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Raphaell Willian Myzaell dos Santos (1); Alexandre Cunha Machado (2); Manoel Martins dos
Santos Filho (3)
Resumo
As estruturas de concreto são elementos estruturais largamente utilizados, devido à abundância de matérias
primas, por possuírem um conhecimento já solidificado de sua utilização e seu custo ser relativamente
baixo. Porém, quando expostas ao fogo, tais estruturas tendem a reduzir sua resistência característica.
Fatores como a temperatura máxima atingida, o tempo de exposição, a proporção do traço utilizado e a
velocidade de resfriamento, influenciarão significativamente na perda de resistência. Este trabalho tem por
objetivo avaliar a resistência à compressão, tal como a microestrutura de um concreto convencional quando
exposto a altas temperaturas. Para isso foram confeccionados corpos de prova de concreto para serem
submetidos a 3 classes de temperaturas distintas e rompidos ao final de 7 dias de cura úmida. Os
parâmetros variados em cada grupo foram à elevação da temperatura (600°C, 800°C e 1000°C), o tempo de
exposição (30, 60 e 90 minutos) bem como o modo como foi feito o resfriamento (brusco e lento). Para
análise microestrutural do concreto foram realizados ensaios de microscopia eletrônica de varredura (MEV).
De posse da análise dos resultados, os mesmos apresentaram-se compatíveis com a literatura. Ficou
comprovado que o tempo de exposição e a temperatura são diretamente proporcionais a perda de
resistência à compressão e que o resfriamento brusco é sempre responsável pelos maiores danos. A
análise microestrutural aponta que o aumento da porosidade e a pouca coesão do material, parecem serem
indicativos da causa da diminuição da resistência à compressão.
Palavra-Chave: Concreto, Fogo, MEV, Altas Temperatura, Microestrutura
Abstract
The concrete structures the structural elements are widely used due to the abundance of raw materials,
because they have knowledge already solidified its use and its cost is relatively low. However, when exposed
to fire, such structures tend to reduce its characteristic resistance. Factors such as the maximum
temperature reached, exposure time, the proportion of the stroke used and the cooling rate significantly
influence the loss of strength. This study aims to evaluate the compressive strength, as the microstructure of
a conventional concrete when exposed to high temperatures. For that they were made concrete specimens
to be subjected to 3 classes of different temperatures and broken after 7 days of wet cure. The various
parameters in each group were elevated temperature (600 ° C, 800 ° C and 1000 ° C), the exposure time
(30, 60 and 90 minutes) and the way the cooling is done (sudden and slow ). Microstructural analysis of
concrete were performed scanning electron microscopy tests (SEM). Analysis of ownership of the results,
they were compatible with the literature. It was proven that the exposure time and temperature are directly
proportional to the compressive strength loss and the sudden cooling is always responsible for further
damage. Microstructural analysis shows that increasing the porosity and low cohesion material, seem to be
indicative of the cause of decreased resistance to compression.
Keywords: Concrete, Fire, SEM, High Temperatures, Microstructure
ANAIS DO 58º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2016 – 58CBC2016 1
1 Introdução
O concreto é um dos materiais de construção mais utilizados no mundo devido à
abundância de matérias primas e de um conhecimento já solidificado de sua utilização. O
mesmo é um exemplo típico de material compósito. Nesta classe de materiais, a
macroestrutura é definida pela composição de frações volumétricas de constituintes
distintos, como a argamassa (matriz) e a brita (inclusões). Um dos principais problemas
associados aos compósitos está relacionado às diferenças registradas nas propriedades
de seus componentes. Diante disso, é possível esperar efeitos diferenciados para a
argamassa e a brita, quando submetidas à ação do fogo, por exemplo.
O efeito do calor nas propriedades efetivas e na resistência do concreto tem sido objeto
de atenção dos órgãos normalizadores do Brasil e do mundo. No ano 2000, a Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou a NBR 14432 fixando parâmetros
mínimos de resistência para elementos construtivos de edificações, com referência a
várias peças estruturais comumente feitas de concreto. Já a NBR 15200 (2004), que
versa sobre Projeto de Estruturas de Concreto em Situação de Incêndio, apresenta uma
curva com o fator redução da resistência em função da temperatura, como mostra a figura
1.
O grau de severidade do incêndio tem forte influência na perda de resistência da
estrutura, causando consequências como deformações, transformações mecânicas,
mudanças no aspecto estrutural e nos materiais que o compõem. Morales et al. (2011)
afirma que a elevação gradual de temperatura provoca efeitos distintos no concreto e nas
argamassas, verificando-se alteração na coloração, perda de resistência mecânica,
esfarelamento superficial, fissuração até a própria desintegração da estrutura.
Segundo Silva (2012), além da redução da resistência, várias outras propriedades do
concreto são afetadas pelo efeito da temperatura. Uma delas é a diminuição da seção
transversal da estrutura de concreto em decorrência de lascamentos superficiais, tal
fenômeno é denominado de “Spalling”. Souza et al. (2012), justifica tal fenômeno
afirmando que a água contida no interior do concreto ao evaporar, tende a gerar um
aumento de pressão de vapor no interior dos poros. Caso a pressão gerada pelo vapor
acumulado no interior seja superior à taxa de liberação desta mesma pressão para o meio
externo, pode provocar tais lascamentos.
No estudo do comportamento do concreto em situação de incêndio, vários fatores podem
interferir na resistência do mesmo. De acordo com Morales et al. (2011) dentre as causas
que podem levar uma estrutura sujeita a altas temperaturas ao colapso, estão a
temperatura máxima atingida, o tempo de exposição, o traço de concreto, o tipo de
estrutura, o elemento estrutural e a velocidade de resfriamento.
O modo como é feito o resfriamento é considerado de grande importância. Morales et al.
(2011) relata que o resfriamento brusco da temperatura é responsável pelas maiores
perdas de resistência e, quando é realizado o resfriamento lento, existe a possibilidade de
recuperação de até 90% da resistência inicial, dependendo da temperatura máxima
atingida.
Diante da complexidade do comportamento do concreto em situação de incêndio aliado a
2 Programa Experimental
Foram confeccionados 3 grupos de corpos de prova, com 14 CP’s cilíndricos de
dimensões Ø10x20 cm, com fck de 20 MPa.
Utilizou-se um traço de concreto convencional, tendo 1:2,02:1,35:0,51
(Cimento:areia:brita:água) de proporção em massa, com fator água/cimento de 0,51. Este
concreto apresentou valor de abatimento de tronco de cone igual a 60 mm.
O adensamento das amostras foi feito de forma manual, utilizando uma haste de aço. A
desforma dos corpos de prova ocorreu 24 horas após a betonada e, após a desforma dos
CP’s, os mesmos foram colocados em um tanque com água, realizando assim a cura por
via úmida.
Os procedimentos de adensamento, desforma e cura foram realizados seguindo as
recomendações da norma brasileira NBR 5738:2003 que trata sobre os procedimentos de
moldagem e cura de corpos de prova.
Fonte: Autor
Fonte: Autor
De acordo com Morales, Campos e Faganello (2011) dentre as causas que podem levar
uma estrutura sujeita a altas temperaturas ao colapso, estão à temperatura máxima
atingida, o tempo de exposição, o traço de concreto, o tipo de estrutura, o elemento
estrutural e a velocidade de resfriamento. A partir de então, foram adotados 3 diferentes
tempos de exposição (30, 60 e 90 minutos), bem como 2 tipos de resfriamento, brusco e
lento, para o estudo das amostras.
3 Resultados e Discussões
Fonte: Autor
(Equação 1)
Fonte: Autor
A seguinte análise foi realizada com o objetivo de verificar eventuais mudanças micro-
estruturais do concreto. Para isso foi utilizado o Microscópio Eletrônico de Varredura
(MEV) do Laboratório de Química do Instituto Federal de Alagoas.
As amostras foram retiradas dos corpos de prova após o ensaio de resistência á
compressão. Após o rompimento dos corpos de prova as lascas de concreto foram
retiradas do terço médio, depois fraturadas, reduzidas a pedaços com diâmetro máximo
de 2,5 cm. Posteriormente, foram novamente quebradas para se obter o tamanho ideal
para a realização da análise da microestrutura (cerca de 1cm de diâmetro). As amostras
reduzidas tiveram suas superfícies metalizadas (recobertas com ouro) antes de serem
levadas para visualização no MEV.
Em alguns pontos da amostra da figura 8, não tratada termicamente, constata-se a
presença de cristais aciculares típicas de etringita. Sua formação resulta da hidratação do
C3S na presença de gipsita. Mehta e Monteiro (1994) enfatizam que a mesma ocupa de
15% a 20% do volume de sólidos na pasta endurecida, desempenhando, portanto, um
papel menor nas relações estrutura-propriedades, mas é responsável pelo fenômeno de
pega e desenvolvimento da resistência inicial. Sua quantidade aumenta com o tempo
produzindo cristais em forma de agulhas de variados tamanhos.
Fonte: Autor
5 Referências
Costa, C. N.; Figueiredo, A. D.; Silva, V. P.; Aspectos Tecnológicos dos Materiais de
Concreto em altas Temperaturas. Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e
Urbanismo. São Paulo, 2002.