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C APÍTULO 4

Manifestações Artísticas Brasileiras

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33Conhecer as múltiplas formas que compõe a obra de arte no que tange a


sua estrutura.

33Distinguir as especificidades da obra como objeto de expressão humana.

33Entender as diferentes formas de expressão artística como experiência


tradicional e pessoal em seus numerosos elementos.

33Reconhecer as linguagens artísticas dentro de seu contexto.


Saberes, Herança e Manifestações Culturais Brasileiras

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Capítulo 4 Manifestações Artísticas Brasileiras

Contextualização
Neste capítulo, apresentamos as múltiplas formas de compõem a obra de
arte em suas também variadas formas estruturais. Nesse sentido, propomos
estudar e distinguir as especificidades de cada forma de construir a obra de
arte, lembrando sempre que esta será sempre o resultado da experiência
pessoal do artista e que vai assumir um lugar na sociedade em que foi pensada
e realizada.

Manifestação Artística
Ao nos reportamos à pintura artística, merecem a devida atenção os
elementos que constituem essa ação, ou seja, o desenho, a cor e os suportes
de cada obra. É importante reconhecer as mudanças ocorridas na pintura em
algum momento da história. A partir delas, percebemos que esses elementos
vão estar ausentes ou alterados em seu uso habitual, como, por exemplo, na
arte abstrata e no movimento conhecido como Suprematismo, representado
por Kazimir Malevitch em sua obra “Quadro branco sobre fundo branco” (1918).

Figura 11 - Kasimir Malevich, White on White, 1918

Fonte: Disponível em: <www.christiancapurro.com/archives/


roger_cook_...>. Acesso em: 02 out. 2011.

Falando especificamente de arte contemporânea, temos uma discussão


ampla ao tratarmos desses elementos, pois a multiplicidade de cores, ou a
ausência de cor, formas e suportes utilizados pelos artistas nos desafiam a
repensar a pintura artística diante das provocações existentes. Um bom
exemplo dessa problemática pode ser conferido na obra da artista cubana

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Saberes, Herança e Manifestações Culturais Brasileiras

Ana Mendieta, que tem suas criações materializadas nas cores da natureza
em momento de apropriação, como um disfarce, um camaleão, tal a total
integração com o meio onde a criação se revela. Ana Mendieta usa como
suporte ou como matriz seu próprio corpo, em uma aproximação com a
tradição indígena de pintar o corpo, o que nos provoca a pensar na fronteira
artista e obra, o ponto em que a obra e o criador se fundem.

Figura 12 - Ana Mendieta

Fonte: Disponível em: www.virginiamiller.com/.../AnaMendieta.html>.


Acesso em: 02 out. 2011.

Figura 13 - Ana Mendieta, Silhueta Works no México

Fonte: Disponível em: <www.virginiamiller.com/.../AnaMendieta.html>.


Acesso em: 02 out. 2011.

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Capítulo 4 Manifestações Artísticas Brasileiras

No que se refere à arquitetura, também as mudanças em suas formas


permitem e sugerem reflexão. Aqui, cores e formas também se flexibilizam.
A ausência da cor se reflete no uso de novos materiais, fruto das conquistas
tecnológicas. É normal nos admirarmos diante de uma construção
contemporânea que apresenta formas inovadoras ou, no mínimo, diferentes Cores e formas
do que estamos acostumados a visualizar. Por exemplo, a obra de Oscar também se flexibilizam.
Niemayer, ou os gigantescos edifícios que configuram a arquitetura cosmopolita
de centros como Manhattan, em Nova York, Hong Kong, na China, ou mesmo
em São Paulo.

Nessas construções contemporâneas, vamos nos defrontar com linhas Nessas construções
sinuosas, retas, que se cruzam. No elemento cor, encontraremos desde contemporâneas,
a monocromia, no o uso do alumínio e o vidro, até a justaposição de tons vamos nos defrontar
e suas mesclas. No cenário organizacional urbano, temos também as com linhas sinuosas,
construções mais do que populares, improvisadas, chamadas de favelas. retas, que se cruzam.
Lá encontraremos uma diversidade gigante em formas de habitar, no que No elemento cor,
tange aos materiais e as cores. Há favelas coloridas, existem favelas em que encontraremos desde
prevalece a monocromia. Pintura e elementos da construção arquitetônica a monocromia, no
se encontram, muitas vezes, como painéis que ficam nas ruas das cidades, o uso do alumínio
em espaços públicos, destinados à função de monumento cultural, além e o vidro, até a
justaposição de tons e
dos muros, que recebem a arte do grafite.
suas mesclas.
Figura 14 - Vista aérea da cidade de São Paulo

Fonte: Disponível em: <www.mundook.com.br/?p=2330>.Acesso em: 10 out. 2011.

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Figura 15 - Ilha de Manhattan

Fonte: Disponível em: Disponível em: <viajeaqui.abril.com.br/


fotos/exterior/nova-yo...>. Acesso em: 10 out. 2011.

Figura 16 - Hong Kong.

Fonte: Disponível em: <abroadandaway.com/.../>. Acesso em: 10 out. 2011.

Figura 17 - Favela Paraisópolis – RJ.

Fonte: Disponível em: <https://turismonafavela.


wordpress.com/>. Acesso em: 10 out. 2011.
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Capítulo 4 Manifestações Artísticas Brasileiras

A arte brasileira vai ser construída também seguindo mudanças e (re) Os indígenas usavam
configurando as influências recebidas. Entendemos que um país tão colorido a pintura corporal
de alguma maneira vai ter essa riqueza cromática refletida em telas e ruas. como forma de
Os indígenas usavam a pintura corporal como forma de ritualizar seus desejos ritualizar seus desejos
ou sentimentos. Utilizavam também cores e formas como adereços em seus ou sentimentos.
espaços de moradia. Com a colonização portuguesa, os padrões foram
alterados, tanto na pintura como na forma de viver em sociedade. Essas
mudanças são assinaladas com a implantação do maneirismo, seguido pelo
barroco, presente na arquitetura e pintura, principalmente.

No entanto, a pintura brasileira foi construída com a implantação da


Academia Imperial de Belas Artes. Em determinado momento, as mudanças
desses padrões estabelecidos foram discutidas, na metade do século XX, na
Semana de 1922, que marcou o início do movimento modernista. O “quadro”
da pintura brasileira mescla autoria e influências múltiplas no registro do
panorama brasileiro por região, dependendo do desenvolvimento dessas
áreas, que aos poucos eram povoadas. No nordeste, houve a construção de
uma arte brasileira com forte influência holandesa, constituída na proposta do
conde Maurício de Nassau:

Em 1637, desembarca em Recife, Pernambuco, o conde


Maurício de Nassau, nomeado pelos holandeses e
financiado pela recém-fundada Companhia das Índias
Ocidentais, trazendo os artistas holandeses Frans Post e
Albert Eckhhout e mais quatro: o alemão Zacharias Wagner,
recrutado entre soldados, por demonstrar enorme talento
para o desenho e para a pintura e é citado por Arte no Brasil
(em minha opinião, o mais sério e competente trabalho até
hoje publicado). (GAVAZZONI, 1998 p.97).

Maurício de Nassau realizou uma administração centrada nos conceitos


No que confere
herdados do movimento renascentista da Europa, deixando importante
especificamente à
contribuição para o retrato do Brasil Colônia durante os séculos XVI e XVII. No
pintura e ao desenho,
que confere especificamente à pintura e ao desenho, a arte apresenta caráter a arte apresenta
documental, condizente com a postura investigativa perante a terra nova. caráter documental,
condizente com a
O estilo barroco introduzido no Brasil é reflexo principalmente do postura investigativa
pensamento artístico vigente em Portugal. Obviamente que o terreno brasileiro perante a terra nova.
não supria os elementos necessários ao desenvolvimento do esplendor do
barroco que se refletia na Europa.

O que não se pode negar é que este barroco periférico tenha


existido de fato, com tal vitalidade que suas manifestações
até hoje ressoam na cultura brasileira (grifos nossos). Nem
que este vigor se deveu, em grande parte, ao fato de o
Barroco, no Brasil, “ser contemporâneo da restauração e da
resistência aos holandeses”, além de exprimir a criatividade
popular, até mesmo como resistência à repressão das
camadas dominantes. (GAVAZZONI, 1998 p.110 -111).
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Será de cunho Será de cunho religioso a implantação dos preceitos da arte barroca,
religioso a implantação revelada principalmente na construção das igrejas e sua ornamentação. A
dos preceitos da arte igreja, nesse cenário de construção de identidade, almeja ordenar a moral e os
barroca, revelada costumes dos habitantes locais, sendo um ponto de referência na construção
principalmente na dos valores dessa sociedade.
construção das igrejas
e sua ornamentação. A mistura de modelos europeus com a livre tendência da
arte cabocla (pintura de murais e dos forros das igrejas
contrastando com os púlpitos e altares de rigorosa e formal
obediência à escola europeia) formou a manifestação mais
autêntica da nossa incipiente arte natural. (GAVAZZONI,
1998 p.111).

Até hoje, os resquícios da arte barroca são o reflexo das manifestações


culturais brasileiras, presentes principalmente nas pinturas e na decoração da
arquitetura religiosa, em várias regiões do país. É através das apropriações do
estilo barroco feito pelos escultores, entalhadores e pintores brasileiros que
a arte brasileira do século XVII se revela, principalmente no campo religioso,
no entanto, ”quando os artistas negros esculpiam imagens de Cristo, Santo
Antônio e São Jorge, era Oxalá, Ogum e Oxóssi que pretendiam referenciar, e
as elites brancas sabiam disto” (GAVAZZONI, 1998 p.111).

Imagem 18 - Interior da Igreja e Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, 1717.

Fonte: Disponível em: <http://bit.ly/8zkdHqarquiteturadobrasil.


wordpress.com/.../>. Acesso em: 02 out. 2011.

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Capítulo 4 Manifestações Artísticas Brasileiras

Figura 19 - São Marcos. Museu da Inconfidência, Ouro Preto/MG

Fonte: Disponível em: <www.morganmotta.com/artigos/01072005.htm>.


Acesso em: 03 out. 2011.

Figura 20 - Coração de Nossa Senhora. Detalhe do Medalhão do


forro da nave de São Francisco da Penitência, Ouro Preto/MG

Fonte: Disponível em: <www.morganmotta.com/artigos/01072005.htm>.


Acesso em: 03 out. 2011.

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Saberes, Herança e Manifestações Culturais Brasileiras

Figura 21 - Mestre Ataíde. Assunção da Virgem Maria, no teto


da igreja de São Francisco de Assis – Ouro Preto – MG


Fonte: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mestre_
Ata%C3%ADde>. Acesso em: 03 out. 2011.
A colônia de artistas
franceses que chegou Essa “liberdade” de criação teve fim com a padronização artística
ao Rio de Janeiro em em todas as linguagens através da implantação da Academia de Belas
1816 veio demarcar Artes, que surge em meados do século XIX, trazendo em sua doutrina o
uma nova época academicismo com suas regras: “a colônia de artistas franceses que chegou
para a arte brasileira ao Rio de Janeiro em 1816 veio demarcar uma nova época para a arte
(GONZAGA, 1995, brasileira” (GONZAGA, 1995, p.90). E nessas mudanças estão incluídas o
p.90). abandono do barroco como estilo artístico, reconhecendo o estilo clássico
como o ideal a ser seguido aqui no Brasil.

O policiamento da escola francesa aqui no Brasil chegou a


tal ponto que nem mesmo a grande revolução efetuada na
pintura europeia, tendo à frente o romântico Delacroix (1798-
1863) e Gustave Courbet como realista, chegou a influenciar
os nossos mais consgrados pintores, todos predispostos a
não aceitarem inovação, nem Corot nem Millet conseguiram.
O Brasil estava afastado do cenário artístico mundial,
vivendo, pode-se até dizer, um período de trevas, em plena
era reformista. (GAVAZZONI, 1998 p. 134).

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Capítulo 4 Manifestações Artísticas Brasileiras

Foi no movimento denominado Semana de 1922 que as labaredas de


uma mudança significativa na arte brasileira atingiram todas as formas de arte,
por isso essa data é marco importante ao se tratar de arte no Brasil. É como
se tivéssemos acordado e nos afastado da masmorra que por tanto tempo nos
trouxe cegueira e obediência.

Foi um pequeno passo, de fundamental importância para todos os


artistas que de alguma maneira entenderam quão liberta é a arte, quantos
caminhos podemos trilhar para chegar ao mesmo lugar, e dali encontar
novas possibilidades. Essa possibilidade de prazer e diálogo através das
manifestações artísticas levou à descoberta das muitas facetas da arte, de
sua magnitude. É como se, libertos de uma ditadura de formas, temas e cores,
tivessem encontrado outras formas, outras cores.

A partir desse momento, já não cabia mais aceitar incondicionalmente o


que lhes era imposto, de forma resignada, como na síndrome de “Poliana”
(Pollyanna Whittier, menina órfã que aprende a conviver com sua tia “Polly”.
Frente às amarguras que a vida lhe oferece, desenvolve “o Jogo do Contente”,
que consiste em ver apenas as coisas boas, de qualquer situação. Romance
de Eleanor H. Porter escrito em 1923), em um eterno “jogo do contente”, e
sim visualizar as inúmeras possibilidades que, junto com a arte, apontam a
possibilidade de viver de várias formas artísticas.

A Europa, sendo refêrencia, já se mostrava resolvida em busca do não


habitual, provocava reflexões acerca da arte na sociedade, das possibilidades
de criação em variados suportes, nas linhas inovadoras que pareciam
estranhas ao lado da arquitetura centenária, e o Brasil, ao poucos, ousava
de forma cautelosa, se apropriando dessas intenções. Nesse sentido, as
mudanças, ocorridas de forma lenta no que se refere à pintura e à arquitetura,
tomaram cadência no decorrer do tempo, sendo que de alguma forma, ainda
hoje, caminhamos em compasso com uma arte que se propõe ao diálogo,
mais próxima dos limites da arte popular, em razão das especificidades que
cada cultura nos apresenta.

Temos, nesse entrelaçamento entre arte, arte popular e cultura, inúmeros Essas influências
representantes que, através de suas pinceladas, sons, imagens e arquitetura, são percebidas
se propuseram de alguma forma a marcar o cenário artístico brasileiro, que ao estendermos o
não é estanque, e sim de contornos distintos facilmente percebidos. olhar, por exemplo,
sobre a obra de Di
Essas influências são percebidas ao estendermos o olhar, por exemplo, Cavalcanti até a arte
sobre a obra de Di Cavalcanti até a arte popularizada pelos meios de popularizada pelos
comunicação de massa, considerada por alguns de péssimo gosto, ou meios de comunicação
de massa, considerada
popular. Podemo, ainda, observar a arte de Oscar Niemayer, que configura
por alguns de péssimo
a modernidade arquitetônica brasileira. Essas mudanças são visíveis ao
gosto, ou popular.

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Saberes, Herança e Manifestações Culturais Brasileiras

nos defrontarmos com as construções brasileiras contemporâneas em


contraste com as construídas no início de sua colonização. Do maneirismo
ao modernismo, é possivel reconhecer as influências recebidas e sua (de)
formação na busca da autoria, selo de autenticidade, na organização do
espaço arquitetônico de cada região do país, que também se apresentam de
forma diferente, de acordo com a cultura local.

Figura 21 - Di Cavalcanti. Cinco Moças de Guaratinguetá.

Fonte: Disponível em: <www.klickeducacao.com.br/enciclo/encicloverb/...>.


Acesso em: 10 out. 2011.

Figura 22 - Arte popular. São Gonçalo, madeira,


Manoel Graciano (Juazeiro do Norte- CE).

Fonte: Disponível em: <artepopularbrasileira.wordpress.


com/>. Acesso em: 10 out. 2011.

É possivel notar as semelhanças entre as artes plásticas e a arquitetura


brasileira, que ocorrem devido às influências recebidas. No rastro das
mudanças ocorridas na arte brasileira, podemos apontar alguns nomes que
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Capítulo 4 Manifestações Artísticas Brasileiras

segmentaram as diferenças em cada período. E o século XIX foi o que mais


permitiu as novas formas e a junção de estilos na arte brasileira. Tivemos
também a presença de temas variados, que trouxeram o cotidiano do povo
pintado em telas como, por exemplo, novamente, Di Cavalcanti e sua obra
“Samba”, de 1925.

Figura 23 - Di Cavalcanti – Samba, 1925

Fonte: Disponível em: <www.investarte.com/.../brasil/


cavalcanti.asp>. Acesso em: 03 out. 2011.

Não é só a linguagem artística que se desprendeu das diretrizes Não é só a linguagem


artistícas, mas também os artistas voltaram seu olhar para o seu chão, as artística que se
cores de sua terra. O Núcleo Bernadelli representou essas novas formas desprendeu das
artísticas nas figuras de Ado Malagoli, José Pancetti e Edson Motta, em diretrizes artistícas,
meados dos anos 40. mas também os
artistas voltaram seu
Figura 24 - ADO MALAGOLI (SP, 1908 – RS, 1994): Agonia do templo olhar para o seu chão,
as cores de sua terra.

Fonte: Disponível em: <www.areliquia.com.br/144ranulpho.


html>. Acesso em: 03 out. 2011.

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Saberes, Herança e Manifestações Culturais Brasileiras

Figura 25 - José Pancetti. Porto, 1941

Fonte: Disponível em: <www.mac.usp.br/.../Ciccillo/JosePancetti.asp>.


Acesso em 04 out. 2011.

Figura 26 - Afresco pintado pelo artista Edson Motta – Igreja Dores do Turvo

Fonte: Disponível em: <www.panoramio.com/user/3891564?with_


photo_id=...>. Acesso em 04 out. 2011.

Outro importante movimento que caracterizou as artes plásticas brasileira


ocorreu em São Paulo nas obras de Lasar Segall e Antônio Gomide, que
fundaram, em 1932, a Sociedade Pró-Arte Moderna. Também amantes da arte
moderna, o Grupo Santa Helena deixou importante contribuição aos estudos
acerca da arte brasileira, entre eles Alfredo Volpi. Nessa mesma década,
recém chegado da Europa, Cândido Portinari criou a obra “Café”, de 1934,
importante retrato do trabalhador brasileiro.

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Figura 27 - Cândido Portinari, “Café”, 1934

Fonte: Disponível em: <artefontedeconhecimento.blogspot.


com/2010/07/>. Acesso em: 04 out. 2011.

O Grupo Santa Helena foi formado em 1930, na cidade de São


Paulo, pelos artistas Alfredo Volpi, Fulvio Penacchi, Aldo Bonadei,
Alfredo Rizzotti, Mario Zanini, Humberto Rosa, Francisco Rebolo e
Manuel Martins. Pintavam nos fins de semana e contribuíram para
o questionamento da pintura acadêmica.

Já no nordeste brasileiro, a arte moderna tambem ganhou fôlego, em


1944, com a criação da sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), com
a presença de Aldemir Martins, Mário Barata, entre outros. Nessa forma de
reflexão, apontando as obras dos artistas que participaram de todo esse
processo, nada mais brasileiro do que o legado artístico de Carybé em “Festival
das Américas”.

Figura 28 - Aldemir Martins. Marinha Com Coqueiros.


Gravura/ 2003

Fonte: Disponível em: <www.espacoarte.com.br/obras/4331-marinha-com-...>.


Acesso em: 11 nov.2011.
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Saberes, Herança e Manifestações Culturais Brasileiras

Figura 29 - Mário Barata - Azulenos no Brasil – 1955.

Fonte: Disponível em: <mario-barata.blogspot.com/2008/07/


obras-prima...>. Aceso em: 10 nov. 2011.

Figura 30 - Carybé – “Rejoicing and Festival of the Americas”

Fonte: Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Carybé>. Acesso em: 10 nov. 2011.

A região sul do país tem nas figuras dos paranaenses Theodoro Bona
e Miguel Bakun o desenrolar da arte moderna e, em Santa Catarina, a arte
Esses apontamentos brasileiríssima de Martinho de Haro. Esses apontamentos históricos referentes
históricos referentes à produção brasileira de arte marcam as mudanças de um Brasil que, aos
à produção brasileira poucos, busca sua identidade através das inúmeras influências recebidas.
de arte marcam as Notamos que as apropriações de novidades em termos de pintura e arquitetura
mudanças de um são feitas de forma cautelosa pelos artistas brasileiros que, de alguma forma,
Brasil que, aos poucos, reconhecem as criações da Europa, só que de forma autônoma escolhem
busca sua identidade como melhor referenciar o mundo que os rodeia.
através das inúmeras
influências recebidas. Figura 21 - THEODORO DE BONA - Casal na
Paisagem. Óleo sobre tela, ass. dat. 1978

Fonte: Disponível em: < www.bolsadearte.com/.../


novembro2002/mod5.>. Acesso em: 10 nov. 2011.
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Capítulo 4 Manifestações Artísticas Brasileiras

Figura 32 - Miguel Bakun - Floresta Azul

Fonte: Disponível em: <kalenaartesplasticas.blogspot.


com/2009/07/mig...>. Acesso em: 11 nov. 2011.

Figura 33 - Martinho de Haro


Porto de Belém

Fonte: Disponível em: <www.palaciodosleiloes.art.


br/.../001-030A.htm>. Acesso em: 10 nov. 2011.

No cenário contemporâneo, a arte brasileira se reconhece como nativa em


todas as linguagens em crescente amadurecimento artístico, os artistas estão
libertos, como na música dos sambistas Jorge Aragão e Acyr Marques, “Coisa
de Pele”:

Podemos sorrir, nada mais nos impede


Não dá pra fugir, desta coisa de pele
Sentida por nós, desatando os nós
Sabemos agora, nem tudo que é bom vem de fora.

Pensar na pintura brasileira e poder visualizar esse universo gigante e com


formas e cores tão diferentes é uma experiência incrível. Da arte performance

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Saberes, Herança e Manifestações Culturais Brasileiras

O cenário brasileiro de Hélio Oiticica, do mundo infantil resgatado por Eli Heill, a simplicidade
tem sua riqueza, além nas pinceladas de Djanira e Heitor dos Prazeres, falar de arte brasileira e
de sua área territorial, referenciar esses artistas é apenas mostrar um pouco desse universo, que
sua gigantesca tem outros grandes representantes. Hoje podemos dizer que a arte brasileira
extensão de matas e ainda recebe influências, mas com um filtro, buscando o bônus para uma arte
rios, o povo mestiço, que aqui já existe. O cenário brasileiro tem sua riqueza, além de sua área
sim senhor com muito
territorial, sua gigantesca extensão de matas e rios, o povo mestiço, sim
orgulho, e nossa
senhor com muito orgulho, e nossa arte se apresenta em sintonia com nossa
arte se apresenta
nação colorida, elegante, gigante.
em sintonia com
nossa nação colorida,
Figura 34 - Hélio Oiticica – Parangolés.
elegante, gigante. 

Fonte: Disponível em: <multissenso.blogspot.com/2009/11/


helio-oitici>.Acesso em: 10 nov. 2011.

Figura 35 - Eli Heil – O País das maravilhas.

Fonte: Disponível em: <cafecigarrosedesordem.blogspot.


com/2010/09/o->. Acesso em: 10 nov. 2011.

Figura 36 - Djanira Anunciação.
Guache, ass. dat. 1963.

Fonte: Disponível em : <www.bolsadearte.com/.../djanira_


anunciacao.htm>. Acesso em: 10 nov. 2011.
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Capítulo 4 Manifestações Artísticas Brasileiras

Figura 37 - Frevo - Heitor dos Prazeres, sem data.

Fonte: Disponível em: <www.margs.rs.gov.br/pag_papel_


de_parede.php>. Acesso em: 10 nov. 2011.

Ao falarmos dos artistas e de suas obras aqui no Brasil, é interessante


lembrar a importância dos eventos artísticos que reuniram vários representantes
da arte brasileira em momento de reflexão e exposição dos trabalhos, como as
bienais e os espaços permanentes, os museus.

Os museus de arte contemplam exemplares das


manifestações artísticas dos mais diferentes períodos. Uns
se especializaram em algumas técnicas ou em períodos
específicos (Museu de Arte Contemporânea), outros
apresentam um acervo múltiplo, em que várias técnicas e
períodos são representados por exemplares (Museu de Arte
de São Paulo), outros se dedicam à produção de um único
autor (Museu Lasar Segall). (MATTOS, 2003, p.118).

Os museus são os guardiões da produção artística da humanidade e


no Brasil não é diferente. A Pinacoteca de São Paulo (1905), com 4 mil
peças, se configura como o mais antigo centro de arte brasileira, sendo
também referência iconográfica. No nordeste brasileiro temos o Museu de
Arte da Bahia (1918) e o MAM (Museu de Arte Moderna, criado na década
de 60). O Rio de Janeiro tem seu primeiro museu fundado em 1937 (Museu
Nacional de Belas Artes), além do MAM (Museu de Arte Moderna, 1952), em
que“entre os intens do acervo podem ser encontradas algumas raridades,
como as revistas “O Fan”, “Palcos e Telas” e “Cineart” , além das edições
das primeiras décadas do século, com ilustração de Di Cavalcanti e Tarsila
do Amaral (MATTOS, 2003, p.120).

Já em São Paulo, o MASP (Museu de Arte de São Paulo, 1947)


é referência nacional, tem um vasto acervo, e “mantém pinacoteca,
biblioteca, fototeca, filmoteca, vidoeteca, cursos de arte e serviços
educativos de apoio às exposições, como exibição de filmes e
concertos musicais de interesse artístico e cultural” (ibid). Junto com
o Museu de Arte Contemporânea (MAC) e suas 8.000 obras, esses
museus são depositários de importante parte da produção artística
nacional e internacional em solo brasileiro.
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Assim como os museus, as Bienais (eventos artístico-culturais que ocorrem


a cada dois anos) são importantes espaços de exposição de arte brasileira,
estrangeira e arquitetura. Destaque para a Bienal de São Paulo, que reúne
em seu espaço artistas de vários lugares do mundo, promovendo o diálogo
internacional de arte em um espaço arquitetônico espetacular desenvolvido
por Oscar Niemayer.

A década situada entre a criação da Bienal de São Paulo,


em 1951, e a inauguração de Brasília, em abril de 1960, foi
um dos períodos mais férteis da história da arte brasileira
neste século. Foi também o período áureo da crítica de
arte. Porque simultaneamente à busca de uma linguagem
universal, fez-se um esforço extraordinário no sentido
de definir uma linguagem própria para as artes visuais,
promovendo a autonomia dos meios plásticos e, ao mesmo
tempo, a criação de um vocabulário específico para a crítica
de arte. (ARRUDA, 2002, p.31).

A arte atinge um nível


A partir das grandes exposições das bienais, a produção internacional vem
de profissionalização,
sendo as instituições para o Brasil e a arte brasileira também se apresenta. A arte atinge um nível
as responsáveis de profissionalização, sendo as instituições as responsáveis pela avaliação da
pela avaliação da qualidade da obra. O crítico assume papel importante, os curadores também
qualidade da obra. atuam de forma significativa no processo que envolve a exposição.

Figura 38 - Bienal de São Paulo. Pavilhão Ciccillo Matarazzo.

Fonte: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Bienal_Internacional_


de_Arte_de_S%C3%A3o_Paulo>. Acesso em: 04 de out. 2011.

Foi na segunda Bienal de São Paulo , em 1953, que a importante


obra de Pablo Picasso, “Guernica”, veio para o Brasil.

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Capítulo 4 Manifestações Artísticas Brasileiras

No mesmo rastro, com propósitos semelhantes, temos a Bienal do


Mercosul, em Porto Alegre – RS, que também se propõe a refletir acerca da
arte contemporânea, agregando artistas do mundo. A proposta de reunir a
arte contemporânea internacional surge em 1997 e rapidamente se consagra
como importante evento artístico da América Latina. Em 2011, de setembro a
novembro, ocorre novamente o encontro dos artistas em torno da 8ª Bienal do
Mercosul, com o tema “Ensaios de Geopoéticas”. A proposta da curadoria da
Bienal é discutir, a partir da arte, a noção de território.

A 8ª edição da Bienal do Mercosul - Ensaios de


Geopoética, tem como tema o território e sua redefinição
crítica a partir de uma perspectiva artística. Reunirá 107
artistas de 34 países que tratam de tópicos relevantes
para essa discussão: mapeamento, colonização, fronteira,
aduana, alianças transnacionais, construções geopolíticas,
localidade, viajantes científicos, nação e política. (8ª Bienal
do Mercosul - Projeto, 2011).

A arte a brasileira contemporânea, no que se refere ao uso de outros


suportes de criação, como as mídias (a fotografia, o vídeo, a performance Os artistas brasileiros,
e a instalação), também tem a diversidade como marca. Os artistas sob influência da
brasileiros, sob influência da nova arte, e as muitas correntes em moda nova arte, e as muitas
agem de forma a ressignificar temas e materiais usados, muitas vezes correntes em moda
utilizando a associação de mídias e materiais. Muitas vezes o processo agem de forma a
envolvido na exposição também é incorporado à arte contemporânea como, ressignificar temas
por exemplo, as pinturas do artista chileno Eugenio Dittborn, que será e materiais usados,
homenageado na Bienal do Mercosul, em que sua arte fará uma viagem via muitas vezes utilizando
postal das Cordilheiras dos Andes até Porto Alegre. a associação de
mídias e materiais.
Figura 39 - Eugenio Dittborn: Pinturas aeropostales en Viaje

Fonte: Disponível em: <http://www.bienalmercosul.art.br/blog/eugenio-


dittborn-pinturas-aeropostales-en-viaje/>. Acesso em: 04 de out.de 2011.

Nesta vastidão de terra chamada Brasil, grande tambem é a produção


artística dos sujeitos que deixaram seu legado e que ainda constroem a arte
brasileira, hoje cada vez mais buscando sua autoria e reconhecimento.

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Saberes, Herança e Manifestações Culturais Brasileiras

Atividade de Estudos:

1) Em cada edição da bienal, um tema é cuidadosamente


escolhido para orientar a produção dos artistas participantes
e promover a reflexão necessária em torno do papel da arte
para a sociedade. Escolha uma edição das bienais, pode ser
a de São Paulo, ou ainda a do Mercossul, e investigue os
fundamentos filosóficos que orientaram a exposição.
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Algumas Considerações
O texto aqui apresentado se propôs mostrar um pouco do desenvolvimento
da pintura brasileira e sua ligação com a arquitetura no que tange às influências
desde o momento de sua colonização. Objetivou mostrar a arte brasileira em
sua apropriação e apontar e ressignificar a importância dos museus como
guardiões da arte nacional e internacional, bem como ressaltar a importância
das bienais de São Paulo e a do Mercosul – RS.

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Capítulo 4 Manifestações Artísticas Brasileiras

Referências
ARRUDA, Jacqueline. Projeto educação para o século XXI. São Paulo:
Moderna, 2002.

GAVAZZONI, Aluizio. Breve história da arte e seus reflexos no Brasil.


Rio de Janeiro: Biblioteca da Universidade Estácio de Sá, 1998.

GONZAGA, Duque. A arte brasileira. Campinas, SP: Mercado de Letras,


1995.

8ª Bienal do Mercosul – Projeto. Disponível em: http://www.bienalmercosul.art.br/


novo/index.php?option=com_noticia&Itemid=5&id=865

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Saberes, Herança e Manifestações Culturais Brasileiras

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