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Lenda da Praia da Rocha

Uma Sereia chegou um dia ao Algarve, não se sabe bem de onde.


Instalou-se à beira-mar, descansando de uma jornada que deve ter sido
longa e cansativa.

Um Pescador que por ali andava viu-a, e admirado com aquela


presença nos seus domínios, aproximou-se e disse:

– Não sei de onde vieste, mas devo informar-te de que tudo isto que
vês é meu. Foi o Mar que criou este sítio e eu sou filho do Mar!

A Sereia, sorrindo de uma maneira que cativou o Pescador,


respondeu-lhe:
– Venho de longe, Pescador, de muito
longe. Aportei aqui depois de muito procurar, e
tanto sossego achei que decidi ficar.

– Como te chamas? Quem és? – quis saber


o filho do Mar.

– Não tenho nome, Pescador. Sou apenas o


que sou, Sereia.

– Bem-vinda sejas então, Sereia, a este local que já é teu!

Foi então que, de longe, se fez ouvir uma voz agreste e rude:

– Não dês o que não é teu, Pescador! Esta terra é minha, foi a
montanha que a criou! Eu sou o filho da Serra e tudo o que vês me
pertence!

– Assim sendo, Serrano – sussurrou a sereia – talvez sejas tu o fim


da minha viagem.

– Deixa-o falar, Sereia! Que pode ele e a sua Serra contra o poder
de meu pai, contra a força e fúria das ondas!...

– Ah, ah, ah! – riu o serrano – Tenta tu subir à Serra! Que poderão
as tuas ondas contra a robustez que herdei da minha mãe. Mais
poderoso sou eu, que quando quiser, posso criar montanhas dentro do
Mar!

Parecia iminente a luta entre os dois gigantes; o Mar procurava


acalmar as suas ondas, que cresciam e engrossavam; a Serra toldava-
se, agitando as urzes e os pinheiros. A Sereia que estava a gostar de ser

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o centro da atenção dos dois, ao ver a violência que crescia dentro deles
disse-lhes:

– Não se zanguem! Eu vou esperar aqui que me tragam provas das


vossas forças. Mas agora ide, estou cansada e quero repousar!
Lentamente, os dois rivais afastaram-se areal fora. Um entrou pelo Mar
dentro, o outro subiu à Serra. Iam pensativos, procurando a melhor
maneira de convencer a Sereia. Ela, por seu lado, instalou-se como se
em casa estivesse e esperou.

Chegou primeiro o Pescador. Trouxe-lhe o Mar e estendeu-o a seus


pés, pintando-o de verde suave à bordinha, e azul profundo lá ao longe,
dizendo:

– Tudo isto é o meu Mar, e é teu, Sereia!

E a Sereia ficou a olhar o mar, encantando-se com o seu ondular.


Subitamente, ouviu o Serrano:

– Sereia, aqui estou: dar-te-ei um trono de pedra lá no alto do


mundo. Já pedi ao vento que te embalasse o sono, ao sol que te
aquecesse os dias, e às fontes que te refrescassem as horas. Vem
comigo e serás a rainha da Serra.

– Chegaste tarde, Serrano! Já me sinto a rainha do Mar – respondeu


a Sereia.

Enfurecida por ser rejeitada, a Serra fez rolar enormes rochedos até
ao Mar, rodeando a Sereia: se esta não subia à Serra, descia a Serra ao
Mar.

O Mar zangou-se, e durante dias e noites, atirou-se contra as


rochas, mas não conseguiu desfazê-las.

E assim continuaram até que a Sereia, não sendo capaz de se


decidir, acabou por se transformar numa areia tão fina como não há
outra igual.

Este lugar tem hoje o nome de Praia da Rocha.

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