma, apesar de ainda ser a vedete do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) e
da Petrobrás, a mamona não é utilizada para biodiesel. Toda a produção brasileira se destina à ricinoquímica, mesmo a
parcela adquirida pelas empresas de biodiesel, que, neste caso, atuam como meros atravessadores entre a agricultura
familiar e a indústria química.
Este novo relatório do CMA também analisa a fundo as políticas do governo e da Petrobrás para a mamona,
mostrando que o PNPB está tendo muitas dificuldades para atingir seus objetivos sociais. Se o programa conseguir

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

cumprir a meta de inclusão deste ano, apenas 80 mil pequenos produtores, de um universo de mais de quatro milhões de
agricultores familiares, serão beneficiados. O último levantamento aponta apenas 28 mil famílias ligadas ao PNPB.
Quanto ao Selo Combustível Social, mecanismo que premia empresas que compram da agricultura familiar,
mudanças levaram à diminuição das obrigações das usinas no Nordeste, que agora podem incluir na cota de gastos com
os custos dos contratos (assistência técnica, sementes, diárias, adubos, alimentação etc.), diminuindo o volume de
produção efetivamente comprado dos agricultores - e, consequentemente, diminuindo seus ganhos.
Por fim, a decisão da Petrobras de investir na mamona, oleaginosa muito mais cara que a soja, pode ser colocada
à prova pelo mercado e por seus acionistas nos próximos tempos. No entanto, a empresa se justifica alegando que sua
aposta é no futuro, quando a mamona, caso sua área plantada se expanda, poderia se tornar matéria-prima relevante
para o biodiesel brasileiro. Enquanto isso, sertanejos nordestinos que cultivam mamona tem encontrado mercado
garantido para sua produção no setor químico. É difícil prever, porém, quando a oleaginosa virará de fato biodiesel.

Leia a íntegra do estudo clicando aqui.


Visite o site do Centro de Monitoramento dos Agrocombustíveis (CMA) .

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

"O Mercado do Etanol Ainda é Muito Promissor"


Matéria elaborada por Leonardo Attuch e Ibiapaba Netto da Revista Dinheiro Rural em abril de 2009, publicando a
entrevista concedida pelo especialista nos mercados de açúcar e etanol do RaboBank Andy Duff.

Analista mundial do RaboBank diz que, apesar dos problemas do setor, existe espaço para o crescimento das vendas de
álcool e que agora o açúcar é a vedete da vez.

Há dois anos no Brasil, Andy Duff é o especialista global dos mercados de açúcar e
etanol do RaboBank, um dos principais financiadores de crédito de carbono e projetos
agrícolas no mundo. Com 46 anos de idade e larga experiência no setor, ele acredita que
2009 será um ano em que o açúcar ganhará espaço dentro das usinas brasileiras. Para o
futuro, ele projeta bons tempos para o etanol, que, apesar do momento complicado,
continua sendo uma grande oportunidade.

DINHEIRO RURAL – Podemos dizer que chegou a vez do açúcar?


ANDY DUFF – Nos últimos dois anos, esse mercado passou por momentos complicados com
uma superprodução no mundo e um grande excedente. Os estoques globais estavam muito
altos e por isso os preços ficaram depreciados. Especialmente para o Brasil, o pior cenário
veio de um câmbio muito valorizado, que não permitia uma competição internacional. A
receita em moeda local ficou cada vez menor, com fertilizantes, aço e outras matérias-
primas que afetam os custos do setor cada vez mais valorizados. Em paralelo, vimos altos
investimentos no mercado de etanol, que passou por um momento de grande expansão.
Hoje a situação se inverteu, com o açúcar em alta e o etanol em baixa. Por isso realmente o
açúcar passa por um bom momento.
Andy Duff
RURAL – O que mudou?
DUFF – A União Européia, por exemplo, anunciou em 2005 a sua saída do mercado exportador. Com isso, abriu-se um
buraco de quase cinco milhões de toneladas para ser coberto por outros países produtores. Isso gerou uma expectativa
muito grande e impulsionou investimentos. Além disso, em 2006, havia um sentimento de euforia com novos projetos de
bioenergia, o que também demandou investimentos. Alguns países colocaram no mercado quantidades absurdas de
açúcar, iniciativa que derrubou os preços. Mas agora isso mudou e a demanda está acima da oferta, o que faz os preços
subirem.

RURAL – Quem foram os grandes atores dessas viradas?


DUFF – A Índia com certeza teve um papel muito importante. Aquele país é um dos maiores produtores de açúcar do
mundo e, por uma série de fatores, no ano passado, ele produziu muito, o que, somado à produção de outros países,
resultou numa superoferta, e isso depreciou os preços. Mas hoje a situação se inverteu e a mesma Índia que exportava
passou a importar este ano.

RURAL – É possível afirmar que a Índia, a exemplo do Brasil, também recebeu muitos investimentos no setor de açúcar e
álcool?
DUFF – Sim. Podemos dizer que tudo o que aconteceu no Brasil, aconteceu em paralelo na Índia. Mas é interessante
notar que a Índia possui um grande mercado interno e não estava tão preocupada com as exportações. Mas por uma
questão de oportunidade acabou incorporando um papel de vendedora.

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

RURAL – A partir de agora o que acontece?


DUFF – Para o açúcar os fundamentos estão mais positivos quanto aos preços. Ao que tudo
indica, temos um déficit no mercado internacional. Até porque a Índia está com uma
produção muito abaixo da do ano passado, assim como o Paquistão, que é um outro player
importante. Existe uma combinação de mudanças que favoreceu a indústria brasileira que
passou a ter na venda do açúcar um importante item na composição de suas receitas,
somando-se ao etano e à energia elétrica.

RURAL – O câmbio também teve um papel importante...


DUFF – Claro que um mercado apertado de oferta favorece o Brasil. E, com um câmbio “A cogeração de energia nas
melhor para o produtor, a situação fica mais interessante do ponto de vista comercial. No usinas é muito importante
ano passado o mercado observou uma volatilidade muito grande, por causa da operação para a estabilidade do caixa”
dos fundos, que atuaram fortemente em diversas commodities. Mas também temos que
prestar atenção a certos movimentos de mercado. Por exemplo: não existe um monitoramento de consumo de açúcar e
sim um controle de oferta e de estoques. Quando a crise começou, o mercado logo entendeu que haveria uma queda no
consumo, o que não aconteceu. Hoje temos um câmbio favorável no Brasil e um mercado comprador.

RURAL – Mas não haveria uma tendência de baixa no consumo de açúcar por causa da crise econômica?
DUFF – Esse é o ponto. Acredito que não. Balas, chocolates e o açúcar que você coloca no cafezinho são itens de
baixíssimo valor agregado e as pessoas não vão deixar de consumir por causa da crise. Nenhuma das fontes de mercado
com as quais conversei acredita que a demanda de açúcar seja atingida, até porque 65% do consumo mundial está nos
mercados emergentes. Nesses países, embora tenham tido o seu crescimento revisado para baixo, a expectativa ainda é
positiva, o que é um bom sinal. Não dá para dizer que nada vai acontecer. Existe, porém, uma elasticidade importante
que deve manter a demanda como está.

RURAL – Falando de etanol, como podemos pensar nesse mercado no médio prazo?
DUFF – O Brasil tem a vantagem de possuir uma frota de carros movidos a etanol. Então a pergunta que se faz é: Como
esse momento de crise afeta o mercado potencial? Fiz uma série de simulações com os diversos cenários e o que se
percebe é um aumento da frota de carros flex ainda que num ritmo menos acelerado. Isso vai puxar o consumo de etanol
ano após ano. Mesmo trabalhando com uma redução de 50% nas vendas de carros, ainda assim teremos um crescimento
de mercado muito respeitável.

RURAL – Por exemplo...


DUFF – Hoje o mercado de carros movidos a etanol no Brasil corresponde a 25% da frota, mas por outro lado são mais de
80% das vendas. Mesmo não sendo possível cravar cifras, dá para perceber que o potencial continua muito bom. No
médio prazo, acredito que os Estados Unidos e a Europa vão abrir o mercado para o etanol brasileiro, o que será outro
ganho importante. Mas primeiro eles têm de resolver alguns problemas internos, para depois partir para novas parcerias
nesse setor.

RURAL – Nos Estados Unidos há a discussão de aumentar a mistura do etanol na gasolina, assim como fez o Brasil. Isso
seria um caminho para uma commodity mundial?
DUFF – Sem dúvida. Mas não podemos perder de vista que no momento o preço do barril do petróleo despencou no
mercado internacional e aquela necessidade de misturar álcool à gasolina como forma de baratear os custos do

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combustível diminuiu bastante. No ano passado, eles fizeram uma mistura acima do obrigatória e mesmo assim ainda
possuem uma capacidade ociosa.

RURAL – Contudo, eles estão pressionados por causa da concorrência do etanol com os alimentos, o que não acontece no
Brasil...
DUFF – Quando começaram esses primeiros projetos de biocombustíveis, acredito que não havia uma clara dimensão das
consequências que estariam por vir. A alta do petróleo no ano passado forçou uma corrida por novas fontes de
combustível, como milho e trigo. O aquecimento global também tem sido um elemento importante nessas discussões e,
com o tempo, acredito que o mundo vai partir para fontes mais competitivas, mas que de alguma forma terão de sair do
campo. No Brasil, você tem a cana-de-açúcar, que é uma fonte eficiente. Mas também teremos o etanol de celulose, ou
etanol de segunda geração. Hoje, essa tecnologia ainda é muito cara e pouco viável economicamente. Mas com o tempo
e com o seu custo baixando haverá uma seleção no mercado.

RURAL – No mesmo caminho da utilização da terra, falase da desconcentração da cana


em São Paulo. Como o sr. observa os novos polos canavieiros?
DUFF – Sem dúvida há algumas regiões no Brasil que têm se destacado em investimentos.
Nos últimos anos, Triângulo Mineiro, Mato Grosso do Sul e Goiás têm recebido um
enorme número de novos projetos, deslocando o eixo do interior paulista. Mas existe
também uma expansão dentro de São Paulo, que continuará crescendo. Alguns fatores
como a logística em São Paulo e a mão de obra fazem uma diferença importante.

RURAL – Nesse sentido, há espaço para concentração de mercado, com empresas cada
vez maiores, fruto de fusões ou aquisições?
DUFF – Claro que, diante do atual momento, existe um grande espaço para isso. Mas “O mundo não vai parar de
sinceramente não sei se, com as atuais circunstâncias econômicas, gastar dinheiro com consumir doces. Por isso o
investimentos tão vultosos seja um bom caminho. Mas que podemos assistir a uma açúcar vive um bom momento”
concentração de mercado, isso podemos.

RURAL – Como o sr. enxerga o potencial energético no Brasil?


DUFF – Fizemos um estudo sobre isso e observamos que, sem dúvida, é um benefício para o setor. A grande vantagem da
cogeração energética é a visibilidade de preços no longo prazo. Ao contrário do etanol ou do açúcar, cujos preços variam
de acordo com o mercado, o usineiro sabe exatamente quanto ele vai ganhar pela eletricidade que produzir. Essa
estabilidade faz muito bem para as empresas que sabem que podem contar com aquela receita fixa. Também é um
grande benefício para o País, pois se coloca a geração de energia onde há demanda. Houve um esforço muito grande da
indústria e do governo para levar essas linhas de transmissão e construir toda essa infraestrutura.

RURAL – Qual a visão do RaboBank sobre o Brasil no mercado agropecuário mundial?


DUFF – Nos últimos cinco anos percebemos um crescente interesse pelo Brasil. Existe um grande monitoramento sobre
tudo o que acontece por aqui. Seja no mercado de soja, seja na produção de carne e frango. Nesse período, o Brasil se
tornou um importante exportador em diversos setores, o que certamente desperta o interesse de investidores e a
preocupação de concorrentes. Por isso, o País tem se colocado no centro das atenções do mercado agropecuário
internacional, se posicionando como uma nova oportunidade para eventuais investidores estrangeiros. É claro que a crise
econômica pôs um freio nos novos investimentos. Mas no longo prazo existem todas as condições para um novo ciclo de
crescimento.

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Ano I – Nº 4 Abril de 2009

Biodiesel 2008/2017
Artigo de abril de 2009, escrito por Décio Luiz Gazzoni, Engenheiro Agrônomo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República e publicado no Portal BiodieselBR.

A Empresa de Pesquisas Energéticas, vinculada ao Ministério das Minas e Energia, efetuou um estudo sobre a
oferta e demanda de energia no período entre 2008 e 2017, o que inclui o biodiesel. O estudo avaliou a disponibilidade
de insumos e a capacidade de processamento para atender as metas estabelecidas pela Lei nº 11.097/2005, além do
auto-consumo do setor agropecuário. No bojo do estudo, foi elaborada uma projeção de preços de biodiesel, permitindo
compará-los ao petrodiesel.
O estudo também contemplou a necessidade de infra-estrutura de escoamento para as regiões consumidoras,
avaliando a capacidade de processamento das indústrias e o transporte do biocombustível das usinas até as bases das
distribuidoras, assumindo que a sua distribuição utilizará o sistema já existente para o petrodiesel.
O estudo da EPE valeu-se do Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos do MAPA, ferramenta fundamental para
a produção de matéria prima. Também considerou o aproveitamento dos co-produtos, pelo seu peso no custo de
produção do biodiesel.

Perspectivas de Preços de Biodiesel


Para verificar a competitividade relativa do biodiesel em relação ao petrodiesel, de forma a atender as metas
estabelecida pela Lei nº. 11.097/2005, o estudo projetou os preços do biodiesel, que foram denominados “preços
mínimos”. O seu cálculo considerou o preço da matéria prima, os custos industriais, a margem média de remuneração por
distribuição e revenda e os tributos incidentes. Os autores do estudo ressaltaram que a margem de remuneração do
empreendedor não foi considerada, assim como o ICMS - para não dificultar a comparação com o diesel mineral, visto
que cada estado pratica uma alíquota diferenciada.
Em relação aos preços da matéria prima, foram utilizadas as projeções de preços no mercado mundial de óleos
vegetais elaboradas pelo FAPRI (Food and Agricultural Policy Research Institute) para: soja, canola, girassol, dendê e
amendoim. Para mamona e sebo bovino (valor extrapolado para as demais gorduras animais), foram utilizados os dados
da UNIAMERICABRASIL, que comercializa estes produtos no mercado nacional. Para a mamona foram utilizados os
valores fornecidos pela CONAB, de R$33,56 por saca de 60 kg, adicionados de R$0,02/L para esmagamento e
degomagem. Considerou-se o óleo de fritura equivalente a 65% e a borra de ácido graxo como 20% do preço do óleo de
soja, de acordo com o Informativo ABOISSA. A matéria graxa obtida de esgoto foi considerada como tendo custo zero.
A metodologia do estudo converteu os preços da mamona, sebo bovino, óleo de fritura, borra e esgoto para
manter a paridade com o óleo de soja para 2007, estabelecido pela FAPRI. A relação encontrada entre cada um destes
insumos e o óleo de soja foi fixada para elaborar a projeção 2008-2017, de forma a manter-se constante no decorrer do
período, ou seja, o preço do óleo de soja passou a ser um indexador das demais matérias primas. As densidades utilizadas
para realizar a conversão dos dados massa/volume foram: 0,918 kg/L (óleo de soja, de canola, de girassol e de
amendoim); 0,946 kg/L (óleo de dendê); 0,962 kg/L (óleo de mamona); 0,901 kg/L (sebo); 0,908 kg/L (borra) e 0,88 kg/L
para o biodiesel. A taxa de câmbio foi fixada em R$1,96/US1, para todo o período. A Tabela 1 apresenta a projeção de
preços da matéria prima, ao longo do período abrangido pelo estudo.

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Tabela 1 – Preços das matérias primas (US$/t)

Os custos de conversão representam os custos com álcool, catalisador, mão-de-obra, energia, aluguel, entre
outros. De acordo com a Agência Internacional de Energia, estes custos representam 8-15% do custo de produção do
biodiesel nas plantas de grande escala, e entre 25-40% nas plantas de pequena escala. Tomando por base o porte das
usinas autorizadas e das que se encontram em processo de autorização pela ANP, o estudo considerou os custos de
conversão como sendo de 20%. Foi assumido que os custos de conversão da borra de óleos vegetais são idênticos ao
custo da matéria-prima. Quanto ao esgoto, por tratar-se de um processo cuja tecnologia ainda não está comercialmente
consolidada, os custos de conversão foram estabelecidos em R$ 0,60 por litro.
Para a obtenção do ‘preço mínimo’ do biodiesel, além dos custos dos insumos graxos e dos custos de conversão,
foram acrescentados os tributos PIS/PASEP e COFINS para o biodiesel incidentes sobre todos os insumos, exceto mamona
e dendê (considerados como agricultura familiar nas regiões Norte e Nordeste), além da margem por distribuição e
revenda. As projeções de consumo, regionalização da demanda e preços de óleo diesel com base na série histórica, foram
tomadas como fonte de referência.
A previsão de preços de diesel refere-se ao preço ao produtor da região Sudeste. Para estimar os preços
regionais, foram utilizados dados disponibilizados pela ANP (Relatório de Acompanhamento do Mercado). O estudo
apresenta preços de óleo diesel por região geográfica, o que permite estimar, para cada uma destas, o incremento em
relação ao preço do óleo diesel da região Sudeste. Pondera-se que este valor incremental esteja associado à diferença
acarretada pelos custos de transporte do combustível fóssil. Desta forma, o óleo diesel mineral teve os preços
considerados a partir da projeção do preço nacional, ao qual foram acrescidos os valores de PIS/COFINS e CIDE e a
remuneração por distribuição e revenda. Para a obtenção do preço do diesel por região geográfica do país, ao preço
nacional (dado em Paulínia – SP), adicionou-se o incremento regional.

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Figura 1 – Projeção de preços de diesel e preços mínimos de biodiesel 2008-2017

A Figura 1 mostra as estimativas de preços mínimos do biodiesel, produzidos a partir de diferentes matérias
primas, comparado com o preço do óleo diesel, por região geográfica. Pelo exame da figura, verifica-se que somente o
esgoto e a borra de ácidos graxos e, no primeiro ano, o óleo de fritura são capazes de prover biodiesel mais barato que o
óleo diesel. Entre os insumos cultivados, a mamona e o dendê são os que permitem preços mais próximos dos estimados
para o diesel mineral, seguidos de longe pela soja – apesar de esta ser a matéria prima mais utilizada.
É relevante destacar que a competitividade do biodiesel com o óleo diesel também depende das incidências - e
das desonerações - de tributos. Apesar do Selo Combustível Social para os insumos oriundos da agricultura familiar
ampliar as desonerações fiscais concedidas pelo governo, os benefícios atendem a todos os insumos graxos para
produção de biodiesel. Mesmo assim, as projeções sinalizam que todos os preços de biodiesel, independente da matéria
prima, são muito superiores aos preços previstos para o óleo diesel. Como tal, conlcui-se que os benefícios oferecidos
ainda não foram suficientes para tornar o biodiesel competitivo com o óleo diesel.
É muito importante ressaltar que somente o preço de óleo diesel baseia-se no mercado energético, enquanto as
matérias primas (óleos e gorduras), baseiam-se em mercados não-energéticos (alimentício, químico e farmacêutico).
Desta forma, as projeções futuras podem vir a apresentar alterações decorrentes do aumento de produção voltado para
este segmento. Como cerca de 80% dos custos de produção do biodiesel estão relacionados com a matéria prima, é
imperativo considerar que os ganhos de produtividade agrícola repercutirão enormemente nos preços.

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Uma receita financeira extra que pode ser considerada em um projeto de produção de biodiesel, além do
percentual da mistura compulsória, seria obtida pelos créditos de carbono relacionados às emissões evitadas de gases de
efeito estufa, reduzindo, desta forma, os custos de produção e melhorando a sua competitividade financeira face ao
diesel mineral – para o que torna-se necessário mensurar a diferença entre as emissões decorrentes da queima destes
combustíveis.
Levando-se em conta que a substituição de diesel por biodiesel permite, segundo evitar cerca de 2,6 kgCO2/L, e
considerando o valor praticado no primeiro leilão do Brasil de créditos de carbono, que foi de €16,20/tCO2, é possível
estimar que a incorporação desta receita possibilitaria a redução bastante significativa do preço do biodiesel em
aproximadamente R$0,11/L.
Finalmente, da mesma forma que ocorreu com o álcool combustível no Brasil, o estudo alerta que é de se
esperar uma curva de aprendizado para o biodiesel. A criação de um mercado consumidor de maior escala, bem como o
desenvolvimento tecnológico agrícola e industrial provavelmente deverão conduzir a ganhos de escala e redução dos
custos de produção. O reflexo desse aprendizado pode não ser perceptível no horizonte decenal do plano, mas poderá
ser identificado no futuro como resultado do processo agora iniciado.

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Usinas – Radiografia do setor de biodiesel


Análise de janeiro de 2009, escrita por Alice Duarte, publicada no Portal BiodieselBR.

“Pesquisa exclusiva faz um mapeamento completo dos projetos e usinas de biodiesel em operação comercial no Brasil”.

Qual é o tamanho real e o perfil do mercado brasileiro de biodiesel? O que pensam os empresários sobre os
leilões e o que planejam para 2009? Ao fim do primeiro ano de mercado obrigatório, as perguntas se fazem necessárias,
principalmente em um cenário de grande turbulência econômica, que trouxe à tona as velhas inseguranças e incertezas
que tanto tiram o sono dos empresários. Uma pesquisa exclusiva, feita pelo grupo BiodieselBR nos meses de novembro e
dezembro de 2008, apresenta dados que revelam como está a situação das unidades em operação comercial no país.
Hoje são 62 usinas autorizadas pela Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) a comercializar
biodiesel, mas o mercado é bem maior que isso. Nos dois últimos anos, a indústria de biodiesel deu um grande salto em
capacidade instalada, saindo da casa dos 100 milhões de litros para três bilhões de litros ao ano. O número de miniusinas
para fins de pesquisa ou consumo próprio também acompanhou esse crescimento.
A pesquisa avaliou um total de 220 indústrias de biodiesel. Mas, após uma seleção criteriosa, foram excluídas
112 unidades, cujos projetos estavam parados e sem previsão de se viabilizar no curto e médio prazo ou se tratavam de
usinas piloto – e, portanto, sem representatividade no mercado. Ao final da análise, a sondagem focou em 107 usinas.
Um total de 58% dos empresários responderam a pesquisa, que foi realizada por email e telefone. O resultado: há hoje no
Brasil 49 plantas industriais produzindo comercialmente, 24 prontas, mas sem produção, 15 em construção e 19 em fase
de planejamento.
Atualmente 29 usinas desfrutam dos benefícios fiscais do Selo Combustível Social e 48 possuem autorização da
Receita Federal para operar. Todas as que detêm o selo também possuem autorização tanto da ANP como da RF. De
acordo com a pesquisa, 46 usinas não possuem nenhuma dessas três certificações.
Essas e outras informações foram publicadas em janeiro no Mapa das Usinas de Biodiesel 2009, que está em sua
terceira edição.

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Expansão
Na contramão do clima sombrio que paira sobre a indústria brasileira como um todo – que acumulou de
setembro a dezembro de 2008 queda de 19,8% na produção – o setor de biodiesel segue com boas perspectivas de
crescimento. O mercado, por possuir hoje uma demanda fixa interna de 1,4 bilhão de litros ao ano com a mistura
obrigatória de 3% de biodiesel no diesel de petróleo, está na expectativa de aumento para 4% de mistura este ano,
medida que está sendo estudada pelo governo. A indústria de biodiesel está operando com uma grande capacidade
ociosa e, justamente por isso, grande parte das usinas planeja aumentar sua produção. Segundo a pesquisa, 42% dos
empresários disseram ter metas de expansão para 2009, o que inclui ampliação da capacidade instalada e aumento da
ocupação na indústria. “Não temos planos de ampliar a capacidade instalada, mas nossa meta para o primeiro semestre
de 2009 é aumentar nossa participação nos leilões e elevar a produção para 100% da nossa capacidade autorizada. Hoje
estamos produzindo entre 65 e 70% da capacidade”, diz Nivaldo Tomazella, diretor industrial da Biopar, de Rolândia (PR),
que tem autorização para produzir 43,2 milhões de litros por ano.
Já com a demanda do mercado interno consolidada, a indústria de biodiesel está começando a voltar o olhar
para o mercado internacional. A pesquisa mostrou que muitas usinas já se adiantaram na produção de biodiesel no
padrão exportação, apesar de atualmente os custos de produção, a carga tributária e o protecionismo de alguns países
membros da União Européia imporem barreiras ao comércio exterior. Dentre as usinas que responderam a pesquisa, 92%
produzem dentro da especificação brasileira (ANP nº7/08), 40% dentro da especificação européia (EN 14124) e 34% estão
dentro da especificação americana (ASTM D6751). Apenas 16 usinas afirmaram conseguir as três especificações.
Segundo estimativa do Food and Agricultural Policy Research Institute (Fapri), o consumo de biodiesel na União
Européia deve chegar a 2,2 bilhões de litros, com uma produção interna de cerca de 1,8 bilhão de litros, o que abriria um
mercado potencial de importação de 352 milhões de litros.

Leilões
Os empresários pesquisados mostraram-se bem divididos quando a assunto é a continuidade ou o fim dos leilões
da ANP. Na opinião de 42% dos entrevistados, os pregões devem continuar e igualmente para 42% ele deve acabar ainda
este ano. Para 16% o término deve acontecer somente após 2009.
Essa dúvida não atinge só os usineiros. Até o governo admite não saber o que é melhor nesse momento para o
setor. A política de preço máximo estipulado nos pregões é considerada injusta por muitos produtores, que vêm
trabalhando com margens de lucro apertadas. E num ambiente de forte oscilação na cotação das commodities, isso tem
aumentado a exposição das usinas. Para os que defendem esse modelo de comercialização, o leilão é visto como um mal
necessário, pois ele dá estabilidade e controle ao setor por meio da intermediação da Petrobras.
Este primeiro ano de mercado obrigatório não foi muito fácil para o setor. As adversidades catalisaram uma
depuração das indústrias e não houve espaço para amadorismos. Diante de margens de lucro estreitas, só quem teve
uma administração cuidadosa e aperfeiçoou sua produção conseguiu dar um passo maior na direção de sua consolidação
no mercado.

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“A crise dos alimentos não é causada pelos biocombustíveis”


Entrevista de março de 2008, concedida à UnB Agência pelo professor do Instituto de Química da Universidade de Brasília
(UnB) Paulo Anselmo Ziani Suarez.

O biocombustível foi eleito por algumas autoridades internacionais como


o maior culpado pela recente alta mundial no preço dos alimentos. Banco Mundial
(Bird), conselheiros das Nações Unidas (ONU) e líderes de países ricos em petróleo
se manifestaram contra a produção de etanol, que, segundo eles, estaria
diminuindo o número de terras reservadas ao cultivo de alimentos. As acusações
contra os biocombustíveis deflagraram a rejeição de outras tantas autoridades,
principalmente as brasileiras, que apostam no etanol da cana-de-açúcar para
impulsionar o país.
Para o professor Paulo Suarez, do Laboratório de Materiais e
Combustíveis da Universidade de Brasília (UnB), o governo brasileiro está certo,
pelo menos, por enquanto. “Não acredito que essa crise atual seja causada pela
produção de biocombustíveis”, considera o professor, que ressalva: “mas eles vão
representar ameaça à produção mundial de alimentos no futuro”.
Em entrevista concedida à UnB Agência, o professor do Instituto de
Química (IQ) da UnB comenta a polêmica dos biocombustíveis e diz que os países
ricos põem a culpa da falta de alimentos no etanol porque não querem enfrentar o
problema de frente. “Os países ricos insistem em não discutir a questão dos
subsídios agrícolas. Muitos países pobres não estão produzindo mais alimentos
porque não conseguem ser competitivos, e uma das razões para isso é o subsídio
que os países ricos dão para os seus próprios agricultores”, analisa o químico.
Nas linhas abaixo, Suarez também elogia a posição do governo brasileiro sobre a questão e critica a fabricação de
etanol a partir do milho feita pelos Estados Unidos. “A produção de etanol a partir do milho é energeticamente inviável. O
balanço econômico também é desfavorável, mas os Estados Unidos estão impedindo a entrada do etanol brasileiro – que
é energética e economicamente viável – para beneficiar os agricultores de milho locais”, analisa.

UnB AGÊNCIA – Os biocombustíveis representam alguma ameaça à produção mundial de alimentos?


PAULO SUAREZ – Atualmente, não. Mas vão representar no futuro. Hoje, não temos tecnologia para que ocorra uma
substituição total dos combustíveis fósseis por biocombustíveis. Um programa em massa nesse sentido teria problemas.

UnB AGÊNCIA – Então a atual crise de alimentos não tem relação com os biocombustíveis?
SUAREZ – Não acredito que essa crise atual seja causada pela produção de biocombustíveis. Normalmente, uma
commodity ou outra sobem. Agora, todas subiram, as que são usadas em biocombustíveis e as que não são usadas. Por
mais que se tenha aumentado a participação de milho na produção de biocombustível, não se justifica o aumento que
houve no preço do milho em nível internacional.

UnB AGÊNCIA – Se a culpa não é dos biocombustíveis, por que o preço dos alimentos subiu?
SUAREZ – A atual crise do setor de alimentos se deve a diversas razões e nenhuma delas tem relação com os
biocombustíveis. A produção de biocombustíveis não aumentou, nos últimos dois ou três anos, a ponto de comprometer
a produção de alimentos. Aqui no Brasil, por exemplo, produzia-se mais álcool no auge do Pró-álcool do que hoje. Mesmo
o mercado de biodiesel é muito pequeno. Há algumas questões que as autoridades internacionais não querem enfrentar
de frente. Existe um movimento especulativo muito grande. Os investidores estão fazendo contratos futuro prevendo o

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uso em massa de biocombustíveis, o que gera o aumento nos preços. Várias pessoas especulam com biocombustíveis e
alimentos.

UnB AGÊNCIA – O presidente Lula relaciona o aumento no preço dos alimentos ao aumento do consumo por populações
de países pobres. O senhor concorda?
SUAREZ – Sim. Ocorreu um aumento muito grande na demanda por alimentos, principalmente, devido a países
emergentes como Brasil, Índia e China, cujas populações carentes têm entrado no mercado consumidor. Mas a questão
mais importante é que os países ricos insistem em não discutir a questão dos subsídios agrícolas. Muitos países pobres
não estão produzindo mais alimentos porque não conseguem ser competitivos, e uma das razões para isso é o subsídio
que as nações ricas dão para os seus próprios agricultores. Vários países da África poderiam estar produzindo, mas não
produzem porque não são competitivos. Insumos como fertilizantes são caros. Deveria haver um determinado preço no
mercado internacional para que o produto pudesse se tornar competitivo.

UnB AGÊNCIA – O etanol representa uma ameaça à hegemonia dos combustíveis fósseis?
SUAREZ – Não. Há os argumentos de que o biocombustível polui menos, afeta menos a saúde, gera mais emprego, mas se
você chegar na bomba e o álcool estiver custando mais, você vai botar gasolina. Só alguém com muita consciência
ecológica e social e muito dinheiro no bolso vai preferir colocar um biocombustível que não seja economicamente viável.
O petróleo é muito barato, quase não oferece custo de produção. Ele está, sim, indo para um patamar inviável, mas não
por culpa do biocombustível. Se a gasolina chegar a R$ 10,00 o litro, vamos deixar de andar de carro para andar de ônibus
movido a diesel. O preço do petróleo varia a toda hora, mas essa variação está dentro de uma curva ascendente. Em
algum momento, portanto, ele vai se tornar inviável, não por causa do biocombustível. Quando isso acontecer, alguma
outra coisa vai ter que substituir, seja biocombustível ou metrô elétrico.

UnB AGÊNCIA – Isso demora para acontecer?


SUAREZ – Não. Não dá para cruzar os braços e esperar o petróleo subir de preço. Ele já bateu US$ 120 por barril. Tudo
mundo está procurando alternativas. Apesar de todas as descobertas, as reservas de petróleo mundiais não param de
cair. Desde a década de 1980, está se consumindo mais do que se descobre.

UnB AGÊNCIA – É natural que o biocombustível substitua os derivados do petróleo quando as fontes se esgotarem?
SUAREZ – Hoje em dia, sim. Atualmente, não se enxerga uma alternativa mais viável do que esses biocombustíveis.
Também não acredito que hoje nós tenhamos terra arável e tecnologia para conseguir fazer uma substituição total no
mundo. Falta pesquisa, falta desenvolver novas fontes para a obtenção de óleos e gorduras e para a produção de
combustível, falta diversificar a matriz energética – usar o máximo possível de energia eólica, solar, das marés,
geotérmica. Precisamos diversificar. O problema é que apostamos todas as nossas fichas no carvão e no petróleo,
combustíveis fósseis muito baratos, abundantes e práticos. Os biocombustíveis têm futuro garantido na matriz energética
mundial, mas vamos ter de desenvolver tecnologia tanto para a produção deles quanto para a produção de novas fontes
de energia.

UnB AGÊNCIA – Quais são as alternativas mais promissoras no campo dos biocombustíveis atualmente?
SUAREZ – As pesquisas que temos feito em laboratório com plantas piloto de algas apontam uma produtividade de 140
mil litros de óleo por hectare. A maior produtividade atual é conseguida a partir de palmáceas e dendê, entre outras, e
não passa de seis mil litros por hectare. É uma diferença muito grande.

UnB AGÊNCIA – Os Estados Unidos apostam no milho. É uma boa opção?

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

SUAREZ – Não. A produção de etanol a partir do milho é energeticamente inviável. O balanço econômico também é
desfavorável, mas os Estados Unidos estão impedindo a entrada do etanol brasileiro – que é energética e
economicamente viável – para beneficiar os agricultores de milho locais. Esse é um exemplo claro de subsídios. Houve um
deslocamento muito grande do milho utilizado na alimentação para a produção de etanol, de uma forma completamente
inviável. Isso só se sustenta por causa do subsídio. Esse é um exemplo claro do que pode acontecer no futuro se não
houver uma alternativa viável.

UnB AGÊNCIA – O que diferencia o etanol do milho do de cana-de-açúcar?


SUAREZ – O produto final é igual. O álcool que sai da bomba é o mesmo composto. O que diferencia são a matéria-prima
e a tecnologia utilizadas. Além disso, hoje coloca-se uma unidade de energia para a produção de álcool de cana-de-açúcar
e se retira oito unidades. Do petróleo, tiramos três ou quatro unidades por unidade de energia empregada. No etanol de
milho, tira-se menos de uma unidade, ou seja, gasta-se mais energia do que se retira para produzi-la.

UnB AGÊNCIA – É razoável considerar o biocombustível uma alternativa ecológica?


SUAREZ – Sim. Ele também polui, mas o seu impacto é menor. Também se polui mais ou menos de acordo com a
tecnologia usada para produzi-lo. Com certeza, se as plantações forem preenchidas por agrotóxicos, haverá outros tipos
de poluição. O biocombustível é muito mais limpo do que os combustíveis fósseis. Eles não aumentam a concentração de
carbono na atmosfera, pois o carbono emitido na combustão é absorvido durante a fotossíntese realizada na plantação.
Mas já estão aparecendo novas tecnologias de produção de biocombustíveis diferentes do etanol e do biodiesel que são
ainda mais eficientes.

UnB AGÊNCIA – A aposta do governo brasileiro no etanol é oportuna?


SUAREZ – Sim. A argumentação que tenho escutado do presidente Lula está muito correta. É preciso tentar inverter a
lógica dessa discussão, colocando o problema dos subsídios agrícolas e da especulação. As economias emergentes estão
colocando muita gente para dentro do mercado consumidor. No Brasil, o Bolsa Família é um exemplo típico disso. Se
alguém de classe média ou alta aumenta seu rendimento, ele não vai comprar mais alimentos. Mas, quando se insere a
população que está fora do mercado consumidor para dentro dele, a primeira coisa que esse pessoal vai acessar é
alimento. Com isso, houve um aumento muito grande da demanda por comida.

UnB AGÊNCIA – A forma como as Nações Unidas (ONU) têm lidado com o tema lhe agrada?
SUAREZ – Não. A solução não é o que a ONU está tentando fazer. A resposta não é acabar com os biocombustíveis. Se os
subsídios agrícolas dos países ricos acabarem, os países mais pobres vão produzir. É preciso levar essa discussão para a
Rodada de Doha. O problema é que tem muito dinheiro envolvido. Acusam Brasil e Índia de intransigentes, mas eles
(Europa) também não abrem mão. Só querem liberalização da economia de produtos industrializados e serviços, que é o
que eles têm para oferecer.

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

Ethanol Brasil Blog: um blog com três anos de desenvolvimento


Abril de 2009. Responsável: Marcelo Acuña Coelho.

HISTÓRICO
Existente desde 2006 o Blog Ethanol Brasil foi fundado procurando reunir, analisar e reproduzir as principais e
mais atuais notícias e informações acerca da indústria sucroalcooleira brasileira, envolvendo também os petro e
biocombustíveis. Desde então o blog vem crescendo cada vez mais e atraindo maior atenção de vários atores envolvidos
na cadeia que buscam insumos sobre o tema. No ano de 2007 o blog veiculou 1150 matérias sempre respeitando as
fontes e créditos de seus autores.
No ano de 2008 o blog publicou 991 matérias, divulgando
também eventos de importância para o setor. Neste mesmo ano, o blog
começou a evoluir sua política de patrocínio e já contava com alguns
patrocinadores. Atualmente o blog é referência quando se busca por
notícias e informações diárias acerca da cadeia sucroalcooleira e
combustíveis em geral. Por se hospedar no blog disponibilizado pelo
Google, o Ethanol Brasil obtém acesso de vários continentes possuindo o
melhor ranking de procura em seu portal de busca quando se pesquisa
assuntos utilizando palavras relacionadas, tais como: “ethanol”, “brazil”,
“etanol” e “brasil”.
O autor do Ethanol Brasil Blog é o Sr. Marcelo Coelho, advogado em exercício na cidade de Ribeirão Preto/SP,
com especialidade na indústria de etanol. O Sr. Coelho destaca que a iniciativa do blog tem agregado à vários organismos
públicos e privados, como também a pesquisadores interessados no tema, maior sintonia com o mercado e auxiliado o
processo de tomada de decisões. Além da sua natureza de veículo de informações, o blog também oferece oportunidade
para organizações, que podem estar ou não envolvidas com o tema, expor seus negócios, como também utilizar o blog
para publicar matérias e eventos relacionados ao setor.

Estatísticas de acesso
Três motivos para a sua instituição investir no Ethanol Brasil, o blog de maior destaque no ranking do Google:
20.000 acessos em fevereiro de 2009;
1.500 visitantes de 20 países;
Dez matérias diárias cobrindo o setor sucroalcooleiro.

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

Desafio
Os potencias parceiros que estão nesse
momento avaliando os impactos positivos de
patrocinar e investir no Ethanol Brasil Blog,
estão convidados a fazer um teste,
experimentem realizar uma busca utilizando as
palavras "ethanol + brasil", o Blog surge como a
primeira alternativa encontrada. Procurando
por palavras de natureza semelhante o blog
também surge na maioria dos casos entre os
primeiros procurados. Esse fator, somado ao
excelente material publicado, maximiza o
potencial competitivo do portal que só em
fevereiro, obteve mais de 20.000 acessos.
É por isso que o Blog Ethanol Brasil convida sua organização para participar dessa oportunidade patrocinando a
iniciativa promovida pelo blog de trazer informações precisas e atuais sobre a cadeia sucroalcooleira para todos os
interessados, aproveitando ainda como patrocinador, para expor seus negócios e divulgar matérias produzidas por sua
instituição, relacionadas ao tema.

Patrocine o Ethanol Brasil Blog


Desde 2006, o caminho mais rápido para o topo do ranking do Google: opte por algum dos pacotes oferecidos
pelo seu investimento ou entre em contato com o editorial do blog, para obter maiores informações:

Pacote Diamante: R$ 900,00/mês


- 01 banner (160 x 100 px), do lado direito de todas as páginas do blog, com link direto para o site do patrocinador.
- 01 full banner rotativo (680 x 64 px), no topo de todas as páginas do blog, para anúncio de eventos realizados pelo
patrocinador (link direto para o site ou página específica).
- Veiculação de matérias fornecidas pelo patrocinador, mediada pelo editor do blog.

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patrocinador (link direto para o site ou página específica).
- Veiculação de matérias fornecidas pelo patrocinador, mediada pelo editor do blog.

Pacote Ouro: R$ 500,00/mês


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- Veiculação de matérias fornecidas pelo patrocinador, mediada pelo editor do blog.

Pacote Prata: R$ 300,00/mês


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Acesse o blog
www.ethanolbrasil.blogspot.com

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

Blog Ethanol Brasil:


Editor: Marcelo A. Coelho
CPF: 093.723.628-40
Telefone: (16) 8154.8278
E-mail: marceloacuna@hotmail.com
Ribeirão Preto / SP

Atuais Patrocinadores

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

Micro-Destilarias de Etanol no Brasil (Em Inglês)


Estudo de caso analisando a iniciativa brasileira do Projeto Gaia em janeiro de 2009, publicado em um relatório elaborado
pela FAO e PISCES denominado: “Small-Scale Bioenergy Initiatives: Brief description and preliminary lessons on livelihood
impacts from case studies in Asia, Latin America and Africa”.

Initiative Name: Case 11 - Brazil Ethanol Micro-distilleries


PROJECT GAIA BRAZIL - “A model for a community-owned and operated microdistillery to fuel
cooking stoves in rural areas”.
Location: Minas Gerais State, Brazil
Initiation Date and Test of fuels: October 2005 to June 2007
Duration: Viability Microdistillery Study: July 2007 to December 2008
Funders: Shell Foundation and Dometic AB
Project Initiator: Project Gaia
Overall Budget: US$ 122.390,26
Energy Output: 21,600 litres ethanol/year
Area of Land: 7.5 hectares for ethanol, 1 hectare for “rapaduras”
Beneficiaries: 90 families, users of CleanCook stoves

Background and Context


Project Gaia is part of a global initiative created to promote the use of clean-cooking fuels, using ethanol, aimed
at the poorest part of the population. In Brazil, the project aimed to evaluate the acceptance of clean-cooking fuels by
domestic users in different urban and rural areas. The project also evaluated practicality, safety and economy.
Brazil has some of the most extensive experience in biofuels worldwide, owing to its National Alcohol Fuels
Research Program (PROÁLCOOL) created to stimulate the production of alcohol fuels and reduce dependence on oil
derivatives, and also thanks to research programmes run by automobile companies and the sugar industry.
The technology for large scale production of ethanol and the knowledge of small scale production, together with
food production (alcohol and milk), attracted the attention of Project Gaia. In spite of the logistics and infrastructure
constructed to facilitate access to Liquefied Petroleum TGas (LPG)T – known as cooking gas – many rural communities,
mainly in the north and north-east of Brazil, do not have access to LPG and continue using firewood as their main source
of fuel. A key factor is the price per cylinder of LPG. From the creation of the Real Plan in 1994 (the government economic
stability plan) Brazil had an accumulated inflation of 225.25% and an increase in the price of a 13kg cylinder of LPG of
639.51%. This contributed to the increase in the number of families returning to use firewood as their main source of fuel,
reaching 38% in the first quarter of 2007.
The State of Minas Gerais was chosen for this project because of its historical use of firewood for boiling and for
producing cachaça – a typical drink made from the fermentation of sugar cane with a 20% production waste. This waste
occurs because, during the fermentation process there may be some kind of contamination, and also during the
distillation due to the use of copper alembic stills. The resulting coproducts can be harmful for human health, so it is
common to separate the liquid that is obtained at the beginning and at the end of the distillation process.
In order to assess the acceptability of the CleanCook stove, communities with different profiles were selected,
and fuel was supplied at an accessible price. This was necessary because of the high price of ethanol in fuel shops. Local
partnerships were also considered. Three communities from the Minas Gerais State were selected: Salinas, in the north of
the State, Urucania, in the central region (in partnership with the Jaticoba Mill that provided ethanol to families in rural
areas), and Betim, in the metropolitan area of the state capital, in the Dom Orione settlement.

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

During the stove testing phase, until June 2007, Project Gaia received funding from the Shell Foundation and
Dometic AB of Sweden, which donated the stoves. Today, Project Gaia uses its own resources, and has reached the
dissemination of results phase, spreading information about the tests of the CleanCook stove in order to educate the
market to sell stoves to the public.
Project Gaia Brazil began to study the technology and the feasibility of micro distilleries of ethanol (MDE) in order
to promote access to low cost fuel, in addition to promoting the development of communities. Studies were based on
existing micro distilleries, and Gaia are working on the implementation of a MDE in the Dom Orione settlement. There are
39 families at the settlement, most produce vegetables, and a small group works on the production of derivatives of sugar
cane, and know the ethanol production process from MDE. All families have shown interest in the production of ethanol
and can provide a small area for planting sugar cane.

The Initiative Market Map


It is important to mention that in the initial phase of tests of the CleanCook stove, Project Gaia donated the
ethanol to the families, (with the exception of Urucania, where ethanol was donated by a sugar and alcohol plant). The
price increased progressively until market price was reached, evaluating the buying and selling capacity of the families.
Project Gaia was in charge of the distribution of ethanol. Due to the high price of ethanol, many families used the stoves
less and this was crucial for the development of market research studies for MDE. The model shown is in development for
the settlement Don Orione in Betim, based on research in a micro distillery unit and also from other studies of Project
Gaia.

During the tests with the CleanCook stove, Project Gaia created an ethanol distribution centre. The ethanol was
purchased by Project Gaia at the fuel shop (initially, ethanol was purchased at gas stations) and transported to the

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

distribution centre, where it was passed on to families. Families were visited by Project Gaia weekly in order to find out
whether they were adapting well to the stove and the fuel, and to determine the benefits for these families.
As for the production of rapadura (a sweet solid product, obtained from the concentration of sugar cane, with
high levels of vitamins and minerals), this activity already existed at the settlement Dom Orione in Betim, and Project Gaia
offered support to improve the storage and coordinate the planting of sugar cane in order not to interfere with the future
production of ethanol (Currently, Project Gaia has about 5 hectares of sugarcane plantations and the new plant will start
production in February. 80 hectares of sugar cane can be planted without harming other crops). The rapaduras currently
produced are sold to the local government in a program called "Direct Buy" and are donated to local nurseries, to be
served as a food supplement for children up to 6 years of age. Considering the production of ethanol, Gaia have projected
to provide technical assistance to EMATER - Technical Assistance and Rural Extension Company of the State of Minas
Gerais – in the cultivation of sugar cane. Project Gaia will assist in the production of ethanol and help in the coordination
of MDE, until they are able to manage the business, from production to final sale.

Relationships between Market Actors

During the testing phase of the CleanCook stove, Project Gaia was in charge of all intermediation of the purchase
and sale of ethanol at the fuel shop. Stove users seek ethanol at the local distribution centre, coordinated by Project Gaia.
The local government’s involvement with the project was to put Project Gaia in touch with the communities.
During the implementation phase, the MDE will be installed in an area of common use of the 39 families of the
settlement. Currently, most families produce vegetables but have an area for the cultivation of sugar cane. From these,
15% are directly involved in the production of rapaduras, and will be responsible for the production of ethanol, as they
are already familiar with the process, and 33% are already planting sugar cane. In addition to the 39 families from this
settlement, other families from the area will also receive a CleanCook stove unit, and will have access to purchase ethanol
at a reduced price, with a monthly limitation. These families will have a contract with Project Gaia and will be registered
in the MDE.
As the market for stoves grows in the area, other families will be included in the project through contracts and
registration in the MDE. In this set-up the local government will be more closely involved, because this institution is

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

accredited to provide environmental licensing for MDE. They could also provide information on families who have no
access to energy, so that they receive the stoves. The Institute of Colonization and Agrarian Reform (INCRA) will monitor
the program as it is the federal agency responsible for settlements, and in spite of being very bureaucratic, it has an
interest in the generation of income in the settlements. The Technical Assistance and Rural Extension Company of the
State of Minas Gerais (EMATER) is a State Government organization with an office in the municipality that attends to local
demands, offering technical assistance free of charge to small farmers. Project Gaia will facilitate these partnerships in a
way that improves relationships and provides information in order to facilitate access to the bioenergy market for other
groups of farmers.
Regarding legislation, currently there is only one Presidential Decree from 1981 that authorizes ethanol
production in MDE, for vehicular use, but only for the use of co-operative members or associates. In the case of ethanol
for domestic use, there is no impediment in sales, but there is also no law regulating the sale. The lack of specific
legislation for MDE prevents access to funding, mainly due to restriction of sales, which prevents the creation of a market.

Balance of Rights, Responsibilities and Revenues of Market Actors

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

The project has brought benefits to families who are stove users, initially for the possibility of using a clean
technology, and thus avoiding spending on health problems resulting from domestic air pollution. An attractive aspect for
families is the ability to buy ethanol in small quantities (compared to the choice of 13 or 45 kg of LPG), since many of the
families have no fixed income. It is also important to consider the direct purchase of MDE at a more affordable price. As
for the families of the settlement, they are the owners of the land, and therefore have the autonomy to decide what to
grow. They can thus all become suppliers of sugar cane and in addition to being paid for the cane, they will be able to buy
ethanol at a lower cost. They can also exchange sugar cane in return for ethanol (sugarcane bagasse, which is the waste
of the cane after is crushed, is used, among other things, as fuel for boilers), sell it, and even use it on their crops,
avoiding spending money on fertilizers.
The group of producers will be paid for the work of production and sale of ethanol, and are also generating work
for other families, with the cutting of sugar cane. They also save on energy, using sugar cane bagasse (waste obtained
only from the craft production of rapaduras) to feed the boiler, to provide the heat needed for the process. To ensure
that the purchase of ethanol is for stoves, all users need to be registered eliminating all possibility that the ethanol is
diverted for other purposes.
The federal and municipal governments are responsible for the licensing and environmental guidance on the
correct use of natural resources, and also for legislation on the production and sale of ethanol to facilitate access to
markets. In addition to gaining from tax collection, they also benefit from savings on public spending on health problems
related to domestic pollution. EMATER and INCRA, which are government agencies for technical assistance and guidance
on the correct use of cultivable land and agricultural production, can reduce the transfer of resources, since families are
involved in a profitable activity, and can help other groups interested in MDE. Project Gaia maintains its social objective of
promoting access to clean-burning stoves, and assisting in access to ethanol, therefore it has a responsibility to help
families in the production of ethanol and access to markets. When the generation of income comes from ethanol, Project
Gaia can allocate its resources to other projects, and it is also known for facilitating the search for new financial partners.

Analysis of Livelihoods Outcomes


Regarding the use of the CleanCook stove, families consider several advantages compared to traditional wood-
fired stoves and ovens using LPG gas. The issue of safety and speed were the most prominent, with the stove providing
both a reduction of risk from leaks and a time saving on average 20 minutes per day in the kitchen. The stove was also
considered economical, and easy to handle and clean.
It is important to note the issue of facilitating access to ethanol for families. The results obtained on the MDE
were based on studies of production units from the State of Minas Gerais and on two studies on the implementation of
MDE at the Settlement Dom Orione in Betim.
Regarding the advantages and benefits of a micro distillery, the communities involved have seen positive change,
with the use of clean fuel in their homes, and the benefits arising from environmental and health issues as well as the
diversification of production (sugarcane can be produced along with other crops). This would be mainly an activity for
rural areas, to help promote the increase of family income through the cultivation of sugar cane and production and sale
of ethanol, and generate a reverse rural exodus, by giving people the opportunity to generate income in their own lands
and bringing farmers back to the countryside. It is important to mention that the production of ethanol through the sugar
cane is one of the few activities in rural areas where the waste is used in the production and can also be processed into
sub-products that will generate extra income for families.

Overall Conclusions
Besides promoting access to a clean burning stove and improving air quality in homes, Project Gaia has focused
on spreading and replicating the micro distillery model to other countries, to facilitate access to ethanol. Biomass energy

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

can be replicated in tropical countries due to climate conditions and the possibility of using other crops such as the
mandioca, sweet-potato and Sorghum sacarino.
It is important to mention that this is not a monoculture of sugar cane associated with the production of food.
This is a production chain of sugar cane, in this case, in addition to ethanol and the production of rapadura, which is a
high energy food supplement. With the sub-products such as bagasse from sugar cane and vinhoto, as well as food for
cattle, which will improve the production of milk and meat, high quality fertilizer can be produced, which results in
increased production of food, and also sugar cane.
Considering the Brazilian reality, where thousands of farmers have left their lands as they do not represent a
means of survival, living in precarious conditions in big cities resulting in an evident social exclusion, this project could
promote a return to the countryside, creating favorable conditions to bring people back to the countryside, increasing
their self-esteem and strengthening their livelihoods. More than just a simple project to generate energy, this is
considered to be a “self-development” project as it promotes “selfsustainability” in energy and income increase through
the sale of sub-products, facilitating the promotion to food access, either through the associated production of rapadura
and dairy cattle, or the use of subproducts such as food for cattle and other organic fertilizer for crops.
It is worth highlighting that planting sugar cane for the production of ethanol in micro-distilleries, through
cooperatives or associations, is an advantage for rural farmers, and will not generate conflict in the daily activities of
communities.

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Biocombustíveis em FOCO
Ano I – Nº 4 Abril de 2009

COORDENAÇÃO COMITÊ EDITORIAL


- Carlos Américo Basco - Renato Felipe Veras de Carvalho
- Marco Antonio Ortega Berenguer - Beatriz Aprile Bilotta
- Roberto Carlos Martínez Ângulo

AGRADECIMENTOS
- Ministérios: MCT, MME, MAPA e MDA - Food and Agriculture Organization of the United Nations
- Revista BiodieselBR - Projeto Gaia
- Agência UDOP de Notícias - Marcelo Acuña Coelho
- Printec Comunicação - Paulo Anselmo Ziani Suarez
- Gazeta Mercantil - Lic. Federico Ganduglia
- CorreioWeb - Andy Duff
- Agência de Notícias EFE - Alice Duarte
- Agência de Notícias Repórter Brasil - Décio Luiz Gazzoni
- Revista Dinheiro Rural - Leonardo Attuch e Ibiapaba Netto
- UnB Agência - Regina Couto

Biocombustíveis em FOCO é um produto do Instituto Interamericano de Cooperação para agricultura, um boletim


informativo de distribuição virtual gratuita que visa transmitir importantes notícias, artigos, oportunidades e eventos
acerca dos temas: Agroenergia e Biocombustíveis. Os materiais publicados são recopilados de fontes diversas, com
autorização prévia e citação apropriada em cada artigo ou notícia, respeitando os direitos autorais. O IICA esclarece que as
idéias expressadas no boletim são de opinião de seus respectivos autores, não necessariamente representando as opiniões
do instituto, de outros autores ou organizações. É permitida a reprodução parcial ou total desse produto, desde que
devidamente autorizado pelos respectivos autores de cada artigo. As edições anteriores do boletim podem ser obtidas no
endereço (http://www.iica.org.br/Agronegocio). Para cadastrar emails interessados em receber mensalmente o boletim
ou enviar artigos, notícias, iniciativas e eventos para publicação, entre em contato pelo email: renato.carvalho@iica.int

Instituto Interamericano de Cooperação Para a Agricultura – IICA


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Cep: 71605–450, Brasília/DF, Brasil
Caixa Postal: 02995, Cep: 71608-972
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