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Processo do Trabalho – Conceitos e Princípios

O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários
e na jurisprudência dos Tribunais.

Aula 1 – Processo do Trabalho/ Processo Civil

Sumário
1. Estudo conjunto de Processo Civil e Processo do Trabalho ................................... 2
1.1. Curso de “A a Z” ................................................................................................ 2
1.2. Bibliografia ........................................................................................................ 3
2. Noções de teoria geral do direito indispensáveis ao estudo do Direito Processual
...............................................................................................................................4
2.1. Relação jurídica e situação jurídica...................................................................4
2.2. Direito subjetivo e direito potestativo.............................................................. 5
2.3. Teoria do fato e ato jurídico ............................................................................. 6
2.4. Natureza jurídica; institutos; categorias jurídicas ............................................ 8
3. A tríade do direito processual: jurisdição, ação e processo ................................... 9
3.1. Conceito (perspectiva normativa e científica) e natureza jurídica do Direito
Processual 10
3.2. O caráter público e as novas tendências do Direito Processual –
“consensualismo” ................................................................................................................. 11
4. Fontes do Direito Processual ................................................................................ 12
4.1. Fontes materiais X fontes formais .................................................................. 12
4.2. Hierarquia e conflito entre as fontes .............................................................. 22
5. Interpretação, integração e aplicação do Direito Processual .............................. 23
5.1. Norma X enunciado normativo. A norma do precedente .............................. 23
5.2. In claris cessat interpretatio? .......................................................................... 24
5.3. Métodos de interpretação: literal (gramatical); lógico-sistemático;
teleológico; histórico ............................................................................................................ 24
5.4. Resultado da interpretação: declarativa; extensiva; restritiva. Interpretação
estrita. 25
5.5. Criatividade interpretativa e lógica da subsunção ......................................... 25

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Prof. Felipe Bernardes (Juiz do Trabalho – TRT 1ª Região)


Contato: felipebernardes@cursoenfase.com.br
Instagram: @proffelipebernardes

(Bloco 01)
1. Estudo conjunto de Processo Civil e Processo do Trabalho

É um curso de processo do trabalho e processo civil que, embora sejam disciplinas


diferentes, no Curso Ênfase foi feita a escolha de juntar essas matérias para que os alunos
otimizem seu tempo. Isso porque os grandes temas do Processo do Trabalho atualmente
passam pelo estudo do Processo Civil, especialmente com o Novo Código que entrou em vigor
em 2016. Os grandes temas: coisa julgada, precedentes, teoria geral da execução, teoria geral
dos recursos, etc. Há uma infinidade de temas que envolvem ambas matérias com pequenas
nuances do Processo do Trabalho.
Sendo assim, não faz sentido estudar um tema, p.ex. de precedentes, no Processo Civil
e, depois, o mesmo tema em Processo do Trabalho, o que leva um consumo maior do tempo
de estudo do aluno. Ex: se o aluno estudar 5h de Processo Civil e 5h de Processo do Trabalho
dá 10h. Sendo possível juntar as matérias estuda-se o mesmo tema em menos tempo, p.ex.
em 8h, dessa forma, otimiza-se o tempo e estuda-se o tema com maior profundidade.

1.1. Curso de “A a Z”

Será um curso completo, no qual o estudo de Processo do Trabalho será estudado


desde o início, desde a teoria geral do processo até mandado de segurança e procedimentos
especiais; ou seja, de acordo com o nível de profundidade dos concursos atuais de
magistratura trabalhista. O objetivo é preparar o aluno para os concursos também de MPT e
procuradorias que exijam conhecimento da disciplina.
Outro motivo é que, cada vez mais, o Processo do Trabalho e o Processo Civil se
aproximam, p.ex. o CPC/2015 exige a tentativa de conciliação antes do recebimento da
contestação e a diminuição de recursos contra decisões interlocutórias. Dessa forma, o
Processo Civil caminha em direção ao Processo do Trabalho e vice-versa, p.ex. as teorias das
lacunas axiológicas e ontológicas.

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Logo, tendo em vista esse caminhar recíproco é que é mais um motivo pelo qual
estudamos as duas matérias juntas e com profundidade. Há uma confluência, que é outro
tema a ser abordado neste curso mais à frente.

1.2. Bibliografia
A escolha de livros é relativa para cada aluno; o professor reporta-se à aula de dicas de
estudos que gravou em conjunto com o Prof. Joalvo.
Para Processo do Trabalho e Processo Civil, em que pese o gosto pessoal, o professor
indica três autores importantes:
A) Processo do Trabalho
 Mauro Schiavi – autor de posicionamento de vanguarda, inclusive ele é minoritário em
alguns pontos e o aluno deve ter cuidado porque ele não explica isso.
 Carlos Henrique Bezerra Leite – livro tradicional.
 Gustavo Felipe Barbosa Garcia – estilo de escrita sucinto e dinâmico, isso é bom para
concurso, pois não é prolixo.
B) Processo Civil
 Fredie Didier – é um autor muito influente, inclusive, na concepção do CPC/2015.
Entretanto, o autor possui um curso muito grande, com 5 volumes, e há muito
conteúdo para se ler e acaba sendo repetitivo em alguns momentos.
 Daniel Amorim Assumpção Neves – é um livro mais compacto, manual único, autor
didático, direto e objetivo.
 Alexandre Câmara – Desembargador do TJ/RJ e é indicado porque ele tem um livro
chamado “O novo processo civil brasileiro” o qual tem o mesmo título de um livro
antigo do Barbosa Moreira. Ele é conciso e aborda os temas com bastante
profundidade. Bom livro para começar a estudar o novo código. Entretanto, ele tem
posicionamentos minoritários, logo, o aluno deve tomar cuidado com isso.

Haverá outros autores que o professor irá citar durante as aulas, mas o aluno não deve
se preocupar em estudar a doutrina desses autores, tendo em vista que o professor irá passar
isso aos alunos.
Para lograr êxito nos concursos públicos, não é necessário decorar os posicionamentos
dos autores citados. O objetivo deste curso é aprofundar o tema.

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2. Noções de teoria geral do direito indispensáveis ao estudo do Direito Processual

Antes de estudar o direito processual, serão estudados alguns conceitos de teoria geral
do direito, que não são específicos do processo, mas que o aluno deve ter conhecimento. Este
primeiro bloco traz conceitos fundamentais que serão citados ao longo de todo o curso. É o
bloco do curso mais importante de todos. Lembrando que o objetivo não é decorar os
conceitos, mas sim, entendê-los.

2.1. Relação jurídica e situação jurídica


Relação jurídica é um vínculo que o direito estabelece entre sujeitos ou grupos
atribuindo poderes ou deveres a cada um. Outro conceito é que é uma relação social que sofre
a incidência da norma jurídica.
Ex: Um indivíduo está na rua e começa a conversar com um desconhecido; essa é uma
relação social, da qual pode ou não surgir uma amizade, mas essa relação não interessa para
o direito. Porém, suponhamos que uma pessoa esteja conversando com um desconhecido e
ele a agrida fisicamente, essa relação social passa a sofrer a incidência dos artigos. 186
e 927 do CC/2002, que é causar dano a outrem por conta de ato ilícito o dá ensejo à
responsabilidade civil. Logo, passa a ser uma relação social que interessa para o direito.

CC/2002: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
CC/2002: Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Nesse exemplo, o poder é o direito de exigir uma reparação por dano moral ou
material. De outro lado, o agressor tem um dever de indenizar. São poderes e deveres
correlatos.
Situação jurídica é um tema que o Fredie Didier refere-se a todo momento a situação
jurídica ativa e passiva. É um conjunto de deveres e direitos que o direto objetivo gera para
uma pessoa em determinadas circunstâncias.

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Ex: situação jurídica do empregado, o qual tem o dever de prestar serviços com ética,
zelo, cumprir horários, etc. e por estar nestas condições, ele tem o direito de receber os
salários e ser tratado com urbanidade pelo empregador.
Nesse exemplo, a situação jurídica do empregado é um feixe de direitos e obrigações.
Já no caso do empregador, há uma situação jurídica que é correlata, andam lado a lado. Sem
uma não existe a outra. Logo, quando há um vínculo entre duas situações jurídicas correlatas,
há também uma relação jurídica, que é uma relação social que envolve várias normas jurídicas,
p.ex. a relação de emprego. Sendo assim, há um terceiro conceito de relação jurídica.

2.2. Direito subjetivo e direito potestativo

Direito subjetivo é o poder de agir e de exigir de outra pessoa um determinado


comportamento. Logo, sempre envolve uma prestação, que pode ser: dar (dinheiro ou coisa),
fazer ou não fazer.
Ex: quando o empregado cobra um aviso-prévio do empregador, aquele está
exercendo um direito subjetivo que é a exigência do cumprimento da obrigação daquela
relação jurídica.
Isso ocorre porque há uma obrigação correlata do empregador, que é a prestação que
deve ser cumprida pelo sujeito passivo daquela relação jurídica.
O direito subjetivo traz a noção de pretensão (vinculado apenas a direitos subjetivos
e não aos direitos potestativos). Pretensão é a exigência de subordinação de um interesse
alheio a um interesse próprio.
O direito potestativo não envolve pretensão porque não há um sujeito passivo, não há
uma prestação. Sendo assim, conceitua-se o direito potestativo como o poder de influir na
esfera jurídica de outra pessoa sem que a outra pessoa possa fazer nada que não se sujeitar.
Ex: o direito potestativo de extinguir imotivadamente o contrato de trabalho. O
empregado não tem que fazer nada, apenas se sujeita à extinção daquela relação jurídica.
O direito potestativo, quando exercido, tem o condão de constituir, modificar ou
extinguir uma relação jurídica. Como no exemplo de dispensa citado acima, em que se dá a
extinção de uma relação jurídica.
Ex: um direito potestativo que cria uma nova relação jurídica é ação rescisória com o
objetivo de desconstituir uma coisa julgada que é o exercício do direito de ajuizar esta ação.
A outra parte, réu da ação rescisória, nada tem a fazer a não ser apenas se sujeitar. O réu não
pode dizer que não quer ser réu. A relação jurídica criada aqui neste caso é processual.

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2.3. Teoria do fato e ato jurídico

Fato é um acontecimento, p.ex. vento que passa na rua ou ar condicionado que sai o
vento frio. É um acontecimento do mundo fenomênico, da realidade material. Entretanto,
nem todo fato interessa ao direito.
O fato será relevante para o direito quando sofrer uma incidência da norma jurídica.
Fato jurídico sempre gera efeito jurídico. O fato jurídico se subdivide em:

1. FATO JURÍDICO
1.1. FATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO (STRICTO SENSU) – é um acontecimento que
não pressupõe vontade humana, p. ex. a chuva que cai, a morte natural. É um
evento da natureza. Ex: cai uma chuva torrencial em São João de Meriti e destrói o
fórum trabalhista daquele município e os autos físicos também foram destruídos.
Sendo assim, surgirá o direito à restauração de autos. Logo, a chuva como fato
jurídico em sentido estrito quando pode gerar um efeito jurídico processual.

1.2. ATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO (LATO SENSU) – é um acontecimento que


pressupõe a manifestação da vontade humana. Ex: contratos, testamentos,
promessa de recompensa, casamento, etc.

1.2.1. ATO JURÍDICO LÍCITO - que se subdivide em:


1.2.2.1. ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO – espécie da
manifestação da vontade humana na qual os efeitos jurídicos são
regulados pela lei de forma prévia, apriorístico ou anterior. Não há
espaço de negociação entre os interessados.
Ex: casamentos; são efeitos “ex legis”, ou seja, efeitos que
decorrem da lei.
Ex²: citação judicial, tendo em vista a necessidade da
manifestação da vontade humana pelo órgão judicial, os efeitos da
citação estão todos previstos na lei. O juiz ou o oficial de justiça não
podem dizer quais efeitos da citação se aplicam ou não. É um ato
processual jurídico em sentido estrito.
1.2.2.2. NEGÓCIO JURÍDICO – é um instituto que foi
remodelado com o CPC/2015 que é a chamada cláusula geral da

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negociação processual (art. 190), agora as partes podem definir os


interesses. O negócio jurídico é uma espécie de manifestação da
vontade humana defendida pelos agentes no qual há interesses em
jogo.
Ex: Contrato de compra e venda. É a manifestação do princípio
da liberdade e da autonomia privada – que a possibilidade de que as
partes têm de ditar seus próprios comportamentos; diferente das leis
impostas pelo Estado. Logo, os negócios jurídicos também são fontes
que regem as suas relações.
O negócio jurídico pode ser unilateral (Ex: testamento – os
efeitos jurídicos decorrem da parte interessada) ou bilateral (Ex: compra
e venda).
Atenção especial para os negócios jurídicos processuais, que
também podem ser unilaterais ou bilaterais.
Ex: Negócio jurídico no processo bilateral é a suspensão do
processo por 6 meses, postergar uma audiência.
Ex²: Negócio jurídico processual unilateral é renuncia prévia ao
direito de recorrer. Antigamente, a parte só poderia manifestar a
renúncia ao direito de recorrer após a publicação da decisão recorrida.
Mas, a partir do CPC/2015, a parte pode antes da sentença de mérito
manifestar que renuncia previamente o seu direito de recorrer, tendo
em vista que faz parte da manifestação livre de sua vontade (autonomia
da vontade). Em que pese não haver essa previsão legal no CPC, a parte
pode fazer isso por força da cláusula geral de negociação processual.

1.2.2.3. ATO FATO JURÍDICO – em que pese muitos autores não


a mencionarem, esta categoria foi construída pelo direito civil para as
situações em que os incapazes praticam atos que geram efeitos
jurídicos, que são socialmente aceitos, os quais dispensam ratificação.
Ex: Criança que compra doce (é um contrato de compra e venda),
mas dispensa ratificação. Se fosse levar em conta a teoria das nulidades,
este seria um ato nulo. Mas, por ser uma situação em que essa conduta
é socialmente aceita, não há necessidade que este ato seja considerado
nulo. Há necessidade de uma ação humana, mas o direito foca nos seus

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efeitos. O professor entende que essa categoria não existe no âmbito


processual.

1.2.2. ATO JURÍDICO ILÍCITO – vontade humana manifestada contrária ao direito,


p.ex. agressão.

2.4. Natureza jurídica; institutos; categorias jurídicas


Natureza jurídica consiste no enquadramento de objeto de estudo em institutos ou
categorias jurídicas mais amplas.
Instituto jurídico é um conjunto de normas jurídicas que regem determinado tema.
Ex: Casamento – há uma série de normas que regulam regime de bens, deveres dos
cônjuges, etc. Outro exemplo é a coisa julgada, na qual há uma infinidade de normas e
conceitos jurídicos que regem a coisa julgada.
Categoria jurídica é o gênero mais supremo e universal.
Ex: Em biologia, temos o mamífero e a espécie humana faz parte deste gênero. Mas,
pode-se pensar que o ser humano, além de mamífero, é uma espécie de ser vivo, que é uma
categoria mais ampla.
Ex: Categoria jurídica processual – fato jurídico, ato jurídico, pois, há uma infinidade de
situações práticas que acontecem no mundo que se enquadram neste conceito de fato ou ato
jurídico. Como p.ex. qual a natureza jurídica do travesseiro, que deve ser entendido como um
bem móvel ou espécie de bem móvel fungível – pode ser substituído por outro da mesma
espécie, quantidade e qualidade.
O importante é saber que a natureza jurídica é enquadrar o objeto em categorias mais
amplas.
Ex: Qual a natureza jurídica da coisa julgada? Coisa julgada é uma espécie de direito
fundamental, tendo em vista que está prevista no art. 5º da CF, inclusive como cláusula pétrea.
CF/88: Art. 5º, XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito
e a coisa julgada;

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(Bloco 02)
3. A tríade do direito processual: jurisdição, ação e processo
O direito processual é uma disciplina muito técnica. Mas, o processo também tem um
pouco de poesia, pois, o processo judicial só tem razão de ser quando busca tutelar um direito
material. Isso porque o processo por si só não faria sentido. O fundamento é promover a paz
social e o equilíbrio das relações sociais. No entanto, sem que haja um processo eficiente e
efetivo, o direito material nunca irá se concretizar de forma plena, por isso que o processo
tem uma importância muito grande. A poesia disso tudo é que quanto mais foca-se no
processo e na qualidade do processo em si, mais perto se chega do resultado que se almeja.
O processo se assenta em uma tríade fundamental ou trilogia: jurisdição, ação e
processo. São três institutos que se reportam de forma direta ou indireta a tudo que formos
estudar, p.ex. competência que é a delimitação da jurisdição; a petição inicial que é um intuito
ligado a ação. Ou seja, tudo em processo gravita em torno desta tríade fundamental.
Jurisdição (“jurisdictio”) significa dizer o direito. Essa é uma função tipicamente pública
e exercida pelo poder judiciário, em que pese haver algumas situações nas quais o poder
legislativo exerce este poder, como aconteceu com o julgamento de crimes de
responsabilidade da Presidente da República. A Câmara e o Senado foram quem definiu se
houve ou não crime de responsabilidade.
Devemos, ainda, observar os equivalentes jurisdicionais, como a arbitragem – há
discussão se esta seria ou não uma forma de jurisdição - este será abordado mais à frente.
Mas, desde já, registra-se que é um equivalente jurisdicional e que pode ser exercido pelos
particulares, também.
Jurisdição pode ser contenciosa ou voluntária. A função jurisdicional abrange também
a jurisdição voluntária. Entretanto, há alguns autores que falam que a jurisdição voluntária
não seria nem jurisdição e nem voluntária. Isso porque a jurisdição voluntária é uma situação
de tutela assistencial de direitos privados ditos relevantes pelo legislador.
Ex: menor que está sob tutela e que pretende alienar um bem imóvel do qual é titular
e necessita de uma autorização judicial que permita a alienação no caso concreto. Não há uma
jurisdição neste caso, não há lide, mas há a necessidade de uma tutela judicial. Muitos dizem
que se trata de uma tutela de natureza administrativa e não uma atividade propriamente
jurisdicional.
O conceito clássico de jurisdição, que vem desde Carnelutti e autores mais antigos, é o
conceito de jurisdição contenciosa – a função estatal de compor conflitos de interesses e,
sobretudo, quando está envolvido o conceito de lide.

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Lide é um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida. Pretensão é


a exigência de subordinação de um interesse alheio a um próprio interesse. Sempre que
houver a resistência, surge a lide e o conflito de interesses.
Em nosso sistema processual, entretanto, a jurisdição não pode ser exercida de ofício,
pressupõe sempre um método e que irá ser exercido, em princípio, por deflagração do
interessado. O processo é um método por meio do qual o Estado exerce uma função
jurisdicional, que soluciona lides e conflitos de interesses. Pode ser conceituado como uma
relação jurídica complexa, do ponto de vista ontológico.
Uma relação jurídica complexa é uma relação jurídica ampla a qual abrange diversas
relações jurídicas, como microrrelações de juiz com a parte, juiz com o perito, o leiloeiro com
o arrematante, etc. Este é um conceito antigo que vem desde Bulow.
Logo, para que exista um processo, há a necessidade de uma ação, de provocação pelo
interessado o qual se sente ameaçado. A ação é um direito fundamental (art. 5º, XXXV da
CF/88), mas, uma vez que o autor provoca o judiciário (ação exercida) temos uma demanda
que é um ato jurídico em sentido estrito do qual os efeitos decorrem da lei, p.ex. prazos de
citação e notificação, etc. Entretanto, a demanda para que surja depende da manifestação de
vontade do interessado e por isso um ato jurídico em sentido estrito.
CF/88: Art. 5º, XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito;

O processo judicial deve ser encarado, também, como um instrumento que tem uma
finalidade ética, em que pese haver um método científico, mas o seu objetivo é obter a paz
social e a solução de conflitos de interesses.

3.1. Conceito (perspectiva normativa e científica) e natureza jurídica do Direito


Processual

Quando vamos conceituar qualquer ramo do direito, podemos conceituar sobre o


duplo enfoque: uma perspectiva normativa e científica.
Quando conceitua-se o direito processual do trabalho, sob um ângulo normativo,
pode-se dizer que o direito processual do trabalho é um conjunto de normas jurídicas que
regem a jurisdição, processo e ações trabalhistas.
Sob o ângulo cientifico, o processo do trabalho, a partir dessas normas jurídicas que
regulamentam a ação, processo e jurisdição trabalhistas, passa a ter uma classificação

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doutrinária desses institutos e surge a ciência do processo do trabalho, que faz parte de uma
ciência maior do direito.
Buscando enquadrar dentro de ramos maiores – ramo do direito privado ou direito
público, a natureza jurídica do processo do trabalho é considerada um sub-ramo do direito
público com base em dois fundamentos:
1) O Estado, nessa relação jurídica processual, está em uma posição de supremacia.
2) O direito processual tem a finalidade de buscar a paz social, solucionar conflitos,
exercendo uma função pública soberana.

3.2. O caráter público e as novas tendências do Direito Processual – “consensualismo”

Há diversos autores que estão sustentando uma releitura da supremacia do direito


público sobre o privado. Logo, a atuação de império do Estado, na qual o estado é sempre
soberano e atuando de forma impositiva, embora isso exista em potencial, não precisa ser
usada em todas as circunstâncias. Cada vez mais se sustenta que o Estado deve tentar a se
nivelar ao particular, buscando o consenso do particular.
Isso fica evidente no direito administrativo quando estudamos o terceiro setor (OS’s e
OSCIP’S), no qual o cidadão participa mais ativamente da administração pública. Logo, há uma
tendência de “consensualismo” no direito administrativo. Porém, esta tendência passa a
inspirar todo o direto público, inclusive, o direito processual.
Ex: CPC/2015 – artigos 165 a 175, traz diversas regras atinentes à conciliação, mediação
e arbitragem, estimula a composição dos conflitos pelos interessados. Isso tem tudo a ver com
o interesse público, tendo em vista que a construção do provimento judicial ocorre por meio
das partes.
CPC/2015: Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de
conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e
mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e
estimular a autocomposição.

CPC/2015: Art. 175. As disposições desta Seção não excluem outras formas de
conciliação e mediação extrajudiciais vinculadas a órgãos institucionais ou realizadas
por intermédio de profissionais independentes, que poderão ser regulamentadas por
lei específica.

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Ex²: princípio da cooperação – preconiza que as partes devem cooperar entre si e com
o juiz para que se obtenha a decisão de mérito em tempo razoável. Logo, esse princípio inspira,
por exemplo, a necessidade de uma fundamentação analítica de uma decisão judicial; indica
que as partes passam a influir mais eficazmente na construção do provimento jurisdicional.
Logo, a atuação do poder judiciário é mais democrática, tendo em vista o contraditório
substancial.
Assim, atualmente, em que pese o direito processual fazer parte do ramo do direito
público, não pode mais dar margem a concepções autoritárias já defendidas no Brasil em
algum momento. Isso é um tema novo, portanto, fiquem atentos.

4. Fontes do Direito Processual

Parece um tema trivial, mas gera muitas discussões em doutrinas, como Miguel Reale
e Paulo Dourado de Gusmão, pois os dois tem posições diametralmente opostas com relação
a esse tema.

4.1. Fontes materiais X fontes formais


Fonte é a origem do direito, de onde provem tal qual a nascente de um rio.
Fonte material é o substrato social e fático, condicionados por fatores políticos,
econômicos e filosóficos, também chamados de fatores do direito. A partir desses fatos surge
uma necessidade de criar uma norma jurídica e obrigatória para toda a sociedade.
Para o Miguel Reale, as únicas fontes são as fontes materiais, isso porque do ponto de
vista filosófico, tendo em vista que as fontes são a origem do direito, as causas primeiras são
as fontes materiais, pois, as causas primeiras de qualquer legislação são os fatos sociais. A
partir disso é que surge a necessidade de criar uma norma obrigatória sobre determinado
tema. Não há dúvidas de que isso está correto.
Para Paulo Dourado de Gusmão, o estudo das fontes materiais interessa muito mais à
sociologia do que ao direito. Logo, o estudo de fatos sociais, econômicos e políticos tem mais
uma função filosófica do que jurídica. Assim, devemos nos preocupar somente com as fontes
formais.
Para o professor Felipe Bernardes, os dois autores estão corretos, cada um com uma
razão. Pois, do ponto de vista filosófico as fontes primeiras são as materiais. Já do ponto de
vista do operador do direito, o estudo deve ser focado nas fontes formais – como o direito se
exteriora e se manifesta.

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Fontes formais:
 Constituição – há fontes formais na CF/88, como a inserção de dispositivos processuais
em seu texto, como ocorre com os princípios da jurisdição, acesso à justiça,
competência jurisdicional - como no art. 114 que prevê a competência da justiça do
trabalho. Outro aspecto é a chamada constitucionalização do direito processual –
passa a ter a necessidade da filtragem constitucional, logo, todo o ordenamento
jurídico deve ser lido sob a ótica da CF sempre com o propósito de realizar os valores
que a constituição prevê.

CF/88: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico,
espacial e do trabalho.

CF/88 Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
XI - procedimentos em matéria processual.

Vejam que o STF tem dado interpretação restritiva a estes dispositivos, p.ex. os
estados membros não podem criar recursos, mas podem criar procedimentos1. Para

1
O Estado do Rio de Janeiro disciplinou a homologação judicial de acordo alimentar nos casos específicos
em que há participação da Defensoria Pública, não estabelecendo novo processo, mas a forma como este será
executado. Lei sobre procedimento em matéria processual. A prerrogativa de legislar sobre procedimentos possui
o condão de transformar os Estados em verdadeiros "laboratórios legislativos". Ao conceder-se aos entes
federados o poder de regular o procedimento de uma matéria, baseando-se em peculiaridades próprias, está a
possibilitar-se que novas e exitosas experiências sejam formuladas. Os Estados passam a ser partícipes
importantes no desenvolvimento do direito nacional e a atuar ativamente na construção de possíveis experiências
que poderão ser adotadas por outros entes ou em todo território federal. Desjudicialização. A vertente
extrajudicial da assistência jurídica prestada pela Defensoria Pública permite a orientação (informação em
direito), a realização de mediações, conciliações e arbitragem (resolução alternativa de litígios), entre outros
serviços, evitando, muitas vezes, a propositura de ações judiciais. Ação direta julgada improcedente. [ADI 2.922,
rel. min. Gilmar Mendes, j. 3-4-2014, P, DJE de 30-10-2014.]

Criação, por lei estadual, de varas especializadas em delitos praticados por organizações criminosas. (...)
A composição do órgão jurisdicional se insere na competência legislativa concorrente para versar sobre
procedimentos em matéria processual, mercê da caracterização do procedimento como a exteriorização da
relação jurídica em desenvolvimento, a englobar o modo de produção dos atos decisórios do Estado-juiz, se com
a chancela de um ou de vários magistrados. (...) Os Estados-Membros podem dispor, mediante lei, sobre protocolo
e distribuição de processos, no âmbito de sua competência para editar normas específicas sobre procedimentos
em matéria processual (art. 24, XI, da CRFB). [ADI 4.414, rel. min. Luiz Fux, j. 31-5-2012, P, DJE de 17-6-2013.]

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ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários
e na jurisprudência dos Tribunais.

o processo do trabalho, o art. 24 da CF/88 não tem muita importância tendo em vista
que apenas leis federais se aplicam-na Justiça do Trabalho, pois, não há espaço de
aplicação de leis estaduais na Justiça do Trabalho, em que pese haver 24 regionais.

 Leis em sentido estrito – envolve tanto a lei complementar (votado por quórum de
maioria absoluta) quanto a lei ordinária (votada por quórum de maioria simples). A lei
que regulamenta o processo do trabalho e civil, em princípio, será uma lei ordinária,
tendo em vista que a CF/88 não delega a edição de lei complementar. Há exceções,
como a LOMAN – art. 93 da CF/88 disciplina expressamente que essa lei só pode ser
editada por lei complementar, que é de iniciativa do STF.

CF/88: Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá
sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...)

A LOMAN pode criar deveres para o magistrado, p.ex. prazos para o juiz decidir.
É uma lei materialmente complementar. Logo, podem existir leis formalmente
complementares, que são editadas sob a forma de lei complementar, mas em sua
essência é uma lei ordinária.
Ex: LC150/2105 (Lei dos domésticos), em seu artigo 46, trata da impossibilidade
de penhora do bem de família. Note que anteriormente era possível a penhora do bem
de família e a Lei 8.009/90 (Lei do bem de família) foi alterada a partir da edição da LC
150/2015.

LC 150/2015: Art. 46. Revogam-se o inciso I do art. 3o da Lei no 8.009, de 29 de março


de 1990, e a Lei no 5.859, de 11 de dezembro de 1972.

Lei 8.009/90: Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de


execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se
movido:
I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas
contribuições previdenciárias;(Revogado pela Lei Complementar nº 150, de 2015)

Descabe confundir a competência concorrente da União, Estados e Distrito Federal para legislar sobre
procedimentos em matéria processual; art. 24, XI, com a privativa para legislar sobre direito processual, prevista
no art. 22, I, ambos da CF. Os Estados não têm competência para a criação de recurso, como é o de embargos de
divergência contra decisão de turma recursal. [AI 253.518 AgR, rel. min. Marco Aurélio, j. 9-5-2000, 2ª T, DJ de
18-8-2000.]
O inquérito civil é procedimento pré-processual que se insere na esfera do direito processual civil como
procedimento, à semelhança do que sucede com relação ao inquérito policial em face do direito processual penal.
Daí, a competência concorrente prevista no art. 24, XI, da CF. [ADI 1.285 MC, rel. min. Moreira Alves, j. 25-10-
1995, P, DJ de 23-3-2001.]

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e na jurisprudência dos Tribunais.

Percebam que este dispositivo regula tema processual, portanto, pressupõe a


edição de lei comum ordinária, de acordo com a CF. Entretanto, como na LC150/2015
há dispositivos tributários (limitações constitucionais ao poder de tributar), que
exigem a edição por meio de lei completar, esta lei nesta parte ela é considerada como
lei complementar, mas na parte processual é considerada uma lei ordinária tendo em
vista que a constituição não exige edição de lei complementar. Isso significa que, em
tese, uma lei ordinária poderia revogar o art. 46 da LC 150/2015 e não há que se falar
em hierarquia entre as leis.

 Decreto-lei – é uma espécie de ato do poder executivo, regulamentação em caráter


geral. Hoje em dia, não pode mais haver edição de decreto-lei sobre materiais
processuais. Porém, a CLT é um decreto-lei e foi editado em 1943 por Getúlio Vargas.
Mas, a partir da CF/88 caso se queira revogar ou alterar algum dispositivo da CLT é
feito por meio de lei ordinária.

 Medida provisória – por força do art. 62 da CF/88, medida provisória não pode mais
versar sobre matérias processuais. A EC 32/2001 alterou o artigo para vedar de forma
expressa a edição de medidas provisórias sobre temas processuais. Antes da edição da
EC 32/2001, havia uma controvérsia se podia ou não medida provisória versar sobre
direito processual. Por isso, pode-se encontrar alguma medida provisória anterior à
emenda vigente e aplicável, caso não tenha sida declarada inconstitucional.

CF/88: Art. 62 (...)


1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 32, de 2001)b) direito penal, processual penal e processual civil;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)

 Regulamentos – espécie de ato administrativo do poder executivo, mas não poderá


editar normas processuais;

 Regimentos internos dos Tribunais – art. 96, I da CF/88 dispõe sobre competência de
órgãos jurisdicionais, o qual é um tema processual, portanto, é uma fonte do direito
processual do trabalho e civil.
Ex: o TST criou diversos órgãos no âmbito do Tribunal por meio do seu
regulamento interno, como a SDI, SDC, órgão especial, tribunal pleno, etc.; o
regimento interno do TST também define qual é a competência desses órgãos.

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CF/88: Art. 96. Compete privativamente:


I - aos tribunais:
a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância
das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a
competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e
administrativos.

ATENÇÃO! (Questão de concurso) Regimento interno, apesar de ter uma


eficácia equiparada a da lei, não é passível de recursos excepcionais, como recurso
extraordinário (STF), recurso especial (STJ) e recurso de revista (TST). Isso porque uma
das hipóteses de cabimento é a violação a preceito de lei, sendo assim, em que pese o
regimento ser equiparado a lei não cabe recurso de revista por violação de regimento.
Pois, a CF/88 prevê a violação a dispositivo de lei e esta interpretação é estrita.

 Costumes – art. 4º, LINDB – espécie de fonte subsidiaria de fonte legal e processual.

LINDB: Art. 4o - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

O costume consiste em uma prática reiterada em uma sociedade, mas para que
ele seja configurado como fonte requer dois elementos:

a) Elemento objetivo – reiteração de condutas no meio social.


b) Elemento subjetivo – convicção na obrigatoriedade, as pessoas têm a crença de
que essa prática é cogente e que não há opção de não fazer aquela pratica,
também chamada de opinio juris vel necessitates.

No processo do trabalho, há exemplos de costume:


1) secundum legem (segundo a lei) – para muitos autores nem sequer seria uma
espécie de costume, pois é a aplicação da própria lei, ex: concessão da gratuidade
de justiça ao empregado hipossuficiente - art. 790, §3º da CLT e OJ 304, SDI-1 do
TST2.

2
Atenção para o cancelamento da OJ 334 da SDI-1 do TST ocorrida em junho de 2016, tendo em vista
que o art. 105 do CPC/2015 passou a exigir expressamente que conste na procuração poderes conferidos ao
advogado para firmar a declaração de hipossuficiência do empregado.

OJ 331, SDI-1, TST. JUSTIÇA GRATUITA. DECLARAÇÃO DE INSUFICIÊNCIA ECONÔMICA. MANDATO.


PODERES ESPECÍFICOS DESNECESSÁRIOS (cancelada) - Res. 210/2016, DEJT divulgado em 30.06.2016 e 01 e
04.07.2016 - Desnecessária a outorga de poderes especiais ao patrono da causa para firmar declaração de
insuficiência econômica, destinada à concessão dos benefícios da justiça gratuita.

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CLT: Art. 790, § 3o É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos
tribunais do trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o
benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles
que perceberem salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ou declararem,
sob as penas da lei, que não estão em condições de pagar as custas do processo sem
prejuízo do sustento próprio ou de sua família. (Redação dada pela Lei nº 10.537, de
27.8.2002)

OJ 304, SDI-1, TST. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA.


DECLARAÇÃO DE POBREZA. COMPROVAÇÃO (DJ 11.08.2003) Atendidos os requisitos
da Lei nº 5.584/70 (art. 14, § 2º), para a concessão da assistência judiciária, basta a
simples afirmação do declarante ou de seu advogado, na petição inicial, para se
considerar configurada a sua situação econômica (art. 4º, § 1º, da Lei nº 7.510/86,
que deu nova redação à Lei nº 1.060/50).

2) praeter legem - ex: em mesa de audiência trabalhista, o reclamante senta à


esquerda e o reclamado à direita, e isso não está escrito em lugar nenhum; mas é
uma pratica generalizada na área trabalhista e todos acreditam que há essa
obrigatoriedade.
OBS.: não haverá nulidade se o reclamante sentar à direita e o reclamado à
esquerda, porque não há prejuízo. Mas, isso facilita o procedimento em audiência,
pois o juiz já sabe quem é reclamante e reclamando.

3) contra legem (contra a lei) – cuidado, pois, a lei não deixa de ser aplicada por não
ser utilizada (desuso), pois, necessita de sua expressa revogação.
Ex: deferimento ou indeferimento de liminar, no processo do trabalho, é
muito comum deferir ou indeferir a liminar porque estão presentes ou ausentes os
requisitos legais. Trata-se de uma decisão não fundamentada porque viola o art.93,
CF/88 e art. 489 do CPC/2015.

CF/88: Art. 93, IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do

CPC/2015: Art. 105. A procuração geral para o foro, outorgada por instrumento público ou particular
assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, exceto receber citação, confessar,
reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber,
dar quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica, que devem constar de
cláusula específica.

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interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (Redação dada


pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

CPC/2015: Art. 489. São elementos essenciais da sentença:


I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma
do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no
andamento do processo;
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe
submeterem.
§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar
sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de
sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta
àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado
pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento.
§ 2o No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios
gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência
na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão.
§ 3o A decisão judicial deve ser interpretada a partir da conjugação de todos os seus
elementos e em conformidade com o princípio da boa-fé.

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(Bloco 03)
 Convenções internacionais – os tratados podem ser fontes, tanto na área trabalhista,
como cível.
Ex: Pacto de San Jose da Costa Rica, na parte em que proíbe a prisão do
depositário infiel (STF); Protocolo de medidas Cautelares de Ouro Preto – provimento
cautelares no âmbito do Mercosul.

 Jurisprudência – o CPC/2015 modificou o panorama, pois, tradicionalmente, sempre


se afirmou que a jurisprudência não seria uma fonte formal, no máximo, uma fonte
indireta, inclusive, material. Contudo, com o CPC/2015, muitas decisões passam a ter
caráter vinculante, logo, passa a ser considerada fonte formal. Este tema será
analisado em aula própria. Jurisprudência consiste no conjunto de decisões em
tribunal sobre determinado tema.

CPC/2015: Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de
demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial
repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria
constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.

 Precedentes vinculantes e súmulas – precedente é uma decisão judicial única e isolada.


Ex: se o TRT/RJ decidiu um tema naquele sentido, diz que há um precedente.
Mas, se há várias decisões naquele sentido, diz que há jurisprudência.

São situações que passam a ser obrigatórias: incidentes de assunção de


competência (IAC), incidente de resolução e demandas repetitivas (IRDR), recursos
repetitivos, etc. São decisões de tribunais que passam a vincular não apenas o tribunal,
mas também todos os juízes vinculados àquele Tribunal. Logo, esses precedentes
passam a ser fontes formais – mecanismos de exteriorização do direito positivo.

Qualquer decisão judicial sempre contém em seu âmago duas normas jurídicas:
1) Norma jurídica individual;

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e na jurisprudência dos Tribunais.

2) Norma jurídica geral – este é o precedente, também chamado de ratio decidendi,


razão de decidir.

Ex: processo trabalhista entre João empregado e José ex-empregador, e


aquele diz que foi dispensado de forma imotivada, recebeu as verbas rescisórias
no prazo de 10 dias, porém a homologação foi realizada fora do prazo. Há uma
discussão muito grande sobre ser ou não devida a multa do art. 477, §8º da CLT.

CLT: Art. 477,


§ 8º - A inobservância do disposto no § 6º deste artigo sujeitará o infrator à multa de
160 BTN, por trabalhador, bem assim ao pagamento da multa a favor do empregado,
em valor equivalente ao seu salário, devidamente corrigido pelo índice de variação
do BTN, salvo quando, comprovadamente, o trabalhador der causa à mora. (Incluído
pela Lei nº 7.855, de 24.10.1989)

Há uma corrente que fala que essa multa incide, e outra corrente que diz
que não incide a multa por atraso na homologação da rescisão em que pese o
pagamento ter sido efetuado dentro do prazo (tema de direito material do
trabalho).
Suponhamos, porém, que um TRT decida que, neste caso, a multa não é
devida. Quando o Tribunal diz isso, ele está criando uma norma jurídica individual
que rege aquele caso.
A norma: é improcedente a multa do artigo 477, §8º da CLT neste caso.
Entretanto, contém em sua ratio decidendi uma norma jurídica geral: é indevida a
multa do artigo 477, §8º da CLT quando o pagamento é tempestivo, sem que
ocorra homologação. Logo, esta tese contida na fundamentação irá se aplicar por
ser a tese geral.
Neste cenário do CPC/2015, o que ocorre é que a norma jurídica geral (ratio
decidendi) passa a ser norma jurídica geral. Entretanto, há controvérsias, como
p.ex. o Prof. Nelson Nery Jr. que sustenta esse entendimento enquanto
inconstitucional, por violar a separação de Poderes, mas a posição dele é
minoritária.
OBS.: o art. 8º da CLT faz menção que a jurisprudência e que esta pode ser
utilizada como fonte formal do processo do trabalho.
CLT: Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de
disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência,
por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito,
principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o

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direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou


particular prevaleça sobre o interesse público.

 Doutrina – não é fonte formal de direito processual porque não é norma jurídica e nem
lei e não vincula os tribunais, porém tem um papel muito importante, pois o legislador
pode se inspirar na doutrina para editar uma lei. É considerada uma fonte indireta.

 Contrato (negócio jurídico processual) – figura nova e controversa; os particulares


podem estabelecer o regramento da sua própria conduta, seja em âmbito material
(p.ex. contrato de compra e venda), mas também no âmbito processual. É uma fonte
de criação do direito processual e, por isso, é uma fonte formal, por ser um mecanismo
de exteriorização processual.
Ex: o artigo 190, CPC/2015 trata da cláusula geral de negociação processual, na
qual as partes podem celebrar de forma livre e ampla, desde que observados os limites
de ordem pública e desde que as partes não estejam em situação de vulnerabilidade.
Já o artigo 191, CPC/2015 versa sobre o calendário processual, no qual as partes e
juízes podem celebrar um cronograma sem que haja necessidade de intimações – essa
é a grande vantagem, como p.ex.: prazo para razões finais, pericia, etc.; o resultado
prático é que as partes não precisam ser intimadas. Esse tema será estudado mais à
frente.

CPC/2015: Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam


autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no
procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os
seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.

CPC/2015: Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para
a prática dos atos processuais, quando for o caso.

OBS.: IN 39/2016 do TST – ato administrativo do TST que regulamenta a


aplicabilidade dos dispositivos do novo CPC/2015 ao processo do trabalho, dispõe que
este artigo 190 do CPC/2015 não se aplicaria ao processo do trabalho 3. Entretanto, a
IN não tem caráter obrigatório e vinculativo aos juízes do trabalho; há, contudo, um
caráter indicativo. Mas, de acordo com esta mesma IN 39/2016 do TST, o art. 191 do
CPC/2015 seria aplicado ao processo do trabalho. Contudo, de acordo com o professor,

3
Art. 2° Sem prejuízo de outros, não se aplicam ao Processo do Trabalho, em razão de inexistência de
omissão ou por incompatibilidade, os seguintes preceitos do Código de Processo Civil: II - art. 190 e parágrafo
único (negociação processual);

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a vedação de aplicação do artigo 190 do CPC/2015 vai de encontro com o princípio do


“consensualismo”, ou seja, impedir a aplicação desse instituto ao processo do trabalho
parece ser excessivo, pois ainda haveria necessidade de amadurecimento sobre esse
assunto.

4.2. Hierarquia e conflito entre as fontes

A CF/88 é a fonte maior, logo, ao contrariar a constituição a norma será considerada


nula. Não há, em princípio, hierarquia entre leis complementares e ordinárias, como no
exemplo dado do art. 46 da LC 150/2015.
Com relação aos tratados internacionais (melhor estudado em direito internacional),
entretanto, de acordo com o STF, o Pacto San José da Costa Rica está em vigor e não é possível
hoje a prisão do depositário infiel. No mesmo julgado, o STF deixou consignado que este
tratado tem status de supralegalidade (está abaixo da CF e acima de leis comuns – somente
em casos que versem sobre direitos humanos).
Sendo assim, dá ensejo à paralisação de eficácia dessa legislação que é inferior a este
tratado. No caso do depositário infiel, há previsão expressa no DL 911/69, o qual está abaixo
do Pacto de San José da Rica, e que, segundo o STF, está formalmente em vigor. Porém este
decreto não é aplicado em razão da supralegalidade do tratado. Mas, se futuramente o Brasil
denunciar o Pacto, o DL 911/09 voltaria a vigorar e a prisão do depositário infiel poderia ser
realizada.
A outra posição é a legalidade ou paridade normativa entre tratado internacional e a
legislação processual em leis ordinárias, este é o posicionamento tradicional do Supremo
desde o RE 80.0044 de relatoria Min. Cunha Peixoto, no sentido de que os tratados se nivelam
com as leis ordinárias. Isso pode ocorrer em matéria processual, como no exemplo do Tratado
de Ouro Preto, o qual versa sobre direito processual, mas não é de direitos humanos, logo,
possui status de leis ordinárias.

4
CONVENÇÃO DE GENÉBRA, LEI UNIFORME SOBRE LETRAS DE CÂMBIO E NOTAS PROMISSÓRIAS - AVAL
APOSTO A NOTA PROMISSÓRIA NÃO REGISTRADA NO PRAZO LEGAL - IMPOSSIBILIDADE DE SER O AVALISTA
ACIONADO, MESMO PELAS VIAS ORDINÁRIAS. VALIDADE DO DECRETO-LEI Nº 427, DE 22.01.1969. EMBORA A
CONVENÇÃO DE GENÉBRA QUE PREVIU UMA LEI UNIFORME SOBRE LETRAS DE CÂMBIO E NOTAS PROMISSÓRIAS
TENHA APLICABILIDADE NO DIREITO INTERNO BRASILEIRO, NÃO SE SOBREPÕE ELA ÀS LEIS DO PAÍS, DISSO
DECORRENDO A CONSTITUCIONALIDADE E CONSEQUENTE VALIDADE DO DEC-LEI Nº 427/69, QUE INSTITUI O
REGISTRO OBRIGATÓRIO DA NOTA PROMISSÓRIA EM REPARTIÇÃO FAZENDÁRIA, SOB PENA DE NULIDADE DO
TÍTULO. SENDO O AVAL UM INSTITUTO DO DIREITO CAMBIÁRIO, INEXISTENTE SERÁ ELE SE RECONHECIDA A
NULIDADE DO TÍTULO CAMBIAL A QUE FOI APOSTO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E PROVIDO.

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OBS.: Pode existir tratado internacional que verse sobre direitos humanos como no
exemplo já dado do Pacto de San José da Costa Rica do depositário infiel.
E, os tratados podem ter status constitucional equivalente à emenda constitucional,
que o caso do art. 5º, §3º (inserido pela EC 45/04). Neste caso, o tratado deve ser aprovado
com o quórum de emenda constitucional, ou seja, com aprovação em dois turnos e em
quórum de 3/5 dos membros.
CF/88: § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Atos
aprovados na forma deste parágrafo)

Já no que tange aos conflitos entre as fontes, devemos lembrar dos casos clássicos
previstos na LINDB:
1) Critério hierárquico – lei não pode contrariar norma superior como em conflito com a
constituição ou emenda constitucional. De acordo com a visão da STF, quando uma
emenda entra em vigor se dá a revogação das leis ordinárias contrarias a esta emenda
constitucional.
2) Critério cronológico – lei posterior revoga lei anterior
3) Critério da especialidade.

Todos os critérios são aplicáveis ao processo civil e do trabalho.

5. Interpretação, integração e aplicação do Direito Processual


Interpretar é definir o sentido e o alcance de um enunciado normativo.

5.1. Norma X enunciado normativo. A norma do precedente

É uma discussão nova. Mas, norma não se confunde norma com enunciado normativo.
Isso porque a norma é produto da interpretação do texto. Só se chega a norma após se
interpretar determinado texto normativo.
Ex: art. 477, §8 da CLT tem um enunciado normativo e a partir dele é que se constrói
uma norma jurídica individual, que vai reger esse caso concreto e também a norma jurídica
geral, que é a norma do precedente. Logo, não há norma que não possa ser interpretada, toda
norma é sempre o ponto final de um processo interpretativo. O ponto inicial é o texto, que é
o enunciado normativo.

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e na jurisprudência dos Tribunais.

5.2. In claris cessat interpretatio?


Traduz uma noção de que “a regra é clara”, ou seja, o juiz não tem o que fazer quando
“na clareza, não há interpretação”. Porém, atualmente, entende-se que mesmo quando há
clareza há, sim, interpretação. O conceito de clareza é uma noção relativa que depende de
inúmeros fatores. Em razão disso, diz-se que este enunciado não está mais em consonância
com a nova filosofia do direito.
Outro sentido é dizer que a interpretação cessa ou termina quando a lei é clara. Haveria
um ato inicial de interpretação, mas aquela interpretação termina quando o intérprete
descobre que há uma clareza no enunciado normativo e não há necessidade de interpretação.
Mas, isso também não é correto porque a constituição é uma fonte do direito processual e há
a chamada “constitucionalização do direito”, então não basta que o dispositivo seja claro, este
enunciado deve ser cotejado com todo o ordenamento processual e sobretudo com a
constituição.
Portanto, concluímos que a interpretação não cessa, mesmo quando o enunciado
normativo seja claro. Por isso é que este brocado não tem sido tão mais prestigiado
atualmente.

5.3. Métodos de interpretação: literal (gramatical); lógico-sistemático; teleológico;


histórico

Há uma certa discrepância entre os autores sobre quais seriam os métodos


interpretativos, alguns citam mais outros menos métodos; a que será utilizada aqui será o
método quadripartite.
A) Literal (gramatical): parte do enunciado normativo e é sempre o ponto de partida do
intérprete. Não se prestigia interpretação conflitantes com o texto legal. Mas não
basta esta interpretação.

B) Lógico-sistemática: qualquer artigo do CPC ou da CLT, por exemplo, devem ser lidos de
forma harmônica e sistemática. De muito mais lógica a interpretação de norma
processual a qual forma um todo orgânico. É encarar o processo e o direito como um
sistema o qual deve ser lido de acordo com constituição. É um instrumento realizar e
construir um processo mais justo e solidário, tal como art.3º da CF/88.

CF/88: Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

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ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários
e na jurisprudência dos Tribunais.

C) Teleológica: busca-se a finalidade de uma norma jurídica. É importante no processo na


parte de nulidades processuais (instrumentalidade das formas). Porque todo ato
processual tem sempre um objetivo e uma finalidade (princípio da finalidade das
normas).

D) Histórico: é o método pelo qual se baseia os debates legislativos e os projetos que


gerou a lei; porém, é de importância relativa, pois a lei uma vez editada ela se
desprende do legislador. Prevalece a vontade da lei e não do legislador.

OBS.: Lembrando que todos os métodos serão sempre utilizados em conjunto.

5.4. Resultado da interpretação: declarativa; extensiva; restritiva. Interpretação estrita.

Cuidado! Interpretação restritiva não se confunde com interpretação estrita.


A) Declarativa – a lei é clara e o interprete estabelece o sentido e o alcance que a lei já
criou.
B) Extensiva – a lei diz menos do que queria e, por isso, há a necessidade de estender a
interpretação para abarcar uma situação que não foi prevista pela lei originariamente.
Restritiva – é o contrário da extensiva, a lei diz mais do que quer, ou seja, disciplina o
tema de forma mais abrangente do que o próprio espírito da lei.
Estrita – significa que o dispositivo legal não pode ser ampliado pelo intérprete.
Ex: normas punitivas, como da multa do art. 477, §8º da CLT, tendo em vista ser uma
norma de punição, ela não pode ser estendida para situações em que não há
homologação. Aplica-se, tanto no direito processual, como no material. Outro exemplo
de sua aplicação é nos casos de litigância de má-fé, os quais devem ser interpretadas
de forma estrita.

5.5. Criatividade interpretativa e lógica da subsunção

A atividade do judiciário não é mais de mera boca da lei, como dizia Montesquieu.
Tendo em vista as diversas situações do dia a dia é que o legislador se valeu dos conceitos
jurídicos indeterminados, como p.ex. as cláusulas gerais (como a da boa-fé objetiva); essa
concretização da norma se dá pelo juiz no caso concreto. Por isso que há espaço para uma
criação interpretativa – regra criada pelo intérprete a partir de um enunciado.

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Porém, não há espaço para a chamada de discricionariedade judicial, ou seja, margem


de liberdade e de escolha, tal como ocorre no direito administrativo. Não há espaço para o
juiz fazer um juízo de conveniência e oportunidade, pois, em que pese haver uma criatividade
interpretativa, o juiz deve utilizar de critérios lógicos e de fundamentações consistentes, sob
pena de incorrer o “deciosinismo judicial” – juiz que não é eleito para aquela função pode por
acabar criando normas e ferindo o princípio da separação de poderes.
O precedente é uma norma jurídica geral construída pelo judiciário, e ele se justifica
porque é construído a partir de casos concretos e o judiciário não cria uma lei, mas um
entendimento à luz de casos concretos que teve de apreciar. E, ainda, em um sistema de
segurança jurídica e de isonomia. Esse enquadramento de um fato a uma norma jurídica
(subsunção) cada vez fica mais para trás, sobretudo, com o CPC/2015, com a prática dos
precedentes.
A integração é suprir lacunas na lei e são colmatadas (superadas) através dos métodos
de integração. Os métodos de integração do processo civil e do trabalho são os mesmos
previstos na LINDB:
A) Princípios gerais do direito – são fontes subsidiarias de acordo com a LINDB, recorrível
apenas com a incidência de lacunas. Mas, com a tendência da constitucionalização do
direito, os princípios em sua grande maioria estão presentes na constituição, como o
princípio da segurança jurídica, vedação à produção de prova ilícita, etc. Logo, eles têm
caráter normativo direto, ou seja, a incidência direta dos princípios nos casos
concretos. Isso é possível porque os princípios constitucionais têm aplicação normativa
direta e não depende de lei. Logo, a afirmação da LINDB é, no mínimo, questionável.

B) Analogia- Analogia “legis” é a analogia clássica, na qual há uma situação


regulamentada na lei e há outra situação da qual não dispõe de previsão legal. Assim,
o intérprete se vale de uma lei X para disciplinar uma situação Y.

A analogia “juris” é aquela na qual se aplica um princípio extraído do


ordenamento jurídico.
Ex: irrecorribilidade das decisões interlocutórias, concentração de atos em
audiência e imediação do juiz, a partir destas regras infere-se o princípio da oralidade
no processo do trabalho a ser estudado na próxima aula. Não há nenhum dispositivo
na CLT que fale deste princípio, mas a partir de diversas regras e de um raciocínio
indutivo se chega a este princípio. Assim, o procedimento de busca de um princípio é
o procedimento chamado de analogia “juris”.

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e na jurisprudência dos Tribunais.

O artigo 140, CPC/2015 veda o non liquet (o juiz não pode deixar de julgar). Há
lacuna na lei, mas não há lacuna no ordenamento jurídico.

CPC/2015: Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou
obscuridade do ordenamento jurídico.
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.

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