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As Práticas Educativas Do Escutismo PDF
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formação do cidadão tendo por base a sua regeneração moral e o combate aos
(e.g. NAGLE, 1976). O Brasil teria sido um dos primeiros países a interessar-se
se instituir nas escolas públicas o escutismo, ministrado não por militares, mas
1
O texto referente ao escutismo escolar em São Paulo tem por base parte da tese de Doutorado de NERY,
Ana Clara Bortoleto. A Sociedade de Educação de São Paulo: embates no campo educacional (1922-
1931). Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo,
1999, sob a orientação da Profª Dra. Denice Barbara Catani.
3
Nacional.
(e.g. SOUZA, 2000, p.110). Em 1924 foi criada, na capital federal, a União
ficado alheia a esta questão. Em 1921 foi criada a Associação dos Escoteiros
Catholicos do Brasil – AECB – que não terá nenhuma relação com escutismo
prática. Não há consenso sobre esta questão, que permeia tanto os relatórios
2
Fundada em 7 de Setembro de 1916 por Olavo Bilac, Pedro Lessa e Miguel Calmon, tinha por objectivo
geral “congregar os sentimentos patrióticos dos brasileiros de todas as classes”. Entre outros, tinha
também por objectivo o combate ao analfabetismo.
4
atacado. É neste cenário que o escutismo ganhará força nas terras brasileiras.
3
Director Geral da Instrução Pública de São Paulo, entre 1921-1924, tendo substituído Sampaio Doria
após sua exoneração.
5
No mesmo Anuário, cada Delegado Regional faz o relatório da sua área, quase
escutismo tivesse provocado um novo ânimo nos alunos das escolas públicas;
para comprová-lo basta termos em mente que havia, em 1923, por volta de
usurpada”.6
Segundo este relatório parece que cabia aos professores das escolas a
4
Directoria Geral da Instrução Pública. Anuário do Ensino,1923, p.29-30.
5
“A execução da Reforma”. Anuário do Ensino,1923, p.93.
6
Idem, p.111.
6
escuteiras:
(ABE) era exercida por José Carlos de Macedo Soares e eram membros da
directoria Oscar Thompson e Djalma Forjaz, entre outros; ainda faziam parte da
7
Idem, p.112.
7
Com a Reforma do Ensino de 1925, o “escotismo” não aparece mais como item
Fernando de Azevedo, em 1926, diz que com a nova lei houve a “extinção do
1925 não haver o tema “escotismo” este ainda era uma actividade prevista nas
8
Revista Escolar. Directoria Geral da Instrução Pública de São Paulo. São Paulo, Tipografia do Estado,
1925-1927.
8
degeneração da nação.9
Por intermédio das várias fotografias que aparecem na revista, observa-se que
doméstico.
pessoas com o facto do escutismo praticado nas escolas estar a cargo de civis
vez, o escutismo feminino, dando a ideia de que era uma prática que já vinha
sendo desenvolvida, mas que, no entanto, era pouco aceite pelas meninas.
Aponta a finalidade deste considerando que “seria ele uma das condições
9
“Escutismo”. Revista Escolar, n.12, Dezembro 1925, p.96.
9
perfeita “dona de casa”. Deveria aprender a fazer todo o serviço do lar, pois
assim ela casaria mais cedo que as demais e, consequentemente, seria mais
feliz. O artigo faz toda uma descrição da esposa ideal, cuja formação escuteira
seria essencial.
Contudo, o facto dele ser oficializado pela Reforma de 1920, apontada como a
10
“Escutismo”. Revista Escolar, n.33, Setembro 1927, p.68.
10
ministrada na escola:
(campismo);
pp.276-277)
11
Educação. Directoria Geral da Instrução Pública e Sociedade de Educação de São Paulo. São Paulo,
1927-1930.
11
que:
acrescentando que
12
Educação, v.3, n.3, Junho 1930, p.349.
12
Nessa mesma revista há outros artigos sobre escutismo, mas nenhum deles
nos fornece a ideia de como era a prática do escutismo nas escolas públicas
Paulo chega, em 1928, a 15.700 (número bem abaixo dos 100.000 apontados
em 1923), “número esse que tende a aumentar graças ao interesse que essa
pelas quais fica o escutismo integrado nos programas das nossas escolas
primárias”.15
13
Idem, p.350.
14
“Educação Física e Escotismo”. In MENDES, A. Relatório, 1927-1928, p.108.
15
Id., ibid.
13
integral do educando.
juventude portuguesa
A União dos Adueiros de Portugal (UAP) foi fundada em 1914 pelo oficial do
exército Artur Barros Basto, tendo sido reconhecida pelo Estado em 1919,
decisão essa que pôs termo à exclusividade da AEP, ainda que não ao seu
16
Novos Estatutos da Associação dos Escoteiros de Portugal, aprovados pelo Decreto nº 9158 de 2 de
Outubrode 1923, com as alterações constantes do Decreto nº 11199 de 29 de Outubro de 1925. Lisboa,
Edição da Secretaria Geral, 1925, p.4.
17
LEMOS, A. V. O escutismo na educação. Coimbra, Minerva Central, 1926, p.47.
18
Novos Estatutos da Associação dos Escoteiros de Portugal..., p.6.
15
dos seus dirigentes eram militares. Com sede no Porto, a sua área de
oficialmente em 1925, extirpadas que foram do nome e dos estatutos - que não
VICENTE, 2004). O seu órgão – A Flor de Liz - começou a ser publicado ainda
19
BASTO, A. C. B. “A razão dum nome”, O Adueiro, n.1, Julho 1918, p.3.
16
aproximar todos aqueles que pelo Scouting se interessam (que são tão poucos)
malogro desta primeira tentativa de aproximação, o evento acabou por ter lugar
ter estado ausente da reunião, a UAP deu o seu acordo de princípio ao Pacto.
20
“O que sobre o Congresso pensa o Sr. Dr. Tovar de Lemos. Comissário Nacional da A.E.P”, O
Escoteiro, n.9, Agosto - Setembro 1924, p.3.
17
O panorama pouco muda até 1923. Em artigo de Alfredo Tovar de Lemos são
mais rápidos. Álvaro Viana de Lemos refere, tendo por base o censo de 1925
1926, entre 480 e 900 adueiros. O CNS, que teve um crescimento bem mais
21
MACHADO, A. M. “O Escutismo em Portugal”, O Escoteiro, n.12, Julho 1917, p.2.
22
LEMOS, A. T. “O Pow-Wow do Chefe. O 10º aniversário da Associação dos Escoteiros de Portugal”,
O Escoteiro, Setembro 1923, p.26.
18
obediência.
escuteiros. Além disso, a UAP assume esse militarismo quando, através do seu
âmbito dos seus grupos, “a instrução táctica de infantaria”.24 A AEP, por seu
23
BASTO, A. C. B. “A razão dum nome”, O Adueiro, n.1, Julho 1918, p.3.
24
“Instrução táctica”, O Adueiro, n.2, Agosto 1918, p.18.
25
“O escutismo entre as classes trabalhadoras”, O Escoteiro, n.8, Julho 1916, p.2.
26
MACHADO, A. M. “A brincar”, O Escoteiro, n.9, Agosto 1916, p.2.
27
“O escutismo em face da educação militar”, O Escoteiro, n.1, Maio 1925, pp.3-4.
19
Martins e Álvaro Viana de Lemos (e.g. MARTINS; 1925; LEMOS, 1926). Este
28
MIRANDA, F. P. “A educação física na escola primária”, Revista de Educação Geral e Técnica, n.3,
Janeiro 1912, p.21.
29
LEMOS, A. V. “O Escotismo”, Revista Escolar, n.2, Fevereiro 1924, p.49.
30
“Enfim”, O Escoteiro, n.12, Julho 1917, p.1.
20
e do vinho”.31
rapaz que, desde que se tornou escuteiro, “sente-se outro: mais forte de corpo
e espírito, mais bondoso, mais útil, mais patriota”, aproveitando para concluir:
“Foi o escutismo que o aperfeiçoou, que lhe deu a energia moral”.33 O mito do
educação física, intelectual e principalmente moral que tem por fim incutir na
trabalho e o respeito pelas leis e pelas crenças e opiniões dos outros”.35 Esta
31
“O Escutismo entre as classes trabalhadoras”, O Escoteiro, n.8, Julho 1916, p.2.
32
MACHADO, A. M. “O Escutismo em Portugal”, O Escoteiro, n.12, Julho 1917, pp.3-4.
33
OLIVEIRA, A. S. “Pela minha honra”. O Escoteiro, n.1, Novembro 1915, p.1.
34
“O hábito não faz o monge”, O Escoteiro, n.1, Novembro 1915, p.3.
35
HERMÍNIO. “Diálogo”, O Escoteiro, n.4, Março 1916, p.2.
21
escutista, até porque as suas implicações para a formação da alma dos jovens
parecem inquestionáveis.
36
BORGES, A. “A educação física do Escuteiro”, O Escoteiro, n.10, Setembro 1916, p.1.
37
CURSON, D.. “Notas para chefes. Vida ao ar livre”, O Escoteiro, n.4, Janeiro – Fevereiro 1927, p.3.
22
descrita como “sempre jovem e bela” – surge como uma boa metáfora para
como que uma antecipação do mundo novo. A reunião de todos, ao fim do dia,
38
“O campo”, O Escoteiro, n.2, Junho 1925, p.2.
23
século XXX”.39
39
“O escutismo entre as classes trabalhadoras”, O Escoteiro, n.8, Julho 1916, p.2.
40
LEMOS, A.V. O escutismo na educação. Coimbra, Minerva Central, 1916, p.19.
41
LEMOS, A. T. “O nosso boletim”, O Escoteiro, Julho 1923, p.1.
42
MACHADO, A. M. “A brincar”, O Escoteiro, Junho 1916, p.2.
24
identificam com a sua maneira particular de ser”.43 Alberto Lima Basto ilustra
essa mesma ideia ao afirmar que os chefes dos grupos necessitam de ter “um
os rapazes têm dentro de si, fazendo intervir “90% de fantasia” nas actividades
pretendíamos ministrar”.44
43
BORREGO, J. D. “O escutismo e a educação militar”, O Escoteiro, Julho 1923, p.8.
44
BASTO, A. L. “O poder da imaginação do escutismo”, O Escoteiro, Julho 1923, pp.5-6.
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Referências:
HUNT, Alan (1999). Governing morals. A social history of moral regulation. Cambridge,
Cambridge University Press.
LEVI-MOREIRA, Silvia (1988). São Paulo na Primeira República. São Paulo, Brasiliense.
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MARTINS, António Augusto (1925). Manual do escoteiro escolar. Porto, Livraria Escolar
Progredior.
MENDES, Amadeu (1929). Relatório: apresentado ao Exmo Sr. Dr. Fábio de Sá Barreto (1927-
28). São Paulo, Irmãos Ferraz.
NAGLE, Jorge (1976). Educação e sociedade na Primeira República. São Paulo, EPU .
NERY, Ana Clara Bortoleto (1999). A Sociedade de Educação de São Paulo: embates no
campo educacional (1922-1931) (Tese de Doutorado em Educação). São Paulo, Faculdade de
Educação, Universidade de São Paulo.
PROCTOR, Tammy (2002). On my honour. Guides and scouts in interwar Britain. Philadelphia,
American Philosophical Society.