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A GAROTA DA BANDA
Uma autobiografia
Uma antiga foto em preto e branco de uma casa pequena é tudo o que eu tenho para provar
que Rochester foi onde nasci. Preto e branco combina com a cidade,
com seus rios, aquedutos, fábricas e invernos intermináveis. E quando
minha família foi para o Oeste, Rochester foi esquecida como qualquer
canal de parto.
Eu tinha 5 anos quando meu pai foi convidado para ser professor do
Departamento de Sociologia da Universidade da Califórnia em Los An-
geles (UCLA), e nós – meus pais, Keller e eu – fomos para Los Angeles
em nossa velha caminhonete. Quando chegamos aos estados do Oeste,
eu me lembro de como minha mãe ficou empolgada em pedir batatas
fritas no estilo hash browns em um restaurante de beira de estrada. Para
ela, as hash browns eram uma coisa do Oeste, um símbolo, cheio de um
significado que ela não conseguia exprimir.
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foram para o norte do estado de Nova York e Rochester, onde meu pai
começou a escrever sua tese de doutorado. Três anos depois, eu cheguei.
A história de como meus pais se conheceram vinha à tona apenas em
coquetéis, com detalhes sempre incompletos. Meu pai era desmiolado,
minha mãe gostava de dizer, acrescentando que seu hábito de fazer pi-
poca na casa dela sem colocar a tampa na panela na época do namoro
quase a fez repensar a ideia de se casar com ele. Ela sempre dizia isso
rindo, embora o que ela tentasse dizer, talvez, era que meu pai não era
tão centrado e responsável como parecia.
Os nomes na nossa família – Keller, Eno, Coplan, Estella, Lola –
sempre me fazem pensar se há algo mediterrâneo na mistura. Há tam-
bém o lado “de Forrest”, da mãe da minha mãe, que era francês e ale-
mão, mas com um traço italiano também, olhos brilhantes e sobrancelhas
estilo Groucho Marx misturados com toda a lisura do Kansas. O Kansas
foi onde, até morrer no ano passado, aos 92 anos, a irmã da minha mãe –
a fonte de tudo o que sei sobre a história da minha família – viveu em uma
casa de fazenda no final de uma longa estrada de terra. Ela foi uma mu-
lher que durante toda a vida eu nunca ouvi dizer sequer uma palavra de
autopiedade. Com ela morreram todas as histórias do passado da minha
família. Meus pais não me contaram quase nada.
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