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PROBLEMA (6) temática: VERTEDOR

Um canal de seção retangular, com largura de fundo b = 2,0 m e altura total de 4,0 m, tem
suas vazões calculadas em função do tirante, conforme especificado na tabela a seguir :

Vazões do canal de seção retangular ( b = 2,0 m)

tirante h (m) 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0


vazão Q (m3/s) 3,98 6,75 9,65 12,67 15,66

Deseja-se instalar um vertedor nesse canal para medir as vazões ocorrentes. Para efeito de
referência, a seção do canal onde será instalado o vertedor tem o fundo na cota 50,00 m. Para
a determinação do vertedor mais adequado, analise as opções referidas a seguir :

a ) tirante do canal : h = 3,0 m


cota da soleira do vertedor: 53,5 m
vertedor retangular (lâmina arejada)

b ) tirante do canal : h = 3,0 m


cota da soleira do vertedor: 52,0 m
vertedor retangular

c ) tirante do canal : h = 3,0 m


cota da soleira do vertedor : 53,5 m
vertedor curvo com j = 15º

d ) tirante do canal : h = 3,0 m


cota da soleira do vertedor : 53,5 m
vertedor oblíquo com j = 15º

Referencial Teórico:
Eurico Trindade Neves. Curso de Hidráulica, capítulo IX, página 141.

Solução :

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a ) Tirante do canal : h = 3,0 m ® Q = 15,66 m3/s

Ao ser instalado o vertedor no canal, o nível a montante, deste, se elevará até formar a carga
H capaz de dar passagem a 15,66 m3/s sobre a soleira. A jusante do vertedor, a água
retorna ao seu nível normal (na situação estudada: h = 3,0 m). Sem o vertedor, haveria
uma folga de 1,0 m entre o nível do canal e sua borda. A questão que se coloca é , então , se a
carga H será inferior a 1,0 m. Caso H supere 1,0 m, o canal transbordará.

Aplicando a fórmula de Bazin tem-se:

 0,003  H2 
Q   0,405  1  0,55    l  2 g  H 3/ 2
 H   H  P 2 

(0,10 m < H < 0,60 m )


onde :
H carga sobre o vertedor
P = 3,5 m elevação da soleira do vertedor (53,5 - 50,0 = 3,5 m)
l = 2,0 m comprimento do vertedor
g = 9,81 m/s2 aceleração da gravidade

Como se tem valores conhecidos para as variáveis , encontra-se H para a vazão especificada:

Q = 15,66 m3/s ® H = 2,5 m

Comprova-se, portanto, o transbordamento do canal. É interessante observar que a altura P


representa um obstáculo ao fluxo, sendo que valores maiores de P exigem uma carga maior
sobre a soleira do vertedor. Também constata-se que, para uma mesma carga, a vazão diminui
com o aumento de P . Apenas para exemplificar, utilizando a mesma expressão de Bazin (l =
2,0 m) , são determinadas as seguintes vazões para diferentes cargas e alturas do vertedor :

Vazões segundo Bazin ( m3/s )


H (m) P = 3,0 m P = 3,5 m P = 4,0 m
2,7 17,93 17,62 17,38
2,6 16,84 16,59 16,37
2,5 15,84 15,58 15,38

Deve-se, ainda, observar que a carga H = 2,5 m ultrapassa em muito o limite ( 0,10 < H < 0,60
m ) aconselhado pelo autor para a utilização de seu modelo matemático. É mais uma razão
para a colocação dos valores calculados sob suspeita. Para estes cálculos não se admitiu a
hipótese de depressão da lâmina vertente. Não foi considerada, também, nenhuma contração já
que o vertedor atravessa transversalmente toda a extensão do canal.

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b ) Tirante do canal : h = 3,0 m ® Q = 15,66 m3/s
cota da soleira do vertedor : 52,0 m

Na tentativa de manter o nível de montante igual ou inferior a 4,0 m, reduziu-se a cota da


soleira do vertedor para 52,0 m. As alturas P e P1 serão iguais a 2,0 m. A vazão agora será
calculada com outra expressão devida a Bazin:

 
H1    H  H1   
1/ 3

 
Q  1,05  1     m  l  2 g  H 3/ 2
   5  P1   H  
onde :
H1 = 3 - 2 = 1 m submersão da soleira a jusante
P1 = 2,0 m altura da soleira a jusante
H carga sobre a soleira
m coeficiente de Bazin, determinado por :
m = ( 0,405 + 0,003/H ) [ 1 + 0,55 . H2/(H + P)2 ]
l = 2,0 m comprimento do vertedor

É oportuno observar que não há contração a considerar. Substituindo as variáveis na


fórmula, obtém-se para Q = 15,66 ® H = 1,64 m .

Observa-se que somando P + H , encontra-se : 2,0 + 1,64 = 3,64 m (< 4,0 m ). Esta
solução é possível. O vertedor, no entanto, funcionará afogado, o que nem sempre é
aconselhável. Para evitar o afogamento pode-se criar um degrau no canal de forma que P1 > P

c ) Tirante do canal : h = 3,0 m ( Q = 15,66 m3/s )


cota da soleira do vertedor : 53,5 m
vertedor curvo com j = 15º

Outra estratégia válida para manter a carga dentro dos limites previamente estabelecidos
inclui o alongamento da crista do vertedor. Vamos testar o vertedor curvo com j = 15º
assinalando o centro do círculo a montante do vertedor. Segundo Wex, nessas circunstâncias, a
vazão por metro do vertedor será dada por :

q = 1,85 H3/2
onde :
q vazão calculada em m3/s, por metro de soleira
H carga sobre a soleira em metros

Resta, ainda, calcular o comprimento da soleira a ser determinado por :

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C = r .a
onde :
C comprimento da soleira do vertedor, em metros
r raio que inscreve o vertedor ; r = 1,0/cos j
a ângulo que limita o arco C , em radianos

Na figura a esquerda vemos que o ângulo central a é determinado por:

a = 180 - 2 j = 150º = 2,62 rad.

Então :
1,0
C  2,62  2,71 m .
cos15

Observe que l = 2 m para o vertedor reto. Ao utilizarmos C = 2,71 m temos um ganho


significativo no comprimento da soleira . A vazão no vertedor curvo será:

Q = q . C = 1,85 . H3/2 . 2,71

Assim, para Q = 15,66 m3/s , encontra-se H = 2,19 m

Percebe-se que este valor não atende ao desejado já que :

P + H = 3,5 + 2,19 = 4,9 m ( > 4,0 m ) .

d ) Vertedor oblíquo com j = 15º


cota da soleira : 53,5 m

Para garantir uma folga entre o nível d'água e a borda do canal, tentar-se-á empregar um
vertedor oblíquo. Calcular-se-á o comprimento do vertedor para a fixação da folga desejada.
Estabelecendo uma folga de 0,20 m, encontra-se para a carga máxima :

Hmáx = 4 - ( f + P ) = 4 - ( 0,20 + 3,5 ) = 0,30 m

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Nessas condições idealiza-se um vertedor oblíquo na forma de " bico de pato" (esta forma não
gera grandes diferenças de vazão em relação ao vertedor oblíquo comum). Segundo esta
disposição, cada lado terá l/2 de comprimento, desprezando-se a extensão da concordância no
vértice do vertedor.

A vazão do vertedor oblíquo é calculada pela expressão de Boileau como se segue:


Q  m  x  l  2 g  H 3/ 2
onde :
m coeficiente de vazão de Bazin ou equivalente. Pode ser adotado o
coeficiente simplificado m = 2/3 c = 2/3 . 0,6 = 0,4
x coeficiente dependente do ângulo j de inclinação da soleira em relação ao eixo
do canal. Para j = 15º ® x = 0,86
l comprimento da soleira
H carga sobre o vertedor (ver referencial teórico)

No caso em consideração, para a vazão dada :

15,66  0,4  0,86  l  2  9,81  0,33/ 2

encontra-se l = 62 m, ou seja, cada lado do " bico de pato " terá 31 m.

Verificando se esta medida é compatível com a largura do canal (b = 2 m), encontra-se,


geometricamente, que um lado do "bico de pato" ocupa uma largura transversal igual a 8,02
m ( b1 = 31 . sen15º = 8,02 ). Como isto é bem maior que a semi-largura do canal, conclui-se
que a solução não é viável . Já que a largura do canal é um fator limitante, fixar-se-á o
comprimento do vertedor no espaço disponível. Então : b1 = b/2 e

l b/2
 ® l = 7,7 m
2 sen 15

Retornando à equação de Boileau encontra-se uma carga: H = 1,21 m. Este valor ultrapassa
em muito o Hmáx antes estabelecido. Conclui-se dos resultados dos tipos de vertedores
estudados, que a altura da soleira do vertedor deve ser considerada com atenção para se
chegar um resultado satisfatório.

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