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Introdução
E verdade que, muitas vezes, cristãos recém-convertidos demonstram um zelo e
dedicação muito maiores do que o observado em crentes antigos, principalmente os
que foram educados desde a infância na igreja.
O novo na fé está encantado com o que descobriu, maravilhado com tudo o que
aprende, grato pelo que recebeu e alegre pelos novos relacionamentos. O convívio
com os crentes o deixa muito contente e ele não perde por nada as reuniões da igreja
Mas também é verdade que, às vezes, o crente mais antigo se ressente da presença e
do espaço ocupado pelo novato, como que reivindicando direitos adquiridos com a sua
antiguidade e supondo ter por isso mais méritos.
1 - ENTENDENDO A PARÁBOLA
Jesus evoca uma situação comum do cotidiano, para trazer mais um ensino acerca do
reino de Deus. Mas para entender a parábola é necessário voltar para seu contexto
imediato.
Pouco antes de contar a parábola, Jesus foi surpreendido por um jovem com a
seguinte pergunta: "que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna?" (Mt 19.16).
Durante o diálogo, o jovem tentou justificar sua salvação no fato de ser conhecedor e
observador dos mandamentos (Mt 19.17-20).
Porém, Jesus que conhecia o coração daquele jovem, sabia que era rico e que nutria
um amor por suas riquezas. Daí, o que lhe faltava era abrir mão desse amor idólatra e
voltar-se totalmente para Deus (Mt 19.2122 cf. l Tm 6.10; Cl 3.5).
Depois que o jovem rico saiu de sua presença, Jesus ensinou algo a seus discípulos,
dizendo: "Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. E
ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que
entrar um rico no reino de Deus" (Mt 19.23,24)1.
Essa dificuldade deve-se ao apego que o homem natural tem às riquezas. Então surge
a pergunta: "Sendo assim, quem pode ser salvo?" (Mt 19.25). Diante dela, Jesus
esclarece verdades sobre a salvação, apontado para a graça de Deus (Mt 19.26). O
ápice desse esclarecimento encontra-se na parábola dos trabalhadores na vinha (Mt
20.1-16).
1
Segundo William Hendriksen o v. 24 deve ser entendido literalmente, camelo é camelo e não
uma espécie de corda. E, fundo de agulha é fundo de agulha e não uma portinhola existente no
muro de Jerusalém. "Ele [Jesus] fala em termos absolutos com o propósito de impressionar
firmemente os discípulos com a verdade de que a salvação, do princípio ao fim, não é uma
realização humana". Hendriksen, William. Comentário do Novo Testamento - Mateus, Vol.2.
São Paulo. Editora Cultura Cristã. 2001.319.
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Os detalhes da parábola
Nessa parábola, alguns detalhes precisam ser pontuados. Primeiramente, Jesus
assemelha o reino a uma situação comum, um homem, dono de uma vinha, que vai à
praça da cidade procurar diaristas para o trabalho na colheita (v. 1). Com isso, Jesus
focaliza a atitude desse homem como sendo o centro da parábola. Todos os
acontecimentos irão girar em tomo dele.
O segundo detalhe a ser pontuado diz respeito aos homens na praça. Ao contrário do
que possa parecer os homens que estavam na praça não eram pessoas desocupadas
ou vagabundas. Eram trabalhadores diaristas à espera de uma oportunidade para
trabalhar na colheita de uvas, que acontecia lá pelo mês de setembro. Como nessa
época do ano, na Palestina, o amanhecer se dá por volta das seis da manhã,
provavelmente, muitos já estavam ali muito antes mesmo do sol nascer.
Outro detalhe diz respeito às vezes que o fazendeiro foi à cidade e contratou
trabalhadores. Isso acontece cinco vezes no texto (Mt 20.1,3,5,6). Na última vez, há
uma preocupação do fazendeiro com os trabalhadores que ficaram desocupados
durante o dia inteiro (v.6). Ele sabia que, se não trabalhassem, não teriam com o que
se sustentar. Por isso, manda aqueles homens para sua vinha.
Portanto, os que reclamaram não tinham esse direito. Por outro lado, o fazendeiro era
soberano sobre aquilo que lhe pertencia. Ele livremente agiu sobre o que era seu e
pagou o que quis aos trabalhadores, que chegaram por último à vinha.
Tanto os que foram chamados nos dias de Jesus, ou nos dias de Lutero ou nos dias
que nos procederão, receberão a mesma recompensa Pois o entrar no reino depende
de Deus e não da capacidade humana. Essa compreensão da parábola deve fazer
com que os cristãos reflitam sobre duas verdades:
Em Mateus 18.1-5, eles discutiam quem seria o maior no reino. O texto não nos diz
quem foi o pivô da discussão. Vale ressaltar que esse texto está no contexto da
transfiguração.
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A resposta do Senhor foi: "Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não
vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto,
aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus" (Mt
18.2-4).
Essa discussão não tem sentido no reino de Deus, por um motivo: ninguém está no
reino por seu próprio poder ou força, mas pela graça de Deus. A situação de todos nós
antes de Cristo era a mesma, independente de termos cometido ou não este ou
aquele pecado. Pecado é pecado, e o salário do pecado é sempre o mesmo, a morte.
Mas, o dom gratuito de Deus também é o mesmo para todos, a vida eterna em Cristo
(Rm 6.23).
Paulo disse, de maneira acertada, que todos nós estávamos mortos em nossos delitos
e pecados, atendendo as inclinações da nossa própria carne (Ef 2.1-3). Estávamos,
portanto, em pé de igualdade em nossa vida de pecado. Porém, a graça foi derramada
igualmente sobre os eleitos de Deus.
No reino todos são servos. Todos têm deveres iguais quanto à salvação, ainda que os
galardões sejam diferentes e segundo as obras em nome de Cristo (Mt 10.41,42; Mc
9.41; Lc 6.35; ICo 3.8; Hb 10.35; Ap 22.12).
A salvação é igual para todos os eleitos. Sendo assim, ninguém tem o direito de exigir
de Deus algo mais. Ou ainda, se colocar acima de seus irmãos como o propósito de
dominá-los, segundo seus pensamentos e ideais. Atitudes como essas são
inaceitáveis no reino de Deus.
A atitude apresentada por alguns trabalhadores era imprópria. Eles eram incapazes de
compreender que o fazendeiro havia sido tão gracioso com eles quanto foi com os que
trabalharam apenas uma hora.
2
HEndriksen, p. 261.
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Todos poderiam ter voltado para casa sem dinheiro para suas despesas. O
questionamento desses trabalhadores foi uma tentativa de obscurecer a bondade do
fazendeiro. Porém, deixou transparecer um caráter egoísta, invejoso e mesquinho. Por
isso, o fazendeiro considerou que tais pessoas não podiam trabalhar para ele. Sendo
assim, ele disse aos que murmuravam: "toma o que é teu e vai-te" (v.14).
Para Simon Kistemaker3, a intenção de Jesus com a expressão "os últimos serão
primeiros, e os primeiros serão últimos" é mostrar que no reino de Deus a igualdade é
regra para todos.3 Logo, os que não aceitam essa condição estão em desacordo com
um princípio básico do reino. Daí, a fala final: "porque muitos são chamados, mas
poucos escolhidos".
Uma realidade esquecida por muitos cristãos é que nem todos os que são chamados
para o reino, são escolhidos para estar nele. E possível que pessoas compartilhem em
parte de determinados dons celestiais, provem a boa palavra de Deus e os poderes do
mundo vindouro (Hb 6.3,4), sem, contudo pertencerem de fato ao reino. O exemplo
clássico foi Judas Iscariotes. Ele estava entre os doze discípulos (Mt 10.1-4).
Recebeu as instruções para o ministério (Mt 10.5-42). Ele estava entre os setenta que
voltaram felizes de sua missão, ao ver o poder de Satanás sendo subjugado pelo
poder de Deus (Lc 10.13-16). Mas era ladrão (Jo 12.6), filho da perdição (Jo 17.12) e
traiu seu amigo e senhor (Mt 10.4; Mt 26.14-16,50).
Anthony Hoekema define o chamado externo como "a oferta da salvação em Cristo a
pessoas, junto com um convite para aceitar a Cristo em arrependimento e fé, para que
recebam o perdão dos pecados e tenham a vida eterna".5
Não nos compete distinguir quem é quem. Tal separação será feita no último dia (Mt
13.49,50). Cabe à igreja, como agência do reino, anunciar o evangelho, receber e
batizar os convertidos, ensinando-os no caminho do Senhor e disciplinar os faltosos,
num exercício fiel da autoridade das chaves (Mt 28.19; Mc 16.15; Mt 18.15-20; Mt
16.19).
A não ser que a pessoa demonstre ser impenitente e contumaz em pecar, todos que
vêm à igreja devem ser considerados parte do reino e tratados como tal. Cabe ao
Senhor conhecer e separar os seus.
3
Kistemaker, Simon. As Parábolas de Jesus. São Paulo. Editora Cultura Cristã, 1992. p. 101.
4
Ver argumentação de Anthony Hoekema sobre a vocação do evangelho em: Hoekema,
Anthony. Salvos pela Graça. São Paulo. Editora Cultura Cristã. 1997. pp.75-86.
5
Hoekema, p. 75.
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CONCLUSÃO
Diante dessas verdades, somos chamados a uma atitude sincera de arrependimento
para com Deus e para com o próximo.
Jesus afirmou que: "Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que
creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra
de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar" (Mt 18.6).
Aplicação
• Consciente da graça de Deus em sua vida, como você pode colocá-la em
prática no relacionamento com seu irmão em Cristo?
• Você se considera merecedor da graça de Deus? Por quê?
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