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A Doutrina Secreta da Kabbalah – Parte 13

A Ciência Sagrada Kabbalística da Linguagem

O Tetragrammaton e a Ciência Sagrada Hebraica

O Tetragrammaton e a Aliança do Número

Mediação e o Nome
O texto anterior apresentou uma nova tese a respeito do foco e significado daquele
corpo de conhecimento antigo que pode ser chamado de ciência sagrada.
Mostramos que o principal foco dessa ciência são as leis da geometria, do som e do
número: a primeira revelando as propriedades de limites finitos; a segunda, de
extensão infinita; e a terceira, de mediação; e mostrou-se que seus significados
repousam nas relações desses três aspectos de enfoque, que o Cosmos e tudo
dentro dele envolvem esse equilíbrio do finito com o infinito como testemunha de
seu caráter sagrado.
Mostrou-se também que, ao menos desde o tempo do Sefer Yetzirah, o que
distingue o ramo kabbalístico da ciência sagrada daquele pitagórico é sua
presunção de três categorias de forma, som e número sob urna ciência da
linguagem mais inclusiva.
O estudo das correspondências ocultas da linguagem deixou poucos vestígios do
rigor intelectual que deve ter sido imposto em suas pesquisas no passado.
Diferentemente das leis relativas ao som, ao comprimento das cordas musicais e
aos números que foram demonstradas por Pitágoras, aquelas relativas aos sons
lingüísticos só podem ser provadas por ocorrência sistemática.
São, de fato, ocultas; só se percebem em uma rede de circunstâncias que revelam
um nível de funcionamento cósmico além de nosso poder de compreensão.
É uma rede de tamanha proporção que a presente discussão direcionará às
correspondências ocultas da linguagem, revelando uma teia de associações ocultas
tão difusas que mistificam a inteligência comum e cumprem o objetivo da prática
espiritual, qual seja, a de abrir o espírito para dimensões mais elevadas de
significado e explicação.

A análise que se segue é uma conseqüência natural do estudo precedente da


ciência sagrada à medida que continua seu estudo da abordagem kabbalística da
linguagem e relaciona-a às antigas práticas matemáticas e astronômicas que lhe
deram origem.
Os conceitos do Sefer Yetzirah sobre o Teli, Galgal e Lev relacionam-se com as
grandes órbitas do Sol e da Lua e processam sua mediação; porém, aqui, eles
também estarão relacionados com um conceito pitagórico de mediação,
especificamente aquele que envolve o meio geométrico da proporção dupla, para
revelar uma nova compreensão para a Aliança do Sinai.
Nessa aliança, a doutrina secreta do filho está relacionada com aquele nível de
evolução cultural manifestado pela habilidade de contar.
Mostraremos que a tradição hebraica está enraizada em um estágio primordial da
evolução humana no qual parece que a gnose da ciência sagrada já tinha sido
entendida.
Essa análise também utilizará a técnica da Gematria, que, como vimos, relaciona as
letras hebraicas aos seus valores intrínsecos.
Nesse sistema, as primeiras nove letras significam os primeiros nove números; as
nove letras seguintes, as nove dezenas, e as últimas quatro letras adicionadas às
formas finais de outras cinco letras representam as centenas; finalmente, um
grande Alef representa mil.
A técnica da Gematria deriva da circunstância de que letras significando números
também compreendem palavras, e estas, quando compartilham do mesmo número
gemátrico, podem indicar afinidades especiais entre elas, fato que pode ser
aplicado à exegese textual.
O uso dessa técnica mostrará uma nova relação entre o número gemátrico da
palavra Ben (filho) e o mais importante dos nomes divinos, o Tetragrammaton
YHVH.
Entretanto, essa não é a técnica comum de Gematria, ilustrada com um exemplo
em texto anterior, que envolve a associação de palavras com igual valor numérico
de suas letras.
Em vez disso, essa seção exporá correspondências desconcertantes entre números
matematicamente significativos, em um conjunto de padrão multiplicativo, com
palavras sendo formadas por essas letras-números e dotadas de geometria
astronômica.
Os textos, como um todo, oferecerá um novo entendimento para o
Tetragrammaton, para a doutrina do filho e para a linguagem em geral, trazendo
luz ao grande mistério da apropriação lingüística.
A importância do presente texto é trazer evidências que comprovam a validade da
ciência sagrada hebraica, particularmente em seu aspecto lingüístico.
Afinal, uma coisa é mostrar a relação numérica do comprimento de uma corda
musical e seu tom harmônico como demonstrou Pitágoras, e outra, exibir uma
relação necessariamente equilibrada entre som, forma e número das letras, como
afirma o Sefer Yetzirah.
Como a linguagem não parece estar sujeita ao mesmo determinismo que aquele
estabelecido para as harmônicas musicais, provar uma correlação verdadeira entre
os processos da língua hebraica e a aritmética elementar deve levar a um reexame
das presunções existentes a respeito da linguagem e a uma elevação significativa
da percepção de que há mais entre o céu e a Terra do que suspeitamos.
É precisamente tal rede oculta de associações entre palavras, números e formas
que esta seção demonstrará e, fazendo isso, explicará o fato de que a conjunção da
linguagem com a geometria não está apenas no cerne da Kabbalah, mas no centro
de todas as percepções.
Como as primeiras duas seções estarão envolvidas com as correspondências
numéricas do Tetragrammaton, assim as terceira e quarta seções lançarão luzes
sobre suas correspondências sonoras, revelando uma nova tentativa de pronúncia
desse sacratíssimo nome.
Deixaremos que as últimas seções introduzam-se naturalmente e seguiremos com
essa primeira exploração da aliança dos números.
Pitágoras sustentava que a derradeira realidade é o número.
E é também por meio do número que a última gnose, ou Da'at da tradição esotérica
hebraica, é singularmente transmitida, incorporando as principais funções da
ciência sagrada ancestral previamente investigada e requerendo um conhecimento
dessas funções para sua percepção.

Na discussão seguinte, veremos como todo o material precedente sobre a ciência


sagrada é resumido em uma única progressão geométrica de números que
carregam a chave secreta para uma compreensão mais profunda do mito nacional
do Êxodo e de suas maiores implicações cosmológicas.
É associando a ênfase pitagórica em mediação matemática com a ênfase
kabbalística em mediação astronômica que podemos começar a apreciar o alto
conhecimento contido em uma progressão geométrica particular de três números,
cada um deles com implicações esotéricas dentro do simbolismo particular da
tradição hebraica.
Essa proporção é 13:26::26:52.
O que é, imediatamente, mais sugestivo a respeito dessa proporção geométrica é
seu termo mediador, pois 26 é a Gematria do Tetragrammaton (Iud 10, Hei 5,
Vav 6, Hei 5).
Assim, a primeira implicação dessa proporção é que o poder divino transmitido por
nome funciona de maneira análoga àquela do meio geométrico, característica da
proporção geométrica.
Kepler dizia que "Deus sempre geometriza", e Seu método de geometrizar parece
ser o da mediação divina, em particular entre o que quer que representem os
números 13 e 52.
Esses números desenvolvem um conjunto especial de conotações no contexto do
Sefer Yetzirah, com sua ênfase nos tríplices fatores do Teli, Galgal e Lev, aqueles
pontos de espaço-tempo em que os grandes círculos do Sol e da Lua se unem com
o coração cósmico para mediar o processo de transcendência espiritual de uma
maneira coerente com a essência da mitologia do homem pré-histórico em todo o
mundo.
Visto nesse contexto, é possível associar o número 13 com a Lua e o 52 com o Sol
quando as revoluções desses corpos celestes são observadas em conjunção.
Mas essas associações, embora óbvias, não são tão simples quanto pode parecer a
princípio.
Ao contrário, cada uma delas transmite um completo conjunto de associações
cosmológico-culturais.
O número 13 pode ser associado com a Lua porque é possível dividir o ano solar
exatamente em 13 meses de 28 dias cada um, com um dia adicional.
Esses 28 dias representam uma aproximação da média aritmética entre o ciclo
sideral lunar de 27 dias e 1/3 e o ciclo sinódico lunar de 29 dias e 1/2, o primeiro
baseado no intervalo da conjunção lunar com uma estrela fixa, e o outro, na
conjunção com o Sol.
Os 28 dias aproximados dessa média entre os dois métodos alternativos de
computar as revoluções da Lua têm outra associação que pode ser ainda mais
significativa, afastando até mesmo qualquer possibilidade de uso pré-histórico do
mês de 30 dias, qual seja, sua similaridade com o ciclo menstrual das mulheres.
Os antropólogos e mitólogos que seguiram a tese de sir James Frazer, postulando
uma cultura matriarcal anterior à sociedade patriarcal, também sugeriram o uso
desse calendário lunar de 13 meses para confirmar a identificação da Lua com o
feminino.
Assim, a associação da Lua com o número 13 também transmite com ele as
associações relacionadas com a religião da Grande Mãe, uma religião de
ressurreição aliada aos ciclos de fertilidade, refletidos não apenas no renascimento
do ano na primavera, mas também no renascimento mensal da Lua depois de seus
três dias de ocultação.
Tal renascimento é celebrado no festival da Lua nova, cuja observância foi
perpetuada nas festas hebraicas de Rosh Chodesh.
Ainda na associação tradicional hebraica do 13 com os atributos da misericórdia
divina, não podemos ver também algum reconhecimento do caráter maternal da
misericórdia, esta como uma expressão do aspecto feminino da divindade?

Voltando agora ao número 52, este pareceria estar associado com o Sol, uma vez
que o ano solar pode ser dividido exatamente em 52 semanas mais o mesmo dia
adicional.
Antes de considerar a natureza da semana, precisamos analisar o significado
kabbalístico desse número.
O equivalente gemátrico desse número é a palavra Ben (Beit = 2, Nun = 50), que
significa filho.
Vimos que o primeiro termo da proporção geométrica pode ser considerado como
símbolo de uma fonte maternal e, agora, o último termo produz o filho.
Mas a progressão numérica com a qual começamos também sugere alguma
mediação paternal nessa derivação do filho vindo da mãe.
Se o princípio paternal puder ser associado com o Sol e o calendário solar e o
princípio maternal com a Lua e o calendário lunar, podemos concluir que a
mediação paternal entre mãe e filho é a transição patriarcal para o calendário solar.
Dadas essas associações, a identificação semelhante de son (filho em inglês) com
sun (Sol em inglês) pode não ser acidental e parece transmitir um significado
esotérico fundamental.
Dizer que o homem é um “filho do Sol" (son of sun) é reconhecer a importância da
mediação transcendental em todo o progresso do homem, desde a concepção até
sua iluminação espiritual.
Considerando o número 26 como a média geométrica entre 13 e 52, poderemos
notar uma associação kabbalística adicional do Tetragrammaton em termos do
Diagrama da Árvore da Vida.
Mais significativa é a designação desse nome divino à sefirah Tiferet, associada, por
sua vez, ao coração cósmico do Adam Kadmon.
Assim, a função mediadora atribuída ao coração no Sefer Yetzirah está de acordo
com a atividade do número gemátrico do Tetragrammaton na progressão
geométrica de 13 a 52.
Outra maneira numérica de considerar o termo final do filho pode ser observada
pela equação 13 x 4 = 52.
Afinal, o Tetragrammaton não está associado apenas com o número 26, mas, como
indica seu nome grego, também com a quantidade de letras que o compõem,
quatro.
A geração de uma criança está também metaforicamente relacionada com o
processo aritmético da multiplicação e, assim, a implicação simbólica da equação
13 x 4 = 52 parece indicar que o filho é um produto do ato de multiplicação do pai
celeste com a mãe terrena.
Se considerarmos que essa progressão geométrica tem origem no número 26,
então todo o seu significado torna-se coerente com a idéia de urna mediação
divina.
Isso encontra suporte na pesquisa mitológica de Giorgio de Santillana e Hertha von
Dechend em Hamlet's Mill, que defendem a tese de que o mito essencial no mundo
do homem antigo envolve um ciclo de 26 mil anos de precessão dos equinócios:
"O tempo que esse eixo prolongado precisa para circunscrever a elíptica do Pólo
Norte é aproximadamente 26 mil anos".
O número 26 aparece em maior grau de ampliação temporal com relação à recente
teoria de uma "estrela morta", chamada Nêmesis (proposta por Richard A. Muller
com Marc Davis e Piet Hut), cuja órbita de 26 milhões de anos poderia produzir
uma chuva de cometas conforme se aproximasse periodicamente do Sistema Solar,
o que inclusive justificaria as extinções em massa de espécies que os paleontólogos
J. John Sepkoski e David M. Raup descobriram de fósseis datados de períodos de
26 milhões de anos.
A associação do número gemátrico do Tetragrammaton com estes grandes ciclos de
tempo cósmico 26 mil e 26 milhões de anos — revela adicionalmente a enorme
coerência desse nome divino e seu número, um com o outro e com a precisa
estrutura do Cosmos.
Mas há outra maneira de entender essa progressão que pode dar uma dimensão e
uma explicação mitológica diferente.

Já vimos associações verbais gemátricas significativas dos números 26 e 52 que


sugerem que, em sua formulação original, o primeiro desses três números
proporcionais também deveria ter um equivalente gemátrico apropriado.
Para efeito de completitude, temos de aceitar a premissa e seguir sua sugestiva
linha de raciocínio para onde ela possa nos levar.
Então, o número 13 está relacionado com suas letras, no caso Guimel (=3) mais
Iud (=10).
De fato, essas duas letras formam a palavra hebraica que significa "vale", cuja
associação com o conceito de vaso ou recipiente e, assim, com uma característica
feminina, conduz a um entendimento relacionado à raiz “well” do termo inglês
valley: "wolw-a do latim vulva, volva, invólucro, útero".
Onde as letras hebraicas Guimel e Iud formam a palavra “Gai”, que significa "vale",
uma forma reversa com a adição da letra Ayin dá a palavra “yagaiah” que significa
"trabalho" ou "dor".
Sugere-se assim que essa primeira forma encontrada na combinação de Guimel e
Iud refere-se à Terra com a conotação feminina do útero em sua fase receptiva do
fluxo seminal, enquanto na última refere-se às dores do trabalho de parto quando
do processo de dar à luz a criança.

Um caso similar de significado gemátrico reverso é indicado no Sefer Yetzirah, 2:4:


Vinte e duas letras são o fundamento: Ele as colocou cm uma roda, como um tipo
de parede, com 231 portões. E a roda girava para a frente e para trás.
E o sinal da coisa é:
—Não há bondade acima do prazer (‘NG) e
—Não há maldade abaixo da dor (NG’).
Desprezando os Ayins e focando a combinação das letras Guimel-Nun e
Nun-Guimel, David R. Blumenthal resolveu o enigma da "roda" formando 231
portões com ilustrações gráficas computadorizadas das letras.
Com isso, concluímos que o Sefer Yetzirah oferece significado cósmico às
combinações diretas e reversas de letras, dando-lhes sentido apropriado.
Dessa forma, podemos entender a mesma união transmitida pelas letras
Guimel-Iud e Iud-Gimel como um ciclo de fertilidade ligado ao processo
fundamental de criação cósmica.
Vimos que a Gematria básica do número 13, Guimel-Iud, estava relacionada por
seu significado literal "vale", tanto ao acidente geológico como também, em razão
de suas características, à fertilidade feminina.
Esse significado também parece retroceder a uma tradição cultural da era
megalítica.
Já foi reconhecido que alguns montículos megalíticos, as construções humanas mais
antigas ainda existentes, estavam orientados para receber um feixe de luz do Sol
em dias de importância astronômica, e mais especificamente no solstício de
inverno.
Martin Brennan mostrou ser esse o caso do montículo de New Grange, na Irlanda.'"
Porém, o que eu acredito e que não foi reconhecido é que há um caráter e uma
função sexual nesses montículos, representando uma estrutura vaginal da Terra
pronta para a recepção do feixe de luz da divindade masculina do Sol.
Como mostrou o estudo de religiões misteriosas, o propósito de tal mysterium
coniunctionis não se referia apenas à ressurreição da Terra na primavera, mas
também ao renascimento espiritual dos iniciados que participavam das celebrações
ritualísticas dos solstícios, que seriam assim renascidos como filhos das divindades
da Terra e do Sol.
Mas há uma característica ainda mais surpreendente relacionada ao conceito
hebraico de uma "Mãe Terra" derivada da Gematria de Guimel-Iud com o número
13.
É a figura mística de Gaia, a deusa da Terra, um nome intimamente relacionado ao
Guimel-Iud hebraico e podemos dizer que compartilha do número 13.
Gaia é soletrada Gama-Alfa-lota-Alfa, isto é, Gama-lota se seguirmos a prática
hebraica de eliminação das vogais, lembrando que lota é uma consoante que
representa o som Y.
Que essa suposição pode ser aceitável tem apoio na seguinte informação
etimológica fornecida por um dicionário a respeito de lota: "lota grego, de origem
semítica, corresponde ao Iud hebraico".
Igualmente pertinente é o fato de que, apesar de lota ser a nona letra do alfabeto
grego, a Gematria que lhe é dada nos textos clássicos gregos é dez, o mesmo
número de Iud; e o Gama é a terceira letra do alfabeto grego, como Guimel é a
terceira do hebraico.
Como a Gematria grega foi primariamente uma prática antiga cristã, sua origem
hebraica parece clara, o que pode ser atestado também pela dificuldade de
relacionar as 27 letras (formas) hebraicas às 24 letras do alfabeto grego, o que os
levou a eliminar os números 6, 90 e 900.
O que apresentamos sugere que a deusa grega Gaia pode ter seu nome derivado
da combinação hebraica de Guimel-Iud com o número 13, associado com a
fertilidade feminina em vista dos 13 ciclos menstruais femininos do ano solar.
Apesar desses ciclos femininos serem anteriormente relacionados aos meses
lunares, uma vez que analisamos o número 13 abstrato sob o prisma da
equivalência verbal gemátrica correspondente, encontramos uma associação da
fertilidade feminina com o planeta Terra.
Mas se Gaia pode ser associada com as letras hebraicas Guimel-Iud, então o mito
grego de Gaia deve preservar um entendimento semítico da raiz Guimel-Iud, o que
explica por que ela deveria ter a conotação feminina-Terra de "vale", e ainda que as
letras gregas Gama-Iota também transmitem uma correspondência numérica (13)
associada com o ciclo feminino.
No mito de Gaia, essa personificação da Terra é a filha do Caos, e tanto a mãe
como a esposa de Urano, deus do céu, de quem ela tem muitos filhos, inclusive os
Titãs e as Fúrias.
A Terra como produto de um caos primitivo aparece similarmente no mito da
criação do Gênesis; e, na criação posterior de Adão, podemos ver outros aspectos
análogos ao mito grego.
Afinal, na história do Éden, Adão é mostrado como um produto da união de
elementos da Terra e do ar ou céu, barro animado pelo alento da vida.
É interessante que a visão bíblica, de que a vida originou-se do barro da Terra,
tenha encontrado apoio científico a partir do momento em que o barro detém a
habilidade de preservar e intensificar a energia precisamente porque ele
rotineiramente erra em seu processo de cristalização.
Não podemos nos esquecer de que o desenvolvimento da vida, especialmente como
detalhado na história do Jardim do Éden, está significativamente associado com a
capacidade de cometer erros.
Então, são as falhas desse modelo que permitem que o espírito forme aquelas
personalidades individuais cuja preservação purificada é o objetivo do processo
cósmico e a tarefa apresentada a essas crianças da Terra e do céu, que se unem e
podem trazer ao processo de seu aperfeiçoamento as melhores potencialidades da
matéria e do espírito.
Interpretado dessa forma, os mitos do Gênesis e de Gaia podem oferecer um novo
entendimento da progressão 13:26:26:52.
Como primogênito do Caos, é de Gaia (Guimel-Iud/Gama-Iota = 13) que a cadeia
de criação tem origem numericamente especificável.
Como a Terra, Ge, é identificada com Gaia, é apropriado que a progressão
numérica gerada pelo 13 seja de proporção geométrica, um termo grego também
originado da Terra (Ge).
Então, se a força divina original da criação deve ser associada com a deusa da
Terra Gaia, deveríamos começar com o número 13 e progredir com a razão
geométrica que define a lógica da ordem espacial terrena.
O próximo número, 26, representaria então seu esposo, o deus transcendental do
céu Urano, e o número final 52, como vimos na versão hebraica, seus filhos
(Bem = 52).
Mas se Gaia pode ser aceita como a versão grega análoga ao conceito hebraico da
Mãe Terra transmitido por meio das letras Guimel-Iud, então nos deparamos com
uma progressão significativa de letras-números totalmente hebraica em sua fonte:
Guimel-Iud (13) está para Iud-Hei-Vav-Hei (26), assim como este está para Beit-
Nun (52).
Nessa progressão, não apenas os números estão em proporção geométrica, mas
também todas as suas equivalências verbais gemátricas são significativas e
apropriadas.
Gimel-Iud, em seu significado de "vale", um receptáculo terreno feminino por
natureza, representa a Terra como progenitora do homem; o Tetragrammaton é a
fonte divina transcendente que fertiliza a Terra com a alma vivente do homem; e
Ben é o filho dessa união de céu e Terra.
A única questão que resta é saber se de fato é o 13 ou o 26 a fonte original dessa
progressão de letras-números.
Apesar de, durante vastos períodos, considerar-se que a origem era o número 26,
há ainda um grande evento cósmico que pode ser associado com o 13.

Há notícias recentes de que o "Universo veio à existência 13 bilhões de anos atrás".


Assim, podemos entender essa progressão como começando com os 13 bilhões de
anos, que marca o início do Universo, número este que tem uma conotação
feminina e pode assim ser associado com uma divina criadora feminina, ou com sua
imanência na criação.
Ele deve ter prosseguido por períodos menores de 26 milhões e 26 mil anos
associados com os corpos celestes de um cometa e do Sol, que podem ser
associados com a transcendência divina masculina e, finalmente, às meras 52
semanas do ano solar, que, corno veremos, definem o produto final da evolução
cósmica, o contador astronômico dessa rotação celeste, o filho.
Se a interpretação matriarcal dessa progressão for aceita como original, então o
fato de a tradição esotérica hebraica ter retido as claras associações gemátricas
para o pai e o filho enquanto perdia as associações com o número 13 indica uma
adoção patriarcal do mito matriarcal acompanhada por uma eliminação quase total
de seus elementos femininos.
Na seção seguinte, veremos essa transferência patriarcal dos elementos
feminino-lunares com o propósito do calendário solar.
E a omissão desse componente feminino é ainda mais evidente na versão cristã de
sua trindade.
Mas como também há razões irrefutáveis para considerar o número 26 do
Tetragrammaton como a origem dessa proporção geométrica, podemos apresentar
uma proposta definitiva para a inclusão dos dois números conceituais em um
código matemático-lingüístico.
Esse código define o processo cósmico, já que se origina com elementos femininos
e masculinos segundo uma razão conveniente que se expandem em uma proporção
de três termos em cuja progressão o objetivo de emanação cósmica está
codificado.
Essa mensagem parece indicar que deve haver uma progressão do natural para o
sobrenatural se o homem transformar-se em um "filho do mundo vindouro".
Antes de continuar com essa análise, devemos considerar a natureza peculiar da
equação gemátrica do número 52 em relação à palavra “ben”.
Em uma próxima seção destes textos, mostraremos que uma parte tradicional do
misticismo kabbalístico envolve as quatro expansões do Tetragrammaton, isto é, as
maneiras como podem ser soletradas as letras que o compõem.
Foram dados nomes específicos a cada uma dessas expansões que apresentam os
seguintes totais gemátricos:
Ab = 72 (Ayin = 70 e Hei = 2);
Sag = 63 (Samech = 60 e Guimel 3);
Mah = 45 (Mem = 40 e Hei = 5); e
Ben = 52 (Beit = 2 e Nun = 50).
Como podemos ver, a expansão ben é a única em que a letra-número de unidade
vem antes daquela que representa a dezena.
Afinal, a forma como se apresenta esse par de letras deveria justificar um nome
como “neb”.
Concluímos, então, que a escolha "incoerente" da palavra ben para identificar essa
expansão específica indica que seu significado como filho deve ter determinado
essa escolha.
Entretanto, há um problema adicional para aplicar essa combinação de letras ao
número 52, já que a palavra ben requer urna letra Nun final cujo valor gemátrico é
700 e não 50, como, de fato, é o valor do Nun utilizado em outra posição.
Outra vez está claro que a tradição insiste na equação relacionando o número 52 e
a palavra filho, apesar de todos os problemas de incoerência encontrados.
A melhor explicação nessa circunstância é que a equação predata a prática de
expansão do Tetragrammaton e também sua distinção entre as letras
intermediárias e finais, a contagem não ultrapassando o número 400 da última
letra do alfabeto, Tav.
Isso não é apenas a explicação mais persuasiva, mas também oferece evidências
da existência dessa proporção particular de números, implícita ou explicitamente,
na concepção da consciência que pode ser definida como inteiramente hebraica.
Uma proporção que dispõe de uma chave para a compreensão do Gênesis e do
propósito da existência.
A cadeia de evidências que leva à descoberta dessa proporção começa com a
contemplação do que parece ser a verdade mais escondida do Sefer Yetzirah: o
significado do Teli em sua associação com Galgal e Lev.
O que ele faz é fixar as órbitas de espaço-tempo dos corpos celestes (Galgal)
precisamente naqueles nodos lunares (Teli) nos quais a função mediadora do
coração cósmico (Lev) está presente.
De acordo com esse conceito, é aquela inter-relação do que, da perspectiva
terrestre, parecem ser os ciclos da Lua e do Sol.
Isso pode ter levado à percepção de que os ciclos solares e lunares podem ser
associados com números que mantêm uma relação única com os números
gemátricos do nome divino mais sagrado entre os hebreus, o Tetragrammaton.
Que os números 13 e 52, a metade e o dobro do número 26 do Tetragrammaton,
podem ser relacionados com as divisões do ano solar, o primeiro com os meses
lunares e o último com as semanas solares.
Essa progressão geométrica não apenas apresenta uma associação gemátrica do
seu termo mediador; o termo final associado com a palavra filho claramente aponta
para a doutrina secreta do filho reconhecida pela Kabbalah.
Entretanto, o fato de o primeiro termo ser um equivalente Gemátrico também
oferece uma prova definitiva que valida a prática da Gematria.
O que ela parece mostrar é que números e palavras têm conexões sutis que se
tornam significativas quando tratadas pelas devidas leis da manifestação
geométrica, como aqui, em que trabalhamos as proporções numéricas.
Na proporção 13:26::26:52, a geometria é um fator determinante nas relações
específicas desses três números em dois aspectos.
Ela os relaciona em proporção dupla, cuja definição deriva do processo geométrico
de quadrados em expansão pela diagonal; um processo de crescimento que
também se encontra na multiplicação de células vivas relacionadas à gênese da
vida com a qual essa proporção particular parece estar envolvida.
Além disso, a relação dos números 13 e 52 com as revoluções da Lua em relação
ao Sol também define um fenômeno-chave de geometria celeste, de particular
importância na ordenação dos assuntos humanos na Terra, o que justificou a
ciência astronômica da observação.
Então, é no aspecto geométrico desses três termos gemátricos de letras-números
que está revelada a mais profunda verdade cosmológica, o princípio hermético
"como acima, também abaixo" também aceito pela Kabbalah.
As mesmas leis geométricas reveladas em relação ao Sol e à Lua também se
aplicam à germinação e ao progresso da vida, de tal forma que os movimentos
desses astros podem ser lidos como "sinais" (Gn 1:14) para conduzir o curso da
vida humana ao seu maior e completo potencial.
Independentemente de a proporção 13:26::26:52 ter sido alguma vez considerada
no passado, ela serve como prova da verdade da ciência sagrada, particularmente
da tripla associação de número, som e forma com a qual o Sefer Yetzirah começa e
que também deu origem à ciência pitagórica.
Além disso, fica claro que a prática hebraica da Gematria está, como sugere o
nome, enraizada em uma forma sutil de mediação geométrica.
Além de essa proporção incorporar urna forma singularmente hebraica de gnose
universal, seu mistério mais profundo bem pode envolver o 7, necessariamente
associado com o número de semanas no ano solar, 52.
O significado desse número está no cerne da revelação hebraica e relacionado à
crença de que o homem pode tornar-se o filho espiritual do Cosmos e o real
significado de seu propósito.
No que apresentaremos a seguir, veremos mais claramente como essa mensagem
dual está contida na Gematria de Ben = 52, em uma mensagem exclusivamente
hebraica tanto pelo método de formulação como pela associação com a observação
ritualística essencial da Aliança do Sinai.

Contagem e Aliança
Vimos que todos os números de nossa proporção-chave geométrica têm relações
astronômicas.
Treze é um meio de definir a relação dos meses lunares com o ano solar,
enfatizando os ciclos lunares e menstruais; e 26 multiplicado pelo grande Alef
(1.000) equivale aos 12 "meses" do Grande Ano Solar por meio da precessão dos
equinócios.
Mas o significado astronômico do número 52, identificado com o conceito do filho,
depende da divisão do ano solar em períodos de sete dias, e aqui nos deparamos
com a importante questão da origem da semana de sete dias, desconhecida para os
egípcios, que, como os chineses, usavam períodos sublunares de dez dias.
As bases astronômicas de todos os outros períodos temporais são imediatamente
compreensíveis.
O dia é definido pelo que parece ser a revolução diária do Sol em torno da Terra; o
mês, pelo período sideral ou sinódico da Lua, e o ano, pelo circuito do Sol através
das constelações.
Mas onde poderíamos encontrar uma definição astronômica para a semana de sete
dias?
A resposta parece estar nas aproximadamente quatro fases da Lua, cada uma de
sete dias.
Se aceitarmos essa origem do tempo da semana, então a observação do período
entre a Lua crescente e a Lua cheia para a contagem das semanas deve ser
considerada como o evento mais importante na evolução da cultura humana.
Afinal, ela marca o processo de abstração intelectual por meio da qual o homem
progride de sua imersão fetal para uma independência de consciência que, mesmo
o exilando do Jardim pré-natal, traz a promessa de verdadeiro renascimento
espiritual na imagem divina.
É desse renascimento espiritual que fala toda a tradição mosaica e kabbalística, um
renascimento que sempre foi entendido como relativo ao filho andrógino.

Como já vimos, a criança cósmica conhecida como Ze'ir Anpin foi expressamente
definida, tanto no Idra Rabba zohárico quanto no Etz Chayim luriânico, como
andrógena.
A característica de ter nascido duas vezes foi afirmada no último, sendo
singularmente explicada como seu retomo ao útero de Imma depois de finda a
amamentação para receber as três sefirot superiores que constituirão seu cérebro
ou uma consciência mais elevada.
Na aliança inicial com os ancestrais do povo hebreu, tanto Abraão quanto Sara
tiveram seu nome modificado, o que significa que a aliança com Deus vincula tal
renascimento em espírito.
Se a mãe divina Imma pode ser associada com a imanência divina, e o pai Abba à
transcendência divina, então o filho andrógino Ze'ir Anpin pode ser ligado à síntese
dessa polaridade divina: uma transcendência que retém suas raízes no imanente,
uma abstração sem perda de consciência, como pode ser entendido Tiferet na união
existencial equilibrada e perfeita da força de Chokhmah-Abba com a força formativa
de Binah-Imma.
Vejamos agora como a Aliança do Sinai pode ser vista como marca do êxodo da
escravidão humana e de sua entrada no caminho espiritual; uma transição de uma
orientação lunar para outra solar; sendo a "nação sagrada" o agente da
emancipação da consciência humana dependente de seu poder de abstração.
Esse poder de abstração está sempre associado à inteligência solar, identificada
com o lado esquerdo do cérebro, e marca sua diferença de tal incorporação na
unidade e distingue a inteligência lunar identificada com o hemisfério direito.
O atributo desse poder de abstração é a habilidade de padronizar os períodos das
fases lunares em exatos sete dias e depois afasta-lo de qualquer observação
astronômica, de tal maneira que sua determinação depende exclusivamente da
capacidade humana de contar.
É essa capacidade para medida temporal e espacial o pré-requisito e teste da
capacidade israelita de formar uma aliança divina, e o treinamento dessa
capacidade é identificado com uma substância de nome manah.

Foi mandado a cada israelita que colhesse exatamente um ômer de manah por
cinco dias, dois ômers no sexto dia em preparação ao Shabat e nada no sétimo;
nas palavras de Deus, "o povo deverá sair e colher uma certa quantidade todo dia,
para que eu ponha à prova se anda em minha lei ou não" (Ex 16:4).
O fato da habilidade de medir a substância e o tempo envolver a palavra manah
parece sugerir alguma associação etimológica com a palavra sânscrita manas, que
tem, entre outros, o significado de "homem" e "medida"; em vez do “manu”
egípcio, que significa "o que é ele?", como se pensava.
Assim, como no manas sânscrito, o manah hebreu se refere à natureza humana
mais elevada da capacidade de medir e contar.
Adicionalmente, essa capacidade é imediatamente relacionada à discriminação da
semana sabática.
O sinal da habilidade de andar na lei divina traduz-se na capacidade de contar
semanas, com especial atenção ao "descanso do santo shabat" (Ex 16:23).
É contando semanas e descansando no Shabat que os israelitas progrediram até
seu grande momento de aliança no Monte Sinai.
Ali, nos dez mandamentos da aliança, eles foram mais uma vez instruídos na
observação ritualística simples e mais essencial do Shabat no quarto mandamento.
Mais tarde, a observância do Shabat tornou-se o sinal explícito dessa aliança:
" (...) guardareis os meus shabat; pois é sinal de mim e vós nas vossas gerações;
(...) pelo que os filhos de Israel guardarão o shabat (...) para uma aliança
perpétua" (Ex 31:13, 16).
Também é significativo nesse contexto a instituição do festival de Shavuot,
associado ao recebimento da Torah no monte Sinai, que deve ser preparado pela
contagem de sete semanas, em que o sete relembra a prática original dos israelitas
na colheita do manah enquanto em rota para a montanha sagrada:
"Sete semanas contarás (...) e celebrarás a Festa das Semanas ao Senhor teu
Deus" (Dt.16:9, 10).
Shavuot significa “semanas”, e o Shabat diz respeito à contagem e observância do
sétimo dia da aliança. que são os primeiros frutos da redenção de Israel da
escravidão em Mitzraim, o termo usado para Egito que também significa "estreito".
Ele também marca o desenvolvimento espiritual conseqüente da mudança da
atenção lunar para a solar, da observação da Lua crescente para o circuito anual do
Sol, muito mais amplo.
Com certeza, isso não significa que a cultura do Templo do Egito antigo idealizou os
ciclos de fertilidade natural de seus rituais tão estreitamente como mostrado no
mito hebraico do Egito, que o via como um local de escravidão do espírito tanto
quanto do corpo.
De fato, em seu conceito do filho Hórus, estava associada a mesma faculdade de
contar idêntica àquela apresentada na aliança mosaica do povo hebreu escolhido
para ser o herdeiro da Terra Prometida, isto é, para atuar no papel de filho:
"Assim diz o Senhor, Israel é meu filho, meu primogênito" (Ex 4:22).
Em suas referências aos Pyramid Texts, R. A. Schwaller de Lubjcz, apesar de não
ter notado as associações de Hórus com a atividade de contar, deu exemplos dessa
associação ao definir a função de Hórus no que diz respeito à reconstituição mística
e ritual de seu pai Osíris esquartejado: Osíris também é a renovação anual de toda
a vegetação (...) Ao mesmo tempo ele é o ka de Hórus, seu filho:
Hórus veio, ele reconheceu (contou) a ti (...)
Hórus veio, ele reconhece (conta) seu pai em ti (...)
(...) durante a ascensão de Rá, o celebrante o rei — realiza o rito diário do culto
divino (...) para invocar a renovação, a reconstituição do corpo desmembrado e a
sua ressurreição pelo dia.
Isso pode ocorrer apenas pela graça do misterioso Olho de Horus, que é invocado
(pela oferenda de óleo, incenso, água ou comida).
O sacrifício desse Olho de Hórus serve como um lembrete diário do renascimento.

Se Osíris é relacionado ao ciclo anual de fertilidade, extrapolado para o ciclo da


reencarnação humana, Hórus é mostrado representando o caminho direto para a
libertação espiritual, um caminho que requer e reflete o poder abstrato da
contagem numérica, o reconhecimento pelo coração da relação numérica que
ordena e é subjacente a todas as coisas.
[Outro cruzamento cultural interessante pode ser visto com respeito ao Nun
egípcio: "A teologia faraônica fala da origem por meio do mistério heliopolitano: há
Nun, o oceano primordial; dentro de Nun há um fogo que age e produz Tum, a
primeira terra ou morro que emerge de Nun. Esse fogo é o próprio Nun" (p.17).
Mas o alfabeto hebraico também tem uma letra pronunciada Nun que foi
kabbalisticamente associada com a força criativa feminina, mais particularmente
com a Shekhinah e a sefirah Malkhut com a qual ela se associa.
Em um trabalho atribuído ao primeiro kabbalista conhecido, Isaac, o Cego, há
referências a um “diadema, que é o Nun" e "o H final é o sinal do diadema",
referindo-se ao Hei final do Tetragrammaton que, por sua vez, também é
identificado com Malkhut.
Em sua antologia contendo esse trabalho, o editor Joseph Dan comenta:
"A letra Nun, tanto em sua forma normal quanto final, está ligada na Kabbalah
clássica com a décima e mais baixa sefirah, o Reino. Para um resumo dessas
associações, veja o Pardes Rimmonim do R. Moses Cordovero.
“Todas as referências retiradas do The Early Kabbalah, ed. Joseph Dan, pp.82, 84,
86. Adicionalmente à evidência histórica de uma associação entre a letra Nun e
Malkhut (Reino), uma ligação lógica pode ser feita para sua associação com a
sefirah superior Binah (Compreensão), já que a equivalência gemátrica da letra Nun
é o número 50, e 50 por sua vez está associado com Binah na referência-padrão
kabbalistica aos "Cinqüenta Portões da Compreensão".
É também de Binah ou Imma, a forma Partzuf dessa sefirah, que o mar da criação
flui em sete ramos para as sete sefirot inferiores.
Por causa da correspondência numérica entre a letra Nun e Binah, sugeriria que
essa foi a base original para a associação desta letra com a sefirah feminina e que
foi, mais tarde, transferida para a 10ª sefirah identificada com a personalidade
central mais feminina da Shekhinah.
Como com a associação anterior entre o Gaia grego e a letra-número hebraica para
13, discutida no texto anterior, também aqui parece haver uma associação entre o
Nun egípcio e a letra-número hebraica Nun= 50 que também envolve os elementos
femininos nos mitos da criação dessas culturas.]

Esse reconhecimento pode ser simbolizado pelo "Olho de Hórus", claramente


associado com o "Rá em ascensão", o Sol.
Para o Egito, assim como para Israel, o poder do renascimento espiritual tornou-se
primordialmente relacionado à capacidade de "recontagem" solar.
A evidência de tal associação entre os hebreus está assim além do circunstancial, a
relação gemátrica do número 52 da palavra hebraica "filho" com seu significado
aparentemente solar; os 52 Shabats do ano solar cuja observância é o sinal da
Aliança do Sinai.
Mas há uma fonte hebraica mais recente que parece conter algumas reminiscências
de uma antiga tradição de remotas fontes da cultura que os hebreus
compartilharam não apenas com os egípcios, mas também com todos os povos
envolvidos com estudos astronômicos.
Referimo-nos ao Livro de Enoch em sua versão etíope também conhecida como
I Enoch.
Como apresentamos em texto anterior, a lenda de Enoch mereceria uma
abordagem mais extensa nesse texto em que essa figura se apresenta como um
"filho do homem" que se senta no trono, e assim, após sua morte e transfiguração,
identifica-se com ele.
Mas o ponto que quero destacar aqui é a associação adicional desse complexo do
homem transcendente Enoch, e do conceito do filho com a importância da
contagem solar correta.
A maior parte do Livro de Enoch é dedicada a uma explicação de Enoch a seu filho
Metuselah sobre a sabedoria do calendário solar.
No fim dessa explicação, Enoch pronuncia uma bênção que certamente parece
relacionar-se com a redenção final do homem:
Dei sabedoria a ti e a tuas crianças (...) Abençoados sejam todos os justos,
abençoados sejam todos aqueles que andam no caminho da retidão, e não pecam
como os pecadores por todos os seus dias nos quais o Sol caminha pelo céu (...)
Por causa deles, os homens erram, e eles não os contam (...) exatamente.
Eles pertencem, pois, à recontagem do ano (...) e naqueles dias, diz o Senhor, eles
chamarão e testarão os filhos da Terra a respeito da sabedoria que está neles.
Mostrem-na a eles, vós sois seus líderes, e sois as recompensas que virão sobre
toda a Terra.
Pois Eu e meu filho nos juntaremos a eles para sempre nos caminhos da probidade
durante suas vidas, e haverá paz.

Assim, o conceito de renascimento espiritual está primordialmente relacionado mais


à recontagem solar do que à lunar.
Apesar de a Torah aceitar a observância do Rosh Chodesh, a Lua Nova
(Nm 10:10; 28:11), não a institui especificamente em nenhum lugar.
Pelo contrário, a lei mosaica estabelece os Shabats e os festivais sazonais
relacionados com o Sol.
Os 52 Shabats do ano solar são observados sem referência ao alinhamento com as
fases lunares, mas com relação ao pôr-do-Sol; e os festivais estão relacionados ao
plantio da primavera e à colheita do outono, também determinados pela posição do
Sol.
Porém, todas essas observâncias solares são distinguidas das lunares pela mesma
abstração e alteração que vimos na caracterização dos sete dias da semana.
A essência dessa alteração pode ser vista na palavra com que se denomina o Sol
em hebraico, “shemesh”, Shin-Mem-Shin.
A utilização dessas letras-mãe do alfabeto hebraico na marcação do começo do dia
e do ano sugere que seu significado especial não começa com o Sefer Yetzirah, mas
é tão velho quanto a própria linguagem.
Se aceitarmos a identificação apresentada pelo Sefer Yetzirah, de Shin com fogo e
Mem com água, incorporadas na palavra para Sol, então aceitamos um padrão
circular que vai da luz do fogo para a escuridão da água, voltando novamente à luz.
Isso reflete o método hebraico peculiar de começar o dia ao anoitecer.
A maneira mais natural de marcar o começo do dia é no anoitecer, e do ano, é na
primavera.
O mês de Nissan marca a primavera, na qual a Páscoa é celebrada, e era
originalmente tido como o primeiro mês, como podemos depreender pelo seguinte:
"Este mês vos será o principal dos meses; será o primeiro mês do ano" (Ex 12:2).
Entretanto, no correr de todo o calendário dos festivais, o começo do ano, Rosh
Hashanah, acontece no outono, no caso o ano, como o dia, começando com a
morte da luz e continuando até seu renascimento.
Esse é um método tão diferente do natural quanto daquilo que, de alguma forma,
tornou-se o padrão na prática comtemporânea; o dia começando e terminando na
escuridão da meia-noite, e o ano, no frio do inverno.
Ao contrário, o método hebraico de definir o dia e o ano solar, como sugere a
palavra shemesh, considera o começo pelo banimento da luz, por meio de um
período de escuridão, até o renascimento da luz, uma alteração mental da
seqüência natural que sugere a intervenção de algum conteúdo simbólico
relacionado com a ressurreição.
Essa mesma intervenção pode ser vista na celebração do Rosh Chodesh, na qual se
comemora o retomo da Lua após três noites ocultas.
Mas o que distingue o Rosh Chodesh do Rosh Hashanah é precisamente o
simbolismo lunar natural em oposição à natureza abstrata e manipulada do
simbolismo solar.
Como com a semana, a transferência do simbolismo do renascimento da Lua para o
Sol reflete um processo de abstração pelo qual o natural é levado ao nível do
sobrenatural, o ciclo eterno da fertilidade natural ao nível da consciência ao
renascimento espiritual.
Manipulando a ordem do dia e do ano de forma que simbolizem a morte do velho e
o renascimento do novo, livre de impurezas, o homem demonstra sua própria
habilidade de transcender a ordem da natureza pelo poder da razão.
Mudar sua sujeição da luz que dirige a noite para aquela que governa o dia, de sua
velha imersão no processo natural para a nova capacidade de abstrair sua
consciência das origens naturais sem perda da essência dessa experiência, torna o
homem um filho renascido do Sol, um "Ben Shemesh", que perpassou as águas da
purificação para renascer no espírito.
Uma seqüência similar pode ser vista no mito egípcio da passagem de Rá, o deus-
Sol, do dia, por meio de um dwat aquoso, de volta para o dia.
[Isso está claramente mostrado no comentário de Ogden Goelet Jr:
"(...) sob a terra estavam localizadas as regiões de Nun, as águas primordiais... O
nome Nun parecia significar "O Um Aquoso"(...)
Toda a tarde do velho Sol entrava no submundo e viajava através dele, imerso em
Nun, para só emergir no alvorecer como Khepri, o Sol renascido.
Assim, as águas de Nun tinham uma qualidade rejuvenescedora e batismal
essencial para o renascimento.
Talvez o mais freqüente e importante de todos os componentes do outro-mundo é
o Duat, o Mundo Inferior, uma vasta região debaixo da terra(...) este era o reino de
Osíris e o lugar através do qual Rê viajava toda noite em sua jornada abaixo da
terra(...) de alguma forma conectada com as águas de Nun(...) "
Nicolas Grimal, também mostra, ao falar de "Dwat, o submundo", que "o Dwat era
apresentado como um equivalente de Nun, as primeiras águas das quais se
desenvolveu o criador".]

Hórus, o deus-filho, cujo "olho" vimos que está ritualisticamente associado com Rá,
parece ser um modelo para esse "Ben Shemesh".
A seqüência Shin-Mem-Shin também pode ser entendida como referência à
passagem do Sol pelas águas do Mundo Inferior, também entendidas como as
águas femininas, pelas quais ele passou durante a noite.
A passagem dessas águas também aparece em dois estágios do épico nacional
judaico, na forma da travessia do Mar Vermelho que separava Mitzraim do Monte
Sinai; e na travessia do Rio Jordão entre o deserto de Moab e a Terra Prometida.
Isso implica o entendimento de que o homem só pode vir a ser um "Ben Shemesh"
se se submeter a um processo de purificação por meio do qual a velha luz de
consciência individualizada seja renascida de seu egoísmo alienante, para irradiar
uma nova luz de individualidade perfeita, de personalidade divina.
Mas, se podemos dizer que a natureza da Aliança do Sinai marca a transição de
uma observância imemorial do tempo lunar para outra solar, essa transição procura
reter os valores essenciais do antigo levando-os a novas alturas espirituais.
Assim se comportam os perfumes extraídos das flores e dos sacrifícios animais que
oferecem um doce sabor ao Senhor.
De fato, mais do que qualquer outra cultura antiga sobrevivente, o Judaísmo reteve
um calendário essencialmente lunar harmonizado com o ano solar.
Pode-se dizer que essa harmonização é feita por meio de urna consideração
essencialmente musical.
Em sete anos de um ciclo de 19, um 13º mês é adicionado, resultando em uma
seqüência que reflete os intervalos de uma escala diatônica:
0, 3, 6, 8, 11, 14, 17, 19.
Mas, mesmo que esse paralelo possa ser explicado, o calendário judaico lunar-solar
contemporâneo faz uma mediação entre o lunar e o solar na qual o valor dos dois é
reconhecido e retido.
Outra cultura ancestral que alcançou uma harmonização eqüitativa entre os ciclos
lunares e solares foi a maia.
Ela nos oferece até uma associação intrigante com o conceito do filho, relacionado
com o número 52.

Como já vimos, o 52 se refere às fases da Lua que perfazem o ciclo solar.


Um conceito similar pode ser visto no calendário maia, no qual o ciclo ritualístico
lunar de 260 dias (composto de 13 x 20 dias) e o ciclo social solar de 360 dias
(composto de 18 x 20 dias) completam o calendário, reaparecendo em ambos os
ciclos os mesmos nomes de dia e mês exatamente em ciclos de 52 anos.
Apesar de o conceito do filho não aparecer no simbolismo do calendário maia, foi
provavelmente produzido pela unidade 20 usada na contagem, pois esse número
referia-se ao conceito maia do ser humano completo:
"Os maias contavam a pessoa inteira, dedos das mãos e dos pés, e baseavam seu
sistema em unidades de vinte"
Como com as palavras “bem” para filho e Hórus, os maias entendiam o ser humano
como um contador dos ritmos celestiais e que, para ser "completo" ou perfeito,
devia estar em um nível que combinasse a polaridade que ele sintetizava aquela da
Lua feminina (13 sempre representando a equação feminino-lunar) e do Sol
masculino, natural e transcendente — e que fosse seu produto ou "filho".
O número 18 utilizado no calendário solar maia também tem um análogo hebraico
sugestivo, em que representa gematricamente a palavra “chai” (Chet=8, Iud=10),
que significa “vida”, conjunto de letras que muitos usam como amuleto.
Talvez a associação da vida com o Sol explique a escolha maia do 18 como seu
marcador solar.
Apesar de esse conjunto complexo de associações poder ter se desenvolvido
independentemente, eles também indicariam alguma ciência sagrada da
Antiguidade que relacionasse sua avançada ciência astronômica com uma
compreensão da função humana triunfante na história cósmica.

Retornando a nossas proporções geométricas, precisamos observar agora uma


equivalência oculta mantida entre os calendários hebreu e maia:13 (28) = 52 (7).
Nessa equação de extremos, é possível identificar o Tetragrammaton mediador com
o símbolo de equivalência.
Esse arranjo aritmético dos números 13 e 52 pode ser relacionado às duas formas
diferentes de número definidas no Sefer Yetzirah.
Sugeriu-se antes que as 28 formas de letras-números necessárias para o cálculo
poderiam ser relacionadas com ciclo lunar.
Por essa premissa, arrolaríamos a inteligência lunar com a linguagem e com
aqueles números diretamente ligados às dimensões tempo-espaço da substância.
Porém, o número shabático ao qual a inteligência solar estaria aliada parece
relacionar-se com o conceito de número identificado pelo termo sefirot Belimah.
A palavra “belimah” aparecendo depois de sefirot no primeiro capítulo do Sefer
Yetzirah parecendo significar "sem o que" nunca foi satisfatoriamente explicada.
Entretanto, o presente contexto parece sugerir que ela significa "sem substância"
ou abstrata; que as sefirot Belimah, os primeiros dez números cujas letras não
podem ser combinadas para formar palavras, referem-se simplesmente aos
numerais abstratos.
Relacionar as letras-números à inteligência lunar é mais coerente à discussão sobre
a origem natural da linguagem como expressão de forma substancial, entendendo
as palavras como extensão das coisas, pois escutar seu som de matéria viva é
ainda estar preso no útero da natureza.
Se o número da inteligência lunar (13) pode ser relacionado por meio do múltiplo
de seus dias (28) às letras-números que definem a linguagem natural e à medida
espacial, então a inteligência solar (52) pode ser relacionada por múltiplos de seus
dias (7) com números abstratos que exemplificam o mundo inteligível
transcendendo o natural.
Os pitagóricos reconheceram que o 7 deveria resumir a qualidade especial da
abstração característica desses numerais, como mostrou Theon de Smirna, filósofo
platônico do século II:
"Outro número da década, o 7, está dotado com uma propriedade notável; é o
único que não dá origem a qualquer número contido na década e que não nasceu
de nenhum deles, o que motivou que lhe dessem o nome de Atena, pois essa deusa
não nasceu de uma mãe e não deu à luz ninguém".
Atena, a filha de Zeus, simboliza bem a concepção abstrata dos números puros em
geral, mas não tão bem quanto o 7.
Theon mostrou que esse número é menos identificável com os processos de
concepção natural e se encaixa melhor simbolizando o estado transcendente.
Entretanto, não foram os pitagóricos, mas os hebreus que viram no 7 os princípios
cósmicos mais essenciais.
Comentamos anteriormente que a concepção da semana shabática derivava da
observação das fases da Lua, e isso também foi reconhecido por Theon e pela
tradição que ele representa: "O mês é composto de quatro semanas (quatro vezes
sete dias); na primeira, a Lua aparece dividida em dois; na segunda, ela se torna
cheia; na terceira, é dividida novamente; e na quarta, ela retorna para encontrar-
se com o Sol com o propósito de começar um novo mês e tornar a aumentar na
semana seguinte".
Porém, tais modificações jamais assumiram o significado cósmico com o qual a
tradição hebraica dotou o número 7, uma vez não sendo ele coerente com outras
fontes de conhecimento a respeito do Cosmos.
O relato do Gênesis a respeito da criação do Sol e da Lua no quarto dia deixa claro
que esses astros devem ser considerados não apenas como indicadores de tempo,
mas também como "sinais" de alguma coisa além desse simples reconhecimento
temporal: "E Deus disse, haja luminárias no firmamento do céu para separar o dia
da noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e anos" (Gn 1:14).
Similarmente, o Sefer Yetzirah considera os caminhos interseccionados do Sol e da
Lua "testemunhas verdadeiras" (6:1) de verdades cósmicas mais elevadas.
Se os hebreus, como outros povos antigos, procuravam alinhar seus ritmos
pessoais e comunitários com aqueles do Sol e da Lua, não era porque tivessem
devoção a esses corpos astronômicos, mas porque eles podiam perceber as
revoluções desses corpos como hieróglifos de alta realidade, como um mapa
simbólico que exteriorizava a estrutura íntima daquilo que era sua fonte.
O principal aspecto dessa estrutura íntima parece ser sua natureza shabática.
Em texto posterior, veremos que o Cosmos, cuja descrição é detalhada em Gênesis,
revela uma estrutura de sete dimensões, as quatro de espaço-tempo produzidas
até o quarto dia e as três adicionais dimensões espirituais estabelecidas nos "dias"
restantes, que serão discutidas em detalhe.
Tal projeção de dimensões imperceptíveis adicionais, levando seu número a dez, é
agora aclamada como a solução derradeira pela qual se procura nas teorias de
unificação da física quântica conhecida como “supercordas".
Assim Murray Gell-Mann explicou essas dimensões de supercordas:
Supercordas contraem para quatro dimensões, supõe-se que as dez dimensões
caem espontaneamente para quatro, com as outras seis dançando em todos os
pontos do espaço-tempo.
Na teoria das supercordas ou supergravidade, temos generalizações das teorias
gravitacionais de Einstein que tornam possíveis formas de unificar tudo com um
único supercampo que contém exemplos de todos os tipos de partículas das quais
precisamos (...)
A teoria das supercordas parece requerer nove dimensões espaciais em vez de três
(mais a dimensão de tempo).
As dimensões extras não devem, portanto, ser percebidas como tal, mas afetam o
espectro das partículas elementares e o caráter da cosmologia dos primórdios do
Universo.

Não menos metafísico do que a cosmologia kabbalística, os últimos esforços dos


físicos modernos apóiam-se no modelo de um Universo multidimensional que, como
veremos, está codificado na ciência sagrada contida no relato da criação do Gênesis
que pode até mesmo resolver o conflito entre essas duas projeções.
Afinal, na Árvore kabbalística, há três sefirot acima de sete outras que definem os
sete dias do mundo cósmico, que podem ser vistas como três dimensões
transcendentes, trazendo a dez o número das sefirot.
Em nosso estudo da ciência sagrada, vimos que a matéria manda urna mensagem
dupla de sua natureza limitada e ilimitada.
Uma mensagem transmitida tanto pela luz quanto por vibrações ultrassônicas,
razão pela qual precisamos dos sentidos da visão e da audição.
Vimos também que a mensagem de localização dada pela forma e de extensão
universal fornecida pelo som era mediada por um processo de contagem numérica
levado a efeito pelo coração que, batendo e sendo emocionalmente sensível,
permite uma contagem quantitativa e qualitativa.
Até aqui, estivemos preocupados com uma particularidade dessa mediação
numérica que mostra ser ela uma função da proporção geométrica divina
13:26::26:52.
Se podemos dizer que essa proporção contém o Da'at (conhecimento) fundamental
no cerne da tradição esotérica hebraica, então essa tradição enfatiza a natureza
sagrada dessa ciência, observando sua ordem e relacionando as lógicas de forma,
som e número como revelações da precisão cósmica e de um mistério divino.
Definitivamente, ela está mais preocupada com o desenvolvimento do cientista
sagrado do que propriamente com as sutilezas dessa ciência.
Afinal, o "filho do mundo vindouro", que representa o produto daquela proporção
divina, é nenhum outro do além desse cientista sagrado.
É a conquista dessa personalidade divina que, podemos dizer, foi o espírito-guia por
trás da Aliança do Sinai, aquele pacto divino cuja primeira solicitação ao homem foi
que ele aprendesse a contar semanas e a observar a santidade de seus Shabats,
aprendendo uma forma de abstração numérica que retém a qualidade dentro da
quantidade e que integra o conhecimento da cabeça com aquele do coração.
Se pudermos dizer que a proporção 13:26::26:52 define os extremos cósmicos do
concreto e do abstrato, então o meio que os medeia tem características inerentes à
geometria, pois esta representa tanto o aspecto concreto da forma quanto a
abstração da manifestação material.
Os cientistas sagrados são aqueles que podem perceber essa verdade precisamente
porque alcançaram o conhecimento salvador de suas próprias particularidades
infinitas.
Assim, os extremos entre o concreto e o abstrato que a geometria pode
divinamente mediar representam uma equação e uma progressão.
Codificados em termos de meses e semanas do ano solar (13 x 28 e 52 x 7) podem
ser reconhecidos em sua equalidade, mas codificados em termos de suas
associações mitológicas com a Mãe Terra (13) e o filho cósmico (52), representam
unia progressão mediada pela graça celestial.
É o mistério dessa progressão do concreto à universalidade sem perda de
equalidade entre os extremos que traduz o conhecimento final transmitido pela
proporção geométrica, cuja média é o número do Tetragrammaton.
Essa proporção traz o testemunho de um mistério, além de seu poder explicar, e
apenas satisfaz os cientistas sagrados capazes de perceber tal mensagem com
reverência ao Cosmos que deu a seus filhos e filhas o privilégio de contribuir por
meio desse conhecimento adquirido, com seus misteriosos propósitos.

Continua

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