Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MecSolosV1c PDF
MecSolosV1c PDF
l - Introdução
Como já se viu, o solo é constituído de uma fase sólida e de uma fase fluida (água e/ou
ar). A fase fluida ocupa os vazios deixados pelas partículas sólidas que compõem o esqueleto
do solo. Particularmente, em se tratando da água, esta pode estar presente no solo sob as mais
variadas formas.
Nos solos grossos, em que as forças de superfície são inexpressivas, essa água se
encontra livre entre as partículas sólidas, podendo estar sob equilíbrio hidrostático ou podendo
fluir. sob a ação da gravidade, desde que haja uma carga hidráulica.
Para os solos finos, a situação se torna mais complexa, uma vez que passam a atuar
forças de superfície de grande intensidade. Assim, nesses solos, existe uma camada de água
adsorvida, a qual pode estar sujeita a pressões muito altas., por causa das forças de atração
existentes entre as partículas. Próximo às partículas essa água pode se encontrar solidificada,
mesmo a temperatura ambiente, e, a medida que vai aumentando a distancia, a água tende a
tornar-se menos viscosa, graças ao decréscimo de pressões. Esses filmes de água adsorvida
propiciam um vinculo entre as partículas, de forma que lhes confira uma resistência intrínseca
chamada coesão verdadeira.
O restante de água existente nesses solos finos se encontra livre, podendo fluir por entre
as partículas, desde que haja um potencial hidráulico para tal.
A maior ou menor facilidade que as partículas de água encontram para fluir por entre os
vazios do solo, constitui a propriedade chamada permeabilidade do solo.
Existem dois tipos de escoamento para os fluidos reais, laminar e o turbulento, os quais
são regidos por leis diferentes da
Mecânica dos Fluidos.
No âmbito da Mecânica dos Solos, interessa apenas o escoamento laminar, no qual as
partículas do fluido se movem em camadas, segundo trajetórias retas e paralelas. O escoamento
laminar fica determinado por uma velocidade crítica, abaixo da qual toda a tendência à
turbulência é absorvida pela viscosidade do fluido. Verificou-se, experimentalmente, que a
velocidade crítica, para escoamento em tubos, corresponde a um número de Reynolds de cerca
de 2000.
A lei de Darcy, válida para escoamento laminar, pode ser expressa da seguinte forma
(Figura 51):
v = K ⋅i ,
na qual
v - velocidade de descarga
K - coeficiente de permeabilidade de Darcy
i = AH/L - gradiente hidráulico: representa a perda de carga (h) que decorreu da
percolação da água numa distancia L.
1
Mecânica dos Solos - vol. 1 – Benedito de Souza Bueno & Orencio Monje Vilar – Depto de
Geotecnia – Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo
65
Essa lei pode ser expressa, também, da seguinte forma:
Q = K ⋅i ⋅ A
na qual
Q - vazão
v12
u1 u2 v22
HT = + + z1 = + + z2 = cte .
γ 2g γ 2g
Nessa expressão, tem-se uma altura de carga de pressão (u/γw); uma carga cinética
2
v /2g e uma carga altimétrica (z).
A figura 52 mostra um esquema da carga total atuante em determinada secção de um
escoamento.
Nos solos, a velocidade de percolação da água é pequenas par cela de carga cinética é
quase desprezível, assim a carga total existente numa determinada seção é igual à soma das
parcelas de carga de pressão e de carga altimétrica:
66
u
H = +z
γw
Por outro lado, quando da percolação ocorre: uma perda de carga (∆H) por causa do
atrito viscoso da água com as partículas de solo. Esse atrito proporciona o aparecimento das
chamadas forças de percolação, ás quais serão ventiladas mais adiante. Assim a equação de
Bernouilli se resume a:
u1 u2
H = + z1 = + z2 + ∆H
γ γ
u u
∆H = 1 + z1 − 2 + z2
γ γ
67
A água percolada pelo corpo de prova é recolhida numa proveta graduada, tomando-se
medida de tempo.
v h
Q= = K ⋅ i ⋅ A mas i = , então
t L
v h vL
= K ⋅ ⋅ A , donde K =
t L A⋅h⋅t
68
Este tipo de ensaio é empregado para solos de permeabilidade alta (areias e
pedregulhos), uma vez que nos solos pouco permeáveis, o intervalo de tempo necessário para
que percole uma quantidade apreciável de água e bastante grande. Neste caso, utiliza-se o
ensaio, à carga variável, que está esquematizado na Figura 55.
Anota-se o tempo necessário para o nível de água ir no tubo de área (a), de ho até h1.
O volume de água, em virtude de uma variação de nível (dh), será:
dv = −a ⋅ d ⋅ h
Pela Lei de Darcy, o volume correspondente à água que percolará pela amostra, será:
h
dv = K ⋅ i ⋅ A ⋅ dt onde i =
L
Dessa forma:
h
− a ⋅ dh = + K A ⋅ dt
L
h1 t
dh KA 1
− a∫
L t∫o
= dt
ho h
donde:
ho KA
a ⋅ ln = ∆t
h1 L
Assim,
69
a ⋅ L h0
K= ln
A ⋅ ∆t h1
a⋅L h
K = 2,3 log 0
A ⋅ ∆t h1
K = C ⋅ De2 (cm/s),
em que:
Uma restrição que se impõe para utilização dessa formula é a de que o coeficiente de
não uniformidade (Cu) seja menor que 5.
Em se tratando de siltes e argilas, pode-se obter o coeficiente de permeabilidade,
indiretamente, por meio de dados fornecidos pelo ensaio de adensamento(CAPÍTUL0 IX):
T ⋅ H d2
K= ⋅ mv ⋅ γ w ,
t
em que:
70
4 - Fatores que Interferem na Permeabilidade
µT
K 20 = ⋅ KT , em que:
µ 20
e3 e2
K =α K=β K = γ ⋅ e2
1+ e 1+ e
Tem-se notado que a relação e x logK aproxima-se bastante de uma reta, para quase todos
os tipos de solos;
c. grau de saturação: quanto maior o grau de saturação do solo que esta sendo ensaiado, maior
será a sua permeabilidade, pois a presença de ar nos vazios tende a impedir a passagem da
água;
d estrutura: amostra de mesmo solo, com mesmos índices de vazios tenderão a apresentar
permeabilidades diferentes, em função da estrutura. A amostra no estado disperso terá uma
Permeabilidade menor que a amostra de estrutura floculada.
Tal pode ser aplicado ao caso dos maciços compactados (barragens de terra, por ex.) em
que o arranjo das partículas condiciona a permeabilidade. Neste caso, verifica-se que a
permeabilidade na direção horizontal é maior que na vertical.
71
Finalizando este item, são apresentadas as equações de Poiseuille e de Kozeny-Carman, as
quais auxiliam a entender a influência das características citadas.
A lei de Poiseuille aplica-se ao escoamento através de ca pilares e foi estendida aos solos
por Taylor, com a fórmula:
γ e3
K = CDs2
µ 1+ e
em que:
1 γ e3
K= , em que:
k0 ⋅ S 2 µ 1 + e
ko - fator que depende da forma dos poros e da tortuosidade da trajetória da linha de fluxo;
S - superfície específica.
5 - Forças de Percolação
P1 = γ w ⋅ h1 ⋅ A e P2 = γ w ⋅ h2 ⋅ A
F = P1 − P2 = γ w ⋅ A ⋅ (h1 − h2 )
72
h1 − h2 ∆h
i= =
L L
Fp = γ w ⋅ i ⋅ A ⋅ L = γ w ⋅ i ⋅ v ,
a qual é aplicada uniformemente num volume (V) igual a A x L. Dessa forma, a força por
unidade de volume corresponderá a:
γ w ⋅i ⋅ A⋅ L
fp = ou f p = i ⋅ γ w
A⋅ L
Surge agora uma nova alternativa para o calculo do equilíbrio estático de massa de solo
sujeita à percolação de água. Assim duas opções podem ser seguidas:
a. utilizar o peso total do elemento de solo combinado com força neutra atuante, na superfície
desse elemento;
b. utilizar o peso efetivo combinado com a força efetiva, por causa da percolação, aplicada ao
elemento de solo, no sentido do fluxo.
6 - Areia Movediça
73
XIII). Essa tensão efetiva (σ'), multiplicada pelo correspondente coeficiente de atrito (tg φ')
fornece a resistência do cisalhamento do solo (s).
s = σ‘ tg φ = (σ - u) tg φ‘
O fenômeno da areia movediça pode ocorrer sempre que a areia a submetida a um fluxo
ascendente de água, de forma que a força de percolação gerada venha a igualar ou superar a
força efetiva graças ao solo. A Figura 57 mostra um esquema explicando como isso poderá
ocorrer.
A areia está submetida a um fluxo ascendente de água, ou seja, a água percola do ramo,
da esquerda para a direita, em virtude da carga h, que é dissipada, por atrito, na areia.
σ A = γ w ⋅ h1 + γ sat ⋅ L ,
u = γ w (h + h1 + L )
Ora, se a altura da carga (h) for aumentada até que a pressão neutra iguale a tensão total,
obviamente a tensão efetiva será zero (s = (σ - u) tg φ‘ = 0). A partir daí o solo terá as
propriedades de um líquido, não fornecendo condições de supor te, para qualquer sólido que se
venha a apoiar sobre ele.
O valor da carga h, nesse instante, é denominado de altura de carga crítica (hc), e para
sua obtenção basta igualar a tensão total e a pressão neutra:
γ w ⋅ h1 + γ sat ⋅ L = γ w (hc + h1 + L )
74
hc (γ sat − γ w ) γ '
ic = = =
L γw γw
A ocorrência da areia movediça pode ser evitada pela construção de algum elemento
que proporcione um acréscimo de tensões efetivas, sem que haja aumento das pressões neutras.
Tais elementos denominados filtros, são compostos, normalmente, por camadas de solos
granulares e devem alimentar a tensão efetiva e manter as partículas da areia em suas posições
originais.
7- Filtros de Proteção
Freqüentemente, há necessidade de drenar a água que percola através de, um solo, e isso
original forças de percolação, fonte de sérios problemas.
Dentre esses problemas, destaca-se a erosão que pode conduzir a situações catastróficas,
como no caso de ruptura de barragens por "piping". Portanto, quando da drenagem de solos
passíveis de erosão. há necessidade de protege-los fazendo construir camadas de proteção, que
permitam a livre drenagem de água, porém mantenham em suas posições as partículas de solo.
Tais camadas, denominadas filtros de proteção, deveria ser construídos com materiais
granulares (areia e pedregulho) e satisfazer duas condições básicas, a saber:
Para atender a essas condições básicas, Terzaghi estipulou duas relações bastante
empregados para a escolha de um material de filtro.
e a combinação b por:
75
Estabelecidos os limites para D15f (pontos A e B) devem-se desenhar curvas
granulométricas de coeficiente de não uniformidade, aproximadamente igual ao do solo a ser
protegido. Um solo que se situe nessa faixa assim determinada poderá servir de filtro para o solo
a ser protegido.
É importante notar que o critério de Terzaghi não fornece as dimensões do filtro, mas
apenas uma faixa de variação para a sua composição granulométrica. Para estabelecer as
dimensões, é necessário atentar para as condições hidráulicas: do problema.
A Figura 59 apresenta dois casos de utilização de filtros.
76
No caso a, temos uma barragem de terra através da qual há um fluxo de água, graças às
diferenças de carga entre montante e jusante. Com o intuito de proteger a barragem do
fenômeno de erosão interna (piping) e para permitir limei rápida drenagem da água que percola
através da barragem, usa-se construir filtros, como, por exemplo, o filtro horizontal
esquematizado no desenho.
U.S. Army
Esse critério presta-se a qualquer tipo de solo, exceto para as argilas médias a altamente
plásticas. Para essas argilas D15f pode chegar até 0,4 mm, e o critério de D50 pode ser
desprezado. Entretanto, o material de filtro deve ser bem graduado para evitar segregação e
para tanto é necessário um coeficiente de não uniformidade menor que 20.
Sherard
Quando o material a proteger contiver pedregulhos, o filtro devera ser projetado com base na
curva correspondente ao material menor que 1".
Araken Silveira
Este critério, baseado numa concepção diferente das tradicionais, utiliza a curva de
distribuição de vazios do filtro, obtida estatisticamente a partir da curva de distribuição
granulométrica, para os estados fofo e compacto.
A partir da curva de vazios, determina-se a possibilidade de penetração das partículas
do solo no material de filtro. Estabelecidas as probabilidades de penetração, para determinados
níveis de confiança, é possível determinar sua espessura de filtro capaz de reduzir ao mínimo a
possibilidade de passagem das partículas do solo pelo material de filtro.
Atualmente, tem crescido a utilização de mantas sintéticas, como material de filtros,
sobretudo na execução de drenos longitudinais, em estradas, Figura 60. Em que pese não ter
havido tempo suficiente para um teste completo desse material, o comportamento tem sido
satisfatório e o seu uso tende a generalizar-se. É desnecessário frisar que, havendo necessidade
de o filtro ser construído por duas ou mais camadas de materiais diferentes, deve-se obedecer
aos critérios estabelecidos para duas camadas adjacentes.
77
8 - Capilaridade
2Ts
∆p =
a
Ts - tensão superficial
a - raio de curvatura do menisco
Como decorrência dessa diferença de pressões, tem-se a ascensão de água, num tubo
capilar.
78
Segundo a Figura 61.a, para que haja equilíbrio, a água tem que se elevar no tubo
capilar até uma altura hc, tal que a pressão hidrostática equilibre a diferença de pressões:
2Ts
∆p = = γ w ⋅ hc
a
r
a=
cosθ
2 ⋅ Ts ⋅ cosθ
hc =
γw ⋅r
Para o caso de água pura e vidro limpo, o ângulo de contato (θ) é zero e a expressão
para a altura de ascensão capilar fica:
2 ⋅ Ts
hc =
γw ⋅r
A mesma expressão para hc pode ser obtida de outra forma. Consideremos a Figura
61.c: Fazendo o equilíbrio de forças verticais, e como pa, é o referencial para as pressões neutras
vem:
2π ⋅ r ⋅ Ts cosθ + π ⋅ r 2 ⋅ u = 0
− 2Ts ⋅ cosθ
u=
r
Veja o ponto a da Figura 61.c. As pressões têm que ser equilibradas, para que não haja
fluxo:
− 2Ts ⋅ cosθ
γ whc = = Patm = 0
r
2 ⋅ Ts ⋅ cosθ
hc =
γw ⋅r
79
No caso dos solos, pode-se imaginar os seus poros interligados e formando canalículos,
que funcionam como tubos capilares. Assim, pode-se explicar, dentro da massa, a ocorrência de
zonas saturadas de solo, que estão situadas acima do lençol freático.
A água em contato com o solo também tenderá a formar meniscos. Nos pontos de
contacto dos meniscos com os grãos (Figura 62) evidentemente, agirão pressões de contacto,
tendendo a comprimir os grãos. Essas pressões de contato (pressões neutras negativas) somam-
se as tensões totais:
σ ‘ = σ - (-u) = σ +u,
fazendo com que a tensão efetiva realmente atuante seja maior que a total. Esse acréscimo de
tensão proporciona um acréscimo de resistência conhecido como coesão aparente, responsável,
por ex., pela estabilidade de taludes em areia úmida e pela construção de castelos com areia
úmida nas praias. Uma vez eliminada a ação das forças capilares (como, por exemplo, pela
saturação) desaparece a vantagem de coesão aparente.
Outra decorrência importante refere-se às argilas, quando submetidas à secagem. À
medida que se processa a secagem, diminui consideravelmente o raio de curvatura dos
meniscos, fazendo com que as pressões de contato aumentam e tendam a aproximar as
partículas, o que provoca uma contração do solo.
80
CAPÍTULO IX2
COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO
1. Introdução
2
Mecânica dos Solos - vol. 1 – Benedito de Souza Bueno & Orencio Monje Vilar – Depto de
Geotecnia – Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo
81
Admitindo que a compressão seja unidirecional e que os sólidos sejam incompressíveis,
tem-se:
∆V = V − V = Vv − Vv ,
porém,
Vv V
ei = e ef = v
Vs Vs
∆V = ei ⋅ Vs − e f ⋅ Vs = ∆e ⋅ Vs
A ⋅ ∆H = ∆e ⋅ A ⋅ H s
∆H = ∆e ⋅ H s
contudo,
Vv H − H s
ei = = ,
Vs Hs
Assim,
∆e
∆H = ⋅H
1 + ei
82
A Figura 65 representa, qualitativamente, as variações de tensões e de volume que, se
processam ao longo do fenômeno de adensamento.
∆Vt
Uz =
∆Vt = ∞
83
Nessa expressão, ∆V, representa a variação de volume após um tempo t; ∆Vt = ∞
representa a variação total de volume, após completado o adensamento e Uz é a porcentagem de
adensamento de um elemento de solo, situado a uma profundidade z, num tempo t.
A porcentagem de adensamento pode ser assim expressa:
∆Vt ∆ut u −u
Uz = = = i
∆Vt = ∞ ∆ut = ∞ ui − u0
em que ∆ut e ∆ut =∞ são as pressões neutras, após um tempo t e após t =∞ ; ui é a sobrepressão
hidrostática, logo após a aplicação do acréscimo de carga ∆σ‘; u é a sobrepressão num tempo t e
uo é a pressão neutra existente na água. Se uo for igual a zero,
u
Uz = 1−
ui
84
Veja o elemento de solo situado à profundidade z. As equações regentes do processo de
adensamento serão:
a. equilíbrio estático:
σ v = γ ⋅ z + ∆σ '
b. relação tensão-deformação:
∂e
= − av
∂σ 'v
∆e
av = −
∆σ 'v
k ∂ 2u dV
− ⋅ =
γw ∂z 2 dt
∂h
v = k ⋅ i = −k ⋅
∂z
85
k ∂u
dV = −
γ w ∂z
k ∂u
entra (face inferior): dV1 = − ⋅ dt
γ w ∂z
k ∂u ∂u 2
sai (face superior): dV2 = − + dz ⋅ dt
γ w ∂z ∂z 2
k ∂u 2
dV1 − dV2 = 2 ⋅ dz ⋅ dt = dV
γ w ∂z
Por outro lado, admitindo compressão unidirecional, essa mesma variação de volume
pode ser expressa da seguinte forma:
de
dV = ⋅ dz
1+ e
mas como
de
av = −
dσ 'v
av
dV = − dσ 'v ⋅dz
1+ e
∆σ = σ’v + u = cte.
Diferenciando, tem-se
dσ’v = -du ,
av
dV = du ⋅ dz
1+ e
Igualando as expressões,
av k ∂ 2u k (1 + e ) ∂ 2u ∂u
⋅ du ⋅ dz = ⋅ 2 ⋅ dz ⋅ dt ⋅ ⋅ =
1+ e γ w ∂z av ⋅ γ w ∂z 2 ∂t
86
Esta é a equação fundamental do adensamento, que nos permite calcular a sobrepressão
hidrostática num ponto, dentro de massa de solo sujeita a um processo de adensamento
unidirecional.
Denomina-se coeficiente de adensamento (cv) à propriedade do solo, admitida como
constante para cada acréscimo de tensões, que reúne todas as características do solo que
interferem na velocidade de adensamento.
k (1 + e ) k
cv = = ,
av ⋅ γ w mv ⋅ γ w
∂ 2u ∂u
cv =
∂z 2 ∂z
87
Matematicamente, tais condições podem ser expressas da seguinte forma:
a. para z = 0, u = 0
b. para z = H = 2 Hd, u = 0
c. para t = 0, u = ui = ∆σ‘
∞
2ui Mz − M 2Tv
u= ∑ M sen e
H d
m=0
π
Nessa expressão, m = ⋅ (2m + 1) , m é inteiro, e
2
cv ⋅ t
Tv =
H d2
é um fator adimensional, chamado de fator tempo. Tal fator excluída solução todas as
características do solo, que interferem no processo de adensamento.
5. Porcentagem de Adensamento
ui − u u ∞
2 M
= 1 − = 1 − ∑ sen z e − M Tv
2
Uz =
ui ui m=0 M Hd
Atribuindo valores a z/Hd e a Tv, pode-se construir um gráfico (Figura 68) que ilustra
bastante o processo de adensamento.
88
Pode-se notar que o processo de adensamento é simétrico com relação ao centro da
camada, e que ele se processa mais rapidamente junto às faces drenadas (topo e base da camada
compreensível).
Se quiser obter a porcentagem média de adensamento de toda a camada de argila, basta
integrar a porcentagem de adensamento, ao longo de toda a camada de solo:
2H d
1
U =
2 ⋅ Hd ∫U
0
z ⋅ dz
∞
2 − M 2Tv
U = 1− ∑ 2
e
m=0 M
ρ
U = ρ - recalque parcial, após um tempo t.
∆H
∆H - recalque total que a camada sofrerá.
89
Os valores dessa função vêm apresentados no Quadro IX, a seguir.
U (%) 0 10 20 30 40 50
U (%) 60 70 80 90 95
Vale ressaltar que a equação teórica U = f(Tv) é expressa com bastante aproximação,
pelas seguintes relações empíricas:
2
π U
Tv = para U< 60%
4 100
6. Ensaio de Adensamento
90
drenado, pelas faces superior e inferior, com o auxilio de pedras porosas, conforme se mostra na
Figura 70.
O conjunto é levado a uma prensa na qual são aplicadas tensões verticais ao corpo de
prova, em vários estádios de carregamento. Cada estádio permanece atuando até que cessem as
deformações originadas pelo carregamento (na prática, normalmente, 24 horas). Em seguida,
aumenta-se o carregamento (em geral, aplica-se o dobro do carregamento que estava atuando
anteriormente. Por exemplo: 1° estádio: 0,25 kgf/cm2; 2°: 0,50; 3°: I,00 e assim
sucessivamente).
As medidas que se fazem usualmente são as de deformação do corpo de prova (pela
variação de altura) ao longo do tempo, em cada estádio de carregamento. Pode ser determinado
ainda o coeficiente de permeabilidade do solo diretamente, fazendo percolar água através do
corpo de prova.
O resultado do ensaio, normalmente, é apresentado num gráfico semilogarítmico
(Figura 71) em que nas ordenadas se têm as variações de volume (representados pelos índices
de vazios finais em cada estádio de carregamento) e nas abscissas, em escala logarítmica, as
tensões aplicadas.
91
Podem-se distinguir nesse gráfico três partes distintas: a primeira, quase horizontal;
segunda, reta e inclinada e terceira parte ligeiramente curva.
O primeiro trecho representa uma recompressão do solo, até um valor característico de
tensão, correspondente à máxima tensão que o solo já sofreu em a natureza; de fato, ao retirar a
amostra indeformada de solo, para ensaiar em laboratório, estão sendo eliminadas as tensões
graças ao solo sobrejacente, o que permite à amostra um alívio de tensões e, conseqüentemente,
uma ligeira expansão.
Ultrapassado o valor característico de tensão, o corpo de prova principia a comprimir-
se, sob tensões superiores às tensões máximas por ele já suportadas em a natureza. Assim, as
deformações são bem pronunciadas e o trecho reto do gráfico que as representa é chamado de
reta virgem de adensamento. Tal reta apresenta um coeficiente angular denominado índice de
compressão (Cc).
e1 − e2 ∆e
Cc = =
log σ 2 − log σ 1 log σ 2
σ1
O índice de compressão é muito útil para o cálculo de recalque, em solos que se estejam
comprimindo, ao longo da reta virgem. O recalque total (∆H) por causa, de uma variação do
índice de vazios (∆e), numa camada de espessura - H - é dado por:
∆H =
∆e
H , porém
∆ e = C c ⋅ log
1 + ei
CH σ '
∆H = c log f'
1 + ei σi
Por último, o terceiro trecho corresponde à parte final do ensaio, quando o corpo de
prova é descarregado gradativamente, e pode experimentar ligeiras expansões.
7. Tensão de Pré-Adensamento
92
Pelo processo de Pacheco Silva, prolonga-se a reta virgem(v) ate encontrar a horizontal
que passa pelo índice de vazios naturais do solo (eo), determinando o ponto p. A vertical por p
encontra a curva e O 11 em q; horizontal por q determina sobre a reta virgem (v) o ponto r, cuja
abscissa é a tensão de pré-adensamento.
Determinada a tensão de pré-adensamento, e comparando-a com a tensão que age na
atualidade sobre o ponto do qual foi retirada a amostra, podem-se ter três situações distintas. A
93
primeira delas ocorre, quando a tensão ocasionada pelo solo sobrejacente (σ0') ao local de onde
foi retirada a amostra é igual à tensão de pre-adensamento (σa’). Neste caso, diz-se que o solo é
normalmente adensado, isto é, a máxima tensão que o solo já suportou corresponde ao peso
atual do solo sobrejacente. A Figura 74.a, - esquematiza essa situação.
Pelo gráfico da Figura 74.a, pode-se notar que qualquer acréscimo de tensões fará com
que a argila normalmente adensada recalque, ao longo da reta virgem.
A segunda situação corresponde ao caso em que σ0’ < σa’ , isto é, o peso atual do solo
sobrejacente é menor que o máximo já suportado (Figura 74.b). Neste caso, diz-se que a argila
é pré-adensada e qualquer acréscimo de carga, sobre esse solo, de modo que
Muitos fatores podem tornar um solo pré-adensado, podendo-se destacar a erosão, que,
com a retirada de solo, diminui a tensão que age atualmente, bem como o seu ressecamento.
Por último, temos o caso em que σ0' > σa’, isto é, a argila ainda não terminou de
adensar, sob efeito de seu próprio peso. Quando isso ocorre, tem-se uma argila parcialmente
adensada (Figura 74.c).
a. Processo de Taylor
94
Este processo utiliza as medidas de deformação colocadas em função da raiz quadrada
do tempo. Isso deve-se ao fato de que, para porcentagens de adensamento (U) menores que
60%, a relação teórica U x Tv é, aproximadamente, parabólica e, de fato, há a relação empírica:
Tv = π/4. U2 , para (U < 60%), que é uma parábola. Trabalhando com a relação U x √Tv,
modificam-se as coordenadas obtendo-se uma relação linear. Por outro lado, observando-se a
curva teórica U x √Tv, nota-se que a reta unindo os pontos de 0% a 90% do recalque marcam, ao
longo do eixo Tv, valores 15% maiores que a reta que marca os pontos de 0 a 60% de U. O
processo consiste, basicamente, em determinar o ponto referente a 90% do recalque, e obter o
tempo t90 necessário para tal recalque. Isso é mostrado na Figura 75.
cvt H d2
Tv = cv = Tv 90
H d2 t90
H d2
cv = 0,848
t90
95
Alguns aspectos devem ainda ser observados na Figura 75. Pode-se notar que a reta de
0 a 60% de U, intercepta o eixo das ordenadas num ponto d0 diferente da leitura inicial - l0 -. Por
outro lado, a ordenada que corresponde a 100% (l100) do recalque teórico pode ser assim
determinada:
1
l100 = l90 − (d 0 − l90 )
9
Esta ordenada (l100) não coincide com a leitura final do estádio (lf).
A compressão que corresponde a (l0 - d0) é chamada de compressão inicial, e se dá
quase instantaneamente, quando da aplicação da carga; a compressão (do - l100), chamada de
primária, é a parcela de compressão estudada pela Teoria de Terzaghi e a compressão (l100 - lf ) é
chamada de secundária.
A rigor, essas parcelas, em determinadas etapas, ocorrem juntamente e não seguindo a
separação que se faz na Figura 75. A compressão inicial, decorre, por exemplo, da má colocação
do corpo de prova no anel, porém, acontece, normalmente, no caso dos solos não saturados, em
que ocorre uma parcela de compressão dos poros, sem expulsão de água dos vazios.
b. Processo de Casagrande
1
l50 = d 0 − (d 0 − l100 )
2
e, consequentemente, t50.
H d2 H2
cv = Tv 50 ou cv = 0,197 d
t50 t50
Pode-se notar, também nessa construção, a presença da compressão inicial (l0 - d0); da
compressão primária de Tezaghi (d0 - l100) e da compressão secundária (l100 - lf)
96
9. Construção da Curva de Compressão do Solo no Campo
97
10. Aplicação da Teoria do Adensamento
∆e Cc H σ 2'
∆H = H = log '
1 + ei 1 + ei σ1
σ‘1 = σ‘a
98
de toda a camada. Conhecido o acréscimo Ao', pode-se calcular o recalque total da camada.
Havendo necessidade de calcular o recalque parcial, após determinado tempo t, deve-se avaliar
o fator tempo (Tv) correspondente.
t
Tv = cv ⋅
H d2
U = ρ/∆H
t
σ = σ0,
tc
99
em t, no ponto-B, que será o recalque ocasionado pelo, carregamento lento. Pelas hipóteses
formuladas:
MN = PQ
t t
σ = σ 0 ⋅ P'⋅Q' = M '⋅N '
tc tc
Após o tempo t = tc, os demais pontos são obtidos, deslocando a curva de carregamento
lento de tc /2.
∆u = B ∆σ 3 + A (∆σ1 -∆σ 3)
H cor = ψ . ∆H
100
12. Noções sobre a Compressão Secundária
101
13. Recalques por Colapso
Um pormenor curioso, que ocorre em vastas áreas da região Centro-Sul do Pais, refere-
se ao caso dos solos superficiais porosos. Tais solos, quando estão sujeitos a carregamentos e
por uma razão qualquer (infiltração de águas de chuva, rompimento de condutas de água ou
esgoto etc.) têm o seu grau de saturação aumentado, passam por uma repentina variação de
volume, manifestada por uma redução do índice de vazios.
O fenômeno deve-se ao fato de a entrada de água na estrutura instável desses solos,
tender a eliminar as causas do equilíbrio (pequena cimentação interpartículas; coesão aparente
ocasionada pela capilaridade), provocando um colapso da estrutura do solo, razão pela qual tais
solos são chamados de colapsíveis.
Residências com fundações diretas, apoiadas sobre esses solos na região de São Carlos -
Araraquara (SP), têm apresentado acentuadas trincas, quando ocorrem infiltrações sob as
fundações.
Pode-se notar que a inundação provoca uma redução repentina do índice de vazios, sem
aumento de carga, o fenômeno parece desaparecer, após determinada tensão, quando então o
simples acres cimo de cargas 6 suficiente, para romper as ligações precárias interpartículas.
102