Para estudar o Romance, nos basearemos em “A Teoria do Romance”, do
crítico húngaro Georg Lukács, publicado em 1920. Ele tem uma definição pontual e aceita pela crítica mundial para caracterizar sinteticamente o romance. Segundo ele, no Romance, os heróis representam aquela pequena parcela do mundo que não acredita nas convenções e não se deixa, assim, aniquilar-se, esquecer-se. O romance é a forma que representa uma realidade interior não encontrada nas estruturas sociais que nos regem e que nos sufocam. Ou seja, a base do grande Romance moderno é a inquietação para com as instituições tradicionais da sociedade. O Romance, portanto, ganha corpo com os russos (Dostoievski, Tolstói, etc), passando por Balzac, Proust, Joyce, Faulkner.
Com isso em mente, o primeiro passo para a elaboração do romance é a
definição da ideia principal e do conflito da história. O escritor utiliza sua criatividade (advinda de pesquisa pessoal ou observação do mundo, entre outras coisas), para criar o fio principal da história e, a partir disso, vai preenchendo os personagens, o narrador, o ambiente, enfim, as pontas soltas da história. Outra característica do romance são os múltiplos focos do conflito, por isso, o escritor deve atrelar à história principal, subconflitos para também ganhar o leitor. Lembre-se que o romance ganha por totalidade, ou seja, explora múltiplos focos de um mesmo problema. O desafio é unir toda a teia de conflitos com harmonia e vigor à trama principal do projeto.
Há os personagens principais, os mais fundamentais à trama da obra, e os
secundários, aqueles que movimentam os primeiros e/ou abordam outros temas que complementam a história. Todos os personagens devem ter defeitos e qualidades ao longo da obra. Pense-os com profundidade. É claro que os personagens principais serão os mais explorados, mas investigue também os personagens secundários para tornar a história mais viva. Como os defeitos do personagem principal se desdobram no secundário? Como uma pessoa impacta na vida da outra? Pense sempre nisso. O cenário (também chamado de ambiente) é o lugar/local onde os personagens se movimentam. Um romance histórico tem um cenário que não corresponde, cronologicamente, a nossa época atual. Ou seja, se passa em outras épocas da História. Para esses enredos, o escritor deve pesquisar os hábitos daquela determinada sociedade com o objetivo de manter a lógica interna da história. O mesmo vale para a idade dos personagens. Uma criança tem um linguajar diferente de um adulto; uma mulher fala diferente de um homem; uma mulher criada na fazenda no séc. XIX na Inglaterra é muito diferente de um homem aristocrata da mesma época. Cada personagem têm sua voz particular e o escritor deve encontrar (através de pesquisas, observação, tentativa e erro) o que melhor traz a personagem, verbalmente, à vida. É muito difícil fazer diálogos, por isso, sugiro que pesquisem no Teatro nacional (porque escrevemos em Português) os melhores mestres do falar. Comece por Nelson Rodrigues. E ouça muito. Preste sempre atenção em como as pessoas falam, quais palavras elas suprimem, como usam as conjunções, preposições, manias verbais, tudo isso é arsenal para o escritor montar seus diálogos.
- Próxima aula: tipos de narrador, como fazer uma boa descrição,
suspense, clímax e desfecho.
- Exercício: Escolha 2 romances com as qualidades propostas por Lukács
que você tenha lido (“no Romance, os heróis representam aquela pequena parcela do mundo que não acredita nas convenções e não se deixa, assim, aniquilar-se, esquecer-se. O romance é a forma que representa uma realidade interior não encontrada nas estruturas sociais que nos regem e que nos sufocam”), e explique a trama deles. Escreva e envie por e-mail até 20 de outubro.
- Em adicional, se você não fez o exercício de crônica e o texto com a