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O autor alega que foi vítima de acidente

automobilístico, o que resultou na incapacidade parcial permanente,


conforme atesta boletim de ocorrência, laudo médico e histórico clínico.
Informa solicitou e recebeu administrativamente.

Requereu a procedência da ação, para que a ré seja


condenada ao pagamento da diferença da indenização, referente ao
seguro obrigatório por invalidez permanente, bem como no dano moral.

A inicial foi instruída com os documentos de p. 15/40.

Os autos foram encaminhados à Central de Conciliação.


Oportunidade em que foi realizado o exame pericial (p.44/46).

A ré ofertou defesa com documentos às p. 48/89.

Na contestação o réu requereu, preliminarmente, a


alteração do pólo passivo, a fim de que seja procedida a sua exclusão e
inclusão da Seguradora Líder. No mérito, postula pela improcedência da
ação, tendo em vista que já liquidou o sinistro via administrativa. Alega
divergência de assinaturas. Assevera, ainda, a inexistência de dano
moral.

Aduz que caso seja condenado ao pagamento do


seguro, que seja nos termos do artigo 3º, II da Lei n. 6.194/74, de
acordo com a proporção da invalidez. Impugna os juros, correção
monetária e os honorários advocatícios.

As partes foram intimadas para manifestar o interesse


no aproveitamento do exame pericial realizado por médico perito da
Central de Conciliação (p.93). A Seguradora apresentou manifestação às
p. 94/99. O autor não se manifestou, conforme certificado à p. 101.

É o relatório. Decido.

Nos termos do art. 12, inciso VII do Código de Processo


Civil, passo a julgar este feito.

A ré requer a alteração do pólo passivo, ou seja,


excluindo ela e incluindo a Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro
DPVAT, ao argumento de que é ilegítima para figurar no pólo passivo da
demanda.

As alegações da ré não prosperam, uma vez que todas


as seguradoras conveniadas ao consórcio das sociedades seguradoras
são corresponsáveis pelo pagamento da indenização do seguro
obrigatório à vítima de acidente de trânsito. Não havendo que falar em
responsabilidade exclusiva da Seguradora Líder.
Nessa linha de raciocínio o Tribunal de Justiça do
Estado de Mato Grosso decidiu:

“52180483 - RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO


SUMARÍSSIMA DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO
(DPVAT). INDENIZAÇÃO POR MORTE. PROCEDÊNCIA.
RECURSO DA SEGURADORA REQUERIDA. PRELIMINARES.
EXCLUSÃO DA RÉ E INCLUSÃO DA SEGURADORA LIDER DOS
CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT S/A. ILEGITIMIDADE
ATIVA AD CAUSAM. CARÊNCIA DA AÇÃO POR AUSÊNCIA DE
REGISTRO DA OCORRÊNCIA NO ÓRGÃO POLICIAL
COMPETENTE. REJEIÇÃO. MÉRITO. ALEGAÇÃO DE NÃO
COMPROVAÇÃO DO NEXO CAUSAL ENTRE O ÓBITO E O
ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. DESCABIMENTO. NEXO
CAUSAL COMPROVADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO A SER
FIXADO EM MÚLTIPLOS DE SALÁRIOS MÍNIMOS VIGENTES À
ÉPOCA DO EVENTO DANOSO. CORREÇÃO MONETÁRIA DESDE
A DATA DA SENTENÇA. PRINCÍPIO DA NON REFORMATIO IN
PEJUS. JUROS DE MORA LEGAIS A PARTIR DA CITAÇÃO.
RECURSO DESPROVIDO. Não há que se falar em
ilegitimidade passiva da seguradora, haja vista a previsão
da Lei nº 6.194/74, ao dispor que, nos casos de seguro
obrigatório de danos pessoais causados por veículos
automotores de via terrestre, a indenização devida será
paga por um consórcio constituído por todas as
seguradoras que trabalhem com o respectivo seguro. Uma
vez que os autores/apelados comprovaram a condição de filhos
da vítima, indiscutível a legitimidade ativa para a ação de
cobrança que visa o recebimento de verba indenizatória do
seguro DPVAT resultante de evento morte. O boletim de
ocorrência não é documento imprescindível para comprovar o
nexo de causalidade entre o acidente e a morte do segurado.
Restando comprovado nos autos as exigências do artigo 5º, da
Lei nº 6.197/74, qual seja, a prova do acidente e do dano dele
decorrente (morte). Correta a decisão que condenou a
ré/apelante ao pagamento do valor do seguro obrigatório.
DPVAT aos autores. O salário mínimo usado como parâmetro
de fixação da verba deverá ser o vigente à época do sinistro, a
qual deverá ser corrigida monetariamente desde a data da
sentença. Diante o princípio recursal da non reformatio in pejus
que veda na processualística brasileira, o agravamento da
situação daquele que recorreu solitariamente. E acrescida de
juros moratórios legais a partir da citação da
seguradora. (TJMT; APL 93075/2013; Capital; Segunda Câmara
Cível; Relª Desª Marilsen Andrade Addário; Julg. 19/02/2014;
DJMT 27/02/2014; Pág. 36)”.

Com estas considerações, rejeito a preliminar de


ilegitimidade passiva.

Mérito
O autor foi vítima de acidente automobilístico em 18 de
novembro de 2013, conforme boletim de ocorrência acostado à p. 22.

A lei de regência da matéria tratada nos autos será


aquela em vigor na data da ocorrência do sinistro, sendo vedada a
aplicação retroativa de lei posterior.

Diante desta constatação, verifico que são aplicadas as


alterações trazidas pela MP n° 340 e a Lei n° 11.482, com vigência
31/05/2007 e 451/2008 – Lei n. 11.945/2009, de 04/06/2009, ou
seja, antes à ocorrência do acidente objeto da lide. Portanto, aplicável a
Lei especial com suas respectivas alterações.

O artigo 3º da citada lei, prevê que a vítima de acidente


automobilístico faz jus a indenização securitária, em caso de
incapacidade permanente:

“Art. 3º Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido no


artigo 2º compreendem as indenizações por morte, invalidez
permanente e despesas de assistência médica e suplementares,
nos valores que se seguem, por pessoa vitimada:
[...]
II – até R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) – no caso de
invalidez permanente;”

Com efeito, a indenização do Seguro/DPVAT deve se


basear no grau de invalidez da vítima, bastando o reconhecimento pelo
expert da invalidez permanente para assegurar à vítima o pagamento do
valor indenizatório.

No caso, em relação a quantificação da invalidez o


inciso II do § 1º do referido artigo dispõe:

“quando se tratar de invalidez permanente parcial incompleta,


será efetuado o enquadramento da perda anatômica ou
funcional da forma prevista no inciso I deste parágrafo,
procedendo-se, em seguida, à redução proporcional da
indenização que corresponderá a 75% (setenta e cinco por
cento) para as perdas de repercussão intensa, 50% (cinqüenta
por cento) para as de média repercussão, 25% (vinte e cinco
por cento) para as de leve repercussão, adotando-se ainda o
percentual de 10% (dez por cento), nos casos de seqüelas
residuais.”

No que tange à indenização securitária, o artigo 5º da


Lei 6.194, de 1974, prevê que para o pagamento do seguro DPVAT é
suficiente a prova do acidente automobilístico e do dano dele
decorrente.
No caso em tela o acidente automobilístico está
comprovado por meio do boletim de ocorrência.

Resta apurar se o autor está incapaz


permanentemente, com avaliação da graduação da invalidez se total ou
parcial, bem como a sua quantificação, a qual deve ser comprovada
mediante perícia, para pagamento proporcional ao percentual da sua
incapacidade.

A prova documental acostada aos autos é suficiente


para comprovar o desenrolar dos fatos e conseqüências, especialmente,
o laudo pericial elaborado por profissional habilitado.

A perícia foi realizada por médico perito da Central de


Conciliação e Mediação desta Capital, com a anuência das partes,
concluindo que a autora possui lesão parcial incompleta incapacitante
de 25% e de repercussão leve (p.46,verso).

Considerando que a perícia foi realizada pelo médico


que atua na Central de Conciliação e Mediação, sendo a mesma
elaborada de forma sucinta, porém com informações necessárias,
portanto, necessário esclarecer que a lesão incapacitante na estrutura
crânio facial do autor computada em 25%, deve ser calculada de acordo
com a tabela de acidentes pessoais.

Nesse sentido:

“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA DE DIFERENÇA DE


SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT) - ACIDENTE
AUTOMOBILÍSTICO - PROCEDÊNCIA - PRELIMINAR DE FALTA
DE INTERESSE DE AGIR - REJEIÇÃO - INDENIZAÇÃO
SECURITÁRIA PAGA ADMINISTRATIVAMENTE E
PROPORCIONALMENTE À COBERTURA PREVISTA AO CASO -
PROPOSITURA DA DEMANDA PARA COMPLEMENTAÇÃO DO
PAGAMENTO - INVALIDEZ PERMANENTE DEMONSTRADA -
LAUDO SATISFATÓRIO À AFERIÇÃO DO GRAU DE INVALIDEZ -
INDENIZAÇÃO PROPORCIONAL - ENTENDIMENTO
PACIFICADO PELO STJ NA SÚMULA Nº 474 - SEQUELA
PERMANENTE PARCIAL INCOMPLETA - ENQUADRAMENTO
NA TABELA DA SUSEP ANEXA À LEI Nº 6.194/74, COM
ALTERAÇÕES DA LEI Nº 11.945/09, E APLICAÇÃO DA
REDUÇÃO PREVISTA NO INCISO II DO §1º DO ART. 3º DA LEI
Nº 6.194/74, CONFORME PERDA APURADA PELA PERÍCIA
MÉDICA JUDICIAL - BENEFÍCIO QUITADO NA ESFERA
ADMINISTRATIVA - IMPROCEDÊNCIA DO FEITO QUE SE
IMPÕE - INVERSÃO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS - RECURSO
PROVIDO.
O recebimento da indenização na esfera administrativa não
impede que o beneficiário do seguro reivindique, em juízo,
eventual diferença entre o valor pago e aquele que entende
fazer jus, não havendo, portanto, cogitar-se ausência de
interesse de agir.
Existindo nos autos laudo pericial comprovando a lesão
suportada pela vítima de acidente de trânsito, necessária a
observância da graduação da invalidez para fixação do valor
indenizatório a ser pago a título do seguro obrigatório
(DPVAT). Precedentes do STJ, consolidados na Súmula n° 474.
Em se tratando de lesão permanente parcial incompleta,
após enquadramento na tabela da SUSEP (anexa à Lei nº
6.194/74, com alterações introduzidas pela MP 451/2008,
posteriormente convertida na Lei nº 11.945/09), deve ser
aplicada a redução prevista no inciso II do §1º do art. 3º da Lei
nº 6.194/74, conforme a perda apurada pela perícia.
Se a indenização securitária encontra-se quitada pelo
pagamento na esfera administrativa do valor relativo à
proporcionalidade da lesão, há que ser julgada improcedente a
demanda que visa complementação. (TJMT, Ap 103003/2014,
DESA. MARILSEN ANDRADE ADDARIO, SEGUNDA CÂMARA
CÍVEL, Julgado em 25/02/2015, Publicado no DJE
03/03/2015).

Neste caso, para lesões de órgãos e estrutura crânio


faciais o percentual é de 100%, dessa forma 25% de 100% é igual a
25%, devendo o pagamento da indenização respeitar a
proporcionalidade da lesão.

Desta feita, provada a incapacidade e o acidente


automobilístico surge o dever de indenizar.

Com efeito, a fixação do valor da indenização do seguro


DPVAT deve obedecer ao disposto no art. 3º, § 1º, inciso II da Lei n.
6.194/1974.

Sobre o assunto a nossa Corte decidiu:

“APELAÇÃO - AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO OBRIGATÓRIO


- DPVAT - ACÓRDÃO ANTERIOR MANTEVE SENTENÇA DE
CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO INTEGRAL DA INDENIZAÇÃO -
RECURSO ESPECIAL - RECURSO PARADIGMA - JUÍZO DE
RETRATAÇÃO - INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 543-C, § 7º, II, CPC -
SEQUELA PERMANENTE - PERDA DA CAPACIDADE
LABORATIVA - INVALIDEZ PARCIAL PERMANENTE
CARACTERIZADA - INDENIZAÇÃO PROPORCIONAL - GRAU DE
INVALIDEZ - NECESSIDADE - LIQUIDAÇÃO POR
ARBITRAMENTO - JUÍZO DE RETRATAÇÃO POSITIVO.
Em conformidade com a orientação do Superior Tribunal de
Justiça, proferida no recurso paradigma REsp 1246432/RS,
julgado sob a sistemática dos recursos repetitivos, ‘A
indenização do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial
permanente do beneficiário, será paga de forma proporcional
ao grau da invalidez (Súmula nº 474/STJ)’.
Na ação em que se pretende o recebimento de indenização
securitária é necessária a prova pericial médica, para fins de
quantificar a extensão da lesão, proporcional ao grau de
invalidez, cujo valor será aferido em liquidação de sentença por
arbitramento. (TJMT, Ap, 46770/2011, DES.GUIOMAR
TEODORO BORGES, SEXTA CÂMARA CÍVEL, Data do Julgamento
26/03/2014, Data da publicação no DJE 31/03/2014)”.

“SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT) - LEI N. 11.482/07 –


INDENIZAÇÃO – PRELIMINAR - CERCEAMENTO DE DEFESA –
INOCORRÊNCIA – GRAU DA INVALIDEZ –ARBITRAMENTO
PROPORCIONAL – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
Não ocorre cerceamento de defesa quando as provas trazidas
aos autos são perfeitamente capazes de comprovar a
ocorrência do sinistro e o dano causado à apelada, não havendo
a necessidade da produção de outras provas para a
comprovação da debilidade da vítima.
Quando a lesão sofrida pela vítima é parcial, deve ser utilizada a
tabela da SUSEP para a quantificação e o devido arbitramento
da indenização.
(TJMT, Ap, 128657/2013, DES.CARLOS ALBERTO ALVES DA
ROCHA, QUINTA CÂMARA CÍVEL, Data do Julgamento
19/03/2014, Data da publicação no DJE 24/03/2014)”.

Com as alterações da Lei n. 6.194/1994, como acima


mencionado, não é mais permitido a vinculação do valor indenizatório
ao salário mínimo. Inclusive, o assunto já foi sumulado pelo Superior
Tribunal de Justiça: “A indenização do seguro DPVAT, em caso de
invalidez parcial do beneficiário, será paga de forma proporcional ao grau
da invalidez.”.

Assim, a indenização deve ser paga na forma do inciso


II, do artigo 3º, da Lei Federal n. 6.194 de 1974, acrescida da redação
da Lei n. 11.482/2007, que estabelece para as hipóteses de invalidez
permanente, como é o caso dos autos, de até R$ 13.500,00 (treze mil e
quinhentos reais) do valor indenizatório.

Diante dessas considerações, a indenização deve


corresponder a 25% do valor de R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos
reais), ou seja, R$ 3.375,00 (três mil trezentos e setenta e cinco reais),
incidindo sobre esse valor a correção monetária e juros de mora.

No caso, a parte autora recebeu administrativamente a


quantia de R$ 1.350,00 (mil trezentos e cinquenta reais) (p.67)

Portanto, abatendo a quantia recebida, o autor faz jus


ao recebimento ainda de R$ 2.025,00 (dois mil e vinte e cinco reais),
referente ao sinistro ocorrido em 18 de novembro de 2013.

Quanto ao termo inicial da cobrança dos juros de


mora, consoante a Súmula n. 426 do Superior Tribunal de Justiça “Os
juros de mora na indenização do seguro DPVAT fluem a partir da
citação.”

Relativo à correção monetária, deverá incidir a partir


do momento em que o pagamento do benefício passou a ser devido,
aplicando-se os índices do INPC, que melhor reflete a desvalorização da
moeda.

O autor pugna pela condenação da seguradora a


indenização por dano moral, sustentando ter sofrido constrangimentos.

É certo que o dano moral em alguns casos pode ser


presumido. Neste, é evidente que não.

Para a condenação de alguém ao pagamento de dano


moral é necessário a configuração dos pressupostos da
responsabilidade civil: o dano – especialmente, a ocorrência a ofensa
algum direito de personalidade do sujeito, eis que inerente a pessoa
humana, intransmissíveis, irrenunciáveis –, a culpa do agente e o nexo
de causalidade. É indispensável para a caracterização do dano moral
que o ato apontado como ofensivo seja suficiente a causar prejuízo. No
caso não há demonstração de tais requisitos.

Diante disso, o pedido de dano moral não merece


acolhimento.

No que concerne a divergência de assinaturas, esta


encontra-se sanada com a presença do autor na audiência de
conciliação realizada na Central de Conciliação, conforme se infere da p.
46.

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