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antropologia no território brasileiro e como ela foi fator determinante para a criação de
uma identidade nacional cultural. Através dos autores Raimundo Nina Rodrigues, Paulo
Padro, Darcy Ribeiro e Oswald de Andrade, realiza-se uma análise para como se deu o
processo de “criação” dessa identidade nacional, que foi tão difícil de ser conquistada.
A construção de uma identidade cultural brasileira foi e em partes pode-se dizer que
ainda é um tema difícil e nada simples de se abordar, a colonização e os processos de
construção da sociedade brasileira ocorrem em um meio hegemônico o que dificulta
identificar o processo e a criação de identidade. Esse fato acaba por refletir nas ciências
que ao tentar compreender o estereótipo do brasileiro se depara com vários
antagonismos e com isso uma imensa dificuldade para classifica-los.
Nina Rodrigues não apenas reflete uma tendência geral da época, ao estranhar
indivíduos de conduta social ou religiosa diversa da estabelecida como “ loucos” e
subversivos, como reforça esta tendência, a partir do momento em que fala do ponto de
vista de um médico, inserindo sua visão em uma análise acadêmica. Seu discurso, tido
como científico e, portanto, amparado em bases de conhecimento reconhecidos e
respeitáveis, transforma uma opinião corrente em verdade irrefutável.
Demostra que desde sempre a dominação e o modo social de viver dos habitantes do
Brasil era de forma melancólica, sem vida e perspectiva, isso se caracterizava através
das doenças e vícios (sexo e álcool). As descrições que foram feitas acerca da sociedade
brasileira, incitavam pessoas de aspectos desagradáveis, o clima tropical e proliferações
de doenças, junto com a dominação dos povos oriundos da mestiçagem, tornavam esses
pessoas tristes de se ver, transpareciam a falta de possibilidades e espaço limitado para
viver através de suas ações e aparência física. Por fim o autor determinar a situação
lamentável do Brasil como resultado de três séculos de pleno uso sem consciência, uso
da terra, uso do povo, nem mesmo a colônia que antes mantinha seu lugar imponente do
poder se mantem intacta, torna-se apenas um “corpo amorfo, de mera vida vegetativa,
mantendo-se apenas pelos laços tênues da língua e do culto”.
Uma característica que se demonstra presente em muitos dos autores que discutiram a
situação da procura por uma identidade nacional do povo brasileiro é a questão da
dominação, podendo aparecer de formas diversas há sempre um porque oriundo de
serem esses povos dominados por seus colonos. Em América Latina Pátria Grande,
Darcy Ribeiro discute a chegada dos povos Europeus ao Brasil, suas relações com o
povo que aqui já habitava e o qual resultado de tais relações.
Para Darcy Ribeiro a chegada dos Europeus ao Brasil foi calcada por uma estranheza
com os povos existentes já que na visão europeia seus antepassados seriam barbudos,
usariam túnicas fedidas e seriam cheios de pecados, ao se deparar com a inocente nudez
do índio que vivia em um jardim tropical acreditam eles estar no paraíso, no próprio
Jardim do Éden. Mantinham uma extrema curiosidade em saber se esse povo desnudo
que vivam em “harmonia” eram homens ou bichos, teriam almas¿ eram capaz de ter
pecados e virtudes¿. Após a dominação geral da cultura europeia e a imposição de seus
costumes e religiões dentro dos povos indígenas, cria-se a ideia de que esses eram
pecadores, selvagens, pagões e infiéis, a dominação afetou tanto os índios que segundo
o autor, as mulheres indígenas deixaram de parir e era necessário que sinos fossem
tocados de madrugada para que os indígenas cumprissem com seu papel de reprodutor.
Depois de feito o juízo de valores sobre o indígena o mesmo passa a deixar de ser a
figura do habitante do “Éden tropical e dá lugar à do antropófago habitante do Inferno
Verde”. A dominação Europeia era tamanha, que através do genocídio sobre os índios
fizeram com que a população indígena se visse reduzida em menos de dez milhões em
1825. Os fatores contribuintes para tal genocídio foram as pestes trazidas pelo homem
branco, pestes essas: varíola, tuberculose, pneumonia, sarampo, malária, sífilis, gripe,
papeira, coqueluche, cárie dentaria, gonorreia etc. outro fator eram as guerras
promovidas pelos Europeus entre tribos indígenas. O autor aponta que o mais espantoso
não era o genocídio (já que era a dominação a principal arma usada), o mais incrível é
que sobrassem alguns que sobreviveriam aos dias futuros. Por conta do genocídio e
dominação ocorre de forma “natural” a mudança sobre a concepção de índio que passa a
deixar seus atributos culturais originais e se tornam seres genéricos, cada vez mais
aculturados e assemelhados à população geral; ainda que não perdesse totalmente suas
características indígenas, acima de tudo porque a própria sociedade os caracterizava
assim. A população indígena permaneceu em transformações profundas durante esses
anos, pois só através da transformação se manteriam vivos, porem tal mudança
mantinha sempre um caráter de preservar o próprio ser.
Após todo o processo de dominação ocorrido na América Latina, cria-se nela uma
singularidade que é a condição de um conjunto de povos intencionalmente constituídos
por atos e vontades alheios a eles mesmos. O povo latino americano é a resultante de
empreendimentos econômicos exógenos que visavam à dominação sobre as riquezas, a
resultante foi uma população ocorrida de um fato ocasional. Ainda hoje após séculos do
fato ocorrido, os mesmos dominadores que antes estavam no poder o deixaram para
suas gerações futuras e ainda hoje os dominadores continuam a achar que nosso povo
não esta preparado para o exercício da cidadania, porem como afirma Darcy Ribeiro “O
que era pretendido implantar aqui pelos Cristãos era algo que já existia na vivencia das
tribos indígenas: uma sociedade solidária de homens livres”.
Tanto Darcy Ribeiro como Paulo Padro, demonstram através de seus estudos a
dificuldade dos tanto dos povos que aqui já habitavam antes da colonização quanto dos
povos que vieram depois em se situarem como produtores de uma sociedade. Tamanha
era a dominação que não havia espaço para os negros, índios, mulatos, brancoides,
mamelucos etc. expressarem suas culturas e singularidades, muita das vezes era
necessário usar sincretismos para conseguir alguma forma de expressão sobre suas
culturas, exemplo usual disso foi o nascimento do candomblé que utilizava nomes de
santos católicos para culto de seus orixás africanos.
Através da visão desses quatro autores aqui explícitos, percebe-se que a criação de uma
identidade nacional cultural foi algo dificilmente conquistado e mesmo séculos depois
necessitou de um movimento, um manifesto, para que fosse posto aos olhos do
Brasileiro a dificuldade dele mesmo em se encontrar com sua identidade nacional. Fica
claramente evidente que a questão da dominação e a miscigenação ocorrida no Brasil
foram fatores que “dificultaram” esse processo, e também tais fatores não poderiam ser
deixados de lado já que esses influenciaram diretamente na criação de uma sociedade e
cultura nacional. Ainda hoje é a identidade brasileira esta em continua mudança, mas
assim como Oswald coloca em seu manifesto antropófago, cabe a nós a deglutição de
tudo que nos rodeia e após digeri-la expressarmos nossa identidade cultural, sem que
essa sofra dominação, exclusão imitação, pois “Só a antropofagia nos une”.
Bibliografia:
Auto Avaliação: Através de participações em aulas e das leituras dos textos escolhidos,
pude criar uma visão própria sobre a antropologia Brasileira e sobre os processos de
criação de uma cultura nacional. Por conta disso atribuo-me a nota oito.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PUC-SP