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Aprendendo um novo idioma: a questão da inteligibilidade

Sempre tive interesse no aprendizado de idiomas e ao longo dos anos vim a adquirir
alguns conhecimentos, em graus amplamente variados, de inglês, espanhol, francês e
alemão.

Um modo efetivo de avaliar o nível de conhecimento de uma língua estrangeira é o


Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (“Commom European Framework
of Reference for Languages”). Este quadro de referência é a base comum do
aprendizado de línguas estrangeiras na Europa. Ele abrange as competências
lingüísticas em diferentes áreas e classifica tais competências em pelo menos seis
níveis:

 Nível A1 | Iniciante: Conhece frases e expressões simples e é capaz de descrever


situações simples ou o lugar em que vive.

 Nível A2 | Comunica-se de maneira básica: Capaz de se fazer entender sobre


assuntos simples e descrever suas necessidades, por exemplo, ao fazer compras.

 Nível B1 | Preparado para o dia a dia: Ao viajar pelo país estrangeiro, é capaz de
lidar com as situações mais comuns que deve encontrar; consegue falar sobre
experiências e eventos, além de manifestar sua opinião claramente.

 Nível B2 | Seguro ao conversar: Capaz de comunicar-se de forma espontânea e


fluente – mesmo em longas conversas com falantes nativos. É capaz de
acompanhar textos e discussões complexas e expressar sua opinião sobre temas
abstratos.

 Nível C1 | Comunica-se fluentemente: Não precisa procurar por palavras e utiliza a


língua estrangeira de forma flexível no trabalho, lazer ou em treinamentos;
compreende sem problemas textos longos e complicados.

 Nível C2 | Lida facilmente com temas difíceis: Compreende tudo o que lê ou


escuta; é capaz de expressar-se de maneira espontânea e fluente e pode
comunicar-se de forma ampla.

Ao estudar um idioma estrangeiro, sempre tive preocupação com algumas questões,


que foram respondidas pela leitura do artigo Second Language Accent And
Pronunciation Teaching A Research Based Approach, dos professores Tracey M.
Derwing e Murray J. Munro. Vale a pena ler o documento, que ajuda a entender
algumas dificuldades encontradas no processo de aprendizado de uma nova língua,
principalmente quando isto ocorre no dia-a-dia da vida em um país estrangeiro.
As questões a que me referi anteriormente são as seguintes:

1) Mesmo que eu aprenda a falar muito bem este idioma, vou sempre falar com
sotaque? A resposta é sim. Conforme dizem os autores, “Although some work
suggests that adult L2 learners may occasionally achieve native-like speech patterns,
this phenomenon appears to be restricted to a very small number of highly motivated

1
individuals (Moyer, 2004) and to those with special aptitude (Ioup, Boustagi, El Tigi, &
Moselle, 1994). Studies of ultimate attainment in general suggest that native-like
pronunciation among those who acquire an L2 after early childhood is actually
exceedingly rare (Flege, Munro, & Mackay, 1995; Scovel, 2000).

2) Devo concentrar meus esforços buscando alcançar um nível razoável de


integibilidade, mesmo falando com sotaque?
A resposta é sim. Embora seja possível falar um idioma estrangeiro de um
modo “which may well exceed the minimum required for basic intelligibility”, o
problema de fazer-se entender não está propriamente no sotaque.“Though it is often
assumed that greater accentedness automatically entails reduced intelligibility and
comprehensibility, the situation is not so straightforward. In fact, one of the most
robust findings in studies examining the relationships among these dimensions is that
they are partially independent. Although listeners who find specific L2 utterances to be
both unintelligible and incomprehensible always perceive such samples as heavily
accented, the reverse is not necessarily true. Thus, listeners often assign good
comprehensibility ratings to speech samples that they have also rated as heavily
accented. Moreover, transcription studies indicate that some heavily accented speech
samples are completely intelligible, while others are not (Derwing & Munro, 1997;
Munro & Derwing, 1995).”

3) Como atingir rapidamente a faixa de inteligibilidade?


O artigo sugere que conhecer quais são os desvios em relação à pronúncia padrão que
mais prejudicam a inteligibilidade seria uma das direções para melhorias no processo
de aprendizado. ”With the heightened interest in pronunciation now evident among
pedagogical professionals, applied linguists need to undertake programmatic research
that will extend knowledge of pronunciation learning. We see several directions in
which this work should proceed. First, more research should be conducted on
intelligibility to establish the most effective ways of assessing it and to identify the
factors that contribute to it.”

Lembro-me de uma situação que talvez esteja relacionada à questão da pronúncia da


L2 em função da língua nativa do falante, exatamente como mencionado no artigo. É
notório que os falantes nativos do português brasileiro têm muita dificuldade de
articular os sons associados ao “th”, /θ/ e /δ/, que não existem em nosso idioma.

Vivi alguns anos nos Estados Unidos, integrando um time de funcionários brasileiros
alocado num dos laboratórios de desenvolvimento da IBM. Nesta mesma época, havia
um grupo de funcionários da IBM Espanha trabalhando lá. Não tenho dúvidas de que o
sotaque dos espanhóis era bem mais acentuado que o nosso. Porém, em várias
ocasiões, pareceu-me que os americanos entendiam com mais facilidade o que eles
falavam.

Após ler o artigo, ocorreu-me a idéia de que talvez um das causas disto seja o fato de
que existe no espanhol da Espanha um som muito semelhante ao /θ/, que é o da letra
“C”. Ou seja, embora com sotaque mais carregado, provavelmente os colegas
espanhóis pronunciavam de maneira mais inteligível, para os americanos, sons que são
muito comuns no idioma inglês.

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