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V23n1a04 PDF
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da idéia às práticas*
mesmo posicionamento. Não se trata aqui de validar
com exclusividade a teoria ou a prátíca, e sim, ao menos
conceitualmente (uma vez que a teoria proudhoniana,
se não em suas interpretações - pelo menos em sua apre-
. sentação - pode ser considerada acabada) permitir a
compreensão da forma pela qual teoria e prática se com-
Heloisa Maria Mendes de Almeida pletam ou se excluem.
Aluna do Curso de Mestrado da EAESP!FGV Para o atingimento de tal 'propósito organízarnos O
na área de TCO. trabalho em quatro itens. O primeiro será dedicado à
apresentação da sociedade autogestionâría concebida
por Proudhon. Destituído de formação formal especí-
fica; os escritos do autor nos falam de seu ecletismo;
não haveria possibilidade de bem compreender sua pro-
posta autogestionária sem lhe perscrutar os princípios
fllos6ficos, econômicos e políticos.
O segundo e o terceiro itens pretendem expor a
forma pela qual se deu a implantação e. a realização
(através do estudo da estrutura e seus ínterrelacíona-
mentes internos) do sistema autogestionário ria Jugos-
1. INTRODUÇÃO'
lãvia (1948 até hoje) e Espanha (1936-39).
O quarto e último item será dedicado à reflexão,
A palavra autogestão, relativamente recente - apare- onde apresentaremos as diferenças por nós percebidas'
ceu na língua francesa no início dos anos 60 - é a tradu- entre teorià e prãtica.
ção literal da palavra servo-croata samoupravlje (somo, Cabe-nos ainda acrescentar que acreditamos ser
sendo equivalente eslavo do prefixo grego auto e upravlje este, trabalho útil, àqueles que desejam ter emmãos
signífícando aproximadamente gestão) e nasceu para de- uma sistematizaçl'O resumida daquele sistema social
signar a experiência, J)olítico-econÕJóico-soeial da Iugos- que acreditain<?S ser a ,autogestl'o. Desejamos ressal-
lávia de Tito, em ruptura ao stalínismo.! tar que a 'pesquisa realizada para a execução destetraba-
Se não confessadamente, sabemos que o sistema vi- lho é exclusivamente . bibliográfica. Como qualquer tra-
gente atualmente na Iugoslávia está embasado de alguma balho de síntese nl'o. baseado em dados primários" acre-
maneira em certos aspectos do corpo teôrico proposto ditamo-lo de utilidade qu~que' exclusivamente para
por Pierre-JosephProudhon, teoria esta que acabou sen- aqueles que estão tomando um primeiro contato <tom o
do também nomeada autogestiQllãria. assunto.
A proposta de Proudhon surge, no século passado.
em meio a um movimento' libertãrio - queadvqgava a
favor da nová classe domínadasurgídacom o advento 2. .TEORIA: PROUDHON
da sociedade capitalista - juntamentê'com outras su-
gestões semelhantes. Dentre os autores de-JÍlis propostas
2.1 Pressupostos filosóficos
- denominados visionários - encontramos: Robert
Owen, Charles Fourrier e Louis Blanc, considerados his-
O corpo teórico apresentado por Proudhon está calcado
toricamente mais significativos.
numa série de príncípíoafílosôfícos qúe acreditamos
O propósito deste trabalho é extrair algumas con-
convenientes expor aqui, como já explicitamos anterior-
clusões a respeito de eventuais díferenças rexistentes
entre teoria e prátícas sociais autogestionãrias. mente.
Enquanto corpo te6rico, escolhemos os estudos "A )iberdade é um direito absoluto, porque é para
de Proudhon, em função do sentido globalizante da o homem, como a impenetrabilidade da matéria, uma
sístematízação de' seus escritos. Para os casos prâtí- condiç,o sine qua non de exístêncía, A igualdade é um
cos, selecionamos as realidades autogestionárias vi- direito absoluto, porque sem igualdade não hã sociedade
vidas pela Espanha no período 1936-39 e pela Iugos- (a natureza está de acordo com a íustíça e, por em mes-
lãvia a partir da 11Guerra Mundial. . . ma nos empurra para a igualdade):'2 "A segurança pés-
39
Autogelt6o
Decorre daí a não-aceitação por Próudhon das teo- balho como fator essencial da produção, vê que o tra,
rias comunitárias em voga em sua época enquanto subs- balho manual na sociedade capitalista é rebaixado e
titutiva da sociedade capitalista. Para ele, tais teorias mesmo considerado como uma vergonha, uma coisa vil.
não, resolviam os problemas da democracia burguesa, Entretanto, percebe que é o verdadeiro criador da rique-
pois, a seu ver, a comunidade, pretendendo suprimira za, à medida quedá valor aos objetos. Considera, portan-
desigualdade social pela uniformidade comunitária, to, tarefa da revolução restituir ao trabalho sua dignida-
exigiria a submissão das vontades e restauraria a tirania de e ressaltar seus tnéritoS~38
política.29 Como veremos adiante, à tradição de uni- Percebemos que Proudhon conceitua o trabalho
ficação nacional, como instrumento de destruição de como unidade de valor, já que considera que "é o tra-
privilégios. Proudhon defende o federalismo como ins- balho, e só o jrabalho, que produz todos os elementos
trumento de igualdade e líberdade.so da riqueza e que os determina até suas últimas molécu-
Proudhon reforça este posicionamento através do 'las, segundo uma lei de proporcionalidade variável,
prisma econômico. Ele entendia que o poder dos mas certa".39 E no relacionamento das duas questões-
proprietários, sendo muító grande, permitia-lhes colocar trabalho e valor do trabalho -conlui que o trabalhador
a seu Serviço o Estado, para melhor atender seus interes- deve receber o equivalente àquilo que dá através de seu
ses. Entendia que a aliança entre os capitalistas e o Es- trabalho, rejeitando a hipótese de igualdade 'de salários.
tado se fazia em um sentido de apropriação política Tal questão remete-o a outra necessária caracerística da
da sociedade corno um todo. Mas lembra: o poder do revolução: a educação,
Estado não vem dele mesmo. A esperança de que uma Partindo do princípio de que a igualdade é a lei de
decisão governamental possa levar à reforma social é, toda a natureza, o pensador supõe que o homem, em
portanto, enganosa. O poder do Estado está baseado na essência, é igual ao homem, e que, se na prática existem
totalidade da sociedade, à medida que ele se toma o de- aqueles que ficam para trás, é porque eles não quiseram
positárío da força coletiva. ou não souberam tirar partido de seus meios. 40 Acredi-
Podemos perceber que a crítica de Proudhon ao ta que uma educação adequada irá reduzir a um mínimo
Estado é uma crítica radical, que faz aparecer uma anti- irredutível as diferenças' individuais e, conseqüentemen-
nomia insuperável entre a espontaneidade da vida social, te, as condições potenci~ e individuais de trabalho.
a liberdade e a centralização pclítíca.u Sua insistência Consciente das dificuldades pedagógicas, Proudhon
(para se chegar à autogestão) está na devolução, à socie- insiste na importância da educação para a instituição
dade, do poder que esta atribuiu ao Estado, ou seja, na do sistema autogestíonário, Critica a instrução popular
desalienação da sociedade através da reapropriaçãode sob o regime capitalista, à medida que percebe - talvez
seu poder alíenado.ss Donde se conclui que o pensador numa antecípação bourdiana - que "milhares de jovens
só encontra a possibilidade de uma sociedade autogerir- sem fortuna, mesmo qUe houvessem seguido cursos,
sé com a supressão do Estado.33 não encontrariam ocupação; que, no estado atual da socie-
Proudhon conclui, em relação ao político como um dade, a instrução da juventude, salvo uma elite de privi-
todo: "O político é, em relação ao social, o que o capi- legiados, é um sonho dajuventude".41
tal é em relação ao trabalho, ou seja, urna alienação da Conclui, com respeito a esta questão que a' educação
força coletiva.34 adequada apresenta-se, portanto, como um meio para
, Toma-se então aparente o caráter anãrquico da críti- chegar a uma igualdade tendencialmente perfeita, basea-
ca política de Proudhon: "Como o homem procura a da em um sistema simples de troca recíproca, onde o tra-
justiça na igualdade, a sociedade procura a ordem na balho é o único padrão de valor. 42
anarquia. Anarquia, ausência de senhor, de soberano, tal
é a forma de governo da qual nós nos aproximamos Outro ponto abordado por Proudhon, no que tange
à revolução, diz respeito ao direcionamento a ser dado
todos os dias, e que o hábito inveterado de tomar o
ao excedente proveniente 'da economia individual. Se
homem· por regra e sua vontade por lei nos faz ver como
desordem a expressão do caos.?» Enquanto anarquís- antes da revolução a propriedade era considerada um
roubo, visto ser instrumento de dominação e submissão,
ta,Proudhon concebe o Estado como obra da própria
sociedade que se aliena; ele (o Estado)na:o instaura.a a propriedade adquirida (pelo camponês e pelo artesão),
ordem, mas ao contrãrio, através de seus controles opres- através de economias baseadas no trabalho individual na
sivos,impõem obstáculos à espontaneidade social, íntro-. sociedade autogestionária, representava garantia da li-
duzindo a perturbação na atividade social. 36 berdade e dignidade humanas. O inquestionado culto à
família leva Proudhon a acrescentar, no rol de "direitos
à liberdade e dignidade", o direito da herança, sem
deixar claro como, apesar desta instituição, a igual-
2.4 Arevotuçõo, dade se manteria.
Proudhon áescreve as características que considera Uma última questão é levantada por Proudhon na
essenciais numa revolução para que ela leve uma socie- tentativa de garantir o êxito da revolução, Reconhece
dade a um regime de socialismo autogestionário. ele que a simples união dos trabalhadores não constitui
A primeira delas, já enfatizada por nós, diz respeito uma garantia suficiente de sua vontade revolucionãria,jã
à importância do campo econômico enquanto fulcro que eles poderiam se deixar dominar pelos mitos conser-
da revolução: a ínstauração da revolução deve-se voltar vadores e, ainda mais, que poderiam cair sob o domínio
para o ataque às contradições. econômicas como forma de um poder forte que se apresentasse a eles demagogica-
de se atingir a ordem e ajustíça.» mente. Percebe que a união dos trabalhadores deve se
Outra característica fundamentá-se no valor que 'converter, imediatamente, em prática econômica. Os
, Proudhon atribuí ao trabalho. Ele, que consider.a o tra- operários devem, portanto, antes de mais nada, separar-
42
O antagoJiismo existente em tais objetivos flC'" no
que o adãrl.nistta.'~ um Eàtàdo diluído na socie4ade, da
entanto, ".suavizado'" se considerarmos que poraproxi-
qual nlo se pode apartar. 69 , '
. madanlente cinco séculos' a hist6ria iugo~va tem como
, Uma, característica da obra de Proudhon é a profun- unidade econômica fundamental a zadruga: pequenas
dÚlade do ,nível de,especificidadecom cpe trata-cada um comunidades (em média contava ,çom no mínimo 10
dos t6picos de suas constatações e propostas. Este fatcr e no, máximo, 80 membros) constituídas por uma ou vá.
nos leva a relativizar, dadas as experiências levadas a rias Iam:í1ias consangüíneas ou com relações de parentes-
cabo posteriormente, à sua existência e talvez ao nosso co; possuindo em comum os meios de produÇIO, consu-
cetícísmo com relação a certos aspectos da organizaÇlo mindo e regulando em conjunto a propriedade eavída
da sociedade', 'em que vivemos, algumas das propostas da' comunidade,11 fato ,que "imprime ao espín~o
deste pensador. , ' comunitlrio cooperativo iugoslavo uma certa naturali-
Nó entanto, como 'já explicitamos, escolhemos o
dade". ' '
corpo teórico por ele formulado em fuliÇlo do. sentido Como constata Venosa, "as formas de solidariedade
~obalizante de sua sistematizaçlo. Nlb se tratará aqui de e os tipos de associações que se traduziam na comunida-
criticar ou louvar seu trabalho e sim de, estudando dois de familiar por comportamentos coletivistas e pela ;guda
casos práticos de implementaçlo da autogestio, verificar mútua podem ainda hoje ser identificados, tanto na vida
em' que medida teoria e prática se completam ou se ex- familiar quanto na organtzaçl'o da comunidade laboral.
cluem. '~ Mesmo sendo difícil estabelecer uma causalidade entre
as práticas tradicionais e os modelos organizacionais
modernos, podemos ressaltar que tanto as primeiru
3. IUGOSLÁVIA quanto os últimos se articulam em 'tomo de matrizes
de .significado, nas quais os valores associados ao coleti-
vismo estio presentes, embora o contexto sôcío-ecónõ-
3.1 História
mico seja distinto",'la
O que desejamos ressaltar, neste momento, é o fato,
Uma rápida passada de olhos sobre a história iugosla- de que oantagonisrilo entre. os objetivos de descentralí-
va ajudar-nos-á, sem dúvida, a melhor entendermos o ~àçloe industrialiiaçlo passa a ser visto como o antago-
sistema autogestionário que caracteriza, atualmente, nismo entre. uma situaçlo de continuidade de uma des-
esta nação. Constituída a partir da unificaçlo de uma centralização ,secularmente experimentad.' e a introdu-
série de repúblicas independentes no final da 11Guerra çl~ de uma rápida industrializaçlo, e que, precisamen-
Mundial, teve como um dos principais impu1sospara te por esta razio, mostra-se, muito menos conturbado
a sua formaçlo a luta pela libertaÇlo nacional ocorrida
e "mui~d mais viâvel" do que se imaginaria a priori
durante a guerra; . . Com o desligamento entre URSS e Iugoslávía, em
O país, tendo 'como berço adevastaçlo da guerra, 1948,0 Partido recebe' o nome de Liga dos Comunis-
contava, no início de sua vida, com uma pobre base tec- tas da Iugoslávia (LCY)e decide, em 1950, pela introdu-
no16gica e econômica. Todas as repüblícás que o com" çlo do sistema autogestionário. A comuna é então ele.
punham tinham-se dedicado, até então, quase exclusiva- vada à situação clt "comunidade básica sócío-pclítíca",
mente ,à agricul~ra e à pecuária. , , fato acompanhado por uma série de modificações signí-
Existente desde 1919, o Parti dó Comunista Iugos- ficativasque caracterizam mais claramente a tentativa'
lavo (CPY) seguiu os modelos.sugeridos pela URSS atéo ,de desce"tralizaçio. Uma série de responsabilidade até
final dos anos 40; quando ocorre o rompimento entre os entloem poder da federaçllo ou da república passa, pau-
dois países. latinamente, às mlOS das comunas. '
A partir de então, o movimento econômico encami-' A descentralizaçio e ,a industrialização crescentes
nha-se no seàtídode umadescentraliiaçlo do país, mo- desembocam na atual estrutura econômico-política
delo expandido posterior e parcialmente para a estratu- iugoslava. Passamos, neste momento, a descrevê-la. '
ra política. Os antagonismos e incompatibilidadeaque
caracterizaram os objetivos político-econOmicos 4a na-
çio explicam as constantes mudanças políticas oc'om- 3.2 Estrutura econbmico-politica
das nestes últimos 30 anos. Dentre tais antagonismos, Segundo Hunnius,73 são três os princípios que funda-
podemos citar: mentam o organismo econômico na Iugoslávia:
• a tentativa de fazer o país passar de um estágio • autogerência das empresas pelos trabalhadores;
econômico pré-industrial para um industfial, simulta-' • planejaníênto social, que consiste de uma complexa
neamente ao favorecimento de valores de uma socie- interligaçlo entre os planos empresariais, planos das co-
dade pós-industrial; , munas e planos indicados pelos órglos da federaçl'o e da .
'. política simultânea de industrialização edescentrali-
repáblica;
zação; , • mecanísmode mercádo.74 ,
• tentativa de unir nações hostis e grupos minoritá-
rios com uma constante mudança no sistema político. 70 Aprofundar-nos-emos: nOS dois primeiros tôpícos.:
Podemos imaginar que a realizaçlo de objetivos apa- uma vez que, representam maior grau de, 9iferenciaçio
em relaçllo ao sistema capitalista em que vivemos. Acre-
rentemente de natureza incompatível só seria possível
em meio a constantes alterações no corpo s(>cio-político-' ditamos, nó entanto, interessante lembrar que a transfe-
rêl'lcia das funções ~ recursos do estado e das instituições
econômico.
43
Âutogeml'o
sôcío-políticas para as associações autônomas tem seu das pelos traballiadores, por meio de acordos de autoges-
ápice em 1965, levando à coexistência - pressuposta- tão e pactos sociais, e as decisões compulsórias do Es-
mente harmônica - do uso do mercado para alocar re- tado devem ser tomadas somente quando necessárias
cursos no nível micro concomitantemente ao uso de pla- para garantir 'a autogestão, em conformidade com as re-
nejamento social ao nível macroeconômico. 75 gras estabelecidas pelas demais assembléias constitucio-
nais. Assim, o planejamento não deve ser uma lei esta-
tal ou documento mandatário do Estado, mas simples-
3.2.1 O planejamento social mente' o resultado de um conjunto de acordos de autoge-
rência e de pactos sociais.
O planejamento centralizado compulsório, nos moldes • O planejamento como um prognóstico: o planeja-
do admitido pela URSS, foi adotado pela Iugoslávia até mento baseia-se na tese de que a intervenção estatal de-
a introdução do sistema autogestíonârio tem 1950. O , ve reduzir-se ao propósito de consolidar o desenvolvi-
sistema passou, então, por um período de adaptação, mento do sistema de autogerência da sociedade. O sis-
evoluindo de sua introdução até 1970 na direção de um ' tema de planejamento não se deve subordinar ao auto-
planejamento indicativo. Na década de 70, o processo de interesse de órgãos governamentais ou ser dominado pe-
planejamento foi aperfeiçoado, no sentido de se enfati- lo aparato estatal. A intervenção do Estado deve variar
zar e ampliar as dímenões da autogestlO por meio do em intensidade, de acordo com as condições de desenvol-
hoje denominado Sistema de Planejamento Social. 76 vimento regional, sempre no sentido de guiar para a
adoção da autogestão. De forma alguma deve restringir
Reproduzimos aqui o texto de Paulo Roberto Motta
em seu trabalho.Autogestão: a experiência empresarial o direito inalienável dos trabalhadores" de gerenciar a
iugoslava, que aborda o tema do planejamento social renda, os meios e os resultados do trabalho. O planeja-
mento, portanto, deve-se constituir não em uma ação do
iugoslavo com a profundidade e a propriedade a nós con-
venientes. Estado, mas, primordialmente, num prognóstico deriva-
, I do de análises de tendências espontâneas e estabelecidas
Segundo Edvard Kardejl,"? "as características es- por autogerêncía e pactos sociais, e por políticas econô-
truturais do sistema de planejamento social e autogestlo micas desenvolvidas a nível descentralizado das unidades
810 as seguintes: federadas. O planejamento deve apenas harmonizar e
guiar essas tendências espontaneas.
• Planejamento descentralizlldo:o planejamento não . .0 planejamento como uma funçf/o de relações mú-
constitui um fim em si próprio, mas um instrumento de tuas: o sistemà de planejamento deve ser estabelecido
relações democráticas e autogerêncía; somente mediante no .sentido de eliminar a concepção, por vezes ressalta-
um sistema de relações de dependência mútua e respon-, da, de' que sua eficácia depende da. coerção do Estado,
sabilidade entre trabalhadores, pode-se gerenciar e con- agindo na defesa de interesses sociaís, ou da tecnocra-
trolar os meios de produção, no seatído de se atingir' as cia, em funçlo dos conhecimentos especializados de que
necessidades econõmícas e sociais d~ país; O planejamen- dispõe.,A eficiência do planejamento, no entanto, depen-
to deve possuir alguns aspectos de centralizaçio, mas de primordialínente da institucionalização de um sistema
sem um alto grau de descentralizaçlo, pois corre o risco 'de relações mútuas, obrigações e responsabilidades
de se tomar uni instrumento nas mãos de um aparato recíprocas estabelecidas em todos os níveis de organiza-
estatal ou de uma tecnocracia, e transformar-se, em pou- ção social, ou seja, naS organizações de trabalho, sociais,
co tempo, num monopólio, de centros alienados de po- comunitárias, políticas etc. . . bem como em todos os
der econômico e social. níveis políticos - federal, provincial (da república) e
• Planejamento opcional e indicativo.' o planejamento local. O planejamento, assim, deve refletir toda a inte-
normativo e compulsório para toda a sociedade é reíeí-. r8Çfo e, harmonizaçlo de acordos de autogerência e
tadosegundo a premissa de que, a imposição de obriga- pactos sociais realizados em todos os níveis políticos e
ções, de -címa para baixo, significaria amonopolízàção sociais.
do capital social e destruiria rapidamente o sistema de • Planejamento como consolidaçt1o de autoge,~ncia:
autogestão. Se o planejamento fosse produzido de forma o planejamento, na maioria das vezes, tende a ser visto
burocrática ou tecnocrática, monopolizado por um cen- somente como um instrumento de política econômica de
tro estatal, mesmo que elaborado pelos mais eminentes desenvolvimento. Ressalta-se que a dimensão econômica
especialistas, não deixaria de sex:um consmao subjeti- do planejamento e sua concretização é entendida como o
.vista e falível. Retiraria não só a iniciativa e a criativida- alcance dos objetivos e metas econômicas. Esse enfoque
de dos trabalhadores de .encontrar novas soluções e cor- do planejamento é considerado capaz de estimular a su-
rigir seus próprios erros, mas também poderia .causar bordinação dos interesses políticos dos trabalhadores aos
prejuízos econômicos, pois os erros se multiplicariam interesses econõmícos do Estado, e facilitar a 'restauração
e perpetuariam, não sendo facilmente detectáveis e repa- do monopólio estatal sobre o capital social. O planeja-
rados, pela ínexístêncía de mecanismos' simples 'de cor- mento nao pode retirar dos trabalhadores o direito de
reção. decidir sobre a utílízação dos meios de produção e resul-
Por outro lado, tornar-se-ia inviável a autogerência,. tados do trabalho, mas sim ~judar a consolidar esse di-
retomando os trabalhadores a simples assalariados do reito. O trabalhador é um fator criativo e independente
Estado. A esse respeito, o sistema de planejamento so- no sistema de planejamento.
cial, atualmente em vigor, define dois requisitos: a) o
planejamento deve expressar toda a gama de relações Para se entender o sistema empresarial iugoslavo é
políticas, sociais e econômicas, baseada na autogerência; necessário ter-se em mente que seu. sistema de planeja-
b) as obrigações do planejamento devem ser estabeleci- mento social é baseado em quatro princípios:
.---_.-~ ---------~----~-~--
'de trabalho". As relaçaes entre estas unidac1es do reali- . Uma. pritica emp.esarial característica do sistema
zadas à base de contratos, e eventuais quest&s alo resol- impllntado na Iugosl!Yia refere-se l distribuiçlo dos lu-
vidas e arbitradas pelo conselho dos trabalhadores. Nas cros, ou seja,' a remuner8Ç1o daque~s' participantes no
grandes, unidades de trabalho 6 eleito um conselho que, processo produtivo no interior de umaempresa..
por sua vez; indica uni Frente após proclamar uma COOl- Na prAtica, o trab8lhador participa dos. Sanhos de
petiçlo aberta para este posto. A autoridade do Frente sua unidade de trabalho e de sua empresa. O salmo bá-
6 ~ralmente limitada à implantaçlO de deCis&s tomadas sico 6 determinado pc. Uma avaBaçlo de. desempenho,
pelas instlnciaa· autogerenciadas. Ble nlo pode puilir um
,uma vez que ,o prinçípio b6sico da remuneraçlo .é: "pa-
trabalhador ou registrar queixas. O veredicto final num gamentos de acordo com o trabalho executado". Entre-
ceso de' discipUna serâ dado pelo c<mit6 de discipUna tlllto, o problema crucial - estabelecer o valor do tra-
da unidade de trabalho. A resp<lllsabiHdade b6sica do balho - nlo pode ser ainda resolvído na Iugoslâvía: os
Frente, além da implementaçlo de decis&s jâ tomadas, , ganhos referentes a uma mesma tarefa diferem de forma
consiste em treinamento e coordenaçlo (COOl outras subs.tancial.Segundo TinberFn, autor iugoslavo, tais di-
unidades econOmicas, bem como COOl o conselho central . ferenças sIo. freqüentemente maiores do que 50%, e
ci.ostrabalhadores). '
em alguns casos maior do que l~.Estas disparidades
Definidas u funçOes e o. funcionamento dos princi-
devem-se basicamente ao fato de ser a distribuiçlo regi-
pais 6rglos autogestioo.mos intemos às empresas, va- da do por leisgovemamentais, mas pelo estatuto de
mos rapidamente descrever as funçaes legislativas e ad- cada unidade empresarial. IM .
ministrativas cpe compõem a.empreSa.
Funções e 6rglos legislativos: Referenda :......
fus&s, .Se, porum lado, as empresas são Hvres para determi-
realocaçlo da planta, desentendimentos entre unidades narem os' salmos vigentesinternarnent(l, temos, por QU-
de trabalho e o conselho central dos trabalhadores estio tro, a coo.stataçlo de que o governo determina.o limite
entre as deeísões tomadas atrav6s de referendum, qUe mínirilo, .nos moldes do salmo mínimo. Nlo hâ limite
é uma das .chaves da democracia direta nas ·empresas. máximo legal, porém existemrec.omendaçOes oficiais
Zbors - elege e convoca o corpo decísõrío e estabelece sobre. a eqüidade nadistribuiç!o de renda. Na verdade,
emendas no estatuto da empresa. 810 consultados em o crescimento ilimitado de salmos é controlado índíreta-
todas as decíões-chsve: política,modernizaçlo e sa1ârios. mente por ~s fatores; ..
Unidades (econOmicas) de trabalho - unidades de traba-
lho e seu conselho, conselho central de trabalhadores e • açlo das organizaç08s político-sociais que, por ensi-
junta administrativajâ foram discutidos anteriormente. namento.e in~rferênàa ideol6gica nos conselhos de tra-
Funções e órglos administrativos: o .corpo adminis- balhadores em cada emp~sa, conclama continuamente l
trativo de uma empresa. é formado pelo diretor da em~ eqüidade'e'" reduçlo de dispersão entre-os níveis sala-
presa, diretor de plantas e departamentos, e os Frentes riais mínimos e m6ximos; ~
das unidades de trabalho. Diretor :....o papel do diretor • a necessidade da empresa de acumular' não s6 furi-
modificou-se significativamente desde o seu estabeleci- dos para expando e desenvolvimento como, principal-
mento. Nó período anterior a 1950, o diretor funcioo.ava mente, fundos de reserva, o que; no sistema de salmo
como um aFnte do Estado. Ao mesmo tempo que tinha variável como o iugoslavo, torna-se tarefa primordial para
um poder completo na empresa, suas respoo.sabiHdades garantira regut.ndacle.da renda, em épocas de recessão,
eram limitadas, pois todas as decisões a respeito da .em! .cortes ou declínios tempormos;
presa eram tomadas em .Belgrado. A introduçlo da auto- • a existencia de um mercado de trabalho, ativo e
gestlo toma seu papel mais ambí$Uo, à medida que lhe acentuadamente livre, que concorre para flxaçlo de ní-
exige concílíar as demandas de "sua" empresa e da co- veis salariais, por profisslo e demais qualificaÇ08s, crian-
munidade em que se situa a empresa. (As pressões advin- do, assim, uma grande estrutura de referência em que
das da ambigüidade de seu' papel ~m diminuído 0811- discrepânciaS salariais sIo facilmente verificadas;s5
.mero de pessoas aptas a ocupar tal cargo.) Em 19()9,
fc:j permitido às empresas definirem o. papel de' ~us Quanto à 'participaçlo dos órgãos autogestíonáríos .
corpos executivos, o que levou grande parte delas a for- na receita da empresa, pode-se dizer, de forma geral, que
. talecer o poder dos corpos administrativ.os, inclusive O' a proporçlo dereceitadispoo.ível às entidades autogerí-
, de diretor. Colegiado - é composto pela cópula ,admiilis- das cresceu de 20% em 1960'para60% em 1968, tendo
trativa.-(incluindo os gerentes e presidido pelo diretor) e desde entro decaído lentamerite. Por outro lado, do to-
sua funçlo é auxiliar o diretor na realizàçlo das políti- tal. da receita de umá empresa; 70% slo destinados aos
cas da empresa. ~. um .6rglo sem poder decisório, com seus trabalhadQres e 30% slodestinados ã. comunidade
funções de estafe. Colegiado Amplo - inclui os gerentes, onde situa-se a organizaç.lo.86
expertos e a cúpula administrativa. Discute ·llSSuntos a Vejamos', agora, a forma pela qual a empresa autoge-
ele propostos pelo Colegiado. Politikal Aktive - da mes- . -rida 'insere-se na estrutura mais ampla: a estrutura do
ma forma que a dos dois anteriores, a coo.stituiçlo deste sistema empresariaL . .
corpo não é realizada por meio de voto. ~ cOnipOsta pe- O sistema empresarial iugoslavo tem como base a
la cópula administrativa e por representantes de todas as unídade produtiva. denominada Organ~açlo Bâsíca do
ínstítuíçõee governamentais. Grupos Informals - incluem Trabalho Associado (OBTA) que, numa analogia apro-'
. diverSos grupos estabelecidos pelos sindicatos locais do xímada, constitui a terminologia para a empresa. Cabe
ramo, pela Brigada Jovem e pelos Masters (composto acadaOBTA:
por trabalhadores especializados que executam a manu-
tençlo das máquinas), que, se~doAdizes, 82 formam • gerenciar todos os meios de produção de que dia-
um grupo muito coeso e influenteS3 pae;
46
• tomar todas as decisaes rellCimadas ao pJanejJlMn- Quadro 1·
. COJnpQSiçlo social dos Conselhos de
to organizacional para a aquisiçlo da receita empresarial;
Trabalhadores (%)
• fixar os critérios de distribuiçlo de ,renda iritema.
1960 1965 1970
Em contrapartida, cQIDojá vimos, tem ~sponsabili-
dade frente à sociedade, pois éda sua receita queadvêm Operários 76,2 73,8 67,6
as contribuições para a manutenção das outras organiza- O· sem especialização 7,2 8,5 7,7
ções sociais e políticas do país, como as comunidades de média especializaç4'o 13,4 10.8 9.0
interesse (escolas, hospitais etc.), às organizações políti- especializados 40.5 37,8 33.7
mu!to especializados 15.1 16.7 17.2
cas e os órgãos estatais.
As OBTA 's do mesmo ramo podem organizar-se
23.8 26.2 32,4
associativamente, formando a denominada Organização Administraçlo/formaçlo
O prin1ária 7.6 7,3 6.4
do Trabalho(OT) que, por sua vez, podem organizat~se 15.9
secundária 12,0 13.0
associativamentea OT's de ramos correlatos, formando 4.2 5,9 10.1
universitária
as Organizações Comp6sitas (OC). As Organizações de
T.rabalho e as Organizações Comp~ são formas asso- Fonte: Jovanov, NecL LeI Rapports entre la ~ve comme
ciativase cooperativas que se reúnem livremente para conflit socilll et l'autOgestion·comme systlme social. Int'l
união de interesse e cooperação mútua Existe, ainda, conference on self-management and perticipatiqn, Dubrovinik,
no sistema iugoslavo, uma associação mais ampla, deno- 1972. 1, p: 67.Apud venose, RobeJto. l:4.utogestiion; .. op.
minada Ramo Econômico, constituído por associações cito .
nacionais de grupos empresariais (normalmente OC's)
Quadro-2,
que exercem a mesma atividade econõmíca no país.87 Influêncía dos diferentesgrupós sobre o Conselho
Apresentamos, a seguir, modelos próprios para a
de Trabalhado~es' .
representaçfo do esquema organizacional de uma Orga-
nizaçlO Básica de Trabalho Associado, de uma Organi-
Direçl'o . 4,7
zaçlo de Trabalho e de uma OrganizaçlO Comp6sita Gerentes. 4,1 .
(figura 1). Chefes das unidades .de trabalho 3,4
Acreditamos também importante, para a comple- ·Supervislo 2,7
mentaçllo da ap.rcsentaçlo relativa ao funcionamento' Empregados administrativos 2,7
<>peráÍiosmuito quaUficados 2,5
Operários quaUficados . 2,2
Figura 1 Operúio. especializados 1,6
Operários nlo -quaUficados 1,5
Esquema organizacional
Fonte: Tannembaum, Arnold &. Zupànov, Josip. La' Di8~
Esquema organizacional (admlnlstr.) trlbuitio,. dll co"~~ dans quelques organlzationsinduBÍrlelles
típico de uma OBTA típico de uma OT
yugosltnlf. Sociologie du travail. Paris. Ed. du Sevil, 1967. 1, p.
11. Apud. Venosa, Roberto. L 'Autogestion ••• op. cito
47
AutogemJ'o
tas em a1gwnas das decisões tomadas nas organiZaç«ies. 3.2.3 Sistema político
ObradQvic9$· relata, ainda, que as decisões relativas à
cooperação entre empresas são tomadas com a participa- Como já vimos, o sistema político iugoslavo seguiu os
ção ativa de especialistas e de membros de Liga, utili- moldes adotados na URSS no pós-guerra. Com o rompi'
zando motivos e objetivOs políticos. Tal constatação nos mento, a estrutura político-administrativa,· seguindo a
leva a indagar a respeito do sistema político vigente na estrutura econômica, passa a descentralizar-se. A eleva-
Iugoslávia. ção da Comuna à comunidade sócio-política básica94 foi
acompanhada por uma série de inovações significativas:
Quadro 3 .
Interesse manifestado em participar segundo a natureza
das decisões • foram garantidas eleições de representantes para a
Assembléia Federal;
6
• as agências administratiyas locais passaram a ter
[ lo< o
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;1 ~ t§..
lo< •• '0
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'2 lU
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respoosabilidade somente em relação às.suas assembléias
locais e nso mais em relaçâc âs agências governamentais
~IU "" 0;1 I:I.Ilo u2 ~8. dasrepüblíeas e da federação;
• foi aumentada a possibilidade de maior Influência
Problemas conjunturais 47,5 12,6 21,3 8,5 10,1 nos níveis da comuna, república e federação, por parte
Distribuiçlo de fundos 27,8 18,2 37,7 6,7 9,6 das empresas.
Distribuiçlo de receitas 20,2 16,8 48,7 6,6 7,7 A seguir apresentamos a estrutura política sem
Normas e regulamentos 29,7 19,6 32,8 7,4 10,5 funciooamento na Iugoslávia, que, segundo Hanníus,"
Eleições 27,4 21,4 ~4,O 5,4 11,8
Diretivas de rel, Industriais
contínua a ~sar por significativas alterações,
37,4 18,2 25,7 7,0 11,7
Problemas s6cio-políticos 38,2 14,9 26,1 1,8. 13,0
Estratégia econômica 41,8 12,6 24,9 7,5 13,2 A Assembléia Federal tem, atualmente, cinco câ-
Vendas, mer~do, preço 52,2 13,4 17,2 6,5 10,7 maras, ttes das quais representam interesses das organiza-
Investimentos . 34,7 18,1 28,6 6,7 11,9 ções autogerenciadas de trabalhadores na área de econo-
Organizaçllo do trabalho 28,4 18,8 34,3 5,6 12;9 mia, educação e. cultura,e saúde e bem-estar (são deno-
Di~"uiçlo das funções 27,2 18,4 32,2 9,4 12,7 minadas Câmaras de Comunídades de Trabalho). Temos,
licenciados 21,9 15,6 40,7 9,1 12,4 ainda, a Cãmara S6cio-política e a Câmara das Naciona-
Plano de produçlo 29,0 13,9 37,9 6,7 12,5 lidades.' Todo ato parIainentar deve ser aprovado por
Horários de trabalho 26.,3 20,3 36,3 4,7 12,4
duas câmaras: a das Nacionalidades, em conjunto com
Problemas imediatos.
no trabalho uma das outras quatro. Os representantes dás Câmaras
14,8 16,1 50,9 6,7 11,5
Disciplina 15,8 15,3 48,8 9,0 11,1" dê Comunídades de Trabalho silo eleitos entre membros
tanto das empreSasautogerenciadas, como das assem-
Fonte: Mozina, Stane. La participation des membres eles org8nes bléia comunais (quando antes, participavam somente
d'autogestion à la. Jirlse de décisions.Revue de 1'B1t Parir, elementos das assembléias comunais).Ôs representantes
3 (2): 126, 1972. Apud Venosa, Roberto. L'Autogestion ••• op. da CAmara S6cio-política silo eleitos diretamente pelos
cit.
cidadl'os nas comunas, e os representantes da Câmara
Quadro 4 das' Naciooalidades sloeleitas em assembléias das repú-
Intensidade de influêilcias.4esejadas e eXistentes' blica e províncias, paritariamente, assegurando partici-
,paçlo igual para as várias "nacionalidades" e minorias.
O processo de rotação de representantes eleitos
visa eliminar o político profissional (n!o há possibilida-
Intensidade
de de reeleiçlo para um mesmo cargo). No entanto, o
que acontece é que se trocam os cargos, mas as mesmas
pessoas tém permanecido na estrutura política central.
Cabe .:mnda acrescentar que as assembléias .não são
consideradas somente corpos .legislativos,Irias,também,
enquanto instituiçOes territoriais autogestionárias, têm a
funçlo de coordenai e in'tegrar os mecanismos de em-
preS&'l, ínstítuíções e organízaçõea autogerencíadas de
seu território. I
B - .conselho de trabllhadores E '- chefes das unidades cconOnucas Cdnstata-se, inclusive, ao menos a nível local, que
C - conselho de gestlo F - supcrvislo . se espera dos elementos da Uga uma ativa partícípação
Fon,~: 'lanncmbaum, Amnld. Thc dblribuUon of,\.'Ontrof in ':ormill or;anizatiom. C~"trol nainstituiçOes autogestionárias. Na realidade, ainfluên-
in OIpIl;z.t;ons. N •••••. Vurk. MI.'(iraw·HiIt. 1968. p. 4S·~4. Apud"'lcnos;l.
~stion ...•• up. dto -.
Roberto.l'Auu,.:.
cia dos membros da Liganas einpresasvaria.de caso para,
caso; a tendência, no entanto, vista como problemática
Autogm4'o 49
. __ .,-- .. -~-~--'--
.-._-.~"""""_.,-"-,,,-,,,-,-,-, .. .,.; ..
Quadro 6
Preços e salúios -;-índices (1969 =.100)
.~
1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 19.72 1973.
~'dos produtos
•• ícolas 59 84 98 '95 91 100 115 145. 1I~0
..,industriais 74 85 95 97 97 . 100 109 1Z6 140 158,
evoluçlo custo materiais 69 72 84 94 96 100 112 132 142 165
evoluçlo custo bens de capital 87 93 97' 99 99 .100 105 n8 126 138
evoluçlo custo bens consumo 73 85 '.95 9& 96 100 107 121 136 154
, evoluçlo Pfeço unidades exportadu 88 94 97 98 96 100 ';109 114 114
evoluçlo custo unidades impartldas 89 94 95 ' 9f 95 ,100 ' 108 112' 113
de Ser denominado de CO-Fstlo. CO-.Fst1o esta' feita guerra a produçlo nlo sofrel,t interrupÇlO). Os "ários
por tenocratas e Estado,' numa estrutura autoFst1oo6ria erain iguais é obserVaVam ligeira .diferença: antes, um
qUe não possui os qúesitos para-Se classificar como tal aubdiretor 'de ferrovj.u ganhava o correspondente a' 340
( divúlgaçlo .da informaçlo, carÁter espontâneo individual pesetas' mensais, e um. (erroviúio, 143; depois'de ·19 dé
e coletivo, autogestlo do organismo político). Julho dé 19~6 o ,saláriom{n/mo foi de 300 pesetas e o
máximo de' 500. O períbdo de aposeIitadoria ~nava
entre.35 anos de trabalho ou 70 anos de idade compul-
soriamente.
4. ESPANHA Nu cOletividades camponesas, pagava-se salários-fa-
mília e aposenta~orias. FunclaraIQ-se bíbfíotecas a esco-
4.1 História lu, contratar8DloSe médícos e veteiin~os. Houve au-
mentoda área arivel de terra. e houve impulso 1avicul-
Por.mais de uma dééada após a I Gue~ Mundial, a Espa- tura. "'.
nha atravessou um período de extrema instabilidade p0- A coletivizaÇlo nlO se lin1itou hsf'bricas ou peque-
lítica; quando se intercalavam épocas de quase au&encia , .nu aldeiu;' teve ilCance nacional, organizou· congressos
depemo com épocu dedita<lura militar. Embora os e federaçoes. Houve um grande inimigo da coletivizaçlo:'
tem?OS da monarquia estivessem definitivame:lte terml~ . O.Banco, cpe ,estava nu mlos,da burguesia republicana. .
nados, o~ís nlQparecia apto para manutençlo' de Os socialistu e o PPCC espanhóis 1\'0 quiseram obrigar .
uma república democr'tica burguesa: a burguesiaa\ comprar como ouro do Banco as armas.
A proclarnaçlo '.da repl1blica em 1931; o motim prl~. Estu foram adquiridas com o ouro do Estado e forneci-
litar ocorrído nó ano Seguinte; a supresslo, por parte dó . . das pela URSS,que brindou somente seus partídâríos
govemo, deum movimento anarquista em 1933; e a te- .e a burguesia que desejava recuperar as fábricas e· as
presslo, pelo exército, de um forte lI)~nto popular terru: O ouro espanhol faipara à URSS, ónde ainda es-
ocorrido na i\ustrla em 1934 levam 0$. partidos' de es- . tá, e a. coletivizaç'o ficou destruída. Isso l6vou às jorna-
querda espanh6is a ganharem as' e1eiç~spor lI)aioria ' da de maio de 37 em Barcelona, onde o PC e a burgue-
absoluta em 1936, dando início 1 guerra çJ.vil. sia atacaram a centraltelefOniéa em poder da CNT, ha-
. Por todo o país, os trabalhadores e os ca.ntpdne~s vendo milhares· de .mortos e ferid~ A divido' dos tra-
tomaram .aS f'b~cas e 811terras abindooadas por" seus balhadores provocada pela URSS e sua atitude conci-
. proprietârios em virtude da guerra, dando início a um liat6ria coma burguesia espanhoJa levaram a coletivi~'
sistema autogestionârio, que vi~rou até 1939, cp.do zaçlo à morte. 107. ti '
a ditadurafucista tom, o poder.106 . . .
R__ .Â~d.Emprat18 .
clusive a possibilidade de existência de diversos organis- mos, utilízamos fundamentalmente as idéias contidas
no livro Ofiânismo econômico da revoluçllo - a auto-
mos, alguns mais e outros menos revolucionários, uns
mais e outros menos amigos da nova situaça:o. O im- gest6oespanhola, de Diego Abad de Santillân.
. Vejamos, inicialmente, como se organiza interna-
portante é que todos os espanhóis possuem um mínimo
mente· a produçlo advinda de cada estabelecimento
de necessidades a serem satisfeitas e, em holocausto a
que, em seguida, nos levará à organizaçlo ínterinstí-
isto, devemos contribuir por dever e por direito ao pro-
tucional. . .
cesso de produção de bens para satisfazê-las.
O proprietário - "figura estéril na eseonomía" -
Com respeito i metodologia política temos: . é substituído por um conselho (de trabalhadores), que,
"( ... ) Tampouco negaremos, aos que nlo compartilham 'por s~ vez, é nomeado e' representa o pessoal, sendo
de nossas concepções sociais, a liberdade de defender destituível a qualquer momento e modificável sempre
suas idéias e de praticá-las, desde que não sejam agressi- que preciso, se assim se julgar conveniente. O conselho,
vas e que não queiram forçar-nos (e a quem deles dis- enquanto representação do pessoal ligado ao' mesmo
cordar) a ser um dos seus. ( •.. ) Nós nos contentaremos local de trabalho, dá coesão e coordena o trabalho em
com a dísposíção, sempre latente, de impedir qualquer sua esfera: de atividade e ligada às atividades semelhan-
manifestação agressiva de uma facção contra outra que tes de outros estabelecimentos ou grupos produtivos. :e
não queira participar de seus ritos políticos ou religiosos, constituído por operários, empregados e técnicos. Na
e' de manter o aparato produtivo e distributivo em poder disposição e regulamentaç.lo do trabalho do conselho
não intervém nenhuma força estranha aos próprios
dos próprios produtores e distribuidores."
trabalhadores, existindo autonomia completa.
E, finalmente, assim define o resultado que 'a re- Os conselhos relacionam-se. entre -sí por afinidades
volução trará aos seus conterrâneos: funcionais e formam seções de produtores de artigos
"Poderíamos revisar uma por uma todas as categorias da afms, seções estas qaeconstítuem sindicatos de índús-
população e ver como elas nada devem temer da inevitá- tria ou ofício. Estas novas instituições formadas a partir
vel mudança social. Não exístírso cortesãos nem pala- dos conselhos não têm ingerência na estruturação inter-
cianos, tampouco haverá gente nadando em privilégios na dos locais de trabalho, salvo para resolver acerca da
e mordomias, nem' doentes de gota ou' tédio afundados modernízação do-instrumental,-da fusão ou coordenação
no esbanjamento e no vício. Não chega a 100 mil o nú- de fábricas, da supressão' de estabelecimentos improdu-
mero de lares espanhóis cuja situação piorará com a tivos ou pouco rentáveis etc. .
revolução: referimo-nos a estas 100 mil pessoas a quem Os sindicatos industriais são os organismos repre-
consideramos efetivamenté ricas e com base econõmíca a sentativos da produção local num ramo produtivo es-
salvo de qualquer emergência; em troca, para os restantes pecial; não somente podem atender à produção necessá-
23 ou 24 milhões de espanhóis, a revolução será liberta- ria, como esmerar-seem condicionar a produção futura-
dora, e para cerca de 20 milhões será, também, portado- mente necessária, criando escolas de aprendizagem, ins-
ra de um nível de vida superior ao que conheciam no titutos de pesquisa e aperfeiçoamento, laboratórios de
ensaio etc., segundo sua força e a iriiciativa de seus
capitalismo. "
Por outro lado, Maurício Tragtemberg 109 assim ex- membros.
plicita as metas desejáveis para a economia autogestíoná-
ria: "Pensamos mostrar, com realizações parciais, nossa · Os síndícatos coligam-sede acordo com as funções
capacidade de produtores e ao mesmo tempo salvar a básicas da economia, que podem ser' reduzidos ao nú-
economia e eliminar a burguesia com seus intermediários mero de 17. Silo os seguintes os 17 Conselhos de ramo,
parasitários, sua contabilidade melíflua e suas prebendas. com os quais se pretende organizar toda a economía do
E necessário adaptar a organização técnica às necessida- país:
des do momento pensando no futuro", ressaltando o pa-
pel fundamental que a escassez de algumas matérias-pri- • Necessidades fundamentais: Conselho de ramo de .
mas - algodão, petróleo, papel - tev~ nas realizações da . Alímentação, Conselho de ramo de Habítação, Conse-
lho de ramo do Vestuário;
revolução.
Vejamos agora a forma pela qual organizou-se a re- • Matérias-primas:. Conselho de rSInO da Produção
Agrícola, Conselho de' ramo da Produção Pecuária,
volução autogestionária espanhola.
Com uma população de 24 milhões de habitantes, Conselho de ramo de Miner.açlo e Beneficiamento,
o setor industrial absorvia em julho de 193623% da po- Conselho de ramo da Pesca; ,
pulação ativa, a agricultura ocupava 52% e o setor ter- • Conselhos relacíonadores: Conselho de ramo de
ciário (incluindo o doméstico) ocupava 25%. 110 • Transporte, Conselho de ramo das Comunicações;
A organízação da mão-de-obra - .fundamentada em Conselho, da Imprensa e do Livro, Conselho de Crédito
Cornelissem quando afirma que "o núcleo de toda pro- e do Intercâmbio; ,
dução, a célula econômica éo estabelecimento e não o • Indústrias de elaboração: Conselho da Indústria Me-
oficto" - antes organizada em sindicatos de ofício, passa talúrg;.ca, Conselho de ramo da Indústria Química;
a agrupar-se sem sindicatos por setor industrial. e ainda:
No congresso celebrado em fevereiro de 1936, foi . Conselho de ramo da Luz, Força Matrit e Água;
vitoriosa uma resolução que classificava em federações Conselho de Saúde e Higiene; Conselho da cultura ..
de indústria todas as atividades produtorase serviços
públicos da nação.
:epreciso, no entanto, que haja uma vinculação en-
Para definir a estrutura que assúrniram as institui- tre todas as funçOes para formar Um.' conjunto de pro-,
ções autogestionárias espanholas, tarefa qUe ora iDicia- cesso deproduçlo edis~ribuiçIO. Os Conselhos.de ramo
51
. Autogest4(J
L
de uma localidade unem-se, por delegações, ao Conselho nal, e destes ao federal de economia, a estatística será
Local da Economia, o centro para o qual convergem elaborada com todo o rigor, de modo que, se na fábrica
todos os liames da produção, do consumo e das relações " pode-se saber no dia o estado da produção, do pessoal e
de uma localidade com outras. Partindo dos conselhos da produtividade, tal coisa também possa ocorrer no
locais de economia, serão formados os conselhos regioníliS r~etivo sindicato, no conselho do ramo, no conse-
de economia, que, por sua vez, dlo base ao Conselho lho local 00 no conselho federal. A estatística, essencial
Federal de Economia. Cabe ressaltar que esta estrutura para a 'nossa sociedade, terá no' conselho de crédito
não deve eliminar' a possibilidade de uma vinculação e íntereãmbío o seu centro de convergencia e de elabo-
funcional entre os conselhos de' ramo em todo o terri- ração, '
tório revolucionário. 'Haveria, ainda, a possibilidade de uma nova ligação
O Conselho Federal da Economia não éum poder dos produtores por ofício, para a instalaçlo de escolas
político, e sim um regulador econômico, administrativo. próprias a sua especialidade, e para questões de eventual
Recebe suas diretrizes de baixo, deve ajustar-se em sua interesse gremial, da mesma forma como cabem ligações
atuação às resoluções dos congressos regionais e nacio- verticais, nlo só dos conselhos de ramo no ambito regio-
nais; é um quadro de relações e nada mais. Deste con- . nal e nacional, mas também de sindicatos (por exemplo:
selho depende o comércio ínternacional, aS transações os sindicatos de ferroviários, carreteiros, aviadores, tele-
com os outros países, que não serão matéria para pe- grafIStas, empregados do correio etc. podem vincular-se
quenos núcleos 00 para indivíduos, como no capita- entre si, além de fazê-lo por 'meio de seus respectivos
lismo, e sim matéria social, de todos, Até nisso supri- conselhos de ramo), '
me-se a especulaçãe.
Para facilitar a visualiZação do que foi dito, apresen- .
Da mesma forma que no sindicato, nos conselhos de
ramo também se criam escolas de aprendizagelJl, de aper- tamos um diagrama que" acreditamos facilita tal tarefa,
feiçoamento e de pesquisa. O Conselho Local da Econo- onde os conselhos locais de ramo congregam-se, forman-
do, por um lado, os conselhos regionais e federal da eco-
mia, por sua vez, tem a seu cargo institutos superiores de
pesquisa, centros de estudo, de. urbanização etc. ' nomia e, por outro, as federações nacionais dos conse-
lhos de ramo (figura 2).
Os conselhos de ramos, além de estarem organica- . Através de uma crítica aos demais sistemas de or-
.mente vinculados ao Conselho Local da Economia, for- ganizaçlc> de produçlo e di$tribuiÇIO, o autor explici .
marão também conselhos nacionois de ramo equivalen- ta qulO desnecessário se mostrar' a formação de, um
tes às federações nacionais de indústria, com a missão orpnismopolítico: .
de regular, no ãmbito nacional, a produção e tudo o <pie "Se o socialismo - todos 01'" matizes do socialismo,
for relativo a seu funcionamento. desde o revolucionmo, libertúio até o político -'
Do conselho de fábrica ao sindicato, deste ao conse- tivesse convencionado desde o princípio uma propa-
lho de ramo, e conselho de ramo local, destes ao regia- ,ganda tendente à ~ubstituiçlo do regime político e
Figura 2
Esquema da organização econômica
GGJGGJGGG'-'--r---I
.....-----..
GGElGG[~G,~ U 1
lApnda:
gIi~&:"Wude ~
s- SIIIdicaki
R••••• ~deEm~'
econOmico do capitalismo e tivesse exposto claramen- diatamente coletivizar a propriedade agrícola. Criou-se
te os 6rgãos que haveriam de substituir os 6rglos cadu- a Coletividade Camponesa.
A pequena ",propriedade cultivada pelo proprietário
cos do regime imperante, hoje estaríamos em outras con-
ea mlo-de-obra contratada foram substituídas pela
díções, Ao invés disto, uma parcela importante deixou-
se levar pela idéia do Estado, pelo pensamento nefasto grande extensão, trabalhada conforme um plano ge"
ralo O trabalho aumentou em intensidade e quantidade.
de dar a este aparato todo o poder, de conquistar logo
As terras, que até enta:o eram consideradas estéreis fo-
seu alto comando e de decretar a partir dele as novas
tábuas de lei. A outra parcela, a parcela revolucionãria, ram trabalhadas.
Nas indústrias, acoletivizaçlO começou pelo contro-
em luta feroz contra o adversário que tentou e ainda
tenta aniquilá-la, poucas oportunidades teve para pensar le das fábricas. Os operários nomeavam, em cada empre-
sa, comitês que tinham a missão de zelar pela produção
, na parte construtiva da nova sociedade. Toda a sua histó-
ria é a história. de um heroísmo e de uma abnegação sem e vigiar a administração patronal. As empresas qúe esta-
liam endividadas foram coletivizadas imediatamente. O
limites. No entanto, quando tem a oportunidade de en-
carar o problema da transformaçâo social, não o faz por patrão foi assimilado ao grupo de produtores. Os comi-
tês dirigiam a produção mediante uma linha central tra-
meio do Estado, e sim pela organização dos produtores.
çada pelo Decreto sobre a Coletívízação. A CNT criou
Temos seguido esta norma e não terriOSnecessitado, até
os conselhos de intensificação da produção, que obriga-
aqui, de hipótese de um poder superior ao trabalho orga-
ram a classe empresarial a empregar a mao-de-obra de-
nizado para estabelecer a nova ordem das coisas. Se al-
socupada. Para remediar os problemas de abasteci-
guém puder dizer-nos o papel que caberia ao Estado nu-
mento, foram criadas pela CNT Comissões de Abaste-
ma organização econômica onde não exista a proprieda-
cimento para o povo. A coletivizaçlo das indústrias
de privada, onde o parasitismo e o privilégio não tenham
razão de ser, muito lhe agradeceríamos."\lI aprofundou-se com a crise. As indústrias madeireira, de
construção, transportes, espetáculos foram coletivizadas.
Devemos considerar, neste momento, o fato de tal
Impôs-se um salário único para todos os 'trabalhadores
estrutura ter sido descrita por Santillán em meio ao de-
industriais. Fundou-se uma caixa comum, onde a mão-
senvolvimento do sistema autogestionãrio - de curta
de-obra retirava fundos por partes iguais. Quando de-
existência - que vinha sendo realizado pela revolução. '
terminado ramoatíngia alto nível de produção, isso era
Cabe-nos, portanto, relativizar tais ínformações, que
comunicado 1Comissão Central Administrativa, que
devem, por sua vez, ser rebatidas tarito ao plano da ideo-
considerava a maneira pela qual as áreas deficitárias
logia do autor quanto à possibilidade da influência -
poderiam ser suprídas mediante alocação de recursos
"maléfica ou benéfica" - que o tempo poderia trazer
para aquisição de matérias-primas e diversos fatores de
à situação, ,
produção. Paralelamente a isso" institui-se o salário-
Tendo, portanto, apresentado a organização que ca-
família. Para tal, realizou-se um Censo Especial funda-
racteriza a autogestão espanhola - parte já pragmatíza-
do em minuciosa pesquisa estatística. '
da e parte "ainda" não - acreditamos conveniente apre-
sentar a descrição que faz Tragtembergll2 da coletívíza- Paralelamente aos problemas economicos, os cultu-
ção de uma das regiões espanholas neste período: Hospi- rais atraíramo interesse da mão-de-obra, os sindicatos
operários, já mantinham entre 50 a 100 escolas nacio-
talet.
nalistas de caráter secularizado. Numa população escolar
,infantil de 8 mil crianças, apenas 4 mil chegavam à esco-
la; conseguiu-se que 6 mil crianças tivessem acesso
4.3 Hospitalet: uma vivência
a escola, em edifícios mais apropriados do que havia até
"É uma zona de Barcelona com total de 50 mil habi- então. Às quintas- f~iras, todos os cinemas do local ofe-·
tantes, predominantemente industrial. O ramo têx- reciam espetáculos à população escolar infantil. As
til era o mais importante, o metalúrgico estava em mulheres nas fábricas podem contar com as creches:
segundo lugar, contava com altos fornos de importân- construiu-se maternidades para a população. trabalhado-
cia, muitas oficinas mecânicas. Existia a indústria da ma- ra. O atendimento médico em clmícas e dispensários
deira, a química. O CNT tinha 8 mil adeptos entre a era contrólado pela CNT e era inteiramente gratuito.
mao-õe-obra, a UGT contava com mil. No mês de julho Trabalhos públicos, ensino, assistência social eram resol-
a luta durou seis dias, galvanizando todo o país. Termi- vidos pela comuna em nível municipal. A CNT prestava
, nado este perfodo, a CNT proclamou o retorno ao tra- contas de seu trabalho, organizando a população em vas-
balho, assumindo a responsabilidade pela vida eeoaõmí- tas assembléias de bairros, que ocupavarri os salões que
ca, abandonada pelos empresãrios e pelá pr6prio gover- existiam na época. Expunham o que haviam feito, re-
cebendo a' crítica da população. Não se fazia política
no. de gabinete, nem tomavam-se decisões sem participação
o trabalho era reiniciado, de um lado; de outro,par-
te da mão-de-obra está mobilizada atrás das barricadas popular,
nas ruas, vigiando os caminhos que conduziam a Barce- . Acreditamos poder,nestemomento, considerar con-
cluída a tarefa de delinear os traços fundamentais da
lona, para preservá-la de qualquer ataque.
O processo de coletívízeção iniciou-se no campo. autojlestlo espanhola que nos parecem significativos para
Os trabalhadores por dia iniciaram o processo. A produ- a realizaçlo de nossos objetivos.
Pudemos per.ceberque o sistema autogestíonârio le-
ção, de legumes, estava ameaçada e Hospitalet corria o
risco de fome; 15% de sua população estavamsem tra- vado a cabo neste país pode ser considerado espontâ-
balho devido à crise, e os que trabalhaviÍm .0 faziam . neo-à-medida-qUe-houve-condições-para- tal. A ínsatísfa-:
três dias por semana. Os agricultores compreenderam a çloconjunturalleva ao poder os partidos de esquerda
situação. Convocaram uma assembléia e resolveram íme- e a~ abandono de seu patrimônio os proprietários; per-
S3
Autoge.f4o
,Autogmõo ss
37
4 Motta, Fernando C. P. op. cit, p. 98. 38 Id. ibid. p. 121.
5 Ver Proudhon, P-J. Manuel du sp!culateur dans la bourse.
o
39 Proudhon, P.J. Sy.tlme de Contradictionr ... op. cito t. 1.
Paris, Lacroix, S. d. p. 25. In: Ansart, Pierre.. Sociologfe de p. 108. Apud Motta, Fernando C. P. op. cito
Proudhon. Paris, Ptesses Universitaires de France, 1967, p. 106.
Apud. Motta, Fernando C. P,op. cito 4 PrOudhon, PJ.De 111 iu,tice ~mtivit ... op. ~t. Estudo
6 11 ,I.es Biens, p. 70. Apud Motta, Fernando C. P.op. cito
Motta, Fernando C. P. op. cito p. 102.
7
4
Motta, Fernando C. P.op. cito p. 125.
Id. ibid. p. 71.
4 Id. ibid. p. l'26.
8 Proudhort., P.l. Systeme de contradictions économiques:
4
phi1osophie de la misCre. Paris, tditionsMarcelRiviêre, 1923. t.l, Id. ibid. p. 132.
p. 138 segs;, Apud Motta, Fernando C. P. op. cito 4
Id. ibid. p. 134 sep.
9
Motta, Fernando C. P. op. cito p. 72. 4
Id. ibid. p. 134 segs.
10 Prou4hon,P.l. Sy~Ume de contrrldictionB. •.• op. cito t.I, p, 4 Id. ibid. p. 134.
89, ApudMotta, Fernando C. P. op.cít. 4
Id. ibid. 1" 134 segs.
11 Proudhon reconhece, no entanto, a importlncia que a pro-
príedade privada' teve para o desenvolvimento da prodúção, visto •• Id.ibid. p. 142 sego
que propiciou a acumulaçlo de excedente a ela necessária. Desta 4 Proudhon, PJ. La Gume et la paix. Paris, f:ditions Ma,rcel
forma,.a noçlo de roubo necessita ser vista dialeticamente; nlo R viere, 1927. p. 477. Apud Motta, Fernando C. P. op. cit.
se pode excluir as funçOes históricas, econGmicas e sociais da 5
propriedade. Ver Motta, Fernando C. P. op: cito Motta, Fernando C. P. op. cito p. 146.
5
12 Motta, Fernando C. P. op. cito p. 82. Id. ibid. p. 146 sep.
13 Ver Proudhon, P.J. A vtrtirsement QIlX proprletllins. Paris, , Id. ibid. p. 129 ~gs.
);ditions Marcel Riviere, 1938. p. 195. Apud Mott, Fernando 5
Id. ibid. p. J55. i
/
cratic: je la nomme plaDification ministenetle. On a réq! contre M:tivity 01 t'le enterprise. First Int'l conference on self-manage-
cette formHá en assimilaDt à toute plaDification. Done, au Iieu meRt and participation. DUbrocnik, 1972. V. 2, p. 136 segs.
de chercher une nouve1le façon de planifierm on 'a inventé ]e 90. Veno~,Roberto.L 'Autogestion ... op. cito p. 102.
systême du 'h"bre march~ socialiste autoaestionaire', c'est à. dire,
qu' ona reintroduit dans la politiqile éCODomique une loi de 91 ZUPlllov, Josip. Participation .and influence. In: Horvat,
marché caracteristiquedu .5Ysteme capitallste, mais d'une façons Branko et alii. Sell govemingwcialism. New York, Int'l Arts
tres archaique. On a instauré une économie de'laissez-faire, arid Sciences Press, 1975. V. 2;p. 76 segs.
laissez-passer' que· était íe' prope de l'éconorDic bouqeoise du 92 Venosa, Roberto. L 'Autoge,tion ... op. cito p. 103 segs,
X1Xe siécle, lans. lU.cun controle. Les interprises sont en con-
93 Obradovic, Josip. Distribution and participation ... op. cit,
. courrence SUlle s marcMs intérieur et intemational et il y a des
entraves três fortes à la solidarité de la classe .ouvnere étant V. 2.p. 136 segs.; Venosa, Roberto. L'Autogestion ... op. cito
donné les cüfferences des tratemenu entre unités, d'ou l'impor- 94 O termo comunidade sócio-política refere-se a comunas,
tance des égoismes de groupe." Autoge,tiOlll, n96, Toulowe, províncias, repúblicas e federação. As organizações sócio-políti-
Editions Privat, é16 1981. cas incluem a Liga,a Aliança Socialista, os sindicatos etc.
75 Wachtel, Howard. Worker's manasement and wqe diffe- 95 Ver Hunnius, Gerry et alü. op. cito p. 274.
rentials in Yugoslavia. Ph.D. dissertwon, Universit)r ofMichi- 96 Id. íbíd, p. 273.
pn, 1968. p. 1 mimeogr. Apud Hunnius. Gerryet alii. op. cito
97. Mijalko Todorovic - secretário do comitê executivo da Liga
16 Ver Pesakovick, MiJentp. Twenty]letUS ollellmtlllllgement +. assim resume o principal problema da Liga: The League's
in Yugoll4via. Belgrado, Medunarodna Politika, 1970. Apud. principal weakness today springsprimarilY from its still over-
Hunnius, Gerry et alii. op. cito areat amalgamation with power, the slow process of democrati-
77 Ver Kardelj, tdvard. 1JrelJl'tem olplamign in a ,oé~ty 01 zation of relations within it, its insuitable structure, and the
lell Management. Belgrado, STP,1976. Apud. Hunnius. Gerry et ideological heterogeQeity among its ranks." Todoroviç, Mijalko.
alii. op. cito A Rewlutionary vanguard - the abiding need of our self-manag-
ing community. ln: SociIIlilt 'I7IOught tmd Practice, (31): 17
78 'Worker'sMaNlgementin Yugoll4via (19$9-1979). Belgrado,
July-8ep. 1968. Apud HunJuus, Geiry et alli. op. cito .
Medunarodna Politika, 1970, p. 36. Ver também artigo X, § 2 da
Constituição da SFRY, 1963, 1/8 Ver Hunnius, Gerry et alii op. cito p. 274:
79 Adizes, Ichak./ndu,triIIl democrGc]I: yugoilav .tyle - lhe /99 Id. ibid. p. 285
el1ect 01 dncentralization on .organizlltiolflll behavior. New
100 Id. ibid. p. 286.
York, The Free .Press, 1971. p. 4 segs, Apud Hunnius Gerry et
alii. op. cito . 101 Id. ibid. p. 287.
80 Sabe-se que os quadros admiÍlistrativos sIo sempre ocupa- 102 Venosa, Roberto. L 'Autoge,tion : .. op. cito p. 30.
dos pelos mesmos elementos que se revesam nos cargos específi- 10.3 Id.ibid. p. 32e 39.
cos, caracterizando a fonnaçio de uma tecnocracia na Iugoslávia.
10.4 Zupanov, Josip. op. cito p. 76 segs,
81 . Hunnius, Gerry et alii. Op. cito p. 279.
105 Id. ibíd. p. 76 segs,
8l Adizes, Ichak. op. cito p .. 47. Apud Hunnius, Gerry et alii.
op.ciL - 106 Horvat, Brank.o et alii. op. cito V. 1, p.33 segs.
83 Ver Hunnius, Gerry et alii. op. cito p. 281 segs. 107 Trll8temberg, Maurício. A coletivízaçâo direta comocatego-
ria administrativa: Espanha 1936-39. Fundaçlo GetUlio VarglS,
84 Id, ibid. p. 293. S. d. p. 7 segs, mimeogr.
15 Motta, Paulo Roberto. Autogestlo: a ex,periência empresa- 10.8 Santilltn,Diego Abad. Organismo econômico dtl revoluçtfo:
rial iugoslava. Revi,ta de Adminiltraçlio Pública, Rio de Janeiro, autoge,tiio na RellOlução ErpaMola. SIo Paulo, Brasiliense, 1980.
14 (1) : 19, Rio de Janeiro,jan./mar. 1980. 10.9 Tragtemberg, Maurício. op. cito p. 2.
86 Ver Hunníus, Gerry et alii~op.cit. p. 294 .• 110 Id. ibid. p. 1.
87 Ver Motta, Paulo Roberto. op. cito p. 1I,seiS. 111 Santillán, Diego Abad. op. cít, p. 188.
81 Venosa, Roberto. L'Autogestión en Yougostave. These de 112 Trlltemberg, Maurício.,op. cito p. 8. segs,
doctorat de 3.eme cycle. 1979. mimeogr. .
113 Id. ibid, p. 1. segs.
89 Obradovic, Jósip. Diltrlbuition and participatio;, on. the
proce" 01 tUci,ion nuzlcingon problem, relllted to the economic 114 Id, ibid. Apud Santillán, Diego. op. cito p. 8.
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. atempo
"Llvrar/IIS d. FG v:
R;o - PraiB de Boufogo, 188
SIo PllUlo - Nove d. Julho, ~029
B,..I/;8 - eLS 104, Bloco A, loj.37
Autogelt4'o 57