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1.

Imaginação reprodutora e imaginação criadora

Pensamento – atividade mental associada à ação integrada dos diversos processos mentais, é
entendido como uma operação mental baseada na utilização de símbolos. É a própria atividade
psíquica, processando todas as nossas experiencias, vivências, sentimentos, intenções, juízos e
conhecimentos. É definido como sequencia de atos mentais que visam a resolução de problemas.
Problema – situação nova que exige uma solução e a procura da solução a esta.

Fases da resolução:

1. Definição do problema
2. Definição da estratégia a aplicar
3. Aplicação da estratégia
4. Verificação da estratégia

Ao pensar não se lida diretamente com as coisas, mas com as suas representações: conceitos.
Conceito – tradução mental das coisas concretas em conceções ou ideias abstratas gerais/universais.
Representação intelectual das características essenciais e comuns a toda uma classe de objetos ou
seres. É através dos conceitos que podemos pensar simbolicamente uma dada realidade.

Através do pensamento, podemos representar mentalmente o modo como as coisas são, e


imaginar também como elas poderiam ter sido ou podem vir a ser. Isto desperta em nós emoções e
desejos que nos podem levar a agir sobre o mundo no sentido de o acomodar à realidade
imaginada. Então, a imaginação ocupa um papel importante.

Imaginação - indispensável à compreensão/interpretação subjetiva do humano do mundo. É a


aptidão para formar e ativar imagens mentais na ausência de qualquer modelo percebido, a
capacidade de combinar quadros ou sucessões de imagens. Reorganização de traços mnésicos sob
uma nova forma. E com a imaginação que elaboramos projetos e planificamos o futuro. Cada um faz
uso desta capacidade de modo pessoal, consoante as suas competências e vivências, aliada ao modo
como pensa, à sua afetividade, interesses, sonhos, etc.

 Imaginação reprodutora – capacidade mental de recuperar na memória perceções


anteriores e formar imagens mentais a partir delas. As imagens geradas estão
relacionadas com a realidade tal como esta é percecionada.
 Imaginação criadora - referente a criações novas e inéditas afastadas da perceção
(invenções/fantasia). Remete para representações simbólicas.
o Intervém sobretudo ao nível da resolução de problemas criando uma solução
para cada problema que surja.
o Intervém a nível da argumentação na criação de argumentos que permitam
defender ou refutar uma determinada tese, de modo a que esta seja aceite ou
abandonada
o Intervém a nível dos processos emocionais, em que o sujeito cria uma
realidade à qual se senta particularmente afetado, por vezes de forma
agradável, outras de forma desagradável.

Se na IR é possível reconhecer analogias com os objetos percecionados, na IC a analogia


pode ser feita através de um simbolo/metáfora/esquema/etc.
2. Caracterizar a identidade pessoal

Tradicionalmente, a identidade era entendida como sendo uma estrutura fixa e inalterável do
humano. Uma vez formada, a identidade seria pouco sujeita a modificações substanciais, conferindo
estabilidade à maneira de ser e de se comportar de cada um.

Contudo, ultimamente, os psicólogos admitem que, através da influencia dos contextos e papéis
sociais que cada um desempenha, a sua identidade está suscetível a modificações ao longo de toda a
nossa vida. A identidade é construída de modo contínuo, desde a infância até à morte – é uma
estrutura alterável.

Mas, ainda que a identidade esteja suscetível a modificações, há algo que não muda e que nos
permite afirmar que, apesar de todas as mudanças pelas quais passamos, continuamos a ser nós
próprios. Isto significa que a identidade pessoal se refere a características que nos definem,
individualizam, e que nos retratam como seres únicos, com personalidades irrepetíveis. A identidade
vai apenas atualizando-se consoante alterações significativas que possam decorrer ao longo do
tempo.

Identidade - processo em curso, construção que se vai efetuando ao longo da vida, não um
resultado concluído; tradicionalmente definida como essência do Eu; conjunto de capacidades
multidimensionais que englobam a representação do corpo, a vida mental do cérebro, todas as
experiências de vida e os nossos papéis e estatutos sociais.

Compreender a identidade implica reconhecer, na pessoa, 2 dimensões, com certos aspetos


privados/internos e aspetos públicos/externos:

 Dimensão pessoal – aspetos privados, pessoais, individualizam-nos e dão-nos o sentido


da identidade pessoal. Tem a ver como próprio individuo, as suas paixões, afetos,
desejos, objetivos, etc.
 Dimensão social – aspetos públicos, relacionados com grupos e papeis sociais inerentes
a eles, conferem dimensões que podemos designar por identidades sociais. As
identidades sociais são próprias de alguém que se identifique com determinado grupo
(cultural, religioso, etário, politico, sexual, etc) e remetem para várias “personalidades
coletivas” que se fundem na identidade pessoal. As identidades sociais são múltiplas
mas, regra geral, podemos integrá-las numa única historia de vida, organizando-as de
modo coerente (organização pela capacidade de avaliação de cada 1, a partir dos
significados e importância que cada papel social designa para nós).

NOTA: estar incluído em vários grupos sociais não implica que estejamos perdidos.

Cada um apresenta características anatómicas, fisiológicas e psicológicas que nos diferenciam


dos outros. A par destas, cada um apresenta dimensões psicossociais derivadas do facto de
pertencer a x família, viver em x sitio, ser estudante, trabalhar, etc.

Assim, a identidade pessoal constitui-se como uma globalidade da qual fazem parte outras
identidades, como a política, profissional, etc. no entanto, cada pessoa continua a ser uma estrutura
singular e uma pessoa única.

A respeito disto, podemos falar também de unidade do ser humano: cada individuo assume os
diferentes papeis que representa e integra-os de modo coerente no uno constitutivo do Eu.

A identidade de cada indivíduo é uma construção dinâmica e aberta que se vai construindo ao
longo da vida. É um modo singular e único, coerente, que reúne todo um conjunto de característica
físicas, anatómicas, psicológicas (emocionais, afetivas, cognitivas), sociais e morais que definem e
individualizam o sujeito. Tem uma dimensão publica e uma dimensão pessoal. Esta construção
dinâmica tem várias características:

 Global e interativa – a identidade integra aspetos diversificados que interagem e se


relacionam entre si e não modelam o Eu por justaposição – rede de reciprocidades
organizada/totalidade estruturada. Entre os vários aspetos dão-se trocas e interações
de modo que as mudanças que se dão num deles se repercutem nos outros. (Aspetos
anatómicos, psicológicos, físicos, emocionais, sociais, hereditários – que tornam o
sujeito único).
 Dinâmica e aberta – porque resulta da condição do ser humano enquanto projeto
existencial inacabado, sempre aberto a experiências de vida e aprendizagens (devido à
neotenia) que contribuem para novas reestruturações da identidade. Cada um de nós,
como ser único e irrepetível, vamos construindo a nossa identidade ao longo da vida
com várias escolhas, o que permite que estejamos sempre suscetíveis a alterações em
determinados aspetos da mesma: auto-organização. Há uma contínua reorganização
dos elementos integrantes da identidade consoante as circunstâncias, pelo que o Eu se
configura em constante reação ao meio.
 Social e cultural – porque se efetua no meio social e cultural onde nos inserimos,
coexistindo e convivendo com os outros, o que influencia a nossa formação da
identidade e potencia a construção da mesma (condição necessária para a realização da
pessoa). Toda a sua formação se dá no mundo dos outros, que lhe apresentam padrões
de ação como orientação. Apesar de serem um condicionamento, a sociedade e a
cultura são agentes de formação ao contribuir para o crescimento da identidade da
cada um, permitindo fazer escolhas de modo livre e possibilidades de realização
pessoal, já que possibilita um distanciamento do ser humano da natureza.
 Aglutinadora e significativa – a nossa identidade tem de aglutinar, organizar e dar
significado às coisas para que seja considerada um todo coerente e uno. Os elementos
integrantes da pessoa foram assimilados pelo Eu como sustento das experiencias da
nossa vida, reconduzindo ao que nos aconteceu. Diferentes situações e experiencias,
antes de serem incorporadas na identidade, têm que ser interpretadas pelo sujeito e
têm que adquirir significados pessoais, o modo como interpretamos aquilo a que somos
sujeitos é vivido de modo peculiar por cada um.

3. Autoconceito e autoestima / papel da autoestima na construção do eu (?)

Autoconceito – modo como interpretamos subjetivamente aquilo que somos. É a consciência de


si próprio, o modo como nós nos vemos subjetivamente, seja a nível físico, psicológico, social,
cognitivo, emocional ou conativo, e que é influenciado pelos pensamentos dos outros.

Aquilo que de mais significativo sobressai numa análise pessoal não retrata fidedignamente a
nossa personalidade, revela apenas o nosso autoconceito, a maneira como nós a vemos. Então, o
autoconceito relaciona-se diretamente com a identidade – tem a identidade e a personalidade por
base (não quer dizer que coincida), mas distingue-se dela, já que o autoconceto se baseia na
autoperceção (operação mental subjetiva derivada de interpretações pessoais), enquanto a
identidade corresponde ao que a pessoa é efetivamente. O autoconceito, por sua vez, influencia a
avaliação boa ou má que fazemos de nós mesmos:

Autoestima – sentimento positivo ou negativo que temos acerca de nós mesmos e daquilo que
somos, resultante da apreciação subjetiva/valorativa da nossa identidade ou autoavaliação com base
na influencia dos outros sobre nós (juízos sociais que interiorizou a seu respeito). A autoestima surge
como resultado da avaliação das nossas múltiplas facetas (podemos achar que somos muito
inteligentes e maus jogadores de futebol, etc). Então, a autoestima é produto de uma média em que
os aspetos bons podem suprir os maus e vice-versa. No entanto, não é uma média aritmética, pois a
natureza dos valores avaliados é diferente: podemos dar mais peso a uns aspetos do que a outros.

Tanto o autoconceito como a autoestima são influenciados pelo que os outros acham de nós, ou
seja, pelo modo como nos veem e pelas características que mais nos atribuem. Contudo, é
fundamental que façamos uma avaliação favorável das nossas atitudes e comportamentos: saber
quem somos e sentirmo-nos satisfeitos com isso é crucial para o nosso equilíbrio psicológico.

4. Definir relação de vinculação

Relação de vinculação – vínculo ou forte ligação emocional e afetiva que se desenvolve entre
uma criança e um adulto cuidador em particular, do qual está inteiramente dependente. Forma
primária de laço social na espécie humana, expressando-se como a necessidade inata de
proximidade, conforto e afeto com a figura maternal e relativamente independente da satisfação
das necessidades alimentares.

A relação de vinculação é a forma inicial de relacionamento social do bebé humano, considerada


fundamental para a construção de todas as relações futuras do bebé: “As relações precoces são o
pilar da entrada das crianças na sociedade”. Ou seja, são as primeiras interações que o bebé
estabelece com o seu adulto cuidador que estabelecem as bases de todas as suas relações futuras,
porque o clima emocional desta primeira relação tende a reproduzir-se em todas as outras relações.

Devido à imaturidade característica dos seres humanos nos primeiros tempos de vida, as
crianças necessitam de alguém (um adulto) que lhes preste os cuidados indispensáveis à sua
sobrevivência e estabeleçam as bases do seu processo de socialização. Esta imaturidade predispõe-
nos para o desenvolver de competências relacionais que se iniciam com quem de nós cuida.

5. Definir agente maternante

Ao falar de “mãe” referimo-nos muitas vezes à mãe biológica da criança, mas o “agente
maternante” acaba por não ser necessariamente a mãe biológica, mas um adulto cuidador
significativo que disponha do seu tempo para cuidar da criança, capaz de lhe proporcionar
experiencias positivas e estimulantes e de lhe dar a atenção e o afeto de que necessita para crescer
e se desenvolver.

Assim, pode dizer-se que mulheres que nunca tiveram filhos podem exercer este papel de mãe
(Ex: mães adotivas), ou até que a prestação dos cuidados maternos pode ser partilhado ou assumido
na íntegra pelo pai, porque os cuidados e o amor dado aos filhos não se baseia nos laços biológicos,
mas nos laços psicológicos construídos na relação precoce.

“Enquanto criança, o ser humano caracteriza-se pelo seu inacabamento biológico e


prematuridade, e por isto depende de um cuidador.”

6. Relacionar a imaturidade do bebé humano com o desenvolvimento da competências


relacionais

A verdade é que independentemente de quem preste estes cuidados, devido ao nosso


inacabamento biológico/prematuridade, temos uma infância bastante prolongada, pelo que durante
muito tempo estamos dependentes de um agente maternante que assegure o nosso sustento,
proteção e que nos proporcione oportunidades de aprendizagem fundamentais no futuro.
Contudo, o facto de a criança depender do cuidador vai ser responsável pela criação da
relação de vinculação, que estará na base da socialização da criança à medida que o tempo passa;
desta forma, vão-se desenvolvendo as competências relacionais.

Competências relacionais: capacidades que predispõem o indivíduo a estabelecer relações


com os outros. Integram uma enorme predisposição para o desenvolvimento de competências
comunicacionais, que se manifestam através de um conjunto de padrões fixos de ação, inatos, como
por exemplo o choro ou o sorriso, as vocalizações e as expressões faciais, uma vez que o bebé só por
si não é capaz de assegurar as satisfação das suas necessidades.

Segundo Bowlby, somos seres naturalmente sociáveis devido à predisposição inata para a
sociabilidade que vem com o nosso equipamento. Contudo somos também imaturos, mas isto
permite não só a satisfação das necessidades fisicobiológicas mas sobretudo as de cariz socioafetivo.
Esta imaturidade é colmatada pelo relacionamento vinculativo que se estabelece com o agente
maternante, reduzindo a partir do momento em que contactamos com ele.

7. Caracterizar as competências básicas do bebé

Logo à nascença, os bebés já têm um conjunto de capacidades sensoriais e motoras. Ainda antes
de nascer, os bebés são expostos a vários estímulos, pelo que após o nascimento os seus órgãos
sensoriais bombardeados por uma enorme quantidade de estímulos aos quais criança já foi
preparada para receber (já é capaz de ouvir, cheirar, sentir dor e prazer, fome e sede, conforto etc.

Qualquer criança nasce provida de esquemas de reação a este tipo de estímulos: atos reflexos.
Apesar de simples, os atos reflexos constituem um conjunto inato de respostas defensivas que
contribuem para a sobrevivência e adaptação à vida da criança. Estes reflexos constituem uma
bagagem comportamental inata, imprescindível à criança para os primeiros impactos defensivos em
relação ao mundo.

 Um dos mais importantes é o reflexo de sucção, que lhe permite alimentar-se.


 As crianças também afastam a cabeça quando algo lhes dificulta a respiração, ou afastam
a mão para fugir à dor, e abrem os braços quando sentem desequilíbrio
 Enquanto que o choro é encarado como uma forma de chamamento que indica que a
criança tem fome ou outra necessidade por satisfazer, sente desconforto ou não se
sente segura,
 O sorriso é (segundo Spitz) a primeira manifestação de sociabilidade do bebé. Nos
**Nota**

primeiros 2/3 meses é involuntário, mas depois o bebé aprende a usá-lo como forma
intencional de comunicação para manifestar sobretudo satisfação e agrado.
 Outra habilidade, que se crê resultar de fatores genéticos, é a de imitar expressões
faciais para manifestar as suas emoções: estas suscitam nos adultos reações que os
levam a satisfazerem as necessidades da criança.
 Vocalizações (repetir sílabas ou sons), a partir das quais se vão desenvolvendo as
competências e capacidades linguísticas da criança e reforçando as suas interações com
os outros

**As necessidades do bebé não se restringem às de cariz fisiológico, a essas podemos juntar as
de natureza psicológica e social. Do seu equipamento natural faz parte a predisposição para
competências relacionais.**

Esta constante procura de interação com os outros manifesta-se em comportamentos comuns à


maioria das crianças como, p.ex. olhar em direção das vozes humanas, preferir olhar para caras do
que outros objetos e discriminar o rosto e a voz da mãe. Deste modo a criança apresenta uma série
de formas de se relacionar e comunicar com os adultos. A questão é se estes estão preparados para
interpelar e interpretar os seus códigos.

8. Modelo conteúdo-continente, Wilfred Bion

Após o nascimento, os cuidadores da crianças vão sentir-se mais aptos a interpretar as formas
de comunicação da mesma, a detetar as suas necessidades e a reagir adequadamente perante estas.

O modelo de Bion surgiu para caracterizar esta interação mãe-bebé. Segundo o modelo, quando
nasce, o bebé não é capaz de descodificar por si mesmo o conteúdo das suas experiências, o que gera
desconforto e ansiedade. Compete à mãe funcionar como um “continente”, onde a criança despeja
esse conteúdo caótico e desorganizado, que não foi capaz de interpretar, para que ela possa
reinterpretá-lo e, devidamente organizado, devolvê-lo ao bebé: através da postura, gestos e tom de
voz, transmitindo conforto e segurança.

Este processo funciona através dos afetos: as mensagens circulam entre a mãe e o bebé, e cada
uma das partes é responsável por interpretar os sinais afetivos e emocionais que a outra emite.

Para que a mãe possa ser, como se exige, um continente adequado:

 Não pode desvalorizar sistematicamente o choro e outros sinais emitidos pelo


bebé, tomando-os como uma manha para garantir a satisfação dos seus caprichos
– negligenciando os cuidados básicos de que o bebé precisa
 Não pode sobrevalorizar os sinais emitidos pelo bebé, entrando em pânico ou
desespero, pois acaba por transmitir isso à criança, o que aumenta o seu nível de
ansiedade.
 Deve transmitir confiança, tranquilidade e reconforto ao bebé, mostrando-se capaz
de lidar com as suas necessidades adequadamente e de resolver situações adversas
que possam surgir.

Durante este processo, o aparelho psíquico da criança estrutura-se. É fundamental a


confiança que o bebé deposita na mãe como continente e protetora, pois é dela que depende o seu
equilíbrio psicológico e emocional. Para além disto, é importante realçar que a confiança ou
desconfiança com o meio envolvente é modelada nesta relação, visto que a criança conhece o
mundo através da mãe (a mãe é a mediadora das experiências do bebé).

Apesar da base fisiológica que nos predispõe a reagir de certas maneiras perante os sinais
emitidos pela criança, é na interação com o bebé e outros cuidadores que vamos constituindo a
nossa capacidade de os interpretar (e como proceder). Com isto chegamos à conclusão que o
instinto maternal é insuficiente para garantir a satisfação da maioria das necessidades do bebé.

9. John Bowlby

Antes dos estudos de Bowlby, pensava-se que a relação de vinculação dependia da necessidade
de alimento e conforto físico, mas os estudos de Bowlby levaram a outras conclusões.

Para assegurar a satisfação das suas necessidades, as crianças nascem com um repertório
biológico de padrões fixos de ação que lhes permitem ligar-se afetivamente a (pelo menos) 1 adulto
significativo – relação de vinculação.

Na base da relação está a necessidade de contato e proximidade física e afetiva à figura de


vinculação, geralmente referenciada por “mãe”, adulto significativo ao qual o bebé se liga
afetivamente. Esta relação não se estrutura só em torno das necessidades alimentares e fisiológicas
do bebé, mas também de necessidades inatas de cariz socioafetivo: interação, comunicação,
proteção, segurança e conforto. Esta relação é crucial para o desenvolvimento e para o equilíbrio
intelectual, emocional e social da criança.

Padrões fixos de ação do bebé:

 Chuchar; agarrar, seguir (aproximação), chorar e sorrir (sinalização)

Bowlby acabou por concluir que, de facto, a vinculação precoce responde às nossas
necessidades primárias de proteção e socialização e que qualquer perturbação a nível deste
relacionamento pode ter várias consequências a nível do desenvolvimento, comportamento e
relações futuras da criança.

10. Mary Ainsworth

Estudou os tipos de vinculação através da Situação Estranha:

 Mãe e criança numa sala com brinquedos apelativos;


 Entra um estranho na sala. (Criança procura refúgio na mãe perante o estranho,
pois ela é a sua base de segurança.)
 Mãe sai da sala e deixa a criança na sala com o estranho
 Estranho sai da sala, a mãe entra.

Ainsworth verificou que há tipos de vinculação: segura; insegura-evitante; insegura-resistente


ou ambivalente. Se a criança manifesta felicidade com o retorno da mãe, Ainsworth conclui que
existe uma boa vinculação com a mãe.

Cerca de 70% das crianças estabelecem uma vinculação segura. Neste tipo de vinculação, a
presença da mãe fornece à criança uma base de segurança que lhe permite ter confiança suficiente
para explorar o meio envolvente de modo livre. A criança confia na capacidade da figura de
vinculação para regular as suas emoções, procurando a proximidade e o contato com ela quando se
sente ameaçada ou angustiada. Além disto, não tem qualquer problema em expressar diretamente
o seu desconforto ou tristeza no momento de separação, e sente-se reconfortada no regresso da
mãe, voltando a explorar o ambiente e partilhar emoções positivas com ela.

Este é o modelo que se revela mais favorável ao desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da
criança, bem como o desenvolvimento motor e intelectual através da exploração ativa do meio físico
pela criança, devido à confiança que deposita na figura de vinculação.

Ainda se pode dizer que este tipo de vinculação se reflete no autoconceito tal como na
autoestima, com um efeito positivo. Neste tipo de vinculação, as crianças tendem a ter mas
confiança nas suas capacidades e a sentir-se capazes de ser amadas, o que tem consequências a
nível social, sobretudo acerca da capacidade de estabelecer boas relações com os outros. Quanto
maior é a relação de vinculação entre a mãe e o bebé, maior a confiança da criança em si mesma e
na mãe.

11. Investigações de Harlow e a relação de vinculação

Paralelamente aos trabalhos de Ainsworth e Bowlby sobre a relação de vinculação, Harlow fez
experiencias com macacos Rhesus. Estas experiencias salientaram a importância da ligação afetiva
à mãe/agente maternante no desenvolvimento dos bebés.

a) 1ª experiência:
Harlow colocou macaquinhos recém nascidos num cenário de isolamento total, apenas com a
presença física de 2 mães artificiais: uma macaca de arame, com um biberão de onde os bebés
obtinham o seu alimento; e uma macaca de pano felpudo, que proporcionava contacto macio e
agradável.

Harlow verificou que os macacos estabeleciam com facilidade um vinculo afetivo com a
macaca de pano, permanecendo a maior parte do tempo abraçados a ela e procurando o conforto
que a macaca de arame não lhe podia fornecer. Mesmo quando sentiam fome ou queriam explorar
objetos das imediações, tentavam uma posição que lhes permitisse manter o contacto com a mãe
de pano.

Quando os macaquinhos se apercebiam da presença de objetos estranhos (e.g.: urso artificial


que emitem sons provocadores de medo), os macaquinhos corriam para a mãe de pano e
agarravam-se a ela. Acalmavam-se junto da mãe de pano e só depois iam explorar os objetos –
usavam a macaca de pano como base de apoio/conforto: corriam a tocar os objetos e voltavam
rapidamente, voltavam calmamente aos objetos e traziam alguns deles para junto dela.

Harlow concluiu que, após estabelecer um vínculo com a mãe, esta funcionava com simbolo
de proteção, capaz de evitar o medo perante situações estranhas. A mãe de pano proporcionava
sentimentos de segurança, um valioso contributo para a exploração e conquista da autonomia. “É
na medida em que um macaquinho se liga a uma mãe e se sente em segurança junto dela que dela
se pode libertar para explorar o ambiente que o cerca” -> há uma relação entre a vinculação e a
autonomia: só na presença de um vínculo com a mãe se pode alcançar a autonomia.

-> Pensava-se que a vinculação era consequência da satisfação das necessidades


fisicobiológicas e que, portanto, havia uma primazia destas relativamente a outras necessidades;
contudo, através desta experiencia pôde concluir-se que a vinculação é uma consequência da
satisfação das necessidades socioafetivas por um adulto cuidador – não há primazia das
necessidades fisiológicas e alimentares sob as necessidades de afeto e sociabilidade. -> temos
uma predisposição para a satisfação das necessidades socioafetivas, decorrente da predisposição
do ser para a sociabilidade.

-> Os macaquinhos preferiam a mãe felpuda o que demonstra que a vinculação não decorre
da satisfação de necessidades fisicobiológicas, mas sim da satisfação das necessidades
socioafetivas.

b) 2ª experiência:

Harlow foi mais longe nas suas experiencias, o que permitiu chegar a conclusões mais
vastas. O isolamento de 3 meses não se demonstrou muito significativo no que diz respeito a
consequências nefastas. Contudo, ao aumentar o tempo de isolamento social, os animais
tornaram-se socialmente inadaptados, com problemas emocionais acentuados. Encostados a um
cantos, estes macaquinhos mordiam-se a si mesmos como que se fosse “castigo”, abraçavam-se,
ou baloiçavam-se para a frente e para trás à semelhança de algumas crianças com perturbações
como o autismo ou como se estivessem num baloiço.

Quando estes macaquinhos eram, depois, postos em contato com outros macacos criados
normalmente, não brincavam com eles, não os perseguiam e se fossem atacados, não respondiam
à sua agressividade.

Esta inadaptação social dos animais em isolamento social (Cativeiro) persistiu na idade
adulta, mostrando-se animais inábeis em relações sexuais e parentais. Os machos permaneciam
sexualmente indiferentes e os que tentavam, eventualmente, acasalar, agarravam-se
indiscriminadamente a macacos e qualquer sexo e sem qualquer jeito, não conseguindo qualquer
tipo de relação. As fêmeas resistiam às solicitações sexuais dos machos e quando fecundadas
artificialmente, não mostravam amor pelos filhos, maltratavam-nos, mordiam-nos e comprimiam
as suas cabeças contra o chão.

Concluiu-se então que a privação ou défice de estimulação sensorial, percetiva e social


por que os macacos passaram no isolamento era a causa dos danos sociais e emocionais
detetados mais tarde. Isto significa que, a par das necessidades alimentares e fisiológicas, os
recém nascidos procuram na figura da mãe a satisfação das necessidades de afeto, proteção e
interação social, sendo a satisfação destas pelo menos tão importante quanto a satisfação das
necessidades alimentares e fisiológicas para o desenvolvimento e para o equilíbrio mental dos
bebés.

12. Reconhecer a importância da relação de vinculação na criação de um espaço psíquico da


criança e no desenvolvimento de competências a nível cognitivo, afetivo e social.
As nossas características tipicamente humanas devem-se, em larga medida, ao ambiente social
onde nos desenvolvemos. Uma vez que durante os nossos primeiros meses de vida estabelecemos
uma relação privilegiada com uma adulto significativo, pode-se considerar que, de certa forma, esse
relacionamento é fundamental para nos tornarmos humanos. A interação permanente com a figura
de vinculação estrutura a nossa mente e modela o nosso comportamento e os nossos
relacionamentos futuros.

 É habitual entender a relação de vinculação como uma relação diática: mãe<->filho


 Hoje em dia pai e mãe partilham as funções que se consideravam serem da
competência apenas de um, inclusive as competências ligadas aos cuidados do bebé -
> São cada vez mais frequentes as vinculações múltiplas, em que a figura de vinculação
é partilhada pelos 2 progenitores
 Em vez de se falar só na mãe, passou a falar-se de circulo maternante, que engloba
todos os adultos significativos no desenvolvimento da criança
 A relação de vinculação é essencialmente uma díade (mãe-filho), e só depois se alarga
a outros tipos de relacionamento. O relacionamento precoce do bebé com a figura de
vinculação é uma ponte entre a criança e outras pessoas significativas, como o pai. A
passagem da díade à tríade (mãe-filho-pai) é um fenómeno exclusivamente humano,
que introduz grandes alterações no aparelho psíquico da criança, sendo um dos
fatores determinantes da capacidade de abstração e simbolização
 Os pais são os mediadores da relação da criança com o meio que a rodeia
 O pai intervém sobretudo nas nec socioafetivas mas também pode ajudar nas nec
fisicobiológicas
 Há um alargamento progressivo no nº de relações que a criança estabelece com os
outros
13. Exemplificar algumas consequências da perturbação da relação precoce (Spitz e o
hospitalismo):
A nossa atual compreensão da importância das relações precoces para o desenvolvimento
humano, deve-se, em grande parte, ao trabalho desenvolvido pelo Rene Spitz com crianças órfãs
institucionalizadas. O trabalho de Rene Spitz deixou claro que qualquer problema que afete a
qualidade das relações precoces tem sérias consequências no comportamento e no desenvolvimento
dos indivíduos.

Os estudos de Spitz baseiam-se na análise do comportamento de crianças institucionalizadas


por períodos prolongados durante a infância, em orfanatos e hospitais. Nessas instituições, o
número de adultos era baixo para o número de crianças que tinham a seu cargo e, por esse motivo,
os cuidados prestados limitavam-se á satisfação das suas necessidades fisiológicas, ficando as
necessidades de atenção e de afeto longe de satisfeitas. Spitz constatou que a maioria das crianças
que se encontravam nestas circunstancias exibia um conjunto de perturbações no desenvolvimento
físico e mental que designou por síndroma de hospitalismo.

Hospitalismo/privação do aconchego materno – conjunto de perturbações manifestadas por


bebes e crianças devido à carência de vinculação. O hospitalismo manifesta-se essencialmente por
uma indiferença e insensibilidade em relação as pessoas (dificuldades no relacionamento com outros)
ou pela tentativa de obter afeto e atenção a todo o custo. Os principais sintomas associados são:

 Dificuldade no relacionamento interpessoal – indiferença e insensibilidade – desenv


social e comunicacional comprometido;
 Atraso no crescimento físico;
 Atraso no desenvolvimento motor – devido a menor estimulo sensorial;
 Atraso no desenvolvimento intelectual – dificuldades a nível linguístico e do
pensamento abstrato;
 Longos períodos de apatia;
 Maior susceptibilidade à doença – SI frágil, sem apetite;
 Morte precoce.
Embora seja mais comum em criança institucionalizadas – como aconteceu, por exemplo,
com as crianças romenas do pós-guerra, que cresceram em orfanatos com más condições
ambientais e humanas – esta perturbação também pode afetar crianças que, apesar de morarem
em casas confortáveis e de terem quem assegure as suas necessidades fisiológicas, revelem fortes
carências afetivas.

Assim, podemos concluir que o desenvolvimento físico e psicológico depende, em grande


medida, da natureza e da qualidade da vinculação que estabelecemos com os nossos prestadores
durante os primeiros anos de vida. A importância deste relacionamento reflete-se na capacidade
para explorar o mundo e no desenvolvimento das capacidades físicas e intelectuais, bem como na
autoestima, no autoconceito, no equilíbrio emocional e, por fim, na capacidade de confiar nos
outros e de estabelecer com eles relações de abertura e de partilha genuínas.

14. Caracterizar diferentes processos de cognição social, nomeadamente as impressões, as


expetativas, as atitudes e as representações sociais (incluir as componentes das atitudes):
Impressões – Avaliação global que fazemos dos outros com base numa quantidade relativamente
reduzida de informação. Deste modo, as impressões constituem uma espécie de retrato mental dos
outros, que esboçamos espontaneamente através do contacto direto ou do testemunho de outros e
que nos fornece um quadro interpretativo para os nossos juízos acerca do seu carater e do seu
comportamento. Funcionam como um processo prático e eficaz de sabermos o que devemos esperar
e como nos devemos comportar perante os outros. Organização mental que fazemos das
informações ou interpretações que recolhemos de alguém, para o categorizar de modo que faça
sentido para nós e para o que achamos da pessoa. É através das impressões que formulamos uma
imagem daquilo que a pessoa é e que tomamos decisões acerca de como agir com essa pessoa.
Asch conclui que existe um efeito de primazia na formação de impressões de acordo com o qual
as primeiras impressões acerca de uma pessoa têm tendência a fixar-se na mente dos indivíduos
condicionando o significado que daí em diante será atribuído ás características que esta venha a
revelar (exp: mesmas características em diferentes ordens levam a diferentes impressões). Há
características que prevalecem sobre outras e determinam os nossos juízos.
O segundo estudo de Asch (alterou uma palavra na lista de característica: caloroso passou a
frio), mostra que nem todos os atributos ou características das pessoas têm o mesmo peso na
formação das impressões. Quando formamos uma impressão acerca de alguém não estamos apenas
a recolher um somatório de informações acerca dessa pessoa, procuramos uma certa coerência
entre os seus traços, de maneira que as características individuais que percecionamos são avaliadas
e interpretadas em função do traços que identificamos.
Isto significa que as impressões que formamos acerca das pessoas organizam-se em torno de um
padrão formado por traços centrais ou nucleares, em torno dos quais gravitam traços periféricos,
esporádicos e pouco significativos, que são interpretados em função dos primeiros. Se as impressões
se basearem nestes traços esporádicos, e não nos centrais, é provável que as cognições daí
resultantes sejam pouco fiáveis.
Embora possam ocasionalmente induzirmos em erro, as impressões são bastante uteis do ponto
de vista social. O processo de categorização social envolvido na formação das impressões permite-
nos enquadrar os outros em grupo sociais com os quais aparentem ter características em comum,
de maneira a completarmos a informação em falta acerca deles com aquilo que sabemos acerca das
características habitualmente exibidas pelos membros desse grupo.
Através das categorizações sociais organizamos a sociedade em categorias, reduzindo a
complexidade do mundo social. A categorização social facilita a nossa interação com os outros, pois
permite-nos prever de forma relativamente fidedigna o seu comportamento e as suas atitudes e,
por conseguinte, agir de forma mais informada e adequada. Contudo, ocasionalmente fazemos
categorizações abusivas – com base em informação escassa, parcelar ou ate mesmo falsa – e isso
pode ter um efeito adverso no nosso relacionamento com os outros.

Expetativas – Quando conhecemos alguém criamos expectativas que decorrem das


impressões. A partir de alguns indicadores, prevemos o seu comportamento e as suas atitudes,
isto é, desenvolvemos determinadas expectativas – modos de categorizar as pessoas através dos
indícios e das informações, prevendo o seu comportamento. As expectativas são atitudes
psicoafectivas mútuas, o outro com quem interagimos desenvolve, também, expectativas em
relação a nós.
Neste processo estão envolvidas duas operações básicas: indução e dedução. É pela indução
que passamos da perceção à inclusão da pessoa numa categoria – tendência para generalizar. É
pela dedução que, a partir do momento em que reconhecemos a categoria a que uma pessoa
pertence, passamos a atribuir-lhe determinadas características. Tal como as impressões, as
expectativas são facilitadoras da nossa leitura do mundo.
As expectativas formam-se no processo de socialização por influência dos nossos valores,
crenças e história pessoal.
Regra geral, as expetativas que se originam através destes processos fazem com que seja mais
fácil antecipar o comportamento e as atitudes dos outros e reagir adequadamente perante os
mesmos. Contudo, é preciso estarmos atentos para a possibilidade das nossas expetativas acabarem
por modelar ou transformar a própria realidade. De facto, as nossas expetativas influenciam de tal
modo o nosso comportamento e a nossa atitude que podem inadvertidamente acabar por leva-los a
agir exatamente de acordo com aquilo que esperávamos deles. Chamou-se a este efeito de
‘autorrealização de profecias’, pois trata-se de uma tendência para provocar um estado de coisas
simplesmente porque tínhamos previsto a sua ocorrência. Em de vez de ocorrer simplesmente de
acordo com as nossas previsões, esse estado de coisas ocorre por causa delas.

15. Atitudes

À medida que vamos contactando com diferentes pessoas, objectos, instituições e ideias,
vamos desenvolvendo sentimentos de carga positiva ou negativa que se traduzem numa tendência
para nos comportarmos desta ou daquela maneira perante o mundo que nos rodeia. Dá-se, então, o
nome de atitudes a este tipo de esquemas mentais adquiridos e relativamente estáveis que nos
levam a reagir de forma positiva ou negativa relativamente a objectos de natureza social.

As atitudes formam-se a partir da socialização e através de interacções sociais que vamos


estabelecendo ao longo da vida, assim como da observação e imitação de modelos significativos
como a família. Esta assume-se como um elemento preponderante na formação das nossas
primeiras atitudes, que vão ser reforçadas ou modificadas através do contacto com outros agentes
de socialização (escola, etc).

Cada um de nós acaba por desenvolver um conjunto de atitudes face a:

 Ideias como a justiça ou a liberdade;


 Situações como os exames, os acidentes ou as cenas de violência;
 Instituições como a família, a escola ou o estado;
 Objectos materiais como o computador, o automóvel ou a máquina fotográfica;
 Pessoas como o jornalista, o politico ou o policia.

Com efeito, as atitudes revestem-se de tonalidades afectivas que modelam o nosso


comportamento, desempenhando, deste modo, um papel fundamental na nossa vida em sociedade.

16. Componentes das atitudes

Estas não são directamente observáveis, podendo ser inferidas a partir dos comportamentos. Os
comportamentos são o aspeto visível das atitudes que lhes estão na base, sendo possível distinguir
três tipo diferentes de elementos.

 Componente cognitiva: elemento ligado às crenças – àquilo que pensamos, que sabemos ou
julgamos saber. Quando afirmamos que “a leitura desenvolve o espírito” estamos a emitir
juízos que pensamos corresponderem à realidade, uma vez que sabemos que obtêm
confirmação na experiência e nas investigações cientificas.
 Componente emocional: elemento de carácter afectivo ou valorativo – sentimentos que
nutrimos relativamente aos objectos, às pessoas, às situações e às ideias que estão em jogo.
Movemo-nos em função de preferências, em que a tónica já não é tanto “eu penso, eu sei,
eu julgo” mas “eu gosto, eu prefiro”.
 Componente comportamental: resultado das interacções estabelecidas entre os elementos
cognitivos e afectivos – predisposição ou intenção relativamente ao que pretendemos fazer
ou dizer, ou seja, da tendência para reagir e atua de dada forma.
O ser humano não age apenas com base naquilo que sabe ou conhece. O que sabe tem que
interagir com elementos relativos ao que aprecia, valoriza, gosta ou não gosta, prefere ou rejeita,
antes de agir de forma positiva ou negativa.

17. Dissonância Cognitiva

Leon Festinger usou a expressão “dissonância cognitiva” para se referir ao desconforto ou


tensão psicológica que sentimos quando sustentamos duas ou mais crenças (ideias, princípios ou
valores) que se contradizem entre si. Por exemplo, se uma pessoa acreditar que fumar provoca o
cancro e, apesar de não pretender ter cancro, continuar a fumar, vive numa situação de dissonância
cognitiva. Casos como este ocorrem porque nem sempre as nossas atitudes resulta da conjugação
harmoniosa dos fatores intelectuais e afectivos – elemento afectivo dominante.

Para aliviar a tensão psicológica, é provável que a pessoa procure diminuir a importância
dos elementos dissonantes, reforçando a sua crença em ideias como: “há fumadores de idade
avançada que vendem saúde”.

Segundo a teoria da dissonância cognitiva, para reduzir a tensão psicológica, as pessoas tendem
racionalizar e a distorcer a realidade, adotando atitudes que se ajustam melhor ao seu
comportamento, recorrente a uma, ou várias, das seguintes estratégias:

 Negando ou enfraquecendo uma das cognições (ou ambas):


o Ex.: “Eu fumo muito pouco” ou “É falso que fumar provoca cancro”
 Negando a tensão entre as cognições:
o Ex.: “Não está provado que fumar provoca cancro”
 Acrescentando uma terceira cognição que atenue (ou elimine) a tensão entre as duas
o Ex.: “Eu tenho uma saúde de ferro, por isso, mesmo que fume, não vou ter cancro”

18. Representações Sociais

Todos estamos inseridos num sistema social, tendo em comum um alargado conjunto de
ideias acerca das mais variadas coisas. Temos noções mais ou menos partilhadas de beleza, família,
infância, bem estar, de justiça, etc. Estas noções comuns, úteis para darmos sentido aos
acontecimento e para organizarmos a comunicação e os comportamentos no interior dos grupos
designam-se representações sociais.

Representações Sociais – Constituem esquemas mentais socialmente elaborados e


partilhados, que contribuirão para a constituição de uma realidade comum a um conjunto social.

As representações sociais são:

 Construídas nas interacções sociais e na comunicação estabelecida entre os elementos de


um grupo, resultando de uma elaboração ou produção colectiva;
 Partilhadas por um grupo, que se serve delas para compreender e explicar os fenómenos,
para justificar acções e para antecipar o futuro;
 Teorias sociais práticas que desempenham papéis específicos na sociedade, funcionando
como uma espécie de programas de acção a pôr em prática sempre que surgem objectos,
factos ou situações preocupantes para o grupo.

Algumas representações apresentam um vincado grau de estabilidade, pelo que se mantêm mais
ou menos inalteráveis e se transmitem de geração em geração. O seu conjunto constitui aquilo que
um grupo designa por tradição. Outras, pouco duráveis, embora se espalhem rapidamente como as
modas, são, como elas, igualmente passageiras.

De acordo com Serge Moscovici, as representações sociais são o senso comum das sociedades
contemporâneas, pois desempenham o papel que nas sociedades arcaicas era atribuído aos mitos e
às crenças: por em comum um conjunto de noções e de práticas que contribuam para facilitar a vida
do grupo e para dar sentido às coisas. Nesse sentido, as representações sociais são estruturas
cognitivas partilhadas numa cultura, que facilitam o conhecimento das coisas e que permitem
orientar a acção.

19. Conformismo

A sociedade dispõe de agentes de socialização que vão modelando as nossas condutas


individuais. Deste modo, o ser humano sente-se, por vezes, condicionado pelo grupo, sendo, de
certa forma, induzido a executar determinados atos e a abster-se de realizar outros consoante acha
que estes serão alvo de aceitação social ou não.

Conformismo – tendência para aproximar as nossas atitudes e comportamentos face às


atitudes e comportamentos às atitudes e comportamentos dos grupos em que nos encontramos
inseridos.

Esta adaptação aos outros leva-nos a aceitar as normas sociais vigentes, sem o que não
seria possível integrar-nos de modo estável e duradouro nos diferentes contextos sociais em que nos
movemos.

São fatores decisivos para o conformismo:

 Autoconfiança: o conformismo é inversamente proporcional à autoconfiança. As pessoas


independentes têm bastante autoconfiança e autoestima, pelo que não se importam com o
que os outros pensam a seu respeito. Os conformistas têm um nível mais baixo de
autoestima e confiam menos nos seus juízos.
 Unanimidade: o número de pessoas que constitui o grupo não influi no comportamento dos
sujeitos, mas o acordo unânime é um fator relevante.
 Contacto Visual: separando o sujeito ingénuo dos restantes elementos, de modo a não
haver contacto visual, os níveis de conformismo baixam significativamente, mostrando que,
quando as pessoas estão sentadas face a face, se sentem mais compelidas a submeter-se ao
grupo.

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