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Matheus Andrade*
INTRODUÇÃO
CINEMA E REPRESENTAÇÃO
situações alheias. Em La Sortie des Usines (A saída das Fábricas), eles puseram a
câmera em frente à fábrica e gravaram, em película única, a saída dos operários ao final
do expediente de trabalho. Antonio Costa fala que, embora pareçam insignificantes esses
registros primários, eles exprimem a tendência natural do cinema, por sua vez derivada
Não muito distante, em 1902, o cinematográpho inicia uma nova fase em sua
existência. O mágico Georges Méliès adquire um aparelho de filmagem e descobre, por
acaso, a magia que se encontrava por trás das grandes telas. Méliès estava filmando um
ônibus em Paris quando, de repente, a câmera enguiçou. Nesse instante, o ônibus saiu e
um carro funerário parou no mesmo lugar. A câmera voltou a funcionar e quando o
trabalho foi concluído, ele percebeu que o filme ficou com a ilusão da mágica na troca
dos veículos. Por esse fato, o mágico logo descobre que no cinema o fantástico,
construído pela possibilidade da montagem que, assim descoberta, induziria tanta
credibilidade quanto a realidade capturada diretamente pela câmera, sem intervenção
alguma. Segundo Costa (p.49),
“A vida não é como você viu no cinema. A vida é mais difícil”. Essas são as
palavras usadas pelo projecionista Alfredo no filme italiano Cinema Paradiso (Giuseppe
Tornatore, 1989). Sempre preocupado com o futuro de Totó, um menino fascinado pela
magia do cinema, ele o aconselha com essa frase, explicando o que foram todas aquelas
“imagens amadas” durante sua vida, esclarecendo, assim, que elas eram parecidas com
a vida, mas que, no fundo, a vida não é realmente aquela ficção vivida por vários
personagens na tela do cinema, nem mocinho, nem bandido, donzelas ou beijos
censurados, ela é verdadeiramente muito mais difícil.
Segundo Bernardet (p.13), uma das principais características do cinema é a ilusão,
o fato de trazer à tona uma realidade semelhante àquela que você conhece, provocando
afinidade pelo que lhe foi apresentado no filme, seja o real ou o sonho humano, isso
causa, imediatamente, a impressão da realidade, pois “no cinema, fantasia ou não, a
realidade se impõe com toda a força”.
Jacques Aumont (1995) explica que a ilusão construída pelo cinema é derivada das
técnicas de profundidade: a profundidade de campo e a perspectiva. Técnicas utilizadas
na composição das imagens para simular uma visão tridimensional. É a partir desses
elementos que o cinema consegue mostrar espaços semelhantes ao real; ainda segundo
Aumont, outro elemento fundamental para a ilusão cinematográfica é o som. Montado
juntamente com as imagens, o som torna a narrativa cinematográfica mais verossímil:
“o som se tornou um elemento insubstituível da representação fílmica” (p.45). Esses
elementos fazem com que, antes de percebermos os aspectos irreais do filme, a história
pareça ser realidade. Para ele, como qualquer meio de expressão artística, o cinema
possui suas limitações (recorte espacial, ausência de terceira dimensão, caráter artificial
ou ausência de cor, etc.), mesmo assim, no momento em que nós assistimos ao filme
Para iniciar a discussão sobre a forma pela qual o Nordeste e o Sertão brasileiro
civilização, antônimo de toda modernidade associada ao Sul do país, tal como ela é vista
e entendida por grande parte da sociedade brasileira. Para tanto, citaremos duas
abordagens distintas sobre como se deu a construção desse espaço. A partir do enfoque
dado, veremos como esse espaço regional aparece narrado na cinematografia brasileira.
Até meados do século XIX, o Brasil se dividia entre o “Norte” e o “Sul” do país. O
Nordeste ainda não era região reconhecida, sua denominação se dava como províncias
nacional, o Norte nasce destinado a ser seu avesso, a partir do final do século XIX.
anos marcantes de seca, até 1879, período esse conhecido como “grande seca”, e
milhares de pessoas morreram de fome. O fenômeno fez com que a população sertaneja
a região pela sua natureza climática. A seca foi um fato determinante em relação ao
Por outro lado, diante da decadência das atividades econômicas das províncias do Norte
problemática da região passou a ser atribuída à seca. As elites regionais, dessa forma,
Nordeste, como elo mais fraco do processo produtivo sob o capitalismo tardio da nação,
mesma teia capitalista. A ela interessou analisar esse processo a partir do discurso dos
regional vivido após a desvalorização geográfica e social dos estados do Norte vincula o
mudanças na área de comércio. Com isso, enquanto a região Sul estabelece uma alta
imagem tórrida da terra, manter meios de recursos públicos que, em última instância,
são por elas apropriados. Para ela, “a ideologia regionalista, tal como surge é, portanto,
Não há nenhuma outra região brasileira sobre a qual se tenha escrito mais do que
toda e qualquer civilização, visão diferente daquela atribuída ao Sudeste que, por sua
país. Desta forma, imagina-se o nosso país como uma espécie de “dois Brasis” (p.29).
Durval Muniz de Albuquerque Jr., autor do livro A Invenção do Nordeste - e Outras Artes
(1999). Para ele o Nordeste brasileiro é uma invenção cultural; foi um espaço construído
a partir dos discursos de várias ordens produzidos no Brasil durante o século XX sobre a
sensibilidade cada vez mais específica, gestada historicamente, em relação a uma dada
Nordeste foi identificado através dos seus problemas, em especial a seca e, em segundo
discurso nacional. Assim, o Nordeste brasileiro foi construído como uma região submissa
a partir da forma pela qual foi representado nos diversos discursos, entre eles o discurso
Ainda para Albuquerque Jr. (p.59), a partir desse discurso sobre o Nordeste e o
Sertão brasileiro, centrado na miséria e no sofrimento, criou-se uma imagem cristalizada
sobre o espaço nordestino. As obras de arte contribuem intensamente nessa divisão
hierárquica entre as regiões brasileiras. Esse discurso sobre as condições climática do
espaço nordestino “vai ser um dos responsáveis pela progressiva unificação dos
interesses regionais e um detonador de práticas políticas e econômicas (...)” dos espaços
áridos. Essa “descrição” do Nordeste “tenta compor a imagem de uma região
abandonada, marginalizada pelos poderes públicos”.
Segundo Albuquerque Jr., o discurso produzido pelas obras de artes brasileiras,
entre elas o cinema, contribuiu para a divisão regional nacional estabelecendo uma
hegemonia do Sul do país, a partir dos interesses da burguesia paulista que tinha como
finalidade tornar-se o centro da identidade nacional.
Frente ao exposto, essas distintas abordagens relacionadas à forma como o espaço
nordestino foi construído nacionalmente, resultam numa forma singular de observar a
região, pois discursiva ou historicamente o Nordeste brasileiro é facilmente associado à
pobreza e à miséria, marcado desse modo por uma imagem parcial e definida na
consciência de grande parte do povo brasileiro.
Assim, em alguns filmes, talvez na grande maioria dos filmes produzidos sobre o
Sertão brasileiro, é possível que, ao término da sessão, o espectador saia da sala de
cinema ofuscado com a imagem de uma região miserável, subdesenvolvida, arcaica, de
cores opacas e avermelhadas; uma região totalmente vencida pela natureza de sua
vegetação seca, pela escassez da água gerando a improdutividade nas áreas do campo.
Essa é a versão predominante e recorrente na cinematografia sobre o Nordeste.
Através deste tipo de discurso, presente nesse e nos demais trabalhos dos
cineastas do movimento, os cinemanovistas acreditavam que dariam uma contribuição
para a transformação política e social do país. Nessa perspectiva, segundo Ismail Xavier
(2000, p.51), “é o Nordeste dos polígonos das secas o espaço simbólico que permite
discutir a realidade social do país”, e que participa da luta política e ideológica em curso
na sociedade. Mas, após o Golpe de 64 e, definitivamente após o AI-5, em 1968, todas
essas pessoas foram impedidas de expressar suas idéias e sonhos. Artistas e intelectuais
foram cada vez mais pressionados a abandonar suas atividades artísticas e intelectuais
críticas da realidade social. A produção cultural, mesmo alguns dentro dos padrões de
legalidade, declinou, e os CPCs foram fechados em 1964.
O Cinema Novo deparou-se com problemas de ordem política e econômica,
enfrentou a carência tecnológica e aceitou a ausência de espectadores em suas sessões.
Ainda com todos esses entraves, o movimento perdurou por uma década e obteve
reconhecimento mundial.
A literatura sempre foi uma grande fonte de histórias para o cinema. Durante
anos, diversos filmes foram produzidos baseados em contos ou romances, algumas
vezes tentando narrar, a seu modo, com fidelidade à obra, outras apenas tomando-a
como referência. Contudo, não é uma tarefa simples adaptar um bom livro para o
cinema e fazer um bom filme. De fato, diversos leitores/espectadores, na maioria das
vezes, dão preferência ao tratamento dado a uma das duas ferramentas narrativas,
quando comparadas, geralmente, apontando a insuficiência das versões
cinematográficas. Apenas exceções transformam um clássico da literatura em um
clássico do cinema. Nesse caso, quando nos referimos a dois ícones da produção cultural
brasileira, Graciliano Ramos e Nelson Pereira dos Santos, podemos encontrar essa
raridade. Vidas Secas é uma dessas exceções.
O escritor nordestino Graciliano Ramos, nascido no estado de Alagoas em 1892, é
reconhecido pela expressividade contida em toda a sua obra literária, um romancista da
realidade de seu tempo, dotado de rara habilidade para a produção textual, conciso,
econômico, com um estilo único em nossa literatura, um verdadeiro conhecedor da arte
de escrever.
Militante do Partido Comunista na década de trinta, seus romances foram
influenciados pela sua opção política, visto que a literatura de trinta tentou contribuir
para o conhecimento da realidade nordestina. Influenciado, também, pelo movimento
regionalista, desenvolveu a temática nordestina, colocando em foco o espaço sofrido do
Sertão, conforme aquela imagem discutida no item anterior. Nesse período, o romance
nordestino narrava um Brasil que estava ficando para trás. Segundo o professor de
literatura Lourival Holanda (2003, p.14), “sua literatura desenha o duro desejo de dizer a
crueza do mundo”. Ainda segundo Holanda, nas formas aparentes de destruição vista
nos livros de Ramos, encontra-se o desejo de uma possível reconstrução.
O Nordeste inscrito nos livros de Graciliano Ramos projetava o ápice do estado de
subdesenvolvimento do país com seu povo em alto nível de alienação. Para Albuquerque
Jr. (1999, p.229), “o camponês nordestino é visto por Graciliano como um ser silenciado,
quase apenas grunhindo como animal”. Elaborando, assim, um homem impossibilitado
de reagir decisivamente diante dos problemas políticos, sociais e naturais de seu
universo.
Autor de quatorze livros, uma de suas obras mais significativas, com um duro
caráter representativo do espaço nordestino, foi Vidas Secas, publicado em 1938. O livro
retrata a realidade dos nordestinos diante a problemática da seca, lutando
incansavelmente pela sobrevivência. Os personagens de Graciliano Ramos estão sujeitos
a enfrentar o fenômeno climático de sua região, mantendo-se em busca de novas terras
a fim de realizar sua cotidiana sobrevivência. Para o crítico Álvaro Lins (1999, p.136),
Ramos consegue transformar “este mundo árido e sombrio numa verdadeira categoria
de arte”.
Vidas Secas narra a história de uma família de emigrantes nordestinos em busca
de melhores condições de vida, movidos pela esperança de sobreviver no Sertão. Para
tanto, alojam-se como empregados de uma fazenda. Fabiano, o pai vaqueiro,
trabalhador, sofre para manter sua família, e submete-se à exploração do fazendeiro.
Devido à sua ingenuidade, ele é humilhado constantemente em diversas situações, pelo
patrão e pelas autoridades representativas das instituições sociais. Sinhá Vitória, sua
mulher, a mãe, é responsável pelo trabalho doméstico e controle da casa. Ela carrega
consigo o sonho de “uma cama de couro” que simboliza a sua esperança na mudança de
vida. Os dois meninos, filhos do casal, meninos sem nome, vivem curiosos a tudo que se
passa, e a cadela, Baleia, aparece como integrante da família sertaneja. Fabiano e sua
família labutam na tentativa de conseguirem condições de vida mais favoráveis, livre da
expropriação dos latifundiários e da seca que agrava suas condições de submissão diante
os donos de propriedades da região.
Para Lins, através desta obra, Graciliano Ramos consegue revelar algumas de suas
melhores qualidades como escritor. Um livro escrito com maturidade, apresentando a
problemática do Sertão nordestino e de seus habitantes através da concisão de suas
frases e precisão de sua forma narrativa. Uma referência importante da literatura
brasileira.
O cineasta Nelson Pereira dos Santos, por sua vez, nasceu em São Paulo no ano de
1928 e radicou-se no Rio de Janeiro nos anos 50. Ainda estudante, partilhava do
pensamento esquerdista de sua geração. Considerado um dos mais importantes
diretores do Brasil, Nelson Pereira é conhecido pela ousadia e expressividade de sua
obras cinematográficas. Filmou e mostrou os fenômenos sociais do seu país com
características realistas, influenciado pelo neo-realismo italiano, realizou filmes imortais
para a cinematografia brasileira, um mestre na arte cinematográfica.
Integrante do movimento do Cinema Novo brasileiro, algumas de suas obras
possuem forte tendência ao pensamento da esquerda revolucionária dos anos 60.
Durante sua carreira, produziu filmes que trazem temáticas suburbanas, acontecimentos
sociais e culturais do país, registrou em imagens a história do povo brasileiro, na maioria
das vezes. Segundo Ridenti (2000, p.103),
Até o ano 2000, sua filmografia havia atingido 18 obras, permanecendo com
projetos a serem rodados. Por coincidência, um dos filmes mais importantes da carreira
de Nelson Pereira dos Santos é Vidas Secas, uma adaptação do romance de Graciliano
Ramos. O filme, assim como o livro, representam com vigor uma vertente da produção
cultural brasileira.
dos anos 60 em conteúdo e forma narrativa, tendo importantes obras transpostas para
as telas. “Este perfil da literatura moderna dos anos 30 e 40 faz-se necessário para
Glauber Rocha (1981, p.30) explica que, a pobreza e miséria narrada pela literatura de
30, posteriormente foi mostrada nas telas do cinema dos anos 60: “se antes era escrito
como denúncia social”, no Cinema Novo “passou a ser discutido como problema político”.
As afinidades temáticas contida no livro Vidas Secas com a problemática vivida no Brasil
dos anos 60, levou Nelson Pereira dos Santos a filmar a história escrita décadas antes. A
seguir, ele explica como surgiu a idéia de fazer o filme Vidas Secas:
p.15).
do cinema brasileiro, naquele ano, em âmbito internacional. Para Wills Leal (1982, p.18),
momentos excepcionais criados pelo escritor alagoano”. Para tanto, Nelson Pereira dos
prezando, principalmente, pelo sentido poético do livro. Leal (p.18) explica que
grandes recursos financeiros para seus projetos. Produziram com o suporte técnico
expressando assim, não apenas em conteúdo, como através da forma de seus filmes, o
nouvelle vague francesa. O neo-realismo foi criado no final da década de 40, na Itália do
suas lentes para as ruas, para o dia-a-dia do povo italiano, desta forma, simplificando a
linguagem fílmica e baixando o custo das produções. Segundo Antonio Costa (1989,
p.104), “o cinema rodado pelas ruas, os atores apanhados na rua, a realidade fixada
Costa diz que o neo-realismo italiano “tornou-se um ponto de referência obrigatório para
definir os novos rumos da estética do filme”, assim como aconteceu com o cinema
países, entre eles o Brasil, com sua devida importância. Segundo Costa, nos filmes do
estética dos filmes italianos da década de 40 enquadrou-se aos ideais de mudança social
herdadas do Neo-realismo italiano. Mesmo sendo uma história de ficção, sua estética o
transforma em uma série de imagens que mais parece realidade. Segundo Bernardet
(1978, p.72), após a aparição de outros filmes de temática nordestina, o filme de Nelson
Sob direção de Luís Carlos Barreto e José Rosas, a fotografia de Vidas Secas é um
dos pontos altos de sua estética. A câmera é manuseada com freqüência de duas
maneiras: ora fixa num pedestal, ora na mão, impondo, assim, uma linguagem que
câmera “se fixou num lugar e captou o que estava em sua frente” (LEAL, p.18). Quando
afixada e filmando planos mais abertos, a imagem expressa menor teor de manipulação,
mostrando sem interrupções aquilo que se passava. Na mão, criando algumas vezes
espectador junto às situações do filme, envolve o olhar de fora da tela com o olhar por
dos sertanejos que, a cada cena, parece estar se tornando cada vez mais miserável. A
fotografia em preto e branco fornece substância ao rústico cenário do filme,
visto numa perspectiva positiva, utilizado pelo diretor como artifício narrativo de grande
“estouro” de luz pode ser assemelhado a erro fotográfico. Dessa forma, o excesso de
com que as imagens presentes no filme terminem transportando para a tela o sol
filme foi feita com base nos ruídos naturais da região, resultando num filme
praticamente sem música. Para Leal (p.19), “do ponto de vista sonoro, Vidas Secas é
aquilo é o ruído do roçar das rodas de madeira com o eixo do carro-de-boi. O som
reforçando o sentido da dor de viver num ambiente em que não incorpora algum tipo de
poucos diálogos, momentos em que Fabiano fala com os bichos, Sinhá Vitória dando
que acompanha o fruir estético dos sons desconhecidos num caso e o sofrimento de
Fabiano depara-se com um som novo para seus ouvidos, o violino tocado pelo professor
da filha do patrão. A música desperta a curiosidade de quem jamais ouvira tal melodia.
permanece admirado com o que escuta dali, sabendo que só num tempo roubado,
escondido, pode ouvir o tipo de som que permeio o universo sonoro do patrão.
religiosa, o filme mostra uma banda de pífano nordestina, formada por homens simples e
Ao ser preso pelo “soldado amarelo” e após ter levado uma surra da Polícia,
Para Leal (p.20), “o Bumba-Meu-Boi liga as duas ações: a do presídio (...) e o riso dos
patrões, dos homens louvados pelo canto (...) de outros seres simples”. Nessa cena, o
sofrimento de Fabiano é acentuado pelo contraste com a alegria das pessoas que
personagens.
Algumas cenas prezam pelo drama de viver naquele espaço desértico a partir da
composição entre as imagens que representam o olhar dos personagens. Na cena final,
ao clamarem por um lugar melhor, Fabiano e Sinhá Vitória olham para trás, a câmera
nos mostra, em plano geral, uma grande paisagem seca, e, pouco adiante, quando eles
param para prosseguir em sua caminhada, o último plano geral nos mostra outra grande
paisagem seca, por onde a família, ao som do carro-de-boi, anda até o desaparecer da
imagem.
Outras cenas, além do espaço seco, apontam para a realidade interior dos
personagens. Na cena em que a família contempla o imenso sol do Sertão nascendo por
trás das montanhas, por exemplo. Primeiramente, a câmera mostra o sol com “estouro”
de luz, acentuando sua força dramática. Em plano conjunto, podemos observar a família
em frente à casa: Fabiano em pé, com uma espingarda; Sinhá Vitória debruçada na
janela, com um pano na cabeça e um terço na mão; ao seu lado, o menino mais novo; e
o menino mais velho por trás da meia porta da frente da casa. Em primeiro plano, Baleia
personagens em planos mais fechados. Quando volta para Fabiano, ele fica de cócoras,
dá um trago no cigarro de palha e, assim que a câmera aponta para o sol novamente,
ele afirma convicto: “Vai pegar fogo!”. A seqüência, montada desta forma, ao estilo
perspectiva, num plano conjunto. Baleia, após levar o tiro de Fabiano, caminha
distanciando, efeito causado pelo uso de uma lente zoom, e permanece olhando os preás
cachorra mostrando Baleia sob o eixo e a roda do carro-de-boi cujo som de atrito
nos anos 60, o filme Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, expressa boa
2.4 A Terra
causada pela seca. Árvores desfolhadas, grandes rochedos, vários quilômetros de solo
varrido, gravetos prontos para o fogo, casa abandonada, caveira de boi morto, água suja
para consumo, terra rachada, palma utilizada como alimento, fogo a lenha, sol
dramática do filme.
Sendo assim, Nelson Pereira dos Santos construiu uma seqüência em que faz uma
analogia para auxiliar a descrição da terra mostrada pelas imagens. Após o plano em que
Fabiano acabara de ser benzido, sob o olhar curioso do menino mais velho, ao ouvir a
explicação a Sinhá Vitória sobre “o que é o inferno”. A mãe responde, impaciente, que o
inferno “é um lugar para onde vão os condenados, cheio de fogueira, tempo quente...”. o
menino pergunta se ela já havia ido lá. Ela fica irritada, xinga-o e bate com a mão na
cabeça dele. O menino sai de casa chorando em direção a uma árvore seca próxima da
casa. Ele chama Baleia, coloca-a em seus braços, de onde fica observando a paisagem
em torno dele e falando: “inferno, lugar ruim!”. Ele olha para todas as direções e, a cada
espiada, repete a palavra “inferno”, como se estivesse comparando o lugar em que vive
à explicação rápida dada pela mãe. Assim, Pereira dos Santos utiliza a fala do
personagem (o menino) e as imagens desse Sertão para fazer uma analogia entre o
conceito de inferno, dado por Sinhá Vitória, e a terra onde eles vivem.
A terra pobre de Vidas Secas tem grande importância para o enredo e para o
não é condicionada pela ação das personagens, mas sim pela natureza: é a seca e a
chuva que vão decidir do início, do meio e do fim do filme”, ou seja, os personagens é
necessitada, decide ficar por uma temporada nessas condições apesar da exploração,
chega a nova seca. A produção começa a decair, a atividade econômica torna-se inviável
e a família, mais uma vez, segue caminhando em busca de outras terras para
sobreviver.
sertanejos “não é a terra, é a ausência dela a causa da miséria”. Sem propriedade, sem
terra para produzir, “o vaqueiro fica sempre na dependência do patrão, do seu dinheiro,
com juros altos, e seus dias estão contados”. Um problema que persiste mesmo para os
improdutivas, sem água e sem perspectiva de tê-la, com as condições de vida miserável,
aridez que inviabiliza a produção, gerando, como conseqüência, a ação desesperada dos
filme Vidas Secas partiu da necessidade de construir, com veracidade, a história dos
2.5 O Homem
que sofre pelas condições improdutivas de sua terra ou pela expropriação e vive
esperança de ter uma vida melhor. Para Bernardet (p.67), o filme traz uma performance
A família sertaneja se esforça para resistir, em sua precária existência, frente aos
vários problemas que enfrentam, retratados no filme, fazendo com que eles não se
sintam como cidadãos dignos. Fabiano assume os trabalhos externos, Sinhá Vitória fica
com as atividades domésticas e toma conta dos meninos. Ainda para Bernardet (p.68),
“essa família não se caracteriza como tipicamente sertaneja”, pelo tipo dos atores, a
estrutura física e organizacional familiar, ela “pode ser tanto sertaneja como da classe
média de qualquer centro urbano”. Ela representa as classes menos favorecidas do povo
brasileiro, muitas vezes saída dos campos para expandir o número de favelas nas
grandes metrópoles, sujeitos que deparam-se com os mais variados entraves sociais.
animalesca, suas ações são ditadas pela necessidade de sobreviver; a escassez da fala
Sinhá Vitória na cena final do filme. Segundo Bernardet (p.68), “embora não tenham
condições de ser gente, sabem que não são gente e aspiram a sê-lo”.
Fabiano não possui instrução suficiente para ser considerado cidadão. Disposto a
fazer qualquer coisa para sobreviver, consegue um emprego naquilo que é sua profissão,
trabalha como vaqueiro de um fazendeiro explorador. Ele tenta discutir o valor de seu
salário, quando patrão lhe rouba; na cidade, não consegue vender sua carne de porco,
pois não pagou os impostos; vai à igreja mas não permanece por muito tempo, e tenta
se integrar às pessoas da cidade na festa, mas é humilhado pelo soldado amarelo e vai
para a cadeia. Para Bernardet (p.80), “Fabiano é utilizado por esse governo como
símbolo do homem fabricado pelo Nordeste”. A história mantém uma certa distância
mostrada pelo filme, como ser insignificante. Segundo Leal (p.21), o personagem “é de
uma submissão total. É submisso em tudo e por tudo.(...) Sem recursos mentais
“homem de leitura”. Ela é a mais instruída dos personagens, com sua capacidade de
Rocha (p.32), os filmes produzidos pelo Cinema Novo não eram como os melodramas do
cinema clássico americano que inspirou outros focos de produção no mundo, pois “as
mulheres do Cinema Novo sempre foram seres em busca de uma saída possível para o
amor, dada a impossibilidade de amar com fome”, como, por exemplo, Sinhá Vitória que
“sonha com novos tempos para os filhos”. É ela quem mais aspira a vontade de ser
gente através de seus sonhos, querendo deixar de dormir como bicho ou decidindo partir
à procura de um local que possibilite a realização de seus sonhos, fazendo com que ela
Os meninos sem nome, o que explicita o lugar da criança no duro universo das
quase nada do que vêem, e por vezes, questionam o sentido das coisas. Eles expressam
enorme admiração pela valentia de seu pai. Para Leal (p.24), “os dois meninos, na visão
dialética da obra, representam o novo homem, o homem de amanhã, a força que está
prestes a brotar”. Eles são a extensão da esperança dos personagens adultos, vistos
como incapazes de concretizar seus ideais naquelas condições, ao mesmo tempo,
Secas ela é quem mais parece ser gente. A cachorra tem nome, é parte constitutiva da
família, tem fluxo de consciência e suas ações são coerentes. O apego da família pela
cadela encontra-se expresso em algumas cenas do filme. Por exemplo, enquanto Fabiano
estava preso, os meninos, sentados com Sinhá Vitória na calçada em frente à igreja,
perguntam por Baleia e não pelo pai. Baleia é objeto do afeto possível e, também,
agente desse afeto em relação às crianças, naquele mundo condicionado pela aridez do
solo e da vida.
na consciência dos próprios personagens de Vidas Secas. Tanto que, na caminhada final,
num dos únicos diálogos coerentes entre Fabiano e Sinhá Vitória, ela diz para o marido:
“Podemos continuar vivendo que nem bicho, escondido no mato? Podemos?”. E ele,
de forma explícita, nas imagens de Vidas Secas. A história narrada pelo filme tem um
alto nível de afinidade com uma realidade desse povo nas condições impostas pelo
impossibilitam essa mudança. Ao mesmo tempo que procura, ele não encontra saídas
para deixar a vida que já leva e permanece em suas condições precárias. Na narrativa
existe, em algumas cenas, a expressão da força de atrito que impede essas mudanças. A
seguir, discorreremos sobre duas cenas do filme onde podemos observar essas
situações.
No dia da festa na cidade, Fabiano e Sinhá Vitória saem arrumados pela porta da
frente da casa. A família toda veste novos trajes para ir à festa. Sinhá Vitória veste um
lindo vestido florido, sapato de salto alto, carregando uma sombrinha. Fabiano está de
terno listrado, chapéu fino, calçando sapatos elegantes. Minutos depois, estão
beira de um açude lavando seus pés, que parecem machucados. Próximos à cidade,
novamente eles calçam seus sapatos grã-finos. Sinhá Vitória tenta colocar o sapato do
pé direito no pé esquerdo, mas logo pega o outro sapato e calça corretamente. Fabiano é
quem tem mais problemas pois, ele quase não consegue calçar mais seus sapatos,
prosseguindo sua caminhada meio manco. Momentos depois, já na cidade, após sair da
igreja, Fabiano, muito incomodado com os sapatos, tira-os permanecendo descalço pelo
A atitude dos personagens mostra que, pela sua precária condição de vida, o
sertanejo possui uma grande dificuldade de se adequar ao perfil social urbano, negando
o uso dos sapatos, o que simboliza, de certa forma, uma mudança de vida. Em Vidas
Secas, o vaqueiro usa o seu novo par de sapatos social, mas, simplesmente, não gosta.
Na cena, movido pela vontade de Sinhá Vitória, Fabiano tenta, porém nem os sapatos se
encaixam nos seus pés com conforto e nem ele vê sentido em calçar aqueles sapatos.
Para Bernardet (p.71), pela “confrontação da personagem com o leque dos principais
caro, pra quê? Para andar que nem papagaio”. Desta forma, o filme concretiza a
perplexidade do personagem pois, Fabiano não encontra sentido em viver aos moldes
urbanos, parece se conformar com a vida no campo. Contudo, pode-se dizer que ele
primeiro instante, o vaqueiro ergue o facão com a mão esquerda e anda em direção ao
soldado, que fica amedrontado. Então, Fabiano ameaça o golpe. Parece ser a vingança
da surra que, sem razão, levou na cidade. O soldado recua assustado até bater com as
costas numa árvore seca. Eles continuam firmes na troca de olhar. Fabiano, ameaçador,
o facão vagarosamente. O soldado passa para trás da árvore seca, mas Fabiano continua
a acompanhá-lo. Parados frente à frente, os dois homens olham em direção ao sol como
se ele fosse a única testemunha do que ocorre ali. Saem andando, o “soldado amarelo”,
meio cismado, não vira as costas para Fabiano, que ainda permanece com o facão na
mão. E mais uma vez eles se encaram. Naquele momento, o som do mugido do bezerro
perdido quebra a fisionomia ameaçadora de Fabiano que, logo em seguida, guarda seu
facão na bainha presa à cintura. Novamente o som do mugido e o vaqueiro vira o rosto à
Governo!”. O soldado, sentindo-se por cima da situação, pergunta: “Por onde?”. Fabiano
caminha para perto do “soldado amarelo”, baixa a cabeça e aponta com o braço
esquerdo, dizendo: “No fim da vereda, à direita”. O soldado segue o caminho, às vezes
Nesse momento, o “soldado amarelo” significa algo maior, algo que se sobrepõe
aos direitos de Fabiano que, por várias vezes, sofre pressão do Governo e, com sua
Nessa cena, o poder mais uma vez castra Fabiano de seus atos, afixando-o à sua posição
social. O bravo vaqueiro não se vê no direito de lutar contra essa força maior que o
problemática rural e do povo sertanejo que luta por melhores condições de vida, uma
realidade vigente na região Nordeste. Uma história que reitera o destino de famílias
tendo em vista que a repercussão nos jornais e a astúcia dos cangaceiros nas cidades do
1937, as películas filmadas pelo mascate libanês, Benjamim Abrahão, foram apreendidas
bando foram recuperadas nos anos 60 pelo cineasta Paulo Gil Soares e seu produtor,
Thomas Farkas.
No começo dos anos 90, o cinema brasileiro, até pouco tempo praticamente
estagnado, inicia uma nova fase, após acordar de um sono que parecia profundo e de
uma baixa nas produções cinematográficas, superando lentamente as dificuldades de
realizar filmes no país. Aos poucos, os filmes brasileiros ressurgiam no cenário nacional;
surge uma safra de novos diretores e profissionais mais experientes, trabalhos bem
sucedidos, com reconhecimento geral. À tal fase da cinematografia nacional, iniciada a
partir de 1993, convencionou-se chamar de renascimento ou retomada do cinema
brasileiro.
Nesse período, a qualidade do cinema produzido no Brasil teve um avanço
considerável, firmando trabalhos com nível técnico mais alto do que os de décadas
passadas. Os filmes produzidos na década de 90 demonstram a evolutiva determinação
dos profissionais da área, refletido no domínio tecnológico apresentado nos filmes, mais
precisamente em relação a som e imagem, e na forma pelas quais as temática nacionais
são abordadas. Na retomada do cinema brasileiro, a produção conta com uma vasta
diversificação de estilos, livre de determinados ideais políticos que intervinham nos
enredos, possibilitando aos cineastas mais liberdade de expressão em suas obras para
contar histórias retratadas com a presença de diversas influências das vanguardas
cinematográficas na estética dos filmes. Nesse momento, o cinema nacional começou a
projetar uma nova imagem, mostrando-se maduro, reconquistando o público brasileiro
com sua competência. Surge uma série de filmes que projetam o cinema brasileiro, não
apenas no próprio país, como também no mundo.
Segundo Xavier (p.44), a partir 1993, a nova safra de filmes se tornou mais
apresentável ao grande público e, em 1995, o cinema adquiriu mais densidade, uma
produção com personalidade indefinida, marcada pela grande variedade de estilos. “O
dado típico da década de 1990 foi a diversidade, não apenas tomada como fato, mas
também como valor”. Uma fase do cinema nacional sortida de filmes dos mais diferentes
gêneros, prevalecendo temáticas variadas e formas criativas aplicadas a partir das
condições de produção, com livre arbítrio dos cineastas.
Para algumas fontes, Alma Corsária (Carlos Reichenbach, 1994) é o filme que abre
as portas da retomada do cinema brasileiro. Ele retrata a busca ao sentido da vida,
tratando de forma peculiar e real o tema da periferia. Para Cristiane Nova (1996), o filme
O Qu4trilho (Fábio Barreto, 1995) é o ponto referencial do renascimento cinematográfico
dos anos 90. Depois de anos, o filme levou o cinema brasileiro ao exterior tendo
indicação para o Oscar, num contexto que auxilia a produção nacional a se reerguer. O
roteiro aborda a relação de dois casais de imigrantes italianos determinados a crescerem
social e economicamente no Brasil. A história apresenta adultério entre os casais. Para
Nova (p.164), O Qu4trilho deve ser observado “não apenas como um bom momento do
cinema brasileiro, mas ainda como um documento do ‘renascimento’ da cinematografia
brasileira”. Ainda no início da década de 90, a distribuição do cinema nacional na salas
comerciais e nas emissoras de tevê era um grande problema para nossa produção. A
viabilização e a repercussão dos trabalhos dos cineastas encontrava barreiras, pois o
mercado nacional estava dominado pela assídua produção do cinema estrangeiro.
O filme Baile Perfumado foi produzido com liberdade, apostando nas possibilidades
estéticas, característica da retomada do cinema brasileiro, trabalhando com o referencial
histórico em seu enredo e uma linguagem contemporânea em suas imagens. Segundo
Xavier, no cinema brasileiro dos anos 70 e 80, os cineastas começaram a focalizar o
passado do povo para auxiliar na construção de roteiros e na discussão da problemática
política do presente. Para ele (p.97),
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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