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30/09/1990
Levamos um tempo para adquirirmos uma comunicação que
realmente funcionasse, afinal não dava pra conversar apenas com
sussurros. Mais no final deu certo. Todos aqueles testes e
treinamentos funcionaram. Depois de dias escondido no bosque,
pude me preparar para o que me esperava.
18/07/1977
“Matar”, “Matar”, é o que ele me dizia. Talvez aquelas simples
palavras me levaram a viajar num sonho acordado, não sei, mais
era o que aconteceu quando o olhei nos olhos.
18/07/1537
18/07/1739
Eu acordei encharcado e ensopado de suor. Será que aquilo foi
real? Como ele sabia meu nome? O que significava aquilo tudo?
Eram muitas perguntas e poucas respostas.
Percebi que também estava chorando. Mas porque? Eu não estava
triste, alegre, com raiva ou medo. As lágrimas pareciam
escorregadias e sem sentido.
De repente percebi algo ainda mais sem sentido. Eu estava
deitado numa cama, dentro do convés de um navio. Ao meu redor,
várias outras pessoas estavam deitadas também. Algumas liam
livros, outros dormiam e outros olhavam as estrelas pela janela do
convés. Essas pessoas, em sua maioria, magras e barbudas, com
olhos inchados e expressões carrancudas.
18/07/1977
Eu acordei ao lado da mesma árvore, onde a coisa me pegou.
Estava ensopado de suor, com milhares de folhas caídas sobre
mim. Quando a coisa havia encostado na árvore, todas as suas
folhas haviam caído.
Um torpor espalhava-se por todo meu corpo, deixando-me zonzo
e com a visão turva. Tentei levantar, mas não consegui. Apenas o
esforço de tentar abrir os olhos, era algo difícil. Felizmente
consegui ter uma última imagem da coisa diante de mim. Ela
estava se transformando outra vez. Suas garras estavam voltando
ao normal, seus dentes estavam diminuindo e seu pelo estava
caindo. De repente, o mesmo gato que havia perseguido pelo
bosque estava novamente a minha frente, com seus olhos grandes
e amarelos. Apaguei.
Quando acordei já estava escuro, a lua brilhava reluzente no céu
cheio de estrelas e os grilos cantavam em uma melodia que me
parecia tipo aqueles filmes de terror.
A árvore a minhas costas, era de grande ajuda, pois me sentia
tonto, o mesmo torpor invadiu minha mente e tornou meus
sentidos embaralhados e confusos, porém, havia uma coisa de
errada com a árvore, além de todas as folhas caídas, seu tronco
estava gelado e com a aparência de carbonizado, como se sua vida
e sua cor, fossem tiradas por inteiro.
Eu comecei a me levantar, mesmo que mamãe e papai soubessem
que fui ao passeio da escola, eles deveriam estar preocupados por
minha demora. Então comecei a caminhar de volta a Avenida
Ternson, em direção a minha casa, era impressionante como
conhecia o bosque mesmo no meio da noite.
Em todo o percurso até a avenida, não consegui tirar todas
aquelas imagens e visão, a maneira como elas sempre me levavam
até a coisa, ou o jeito que as pessoas morriam. Ainda podia escutar
os gritos do soldado caído, ou os lamentos do capitão. A coisa que
me mostrou tudo aquilo, ainda marcava sua presença a meu redor,
como se ainda estivesse me vigiando, então era difícil, não olhar
para os lados ou para trás de vez em quando.
Quando cheguei próximo da avenida, já me sentia bem melhor,
pelo menos para começar a correr se fosse preciso. A rua estava
escura, dos cinco postes naquela área onde estava, três haviam
queimado, tornando ainda pior a expectativa de chegar em casa.
Felizmente quando olhei no longo horizonte vazio da estrada,
avistei dois faróis brancos vindo em minha direção, estava vindo
bem rápido, portanto minha espera não durou muito. Quando
chegou próximo de onde eu estava, consegui ver um modelo
antigo, tipo os carros do final dos anos 70, o barulho do motor era
estridente, como se ele arrastasse pelo chão enquanto andava.
O carro começou a parar. Quando o fez pude ver que era o
motorista. Era um velho, talvez uns 65 anos ou 70, sua pele era
negra e em seu olho esquerdo estava coberto por tapa olho preto.
Sua expressão era dura e fria, como se sentisse um ódio
incontrolável e sombrio, lembrei da mesma expressão no rosto do
Soldado coberto de sangue fizera enquanto matava seu inimigo. O
velho dirigiu-se amim com aqueles mesmos olhos.