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Vinícius de Paula Castro. Número USP: 10274673. Questões para a monitoria 09.

Questão 1: Antônio Cabral propõe uma reflexão interessante sobre o dogma do interesse público
no processo. O autor afirma a importância do movimento de “publicização” do processo, superando o
privatismo romano que concebia o processo como coisa das partes. Contudo, atualmente, ele acredita não
ser viável defender a completa desconsideração das partes e dos interesses privados no processo. Ou seja,
não cabe afirmar a supremacia necessária dos objetivos voltados ao interesse público sobre qualquer outro.
Cabral defende que a doutrina e a jurisprudência devem buscar equilibrar os interesses públicos e privados
envolvidos sem partir de uma relação de supremacia ou prevalência a priori. O autor também cita, como
exemplo, a colaboração e boa-fé entre partes e juiz, nota do contraditório contemporâneo, como
mecanismos para equilibrar a liberdade dos litigantes e interesse público. Concluindo, Cabral defende que
devemos ir além do publicismo, mas a partir dele.
Todavia, no âmbito empresarial brasileiro, existem diversas empresas com uma relevância política
e econômica tanto nacional como internacionalmente. Elas são responsáveis por gerarem empregos,
dinamizam a economia do país e ditar diversos fatores de extrema importância para a vida nacional, como,
por exemplo: preços de produtos de consumo, juros bancários, salários dos seus funcionários. Uma
determinada empresa decidir se instalar em um Estado e não em outro pode significar o sucesso ou a crise
deste. E essas empresas raramente resolvem os litígios internos que possuem no Judiciário. Litígios esses
que possuem um grande potencial de impactar severamente a vida da população como um todo. Elas
recorrem a arbitragem, onde é garantido a confidencialidade e as partes podem construir o processo da
forma que considerarem como melhor.
Tendo essa situação em mente, a afirmação de Antônio Cabral sobre o equilíbrio dos interesses
públicos e privados ainda se mantém nessa hipótese ou houve uma supremacia dos interesses privados em
detrimento do público? Caso você concorde com a segunda afirmação, é legítimo alterar o processo
arbitral para que ele abarque interesses públicos, considerando a possibilidade de isso apenas levar as
empresas a pararem de atuar no Brasil?

Questão 2: Antônio Cabral defende vigorosamente os acordos processuais. Para o autor,


incorporar o acordo nas funções estatais que são exercidas através do processo, demonstrando um
engajamento participativo e consagrando o processo como um espaço democrático, uma vez que não há
acordo sem um espaço de alteridade. Cabral vê que revigorar os acordos processuais, significa, de certa
maneira, deixar as relações paternalistas do publicismo, que reforçam a infantilização do cidadão e os
vínculos de dependência do Estado, empoderando as partes e seus advogados na solução de conflitos. Ou
seja, os indivíduos deixam de ser compreendidos como “incapazes” de saber qual o método e a forma
adequada para resolver seus próprios litígios.
Todavia, uma realidade do Brasil é a alta demanda pela Defensoria Pública que resulta em alguns
casos meses de espera para um atendimento. Além disso, apesar do caráter inerentemente social da
Defensoria, ainda existem alguns defensores que não estão preocupados em fazer um atendimento eficaz
para uma população que já é vulnerável. Isso está muito ligado a lógica de “concurseiros” que veem na
defensoria apenas um cargo estável até que consigam algo “melhor”. Como consequência dessa
mentalidade, muitos atendimentos são de baixíssima qualidade. É preciso considerar também que parte
da população, não podendo ficar meses na linha de espera, recorre para advogados de índole duvidosa que
buscam se aproveitar de tal situação para conseguir lucrar em cima de uma demanda urgente de pessoas
de baixa renda, sem prestar um serviço adequado.
Logo, dentro desse contexto e tendo em vista a atuação de advogados ou defensores buscando
apenas facilitar seu trabalho, é possível admitir uma capacidade “empoderamento” das pessoas de baixa
renda em decidir sobre a forma adequada de resolver seu litígio? Ao considerar questões como a assimetria
de informação entre um bacharel em direito e seu cliente, como impedir que a possibilidade de negociação
processual não prejudique as pessoas em situação de vulnerabilidade social?

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