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2ª Parte do Trabalho de Grupo de Estética

Obra Escolhida:
Ludwig van Beethoven - Sinfonia nº 6, em Fá Maior, opus 68, “Pastoral”.

Andamentos da Sinfonia:

I - Despertar de sentimentos alegres ao chegar ao campo. Allegro ma non


troppo;

II - Cena à beira de um ribeiro. Andante molto mosso;

III - Alegre reunião de camponeses. Allegro;

IV - Temporal, tempestade. Allegro;

V - Canto pastoral: sentimentos de alegria e gratidão após a tempestade.


Allegretto.

Características:
A Sinfonia nº 6, em Fá Maior, opus 68, “Pastoral” de Ludwig van
Beethoven (Bona, 16 de dezembro de 1770 - Viena, 26 de março de 1827), é
uma obra de referência fundamental na História da Música. Esta obra brilhante,
não podendo ser designada por ‘sinfonia programática’ (devido à ausência de
um texto literário escrito em separado, uma história, um programa) foi, no
entanto, o embrião principal para os desenvolvimentos posteriores deste género
(como o célebre exemplo da Sinfonia Fantástica de Hector Berlioz). A Sinfonia
Pastoral possui conteúdo extramusical, certos detalhes musicais, certas cores e
texturas que, guiados pelas breves descrições que Beethoven faz de cada
andamento, nos fazem imaginar e mesmo sentir as mais agradáveis cenas
campestres.
A Sinfonia Pastoral foi escrita entre os anos de 1806 e 1808 (existem, no
entanto, já esboços da mesma nos cadernos de Beethoven que recuam até
1802), e foi concluída imediatamente após a conclusão da Sinfonia nº5. Por esse
motivo, estas duas sinfonias foram estreadas conjuntamente a 22 de dezembro
de 1808 no Theater an der Wien (Viena, Áustria), juntamente com as estreias do
Concerto nº 4 para Piano e Orquestra (tendo Beethoven como solista) e da
Fantasia para Piano, Coro e Orquestra. Um facto bastante curioso a recordar é
que a Sinfonia Pastoral foi erradamente anunciada no Wiener Zeitung (jornal
austríaco, atualmente o jornal publicado ininterruptamente mais antigo do
mundo) como “Sinfonia nº 5 - Uma Recordação da Vida no Campo”. Além de a
numeração da Sinfonia Pastoral estar errada (deveria ser “Sinfonia nº6”), o
subtítulo anunciado caiu rapidamente em desuso. Foram-lhe também atribuídos
nomes como “Sinfonia Característica”, “Lembranças da Vida Campestre” ou
“Sinfonia Pastorella”, mas atualmente é conhecida vulgarmente por “Sinfonia
Pastoral” ou “Sinfonia Pastorale”.

Beethoven, um subversivo, um “bom rebelde”, pai do Romantismo,


desvinculou-se das ideias e do estilo do classicismo, da continuidade, do
compositor visto como um trabalhador por encomenda e abriu portas a um
paradigma diferente, o Romantismo musical, onde o compositor dá asas ao seu
génio criador e expressa-se individualmente. É o compositor o criador da obra
própria sua e molda o seu barro à sua vontade.

Na Sinfonia Pastoral, como já referimos mais acima, foi de facto uma


novidade pouco usual na época, o uso de texturas e timbres propositadamente
alusivos a um cenário pré-definido pelo compositor. Nesta experiência,
Beethoven utilizou a música dita ‘pura’ para expressar realidades e conteúdos
extramusicais.

Com a estreia da Sinfonia Pastoral, foi proporcionada ao público vienense


uma experiência estética completamente diferente. Teria de ser adotada nova
postura perante um repertório diferente. Como disse Beethoven num dos seus
esboços desta obra: “É deixado ao ouvinte descobrir por si mesmo as situações”.
Perante uma frase um tanto quanto vaga, desconexa, a interpretação que
fazemos é a mais literal possível. Beethoven, colocando apenas uma frase
literária para caracterizar cada andamento, pretendia que a pureza da sua
música, o melodismo, a aparente simplicidade, e certos sons e texturas fossem
mais do que suficientes para proporcionar ao ouvinte que soubesse
minimamente o que é o campo uma experiência sensível e mergulhadora dentro
de cenários próprios campestres. Para Beethoven a descrição e narração de
uma história eram inúteis. O próprio escreveu também a propósito da Sinfonia
Pastoral e deste assunto que a música era “mais expressão de sentimentos do
que pintura”. Com isto Beethoven afirma-se como um Romântico. De facto, na
Sinfonia Pastoral as ‘sensações campestres’ são sensações de Beethoven
transfiguradas e processadas em linguagem musical. Na Sinfonia Pastoral não
há descrição. Há evocações de sensações próprias de Beethoven transformadas
para linguagem musical que depois escutadas pelo público suscitam imagens e
sensações campestres aproximadas ou não das originais de Beethoven, mas
nunca exatamente as mesmas.
A Sinfonia Pastoral é composta por cinco andamentos, mais um do que o
habitual na época, uma vez que o 4º andamento (Allegro) serve essencialmente
de transição entre o 3º andamento (Allegro) e o 5º andamento (Allegretto). Uma
vez que a obra está relacionada com conteúdos extramusicais, Beethoven
atribuiu uma frase a cada andamento. Sendo assim temos os seguintes
andamentos: I - Despertar de sentimentos alegres ao chegar ao campo; II - Cena
à beira de um ribeiro; III - Alegre reunião de camponeses; IV - Temporal,
tempestade; V - Canto pastoral: sentimentos de alegria e gratidão após a
tempestade.
São várias as características distintivas da Sinfonia Pastoral em relação à
restante obra de Beethoven. Principalmente no primeiro e no último andamento
está presente uma sensação discreta e evocativa que consiste na repetição
prolongada de motivos serenos. Relembra as repetições cíclicas na natureza e
a serenidade do campo. Esta calma e serenidade dá ênfase às variações de
harmonia, textura e coloridos tímbricos. Ainda no primeiro andamento destaca-
se o uso frequente de notas pedais e uma secção de desenvolvimento sem
grandes tensões harmónicas. No segundo andamento, um ribeiro é
representado de uma forma simples. Na coda, a flauta, oboé e clarinete fazem
delicadas imitações do canto dos pássaros (que Beethoven descrimina da
partitura, nomeadamente as aves rouxinol, codorniz e cuco). O terceiro
andamento, retratando uma alegre reunião de camponeses, contém musica
dançante e de carácter popular e folclórico. Destacam-se os diálogos entre as
madeiras. No quarto andamento temos uma impetuosa tempestade, sendo que
é um andamento fortemente contrastante com os anteriores. Para isso a
orquestração é reforçada. Entram pela primeira vez os trombones e o flautim. Os
tímpanos reforçam os efeitos de uma violenta tempestade. As cordas usam
efeitos de tremolo com os arcos. O uso de uníssonos orquestrais, enormes
cromatismos reforçam ainda mais a violência e o poderio da tempestade. Na
gíria costuma-se dizer que “depois da tempestade vem a bonança”. É o que
acontece no quinto e último andamento. A paisagem clareia, abrem-se os céus,
a harmonia e a textura adequam-se ao cenário e a obra termina com uma beleza
idêntica ao início, segundo sentimentos celestiais de comunhão, fraternidade e
paz.

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