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Capítulo 5

POLÍTICA
, E ECONOMIA NO
PERIODO DA FRENTE POPULAR
E DO RADICALISMO

A chegada ao poder da Frente Popular significou, na história


do Chile, o início de quatorze anos de governos liderados pelo
partido Radical. De forma pragmática, os Radicais, a partir de 1938,
realizaram composições políticas, eleitorais e governantes,
orientando-se por meio de uma política basicamente conciliatória
e flexível, o que fez com que o partido passasse a ser realmente o
ponto de referência na vida do país. 127 A despeito das enormes
divergências internas da Frente Popular - que polarizariam as ações
de comunistas e socialistas - e dos conflitos latentes com as forças
de direita, a política do Radicalismo possibilitou, na verdade, que
se concretizasse no país um clima de relativo consenso em torno
de temas como a presença do Estado na economia, a defesa da
democracia representativa, da estabilidade e do desenvolvimento
econômico. Como corrente política de forte perfil governante e de

~lia ~ lif tre partidos através


· d r ª nça eleitoral entende-se a composiçao po ica en boração
e um 1· d sdobra em coIa
a tsta coml.Ull mas que nem sempre se e tende-
recíp ' p li ça de governo en
se roca quando se ascende ao governo. or ª dan · · ténos . atn · da que '
el ~ composição política visando a fonnação e minis t ndo-se como
e e1 oralmente, tais forças políticas continuem aprese~
1932
;52 os Radicais
:;;.correntes ao eleitorado. Scully observa que de ª rda mas que
Con~re foram articuladores de frentes eleitorais de ceni::90V:.rnos (cf.
Seu ram com os Conservadores em alguns momentos
U.Y, 1992: 134 e 135).
J
FRENTI: PôPULAR, RADICALISMO E REVOLUÇÃ
128 O PASSIVA NO
C~fll1

sibilidade social, os Radicais, à testa do governo f


sen . b'l' d d d . , orarn e
de garantir uma relativa esta 11 a e o sistema Polítt ªPazes
. t . . co e dd
passagem à de fesa d~s 11nd eressbes soc1a1s e políticos das carnedar
subalternas, em espec1a as ur anas. a as
Para um acompanhamento das realizações do período d
vemo aberto com a Frente Popular e seguido pelos gov e go.
. . ,. rt t ernos e0
mandados pe1os Radica1s, e impo an e reter que O conse -
. . 1 . . nso a qu
nos referimos acima Jogou um pape muito mais decisivo do e
natureza das coalizões levadas a efeito pela política do Rad,· l~ue ª
_ ca 1srno
Neste sentido, a ascensao ao poder da Frente Popular no Chil ·
1938 , representou mui·to mais . do que o ex1to
,. . de uma coaliza~oe, ern
. mar-
cadamente de centro-esquerda. Abnu-se, a partir deste acon-
tecimento, um período histórico com características paradoxais, nas
quais as realizações de governo não teriam correspondência integral
com os anseios discursivos que expressavam (retoricamente ou não)
as bases sociais e as representações políticas que deram sustentação
à candidatura vitoriosa da Frente Popular.
Imediatamente após a posse, a intenção do governo da Frente
Popular, encabeçado por Pedro Aguirre Cerda, era a adoção de uma
série de medidas sociais relativas à terra, ao trabalho, à habitação e
à saúde. Para tanto, o presidente eleito procurou todos os partidos
que compunham a Frente Popular para formarem o novo ministério,
inclusive a Aliança Popular Libertadora (APL). O Partido Comunisla
recusou-se a participar diretamente do governo alegando que asua
declinação significava uma contribuição à busca de estabilidade
diante da agressividade que a direita manifestava em virtude da
vitória da Frente Popular. A Aliança Popular Libertadora, divi~ida
entre ibafüstas e socialistas (União Socialista) não conseguiu evitar
que este convite rompesse definitivamente sua,frágil unidade política.
Como conseqüência a União Socialista retira-se da Aliança Popular,
.
deixando-a ' . -oªº
integralmente nas mãos de lbáfiez, em oposiça
governo de Aguirre Cerda. . d
Em VI'rtude de a direita
. . contar com a ma1ona . . das cadeiras taro

as med'd
°,
Pariament era praticamente impossível o governo 1·rnplernen , de
1 as de cunho social que havia planeJa · dO atraves- à
0
mecanismos legais.128 Além da retórica agressiva ern re1aça
128 p do eleitorado,
· elos resultados eleitorais de 1937, a direita conquistou 4296
ONOMIA NO PERÍODO DA FRENTE POPULAR E DO RAD!r"
p0tJílc.A E EC '-"USMO 129

popular, os partidos da direita chilena d d . , .


freo te , es e o 1n1c10
·festaram-se
. fortemente empenhados em bloq uear as açoes _ '
111 ao1 .
goVe rnamentais , especialmente
. . aquelas de natureza ref orm1s . ta
Diante deste bloqueio imposto pela direita, o recurso que O govern~
da Frente Popular procurou usar foi a mobilização de suas b
·1· . . d f
sociais, bem como a uti iza ao as acuidades reguladoras de que
ases
7
dispunha o Poder Executivo . Nestas circunstâncias , uma das
principais medidas adotadas pelo governo da Frente Popular foi dar
poder de iniciativa ao Comisariato, instituto criado em 1932 pelo
Decreto-Lei n .º 520, que deveria se ocupar da regulação pardal do
exercício da propriedade privada, especialmente em relação à
habitação e à saúde pública .129 Assim, através da mobilização
popular e de estratégias de apoio aos anseios mais diretos destes
setores, o governo da Frente Popular beneficiou vivamente os
partidos marxistas e a Confederação de Trabalhadores do Chile
(CTCH), o que resultou em um forte incremento da sindicalização
e da atividade sindical _130
No outro campo, os partidos direitistas coincidiam numa atitude
de oposição ao novo governo, porém careciam de uma estratégia
clara para enfrentá-lo : enquanto os conservadores católicos postu-
lavam uma oposição total, acreditando que a Frente Popular
representava uma ameaça aos valores cristãos e à propriedade
privada, o Partido Liberal adotou uma posição mode:ada .e de
negociação, pois acreditava que o Partido Radical , um antigo ahado,

d 4 nadares· 0 centro alcançou 1TuUS


fazendo em tomo de 70 deputa os e 2 se ' d 26 deputados e 5
16 adores e a esquer ª ,
ou menos 40 deputa d os e sen t ra' rnodificada
- d f parlamento sornen e se
senadores; esta correlaçao e orças no 'd d URZUA v I 98o: 44).
. - . . d 1941 (dados extrai os e .,
nas ele1çoes legislativas e . . . l te as questões relativn.s à ~
129 . A ação do Comisariato cobnu pnnc1patme1:tica em favor dos ~n~·ntú:,
, . ou regular es a pra
aluguéis d e imove1s e procur . . tituto oúblicv v,...:>l"-!t\(dll\"-'ltt~
- ssou a sei urn msr [su•)s!OLA r- ~ ) 7
populares. Por esta razao , pa l ~)~~ 1~5--~ 1 .
. ·t ( bre isSO ve · r ~ , '
atacado pela imprensa de d irei ª 50 '
especialme nte . .· <li 'àli:lct'·l\o r.:r~::ic~u t'-IH tún 1, ..1
sslvos · e\ sin { "
130. Os dados neste sentido são expre . : 1 ..1. 1<.lln :\h >S dvbnxt, ,\tm~.uiJ1..1 .1
• ) H\Ullt!l O ( t' :,u ·
de 409i.> ern apenas w1 1 é.\nu, f~ ( _ .ti. lt-• iái k-\ 11,).S dJtü:t ~b}Llll \k:>
- utir l ld ctÇ oi.) ü l .
marca de 1 .6 87 . Isto va1 reperc __ ül lÚUWtv Jt! qr\;•vbtdS . "•nqu:.mt\J
Comparativamente,em 1937 , fo ramtrêsntll : \ rn {940 . i8nul (d t-'AVNDC ,
1

que em 1938 e 1939 e .l es a\caf1Çdrdm 1O n · ·


1992: 67) .
FRENTE POPULAR, RADICALISMO E REv
130 0LUÇÃo PAss
lVA ~()
c~,lt
. d ossuía uma ala direita forte e influente
am a p . , ' capaz d
q ue parecia ser uma mare avassaladora d e c "'
arrestar O e esq 0 'ltt
ste modo, Liberais e Conservadores trabalhara Uerdisth a-
De ·1· - d . tn con ·11()
dame nte na intensa . .
uti 1zaçao os mecanismos Parl
d . . . atnent
centt ·
a-
ão às iniciativas o executivo, o 61etivando e . ares d
obstruç l d ºtn iss0 e
govemo modificasse seus panos e, e acordo com a ai·
av ia ~ C>91.le
Libe ' rais os Radicais pudessem, de a 1guma forma, se sep Çao dC>s
. arar de
. flamados aliados marxistas. seus
1n . t
Emergindo como acontecimen o externo às v· . .
manas e como um fato inespera do, o terremoto de.ic1ss1tud . es
hu d ul d , f . Janeiro d
1939 que destruiu boa parte o s o pais, 01 um fator . e
, 1 .1 . a rna1s n
contenta executivo versus eg1s ativo que marcaria O gov a
. 1
Pedro Aguirre Cerda. Emergenc1a mente, o governo foi ob. e
e~od
. . d' t
a rever seus planos mais ime ta os e reorganizar suas iniciati
. ngado
. vas no
sentido de implementar rapidamente um processo de reconstru ~
das áreas mais · 'das pe1o sismo.
· atingi . F01. no 1n· tenor
· deste proc çao
essa
que O governo de Aguirre Cerda apresentou ao Congresso urn
projeto de emergência contendo a proposta de criação da CORFo _
Corporación de Fomento de la Producción -, que analisaremos
mais adiante.
A estratégia da direita de concentrar a sua ação de oposição
nas manobras parlamentares unificou Liberais e Conservadores no
Congresso e mostrou-se bastante eficaz, pois conseguiu arrefecer
a extrema desenvoltura demonstrada até aquele momento pelo
governo, a despeito das manobras que havia sido obrigado a operar
em virtude do terremoto de janeiro. Mesmo que o governo tivesse
demonstrado disposição para negociação de partes importantes de
seu programa de emergência (o caso de financiamento da CORFO é
o mais exemplar, como veremos mais adiante), o comportamento
da direita não deixou de inclinar-se - e de maneira incisiva - no sen-
tido de intensificar sua pressão, seja com forte propaganda contrária
à Frente Popular, seja com a difusão de informes falsos e alarmistas
na imprensa chilena. Esta campanha de ataques visava instalar o
pânico entre os investidores e gerar o descrédito quanto ao novo
governo .
0
. : r estas razões, as dificuldades do governo no plano legislativo,
venf~cadas quando da votação do projeto da CoRFo, aprovado depois
de diversas derrotas e de muita negociação em 29 de abril de 1939,
_____.._.lA ffÔ P( R.1000 OI\ FRHU't POPU~R E 00 RAP lt A!..iSMQ 131
,...., ••· A f
~ ·
fl...,....,.

. cada vez m<')io rcs. O csforç'O dos Radicais para amphar


-:"f~
'""""w4-t .. d ~ .
_1rt:1n,~nt1\r de su~tí'ntaçao o governo, n40 s_~~.ª nenhum
'!, ...

J ~~ 1 rtudc da polanwçAo , cm certa medida art:ifiC\al . entre a


1
· ' (f'' .,.,
.
· ,.,
ular e a opo stçao d o· o pa1.....u:d os d·e d1irctta
'
ma.is

a APL
:-"" · · cenitrntunl . após uma S4.:nc . e negoc,aço,es e a.ap ul. a , o s
r ...... •u Pop J,. , d · - d '
, ~ ., ~ ,~,ran1 a roe us.a d o P ttsrt1do Democ rático pa.ra ingressar
~ .,.. . r(', "
. ,,,.~r Po pular .
..J ~·~ ntenor da coa.li1.l-10 de centro-esquerda. a s\tuação também
~ com pHcada. Em junho de 1939 , sintomaticamente .
'
.,::-;1nlrt1~ ....
Y'h~
~
~ n,At'r"l(lo do Partido R adical r eafirmava o discur~ a respeito
.:-;.:, co __...t-..A.~ de se ma nter l\ "unidade da Frente Popular" , a delesa
~~~ . -
eleito ral de 1938, bem como a manutenç.ao e aper-
.

~ õrn.3
~ 'U'flCnlo do regime d~n-\ocrático . No entant~, a primeira cri.se
o.• p:~porçô,~~ grnvcs entre o governo e os partidos da Frente Po----
~ cmtrgiL1 cm virtude do descontentamento que acabou causan-
~;_,. 0 romportan,.cnlo do rnin\stro da Fazenda t Roberto Wachholtz.
r..t:~qutim .. se deveria fazer política de esquerda com home ns de
l!.h,.!A" um.a vez que falta vam quadros para ocuparem todos o s es-
c~ l da administr ação . Para os líderes dos partidos da esquerda,
~ ~ra urna desculpa que Unha como intenção manter o pessoa!
~isttativo do " regirne anterior" , vinculados ao alessandrismo .
f.c mse ocasionou a renúncia de três ministros socialistas. Para
lUbsmuí,io, , foram indicados O scar Schnake para a pasta de Fo-
~to, Rolando ·M erino para a de , ~erras e Colonização e Salvador
fL'\mde para a Saúde, todos igualmente do Partido SociaHsta . Com
~ rtovos ministros, foi também proposta a criação de uma J unta
&onômica, dirigida pelo Presidente da R epública , encarregada de
fazer valer as orientações e critérios relativos à política geral de
Fomento, bem como de créditos . Imediatamente, esta proposta ga-
n::ou a oposiç<lo do ministro da Fazenda, Roberto W achhotr2 ,
r~ndo emergir a segunda crise rninisterial de grandes propo rçõe5)
e~. por firn , acabou motivando sua retirada do goven,o \L0PEZ
e etalii , 1966: 206).
A conjuntu ra política evidenciava que . a lém dos de-
s-ernendimentos internos da Frente Popular , o s conflHos entre
o . -
posiçao e goven10 passavam de latentes a diretos ou explicitas,
env~!vendo inclusive um incidente rniHtar , crn virtude da rnudança
no JUn1rrlento à bandeira pro posta pel o g o v erno da Fren te
FRENTE POPULAR, RADICAUSMO E REVOLUÇÃ O PERÍ000 DA FRf~TE POPULAR E DO RADICALISMO
132 133
O PAsSIV e ECONOMIA N
At,io,..., p(JllílÚ'~
"lllt

ular.131 Mesmo que esta mudança estive partido Conservador,_apr?veit~u a op_ort~~idade para
P op titu . 1· . sse en-.
nuidade com o cons c1ona ismo imposto às F " I dir rta-voZ d0 de que suas açoes mduz1am e Justificavam tais
conti _ orças A et<l O
verno anterior, a contestaçao ao presidente Ag . rtnad Pºiertar o goved~ão (Ai-VAREZ et alíi, 1995: 93).
no go . f Utrre C i\s ª ·wdes de se iç ao contrário do que advert·1a a di rerta, · estas atitudes
arte dos militares foi aberta, ortalecendo no seio d . er<Ja p
p . a1· t ºd,. d d . -
reacionária e nac1on 1s a a 1 eia e epos1çao do gove
a d1re·t or
1a mais att No entanto, t· cou demonstrad o, eram 1so . 1a das e cada vez menos
· ·d t · , dº mo da r- como t . ,
Popular. Este mc1 en e provocou o ep1so 10 do "C
-
rrent facciosas, 1•nterior das Forças Armadas. Vene1do o penado
Póker" , um conjunto de açoes conspiratórias ºl'hp/
ot deie prestígt· ·adas nol931, no qu ai os m11 ·1·tares e hºl1enos h aviam
· precipi-
desencadear uma sedição aberta no dia 9 de julho de i~e deveri<1 24
entre 19 e nção no espaço político e fracassaram como grupo
39 interve .
Depois de abertos confrontos com o presidente A . ·132 tado sua ue foram deslocados do poder, o que se afirmava
0 general do exército Ariosto Herrera, declarado ;i%rre ~erd<1, úfrlª vez q te no interior das Forças Armadas era o cons-
fvamen .
fascista, aliado ao ex-presidente Carlos lbánez, articu] Patizante gra da 1 . 0 não somente como mecanismo formal de
1 . ai , como também o meio
·ona •ismdos' militares à vi da nac1on
colocar em prática um dispositivo golpista contra O gov ou fre tentou titúC1
emo eij
no dia 25 de agosto de 1939. A sublevação - que fico n sta, reintegratºs militares poderiam recuperar, depois daquela ex-
u conh 'd O
como Ariostazo - fracassou sem encontrar respaldo s f· . eci a pelo q~a esprit de corp .133 Neste sentido, é possível captar
u 1c1ent ·êncta seu
interior das Forças Armadas. Foram presos 32 civis e 36 ofi:. ~o pen_ . ' um elemento de continuidade entre o governo da Frente
dentre eles o general Herrera, enquanto que lbánez conse . iais, aqui;ais O governo anterior, dirigido por Arturo Alessandri, ainda
. . gu,u exilar
se no Paraguai. Imediatamente, uma multidão de pesso . · Pop ~r ef e no civilismo tenha ganhado mais nitidez e afirmação
as saiu à que a en as
ruas em defesa do governo de Aguirre Cerda, da democr . s
. D' t d . ac1a e após 1938.
contra o fasc1smo . 1an e as circunstancias de derrot d
A

Um outro problema de grande envergadura que o governo da


expediente golpista, os partidos de direita permitiram que O ~on~ Frente Popular teve que enfrentar, no decorrer.d~ an~ de 1939
gresso concedesse poderes emergenciais ao Presidente, a fim de foram as agitações no campo. O numero de pebçoes vindas deste
que pudesse "ser restabelecida a lei e a ordem" . Não obstante tal setor, envolvendo questões trabalhistas e sociais, que era de cinco
atitude, a imprensa de direita, notadamente o Diário Ilustrado em 1938 saltou para 177 em 1939 .134 A pressão dos fazendeiros
'
foi enorme desde o início do governo de Aguirre Cerda. Em março
131. O juramento que estava em vigor dizia o seguinte: "Eu, N .N., juro por Deus, de 1939, a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) exigiu pro-
diante da bandeira da minha Pãtria e pela minha honra de soldado, cumprir vidências do governo no que se refere à agitação no campo, fazendo
fielmente meus deveres militares conforme as leis e regulamentos vigentes' .
O novo juramento dizia: "Orgulhoso de ser chileno, prometo pela minha com que este criasse uma Comissão Mista, formada por fazendeiros,
honra de soldado obedecer a Constituição , as leis e as autoridades da representantes dos trabalhadores do campo e membros do governo
República; juro, ainda, amar e defender com minha vida a bandeira da minha para solucionar o problema . De acordo com o Ministério do
Pátria , símbolo desta nossa terra e expressão da liberdade , justiça e Trabalho, deveria ser suspensa toda a tramitação relacionada com
democracia". Pode-se concluir que o novo juramento proposto pela Frente
a constituição de sindicatos agrícolas enquanto a comissão mista
Popular significavd diretamente a subordinação dos militares em relação ao
poder civil, eliminando-se a referência direta a Deus e redimensionando a especial criada para a matéria não estudasse e definisse uma re-
noção de Pãtria (citações extraídas de ALVAREZ et alii , 1995: 85-6. gulamentação própria para o setor. Nesta oportunidade, não apenas
132 · O Comp/ot de/ póker revelou a vincLtlação do nacionallsmo chileno, expresso
pela Frente Nacional Chilena (FNCH), com os militares. Esta or<Janização, 133- Cf. ALVAREZ, et alii , 1995.
assil~ como o Partido Nacional Fascista, eram sucedfmeos do Movimento 134. Em 1940, é\S petições camponesas foram de 199, declinando para uma cilrél
Nacional Socialista comandado por Von Marées. Ambos nasceram depois entre 65 e 100 élté 1945 voltando a ultrapassar a marcél de 200 em 1946 ·
de 19~8 e seriam posteriom1ente substituldos pelo Movimento Nacionalistd Em 1939, elas atingiram' 26% das petições trabalhistas (cf • SCuu.v• 1992:
do Chile (ver, sobre isso, VAUJIVIA O. Z., 1996: 9-22, especialrnente). l67).
134
FRfffTT POPULAR. AAOJCALISt-,c) E RfVOLUÇÃo p - - ~000 DA FRf~-íTE POPIJL>JI E DO P.AmCAUSMO
~LA"° l't:P\J .
135
~IVAll()o,. E fl,U'·~ · .
..;_ .,o.Jlf.>

0 Presidente Aguirre Cerda e seu partido, mas todos os Parr eme nto e m que a Sociedade Nacional de Agri-
Frente Popular consentiram com estas medidas . 135 idos de ~3tarnen
te no rn , . _J
anifesto anticom umsta , assm«..10 tam~m pe
L!. lo
Ao final de 1939, e m virtude da forte influê ncia da SNA ~ul!úfcl lanÇ.: t~:l~áenz, me mbro do Partido Radical . A Frente P~
lamento e mesmo no Partido Radi cal (especialmente pela no Pdi. rniI1istro Cn anifesto e Cristóbal Sáenz argumentou que havta
dos agricultores do sul) e da ação do Partido Comunista Presei,~ lJar rc ch açou o rne nto como agricuJtore nao _ . .
corno mtrnstro , agre·
r _.lo o docurn - . . t
_ organiz.ando cerca de 440 sindicatos - . nenhuma lei a no ~ Po ilssinau ·d e tinha como preocupaçao servir aos in eresses
. .d proPós;- 1n segtu ª qu ~ rtido J - d ~
da sinclícali7..ação camponesa havia s1 o aprovada . A SNA ij ,n °
gj nd ~
· ·•
d'cal que e m sua optniao era o pa
.... do Ra i • d . 1
Uél or em
, ,
qualquer tentativa de aplicação da legislação social no ~ J Jo P<1'" ., 1966: 212) . Ficavaca avezmaiscaro que omovel
alegando especificidade da atividade agrária . O s ~agitadores·
reprimidos com o beneplácito tácito d_o g~vemo que . de l.lTTla
inicial reformista , passou a se mostrar intei ramente conciliatório e
arlpo,
~: d
t',..,, et a/11F, t Popula r e de a traçao
~-6,.,,..,
e ataque à ren e .
a questão comunista .
• dos ºru:i~d·lCaJS

dirclta;r:bril de 1940, por in iciativa do partido Radical, reúnem-se


· por parte da

os proprietários rurais .136 o:n E • d part't dos Radi ca l Liberal e Conservador para
d' çbes os
115 ,re
,
Depois do fracasso da tentativa de golpe liderada por Henera cto visando a possibílidade de imple mentação das
firmarem um pa • h · -
e Jbánez, o governo Aguirre Cerda conseguiu realizar a operaç.io . dO ovemo . A proposta de acordo contin a a ace1taçao
de montar, na Câmara dos Deputados, um bloco político que lhe propostas g . . ai d bl · do
· rne nto dos projetos de anistia ger , o es oque10 s
deu maioria pelo breve lapso de dois meses. Muito rapidamente este do arquiva d sal · ·
. do governo no Congresso , aumento e ano para os
bloco político foi desestruturado em fun ção da renúncia dos ministros proie 1os d al ' d ·e1
·1·1a es e de recursos para as Forças Arma as, em e proJ os
do partido Radical, numa desastrada e incompreensível tentativa de mil r
relativos à sindicalização camponesa, à poupança, a a 1 açao e c.
' h b't · t
desvinculação entre a imagem do partido e a do governo do presi- De início os partidos de esquerda entenderam este acordo
dente Aguirre Cerda . 137 Por esta razão , a situação política não teve corno uma trégua com a direita , enquanto que a dire ção dos
o seu quadro geral alterado , com a direita continuando a negar ao Radicais, depoís de aprová-lo por unanimidade , argumentava ~~~
governo os votos necessários à aprovação dos seus projetos, o que o acordo visava "facilitar o despacho de diversas leis fundamentrus •
conduziu a administração da Frente Popular à paralisia decisória. permitindo o "cumprimento do programa da Frente Popular". No
&a urgente reverter esta situação através de uma iniciativa para entanto , o comportamento da direita não indicava, em nenhuma
além do campo da Frente Popular, objetivando romper a inércia hipótese, uma mudança de estratégia . Nestas circunstâncias, os
parlamentar. A partir de fevereiro de 1940, o partido Liberal passou partidos Socialista e Comunista manifestaram-se veementemente
a ser mais incisivo em sua estratégia de aproximar-se dos Radicais. contrários a tal tipo de pacto, acompanhados pela CTCH . Para estes
objetivando a composição de um governo de centro . A reação dos segmentos, tratava-se de uma manobra da reação e de uma atitude
pãrtidos de esquerda a esta proposta assume ares de indignação desleal para com a esquerda. Cinco meses depois , a direita aprovou
uma lei de anistia no Congresso , rompendo praticamente um acordo
135 - Cf Sa.n.1..v, 1992: 163 . que jamais foi posto em prática . .
136 · Sobre a questão agrária no período da Frente Popular, ver BRAVO, 1988· Urna nova tentativa de acordo entre os Radicais e a direita fo i
137
Também VAU:NZUf.lA M. 1989: 119-49, e MUNOZ D., 1991.
Consesui1J-SE formar, nesta oportunidade , um bloco parlamentar
ª 0
90Vemo composto por 78 deputados que não eram somente dos pa .
de:;: . motivada pela situação orçamentária que apresentava um_~éfícit
de 240 milhões de pesos, em virtude de aumentos de salanos do
da Fr . . . $ociafist3S, set0 r público. Neste caso os Radicais agem sem consulta alguma
ente.Popular_Este bloco foi composto por 32 Radicais, lS AJJL, 1
7
-~ urustas , 5 Democráticos, 5 Democratas, 3 Vanguardistas, 2 . ')66: aos Partidos de esquerda ~ a direita reage à proposta de aco rd de º
Radr.al-Socialista, 1 lndependente e 6 Falangistas (d. LóPfZ C. et alu, 1 man eira · extremamente radicalizada pedindo a ·t I ega1·izaça
·o do
207-8).
Partido Comunista e a dissolução da CTCH, além de outras medidas
136

ofe · aos p 137


. ns,vas 6
.
cração entre Ra~; P?os R~dicais. A ni
Cerda vetou a 1 .ca,s e direita fo; in ~!lJra do Pr
aprovando na c:1
de anistia Patroc;evitáve/. O P r ~ de n
d
•t aJ em Valparaíso foi recebida com ba.stante
rrota e 1e1 of'. . di t, .
um dispositivo :ara dos Depufadotªda Pela dire;:dente A~ A ~ la direita. Os fatos pareciam m car que a estra egJa
rechaço da Fre':::e ~olocava na ilegaJ;;;;; 5 de dezem~ ÇIJe reag:/ aprcensa~ ped ções do governo no Congresso era contrapro-
ue10 as a L __ _
pro~osta no Senad ºPular fo; Íinediat e o partido Co Ode 19401i de bloq social uma vez que tendia a fortalecer a IJc1!>e'
ente no p1an0 ' . d ~ . de
~:~tndte dos Radi~sN;:~ta 0 Portun;;~d:º~se8Uind0 ~~isto_ O duc d partidos da Frente. Aprove itando-se a ocorrencta
. n ades e ' 1 erou a . _ ' edro ~~ Cast eleitoral. os 'dentes no processo eleitora1 , a d'ire1ta,
· com o o bje tivo de
: rla~ça com'o ;a:ecjaJ da liberd~~iº do Partido elblaneo
. 1,..11ns ma
QI~-- bilizar O governo , anunciou um 001cote
. às e 1e,çoes
· - parfa-
unçao dos Rad·1 . o Comunista e Pensament ern dei~ de.sestª de março de 1941. Esta iniciativa política representava
cais nesta ' mas fez rn, _ 0 , reafi..... · rnentares d d . d ,.
O composj - , ... e~o d ... ,llOtt desafio aberto à legitimida e o governo, cnan o um cenano
Partido Radíca/ Ue Çao, nos segUintes e del'T'Jareq
1efTnos- :Orável a especulações ~uanto_a ~ma inevi~ável inte~enção do
que o Part 'd m 10mand d ·
' o Co o iuer . ército. Em meio a estas circunstancias, o preStdente Agwrre Cerda
nosso Pacto munista não sas in1ciati
a discJpl;n .. Consideramos extraPo/e os /· Uos Paro rez enormes concessões à direita com o objetivo de pôr fim à
são a no lraba/h O que a orde imites do chantagem eleítoral. Mesmo assim , a direita manteve o clima
ª
t.Jeis n
Pedr
a angular do
eo
respeito Pei
m na p
'oduçõo desencadeado por suas dedarações contestatórias à legitimidade do
,. este sentido Progresso. { ] as hierarqul '
, irmes e qual . . serern as governo até fevereiro de 1941
gufnte na P_osição que d ~uer u/ofação no os lrreduu A lógica que sustentava a orientação que Aguirre Cerda
cfpio •, em inteira libe de xo anunciada s encontraró imprimia ao seu governo era fundamentalmente pragmática - ainda
s 1Unda r, ade d d e, Por
existência d mentais. {... / A e e/ender no . conse. que não desprovida de valores ideológicos de referência - e tinha
nas e comitês s greues d ssos pr,n. que enfrentar diversas dimensões de contestação. Em primeiro lugar,
grandes ind. que orient e ocupação
Princfpios. {. } ~Slrias estão e am a ação dos eo como já destacamos, a oposição da direita, entrincheirada no
Priuada P . a tncorporaç - m confronto c chefes Parlamento, radicalizando cada vez mais esta posição. Em segundo
ara rn - ao ou orn no
agitação art :r, _aos do Estad ~equisição dai d . ssos lugar, as dissenções internas da Frente Popular em relação aos
Ção ,,,c1a/ no t ba o, nos a rech n ustria objetivos de governo da Frente Popular que, como vimos, assumiam
ta , e a deflagração d ra lho, que obs açarnos {. ./ A
mos (apud Lópi:-, e greues ilenft,· tacu/iza a Produ- leituras distintas da conjuntura e do processo em curso, conforme
A · ~ at ai" 1 ;:, mas t a organização política. Essas fissuras na coalizão governante facul-
do s1hJação de fra ·1· ,,, 966: 222) arnpouco acei-
governo A . 91 idade no p . tavam ao presidente uma margem de manobra para o perar uma
errática .,.; d gu,rre Cerda f ar-lamento (?..; orientação independente, já que o governo se via paralisado por
• .... n a q
Tnativo da d ue ela guard
oss
e necessana
""ª corn que a Política
intermináveis conflitos. E, por fim , os problemas derivados das
alterações eor: ~rn Política e a~ sempre urn pmente oscilante e relações entre o Presidente da República e seu próprio partido No
e,·dade de VaJrn Vlrtude da reaJ·social _ · Este cenárj0ano d e fundo afir- que se refere a este último aspecto, no primeiro semestre de 1941 ,
did Parai IZaçao d 1 • sofreu
ato frentista N so, no mês de e e e1ções com 1 Pequenas uma substituição de postos no gabinete e o fechamento do jornal
~ernFos ern 5e9lJida o entanto, esten;ve~bro, vencid:sementares na comunista EI Siglo, como forma de combater a extensão de uma
a rente p , nurn rnorn un10 se Pr Por urn can- greve nas minas de salitre, levou a que o partido Radical desenca-
. ºPular ente d acesso
Propria aliança e de isolarne t e crescentes di . - u, corno ve- deasse um conflito de sérias proporções com seu Presidente. Este
. n o do Presidente VJsoes no interior conflito resultou em renúncia coletiva dos ministros Radicais, contra-
ern relaça-o a
sua arrestada pela recusa do Presidente aos pedidos de demissão de seus
ministros e, em seguida, em processos de expulsão do partido para
aqueles que permaneceram no governo. O conflito foi tão expressivo
12;3

1.39'

~ b cr,,1ljwrtl.!ra do fin;;l oc a:.10 de 1940 e eh, pri-


rr.e:trA f f ~ de 1941, v~....er,~ dizer que dentre c,s i ~ ~
~ p,.,,<->-,...,
, ..~~ • tr01czrarn aquele rncmerrto ~:JJrnem
- a,e • releuá:naa
I 2:S á:1J','~ no úr..erior da Fr~ Pc;ptkr, que krvaru:m à ruptura

,! ~ U ' ~ CJ12 i-ia<M vencido em


, ~ nc rr,b; de mar,;o.
l 9'.38, e a1 e~~ pariêlJ"nenta:r~

Dentro da Frente Popular, a bJu, p€la w~eroonia da caJw..L,


~ f.:rar.AJ. acirr~ Clmtendal política.1. Corr.o vírrJCt.S rl,J' capftub an-
tericr, ~ e S r ~ ~ n cc,rutanternente o d±reru,
~é:rer,a:, da Frente Popular. ()g primeíws, que fm.aJment:e h.avizm
~~ o corttrok: do &.ea.rti-Jo, não e.e rnosfra-,am ~ a
~-!e, aos $--__,cia.~. Ao lado de u:na oríent~çáo g ·]1err,.arr.er1!Z.
1

de cr~ pngrrrMico e fle-.1.r1el, no plano politíco, e, como veremc..s


c!ef.a!hadament~ rriaís t, frente, da implementação de urna e3traiégja
qtJ ê a:,nwnplava a! demandM rociai5, mas tarnbém garantia a re-
produção~~ dominante! através de um programa de atar
lrzaçãc, do capitaJiuno dúleno, via it,tervenção ~ . os Radiam
I
1
e-1.r,-res;~varn, através da sua liderança partidária, um cfucurro ín--
dínado a manter e garantir a iua afümça com a eur..serda. Um dos
I principai3 protagonistas de, radicalismo que se espeaaliw-u n~e tipo
de discurso foi Gabrwl González Videla, r ~ tarde Pr~-idente da
República. Ao qualificar o apoio do seu partido ao programa da
Frente Popular que, segundo ele, era claramente de "vanguarda " e
"definidarnente socialista", Vídela afirmava que o Partido Radical
havia abandonado sua antiga postura liberal, anti-religiosa e índi-
vídua!ista para reconhecer "ao Estado o direito de intervir e c.ontrolar
a produção e o con.!umo no país" E mais, admitia perempto-
riamente que o Partido havia se convertido "ao socialismo de Es-
tado" e reconhecia "a luta de classes" (GU-o.fAN H., 1946: 53-4).
Em rel.:ição ao Partido Socialista, os problemas eram de outra
natureza e mesclavam uma postura de realismo político com a
esperança de um crescimento do partido, além de antagonismos

enlJe a dlreçAo partldhria e o Presidente da Repúbliai foram intensos e


permanentea e erM>lviam sempre a formação do:t giblnetes rruni:Ke:rí,iis ou
wb.tttlJir;&> de ministro,. Em llfrtude desta conflito,, Pedro A g.irre Ô!rda
chegou a oficializar sua derniaMo. Sobre is,o, veT CA.BERO, 1948: 2'19 50
Espec.lflcamenle sobre o conflíto entre o, presidentes do radx:alismo e o
Partido RM.lic.il, ver REYE.<; ALVARES, J989.
FRENTE POPULAR, RADICAUSMO E REVOLUÇÃO PASSIVA N
140 OCHIIJ:

internos tendentes, inclusive, ao dilaceramento. O Partido Socialista


ao aceitar a candidatura de Aguirre Cerda, em 1938, esperava, co~
a sua participação no governo da Fre~te _Popular, obter apoio Para
a indicação de um nome de suas fileiras nas futuras eleições
presidenciais. Durante os dois primeiros anos _de governo de Aguirre
Cerda, os socialistas estiveram sempre pressionando para que não
houvesse desvios nos objetivos programáticos da aliança. Isto gerou
uma divisão interna muito grande, uma vez que, ideologicamente,
para os socialistas, os custos da gestão comandada pelos Radicais
não eram de pouca monta. O Partido Socialista oscilou entre o que
se chamou na época de "colaboracionismo", expresso na política
de lideranças do socialismo chileno que participaram do governo
de Aguirre Cerda, como Marmaduque Greve, Oscar Schnake e
Salvador Allende, e o "inconformismo" ou "vanguardismo revolu-
cionário" de algumas de suas lideranças, como César Godoy,
apoiado principalmente por parcelas da Juventude Socialista e por
alguns intelectuais como Julio Cezar Jobet, Alejandro Chelén Rojas
ou Oscar Waiss.141
Além dos objetivos que levaram a direção central do Partido
Socialista a optar pela participação do partido no governo ,
permaneceu como uma de suas n1issões históricas a luta com os
comunistas pelo controle do movimento operário. Esta disputa gerou
diversos
f incidentes
. _ e se converteu tambe' m numa d as razoes - de
dratura
p da • coahzao. Os socialistas viam com enorrne receio . o fa to
o . art1do ~o~u~i~a não assumir nenhuma responsabilidade nos
gabinetes mm1stena1s, 0 que era J'ustific d0
ª I .
pe os comunistas com
o argumento de que se tratava de um roced' , .
tinha como obJ'etivo des t· f? _imento necessano que
menir as a irmaço d d' . d
Frente Popular era uma criação d III I es_ a treita e que a
u a ntemac1onal
m outro fator que afetou diret ·
socialistas e comunistas foi a situ _ ame~te as relações entre
, . d açao mundial Em . . I
o cenano e superação da crise de 1929 · pnmeiro ugar,
o advento da era Roosevelt a pol'1t· d nbos Estados Unidos, com
, 1ca e oa • . h
vizm ança e o New
141. César Godoy üderou a fonnação do Partid Soe. .
em pouco tempo, acabou se incorporan~o ao;~ dos Trabalhadores que,
observar também que não havia 'dad . art1do Com• ,n; ,,._ D
def d' lD1l e teónca O • ~•...,LQ. eve-se
en ia~ posição contrária à direção. Sobre . u prática entre aqueles que
40, especialmente ; e PONCE DuRAN, 1994: 94-1:j°' ver ~RAKE, 1992: 208-
, especiahnente .
NO PERÍOOO DA FRENTE POPULAR E DO RADICAUSMO 141
fCONOMlA -
"'11111() r ·

Jr1pel extremamente importante, causando um


,090 11 llrn 1 • • •
f)"'' 1\ • ~norrne entre os soc1ahstas. Enquanto a direção partidária
0
ln1P11c !alistas, da mestna forma que se passava com o radicalismo,
0 , · esquerd'1s·t a, os 1'1d eres d o partido que
tloc;- ·~ c va urna retonca
centua -
i'I , avam do governo concentravam seus esforços em resolver
,at1ic1p . , d d
1- . oblernas básicos do pais, entro a ordem capitalista nacional
os pr , d ~
rnadonal . Atraves a atuaçao de Oscar Schnake então
l' l1) te '
Ministro de Fomento, o Partido Socialista passou a buscar uma
estratégia de institucionalização e de reelaboração da sua identidade,
lendo como proposta e objetivos algo que se poderia caracterizar
corno uma "democracia social de corte rooseveltiano" _142 Deve-se
reter também que esta perspectiva aproximava-se da orientação
assumida pelo Presidente Aguirre Cerda que, desde a campanha,
havia manifestado imensas simpatias pelo Presidente dos Estados
Unidos.14 ~1 O Partido Comunista chileno chegou, também neste
momento, a fazer elogios à política de boa vizinhança assumida por
Roosevelt.144
A posição defendida por Schnake dava, na verdade, plenitude
política à visão mais estrutural que os Radicais tinham a propósito
das mudanças que deveriam ser implementadas no país. Para os
Radicais, que controlavam o governo, tratava-se de avançar rumo
a uma "economia dirigida", cujas funções essenciais eram controlar
as atividades econômicas, restaurar a capacidade de compra, fixar
preços e organizar o crédito interno através da criação de bancos
de fomento.145 Como já enfatizamos, não havia dúvidas de que,
para o radicalismo, a Frente Popular deveria se propor a encontrar

142. Este aspecto é extremamente bem desenvolvido em YoPo H ., 1984b: 30-


67 .
143. Cf. Zig-Zag, 3 de novembro de 1938: 26-7; 76-7 .
144 . Mais tarde entre 1943 e 1945, jâ rompida a Frente Popular e, no plano
intemacio~l, verificando-se urna aproximação entre URSS e Estados Unidos,
0
Partido Comunista chileno flertou com o chamado browderismo, sem,
contudo, assumir uma postura de adesã? completa e in~egra~ a esta U~a
lítica. o browderismo expressou, basicamente, urna linha colaborac10--
:ta" e adaptativa ao sistema capitalista, elaborada pelo líder do Partido
Comunista dos Estados Unidos, Earl Browder, no contexto do New Deal.
Sobre as relações entre o Partido Comunista Chileno e os Estados Unidos
nest e pen'odo , ver RIQUB..ME S., 1985.
1'15 . Cf. YoPO H ., 1984a: 42.
142 FRENTE POPULAR. RADICALISMO E
REvoluri
':rl'\ÜPA~(',..
. .....,!VA. No
C}jllt
soluções p a ra o p a ís a partir das regras izn
capitalista. atualizada no contexto pós-crise de P stas Pela 0 º
· · . 19 2 9 Q_ rde
sua vez, enviado pelo Presidente Agu1rre Cerda e · vchnake rn
chileno à Conferência de Havana e a uma mis~~ represen 1!ºr
Estados Unidos, em dezembro de 1940, retoma a~ ~10tnática a~e
, 1a tin o-amencanos
de que aos pa1ses .
apenas restava u
Pais con
, Vencido
s
01
se financeira e diplomaticamente aos Estados Unid aliar. ª:da:
à situação chilena) Schnake esmerou-se em esgn·n-.~s. rn relaçã0
, . . uur OS Segtu
argumentos a proposito da economia nacional, visando ntes
. t , . - d . d
que a sua estra egia nao envava e uma concepção de últi h sustentar
ma ora:
A fin alidade do .planejamento
, econômico
_ éprouocarum
aumento aprec1avel da produçao visando melhorar 0
condições de vida das massas operárias [... ]A economi;
d irigida tem por objetivo o fim dos privilégios abusivos
do regime liberal capitalista [... ] Este novo regime
corresponde a um novo sistema de democracia social,
na qual os direitos do cidadão alcancem o patamar que
não lesione o bem-estar geral da comunidade [...J A
democracia soc ial suprimirá os defeitos e vícios
tradicionais do individualismo, afastará a ameaça do
fascismo e desenvolverá a produtividade nacional [...J;
esta perm itirá o planejamento de todas as atividades
econôm icas do país, a organização material e espiritual
da nação e a defesa dos direitos essenciais do homem
(apud YoPo H ., 19846: 38).146

Neste mesmo contexto as circunstâncias mundiais que envol-


'
veram a deflagração de I1 Guerra na Europa e o avanço mili'tar .do
nazismo provocaram um outro acontecimento que atuou de maneira
ruptura} no interior da Frente Popular chilena. A assinatura do Pacto

146 - Será precisamente este o sentido do discurso de abertura do VII Congresso


e: --'- '' ~ - fe it o por O scar Schnake, em 4 de junho
do Partido .JUL.UlllS@ _ de 1941,
essão no
~ o aprofundamento desta abordagem levará à elaboraça~ da ex~ínro
-democracia dirigida" indicativa d Schnake de um fenorneno pvu..._..-
, . ' ' segun o ' d . temac10-
necessário e correlato às mudanças que estavam se processan ~ ll1
93g
nahnente e que, de a1gl.Dl1.a forma , 0 governo que havia sido eleito em 1
iambém PTOCl.nava implementar no Chile (d. ScHNAKE VERGARA, 1941).
IA NO PERÍOOO DA FRENTE POPULAR E DO RADICALISMO 143
EECONOM
f(iJílr>

essão entre Hitler e Stalin, aproximando soviéticos e


Não-Agr .. . . .
de erou enorme apreensao e 1mpnm1u nas relações entre
stª5' g
zi
na ·alistas e comunistas · um abalo bastante profundo, pelo menos
1
s0~ . ho de 1941, quando Hitler invadiu a URSS, dando mais
ate 1un fl' b, 1·
•tidez ao con ito e ico .
01
Assim, desde fins de 1940, com o retorno de Oscar Schnake
aís e sob seu comando, os socialistas assumiram a avaliação de
ª;assaram
~! adefender a o_pinião de que o Partido Comunista chileno,
a partir daquele momento, a UI Internacional "estava morta" e

em virtude do pacto assinado entre a Alemanha Nazista e a URSS,


não poderia mais se expressar como porta-voz dos trabalhadores
chilenos. Esta posição do Partido Socialista foi, basicamente, definida
a partir de um discurso feito por Oscar Schnake no Teatro
Caupolicán, em Santiago, acompanhado por cerca de 1O mil
pessoas. Neste discurso, depois de relatar suas impressões da
Conferência de Havana, de afirmar uma crítica severa ao pacto nazi-
soviético, Schnake definiu o Partido Comunista como "o pior
inimigo do país" .147 O próximo passo era lógico e inevitável: após
a repercussão do discurso de Schnake, o Partido Socialista declarou
que permaneceria lutando contra "as direitas e seus aliados fascistas"
e defendeu que a continuidade da Frente Popular "necessitava a
exclusão do Partido Comunista" (apud LóPEZ et alii, 1966: 224).
O Comitê da Frente Popular reuniu-se imediatamente e,
secundado pela CTCH, solicitou à direção do Partido Socialista que
reconsiderasse a situação e buscasse ultrapassar o conflito através
de mecanismos democráticos, superando a proposta de exclusão
dos comunistas. O Partido Socialista respondeu com um documento
que praticamente selava a sua posição. Nele se afirmava que, em
virtude do pacto nazi-soviético, a lll Internacional havia ordenado a

147 . Cf. EI Imparcial de 15 de dezembro de 1940. O título da maté ria era


expressivo: "Ustedes ya no pueden hablar en nombre de la clase trabajadora,
no pueden llamarse nuestros amigos" . Ver também, sobre isso, STEVENSON,
1942 1970: 108. Este discurso de Schnake seria transformado num texto
amp~mente divulgado, intitulado América y la Guerra, editado pelo Depar-
tamento de Publicações, Secretaria Nacional de Cultura (Folleto, n . 3 1, s/0.
Dentre as lideranças que mais aplaudiram Schnake, e que parecia demonstrar
as mesmas intenções, estava o também ministro socialista Salvador Allende
(d . PoNCE DuRAN, 1994: 118-9).
144 FRENTE POPULAR, RADICALISMO E REVo
LUÇÃo PAs
SlVA No C~rlf

ruptura das Frentes Populares e ao Partido Comunist .


·d - . t .
fiel segui or, nao 1n eressava mais manter a Frente p0 a chden Seu °,
1
Segundo o documento dos socialistas, isto explic~~:r no Chile.
Partido Comunista estava levando um política de "gue . ~orque o
1
contra o governo da Frente Popular, através de urna "n,p ª stJrda"
errnanent
sabotagem, tanto nos centros de tra balho, como nos confl•t e
são promovidos para se fazer agitação pela agitação" (Idem ~b~ds que
' , , em-
230). .
Esta polêmica de caráter ruptural não poderia deixar de afet
o Partido Radical . Rapidamente, os Radicais dividiram-se ern d ~r
OJS
blocos: o primeiro considerava praticamente dissolvida a Frente
Popular em virtude da atitude assumida pelos socialistas, que tinham
a presidência do Comitê da coalizão ; o segundo pretendia ainda
garantir a unidade da Frente Popular e rechaçar as postulações do
Partido Socialista. A situação se definiu, praticamente, quando os
socialistas, em 6 de janeiro de 1941, decidiram não mais participar
da Frente Popular e convidaram o Partido Radical e as outras forças
que haviam composto a Frente a formarem um Bloco de Esquerda.
sem a presença dos comunistas. O argumento era definitivo: o
Partido Socialista não voltaria mais a compor a Frente Popular
porque ela estava "inspirada" no Partido Comunista, cuja política
nacional era, segundo os socialistas, "contrária aos interesses do
país" (Idem, ibidem : 232). A direção do Partido Radical assumiu,
então, a postura de considerar rompida a coalizão da Frente Popular,
liberando as lideranças do partido para que buscassem uma nova
base política para sustentação do governo .
Neste contexto, os comunistas tentaram reagir afirmando que,
ao contrário do que afirmavam os socialistas, o partido permanecia
leal à política e ao governo da Frente Popular. Como era de se
esperar, tomaram como alvo principal de suas críticas o dirigente e
ministro socialista Oscar Schnake. Para o Partido Comunista, a
iniciativa de Schnake nada mais era do que a expressão de uma
conspiração orquestrada pela direita e pelo imperialismo contra ª
classe trabalhadora chilena e contra a soberania do país. Seu
secretário-geral, Carlos Contrera Labarca num discurso de 12 de
janeiro de 1941, no Teatro San Miguel, ac~sou duramente Schnake
de ter se vendido ao imperialismo norte-americano, tentando
demonstrar que o ministro socialista havia feito inúmeras concessões

1
,1
NOMIA NO PERÍODO DA FRENTE POPULAR E DO RADICAUSMO 145
p()LÍ11c.A EECO

Estados Unidos na Conferência Inter-Americana ceiebrada em


5
ªº ana. Afirmando a necessidade de manter unida a Frente Popular
buscando in fl uir
}1aV · na pos1çao
· .. da d'ireçao
- socialista, Contreras
~barca contr~-atac~~ ~firmando que a .linha política defendida por
Schnake levana, definitivamente, o Partido Socialista a se tomar um
artido sem princípios.148
p Este clima irredutível de discórdia instaurado entre socialistas e
comunistas causou enorme preocupação no interior da CTCH que,
em 14 de janeiro de 1941, objetivando manter a unidade do
movimento sindical, não viu outro caminho senão o de afastar-se
definitivamente da Frente Popular.
A direção do Partido Radical ainda tentou uma fórmula para
manter a Frente Popular, trazendo a presidência da coalizão para
as suas mãos e admitindo a presença comunista onde o partido
demonstrasse antecipadamente que poderia vencer as futuras
eleições parlamentares. Todas as forças que estavam anteriormente
na coalizão rejeitaram esta proposta, inclusive o Partido Comunista.
Esta recusa provocou definitivamente a ruptura da Frente Popular,
abrindo-se então espaços para operações de confecção de alianças
ou pactos políticos nos quais os partidos se comprometiam a buscar
um consentimento recíproco e um trabalho em conjunto para
construírem uma base de apoio ao governo Radical. Esta proposição
acabou por reduzir-se tão-somente a alianças regionais, nas quais
prevalecia a conveniência eleitoral. As coalizões eleitorais estavam,
a partir de então, subsumidas a uma política governamental que
deveria ser defendida. A Frente Popular havia morrido e cada partido
buscava agir em seu único e exclusivo interesse. .
A partir de janeiro de 1941, o colapso da Frente Popular foi
celebrado pela imprensa de direita como o fim tão esperado da luta
de classes. Contudo, as suas conseqüências ?~líticas ime:llatas foram
bem menores do que se presumia: os soc1al1stas _mantiveram seus
"' post os no m1n1s
t res · · te'n·o e os comunistas continuaram. de . fora.
. em pen'odos eleitorais, interessava mU1to mais aos
Mesmo assim, . _ . que estes ain
m os comunistas visto · da
Radicais a aprox1maçao co •d e ·
. a1·1 d0 seguro uma vez que o Parti o omun1sta
se configuravam um ª '

148. Cf. CoN"fRERAS L\BARCA, 1941: 18 .


146 FRENTE POPULAR, RADICALISMO E REV
OLUÇÃo PAss
IVA No
r.1111.t

não aspirava a uma candidatura própria nas eleições .


' · d P rt·d S · I' t f
ao contrano o a t o oc1a 1s a, em ranca ascensão 148 c·1ais,
presiden
Os resultados da eleição parlamentar de mar ~ d
mostraram que os partidos direitistas tinham bons ~oti e 1941
temê-la . O Partido Socialista chegou a 16,8% dos
comunistas alcançaram a cifra de 11,8% do eleitorado; e O Pa~·os
~ara v~~:
. 1 a1n
R a d 1ca . d a conseguiu
· u lt rapassar os pnnc1pais
· · partidostdo
d
esquerda, obtendo 21, 9% dos votos. A direita em seu conjunto haVi:
caído de 42% (em 1937) para 31, 2%. 149 Isto significava que os três
partidos juntos, somados às outras agremiações que anteriormente
compunham a Frente Popular, poderiam controlar a maioria das
cadeiras do Congresso. Porém, a esta altura, como vimos, a Frente
Popular já havia desmoronado.
O governo eleito em 1938 e encabeçado por Pedro Aguirre
Cerda chegou ao fim com sua morte, em novembro de 1941.
Durante três anos, a direita conseguiu solapar seus objetivos
programáticos, especialmente no que se refere à questão agrária.
Para contra-arrestar a ação do governo da Frente Popular, a direita
contou, num plano mais geral, com as divisões no seio da coalizão
e também com a disposição do presidente em fazer concessões e
arranjos políticos para ampliar sua base de sustentação e evitar
confrontações. É possível afirmar que a direita esteve inclinada, no
início, a empreender uma estratégia que provocasse uma crise
institucional com repercussões que conduziriam a uma derrubada
do governo. Se isso não aconteceu foi porque a lógica do Partido
Radical se impôs através de concessões aos latifundiários e afir-
mação, como veremos, de uma orientação econômica consonante
aos interesses do jovem empresariado.
As duas administrações que sucederam o Presidente Aguirre
Cerda foram comandadas por Juan Antonio Ríos (1942-1946) e

149. Pa ra as e leições parlamentares de 1941, o Partido Radical e o Partido


Comunista agruparam-se em muitas re giões do país no Partido Progressista
Nacional (cf. PONCE DURAN, 1994: 123}.
150 . As eleições parlamentares de 1941 expressam com nitidez a famosa divisão
em tr~s t~rços do eleitorado chileno, a lgo que conseguiu se reproduzir, ainda
que nao linearmente , mesmo com a ampliação do corpo eleitoral em virtude
das reformas realizadas do final da década de 195 0 , até O irúcio da década de
1970 . Os dados ele ito rais deste período pcxlem ser consultados no Anexo n.
p()Li11c.A E ECONOMIA NO PERÍODO DA FRENTE POPULAR E DO RADICAL.ISMO
14l

briel González Videla (1946-1952), ambos membros do Partid0


Ga
Radical . A des1gnaçao
· - de R'. tos como candidato deveu-se à recu-
peraça- 0 do controle_do partido por seu grupo e, em grande medida,
derivou de uma reaçao ao comportamento pré-eleitoral da esqu d
'al'st er a.
Enquanto os soct 1 as procuraram apresentar Oscar Schnake como
seu candidato, o Partido Comunista mostrava-se mais inclinado a
apoiar Gabriel González Videla, líder da ala mais à esquerda dos
Radicais. Em meio a estas circunstâncias, Ríos procurou angariar
apoio nas forças do centro e da direita. Conservadores e Liberais
dividiram-se em relação ao candidato do Radicalismo e , não
conseguindo articular uma candidatura própria, foram levados a
apoiar Carlos Ibánez.
A despeito deste cenário pré-eleitoral bastante confuso e
conflituoso entre as forças de centro-esquerda, estava claro que seria
impossível a vitória de qualquer uma delas isoladamente. A situação
internacional marcada pela Guerra também era favorável a um
rearranjo. A Alemanha Nazista havia invadido a URSS o que 1

estimulava a que se pensasse concretamente na defesa da demo-


cracia em geral, mantendo-se a perspectiva estratégica de moder-
nização capitalista como pano-de-fundo de um programa de gover-
no. Assim, de uma coalizão entre classes médias e setores populares
que marcou a composição da Frente Popular em 1938, passou-se,
em 1942, na campanha de Ríos, a se propugnar abertamente por
um compromisso inter-classista de união nacional. 151
A partir do momento em que a candidatura de Ríos foi assumida
pela esquerda e denominada como Alianza Democrática , definiu-
se com muito mais nitidez o papel cêntrico do Partido Radical nas
políticas de coalizão, obrigado a lidar com pressões, expectativas e
ofertas de ambos os lados do espectro político. Rios expressou,
portanto, uma aliança eleitoral bastante ampla que , no final da
campanha, chegou a contar até mesmo com o apoio do ex-
presidente Arturo Alessandri . Para uma eleição polarizada, sua
vitória não foi tão expressiva, ao atingir os 56% do eleitorado ,
revelando que a direita, mesmo sem candidato próprio, dividida (uma

151 . A partir de 1943, a linha de União Nacional contra o fascismo passou a ser a
°"icial dos comunistas chilenos. Sobre isso ver CON"ffif.RAS lABARCA
'
FRENTE POPULA~ RADICAUSMO E REVOLUÇÃO
148 PASSIVA No
CH!Lf

arte dos Liberais apoiou Ríos) e sern programa definido


P 111. d 'consem,·
alcançar a cifra significativa de 44 70 os votos.152 ;jll1u

o primeiro gabinete de Ríos foi uma heterogênea e . . ,


'd . I, S . 1·
combinação de parti os, que 1nc u1a os oc1a 1stas, uma ala
tnsohta
Liberais, os Radicais e o Partido Democrático. Não foi estrhdos
,d . an o
assim, que vigorasse, neste peno o, uma insta 6ilidade ministen~
permanente. Os atritos se fizeram constantes, levando os socialistas
em meio a um conturbado debate interno, a abandonar o ministén' '
lh3 - o
depois de um ano no governo . D Em relaçao ao Partido Radical
reproduz-se em grau bastante elevado os conflitos entre o President~
da República e seu partido, principalmente em tomo da questão das
nomeações ministeriais, fazendo com que o próprio partido do
Presidente passasse à oposição por um breve período.154 O Partido
Comunista, em virtude da sua nova linha política que pregava a
União Nacional, ainda que rejeitado como membro da coalizão de
governo, deu total apoio a Rios, inclusive como interlocutor entre
o Presidente e seu partido.
A presidência de Antonio Rios teve que enfrentar os problemas
políticos e econômicos advindos da situação de guerra, assim como
acomodar-se ao novo papel que os Estados Unidos passou a
desempenhar em relação à América Latina. Mesmo aceitando a
"colaboração" com os Estados Unidos, que lhe causava sérias
desvantagens econômicas, como veremos mais adiante, o Chile
r~lutou em romper com o Eixo - recomendação feita em 1942 pela
diplomacia latino-americana, sob influência dos Estados Unidos -,

152· Cf. MOUUAN Y TORRES D., 1987: 195.


153. O Partido Soe· U5t . "
ta a assUll1Iu postos ministeriais mas em poucos meses, Jª
~1~ ti '
. ' re rou-se do governo acusando-o de direitização. Marmaduque
Grove cnou o Partid Soe· ,, ~ O ·
0
Schnak f . , . tausta Autentico, que teve curta duração, e scar
01 O
pa rtir d e t para Mexico, retirando-se definitivamente da vida política· A
es e momento sobr , .
de renovação d lid ' e\A:?m uma intensa discussão interna e um processo
l
na retomada d: ~=;:"!
da chamada u ªIh erança partidária, do qual um dos únicos sobreviventes
0
~ Salvador Allende. Este processo redundou
adoção da chamada L· h ologicas do partido, que culminou, em 1945, 11ª
tr b
°
traria Principahn t in de Frente do Povo na qual o partido se concen-
en e no estírnuJO . ' d .
154 _ ~:o:_
ª alhadores. Sobre
126-7.
re isso, ver REYEs
i a pro1etos baseados nos interesses o:.
sso, ver FAÚNDf2, 1992: 94-5, e também WALf<ER·

ALvAREs, 1989: 49-73.


p()liilc.A E ECONOMIA NO PERÍODO DA FRENTE POPULAR E 00 RADICALISMO
149

56
fazendo um ano depois sob forte pressão norte- .
o , . . , amencana.
,.,
Ant~ 5 que a poss1ve1s sentimentos pro-fascistas como
,.. . . , ocorreu na
Argentina, a resistenc1a devia-se ao fato da economia chilena ter
s1·do consideravelmente_ afetada .pelos baixos preços a que eram
submetidas as exportaçoes de salitre e cobre.
Ainda que sem a força para alterar radicalmente O cenári
eleições parlamentares de 1945 demarcaram, por sua vez, 0 qu~dr~
politico interno, revelando algumas mudanças em relação à eleição
parlamentar de 1941 . Mesmo afetada pela guerra , a direita
conseguiu crescer, atingindo 43, 7% dos votos e os Radicais a
despeito de todos os custos de ser governo, mostraram capacidade
de se manter estáveis nos 20%. Os reflexos do término da Frente
Popular foram cortantes para a esquerda, que viu reduzida sua
votação a 23% do eleitorado. O Partido Socialista baixou a 7,2%,
secundado pelos 5,6% das outras forças socialistas contrárias ao
partido, e o Partido Comunista foi o que mais cresceu, alcançando
10,3% dos votos, tomando-se, isoladamente, a maior força eleitoral
da esquerda.155
O término da Guerra agravou os problemas econômicos do
país. Embora em alta no mercado internacional, a demanda de cobre
caiu abaixo dos níveis do pré-guerra. O resultado foi a explosão
social. A agitação operária elevou de forma alarmante o índice de
greve: em 1945 e 1946, uma média de 187 greves, com a par-
ticipação de 96 mil trabalhadores em cada ano . Os conflitos
chegaram ao auge em janeiro e fevereiro de 1946, quando o
ministro Alfredo Duhalde assumiu a vice-presidência, substituindo
o presidente Ríos, afastado por enfermidade, e desencadeou uma
forte onda de repressão contra os sindicatos de trabalhadores do
salitre, gerando violentos protestos em Santiago, inclusive com a
morte de alguns manifestantes. Duhalde viu-se obrigado, assim, a
aceitar algumas reivindicações dos grevistas. O movimento sindical,
por sua vez, visando acelerar o cumprimento das medidas tomadas
pelo governo a seu favor e mantendo o clima de repúdio à violência
policial, convocou uma greve geral para 4 de fevereiro de 1946.
Os socialistas, que de início haviam apoiado a manifestação>mu-
daram de idéia ao serem convidados para fazer parte do gabinete

L s. V er Anexo D.
FRENTE pOPULAR, RADICALISMO E REVOLUÇÃO
150 PAsslVA ~o
c.i1lt

. . t •ai Alegaram que o seu ingresso no governo


mm1s en • _ d 9aranr1 .
dimento às reivindicaçoes os trabalhadores 11a 0
a t en . fi e, nu
·festação de anti-comumsmo, a rmaram que tratava-se d ma
mam d d ee ·
a eclosão de uma guerra civil. c~man a a pelo Partido CoVítar
. t 156 Esta atitude dos socialistas de trocar seu ing
111s a. .
rnu-
resso n0
governo pela participação , .
no movimento de protesto gero
.t . 1· u con-
frontos de rua entre operanos comums as e socia 1stas e, por fi
0
rompimento definitivo da CTCH, com os sindicatos control~
elos socialistas passando a_ apoiar abertamente
. o governo e aqªue ºs
P ~ 1es
que se encontravam nas maos dos comunistas atuando em oposição
a Alfredo Duhalde. 157
Com a morte do presidente Ríos e a antecipação das eleições
presidenciais, a divisão no seio da esquerda criou um impasse para
os Radicais. Em virtude das repercussões da repressão desencadeada
pelo governo ao movimento sindical, o Partido Radical sepultou
qualquer pretensão de Duhalde e, como já havia se tomado comum
desde o término da Frente Popular, voltou-se para o Partido
Comunista visando compor uma aliança eleitoral com Gabriel
Gonzalés Videla como candidato à Presidência. Duhalde, por sua
vez, viu-se entre os socialistas, que o estavam apoiando, e alguns
líderes da direita que pretendiam uma aproximação com o centro
1, político . Com a negativa de Duhalde em ser o candidato dos
1
socialistas, este partido viu-se no dilema de não poder apoiar o
candidato dos Radicais, González Videla, uma vez que esta
con1posição carregava a marca e o respaldo dos comunistas. Para
evitar divergências maiores e manter-se unido, o Partido Socialista
decidiu concorrer com um candidato próprio, lançando o seu líder
sindical e também secretário-geral, Bernardo lbánez.
Estava daro que os chamados acontecimentos da Plaza Bulnes,
onde se efetivaram os conflitos entre forças policiais e trabalhadores,

156. Este foi o tom usado por Agustín Alvarez Villablanca, secretário-geral interino
do Partido Socialista. Na verdade, os comunistas estavam pressionando para
que fossem também chamados a compor o ministério, t.rrna vez que, confo~e
a dedatâção da sua Comissão Politica, a repressão aos trabalhadores fa21a
J)drte de t.nn plano destinado "a destruir o regime democrático e assaltar 0
poder para impor. a sangue e fogo . urna tirania do tipo fasci 5 ía el"'"
simultanexiade ao GOU argentino" (apud MOL11JA.N yTORRES D., 1987: 2'
157 - Cf. FAL:\T>t2, 1992: 78-9.
, .
1 ,u '\Mt~ NO í'FRÍOOO DA FRENTI: POPULAR E 00 RADICAUSMO
'11,'~ 1 •' ,,~
li,," 1 .....
151

,~,1"...,1~ tntr<" '-',~n:unistas ~ socialistas, causavam fortes repercus-


~"4_!~ M'i ,•,)nt,"nn~\' 3l) das alianças para as eleições presidenciais de

~,)~ , . 1'-~c:St1"lt) ~~:1.1, os i{adkais conseguiram, en1 parte, reproduzir


J'I ~nA r,,Hti~a d e? ~han\-:as à esquerda, mantendo a composição com
0-' ,\-.,ii'llll'ltSt3~. P~rd<.?.ran'1 , conh1do , a capacidade de atração dos
~,i<\list~ ern \ irtude do d<.'..se1n penho do governo e das questões
iritctnAf- ;k,sta -~ -erniaçào, que acenhlava suas críticas às propostas
.it ~~X'tir uff\ govcn10 de união nacional. Em comparação com a
4/JaYlY-h l)@.n1ocrJt ic<.'1 de Rios, u1n a coalizão bastante ampla, os
~11~1~ ..:k>.n1or1stravan1 que havian1 perdido também a capacidade
,'k ~ \utina\~) crn ~u apoio de segn1entos dissidentes da direita,
ün'\e ,,e~ q,.1<~ a ,'urnposição con1 os comunistas e o isolamento de
).i"l<i1dc jefirürarn daran1ente as opções.
~1 t='Sta f0n11a. os carnpos se delineava1n com bastante nitidez e
~ ;11c~1tf' divL~~ internas n1arcadas pelo personalismo das lideran-
~~' ~0Hticss~ 3ll3das a Uff1a fragilidade programática, explicam a
}'-....._"~~~ que ã dirtZita ton1ou diante destas circunstâncias pré-elei-
t,) :'filS. .:i~.rn..)l"lsn·ãndo, por fi1n, uma inabilidade extraordinária. Ao
L~n;.re· 301~ ..~ndidatos, Eduardo Cruz-Coke e Fernando Alessandri,
~ .ii:·ci!ã dirninuiu sensiveln1ente suas possibilidades de vitória. A
~aia :1~t . ~ue 3n.te1io1111ente havia apoiado Juan Antonio Ríos,
~ :1j~ ~nds irnpotente para apresentar uma alternativa própria
t ;i:·~ic:i:1 3p ...)i3r Cruz-Coke. Procurando se afastar dos Radicais,
~ i3la1~stas não se seduziram pelo convite feito por Videla para
1..:,:-::1.J1re:-:.1 u."1.1 pacto que superasse a antiga fratura entre leigos e
.::-e.:1tcs e ~ceitassem. con-10 na França e na Itália do pós-guerra, um
.:iial~ ...) franco e ativo entre con1unistas e católicos. 158
G:~açss à n1encionada inabilidade da direita, Gabriel González
·\ =i.:Jei3. ve:.1~:..1 3s eleições com 40% dos votos, já que, somados, os
\·..:,!.:,s dos candi& to~ da direita chegaram a 4 7%. 159 Como não
.::._j:1t~v~ cort1 a n1aio1ia no Congresso e não havia obtido respaldo
x1à1be -para 3 aliança que se tinha operado com o Partido Comu-
:i.rs;a. ::1e~ mes:110 em seu próprio partido, o Presidente eleito teve
::ue razer diversas concessões à direita para que seu nome fosse
:~ti:i.:.e.:l:, :-10 Parb.:11ento. além de enfrentar dissenções internas no

:-,; :;s. C; , Mo.;...IA.l \ ~; T..wIBS D., 1987: 294'8.


: ~- v.:b .fuafles ..::>bte"\1€ apenas 2.54% dos votos.
152 FRENTE POPULAR, RADICAUSMO E REVOLUÇÃO PAS
SIVA NO ÜiI1.f

Radicalismo, imediatamente após sua vitória eleitoral. Na rn di


em que os Llbera1s. contavam com um numero, suliciente
. de assee da
'di • • •. ntos
no Par1amento para dec1 r as e1e1çoes, exigiram, em troca do
apoio a González Videla, três postos ministeriais e o direito de
sulta e aprovação prévia de qualquer projeto do Executivo referen:
e:~
à sindicalização camponesa. Os Radicais aceitaram as exigências e
o resultado foi um ministério formado a partir de uma estranha
mescla que envolveu Radicais, Liberais e Comunistas.
González Videla herdou os problemas econômicos não
resolvidos pela administração anterior e ainda se viu envolvido numa
delicada situação política, tanto no plano interno como inter-
nacionalmente, devido à participação comunista em seu ministério.
No plano internacional, como o Chile carecia dramaticamente de
financiamento externo, os Estados Unidos contavam com um
importante trunfo para dissuadir o Presidente de sua aliança com o
Partido Comunista. A situação interna do Chile, em especial a
composição política do governo, era totalmente contrária à
orientação da nova política exterior norte-americana para seus
vizinhos latino-americanos. Era o início da chamada guerra-fria e o
governo norte-americano apelava para a solidariedade das nações
americanas a fim de defender o continente da ameaça comunista.
Levado pelas pressões internas vinda dos Liberais, que chan-
tageavam o Presidente com a ameaça de se retirarem do governo
caso os comunistas não fossem expulsos do gabinete ministerial, e,
externamente, pelo corte de recursos que os Estados Unidos amea-
çavam realizar uma vez que questionavam a presença comunista
num governo democraticamente eleito Gonzáles Videla cedeu aos
pedidos de rompimento com o Partido ' Comunista. Em abril de
1947, os comunistas se retiraram do ministério, mediante a pro-
messa de que, caso o partido continuasse apoiando o governo eª
situação se alterasse, o Presidente os chamaria novamente para re-
tomarem aos seus postos ministeriais, dentro de pouco tempo.
Contudo, a saída dos comunistas do ministério não aliviou as
dificuldades do governo. Os Estados Unidos mantiveram sua pres-
são, a fim de assegurar que a ruptura do governo com o Partido
Comunista fosse completa. Ao contrário do que imaginou Videla,
0
?º~erno norte-americano manteve o embargo informal sobre os
creditos destinados ao Chile, que havia entrado em vigor em
_ "()MIA NO PERiOlX) DA FRENTE POPULAR E 00 RADICALISMO 153
l\.:A 1_8.,1.)rc
f\.~ {f. .

nbro de 1946, e.n1 virtude da vitória eleitoral de uma coalizão


lll)\/('l t' . ~ . '
, contava coin a par 1c1paçao comunista. Esta pressão norte-
"1u~cticana e.n1 relação aos e111préstimos internacionais agravou a
:~iação econô1nica, que já era difícil, e deu novo impulso à agitação
~perátia. O apoio dos co111unistas às greves contra a política do
goveino e as permanentes críticas feitas à relação do Chile com os
Estados Unidos proporcionaram ao presidente González Videla a
justificativa necessária ao rompimento definitivo com o Partido
·comunista. Em agosto de 1947, todos os membros do partido
foram expulsos dos postos governamentais que ocupavam e, em
outubro, aplicaram-se severas medidas visando a repressão de uma
greve nas minas de carvão, deflagrada pelos sindicatos sob controle
dos comunistas. Em seguida, o governo fechou o jornal do Partido
Comunista, El Siglo, e rompeu relações diplomáticas com a URSS.
À medida que o governo mostrava-se disposto a reprimir os comu-
nistas e alinhar-se de maneira integral aos Estados Unidos, o Chile
era recompensado com os empréstimos até então bloqueados: a
primeira remessa foi do Exim-Bank, no valor de 23 milhões de
dólares.160
Entretanto, a política de "mão de ferro" contra os comunistas
não conseguia conter a agitação operária. Foi necessário que, em
1948, o governo decretasse a Lei de Defesa da Democracia, pres-
crevendo o Partido Comunista e atingindo diretamente os direitos
e liberdades sindicais. Uma nova onda de agitação operária, em
1950 tratou de demonstrar que sem uma mudança importante da
' .
política econômica seria inútil seguir com uma postura repressiva.
O governo não con~guiria reduzir significativamente nem a inflação,
nem a inquietação nas fábricas . .
No início da década de cinqüenta, os Radicais, que haviam se
afastado da esquerda, também se distanciaram da direita, um~ ~ez
. hora para evitar a derrota nas ele1çoes
que, num esforço d e últ1ma . al
'd . . de 1952 González Videla e o Partido Radie tentaram
pres1 enc1ais , . . C t do a esta altura
aproximar-se novamente dos soc1ahstas. on u ' d' . t
nenhum partido, seja de direita ou de esquerda, _destaRvad. ispl ~s º_a
. . . d Parti o a 1ca Ja nao
aliar-se aos Rad1ca1s. Depois e 14 anos, 0 a1· _ l'ti
. _ d f mesn 1 as co 1zoes po 1 cas
estava mais em cond1çoes e azer as

160 _ Cf. f AúNDEZ, 1992 : 81-2 .


p 154 FRENTE POPULAR, RADICALISMO E REVOLUr•
Y\O PASSIVA
NO CHILE

que lhe haviam proporcionado ótimos resultados, ern virt d


isolamento e da fragmentação e enfraquecimento do sist u e do seu
, · 161
e partidano .
ema Político
Esta configuração final do governo Videla, que afirma .
fortemente a impressão de fracasso de um período histórico , muito
, . uma vez que t ano
certo sen tido, 1·1 usona, e, num
t os parti"dos como 'siste
O
político demonstraram capacidade de resistência e afirmação 0: :
anos que se seguiram. Em relação ao que apresentamos até 0
momento, pode-se ficar com esta mesma impressão. Mas ela deve
ser admitida como parcial, na medida em que a dimensão econômica
ainda permanece fora do nosso campo de análise. Esta dimensão
nos parece central, sendo preciso resgatá-la para se compreender,
em seu conjunto, o processo aberto em 1938. Entretanto, é
necessário que se enfatize, uma vez mais, que não há, especialmente
neste período (para dizer o mínimo), possibilidades de se analisar a
esfera econômica tomando a esfera política como externa a ela.
Como havíamos afirmado no início deste capítulo, o programa
da Frente Popular pleiteava diversas reformas políticas e econômicas
destinadas a operar uma melhor distribuição de renda, ampliar o
mercado interno e modernizar o sistema de produção do país.
Propunha-se também um controle maior sobre as atividades de
empresas estrangeiras, além de fazer-se uma vaga menção à reforma
agrária. Apesar das lideranças partidárias da direita interpretarem
tal programa como uma grave ameaça à propriedade privada, na
prática a Frente Popular não somente atuou no sentido de evitar
qualquer explosão revolucionária, como acabou fortalecendo, em
especial, os novos segmentos empresariais das classes dominantes.
A reprodução desta perspectiva pelos dois governos comandados
pelo Radicalismo que se seguiram à Frente Popular redundou numa
real atualização do capitalismo chileno a padrões mais avançados,
notadamente em relação ao que se concebia na época como fortes
dimensões promotoras da modernização, isto é , a industrialização
e o planejamento, os pilares da política econômica da Frente Po-

161. Estõ é a conlusão unânime que a parece nos estudos sob.-e o periodo eill o·
o Radicalismo foi o parHdo governante no C hile , com partiJhada tdrnbéni
Da Pozo, mimeo., 1986 (sem d úvid a , o me lho r trabalho de sínte.se Sl
as posturas assurnidas pelos goven1os Radlcais).
oNOMIA NO PERÍODO DA FRENTE POPULAR E DO RADICALISMO
p0J11c.A EEC 155

e ta orientação imprimiu, sem dúvida, um efeito d ,


\ar. [.,s ,. . h'l per uravel
pu nvolvimento econom1co c 1eno tornando-se • t
0
dese ., ' . , Jun amente
11
orna 1
·neVltavel presença do Estado na vida social ,
a base funda-
e tal de referência para a concepção e formulação dos . t
roen ,. pro1e os
tégias de todos os atores pohticos.
e estra
Com a Frente Popular afirmou-se uma tendência prévia de
intervenção_ do Es~ado como elemento promotor da modernização
ern seu sentido ma1s amplo, , fortalecendo a perspectiva de superaçao ~
dos entraves externos a economia nacional, bem como ultrapassou-
se uma atitude de simples reação aos entraves ou flutuações da
economia mundial que afetavam severamente o país. Como já
indicamos anteriormente, entre o fim da I Grande Guerra e meados
da década de 30, a indústria de bens de consumo teve um rápido
crescimento, obstaculizado pela carência de divisas e de acumulação
interna. Foi o esgotamento do que ficou sendo conhecido como o
"período fácil" da substituição de importações.
Para que esta situação estrutural fesse solucionada e se pudesse
criar condições para o aumento da capacidade de produção da
economia nacional, era necessário a implantação de um novo mo-
delo de desenvolvimento, tendo à frente o Estado como promotor
e gestor de ações que visassem o estabelecimento de um parque
industrial com capacidade de sustentar uma nova etapa de
crescimento econômico, sem os custos impostos pela situação estrita
de dependência externa. Este processo demandaria não somente
a mobilização da sociedade, mas também uma intervenção
qualificada no sentido de alterar, social e culturalmente, os níveis e
a qualidade de vida das classes subalternas. O processo econômico
da modernização induzida exigia a construção de uma outra
organização sociocultural, de natureza incorporadora e, portanto,
superadora das situações estruturais que caracterizavam o
predomínio oligárquico do período anterior à década de 1930_- Dada
a incapacidade do setor privado em implement~: tal proJeto, 0
Estado levou-o a cabo através da CoRFO (Corporocron de F_omento
de la Producción), o organismo estatal volta~o ?ara estimular o
·mento. Sua criaça-0 como vimos, havia sido proposta pelo
desenvolVl ' ,. · d
Agu irre Cerda em virtude das circunstancias e
governo d 1939
truç '"ao do sul do país depois do terremoto e ·
recons . . · · d' t que
Desta forma, ultrapassando-se as circunstancias ime ia as
FRENTE POPULAR, RADICALISMO E REVOLUÇÃO
156 PASSIVA No
C>ilt.t

levaram O governo Aguirre Cerda a propor a criação da CoRFo- ..


0 único projeto importante que a Frente Popular consegui alias,
· d · ·
no Congresso - , pode-se d1zer que os ois pnnc1pais obieti· u ªProv ar
. d ·t J Vos dec:c,..,
corporação eram: (1) a partir o aprovei amento das riquezas na ~
do pais aumentar a produção em todos os setores da econo . Íllrais
' custos, a t·1m d e red uzir. o de11c1
minuir seus ', 1 · ·t d a balança de pag rnia e di-
ainen-
tos e, cotn isso, o estrangulamento externo; e (2) contribuir co
. . . m um
crescimento d a o ferta d e bens e se1VIços, com _ o 1ntu1to de propo .
reto-
nar um índice maior de bem-estar à populaçao . De acordo corn 0
vemo, a CoHFO teria um caráter eminentemente orientador e prog::
mador. Seria composta por representantes de diversos organismos
técnicos do Estado, das organizações empresariais e dos sindicatos de
trabalhadores, tomando-se, na América Latina, a primeira instituição
estatal desta natureza.162
A criação da CoRFo respondeu também a um anseio antigo das
principais organizações empresariais do país - dentre elas a
Sociedad de Fomento Fabril (Sofofa), a Sociedad Nacional de
Mineración (Sonarni) e a Sociedad Nacional de Agricultura (SNA)
- e, por esta razão, recebeu destas um apoio integral. A idéia de
que o Estado deveria estimular as atividades econômicas era já algo
consagrado entre os empresários chilenos. Entretanto, a concepção
de fomento assentava-se, desde a década de 1920, na dotação de
créditos a atividades já existentes e, como uma ampliação desta
concepção na década de 1930, na permissão de créditos para a
pesquisa e experimentação de novos processos produtivos, para a
exploração mineral em novas áreas e para a preparação técnica de
pessoal . As mais importantes organizações representativas do capital
privado, indicadas acima, apoiavam a idéia de promover uma maior
participação estatal no processo de desenvolvimento econômico e,
essencialmente, admitiram, com a CoRFO, uma ampliação do
conceito de fomento através da noção de planejamento.163 Em
outras palavras, consideraram um passo essencial a elaboração de
um "plano geral de estímulo à produção", ou, nas palavras do

162. Para descrição e anáUse detalhadas, tanto do processo de criação, como do


seu significado e do desempenho da Corfo na história econômica e social
do Chile, ver ORTEGA M. et alii, 1989.
163. Cf. IBANI:Z S. M., 1994: 190-1.
~}[); E fCOUC+flA t~ F1:.Rl(J{YJ OA HtEIHl P"'..NUI.AA t !/J ~·, 1if'J-Jf',Wi J ';/

rrJnisrrº da Fai,e~a de Aw1rre ~rda H,.A~r-10 VJn,J,f,,,Hi, "inn


1

p!ano arnplo1nae1onaJ, denhficarrietrte eJ;_,rr11ntlt.J, J~•1;yJ,j i, i,r!JtkSJ


com método e desenvoMdo a )unge, J)téJl/J .., foµud l ·.'tUl/1:J, ~!l u/Jl 1
1986: 198). Ainda que, ero \Artu<l~ <la d'ffid fo1d ;J ,J~ ir,f,1 " 1,.,11;/Jt.:~
wbre o pais, tenha sido irripraticável c,Jocar lrr!e(Jfa,tnt11,C,jtrt.o, ½in ~,,;iJ
um plano gjobal, corn a Col{JsU S'j estrvtvruur e'rtflr,1 1 1Jm,-, t/11~ 'P/.:llff N
para que os ernpresáríos pudes3err1 êlrnplfor e, , ,J1'.11 tu1,l1ln,f0 dc.t
conseguirem créditos baratog ~ urt1<1 ft1m0r µrcAt1/rS1..1 ~11, r~J01,ã1) .;
concorrencia estrangeira, alérr, d~ urr, c,:,t1})) r}lref1, ,J~ (1/1rt 1'JtJkiJ~~:s0
entre E.stado e capital privado, -
Ao ser aprovada a lei que cr10u a (;tJW r1 1 Ir A µ(.1~~h1L:J w Am t1
força da oposição de dírert.a à.s dirclrlze~ qu~ 1//rt1r1uuJ1mu 1,1 µrr_/
grarna de governo da Frer,te Popul;,)t. (Jc; ter11D~ $1th1dJJDh ~rr,
questão erarn o grau de autonornía da Curv0n.J.(;,~'.1 ~ :., f'A H,tJ d~
fínanciá--la. No prirneiro aspecto, ~ oJJir1iir.1 &_/;; rH.Htld1.1:, rJlr~Hfof~~
contrastava coro a dos representantes dv r~pitõl JttlvwJ/), ~~µ,9vn~
erarn favoráveis a urri rn~nísmo que JftUput d 1.A1a.:;!~ 'Jfll vírn.,uJ, 1
direto entre o Estado e os etnpresárí0i, afra 11é~ cl~ suãs 0tgDt1ft)'Jt;l,~e,
corporativas,. enquanto os parlarr1entares da dítrdt~ ~~ja-vam CjJJ~
as iniciativas da CORFO estivesseui s ujeita;; tJ üpr0va<;5o c.fr,
ParJarnerrto. Quanto ao flnanciarnentv, a J}T c111rA,l'?:Í!J ~b HUV~r nu
era de que se ekNasse or- lrr1posto$ pessoais~ d~ ~ff1f1r~:;.-::1D, J~(,, k,
a proposta da CoRFO era acornpanbada peln id~íü d~ q,,~ n r,át1tt
mais rica da W..iciedade su&1errtasse urna ~11tidad~ ~sl;,rt~I qu~ lrl~,
/ através dos planos que irnplerrientasse, r~riuulr fJIHrl ~~ítt,JJlu& f1
iniciativa privada. A cria<;ão da CoRFO co11t0u, n~!1ttJ úJHrnt.1 àsp~d 11,

com a derrota do governo da Fr~uw PopuJ;,;, urrta v~z qug u C0t1


gresso acabou aprovando urn êlU:ru~nto dB 15'..fi, ü'JUt~ ~ frlbut;:;,;,;,)
do cobre para financiar a Corp01ação. Em outras J10Jc1vru.:;, o f1t1a11
ciarnento dij CúJ<f·O acabou ficando cl~p~md~nht dos rec Ur'Sf_1;; ll:x;,1l!i
a serern auf~ridos corn a trlbuta(;ãv du oofvr ft¾portatbr,
Nurna víf;áo de conjunto, é pussív~I aflrrriar qu~ ã:; ,x,,w;,.1~!-/íe9
feita& pelo gov(!fnv na negoda,;ão do vroj0u C0HH, ,,t aU!,rmn por
lirnítar o alcanr:e ela. nua política ~cvttutr,lca, Er1, JJ1ÍHH:~lr1.J 1U{Y)t , D')
ser obstaculíZ-ada c1 refonnn trlbuthriaf w111 á ri{l,{_J,aUvu d,-1 C1A1,11r~o9u
~rn elwar C-;D lmµ cA:tus p~troafo ~ de ~rr,rrre!iàs, (1 u0v,~rr 1' ; t~V'J '1ue
r.1 abarrd()Tlar rJ ~ µ10j~0 clP. rwJi 1_rt_dbul1;âv d~ t(:rnJo, Ern ~--'.!H 1d<lD ,
,. -ul:)r r_) firiariclarnento da C UHl'f J tJOE; írrtpo:rt, JD ,;ulJrç; ,;,1w
158 FRENTE POPUlAR, RADICALISMO E REVOLUÇÃO
PASSIVA No l"l,
'-11ILE

panhias norte-americanas de cobre, garantiu-se implicita


.
não-nac1ona 11zaçao
· - d o pnnc1pa. . 1 pro d uto nacio"nal
. mente
.C a
conseqüência, o governo se viu forçado a recorrer a emp~éstiorno
· · al men te ao Ex'1m-Bank - , o que significournos
externos - pnnc1p
controle externo em relação aos objetivos do desenvolvime~:
econômico chileno. Mesmo atuando com envergadura em seus
planos, a materialização dos objetivos da CORFO se fez cada vez mais
dependente da assistência técnica e financeira dos Estados Unidos
que se tomou o maior investidor no país, aumentando em cinco ano~
(1940-1945) o percentual investido de 18% para 30%.164 Por fim
ao negociar com a SNA o apoio à autonomia da Corporação, em'
troca da suspensão do processo de sindicalização no campo, o go-
verno reconheceu formalmente que as lideranças políticas da direita
- vinculadas ao setor rural teriam um poder de veto sobre suas po-
líticas. Não foi surpresa, assim, a extrema timidez com que a CoRFo
atuou em relação à modernização da agricultura e das relações so-
ciais no campo.165
A despeito de suas limitações, as realizações da CORFO foram
impressionantes. Num primeiro momento, a Corporação em-
preendeu um programa de ação dirigido a apoiar empresas de
diversas áreas da economia e passou a adquirir uma importante
presença no mercado financeiro, estabelecendo normas para a
regulação desta área. Atuou fortemente, também, na regulação do
mercado de importação e exportação, visando regular preços e
proteger os setores mais fragilizados do mercado interno .
Providências da mesma natureza foram tomadas para resguardar
os setores econômicos e sociais mais afetados pela inflação.
A partir de meados dos anos 40, ampliou sua intervenção na
economia do país, levando a cabo planos setoriais destinados a
desenvolver indústrias básicas e de infra-estrutura, criando empresas
mistas ou estatais, fazendo com que o Estado assumisse, pela
primeira vez, uma função empresarial. Como indicativo desta ação
do Estado através da CORFO, em 1944 foi criada a Empresa Na-
cional de Electricidad (ENDESA). Neste ano completou-se tambérn
a construção de usinas hidroelétricas e termoelétricas, iniciando-se

164 . AYLWIN et o/ii, 1986 : 55-6 .


165. Cf. FAú NOEZ, 1992: 53-4 .
"\\\'~\\\\~"' ,, \''\'~,,,.,,\'(\,, dv \Wh'ól~,,. E"' t 9rtfi, frn·nn, d,,st•ülw,tos
~~ \'' h\\\.ih\i ~ \~tk\n~ Üt} \\\Jh\)\l'() \ \O \)\\ 'Wll w\o d'-> Mnníllht\e~ u d nco
'""''~ \\\"\~ tõ\\ \,) o t.. \ 'Hl \) tr"n~f~rlu o \H)~qttl~n. }Wusnuc~õo l'
,H:th \l,H\\'nt, d,} p,.,h,\h,'-> l'~\''1 " l~n,p,"'Stl Nctdntml d(' Potrôl<Jt>
fN:\\ '). \n~tH\\\\'Ôú d,) ,·n,\\tvr oUtô\ \i.Jt\\o q\l(' pnt~suu a controlar 0
~'\!t\'\\ \\w fhn, \\t) l't\\\\l'l' do $\d'-)t'\n\,ln, o C1,_)Hl·\ ) r d ú ll \.? fhmndou
"' ( '<\nti'lo)itt ,ir, A t't't\J d(~l l>t1c~ífi,,o (CI\P), '11\\ l 9rl6, pctra Ct)locar
~'" h\\\l'k'\\c\\\W\\t\'. qU:\l,\') ;\\H.'\~ \\\OI~ lnl\l,i, íl ttlôlot· ~ldurúrgicé do
l'"\~. ~ u~\nn dt~\ ht~,-hlpnl0 .
t\\'t'~:\1'd,, ,·rltkodn \)"W ~ua hl~l'-~1\"'I \ \do nos nt!gódos privados,
" t \ \H\ \ ~ nmnhAtt) U\\\n úrl, 1\\h1\'Ôf> prt1ch.,a nos sous prugronms: n5o
l'')t'\\\lH\\ qu,1 ct int\)tV\?n~·õ"' '-'Sh\lnl n~srnn\~$~ , m, ct:iràtor substitutivo
,,m ,\'l"\'~0 ~ inklnH,,a prhiadn ou '-)ll{' fos~u hifroduzido u111 tipo do
\ p\m wj~n \ü\\l\') qu\: µ,~t:t,,ldt'SS\1 C'\bot'Ci.w o eóntrolcw a totalidndo da
~""-'\\ún\\n n~don"L E\'n 1947. justifitôl\do suu proecdinlOnto, un,
dút- v,n.,..p\~siduntvt- u.x,·l;ttt\Võs da Com•'O sintolizou cott \ bastante
Q-Xnth:liio \!$ta o rh3\lhwão: "A Cot>poraçâo jarnais prajudicou a
\nidàtlv'1 ptivada. Nunca cht1uou a controlãr un, mnpt'oondin1onto
qu0 t...,nhn pi3tticlpado ü\l quo tunha proporcionado assistancia, e
tun\ ~, rotirnd0 d\l todo, ,~gódo quando a oruprosa privada so n\ostra
dispo~ta a ocupar ó sou lugar'' (opud f'1\ÚNDl!Z, 1992: 57).
Olhnndo ü n1 pon:;pcctiva. a ação on,proondodora da Coru::o
t'\J\\\L\' OU n S'1r itnpknnuntadn lontarnonto 110 inicio da dóca.da de
1940 ü con1plul'O\ \"'SO 1O anos depois. Podc1nos considerar que a
('aradcdstka nmis in,port:anto do todo o purlodo foi o rápido cres-
dnwnt-o da produção da indústria 11,anufnturoira, cujo indice subiu
~1n 12bnb. alcançando, 011\ n,-.'.?dia, lllTl crcscin1onto anual que che-
g,)U a rnn J'l?co,'d histótico do 11l)ú. Houve, de fato, por parte dos
go,,"n \OS Radicais, tntm fh·t110 doclsão politica do transformar a
\!Shutura cconô1nk:a do pais o do cstin1ular o dosonvolvirnonto atra-
\lt'S du ll\11 "vigoroso processo do industrialização", se1n deixar de
lado os outros setores da l3conon1io. Dt1 acordo con'\ os dados dos
d nco ptinwiros anos do ação da ColU:O, roglstra-so quo, do in-
\1üsfünonto foito , 34'}6 foran, para <.~nargia o cornbustlvcis, 25,3o/c)
par0 ~ lndúshie., 15 144,i para agricultura, 13, l ~~) para comércio e
t1·l1nspo rlos. '-', por fhn , 12\}{i para n,lncração.1b° Co,n este aporte
·------ -
lh<l. ('f. OHl\'.t.~ M. " ' nlH, 1989: 11 l.
FRENTE POPULAR, RADICALISMO E REVOLUÇÃO PAS
160 SIVA NQl"t,
'-rilli:

de recursos já em 1941, a atividade industrial se configurav


' 1d . a corno
uma dimensão fundarnenta a economia, caminh
. di ,. . d ando
rapidamente para ser o setor mais narruco o capitalismo chil
. . d eno
A ação da CoRFO expressou, assim, um conJunto e investiment ·
na economia que não tinha parâmetros anteriores no setor Privals
e tampouco na esfera pública. A taxa de investimento estat~
cresceu abruptamente, atingindo 50% um ano depois de criada a
CoRFO e alcançando 71,1 %, em 1942. 167 Com tudo isso, o índice
da produção total aumentou em 59%, para um crescimento da
população de 36%.168
A CoRFO desempenhou, assim, um papel crucial como pioneira
das indústrias básicas e como provedora de assistência financeira a
empresas estabelecidas em diversos setores da indústria. A despeito
de não ter sido inspirada num princípio ideológico ou doutrinário
prévio, e ser muito mais o fruto de uma reação às conseqüências
da depressão, a CORFO acabou por tomar o crescimento sustentado
da economia dependente da sua capacidade de orientar recursos
financeiros para o investimento produtivo. Mesmo assim, uma forte
instabilidade na tendência de crescimento no setor manufatureiro
demonstrava que a capacidade estatal para substituir e aumentar a
taxa de investimento era limitada. Essa limitação se explica pelo
papel que desempenharam o cobre e a agricultura nos esforços de
industrialização da CoRFo.

167. Cf. Osoruo, 1992: 77.


168. No final da década de 1940, o Chile havia alcançado um desenvolvimento
industrial importante em comparação aos seus vizinhos latino-americanos,
conforme o quadro abaixo, ainda que na mesma década seu ritmo de
crescimento geral (3,5%) seja levemente inferior ao conjtmto da América
Latina (4,2%)·
América Latina: Evolução dos Coeficientes de Industrialização
Anos Argentina México Brasil Chile Colômbia
1929 22.8 14.2 11 .7 7.9 6.2
1937 25.6 16.7 13.1 11 .3 7.5
1947 31 .1 19.8 17.3 17.3 11 .5
1957 32.4 21 .7 23.1 19.7 16.2
Fonte: Osoruo 1992. 71.
JI( /11 r f< /\ 1 1' 11Nt lt'I IA N() 111 Ul1 ,1 J() 1,,., 1 111 N11 l•f ,1,u1/\lt 1 1X.J llf\lJ II AI 1',MU 161

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, ,, 1n)!)Jtalh l( 1h,1( • 111( ' 11 ' >11 v, 1ltwt :•av,•l l;11 Hh'IJ1d,1u fl11l t1tJ(;i'H~tl d r) O rn<~r

1, 11d 1HI it ,li•t 11n, lnlll\l: / \ plupunlM d,, J:rw ,lc Popul«-n d(.: fln:Jt\clêlr a
1

( 'r ,rp,um:ti• >, r,1111H·t1l11nd1 > n t1lvc·I d,1 ltlb!llnçr,n no bre t'HI ;,llvl<lalk~8
e•< " 1,t,1 nlc ·n11 V• ;lt ndr,n p nt ,, o n wr <:rido Ir ilc.:rr 10 , t riool r()vU O(! CtJ<tr~nl e
,.,,,11 <•hlí• o l>lc•tlvo l·,•utr ,,I. No (1ttl,uit,1, u r<!<_!li.-,ço do Cunureuao a
1•11i1h 111 o puu\~•hu H'>V< t 111111 l<'t tini <;<,nd,!11ou o nov,.:rrtu ;.., tJubrnutcr a
1

ti\ 1,1 pn l\t k n c• c u11 ô 1nkh r\ Ir 1ul nl>illd11d<: dü HCI or e xporli1do r . A


ti ,111 ,duçt\u 1 k ,1111 hnp<.rnl o ,•111,<·d,,I uolJr,~ as c xportuções de cobre,
d,·11tli1ndo uo l\111,1H:ltu1u1Jil o du
o, (Jt'õ 11Tri ülrtl<>rna de qut! o
COHI
llhhltq d,· f\p c.1\1,, cu• 1 h ..) 1u•l ur ,;xl,Jrll() par,1 obter o yroouo das rendas
dP Eutndo nli<> 1mvln nldo o, 1perr1do e; rc prc.~l:lünldV(l urn <dern~nto de
1t>1:th,tl'nch, d,1 .,lnunu m;nnH; nl (>i, d,:1~ dã~ucu do nilnr1nkrn. No final
d,, dl·<·ndt\ de· 191\0 ,. h11do do dúcudr, dü l 950, enquanto o valor
dtnt pt tJdutott d( •r\vr,doi. dn produçü.u Inl11{1rul ulrava em torno dos
8 <)~~1d1't1 l' Xport t,<;Ü<;o ,v,
t l hlln1t o~tio do Et-ttaclo sobrú o cornércio
1

(•x-t,·, kJ1 confvrrn11.v,, ~,~1¾, df, recoita Ílti~l1l do Chlle.1·10


Eu, n·h:1çl\() t,o 111urcado n u-111dlül, t-l hnportOncla cstn1téylca do
(·t, br ,~ c t,• t1cf• 11 Rlflnifk11tlvtll1 ,0111 e {;O rn o advento da ll Guerra
Mundlnl. No ont 11nt9 o n1unu11I <.) d,, dcnu111<.lt, uflo rcprcs~ntou uma
1

<.•l<;voc;ho U\' prc·~·ou, <.·iu vhiud<· e lo t;Onlro lo do.t; cxporlaçõot:J chilenas


hnpoNtu p{•k>U Entud,rn UnldotL /\póu ,_, (3uurr(.,, dua6 dlmenHõas so
i.·nn 1hlnttt11: e.> p1 t·t;<.> do cobl'c . -,ur-r,onlt\, lfH:\S o~ voh n11es de cxpor-
ll,,;r,,, ,·1),·tn tJ1arp1 c.:l'tldw 1t,·1n.u11to, luvi,11du o uovorrn) chileno a ro-
linhlhnonlu (;onlro \a<los p olo yo ·
n>1Hlf rt ,·tt1p1 (·tll h1 H ,u o xlornoti ,
V\_11no 1KH te• llJJ W1h:0110 qt1(, , u1n l n.>ca, oxlyü a aJ oçf,o do un,a
pç,Ut kt\ n,hh• d11r.1 no t1unl\do du "nft,Mlar u t-1u1ot1çu co1nun\Hto'' .
( \>1no v\11 H> t1, nn \ ' lll lluxto drt uum t'd (du, o oovcrno R adical
,,M;u,nha n p oHt ko \u) II co1Hunlul o hHp<.nll,, pdotl E~tados Unidos,
l:\ tVil ni,1 ,do tmHbl•rn d\v<•t>HOB trt\1 t1rlcrn do C<JoporaçF\o n1útua que
•11vl)lv\m11, h,d, mlv,· , t, pmlh d(I 1t)Gl, 1tn\O rcll\\~Üc.1 dirolo entre us
:u , \'ntl t\n, 1<1d,,1t du:1 dc>h: l Hl \tfüti . /\ du:;pollo ch)Hl,, ('sln 1ll.-l rola<
i ,01
,\ t>()nvlvô ,w\o l' Hll o 0 1uho u 1w11\ BCl\l\H O fol oll\_h;tosa . O Chlk
0t n1w11hou rh1 ,un ntt\fW11tru· :n1n .-c111dn pro v(111hH,t,, dtin t 1x.porlaçô t!S

\t,'J ( 'i \bOl(lll, l'N~,I :,,,


l '/() ( 't l f\\ >NI 11 l , l 1 )O~ , ! 1H
FRENTE POPULAR, RADICAUSMO E REVOLUÇÃO PAS
162 SIVA NO CHJ1.t

de cobre, enquanto os Estados Unidos procuraram exercer u


controle total sobre o mercado deste produto .172 rn
Além do problema externo representado pelas exportações de
cobre, os governos da Frente Popular e do Radicalismo enfrenta
a questão da insuficiência da produção agrária. Entre 1932 e
a produção agrícola sofreu uma queda de 16%, exigindo do govern~
19~;
uma dotação adicional com o intuito de aumentar a importação de
alimentos. Na medida que a CORFO assumiu e cumpriu a promessa
de não interferir no status quo do campo, concentrando sua preo-
cupação exclusivamente no setor industrial, a agricultura esteve
integralmente excluída das transformações que se processaram nos
outros setores da economia. A principal conseqüência desta inca-
pacidade do governo em integrar o setor agrário aos planos de
desenvolvimento da CORFO foi que, ao término do período, as rela-
ções sociais e de propriedade no campo eram praticamente as mes-
mas - a concentração da propriedade era uma das mais altas do
mundo e as relações de trabalho combinavam o assalariamento com
formas pré-capitalistas de exploração da mão-de-obra.172
Na tentativa de acomodar sua política econômica às condições
impostas pelos proprietários rurais, a Frente Popular e os governos
Radicais que a sucederam facultaram a este segmento social o
estabelecimento de novas relações com os outros segmentos das
classes dominantes, em especial da indústria e das finanças. A tática
adotad~ pelo ~stado de vincular controle de preços e subsídio à im-
po~açao de ali~entos, com tributação e créditos generosos para a
agncultura, abnu precedentes para que os recursos obtidos através
d_as baixas taxas de impostos e dos vultosos empréstimos se des-
viassem para negócios mais proveitosos no setor industrial. Assim,

171. O ponto alto desse conflito deu-se e 19


firmado pelos Estados Unid m 52, quando, insatisfeito com o preço
chileno baixou uma lei que en~s no Pacto de Washington (1951), o governo
ao Banco Central Com . regava o controle direto da exportação do cobre
. ISSO, entre 1952-1953 Chil pôd . lizar
seu cobre livremente ao pr d ,o e e comercia
' eço o mercad0 10 d ·
imposto pelos Estados Unidos (d F . n nno, bem mais alto que 0
inevitável que, mais tarde na de'· dAUNdDf2, 1992: 60). Desta forma, era
.
controle chileno '
sobre O cobre cca a e 1960, exp1adisse . - do
a questao
- , om a sua cons .. liz -
e statizaçao nos governos de FÍ~ equente naciona açao e
172. Cf. FAúNDEZ, 1992: 61.
1 97
Íl.2.3_} 0) e Allende (1970-1973).
p01.ÍflCA E ECONOMIA NO PERÍODO DA FRENTE POPULAR E DO RADICALISMO 163

muitos recursos oficiais não apenas foram utilizados para subsidiar


0 investimento privado, como também contribuíram para criar novos
laços entre as elites agrárias e os novos grupos industriais. Devido
à proteção governamental, resultante de uma mescla de imposição
e impossibilidade, o latifúndio sobreviveu intacto até a década de
1960, não se constituindo num obstáculo intransponível para a
intervenção transformadora e modemizadora do Estado, via CoRFo.
Por fim, o inevitável problema da inflação. Desde as iniciativas
de política econômica do período posterior à depressão, que visavam
recuperar a capacidade produtiva do país, o Chile não foi capaz de
suplantar a instabilidade macro-econômica. O período comandado
pelos Radicais agravou esta dimensão, tornando a inflação um
processo crônico e permanente. Nos quatorze anos em que se
aplicaram as medidas econômicas patrocinadas inicialmente pela
Frente Popular, os preços continuaram subindo e, com eles, as taxas
de inflação.173 Como vimos, durante este período, o mercado in-
terno e a produção industrial experimentaram uma notável expansão
e diversificação. Ocorreu, contudo, um crescimento parcial, no qual
a industrialização patrocinada pelo Estado e financiada pelo cobre
foi acompanhada por uma política agrária que isolou o campo do
resto da economia e atrofiou sua expansão . Isto inibiu, de certa
forma, o nível de emprego no setor industrial, que, entre a décadas
de 1930 e 1950, subiu apenas três pontos, atingindo 19% da força
de trabalho ativa. Os resultados decepcionantes em matéria de
empregos foram, em grande parte, efeito da distribuição da renda
produzida por uma política econômica que visava acon1odar in-
teresses, expandindo o crédito à medida que avançava o desenvol-
vimento da economia.
Procurou-se, assim, contrabalançar os efeitos da inflação ado-
tando-se uma política de reajustamento anual dos salários, aten-
dendo especialmente os setores de trabalhadores com força sindical
~ - --
1 73. A chamada "fase moderna da inflação chilena", conforme a expressão de
Hirschman, foi tão instável ou desigual, embora crônica e permanente, quanto
0 crescimento econômico do período. Assim, para 1940, o índice foi de

12,6%, tendencialmente crescente até atingir os 29,4%, em 1943, para em


seguida assumir uma tendência de baixa, voltando a crescer apenas em 194 7 ,
~ uando alcançou os 33,5% (cf. AYLWIN e t alii, 1986: 210). Ver também
'tSCHMAN, 1965 : 210-20, especialmente.
1HI Nr I poJJIJI AH, IMI )f( 'AI '·',Mo I IU:VOI IJÇÃ(J li 1
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rl<m fl1h·n•1mcJHdu 1odo1-1 ou 8d ôrcs Jn,pJi,·~cl ,u Oo r
10
pt cw,,,a,h) dt1 ,,xptii wAn ,•r:or1ó111Jcr1 - c? hJl·o ,~otnenfe foi ucorn!r rio
lnlt'IP do nov,,, 110 Vlddn , dn Í{Jl ijlfporludt1, urrm vez que êl õção
dtHI 11 w(·n111111no1t rle rt•n,11 wloi ncnlo, quaHc qu~ t,utomáUcos, curnr,tlu
:, flt1i ( l\o d,, rwr,Jf,,,~tJr n rc~lulô11cJa e o rroteato d?.t s camadas
111 1b :,114}) l1tl ll.
Nt11)H' vhi5o rlc r:011Junf o do p<tríodo aberto em 1938, pode•ae
\)h::,,rv:.it, rin I prln wlro h1nm·, que!, Jc urn pont,o de vista que abarque
,, idbln d,• 1m10 , nc:)don llzt1çêo da8 rck,çõ<.msodaJ~, a Jmposalbllldade
ti,, ,u npllnçfk) cio d uHon,do nt1dor1c1l 1'111 e as dificuldades e reatrlçôes
t\ ornt,1 )1:1,:;~:l\n ,;hidlcfll no ctnnpo podcrn Ber registrados como
dl-f lc'/t.'l li npü1lt:1111 <'~. Dn 1n<.Wt na forrna se observarmos a questão
dn v1ilt wrn blHdudo o da cl<JJ)ondônda cconõrnka em relação ao
üxlc1dor. Pnro ê osq11ord8, <.i nlr•ofilnlo , é prod so reílistror que um
dcn1 rtHp,x;fc>11 rr1t1lt:f dosõ~lroMOS do porfodo foi a ruplura da coallzão
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E ECONOMIA NO PERÍODO DA FRENTE POPULAR E DO RADICALISMO 165

gia diretamente, permitindo as mudanças que expressavam os in-


teresses das organizações empresariais de apoio, acomodando seus
conflitos internos.
Por outro lado, podemos dizer também que a "sorte" ou o "des-
tino" dos atores políticos fundamentais que operaram as mudan-
ças ali empreendidas não correspondeu à envergadura da tarefa
realizada. Instalado meridianamente ao centro do espectro político
e jogando pragmática e flexivelmente para que os dois polos lhe
facultassem a presidência da República e o exercício do poder, os
Radicais puderam vencer três eleições presidenciais consecutivas
graças à sua habilidade em formar coalizões eleitorais e de governo,
tanto à esquerda quanto à direita. Mais que isso, a disposição do
Partido Radical em ceder às pressões da direita seguiu à lógica de
afirmação histórica deste partido: a equivalência em importância
entre os temas da ordem e da mudança. Em função do espectro
político que se afirmava na sociedade chilena desde a década de
1920, os Radicais haviam compreendido que a combinação mais
eficaz para dar andamento à modernização e garantir a estabilidade
estava na sua própria razão de ser como ator político. Esta sagaz
construção política, como vimos, tinha seus limites internos e
externos. Depois de completado o ciclo econômico que havia sido
colocado em curso e alterada a situação mundial com o final da II
Guerra, o Radicalismo, a despeito de não ter reduzida a sua base
eleitoral, não conseguiu mais reproduzir a sua estratégia e , por
conseguinte, sua política de alianças. Os atores políticos passavam
gradativamente a assumirem novos perfis.
No final da década de 1940, o socialismo chileno encontrava-
se profundamente dividido e o Partido Comunista estava proscrito.
Entretanto no início da década seguinte, os sindicatos voltaram a
' ,
se unificar em tomo de uma única organização, a Central Unica dos
Trabalhadores (CUll, sob controle dos Socialistas e dos Comunistas,
e os dois partidos da esquerda passaram a estruturar uma nova
política de alianças, tendo como central o eixo socialista-comunista.
Esta nova política da esquerda chilena assentava-se numa leitura
inteiramente negativa da experiência dos governos de coalizão de
centro-esquerda, que haveria de influenciar decisivamente boa parte
da historiografia sobre o período.
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graças à sua habilidade em formar coalizões eleitorais e de governo,
tanto à esquerda quanto à direita . Mais que isso, a disposição do
Parlido Radical. em ceder às pressões da direita seguiu à lógica de
afirmação histórica deste partido: a equivalência em importância
entre os temas da ordem e da mudança. Em função do espectro
poHtico que se afirmava na sociedade chilena desde a década de
1920, os Radicais haviam compreendido que a combinação mais
eficaz para dar andamento à modernização e garantir a estabilidade
estava na sua própria razão de ser como ator político. Esta sagaz
construção politica, como vimos, tinha seus limites internos e
externos. Depois de completado o ciclo econômico que havia sido
colocado em curso e alterada a situação mundial com o final da II
Guerra, o Radicalismo, a despeito de não ter reduzida a sua base
eleitoral, não conseguiu mais reproduzir a sua estratégia e, por
conseguinte, sua politica de alianças. Os atores políticos passavam
gradativamente a assumirem novos perfis.
No final da década de 1940, o socialismo chileno encontrava-
se profundamente dividido e o Partido Comunista estava proscrito.
Entretanto, no início da década seguinte, os sindicatos v?ltaram a
se unificar em torno de uma única organização, a Central Unica dos
Trabalhadores (CUlj, sob controle dos Socialistas e dos Comunistas,
e os dois partidos da esquerda passaram a estruturar uma nova
politica de alianças, tendo como central o eixo socialista-comu~ista.
Esta nova política da esquerda chilena assentava-se numa leitura
inteiramente negativa da experiência dos governos de coalizão de
centro-esquerda, que haveria de influenciar decisivamente boa parte
da historiografia sobre o período.

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