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Análise da Produção de Cimento Portland

Analysis of Portland Cement Production

Marco de Moura Gomes ¹


Maria Luiza Queiroz dos Santos ²
Jacqueline Andrade Nogueira³

Resumo: Este trabalho tem como objetivo descrever o processo produtivo do Cimento Portland, analisando duas
marcas selecionadas existentes no mercado. Através da análise da produção concluiu-se que a produção ideal do
produto é definida por inúmeros parâmetros, como composição química da matéria prima, teor das adições
utilizadas no processo e a análise da produção. O estudo abordou o teor de adições permitido pela legislação
brasileira e como cada um dos minerais adicionados afeta a qualidade do produto final. É possível notar a
extrema importância das reações químicas e seu balanceamento correto, quantidades de produto adequadas e
temperatura em que ocorrem as etapas do processo.

Palavras-chave: Cimento Portland, calcário, produção de cimento.

Abstract:

This work aims to describe the productive process of Portland Cement, analyzing two selected brands in the
market. Through the analysis of the production it was concluded that the ideal production of the product is
defined by numerous parameters, such as chemical composition of the raw material, content of additions used in
the process and analysis of production. The study addressed the content of additions permitted by Brazilian
legislation and how each of the added minerals affects the quality of the final product. It is possible to note the
extreme importance of the chemical reactions and their correct balancing, adequate product quantities and
temperature at which the process steps occur.

Keywords: Portland cement, limestone, cement production.

1. INTRODUÇÃO

1.1. Generalidades

De acordo com o portal do concreto (2008), cimento é uma palavra originada do latim
caementu, que significa pedra proveniente de rochedos. A história do cimento passa pelas
Pirâmides do Egito, que utilizaram em sua construção um tipo de gesso calcinado; passa por
Roma e Grécia antigas que utilizaram na construção dos seus monumentos uma massa gerada
pela hidratação de cinzas vulcânicas, mas somente ganhou forma em 1956 pelas mãos do
_____________________________________________

1
Graduando em Engenharia de Minas das Faculdades Kennedy, markodemoura@hotmail.com.
2
Graduando em Engenharia de Minas das Faculdades Kennedy, maluqueiroz@hotmail.com.
3
Engenheira de Minas pela Universidade Federal de Minas Gerais, Mestrado e Doutorado em Engenharia
Metalúrgica e de Minas pela Universidade Federal de Minas Gerais. Formação Pedagógica para Formadores da
Educação Profissional pela Universidade do Sul de Santa Catarina. Engenharia de Segurança do Trabalho pelas
Faculdades Kennedy. jandradenogueira@yahoo.com.br.

1
engenheiro inglês John Smeaton, que procurava um aglomerante que endurecesse, mesmo em
presença de água para construir o Farol de Eddystone na Inglaterra. Em suas tentativas,
verificou a mistura calcinada de calcário e argila quando seca, tornava-se tão resistente quanto
às pedras utilizadas nas construções. Após a descoberta o construtor inglês Joseph Aspdin,
conseguiu um material pulverulento, no qual ele misturava certa quantidade de água,
produzindo uma argamassa. E após um tempo, já seco, notou que a mistura gerava um
material de dureza parecida com as pedras utilizadas nas edificações. Após vários estudos, o
construtor patenteou este pó em 1824, com o nome de cimento Portland, devido às
semelhanças de seu produto final, com as rochas que eram extraídas nesta península inglesa
Portland. No pedido de patente constava que o calcário era moído com argila, em meio
úmido, até se transformar em pó impalpável. A água era evaporada pela exposição ao sol ou
por irradiação de calor através de cano com vapor. Os blocos da mistura seca eram calcinados
em fornos e depois moídos em um pó bem fino.

A partir desse dos princípios básicos desse produto o cimento Portland atual foi constituído,
resultante de pesquisas que determinavam as proporções adequadas da mistura, o teor de seus
componentes, o tratamento térmico requerido e a natureza química dos materiais. O cimento
Portland desencadeou uma verdadeira revolução na construção, pelo conjunto inédito de suas
propriedades de moldabilidade, hidraulicidade, elevadas resistências aos esforços e por ser
obtido a partir de matérias-primas relativamente abundantes e disponíveis na natureza.
(LIMA, 2011).
A importância desse material cresceu em escala geométrica se tornando um dos principais
materiais para construção civil.
De acordo com Coimbra (2006) o cimento Portland é uma das substancias mais consumidas
no mundo pelo homem, muito utilizado em obras civis, o cimento pode ser empregado tanto
em peças urbanas e edificações como em pontes e tubos de concreto.

Segundo BASÍLIO, 1983, a descoberta de novos aditivos, como a sílica ativa, possibilitou a
obtenção de concreto de alto desempenho (CAD), com resistência à compressão até 10 vezes
superiores às até então admitidas nos cálculos das estruturas. Obras cada vez mais arrojadas e
indispensáveis, que propiciam conforto, bem-estar como: (barragens, pontes, viadutos,
edifícios, estações de tratamento de água, rodovias, portos e aeroportos) e o contínuo
surgimento de novos produtos e aplicações faz do cimento um dos produtos mais consumidos
da atualidade, conferindo uma dimensão estratégica à sua produção e comercialização.

O cimento Portland é a denominação mundial para o produto primário utilizado tanto na


construção civil quanto em outras áreas, sendo um produto de grande importância para
economia mundial. Selecionado conforme a necessidade de cada produção, o cimento
Portland possui cerca de 11 (onze) variações disponíveis no mercado e aprovados pelas
normas nacionais. Devido as suas características é o material mais consumido pela sociedade
superando apenas o consumo de água.
Além da importância econômica a produção de cimento deve atender exigências ambientais,
respeitando os requisitos legais as empresas devem priorizar a preservação dos recursos
naturais e desenvolver ações para minimizar os impactos ambientais, como recuperação da
área degradada, estabilização e recomposição do relevo, monitoramento de vazão entre outros
(SINC,2008)

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1.2 Objetivo do Trabalho

1.2.1 Objetivo Geral

Descrever a produção de cimento Portland partindo da extração de sua principal matéria


prima o calcário, analisando o processo de produção de marcas selecionadas existentes no
mercado e diferenciando-as quanto às suas características de produção.

1.2.2 Objetivos Específicos:

 Determinar melhores métodos para extração de matérias primas.


 Descrever o processo ideal para produção.
 Estabelecer índice referencial de materiais aditivos para melhor qualidade de cada
variação de cimento Portland segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT).

2. DESENVOLVIMENTO

De acordo com a Indústria Brasileira de Cimento (2012) o cimento Portland é um material


diretamente ligado ao desenvolvimento da construção civil, devido a sua grande utilização em
várias etapas da produção. O cimento pertence à classe de aglomerantes hidráulicos, este tipo
de material ao entrar em contato com a água sofre um processo físico-químico, tornando-se
um elemento sólido com grande resistência a compressão, água e sulfatos.

Segundo a norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 5732 (1991), o cimento
Portland Comum é obtido pela moagem de Clínquer Portland, onde durante a operação é
adicionado quantidade necessária de uma ou mais formas de sulfato de cálcio. Durante a
moagem é permitido adicionar a essa mistura materiais pozolânicos, escória granuladas de
alto forno e outros materiais carbonáticos, nos teores especificados sendo possível obter
variações do produto inicial. No mercado existem onze tipos de cimento produzidos a partir
do produto inicial base (Clínquer + Gesso) e adicionais de acordo com a necessidade do
produto, ver Tabela 1.

Tabela 1 – Composição dos tipos de cimento Portland


Cimento
Clínquer + Escória Material
Portland Tipo Calcário (%)
Gesso (%) Siderúrgica (%) Pozolânico (%)
(ABNT)
CP I Comum 100 - - -
CP I – S Comum 95-99 1-5 1-5 1-5
CP II – E Composto 56-94 6-34 - 0-10
CP II – Z Composto 76-94 - 6-14 0-10
CP II – F Composto 90-94 - - 6-10
CP III Alto-forno 25-65 35-70 - 0-5
CP IV Pozolânico 45-85 - 15-50 0-5
Alta resistência
CP V - ARI 95-100 - - 0-5
inicial
Fonte: ABNT, 2009.

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2.1 Extração da matéria prima

A primeira etapa da produção é a extração das matérias primas onde, calcário e argila,
matérias primas principais, são retiradas em lavra a céu aberto ou subterrânea.

Para produção do cimento “principal” o Portland, aditivos como minério de ferro, areia e
gesso são utilizados respectivamente para suprir as deficiências da argila frente a alguns de
seus componentes que se mostram insuficientes ao processo.

2.1.1 Calcário
Calcário é uma rocha sedimentar que possui minerais com quantidades acima de 30%
de carbonato de cálcio (CaCO3). A cal, que é a parte principal na fabricação do cimento,
encerra apenas 56% do total da matéria bruta, no qual a cada tonelada de calcário só se
aproveitam 560 kg.

A maior parte da extração de calcário no mundo é realizada através de lavra a céu aberto,
realizando as operações que incluem: remoção do capeamento, perfuração, desmonte por
explosivos e transporte até a usina de processamento. Após a extração, o calcário é
direcionado para as centrais de britagem para obter dimensões adequadas para o processo
industrial, o objetivo é obter blocos com tamanhos inferiores a 90 mm.

2.1.2 Argila
A argila é um mineral que apresenta tamanho inferior a 2 µm em uma rocha sedimentar, é
composta de silicatos de alumínio hidratados, óxidos de ferro, alumínio e silício, essenciais
para fabricação do cimento. A exploração econômica da argila pode impactar negativamente
no ambiente caso não exista um plano de lavra viável, ocasionando degradação no solo (cavas
abandonadas), acúmulo de lixo, desmatamento, assoreamento, poluição do ar, além da
possibilidade de esgotamento da jazida.

2.1.3 Gesso
O gesso é encontrado na natureza em jazidas sedimentares de evaporitos sob a forma de
Gipsita (CaSO4.2H2O), Bassanita (CaSO4.1/2H2O) e Anidrita (CaSO4). Sendo a Gipsita a
mais usada na indústria cimenteira. O gesso é usado no cimento para regular o tempo de pega,
ou seja, mantê-lo trabalhável por mais tempo, o que ocorre na medida em que este forma uma
espécie de película que envolve as partículas do cimento, retardando seu endurecimento. Sua
adição é realizada no final do processo.

2.2 Formação do Produto Base

2.2.1 Pré-Homogeneização/Moagem
Na pré-homogeneização o material britado é empilhado em camadas com o objetivo de
minimizar os efeitos das variações na composição química da matéria prima.

A armazenagem do material extraído pode ser combinada com uma função de pré-
homogeneização (MILANEZ, 2009). É realizada a mistura ideal das matérias primas em
camadas que são controladas por balanças dosadoras. Nesta etapa a dosagem química é
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realizada com objetivo de controlar as propriedades químicas e granulometria do material.
Após a etapa o produto é enviado analisado seguindo para a estocagem.

A farinha de “cru” resultante da mistura de calcário e argila é direcionada para moagem


utilizando moinho de bolas, rolo ou barras onde ocorre a mistura e fragmentação das matérias
primas com o objetivo de reduzir as partículas em aproximadamente 0,050 mm.

2.2.2 Homogeneização
Nesta etapa o material tem sua homogeneização assegurada para que possa permitir uma
perfeita combinação dos elementos formadores do clínquer, que foram executadas em silos
verticais. O controle da granulometria é feito por separador de partículas, que separa os grãos
por granulometria, onde os inadequados retornam para o processo de moagem até atingirem
os parâmetros pré-estabelecidos. Para garantir a qualidade do cimento, os ensaios na farinha
crua são realizados a cada 3 horas para análise e controle das propriedades desejadas.

Segundo Sousa (1998), a produção do clínquer é a etapa mais crítica e complexa em termos
de qualidade e custo do produto final, o mesmo é fonte de Silicato tricálcico (3CaO·SiO2) e
Silicato Dicálcico (2CaO·SiO2), estes compostos acentuam o ligante hidráulico e estão
diretamente relacionadas com a resistência do produto após a hidratação. A composição para
confecção do clínquer é constituída por 80% a 90% de calcário, 5% a 20% de argila e
pequenas quantidades de minério de ferro. A composição pode variar em função de
fabricante, tipo de cimento a ser produzido, e jazidas disponíveis para extração da matéria
prima.

Antes entrar no forno o produto “cru” passa pela torre de ciclones, onde é iniciada a fase de
clinquerização, onde o equipamento aproveita o calor dos gases provenientes do forno e
promovem o aquecimento inicial do material. Depois de seca, homogeneizada e armazenada
em silos próprios, a farinha vai para a etapa de pré-calcinação na torre de ciclones para
facilitar o processo no interior do forno. Na torre de ciclones, a temperatura da farinha
aumenta à medida que se aproxima do forno.

2.2.3 Cozedura
Com as transformações físico-químicas ocorridas na torre de ciclones devido às variações
térmicas, o produto “cru” dá lugar à farinha, produto apto para entrar no forno. O forno é
cilíndrico, revestido por tijolos refratários e tem uma leve inclinação para permitir o fluxo do
material no seu interior. Quando entra no forno, a farinha se desloca até o fim passando pelo
processo de clinquerização, onde o produto fica com aspecto de bolotas escuras. Nesta etapa
as características do material são alteradas e a mistura é calcinada até atingir
aproximadamente 1400°C estado de fusão incipiente, gerando o clínquer (SOUSA, 1998).

2.2.4 Resfriamento

Para completar a etapa de clinquerização um resfriador é utilizado na redução da temperatura


do material em 80 °C. Tendo pronto o principal composto do cimento (clínquer) o material é
enviado novamente para silos de armazenamento onde aguarda ser encaminhado para o
moinho de cimento que é responsável pela mistura do Clínquer e Gesso que gera o produto
final, Cimento Porland Comum.

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2.3 Adições e variações do produto

No Brasil são comercializados 11 tipos de cimento, embora todos sejam indicados para uso
geral na construção civil, há recomendação de uso para cada um. Conforme visto
anteriormente o cimento é composto principalmente do material clínquer, uma mistura de
calcário, argila e componentes químicos, que forma um “material base” para diversificações
do produto conforme a adição de outros materiais, como: gesso, que aumenta o tempo de
pega; escória, que aumenta a durabilidade na presença de sulfato; argila pozolânica, que
confere maior impermeabilidade ao concreto; e o próprio calcário, que, muitas vezes, é
utilizado em maior quantidade para reduzir o custo do cimento.

Cada um dos materiais aditivos passa por uma balança dosadora que controla a quantidade
adicionada ao moinho. O sistema de dosagem é semelhante ao apresentado na moagem de
cru. Todos os materiais são dosados em um único transportador de alimentação do moinho. A
alimentação é feita diretamente a um moinho de bolas.

Para cada tipo de cimento é determinado o tipo de adição a ser utilizado e a quantidade devida
seguindo as normas ABNT. A Tabela 2 abaixo apresenta os tipos, quantidades e principal
recomendação de utilização para os tipos de cimento comercializados no Brasil.

Tabela 2 – Variações e indicações de Uso.

Tipo de Produto Sigla Adições Características de uso


Adequado para uso em construções
de concreto em geral quando não há
Cimento Portland Comum CP I Não possui adições. exposição a sulfatos do solo ou de
águas subterrâneas.

Adequado para uso em construções


de concreto em geral, material
≅ 5% material pozolânico em
Cimento Portland Comum CP I-S adicionado garante menor
massa.
permeabilidade ao material.

Recomendado para estruturas que


6% a 34% de escória, pode
exijam um desprendimento de calor
conter adição de material
Cimento Portland Composto CP II-E moderadamente lento ou que possam
carbonático no limite máximo
ser atacadas por sulfatos.
de 10% em massa.
Recomendado para obras
6% a 14% de material subterrâneas, principalmente com
Cimento Portland Composto CP II-Z pozolânicoe até 10% de presença de água, inclusive
material carbonático. marítimas.

Ideal para utilização em estruturas de


concreto armado em geral. Não é o
6% a 10% em teor de
Cimento Portland Composto CP II-F mais indicado para aplicação em
fíler calcário
meios muito agressivos.

Ideal para estruturas em geral Mas é


particularmente vantajoso em obras
Cimento Portland de Alto Escória no teor de 35% a 70% de concreto-massa, tais como
CP III
Forno em massa barragens, peças de grandes
dimensões.

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É altamente eficiente em argamassas
de assentamento e revestimento, em
Cimento Portland alto teor de pozolana, entre 15 concreto magro, concreto armado,
CP IV
Pozolânico e 50% concreto para pavimentos e solo-
cimento.

É largamente utilizado em produção


Não há adições. O clínquer
industrial de artefatos, onde se exige
utilizado aqui possui
Cimento Portland de Alta desforma rápida, concreto protendido
CPV-ARI quantidades diferenciadas de
resistência Inicial pré e pós-tensionado, pisos
calcário e argila, além de uma
industriais e argamassa armada.
moagem mais fina.
Resistência aos meios agressivos
sulfatados, tais como os encontrados
Cimento Portland Resistente nas redes de esgotos de águas
RS -
a Sulfatos servidas ou industriais, na água do
mar e em alguns tipos de solos.

Tem a propriedade de retardar o


desprendimento de calor em grandes
Cimento Portland de Baixo
BC - peças, evitando o aparecimento de
Calor de Hidratação
fissuras de origem térmica.

A coloração é atingida pela Pode ser usado como cimento


utilização de matérias-primas estrutural ou não estrutural em
Cimento Portland Branco rejuntes de cerâmicas.
CPB com baixo teor de manganês e
ferro, além de caulim no lugar
da argila.
Fonte: ABNT, 2009.

2.3.1 Escória

A escória de alto forno é um resíduo não metálico obtido a partir da produção de ferro gusa. A
mesma possui propriedades aglomerantes ativadas pelo hidróxido de cálcio (Ca(OH)2)
proveniente da hidrólise do CaO. Dependendo do tipo de cimento a ser obtido pode ser
adicionado com o intuito de ajudar na resistência final do produto.

A adição de escória no cimento gera maior impermeabilidade e durabilidade ao produto, além


de baixo calor de hidratação, assim como alta resistência à expansão devido à reação álcali-
agregado. A escória misturada ao cimento gera um material menos poroso e mais durável.

2.3.2 Material Pozolânico

Na sua origem as pozolanas são rochas de origem vulcânica, constituídos por uma mistura
mais ou menos homogênea de materiais argilosos, siltes e areias, com maior ou menor
agregação, resultantes da alteração pelos agentes atmosféricos de materiais vulcânicos ricos
em sílica não cristalina, com destaque para a pedra-pomes. (WIKIPÉDIA, 2017)

Os materiais pozolânicos, ao contrário das escórias de alto-forno, não reagem com a água da
forma como são obtidos. Porém, quando divididos, reagem com o hidróxido de cálcio em
presença de água e na temperatura ambiente, dando origem a vários compostos com
propriedades aglomerantes. No cimento os materiais pozolânicos modificam a microestrutura
do concreto, diminuindo a permeabilidade, a difusibilidade iônica e a porosidade capilar,
aumentando a estabilidade e a durabilidade do concreto. Tais fatores melhoram o desempenho
do material perante a ação de sulfatos e da reação álcali-agregado. Outras propriedades são

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também alteradas, incluindo a diminuição do calor de hidratação, o aumento da resistência à
compressão em idades avançadas e a melhor trabalhabilidade.

2.3.3 Materiais Carbonáticos

Os materiais carbonaticos são derivados de rochas sedimentares moídas cuja composição


primária é carbonatos tais como o próprio calcário. Contribui para tornar a mistura mais
trabalhável, porque os grãos ou partículas desses materiais moídos têm dimensões adequadas
que se alojam entre as partículas dos demais componentes do cimento, funcionando como um
lubrificante.

2.4 Produto Final

O produto final é apresentado em diversas variações com características específicas de


aplicação conforme mostrado na Tabela 2. O componente “base” para os 11 tipos de cimento
apresentado é obtido através do Clínquer Portland + Gesso. Da composição química do
Clínquer são derivadas as propriedades aglomerantes e hidráulicas dos diferentes tipos de
cimento. O Gesso é responsável por determinar o processo de endurecimento do produto
conforme exigência.

O mercado do cimento no Brasil é atualmente composto por 24 grupos cimenteiros, nacionais


e estrangeiros, com 99 plantas produzindo, espalhadas por todas as regiões brasileiras.
(CIMENTO.ORG). A figura 1 mostra as principais empresas com participação no grupo
industrial.

Figura 1 – Participação por Grupo Industrial

Fonte: SNIC, 2016.

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2.5 Normas Técnicas

Tendo 11 diversificações do produto no mercado as determinações de quantidade e qualidade


que vão constituir as variações do cimento Portland são determinadas pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A ABNT prepara e divulga as normas técnicas que
devem ser usadas como padrão de referência para características, propriedades mínimas e
métodos de ensaio, empregados para verificar se esses cimentos atendem a exigência das
respectivas normas.

3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Segundo a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) existem no Brasil 56 fábricas


de cimento Portland e todas atendem as normas exigidas pela ABNT, a ABCP é responsável
pela fiscalização dessas normas atribuindo um selo de qualidade com as iniciais da entidade,
informando ao consumidor que aquele produto está de acordo com as normas técnicas
brasileiras.

A Tabela 3 apresenta os valores da composição dos cimentos Portland comum e composto


apresentados pela ABNT, e nas Tabelas 4 e 5 foram analisados dados de duas empresas,
denominadas Empresa X e Empresa Y para verificação das propriedades físicas e químicas
dos seus principais produtos de cimento Portland.

Tabela 3 – Composição dos Cimentos Portland Comum e Composto


Composição (% em massa)
Tipo de Escória
Clínquer Material Material Norma
cimento Sigla granulada de
+ pozolânico carbonático Brasileira
portland alto-forno
gesso (sigla Z) (sigla F)
(sigla E)
CP I 100 - - -
Comum NBR 5732
CPI – S 99-95 1-5 1-5 1-5
CP II – E 94-56 6-34 - 0-10
Composto CP II – Z 94-76 - 6-14 0-10 NBR 11578
CP II – F 94-90 - - 6-10
Fonte: ABCP, 2017.

Tabela 4 – Dados analisados da Empresa X


Tipo de Cinquer
Escória Material Material
cimento Sigla +
granulada pozolânico Carbonático
Portland Gesso %
CP I 100 - - -
Comum
CP I - S 93-95 - 3 -
CP II-E 93-57 15-29 - 4-6
Composto CP II-Z 95-73 - 7-10 4-6
CP II -F 92-91 - - 6-8
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

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Tabela 5 – Dados analisados da Empresa Y
Tipo de
Cinquer + Escória Material Material
cimento Sigla
Gesso granulada pozolânico Carbonático
Portland
CP I 99,98 - - -
Comum
CP I - S 94-95 - 1-5 -
CP II-E - 6-30 - 0-10
Composto CP II-Z - - 6-14 0-10
CP II -F 94-90 - - 6-10
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Nos dados apresentados pode-se verificar que mesmo com diferença de quantidade dos
materiais utilizados em cada empresa, os produtos não se alteram, pois estão dentro das
normas exigidas pela ABNT.

4. CONCLUSÃO

Foram apresentadas as etapas de produção do cimento Portland focando em seus aditivos e


processos industriais. Através da análise da produção concluiu-se que a produção ideal do
produto é definida por inúmeros parâmetros, como composição química da matéria prima,
teor das adições utilizadas no processo e a análise da produção. O estudo abordou o teor de
adições permitido pela legislação brasileira e como cada um dos minerais citados afeta a
qualidade do produto final. Além disso, foi abordado a necessidade da análise química e testes
de ensaio para que o produto chegue ao mercado com o teor certo de minerais. Focando nas
operações unitárias durante o processo, é possível notar a extrema importância das reações
químicas e seu balanceamento correto, quantidades de produto adequadas e temperatura em
que ocorrem as etapas do processo.

No Cimento Portland Comum concluiu-se que a produção é realizada essencialmente através


de Calcário, argila e gesso e que através do amplo domínio científico e tecnológico foi
desenvolvida a base de todas as outras diversificações, com o objetivo inicial de atender a
casos específicos. Porém, mesmo sendo base do produto, o cimento Portland Comum é pouco
utilizado no país devido ao seu alto teor de clínquer sendo prejudicial ao meio ambiente e
possuindo alto custo no mercado.

Enfim, conclui-se que apesar deste material ser usado quase que exclusivamente na
construção civil todo seu processo produtivo é desenvolvido através de conhecimentos da
Engenharia de Minas, e que os mesmos são de suma importância para a entrega do produto
final de qualidade.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Livros/Artigos

ANDRADE, V.D. Processo de exploração da rocha calcária para fabricação de cimento no


Oeste Potiguar. 2014. 58p. Monografia (Bacharelado em Ciência e Tecnologia) -
Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, 2014.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. NBR 14724: Informação e


documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2002. 6p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5732: Cimento Portland


comum - Classificação. Rio de Janeiro, 1991.

BARDOSA, L. A. O processo Produtivo do Cimento Portland. 2011. 39p. Monografia (Curso


de Engenharia de Recursos Minerais) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2011.

BASILIO, F. A. – Cimento Portland. Estudo Técnico. 5ª ed. São Paulo, ABCP, 1983.

COIMBRA, M. A. Libardi, W. and Morelli, M. R. Estudo da influência de cimentos na


fluência em concretos para a construção civil. Cerâmica, Mar 2006, vol.52, no. 321, 104p.

INDÚSTRIA BRASILEIRA DE CIMENTO: Base para construção do


desenvolvimento/Confederação Nacional da Indústria. Associação Brasileira
De Cimento Portland. – Brasília: CNI, 2012. 58p.

LIMA, B. A. O processo produtivo do cimento Portland. 2011.38p. Monografia apresentada ao


Curso de Especialização em Engenharia de Recursos Minerais – UFMG, Belo Horizonte, 2011.

MILANEZ, B. A coincineração de resíduos em fornos de cimento: Riscos para a saúde e o


Meio ambiente, Dez 2009, Vol.14. 2152p.

NEVILLE, A.M. Properties of Concrete, 4th Ed., Pearson Education Limited, England, 2002.

PEDROSA, B.J.F. Análise Operacional do Desmonte de Calcário. 2014.43p. Trabalho de


Conclusão de Curso (Lavra de minas) - Universidade Federal de Alfenas, Poços de Caldas,
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Material da Internet

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utilização do cimento Portland. São Paulo. Disponível em: <http://www.abcp.org.br/cms/wp-
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A versatilidade do cimento Brasileiro: Características de cada tipo de cimento. Brasília, 2010.
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Disponível em: <http://cimento.org/a-versatilidade-do-cimento-brasileiro/>. Acesso em: 28
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<http://www.vcimentos.com.br/htmsptb/Produtos/Cimento_procFabricacao.html> Acesso em:
15 Abr. 2017.

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