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Efeito dos Íons Cloreto na Resistividade Elétrica Superficial do Concreto –

Monitoramento até a idade de 63 dias

Effect of Chloride Ions on Superface Electrical Resistivity of Concrete - Monitored


until the age of 63 days

Gustavo José Lauer COPPIO 1, Julia Wippich LENCIONI2, Luciana De Simone CIVIDANES3, Paulo Paiva Oliveira
Leite Dyer4, Maryangela Geimba de LIMA5
1
Instituto Tecnológico da Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil gustavocoppio@gmail.com
2
Universidade de Taubaté, Taubaté, Brasil, jwlencioni@terra.com.br
3
Instituto Tecnológico da Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, lucianac@ita.br
4
Instituto Tecnológico da Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, paulo_dyer@yahoo.com
5
Instituto Tecnológico da Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, magdlima@gmail.br

Resumo: A corrosão é um dos principais problemas de degradação das estruturas de concreto armado e
afeta a durabilidade e o desempenho das edificações. A corrosão ocasiona elevados prejuízos econômicos e
financeiros, além de riscos à segurança. Em ambiente marinho, a corrosão é provocada principalmente pela
penetração de cloretos no concreto. A resistividade elétrica do concreto é um dos principais fatores que
influenciam no período de iniciação e na velocidade de propagação da corrosão das armaduras e pode ser
medida através de ensaios não destrutivos, como o método de Wenner (ou método dos quatro pontos).
Diversos estudos têm sido realizados sobre a resistividade elétrica do concreto como um parâmetro
qualitativo de probabilidade de corrosão do aço imerso no concreto. Há fatores que influenciam a
resistividade elétrica do concreto como a relação água/cimento (a/c), tipo de aglomerante, condições de
cura, teor de umidade, temperatura, idade do concreto, presença de íons cloreto, carbonatação, geometria
dos materiais, entre outros, cujos mesmos têm sido objeto de vários estudos. Entretanto, ainda existem
discussões em relação à influência dos íons cloreto sobre a resistividade elétrica do concreto. Neste
contexto, é apresentado um estudo sobre o efeito da presença de cloretos na resistividade elétrica
superficial do concreto, em que foram moldados corpos de prova de concreto com 0%, 3% e 5% de adição
de íons cloretos, os quais foram submetidos ao ensaio de resistividade elétrica superficial através do
método de Wenner até os 63 dias de idade. Durante todo o período dos ensaios, os corpos de prova
permaneceram imersos em água com as mesmas concentrações de cloreto adicionadas às amostras. Os
resultados obtidos mostraram que quanto maior a concentração de cloretos, menor é o valor da
resistividade elétrica superficial do concreto, mostrando a interferência da presença desses íons nas
medidas realizadas.
Palavras-chave: Concreto, Resistividade elétrica, Cloreto, Corrosão.

Abstract: Corrosion is one of the main problems of degradation of reinforced concrete structures and
affects the durability and performance of buildings. Corrosion causes elevated economic and financial
losses, as well as security risks. In the marine environment, corrosion is mainly caused by the penetration of
chlorides into the concrete. The electrical resistivity of the concrete is one of the main factors that
influences the initiation period and the propagation velocity of the reinforcement corrosion and that can be
measured by non-destructive tests such as the Wenner method (or four-point method). Several studies
have been carried out on the electrical resistivity of concrete as a qualitative parameter of corrosion
probability of steel immersed in concrete. There are factors that influence the electrical resistivity of the
concrete as the ratio of water/cement (w/c), type of binder, curing conditions, moisture content,

1
temperature, concrete age, chloride ion presence, carbonation, material geometry, among others, which
have been the object of several studies. However, there is still no consensus regarding the influence of
chloride ions on the electrical resistivity of the concrete. In this context, a study is presented on the effect
of the chloride on the superficial electrical resistivity of the concrete, in which concrete samples with 0%,
3% and 5% of chloride ions addition were molded, which were submitted to the surface electrical resistivity
test using the Wenner method until 63 days of age. During the test period, the specimens remained
immersed in water with the same concentrations of chloride added to the samples. The results show that
the higher chloride concentration induced lower concrete superficial electrical resistivity, contributing to
the reinforcement corrosion process.
Keywords: Concrete, Surface electrical resistivity, Chloride, Reinforcement Corrosion.

1. Introdução

As estruturas de concreto armado, considerando a imensa variedade de suas possíveis aplicações na


indústria da construção civil, acabam sendo submetidas a condições de exposição ambiental sob a ação
externa de agentes agressivos, como os íons cloreto em ambiente marinho (ANGST, 2011).
O principal problema de degradação das estruturas situadas em zonas de atmosfera marinha é a corrosão
da armadura, cujo processo se inicia quando os íons cloreto ingressantes no concreto atingem teor de
concentração crítica na região da armadura. (ANGST, 2011; GENTIL, 2012).
Em ambientes marinhos, não são raros os casos em que as edificações acabam sofrendo degradações
muito antes do tempo de vida útil de projeto (MEDEIROS, 2008). A velocidade de corrosão em atmosfera
marinha pode chegar a ser de 30 a 40 vezes maior que em uma atmosfera rural (HELENE, 1993), dada a
presença dos íons cloreto.
A degradação das estruturas de concreto armado relacionada com a corrosão da armadura ocasiona
fissuras e lascamento do cobrimento do concreto, perda da seção transversal do aço e redução da
aderência com o concreto, reduzindo a resistência física e mecânica e a capacidade portante da estrutura,
podendo inclusive levar ao colapso da estrutura (HELENE, 1993).
A corrosão da armadura em estruturas de concreto geram prejuízos econômicos extremamente elevados
para a manutenção e recuperação das estruturas (APOSTOLOPOULOS et al., 2013). Os custos de
manutenção, reparo e recuperação de estruturas são em média 125 vezes superiores aos gastos com
medidas protetivas que poderiam ser tomadas no projeto, visando garantir a durabilidade e tempo de vida
útil mínima da estrutura (RIBEIRO et al., 2014).
Em países como Japão, Estados Unidos, Austrália e Canadá, os gastos destinados somente à recuperação de
pontes e viadutos que apresentam problemas prematuros de deterioração representam de 0,01 a 0,1% do
PIB, sendo que nos Estados Unidos, no ano de 2013, o custo total para a recuperação de estruturas de
concreto armado no país chegou a 6,2% do PIB (NWAUBANI E KATSANOS, 2014).
No processo corrosivo das armaduras, a resistividade elétrica do concreto desempenha um papel
importantíssimo uma vez que a resistividade elétrica é um dos principais fatores que influenciam no
período de iniciação e na velocidade de propagação da corrosão do material (LENCIONI E LIMA, 2010).
Diversos estudos apontam uma forte correlação entre a resistividade e os períodos tanto de iniciação
(resistência à penetração de agentes agressivos e despassivação da armadura) quanto de propagação da
corrosão (taxa de corrosão), como os estudos de Helene (1993), Durar (1998), Polder et al. (2000), Morris et
al. (2002) e Yu et al. (2017).

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A resistividade elétrica está diretamente relacionada às características de permeabilidade e porosidade do
concreto (HELENE, 1993; RIBEIRO et al., 2014). A princípio, quanto maior a conectividade e o tamanho dos
poros, menor será a sua resistividade elétrica (ABREU, 1998). Uma maior permeabilidade e porosidade
também resultam em uma maior facilidade à penetração de íons cloreto, favorecendo maior fluxo iônico no
seu interior; consequentemente, uma redução da resistividade elétrica do concreto irá reduzir o período de
iniciação da corrosão e proporcionar uma maior velocidade de propagação deste processo de degradação
(MEHTA E MONTEIRO, 1994).
A corrosão da armadura das estruturas de concreto é um processo eletroquímico, por esta razão, a
resistividade elétrica do concreto e a disponibilidade de oxigênio irão controlar a taxa de corrosão (MEHTA
E MONTEIRO, 1994; HELENE, 1993; CASCUDO, 2005), mas é impressindível que exista umidade no interior
do concreto para que aconteçam as reações químicas deste mecanismo de degradação (HELENE, 1993;
MEIRA, 2004; MEDEIROS JUNIOR, 2014).
Há vários estudos correlacionando as medidas de resistividade superficial do concreto e a probabilidade de
corrosão da armadura como método de avaliação e monitoramento de desempenho e durabilidade de
estruturas de concreto armado (LENCIONI, 2011).
Segundo Browne e Geohegan (1978, apud CEB 192, 1989), a probabilidade de corrosão da armadura pode
ser avaliada de acordo com a resistividade elétrica superficial do concreto. Os valores de resistividade e a
probabilidade de ocorrência da corrosão propostos pelos referidos autores, adotados pelo Comité Euro-
International du Béton (CEB - 192), são apresentados no Quadro 1.
Quadro 1 – Probabilidade de corrosão do aço em função da resistividade elétrica do concreto (Browne e
Geohegan, 1978, apud CEB 192, 1989)
Resistividade elétrica do concreto Probabilidade de corrosão da armadura
> 20 kΩ.cm Desprezível
10 a 20 kΩ.cm Baixa
5 a 10 kΩ.cm Alta
< 5 kΩ.cm Muito Alta

A presença de íons cloreto no concreto, um dos grandes responsáveis por provocar a corrosão das
armaduras das estruturas, traz muita discussão em relação a sua influência sobre a resistividade elétrica do
concreto (LENCIONI, 2011; PÉREZ, 2015).
Segundo Cascudo (1997), a concentração de íons cloretos no interior dos poros do concreto aumenta a
condutividade elétrica do eletrólito.
Morris et al. (2002) e Lencioni (2011) apresentaram resultados em que a adição de cloreto de sódio ao
concreto não influenciou de forma significativa os valores de resistividade elétrica superficial.
Yu et al. (2017) consignam que o teor de cloreto afeta diretamente a resistividade elétrica do concreto
devido ao aumento de íons condutores, assim como há um incremento na facilidade do concreto absorver
umidade, contribuindo ainda mais para a condutividade, resultando em significativa redução da
resistividade.
Assim sendo, é necessário intensificar os estudos sobre o grau de influência de íons cloreto nas medidas de
resistividade elétrica superficial do concreto. Por esta razão, desenvolveu-se a presente pesquisa com o
objetivo de contribuir com o conhecimento sobre a influência de íons cloreto sobre as medidas de
resistividade elétrica superficial do concreto.

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O presente trabalho tem por objetivo, portanto, contribuir com o conhecimento sobre a influência de
diferentes teores de íons cloreto adicionados à massa de concretos. Este trabalho é parte integrante de um
estudo maior sobre influência de vários fatores sobre as medidas de resistividade elétrica superficial que
está em desenvolvimento no Instituto Tecnológico de Aeronáutica – São José dos Campos – SP – Brasil.

2. Metodologia

Com o objetivo de investigar o grau de influência de íons cloreto sobre a resistividade elétrica superficial do
concreto, foram moldados corpos de prova de concreto cilíndricos (100 x 200 mm) com 0%, 3% e 5% de
adição de cloreto em relação à massa de cimento da mistura, dissolvidos na água de amassamento do
concreto, com um traço em massa de 1:2:3 e relação água/aglomerante de 0,5, para todas as amostras.
Cada um dos tipos de amostras foi submetido a ensaios para a determinação da resistividade elétrica
superficial, da resistência à compressão, da absorção de água por capilaridade e por imersão e do índice de
vazio.
Os agregados utilizados para a moldagem dos corpos de prova foram caracterizados segundo normas
técnicas brasileiras e as características físico-químicas do cimento foram fornecidas pelo fabricante. Para
melhor compreensão do programa experimental realizado no presente estudo, na Figura 1 é apresentado
um fluxograma contendo as etapas e ensaios realizados no presente estudo.

Figura 1 – Fluxograma do programa experimental desenvolvido para o presente estudo.

A caracterização dos agregados, as caracteristicas do cimento utilizado, a metodologia da moldagem e dos


ensaios realizados encontram-se descritos em subtítulos próprios, apresentados a seguir.

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2.1 – Agregados miúdo e graúdo
A areia natural e a brita utilizadas para a moldagem dos corpos de prova cilíndricos foram submetidos a
ensaios de caracterização em conformidade com as Normas Brasileiras (NBR) e Normas MERCOSUL
adotadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Os ensaios realizados com os agregados
miúdo e graúdo e as respectivas normas técnicas utilizadas encontram-se descritos no Quadro 2 e os
resultados obtidos são apresentados no Quadro 3.
Quadro 2 – Ensaios de caracterização dos agregados e as respectivas normas técnicas utilizadas
Agregado Ensaio Norma Técnica
Determinação da composição granulométrica – Diâmetro ABNT NBR NM 248 (2003) e
Máximo do Agregado e Módulo de Finura NBR 7211 (2009)
Determinação da absorção de água ABNT NBR NM 30 (2001)
Areia
Determinação da massa unitária ABNT NBR NM 45 (2006)
Obtenção da massa específica e massa específica aparente ABNT NBR NM 52 (2009)
Material fino que passa na peneira 75 μm por lavagem ABNT NBR NM 46 (2011)
ABNT NBR NM 248 (2003) e
Determinação da composição granulométrica
NBR 7211 (2009)
Determinação da massa específica e massa específica
Brita ABNT NBR NM 53 (2009)
aparente e absorção de água
Determinação da massa unitária ABNT NBR NM 45 (2006)
Material fino que passa na peneira 75 μm por lavagem ABNT NBR NM 46 (2011)

Quadro 3 – Características dos agregados


Propriedade Areia Brita
Módulo de finura 2,45 19
Diâmetro máximo do agregado (mm) 2,36 6,79
Massa específica aparente (g/cm³) 2,15 2,69
Massa específica sss (g/cm³) 2,24 2,70
Massa específica (g/cm³) 2,36 2,72
Massa unitária (g/cm³) 1,50 1,52
Absorção de água (%) 2,7 0,45
Material pulverulento (%) 1,9 0,6

2.2 – Cimento Portland


O cimento Portland utilizado para a moldagem dos corpos de prova foi o CP V-ARI. A escolha deste tipo de
cimento baseou-se no fato de que apresenta baixo teor de adições e desta forma evita-se a incorporação
de variáveis decorrentes das adições que determinados tipos de cimento possuem em suas formulações e
que podem afetar os valores das medidas de resistividade elétrica.

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As caracteristivas físico-químicas do cimento Portland CP V-ARI utilizado na moldagem dos corpos de prova
estão expostos no Quadro 4, os quais atendem a norma técnica brasileira, a ABNT NBR 5733 (1991).
Quadro 4 – Características físico-químico e minerológicas do cimento Portland CP V-ARI (dados
fornecidos pelo fabricante)
Propriedade Dado Propriedade Dado
Resistência aos 28 dias (Mpa) 50,45 C2S – Silicato Bicálcico (%) 9,40
Massa específica (g/cm³) 3,13 C3A – Aluminato Tricálcico (%) 3,57
Resíduo de peneiração de 32μm (%) 5,55 C4AF – Ferro-aluminato Tetracálcico (%) 10,01
Tempo de início de pega (min) 183 SiO2 – Óxido de Silício (%) 17,64
Tempo de fim de pega (min) 248 Al2O3 – Óxido de Alumínio (%) 4,52
Superfície específica de Blaine (cm²/g) 4175 Fe2O3 – Óxido de Ferro (%) 2,70
Água na pasta normal (%) 28,81 CaO – Óxido de Cálcio (%) 59,43
Expansividade (mm) 0,15 MgO – Óxido de Magnésio (%) 6,32
Fator de saturação da cal 105,2 SO3 – Sulfatos (%) 2,94
Módulo de sílica 2,4 K2O – Óxido de Potássio (%) 1,03
Módulo de alumina 1,7 Na2O – Óxido de Sódio (%) 0,28
-
Perda ao fogo (%) 3,33 Cl – Cloretos (%) 0,01
Resíduo insolúvel (%) 0,93 CO2 – Anidrido Carbônico (%) 2,34
C3S – Silicato Tricálcico (%) 60,69 Cal livre (%) 0,69

2.3 – Moldagem e cura dos corpos de prova


Os corpos de prova foram preparados com o uso de traço fixo em massa de 1:2:3 (cimento:areia:brita) e
relação água/cimento de 0,5, com três diferentes teores de adição de íons cloreto: 0%, 3% e 5% de adição,
dissolvidos na água da mistura. Os espécimes foram moldados em forma cilíndrica de 100 x 200 mm em
quantidade sulficiente para a realização dos ensaios de resistividade elétrica superficial, resistência à
compressão e demais ensaios. Os ensaios e as idades correspondentes à realização dos mesmos e o
número de corpos de prova de propriedade estudada são apresentados no Quadro 5.
Quadro 5 – Número de corpos de prova de cada variação (0%, 3% e 5% de adição de íons cloreto) e
idades de realização dos ensaios)
N° de corpos de Idade de execução do Total de corpos
Ensaio
prova por variação ensaio (em dias) de prova
1, 3, 7, 14, 21, 28, 35,
Resistividade elétrica superficial 6 6
42,49, 56 e 63
Resistência à compressão 2 por idade 1, 3, 7, 28 e 63 10
Absorção por capilaridade 3 28 3
Absorção por imersão e índice de vazios 3 28 3
Nº total de amostras por variação ___ ___ 22

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Como se pode observar no Quadro 5, foram moldados 22 corpos de prova para cada variação de teor de
adição de íons cloreto, totalizando desta forma, 66 corpos de prova.

Figura 2 – Corpos de prova moldados para o presente estudo. Foto do autor.

Logo após a moldagem dos corpos de prova, os mesmos foram cobertos com uma lona plástica por um
período de 24 horas, para se evitar a evaporação da água da superfície dos corpo de prova. A Figura 2
mostra os corpos de prova moldados em formato cilíndrico e a Figura 3 apresenta a forma como os
mesmos foram cobertos por lona plástica, logo após ter sido concluido o processo de moldagem.

Figura 3 – Cobrimento dos corpos de prova durante 24 horas a partir da moldagem. Foto do autor.

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Após o decurso das primeiras 24 horas, contadas a partir da moldagem, procedeu-se a desforma, e, em
seguida, os corpos de prova foram submetidos à cura submersa, e mantidos sob esta condição durante
todo o período em que se sucedeu o presente estudo, sendo retidados da imersão apenas para a realização
dos ensaios. A Figura 4 mostra o acondicionamento dos corpos de prova nos reservatórios utilizados para o
processo de cura submersa.

Figura 4 – Corpos de prova submetidos à cura submersa. Foto do autor.

A água utilizada para a cura de cada variação de amostra continha a mesma concentração de íons cloreto
da água adicionada à mistura do concreto, com o objetivo de se evitar a perda de cloretos por difusão
iônica, evitando desta forma, que este fenômeno de transporte pudesse interferir ou alterar as medições
de resistividade elétrica superficial.

2.4 – Ensaios de resistividade elétrica superficial do concreto


Os ensaios de resistividade elétrica superficial do concreto foram realizados através do método de quatro
pontos, também conhecido como método de Wenner, que trata de um ensaio de determinação da
resistividade elétrica que é realizado na superfície da estrutura ou corpo de prova. É o mais conhecido e
utilizado para ensaios de determinação de resistividade elétrica superficial (LENCIONI, 2011).
O método dos quatro pontos utiliza quatro contatos superficiais espaçados igualmente entre si. Os pontos
de contato são posicionados sobre a superfície do elemento de concreto. Em seguida, aplica-se uma
pequena corrente elétrica alternada (I) entre os eletrodos de contato das extremidades, sendo medida pelo
aparelho a diferença de potencial (V) resultante entre os eletrodos de contato internos (POLDER et al.,
2000; YU et al., 2017).
Os ensaios de resistividade elétrica do presente estudo foram realizados com a utilização de um
equipamento comercial portátil, com capacidade de medição de valores de resistividade entre 1 a 1000
kΩ.cm (±0.2 kΩ.cm ou ±1%), aplicando uma corrente de 200 μA a uma frequência de 40 Hz, com
espaçamento fixo entre os eletrodos de 5,0 cm.
A Figura 5 apresenta o esquema do ensaio de resistividade elétrica superficial do concreto pelo método de
Wenner e a Figura 6 mostra a execução do ensaio em um dos corpos de prova moldados para este estudo.

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Figura 5 – Esquema baseado do ensaio de quatro pontos para determinação da resistividade elétrica
superficial do concreto (Adaptado de YU et al., 2017)

Figura 6 – Execução do ensaio de determinação da resistiviade elétrica

A resistividade elétrica superficial determinada pelo ensaio de quatro pontos é obtida pela Equação 1
(GOWERS E MILLARD, 1999), em função da distância entre os eletrodos (a), que no presente caso era de 5,0
cm.
∆𝑉
𝜌 =2∙𝑎∙𝜋∙ (1)
𝐼
Onde:
𝜌 = resistividade elétrica, em kΩ.cm;
a = espaçamento entre os eletrodos, em cm;
∆𝑉 = diferença de potencial, em V;
𝐼= corrente elétrica, em A.

Sobre os valores obtidos foi aplicado um coeficiente de correção de 0,377, em função da forma geométrica
dos corpos de prova e do espaçamento entre os eletrodos (a = 5,0 cm), conforme é proposto pela norma
espanhola da Asociación Española de Normalización Y Certificación, a UNE 83988-2 (2014), que visa
eliminar a diferença dos resultados em função da forma geométrica dos elementos de concreto. O Quadro
6 apresenta os coeficientes de correção para diferentes dimensões de corpos de prova cilíndricos em
função do espaçamento dos eletrodos.
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Quadro 6 – Coeficientes de correção para diferentes dimensões de corpos de prova cilíndricos em
função do espaçamento dos eletrodos (UNE 83988-2, 2014)
Dimensão do corpo de prova cilíndrico,
a = 3,5 cm a = 5,0 cm
em mm
150 x 300 0,714 0,606
100 x 200 0,384 0,377
75 x 150 0,384 -
a: Espaçamento entre os eletrodos

As amostras de cada um dos teores de adição de íons cloreto foram submetidos ao ensaio de elétrica
superficial pelo método de Wenner aos 1, 3, 7, 14, 21, 28, 35, 42,49, 56 e 63 dias de idade do concreto.

2.5 – Ensaios de resistência à compressão


O ensaio de resistência à compressão foi realizado no laboratório da Engenharia Mecânica do Instituto
Federal de São Paulo, Campus Itapetininga, utilizando-se a metodologia estabelecida pela norma técnica
brasileira, a ABNT NBR 5739 (2007). Foi utizada uma prensa mecânica dotada de um conjunto servo
hidráulico com uma célula de carga de 2.000 kN, classificada como classe 1, segundo a referida norma.
Para cada variação foi utilizado dois corpos de prova por idade, obtendo-se o valor da resistência à
compressão a partir da média dos resultados do ensaio.
Os ensaios para cada uma das variações foram realizados nas seguintes idades: 1, 3, 7, 28 e 63 dias, sendo
que os ensaios para a idade de 1 dia correspondem a 24 horas de idade do concreto.
Para eliminar as irregularidades superficiais dos corpos de prova que pudessem interferir nos resultados
decorrentes da concentração de tensões geradas pela superfície rugosa, foi utilizado discos de neoprene de
7 mm de espessura, nas faces superiores e inferiores de cada um dos corpos de prova cilíndricos
submetidos ao ensaio de resistência à compressão. A Figura 7 mostra uma imagem do ensaio de
compressão em execução.

Figura 7 – Execução do ensaio de resistência à compressão

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2.6 – Ensaios de absorção de água por capilaridade, por imersão e determinação do índice de vazios
Cada uma das variações foi submetida ao ensaio de absorção de água por capilaridade previsto na norma
técnica brasileira da ABNT NBR 9779 (2012) e ao ensaio de absorção de água por imersão e determinação
de índice de vazios, conforme a norma da ABNT NBR 9778 (2005). Cada ensaio utilizou um conjunto de 3
corpos de prova de cada variação, sendo que, para a determinação de índice de vazios, foi feito uso dos
mesmos corpos de prova dos ensaios de absorção por imersão.
Os referidos ensaios tiveram início quando os corpos de prova completaram 28 dias de idade. Neste
momento as amostras foram secas em estufa a uma temperatura constante de (105 ± 5) ºC, até a
constância de massa. Após a secagem, os corpos de prova foram resfriados a uma temperatura de (23 ± 2)
ºC, medindo-se, em seguida, a massa das amostras secas.
Para a obtenção da absorção de água por capilaridade, na sequência ao resfriamento, o conjunto de
amostras secas em estufa foi colocado em um recipiente com nível d´água constante de (5 ±1) mm.
Determinou-se a massa das amostras com 3, 6, 24, 48 e 72 h, após o início do contato com a lâmina d´água.
Por fim, calcularam-se os valores de absorção por capilaridade com a aplicação da Equação 2, conforme a
norma técnica da ABNT NBR 9779 (2012), obtendo-se ao final o valor médio dos resultados.
𝐴−𝐵
𝐶= (2 )
𝑆
Onde:
C = Absorção de água por capilaridade (g/cm²);
A = Massa da amostra que permanece com uma das faces em contato com a água durante um período de
tempo determinado (g);
B = Massa da amostra seca em estufa até atingir a temperatura de (23 ± 2) ºC (g);
S = Área da seção transversal do corpo de prova (cm²).

O ensaio de absorção por imersão e determinação do índice de vazios (porosidade total) será executado
conforme a norma da ABNT NBR 9778 (2005). Os corpos de prova, após a secagem e resfriamento, foram
colocados em um recipiente com nível d´água correspondente a 1/3 de seu volume imerso nas primeiras 4
horas e de 2/3 nas 4 horas seguintes, sendo totalmente submersos a partir de 64 h subsequentes ao início
do procedimento do ensaio, totalizando 72 horas. Determinou-se a massa das amostras a 24, 48 e 72 h de
imersão em água, em seguida, realizou-se a pesagem hidrostática para a obtenção da massa do corpo de
prova saturado e submerso.
A absorção por imersão de cada corpo de prova foi calculado pela Equação 3 e o índice de vazios será
determinado pela Equação 4 (ABNT NBR 9778:2005), obtendo-se, ao final, a média dos resultados
encontrados.
𝑀𝑠𝑎𝑡 − 𝑀𝑠
𝐴= × 100 (3)
𝑀𝑠

𝑀𝑠𝑎𝑡 − 𝑀𝑠
𝐼𝑉 = × 100 (4)
𝑀𝑠𝑎𝑡 − 𝑀𝑖

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Onde:
A: Absorção por imersão (%);
𝑀𝑠𝑎𝑡 : Massa do corpo de prova saturado (g);
𝑀𝑠 : Massa do corpo de prova seco em estufa (g).
𝐼𝑉 : Índice de vazios (%);
𝑀𝑖 : Massa do corpo de prova saturado e submerso (g).

3. Resultados e discussões

Os resultados obtidos por meio dos ensaios de resistividade elétrica superficial, de resistência à
compressão, de absorção de água por capilaridade e por imersão e a determinação do índice de vazios são
apresentados neste item. Os valores de resistividade também foram correlacionados com os resultados dos
demais ensaios, com o objetivo de complementar a análise da influência de íons cloreto sobre a
resistividade elétrica superficial e seus efeitos sobre a qualidade do concreto. A análise dos dados obtidos
pelo presente estudo também é apresentado neste item.

3.1 – Resultados dos ensaios de resistividade elétrica superficial


As medições da resistividade elétrica superficial dos corpos de prova com a adição de 0%, 3% e 5% de
cloreto, em relação à massa de cimento, realizados 1, 3, 7, 14, 21, 28, 35, 42,49, 56 e 63 dias, através do
método de Wenner, são apresentadas no gráfico da Figura 8. Todos os valores foram medidos com os
corpos de prova de cada um dos tipos de amostra, sob a condição saturada de superfície seca.
Os resultados apresentados na Figura 8 correspondem ao valor médio de cada uma das medições, onde
foram tomadas três medidas em cada um dos corpos de prova de cada tipo de amostra, constituidas cada
uma de um conjunto de 6 corpos de prova.

5,5
Resistividade elétrica superficial

5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
(kΩ.cm)

2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65

Idade dos corpos de prova (dias)


Adição de cloreto (%) em massa de cimento (g)
0% de adição 3% de adição 5% de adição

Figura 8 – Resultados dos ensaios de resistividade elétrica superficial até os 63 dias de idade

12
Como se pode observar na Figura 8, os resultados obtidos mostram uma forte influência dos íons cloreto
sobre os valores da resistividade elétrica superficial. A resistividade elétrica superficial das amostras sem
adição de íons cloreto apresentou valores mais elevados que os dos concretos moldados com 3% e 5%
adição de cloreto, em todas as idades.
Entretanto, nos ensaios realizados com apenas 01 dia de idade do concreto, o resultado referente aos
corpos de prova com 0% de adição de cloreto foi muito próximo ao daqueles com 3% de adição,
observando-se uma maior diferença apenas em relação às amostras com 5%, ou seja, nas primeiras horas
após a moldagem, o efeito do cloreto sob a resistividade elétrica foi mais notório para o teor de adição
mais elevado, mas ainda assim, as amostras sem adição tiveram o menor valor. Na Figura 9 são
apresentados os valores de resistividade elétrica superficial que foram medidos com 01 dia de idade.

1,5
Resistividade elétrica
superficial (kΩ.cm)

1,0

0,5

0,0
0% de adição 3% de adição 5% de adição
de Cl- de Cl- de Cl-

Figura 9 – Valores de resistividade elétrica superficial com 01 dia de idade

Como as amostras com apenas 01 dia de idade ainda estão na fase inicial do processo de hidratação do
cimento, os valores tendem a ser significativamente mais baixos, sofrendo um aumento gradativo com o
avanço da idade, isto pode explicar o fato de que o resultado obtido das amostras sem adição foi próximo
ao daquelas com 3% de adição de cloreto, sendo que uma maior diferença somente foi observada com uma
maior concentração de cloreto, ou seja, para as amostras com 5% de adição.
Na medida em que o processo de hidratação do cimento da mistura foi progredindo com o avanço da idade
dos corpos de prova, houve um aumento significativo dos valores de resistividade elétrica superficial,
principalmente até os primeiros 14 dias de idade, como se pode observar na Figura 8. Após os primeiros 14
dias os valores das medidas ainda continuaram apresentando um acréscimo menos significativo,
demonstrando uma tendêcia a estabilizarem.
O comportamento da resistividade elétrica superficial sofre um aumento dos valores de resistividade
elétrica com o avanço da idade decorrente do progresso na hidratação do cimento que compõe a mistura
(HELENE, 1993; PRESUEL-MORENO et al., 2013; MEDEIROS-JUNIOR, 2014; PÉREZ, 2015).
Outrossim, na medida em que a hidratação do cimento tende a uma estabilização, a resistividade elétrica
também atinge patamares que tendem estabilizar após um determinado período de tempo (LENCIONI,
2011).
Comparando os resultados obtidos entre as amostras com 3% e 5% de adição de íons cloreto, os corpos de
prova contendo 3% de íons cloreto obtiveram valores de resistividade elétrica superficial mais elevado do

13
que as amostras com 5% de adição, para todas as idades medidas, já as amostras sem adição de cloreto
tiveram os maiores valores de resistividade elétrica superficial. Ou seja, quanto maior o teor de adição de
cloreto ao concreto, maior foi o efeito de redução da resistividade elétrica superficial do concreto.
Estes resultados também foram observados por estudos realizados por outros autores como Abreu (1998),
Lecieux et al. (2015) e Yu et al. (2017). De acordo com Cascudo (1997), a concentração de íons cloretos no
interior dos poros do concreto aumenta a condutividade elétrica do eletrólito.
Abreu (1998) afirma que a resistividade do concreto está diretamente relacionada à mobilidade de íons,
que pode ser o maior ou menor, a depender da resistividade elétrica.
Broomfield e Millard (2002) afirmam que o tipo de íon presente na solução aquosa dos poros do concreto é
responsável por interferir no fluxo de corrente elétrica. Assim sendo, os íons cloreto, que possuem alta
mobilidade, atuam de forma a intensificar a corrente iônica, reduzindo-se a resistividade e elevando a taxa
de corrosão.

3.2 – Resultados dos ensaios de resistência à compressão


Os resultados dos ensaios de resistência à compressão simples realizados com cada um dos tipos de
amostras aos 1, 3, 7, 28 e 63 dias de idade são apresentados na Figura 10. Os valores constantes na Figura
10 correspondem à média dos resultados obtidos em cada um dos ensaios realizados para cada idade
analisada.

Resistência à compressão até os 63 dias de idade


Resistência à compressão simples (em MPa)

35,00

30,00

25,00

20,00

15,00

10,00

5,00
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65
Idade do corpo de prova (dias)

0% de adição de Cl- 3% de adição de Cl- 5% de adição de Cl-

Figura 10 – Resultado dos ensaios de compressão simples até 63 dias de idade

Como se pode observar na Figura 10, as amostras sem adição de cloreto obtiveram os maiores resultados,
enquanto as com 5% apresentaram menor resistência à conpressão em todas as idades. Isto demonstra
que a adição de cloreto na água de amassamento contribuiu para a diminuição da resistência à compressão
do concreto. Provavelmente os teores de cloreto adicionados na água de amassamento interferiram na
microestrutura do concreto.

14
Segundo Yuan et al. (2009), quando íons cloreto penetram em uma estrutura, parte deles é capturada pelos
produtos de hidratação do cimento formando sais, reduzindo a porosidade do concreto.
A Figura 11 correlaciona os resultados de resistividade elétrica superficial com os valores obtidos nos
ensaios de resistência à compressão simples, por idade e por tipo de amostra.

Resistividade X Resistência à Compressão


6,00
Resistividade elétrica superficial

5,00

4,00

3,00
(kΩ.cm)

2,00

1,00

0,00
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00
Resistência à compressão (MPa)

0% de adição de Cl- 3% de adição de Cl- 5% de adição de Cl-

Figura 11 – Valores de resistividade eletrica superficial versus resistência à compressão simples

Os resultados mostrados na Figura 11 apresentaram uma boa relação entre a resistividade elétrica
superficial e a resistência à compressão simples. Quanto maiores os valores de resistividade elétrica
medidos, maiores foram os resultados dos ensaios de resistência à compressão. Medeiros-Junior (2014)
também estudou a correlação entre a resistividade elétrica e a resistência à compressão simples e
encontrou uma boa correlação entre os mesmos.
A melhor correlação foi obtida pelas amostras com 5% de adição de íons cloreto, obtendo-se um
coeficiente de determinação R²=0,975, seguido das amostras com 3% com R² = 0,969 e daquelas sem
adição onde se obteve o R²=0,867. Pode-se concluir que quanto maior foi a adição de cloreto à água de
amassamento utilizada para a confecção dos corpos de prova utilizados para este estudo, menor foi o valor
da resistividade elétrica superficial e mais baixo foi o resultado da resistência à compressão.

3.3 – Resultados dos ensaios de absorção de água por capilaridade, por imersão e da determinação dos
índices de vazios
Os resultados dos ensaios de absorção de água por capilaridade são mostrados na Figura 12 e os valores
encontrados através do ensaio de absorção de água por imersão e determinação do índice de vazios são
apresentados no Quadro 7 respectivamente. Estes ensaios tiveram início aos 28 dias de idade das amostras
investigadas, sendo inicialmente secos em estufa até a constância de massa e posteriormente foram
expostos à ação da água, como descrito anteriormente no presente estudo. Os resultados apresentados
correspondem aos valores médios encontrados em cada conjunto de corpo de prova ensaiado.

15
1,00
0,90
0,80
Absorção por capilaridade

0,70
0,60
0,50
(g/cm²)

0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Tempo do ensaio (h)

0% de adição de Cl- 3% de adição de Cl- 5% de adição de Cl-

Figura 12 – Resultados dos ensaios de absorção de água por capilaridade até 72 horas de exposição

Conforme mostra a Figura 12, as amostras sem adição de cloreto tiveram os maiores resultados de
absorção de água por capilaridade, ou seja, absorveram mais água que as amostras que tiveram adição de
cloreto em sua mistura. Por sua vez, as amostras que absorveram menos quantidade de água neste ensaio
foram as que tiveram a adição de 5% de íons cloreto.
Quadro 7 – Valores de absorção de água por imersão e índice
Tipo de amostra Absorção por imersão (%) Índice de vazios (%)
0% de adição de íons cloreto 4,25 9,90
3% de adição de íons cloreto 3,76 8,81
5% de adição de íons cloreto 2,86 6,70

O Quadro 7 aponta que os resultados de absorção de água no ensaio realizado com a imersão dos corpos
de prova em água também foram maiores quanto menor o teor de adição de cloreto na mistura. Ou seja, as
amostras com 5% de íons cloreto tiveram a menor absorção de água no ensaio por imersão, seguido das
amostras com 3% e 0% de adição respectivamente.
O índice de vazios obtido para cada tipo de amostra corrobora para o resultado apresentado, ou seja,
quanto maior o índice de vazios encontrado, maior foi a absorção de água por imersão e por capilaridade.
Como se pode observar na Figura 12 conjuntamente com o Quadro 7, os resultados da amostra sem adição
de cloreto obtiveram os maiores resultados de absorção de água, tanto por capilaridade, quanto por
imersão, assim como o índice de vazios também foi maior, enquanto os menores resultados foram das
amostras com 5% de adição.
Conforme exposto anteriormente, estes resultados provavelmente decorrem da caputura de íons cloreto
livres pelos produtos de hidratação do cimento formando-se sais, como afirmou Yuan et al. (2009), que
contribui para a redução da porosidade do concreto.

16
4. Conclusões

Os resultados dos ensaios realizados até as amostras completarem 63 dias mostraram que há uma boa
correlação entre a presença de íons cloreto e as medidades de resistividade. Comparando-se os resultados
obtidos pelos ensaios de resistividade elétrica superficial em cada tipo de amostras (0%, 3% e 5% de adição
de íons cloreto em massa de cimento (g)), quanto maior foi o teor de íons cloreto adicionado ao concreto,
menor foi o resultado da resistividade elétrica do concreto em todas as idades. Esta correlação também foi
encontrada por Abreu (1998), Lecieux et al. (2015) e Yu et al. (2017).
Os valores medidos nas amostras com apenas 01 dia de idade apresentaram resultados muito próximos
entre os corpos de prova com 0% de adição de cloreto e daqueles com 3% de adição, havendo uma maior
diferença em relação às amostras com 5%, mas ainda assim as amostras sem adição tiveram o menor valor.
Nesta idade, o processo de hidratação do cimento está em fase inicial e os valores de resistividade elétrica
tendem a ser significativamente mais baixos, havendo um aumento gradativo na medida em que há o
progresso da hidratação.
Os valores medidos de resistividade elétrica superficial até 63 dias de idade mostraram concretos com
probabilidade alta e muito alta de desenvolvimento de corrosão das armaduras. Essas probabilidades
foram maiores quanto maior a adição de íons cloreto.
Analisando os resultados dos ensaios de resistência à compressão e comparando-os com os valores obtidos
de resistividade elétrica, foi possível estabelecer uma boa correlação entre eles. Quanto maiores os valores
de resistividade elétrica, maiores foram os resultados dos ensaios de resistência à compressão.
Os resultados dos ensaios de resistência à compressão simples mostraram também que quanto maior foi o
teor de adição de cloreto à água de amassamento utilizada para a confecção das amostras, menor foi o
valor da resistividade elétrica superficial e da resistência à compressão. Possivelmente o teor de
concentração de íons cloreto utilizados na moldagem interferiu na microestrutura do concreto. De acordo
com Yuan et al. (2009), quando íons cloreto penetram em uma estrutura, parte deles é capturada pelos
produtos de hidratação do cimento formando sais, reduzindo a porosidade do concreto.
Avaliando os resultados dos ensaios de absorção de água por capilaridade e por imersão, as amostras com
5% de íons cloreto tiveram a menor absorção de água no ensaio por capilaridade e imersão, seguido das
amostras com 3% e 0% de adição respectivamente. Ou seja, quanto maior o teor de cloreto menor foi a
absorção de água. Os índices de vazios obtidos corroboram com a explicação dos valores de absorção de
água, ou seja, quanto maior foi o índice de vazios, maior foi a absorção de água por imersão e por
capilaridade. A captura de íons cloreto livres pelos produtos de hidratação do cimento, formando sais,
contribui para a redução da porosidade do concreto, conforme afirma Yan et al. (2009).

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