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12 - Silencio Administrativo PDF
12 - Silencio Administrativo PDF
"A nossa confiança nos outros revela quanto desejaríamos tê-la em nós
mesmos." (Friedrich Nietsche)
Abstract: The article aims to examine the institution of administrative silence, in order
to clarify the concept, its legal status and their type, as well as highlight its difference
from administrative act implied. Furthermore, it aims to demonstrate the importance of
administrative silence qualified to reduce the downtime formal Public Administration.
Finally, the Institute will be highlighted administrative silence in Brazilian Administrative
Law, in order to present a brief history, and its occurrence in Brazilian legislation.
KEYWORDS: Public Administration. Administrative Silence. Administrative Act.
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INTRODUÇÃO
1 CONCEITO
1 Para uma precisa compreensão da temática é aconselhável à leitura da seguinte obra: OTERO, Paulo.
Legalidade e Administração Pública - O Sentido da Vinculação Administrativa À Juridicidade. Coimbra:
Almedina, 2003.
2 Na Espanha, sob a perspectiva do contencioso administrativo, consultar: (1) PÉREZ HERNÁNDEZ, Antonio. El
silencio administrativo en la ley de 18 de marzo de 1944. Revista de Administración Pública (RAP). Número
02, p. 131-142, Mayo-Agosto, 1950; (2) FALLA, Garrido. La llamada doctrina del silencio administrativo.
Revista de Administración Pública (RAP). Número 16, p. 85-115, Enero-Abril, 1955; (3) BOQUERA OLIVER,
José María. Algunas dificultades de la actual regulación del silencio administrativo. Revista de Administración
Pública (RAP). Número 30, p. 85-102, Septiembre-Diciembre, 1959; (4) PEÑA, J. Trujillo. La desviación de
poder en relación con el recurso de apelación y el silencio administrativo. Revista de Administración Pública
(RAP). Número 35, p. 153-165, Mayo-Agosto, 1961; (5) ENTERRÍA, Eduardo García de. Sobre silencio
administrativo y recurso contencioso. Revista de Administración Pública (RAP). Número 47, p. 207-227, Mayo-
Agosto, 1965; (6) FORADADA, Juan Antonio Bolea. El retraso de la Administración y el silencio administrativo.
Revista de Administración Pública (RAP). Número 51, p. 303-318, Septiembre-Diciembre, 1966; (7) PÉREZ, J.
González. El silencio administrativo y los interesados que no incoaron el procedimiento administrativo. Revista
de Administración Pública (RAP). Número 68, p. 235-246, Mayo-Agosto, 1972; (8) CUDOLÁ, Vicenç Aguado I.
Los origines del silencio administrativo en la formación del Estado Constitucional. Revista de Administración
Pública (RAP). Número 145, p. 329-362, Enero-Abril, 1998; (9) VALDIVIA, Salvador Martín. El silencio
administrativo como garantía de los derechos de los particulares. Un análisis comparativo de la nueva
regulación legal de la institución. Revista de Administración Pública (RAP). Número 149, p. 423-456, Mayo-
Agosto, 1999; e (10) PÉREZ, José Ignacio Morillo-Velarde. El silencio administrativo tras la reforma de 1999.
Un cambio inadvertido e unas posibilidades inéditas. Revista de Administración Pública (RAP). Número 159, p.
87-135, Septiembre-Diciembre, 2002.
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Não se olvidando que, enquanto atividade administrativa, esse entendimento se aplica a todos os Poderes
da República.
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Num sentido mais amplo sobre os direitos às prestações, podem-se dividi-las em 03 (três) grandes grupos:
(a) direitos à proteção; (b) direitos à organização e procedimento; e (c) direitos a prestações em sentido
estrito (ALEXY, 2008, p. 444). Tratando-se mais especificamente sobre a função de prestação social dos
direitos fundamentais, urge transcrever algumas considerações que bem retratam a problemática que
envolve o assunto (CANOTILHO, 2003, p. 408-409, negrito no original), nestes termos:
“A função de prestação dos direitos fundamentais anda associada a três núcleos problemáticos dos direitos
sociais, económicos e culturais: (1) ao problema dos direitos originários, ou seja, se os particulares podem
derivar diretamente das normas constitucionais pretensões prestacionais (ex: derivar da norma
consagradora do direito à habitação uma pretensão prestacional traduzida no „direito de exigir‟ uma casa;
(2) ao problema dos direitos sociais derivados que se reconduz ao direito de exigir uma actuação legislativa
concretizadora das „normas constitucionais sociais‟ (sob pena de omissão inconstitucional) e no direito de
exigir e obter a participação igual nas prestações criadas pelo legislador (ex: prestações médicas e
hospitalares existentes); (3) ao problema de saber se as normas consagradoras de direitos fundamentais
sociais tem uma dimensão objectiva juridicamente vinculativa dos poderes públicos no sentido de obrigarem
estes (independentemente de direitos subjectivos ou pretensões subjetivas dos indivíduos) a políticas
sociais activas conducentes à criação de instituições (ex: hospitais, escolas), serviços (ex: serviços de
segurança social) e fornecimento de prestações (ex: rendimento mínimo, subsídio de desemprego, bolsas
de estudos, habitações econômicas)”.
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À evidência, não há falar na discussão sobre a omissão do Poder Legislativo, especialmente no que concerne
a sua atividade típica, o mesmo se diga quanto ao Poder Judiciário, já que tais considerações demandariam
um trabalho específico. Muito embora, e isso é certo, no que se referem às atividades atípicas, os demais
Poderes merecem o mesmo tratamento do Poder Executivo.
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Para uma conceituação analítica sobre silêncio administrativo, transcreve (FARIA; 2002, p. 135):
“A inatividade formal da Administração Pública, constitutiva de violação à ordem jurídica, em face da falta
de resposta a requerimentos de particular postulando interesse próprio, da inação indevida de órgão
controlador ou em virtude da falta de edição de ato normativo necessário para o exercício de direito
constitucional consagrado”.
Duas objeções são aventadas quanto à conceituação transcrita: (a) o administrado pode, através dos
institutos da participação administrativa, pleitear interesses coletivos associados ou não a interesses
meramente individuais, logo, melhor dizer postulando interesse próprio ou coletivo; e (b) a ausência do
dever regulamentar também pode incidir quanto às normas primárias que não possuam arrimo
constitucional.
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Já que não há confundir o dever de decidir (arts. 48 e 49 da Lei nº 9.784/99) com o tratamento legal de tal
inobservância no prazo legal.
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Claro que, em longo prazo, toda omissão traz consequência jurídica, sem que seja necessariamente a
prescrição ou a decadência, como ordinariamente se verifica com a ocorrência de danos à esfera patrimonial
do administrado.
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Essa tese, de plano, não pode ser encampada, pois as normas do Direito Público não se coadunam com o
disposto no art. 111 do Código Civil Brasileiro: “O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os
usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”. Explica-se: no âmbito da
indisponibilidade que carreia toda a atividade administrativa, o consentimento pelo silêncio implica uma
inegável afronta aos comezinhos princípios do Regime Jurídico-Administrativo. Assim sendo, o administrado,
em algumas hipóteses, quando a inatividade lhe fosse favorável, prestigiaria o silêncio administrativo ao
invés da decisão célere, precisa e fundamentada do Poder Público.
10 Ou, conforme a melhor doutrina alemã, nestes termos (MAURER; 2006, p. 207, itálico no original):
“[...] ato administrativo é a regulação soberana de um caso particular por uma autoridade administrativa
com efeito externo imediato. Cada característica conceitual (regulação, soberana, caso particular,
autoridade administrativa, efeito externo) contém uma declaração positiva, mas serve também à
delimitação a outras formas da atuação estatal, de forma que no conceito de ato administrativo reflete-se,
simultaneamente, a multiplicidade da atividade administrativa”.
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Atos jurídicos são declarações, vale dizer, são enunciados; são “falas”
prescritivas. O ato jurídico é uma pronúncia sobre certa coisa ou situação,
dizendo como ela deverá ser. Fatos jurídicos não são declarações;
portanto, não são prescrições. Não são falas, não pronunciam coisa
alguma. O fato não diz nada. Apenas ocorre. A lei é que fala sobre ele.
[...] Toda vez que se estiver perante uma dicção prescritiva de direito
(seja ela oral, expressada por mímica ou sinais convencionais) estar-se-á
perante um ato jurídico; ou seja, perante um comando jurídico. Quando,
diversamente, se esteja ante um evento não prescritivo ao qual o Direito
atribua conseqüências jurídicas estar-se-á perante um fato.
Assim sendo, em face das elucidantes palavras do consagrado administrativista
pátrio, não há como negar a diversidade que encerra na essência do fato e do ato
administrativo, inconfundíveis, portanto.
Antes de encetar as primeiras considerações sobre o cerne da questão do presente
tópico; a saber, se o silêncio administrativo é fato ou ato, cumpre entoar algumas linhas
sobre a vontade da Administração Pública e se ela constitui um elemento do ato
administrativo. Ora, como do silêncio não se pode extrair uma vontade; em tese, não se
pode falar, na ocorrência do silêncio administrativo, em ato administrativo se, para a
constituição deste, for exigida a vontade do Poder Público.
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Numa senda filosófica, sobre a vontade são transcritas as seguintes palavras (MORA; 1964, p. 919):
“Voluntad se entiende principalmente en tres sentidos: (1) Psicológicamente como un conjunto de
fenómenos psíquicos o también como una „facultad‟ cuyo carácter principal se halla en la tendencia. (2)
Éticamente, como una actitud o disposición moral para querer algo. (3) Metafísicamente, como una entidad
a la que se atribuye absoluta subsistencia y se convierte por ello en substrato de todos los fenómenos. Estas
tres significaciones de la voluntad caracterizan las diferentes acepciones del voluntarismo, pero junto con la
distinción, necesaria en toda investigación filosófica, debe reconocerse que en casi todas las doctrinas
voluntaristas se proclama el dominio de la voluntad en las tres esferas y se pasa insensiblemente de la
psicología a la metafísica o, cuando menos, a la ética”.
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Porque além dos atos discricionários, defende-se que, mesmos nos atos vinculados, a disposição textual
imprescinde duma atividade interpretativa, que é criadora de novas formas de concepção da moldura
empreendida pela atividade legiferante, mas desde que compatível com a ordem constitucional vigente.
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Não se vai discutir, aqui, os fundamentos das correntes originalistas e não-originalistas, rectius
interpretativistas e não-interpretativistas, sobre a intenção do legislador e a temática do ativismo judicial,
por ser despicienda, haja vista a proposta de trabalho encampada, todavia, não se pode negar que o
legislador pretende consolidar os limites normativos do texto a ser editado, só que, uma vez constituída a
disposição legal, passam a incidir os influxos interpretativos de cada época, conforme a ideologia
empreendida pelo intérprete. Daí, portanto, a fragilidade dos termos vontade administrativa e vontade
normativa, pois, em última instância, é sempre o intérprete que extrai a norma para o caso concreto, o que,
possivelmente, pode ensejar condutas desviantes das autoridades públicas de quaisquer dos Poderes da
República. Em outros termos, a temática passa a caminhar num fluxo diverso, já que o querer do agente
pode influir, ou simplesmente influi, na perspectiva de análise dos comandos legais, que nada mais é que a
vontade psicológica. Então, qual necessidade de explicitar a existência de tais vontades? Não há como
encetar os campos da atuação doutrinária sem as chagas da análise alheia ou da autoanálise; assim sendo,
na ausência de construção mais precisa, não se prescinde dos caminhos já trilhados, mesmo que falhos,
pois sempre contribuem para os ulteriores avanços sobre a temática.
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Renomado administrativista pátrio, com singular acuidade científica, deita pena sobre a temática, nestes
termos (BANDEIRA DE MELLO, 1998, p. 20, itálico no original):
“Note-se, finalmente, que se poderia, inclusive, reconhecer uma hipótese na qual até mesmo a expedição
de ato jurídico administrativo vinculado poderia ser efetuada por máquina, conquanto detida por
particulares. Seria o caso dos „parquímetros‟ instalados por empresas privadas, sob contrato com o Poder
Público, os quais, sobre registrarem estacionamento além do tempo habilitado, ao cabo dele, emitissem o
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próprio auto de infração. Que ameaça, que risco, haveria para a liberdade dos cidadãos em tal proceder?
Que violência ocorreria no que atina à igualdade dos cidadãos, se o auto infracional não estaria em tal caso
relacionado com a vontade de particular algum, mas surgiria com o fruto automático da objetiva e
impessoalíssima verificação efetuada por um engenho mecânico ou eletrônico? Qual a importância do
recurso tecnológico pertencer a um particular ou ao Poder Público, ser ou não instalado pelo primeiro ou
pelo segundo?”
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Aqui, uma ressalva é necessária: a vontade do agente não é totalmente livre, e nem pode ser, pois ele não
pode fazer apenas o que deseja, mas o que a ordem jurídica autoriza, prevê ou delega. Claro que o autor
quis apenas indicar que o agente possui vontade livre como uma decorrência do ser humano que é.
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A vontade funcional se assemelha à vontade administrativa acima mencionada.
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Que a vontade é uma realidade psicológica, não se discorda, já que patente, agora, não se olvida que ela
possui claros reflexos na contextura de qualquer ato jurídico, inclusive o administrativo, não sendo ela,
contudo, elemento ou requisito do ato administrativo, como bem ressalta o autor ao mencionar a sua
valoração em certos casos.
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A referência à vontade normativa implica, tão-somente, à observância aos comandos legais.
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Para estabelecer uma maior precisão conceitual possível, bem como para evitar
possíveis confrontos semânticos em detrimento da clareza deste trabalho, deve-se
estabelecer uma distinção entre o ato implícito e o silêncio administrativo.
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Como bem adverte Bandeira de Mello (2007, p. 383):
“A forma pode, eventualmente, não ser obrigatória, isto é, ocorrerá, por vezes, ausência de prescrição legal
sobre uma forma determinada, exigida para a prática do ato. Contudo, não se pode haver ato sem forma,
porquanto o Direito não se ocupa de pensamentos ou intenções enquanto não traduzidos exteriormente.
Ora, como a forma é o meio de exteriorização do ato, sem forma não pode haver ato”.
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Considera, dentre outros, como ato administrativo: (a) JUSTEN FILHO; 2009, p. 281 e MAURER; 2006, p.
273-274 – ato por imputação legal; (b) PÉREZ; 2002, p. 97 – ato administrativo presumido; e (c)
GORDILLO; 2003, p. X-31.
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Pois bem, o ato implícito, como ato administrativo que é, expressa uma
manifestação do Estado, não obstante implícita, mas decorrente de um ato expresso
anterior ou posterior que autoriza a sua compreensão, daí ele é tido, havido e
reconhecido como implícito.
No ato implícito há uma necessária correlação de dependência com o ato
anterior/posterior, que é necessariamente expresso, e que limita o seu sentido e alcance,
de maneira que sem a notoriedade do ato precedente/consequente não pode existir o ato
implícito, uma vez que não há nada a ser extraído ou dessumido por parte da atuação
estatal.
O silêncio administrativo, com já explicitado acima, não se ajusta à ideia de
expressa atuação da Administração Pública, já que inexiste silêncio administrativo
parcial, pois a manifestação pode ser omissiva, imprecisa ou incompleta em certos
pontos, mas será sempre uma manifestação; com vícios, mas, repita-se, uma
manifestação expressa.
Então, se um ato decorre de uma manifestação, anterior ou posterior, que é
expressa, não há falar em inatividade formal da Administração, logo, inexiste silêncio
administrativo21, como bem apregoa a precisa distinção na passagem abaixo (FARIA;
2002, p. 56):
[...] podemos afirmar que se entende por ato implícito a decisão
administrativa que se infere de uma outra decisão manifesta; e por
silêncio administrativo a inatividade formal da Administração que, após
transcurso de prazo legal, ou reconhecido como razoável, deixa de agir ou
se omite de decidir, quando deveria fazê-lo.
Assim sendo, a título de exemplificação, quando a Administração Pública, dentro de
um linear e esperado encadeamento de atos administrativos, decide expressamente pela
promoção de uma atividade em face de uma situação fática apresentada ou exaure uma
decisão por conta de uma simples demanda administrativa, todos os atos exigíveis e não
demonstráveis, contudo, necessários ao propósito firmado ou ultimado pela
Administração, serão necessariamente implícitos, independentemente da sua
regularidade, rectius validade22.
Dessarte, o ato administrativo que se destina à alienação um bem imóvel, sem
anteriormente desafetá-lo, presume, por evidente, a sua desafetação23 (FARIA; 2002, p.
59).
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Em sentido diverso, colhe-se uma ligeira passagem (VITTA; 2000, p. 586):
“[...] O ato administrativo tácito e o ato administrativo implícito (em suma: o silêncio da Administração) não
são declarações; constituem fatos jurídicos, e, dessa forma, não estão submetidos ao regime próprio dos
atos administrativos. Não existem atos tácitos e implícitos, pois o conceito de ato pressupõe uma
declaração, uma manifestação do agente público, o que não ocorre com o fato jurídico-administrativo”.
Em face das prescrições anteriormente explicitadas neste trabalho, discorda-se, sem que isso revele
qualquer demérito ao excelente trabalho promovido pelo articulista, do entendimento assinalado, qual seja,
de que o ato implícito constitui um silêncio da Administração.
Nesse ponto, colhe-se uma precisa passagem doutrinária (MARTINS; 2008, p. 255, nota nº 149, itálico no
original):
“O chamado ato implícito não é fato jurídico, não é omissão, é um efeito implícito do ato administrativo.
Perceba-se: os atos implícitos não são fatos aos quais a norma imputa efeitos jurídicos, mas efeitos
decorrentes dos efeitos expressamente imputados pela norma à ocorrência de determinados fatos jurídicos”.
Mas, a citação não é indene de crítica, pois (a) se o ato implícito não é um fato jurídico, muito menos uma
omissão, o que se concorda plenamente, como poderá decorrer de efeitos jurídicos decorrentes de
“determinados fatos jurídicos”; e (b) naturalmente, deve-se explicitar que só podem decorrer de fatos
jurídicos em sentido amplo, de modo a comportar necessariamente os atos jurídicos administrativos, já que
todo ato implícito, conforme o entendimento defendido no trabalho, demanda a existência de um ato
administrativo expresso.
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Já que a implicitude do ato não implica sua validez.
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Corrobora, de certo modo, uma vez que não admite a forma tácita, porém não nega à implícita, o seguinte
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julgado: BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, REsp 650728/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 23/10/2007, DJe 02/12/2009.
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Vide nota de rodapé nº 03.
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Assim sendo, a mera inércia da Administração Pública não legitima, por si só, o silêncio positivo, nesse
sentido, vide: BRASIL, Superior Tribuna de Justiça, MS 4.416/DF, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE
BARROS, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/04/1996, DJ 27/05/1996 p. 17798.
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administrativa, não fora observado pela autoridade competente, como bem exemplifica a
seguinte passagem doutrinária (BRANDÃO; 2006, p. 5):
Observa-se, no entanto, que no processo legislativo, o silêncio do
Presidente da República, sobre projetos de lei, submetidos a sua
apreciação é interpretado como uma concordância, acarretando a sanção
tácita que transforma, após quinze dias, o projeto em lei.
O constituinte, na hipótese acima retratada, considerou conveniente
atribuir ao silêncio do Presidente da República o efeito positivo, com
significado de anuência. Trata-se de opção própria do constituinte
originário e que serviu para o silêncio do chefe do Poder Executivo não
paralisasse o processo legislativo.
Como o silêncio positivo impõe um efeito favorável ao administrado, por certo, a
sua ocorrência é excepcional e deve ser cercada de acurado estudo, uma vez que pode
representar insegurança jurídica, haja vista a possível inviabilidade normativa dos efeitos
concedidos no caso concreto.
Quer dizer, operando-se o silêncio positivo e toda a benesse dele decorrente, à
evidência, isso não retira a prerrogativa de autotutela administrativa da Administração
Pública. Portanto, a própria Administração Pública, após a perda do prazo para
manifestação, pode exarar uma decisão que se contrapõe aos efeitos prospectados ou
até mesmo gozados pelo administrado.
Ora, se o silêncio administrativo deixa indene o dever de manifestação do Poder
Público, por certo, não há como admitir que eventual efeito positivo do silêncio pudesse
refrear a atuação administrativa, mesmo quando esta se contraponha aos próprios
efeitos ex lege do silêncio administrativo qualificado, mormente quando este não é
condicionado às exigências legais em cada caso, por possuir efeitos materiais ou
processuais não vinculados à regularidade ou consistência do pedido administrativo, mas
à mera ocorrência da inatividade formal do Poder Público.
Ademais, sendo caso de autoexecutoriedade administrativa, o silêncio positivo pode
não só apenas não operar os seus efeitos a contento, como também causar um
desnecessário desgaste na relação existente entre Administração Pública e administrado.
Claro que o exercício, em qualquer caso, da autotutela administrativa deve guardar
o necessário respeito aos direitos e garantias fundamentais dos administrados, o que
inclui o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório, ex vi art. 5º, da CF/88.
Não obstante, o silêncio positivo pode representar um tratamento diferenciado em
face da mesma situação fática, uma vez que um administrado, que não obteve a
resposta no prazo legal, fará jus a um efeito fático-jurídico favorável; enquanto outro não
terá a mesma sorte se a manifestação tempestiva da Administração Pública for
desfavorável.
Todavia, tudo isso possui um efeito pedagógico importante, a saber, justamente
para evitar um tratamento diferenciado entre os administrados, em face de situações
fático-jurídicas iguais, que o Poder Público deve evitar a ocorrência da inatividade formal.
Por outro lado, possuindo o administrado, de fato, todos os extremos que a
situação fático-jurídica exige para a concessão do pedido administrativo, a ocorrência do
silêncio administrativo constitui uma importante ferramenta de defesa dos interesses dos
administrados, uma vez que imprime celeridade, com a resolução anômala, na
consecução da atividade administrativa pertinente.
O silêncio positivo, do ponto de vista tipológico, se classifica em (a) próprio; (b)
condicionado; e (c) implícito, como se passa a demonstrar a seguir.
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4.1.1 PRÓPRIO
4.1.2 CONDICIONADO
O silêncio administrativo positivo condicionado, por sua vez, vai mais além quanto
aos extremos caracterizadores da sua ocorrência ou, melhor dizendo, para fazer operar
os seus benéficos efeitos na ordem jurídica positiva.
Em outros termos, se no silencio administrativo positivo próprio o administrado se
limita a aguardar, dentro de um prazo legal, uma expressa manifestação da
Administração Pública; por outro lado, no silêncio administrativo positivo condicionado o
administrado deve cumprir algumas exigências materiais por sua conta e risco, bem
como atender aos parâmetros definidos ulteriormente pela Administração Pública, sob
pena de não obter qualquer benefício direto com a injustificável inércia administrativa.
Quiçá, trata-se da forma mais perversa de silêncio da Administração Pública, pois, a
rigor, trata-se de uma condição resolutória de deferimento do requerimento
administrativo interposto. E o que é pior: tudo sem saber, em alguns casos, previamente
quais condições serão exigíveis em face dos procedimentos já realizados pelo
administrado.
Portanto, a inatividade formal, in casu, constitui-se num ato de desatada
ilegalidade ou mesmo, em alguns casos, arbitrariedade, bem como afronta o princípio da
segurança jurídica, na medida em que a instabilidade na relação entre administrado e
Administração Pública, por certo, acaba por ventilar a possibilidade de vários
desdobramentos administrativos e judiciais sobre o requerimento administrativo
promovido.
Ainda que se discuta a sua legalidade, mormente no que concerne ao aspecto
temporal das exigências levantadas, trata-se de procedimento muito comum em
licenciamento de obras, pois, não raras vezes, o Poder Público não estabelece uma
precisa definição dos procedimentos ou requisitos a serem cumpridos pelos
administrados, de forma que estes ficam a mercê de novas exigências, muitas das quais
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Aqui, não se tem um silêncio administrativo positivo condicionado, pois, consoante os termos do art. 11,
caput, da Lei em cotejo, apenas a formalização do pedido de parcelamento é que é condicionada ao
pagamento da primeira prestação.
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4.1.3 IMPLÍCITO
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Aqui, é necessário um esclarecimento: como nem toda decisão do Poder Público é plenamente vinculada,
uma vez que pode ser relativamente vinculada, rectius discricionária, o pedido encetado na via judicial deve
obedecer a certos parâmetros: (1) tratando-se de ato administrativo a ser expedido no exercício de uma
competência discricionária, por certo, deve-se solicitar primeiramente uma manifestação coercitiva da
Administração Pública, negando ou concedendo o pedido, sob pena de aplicação de multa quando
inobservado o exíguo prazo judicial concedido; e (2) tratando-se de ato administrativo a ser expedido no
exercício de uma competência vinculada, por certo, o pedido pode ser requerido diretamente ao Poder
Judiciário. Ainda que se pregue o ativismo judicial, e se espera que sempre seja exercido de forma
responsável, não há como admitir a substituição do mérito do administrador pelo o do magistrado. Daí a
importância do instituto do silêncio administrativo, já que nem sempre a via judicial pode superar a
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Logo, não se pode negar que o silêncio administrativo qualificado, quando existente,
tende, por opção política, a ser negativo ao invés de positivo.
E os motivos são diversos, e nem sempre nobres, quanto à preterição do silêncio
positivo em face do negativo:
(a) de ordem econômica, o indeferimento não faz com que, a priori, o administrado
exija uma prestação material da Administração Pública, o que implica a ausência de
dispêndios;
(b) de ordem procedimental, a denegação não cria expedientes novos, apenas os
regularmente previstos e, mesmo quando faz exsurgir uma nova sede de discussões, não
se pauta em exigências que demandem a tutela de direitos materialmente dispendiosos;
(c) de ordem temporal, ainda que das vias recursais administrativas possam
resultar em benefício concreto aos administrados, por certo, a Administração Pública
disporá de maior tempo para promover o requisitado ou mesmo simplesmente discutir a
pretensão arvorada, haja vista a inexistência na via administrativa, infelizmente, de
medidas cautelares efetivas contra a inatividade formal da Administração Pública;
(d) de ordem principiológica, o silêncio positivo pode comportar, se aplicado a todos
os casos de inatividade formal, benesses que afrontem o princípio da igualdade28, da
impessoalidade e até mesmo da legalidade, na medida em que a concessão ou
denegação de uma pretensão não se encontra jungida ao efetivo direito ou à atuação da
parte, mas, tão-somente, à inatividade formal do Poder Público. Ou seja, a concessão de
efeitos positivos não afasta o dever de autotutela da Administração Pública, logo, isso
tende a levantar possíveis conflitos entre o desejado pela ordem jurídica e o contemplado
pelo administrado beneficiado pela presunção legal, quer dizer, efeitos positivos da
inatividade formal do Poder Público; e
(e) de ordem sociológica, a proposição negativa não escolhe os
sujeitos/administrados, bem como faz com que a coletividade se insurja contra a
inatividade formal do Estado, rectius expediente de pressão, logo, o indeferimento põe
em xeque a atuação administrativa que tinha o dever de se manifestar no prazo legal ou
razoável, mas não fez; ao passo que a proposição positiva pode ter aplicação seletiva,
bem como pode empreender ares de satisfação com a inércia da Administração Pública,
haja vista os possíveis benefícios advindos até mesmo contra as diretrizes legais
relacionados ao requerimento administrativo.
inatividade formal do Poder Público, cria-se, ainda na via administrativa, uma nova sede de discussão sobre
a matéria, de modo a fomentar a manifestação da Administração Pública. Afinal, o Poder Judiciário constitui
a última instância na resolução dos conflitos sociais e, nem mesmo quando instada a tanto, resolve tudo;
ademais há outras sedes, institucionais ou não, que absorvem a tarefa de resolver as pendências
decorrentes da vida em sociedade. Nesse diapasão, colhe-se demorada exposição doutrinária (GALANTER;
1993, p. 67-68):
“Em numerosos casos é possível aos interessados entenderem-se entre si de maneira muito mais
satisfatória do que aquela que poderiam conseguir profissionais, obrigados a aplicar regras de carácter geral
a um conflito de que apenas têm um conhecimento limitado. Quando estão em causa desideratos e
situações que são de uma extrema variedade, apenas um pequeno número de elementos é que pode ser
tomado em consideração através de regras formais; os conflitos são desvirtuados quando pretendemos
englobá-los em categorias reconhecidas pelos juristas e esta circunstância faz duvidar que seja desejável
resolvê-los aplicando regras imperativas pré-estabelecidas”.
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Nesse ponto, transcrevem-se as sempre precisas advertências de Bandeira de Mello (2008; p. 23, itálico no
original):
“[..] a) a lei não pode erigir um critério diferencial um traço tão específico que singularize no presente e
definitivamente, de modo absoluto, um sujeito a ser colhido pelo regime peculiar”;
“b) o traço diferencial adotado, necessariamente há de residir na pessoa, coisa ou situação a ser
discriminada; ou seja: elemento algum que não exista nelas mesmas poderá servir de base para assujeitá-
las a regimes diferentes”.
16
4.2.1 PRÓPRIO
4.2.2 CONDICIONADO
4.2.3 IMPLÍCITO
O silêncio administrativo interno pode ser concebido sob duas variações, quais
sejam, (a) a ausência de manifestação ou decisão de um órgão controlador sobre um ato
praticado pelo órgão controlado; ou (b) a ausência de aquiescência ou reprovação de um
órgão sobre um ato praticado por outro órgão, como se observa com relação aos atos
compostos e complexos.
Numa contextualização mais ampla sobre a temática, pode-se mencionar que o
silêncio administrativo interno igualmente ocorre quando se tem apenas a figura de
servidores ao invés de órgãos da Administração Pública. Assim sendo, constitui também
silêncio administrativo interno (a) a ausência de manifestação ou decisão de um servidor
controlador sobre um ato praticado pelo servidor controlado; ou (b) a ausência de
aquiescência ou reprovação de um servidor sobre um ato praticado por outro servidor, o
que pode ocorrer nos casos em que são exigidas duas manifestações de vontades.
Veja-se que a classificação leva em conta, tão-somente, o destinatário da decisão
exigida pela ordem jurídica, que será sempre um órgão da Administração Pública. No
mais, isso implica dizer que o silêncio administrativo interno pode assumir formas
qualificadas, quer dizer, positivo ou negativo, bem como simplesmente inominada, quer
dizer, sem quaisquer efeitos decorrentes da inatividade estatal dos órgãos ou dos seus
agentes.
Aqui, certamente, a questão ganha um contorno mais denso, pois se o silêncio não
é qualificado, positivo ou negativo, mas simplesmente silêncio da Administração Pública,
o que o distingue da simples inatividade da Administração Pública? A resposta não pode
ser outra: a existência de um dever formal de decidir/controlar/regulamentar.
Enquanto a inatividade administrativa em sentido estrito não representa
concretamente uma afronta a um dever legal, o silêncio administrativo inominado
18
constitui uma inobservância da lei e, mais que isso, acaba por perdurar uma situação de
insegurança jurídica, na medida em que a ausência de decisão não faz exsurgir a
concessão ou denegação do requerido, o que pode revelar uma concreta afronta ao
princípio da duração razoável do processo, ex vi art. 5º, inciso LXXVIII, da CF/88.
Ademais, como toda forma de inatividade formal da Administração Pública, constitui
uma refinada forma de ilegalidade, agravada pela inexistência de efeitos jurídicos
imediatos com a inércia perpetrada pelo Poder Público.
Por tudo que foi exposto, sem maior demora, tem-se que a teoria do silêncio
administrativo busca minorar os danos decorrentes da inatividade formal do Poder
Público, daí a sua inarredável função política, na medida em que prestigia, ainda que de
forma parcial na maioria das vezes, um benefício concreto ao administrado, como bem
ressalta o trecho a seguir (CUDOLÀ; 1996, p. 210):
Decimos que es parcial por cuanto intenta solucionar jurídicamente esta
conducta pasiva bien posibilitando el acceso del ciudadano a los tribunales
(silencio negativo), bien consolidando ciertas situaciones del particular
frente a reacciones tardías de la Administración pública (silencio positivo).
Como se pode perceber o silêncio administrativo não constitui uma via ortodoxa de
resolução dos conflitos, contudo, apresenta resultados satisfatórios se comparados com a
simples inatividade formal do Poder Público. Todavia, mais adiante, adverte o
doutrinador (CUDOLÀ, 1996; p. 211):
Tales ventajas se producen esencialmente en cuanto facilita el acceso a
los tribunales, produciendo em cambio mayores problemas cuando se
pretende conceder al particular lo solicitado por el mero transcurso del
tiempo. En este último se produce una permanente tensión entre interés
público e interés privado que no siempre queda bien resuelto con los
efectos estimatorios del silencio.
A tensão acima explicitada se deve aos efeitos materiais concretos decorrentes do
silêncio positivo, pois, como já explicado, tais efeitos tendem a gerar contraposições de
interesses, de modo a fomentar uma relação conflituosa entre a Administração Pública e
o administrado ao invés de solucionar as refregas. Em todo caso, positivo ou negativo, os
benefícios são maiores que os malefícios, na medida em que estabelecem critérios e
meios para contornar a inatividade formal do Poder Público.
Ademais, não se pode conceber a teoria do silêncio administrativo como estímulo à
inatividade formal do Estado; ao revés, trata-se de instituto destinado a promover
posições ou situações jurídicas que empreenda celeridade aos trâmites administrativos e
que, à evidência, não exime a Administração Pública do dever de decidir, ex vi arts. 48 e
49 da LGPAF.
Destarte, a teoria do silêncio administrativo encontra supedâneo nos princípios da
segurança jurídica e da duração razoável do processo, pois (a) tende a consolidar
situações ou posições jurídicas, mas quando o silêncio administrativo for inominado; e
(b) obtém uma maior celeridade para conclusão dos processos, haja vista os efeitos
anômalos decorrentes da inatividade formal por força de lei, no caso de silêncio
administrativo qualificado.
Vale destacar que, na perspectiva do administrado, por um lado, há uma relação de
confiança de que Administração Pública vá desenvolver suas atividades no prazo legal;
por outro, na hipótese de não cumprimento do dever legal, de que o silêncio
administrativo qualificado represente um instrumento relativamente satisfatório para
contornar a situação de incerteza gerada pela ausência de manifestação do Poder
Público.
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29 Nesse ponto, urge mencionar uma necessária advertência, na qual relativiza o acima mencionado, nestes
termos (MENDES, 2005, p. 130, itálico no original):
“Entende a doutrina que no Brasil o contencioso administrativo propriamente dito teria surgido a partir de
duas leis de 22 de dezembro de 1761 de iniciativa do Marquês de Pombal, que criaram o Conselho da
Fazenda. Ao Conselho da Fazenda foi confiada a „jurisdição contenciosa‟, cabendo-lhe conhecer as causas
relativas à dívida ativa da Fazenda Real. Posteriormente, outras jurisdições contenciosas foram sendo
outorgadas a diferentes órgãos da administração”. [...]
“O contencioso administrativo veio a ser totalmente abolido com a Constituição Federal de 1891. Esta, em
seu artigo 60, estabelecia que competia aos juízes ou tribunais federais, processar e julgar todas as causas
propostas contra „b) todas as causas propostas contra o Governo da União ou Fazenda Nacional, fundadas
em disposições da Constituição, leis e regulamentos do Poder Executivo, ou em contratos celebrados com o
mesmo Governo; c) as causas provenientes de compensações, reivindicações, indenização de prejuízos ou
quaisquer outras propostas, pelo Governo da União contra particulares ou vice-versa”.
A questão só veio à baila, mas sem êxito, com a “Constituição de 1969” que, no seu art. 111, assim tocava
a matéria:
“Art. 111. A lei poderá criar contencioso administrativo e atribuir-lhe competência para o julgamento das
causas mencionadas no artigo anterior (Artigo 153, § 4º)”.
Como a matéria nunca foi regulada, à evidência, o contencioso não passou de um vislumbre do Poder
“Constituinte” Reformador. Por fim, a temática voltou à tona com a EC 7/1977, mas, é certo, sem qualquer
efetiva materialidade quanto aos seus propósitos. Transcreve-se a Emenda no que se considera pertinente:
“Artigo único. Ficam incorporadas ao texto da Constituição Federal as disposições resultantes das emendas
aos artigos adiante indicados, bem assim incluídos, em seu Título V, os artigos 201 a 207 e suprimido o
parágrafo único do artigo 122”.
[...]
“Art. 203. Poderão ser criados contenciosos administrativos, federais e estaduais, sem poder jurisdicional,
para a decisão de questões fiscais e previdenciárias, inclusive relativas a acidentes do trabalho (Art. 153, §
4º)”.
“Art. 204. A lei poderá permitir que a parte vencida na instância administrativa (Artigos 111 e 203) requeira
diretamente ao Tribunal competente a revisão da decisão nela proferida”.
“Art. 205. As questões entre a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e respectivas autarquias,
empresas públicas e sociedades de economia mista, ou entre umas e outras, serão decididas pela
autoridade administrativa, na forma da lei, ressalvado ao acionista procedimento anulatório dessa decisão”.
[...]
20
se perdeu no tempo e, ainda hoje, sua ocorrência é bem dispersa no escarcéu de normas
do Direito Público brasileiro.
Em todo caso, discussões sobre o silêncio da Administração Pública sempre foi
ocorrente nos tribunais pátrios30, sem, contudo, divisar a importância do instituto do
silêncio administrativo, mas, tão-somente, para solucionar algum questionamento
relativo à inatividade formal, ou mesmo material, do Poder Público.
Assim sendo, aspectos históricos sobre o instituto não são encontrados nas raras
monografias31 obtidas sobre a matéria no Brasil, de forma que apenas se discute a
natureza e as possíveis relações do instituto com outras temáticas do Direito Público.
Como o instituto ainda não foi regulado de forma sistêmica no âmbito federal, mas
apenas encontrado de forma esparsa, em algumas leis federais, como será demonstrado
no próximo tópico, e, geralmente, sob a forma de silêncio administrativo negativo, é
natural que inexista uma esteira histórica relativa à inatividade formal da Administração
Pública.
Todavia, para fins de registro, no âmbito estadual já existe uma clara regulação do
instituto, como se pode observar na Lei nº 10.177, de 30 de dezembro de 1998, que
regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública do Estado de São
Paulo, precisamente, no art. 33 32, nestes termos:
Artigo 33 - O prazo máximo para decisão de requerimentos de qualquer
espécie apresentados à Administração será de 120 (cento e vinte) dias, se
outro não for legalmente estabelecido.
§ 1º - Ultrapassado o prazo sem decisão, o interessado poderá considerar
rejeitado o requerimento na esfera administrativa, salvo previsão legal ou
regulamentar em contrário.
§ 2º - Quando a complexidade da questão envolvida não permitir o
atendimento do prazo previsto neste artigo, a autoridade cientificará o
interessado das providências até então tomadas, sem prejuízo do disposto
no parágrafo anterior.
§ 3º - O disposto no § 1º deste artigo não desonera a autoridade do dever
de apreciar o requerimento.
A rigor mesmo, apenas o art. 205 poderia ser entendido como contencioso administrativo, haja vista o
sistema fechado de resolução dos conflitos. A Constituição de 1988, como se sabe, não contempla a figura
do contencioso administrativo, ex vi art. 5º, inciso XXXV. O termo contencioso administrativo é, contudo,
equívoco! Claro que existem conflitos de interesses, bem como julgadores e tribunais na seara
administrativa, inclusive com o mesmo dever de observância e de aplicação do direito dispensado aos
magistrados, o que não existe é a exclusividade e definitividade para resolução de tais contendas, de modo
que melhor seria chamar de instância [ou sede] decisória administrativa para definição de
situações/posições jurídicas [ou de resolução de conflitos].
30 Vide: (a) BRASIL, Supremo Tribunal Federal, RE 115033, Relator: Min. Carlos Madeira. Segunda Turma.
Julgado em 05/02/1988, DJ 11-03-1988, pp 04749, Ementa Vol. 01493-04, pp 00790. In:
<www.stf.jus.br>. Acesso em 18 mai. 2010; (b) BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº
16284/PR. Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros. Primeira Turma. Julgado em 16/12/1991, DJ
23/03/1992, p. 3447. In:<www.stj.jus.br>. Acesso em 29 mai. 2010.
31 As seguintes: (1) FARIA, Adriana Ancona de. Silêncio Administrativo. 2002. 176f. Dissertação (Mestrado).
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). São Paulo: 2002; e (2) MENDES, Fernando Marcelo.
Discricionariedade administrativa e os princípios da proporcionalidade, da razoabilidade e da motivação no
controle jurisdicional do silêncio administrativo. 2005. 194f. Dissertação (Mestrado). Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP). São Paulo: 2005. Por fim, urge mencionar que não foram encontrados
livros tratando especificamente sobre a temática na literatura pátria.
32 Igual disposição, porém em sede recursal, é prevista no art. 50 da Lei em cotejo. Curiosamente renomado
administrativista pátrio trata a questão como “rejeição implícita do pedido” (FERRAZ, 2006, p. 297).
21
33
A maioria dos exemplos, quanto à referência normativa, foram extraídos do seguinte trabalho: SADDY,
André. Efeitos jurídicos do silêncio positivo no direito administrativo brasileiro. Revista Brasileira de Direito
Público (RBDP). Belo Horizonte: Fórum, ano 7, n. 25, abr./jun. 2009, p. 45-80.
34
Não se vai questionar, aqui, até porque demandaria uma exposição demorada, quais os possíveis efeitos da
autorização ou licença concedida, tendo em vista as particularidades materiais que cada edificação deve
comportar para atender à legislação de determinado Município. Para uma análise mais demorada no
assunto, consultar: PIRES, Luís Manuel Fonseca. Licenças urbanísticas e o silêncio administrativo: as tutelas
judiciais possíveis diante da omissão da Administração Pública. Fórum de Direito Urbano e Ambiental –
FDUA. Belo Horizonte, ano5, n. 28, jul/ago de 2006, p. 3.461-3.484.
35
Sobre a temática, consultar: SUNDFELD, Carlos Ari; CÂMARA, Jacinto Arruda. Silêncio administrativo e
renovação de autorizações de uso de radiofrequência: o caso MMDS. Revista de Direito de Informática e
Telecomunicações - RDIT. Belo Horizonte. Ano 3, n. 4, jan/jun 2008, p. 09-24.
22
8 CONCLUSÃO
23
REFERÊNCIAS
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São Paulo:
Malheiros, 2008.
ARAÚJO, Edmir Netto de. Curso de Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade. 3. ed. São
Paulo: Malheiros, 2008.
______. Serviço público e poder de polícia: concessão e delegação. Revista Trimestral de Direito
Público (RTDB). São Paulo, v. 23, p. 12-23, jul./set. de 1998.
36
O tratamento do silêncio administrativo em face (a) de relações específicas com a LGPAF; (b) da prescrição
e da decadência; e (c) da responsabilidade patrimonial do Estado, por certo, serão abordados em artigos
próprios.
37
Claro que o direito de representação, ex vi art. 1º da Lei nº 4.898/65, não constitui o meio mais eficaz para
fazer mover a inatividade formal da Administração Pública, precipuamente porque somente se aplica aos
casos de abuso de autoridade.
24
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra:
Almedina, 2003.
FARIA, Adriana Ancona de. Silêncio Administrativo. 2002. 176f. Dissertação (Mestrado). Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). São Paulo. 2002.
FERRAZ, Sérgio. Processo Administrativo: prazos e preclusões. In SUNDFELD, Carlos Ari; MUÑOZ,
Guilhermo Andrés (Coords.). As leis de processo administrativo (Lei Federal 9.784/99 e Lei Paulista
10.177/98). São Paulo: Malheiros, 2006, p. 280-301.
GALANTER, Marc. A justiça não se encontra apenas nas decisões dos tribunais. In HESPANHA,
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GORDILLO, Agustín. Tratado de Derecho Administrativo. El acto administrativo, Tomo 3. 6 ed. Belo
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JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
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Vol. II.
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inadvertido y unas posibilidades inéditas. Revista de Administración Pública (RAP). Madrid. Número
159, p. 87-135, Septiembre-diciembre, 2002.
SADDY, André. Efeitos jurídicos do silêncio positivo no direito administrativo brasileiro. Revista
Brasileira de Direito Público (RBDP). Belo Horizonte, ano 7, n. 25, p. 45-80, abr./jun. 2009.