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Anjos Caidos e As Origens Do Mal
Anjos Caidos e As Origens Do Mal
Em síntese: Este livro pretende restaurar uma concepção judaica – professada pelo
apócrifo livro de Enoque – segundo a qual o mal começou no mundo quando anjos
perversos se encarnam e tiveram contato sexual com mulheres, nascendo daí nefilim
ou gigantes. Esses anjos maus, ditos “Vigilantes” ensinaram à humanidade artes
mágicas e perversas. – Ora tal tese, que a autora do livro julga endossada por Jesus
Cristo, é descabida, pois a encarnação de anjos é um postulado gratuito e pouco
condizente com a Sabedoria Divina. As semelhanças apontadas entre o livro de
Enoque e os Evangelhos são vagas e não convencem.
A Sra. Elizabeth Clare Prophet é uma estudiosa da Religiosa, que tem viajado pelos
Estados Unidos, dando palestras sobre anjos, profecias, reencarnação... Entre os seus
escritos, encontra-se a obra traduzida para o português com o título “Anjos Caídos e
as origens do Mal”¹. Recorre ao apócrifo livro de Henoque, na esteira dos autores que
atualmente privilegiam a literatura apócrifa. – Detenhamo-nos no conteúdo do livro.
1. A tese da autora
A Sra. Elizabeth Prophet procura reabilitar a proposição do apócrifo livro de Henoque
segundo a qual o mal começou no mundo quando anjos encarnados vieram à Terra e
tiveram cópula carnal com mulheres, dando origem a gigantes (nefilim). Esses anjos
maus continuam presentes na história da humanidade e são responsáveis por
desgraças ainda hoje ocorrentes:
“Com base em evidências convincentes retiradas de diversas fontes, nossa tese
confirma o Livro de Enoque: existem realmente anjos caídos, eles encarnaram na
Terra e corromperam as almas do seu povo e eles serão julgados pelo Eleito no dia do
retorno de seus servos eleitos. Nossa tese deve também, por força da lógica, mostrar
que estes anjos caídos (juntamente com a progênie dos Nefilim, expulsos do céu por
São Miguel Arcanjo), continuaram a encarnar na Terra ininterruptamente durante pelo
menos meio milhão de anos” (p. 14s).²
“Acredito que Jesus assumiu o manto de Enoque como mensageiro do Ancião dos
Dias e da sua profecia sobre os Vigilantes. Acredito que o filho de Davi veio com a
autoridade do nosso Pai Enoque, que disse: “Assim como ele criou e deu ao homem o
poder de entender a palavra de sabedoria, criou e deu também a eles o poder de
reprovar os Vigilantes, a progênie do céu”. De fato, Jesus veio cumprir a lei e a
profecia do julgamento pelo Verbo encarnado!”.
À p. 32 se lê:
“A história de Paulo sobre o “homem em Cristo” que foi arrebatado até o terceiro céu
dentro ou fora do corpo (Paulo não dá esta informação) pode referir-se à descrição
que Enoque faz dos vários céus, incluída no livro principal de Enoque e citada no Livro
de Segredos de Enoque...
O apóstolo João, autor e amanuense para a Revelação bíblica de Jesus Cristo, o Livro
do Apocalipse, chegou ainda mais perto do simbolismo e das descrições de Enoque.
Muitas das suas visões, familiares aos leitores da Bíblia, podem também ser
encontradas no Livro de Enoque: “Senhor dos senhores, Rei dos reis”, o demônio
sendo lançado no lago de fogo, a visão dos sete Espíritos de Deus, a árvore cujos
frutos estão reservados aos eleitos, as quatro bestas ao redor do trono e o livro da
vida”.
O golpe definitivo contra tal hipótese foi desferido por S. Agostinho no século V:
“Agostinho afirma que a frase “filhos de Deus” no Gênesis 6 refere-se aos filhos de Set
que tomaram como esposas as filhas de Caim, chegando à mesma conclusão de Júlio
Africano – um atalho usado pela maioria dos padres da Igreja a fim de não admitir a
encarnação dos anjos” (p. 67)¹.
Na primeira e na quarta capas do livro lê-se que “a revelação do livro de Henoque foi
inadvertidamente omitida e desvirtuada pela Igreja através da história”. Toda via no
corpo do livro não se encontra explicitação desses dizeres. A “revelação” de Henoque
foi posta de lado pelo bom senso mesmo e a lógica das gerações cristãs.
Pergunta-se agora:
2. Que pensar?
Henoque (Gn 5, 21-24) é o sétimo personagem da linhagem dos setitas, filho de Jared
e pai de Matusalém; é o menos longevo de todos os da série, pois viveu apenas 365
anos, após os quais foi arrebatado por Deus sem provar a morte. Tornou-se assim
muito caro à tradição judaica.
Os rabinos não discutiram o gênero literário desta secção, mas acrescentaram aos
dados bíblicos as próprias elucubrações: Henoque terá recebido de Deus a
autorização para revelar aos homens o juízo que tocará a anjos maus que se
perverteram com mulheres e ensinaram artes mágicas aos homens.
O livro que daí resultou, data dos século II/I a.C.; foi escrito em hebraico (capítulos 1-5
e 37-108) e aramaico (cap. 6-36). O texto original perdeu-se. Existem, porém,
traduções diversas (grega, etíope, latina).
- discurso de Henoque sobre o juízo final, que deve fazer tremer os pecadores; cap. 1-
5;
- descrição da queda dos anjos e de viagens pelo paraíso terrestre e o inferno; cap. 6-
36;
- discurso das parábolas, que ilustram a sorte póstuma dos justos e a dos pecadores,
com referência ao Messias dito “Eleito” e “Filho do Homem”; cap. 37-71;
- livro das visões, que refere a história do mundo desde Adão até Moisés; cap. 83-90;
Verdade é que Jd 6 e 2Pd 2, 4 citam o castigo prometido por Henoque aos anjos
prevaricadores; isto, porém, não basta para dizer que tal livro é inspirado; apenas se
pode concluir que o livro de Henoque oferecia argumento válido para corroborar
quanto São Pedro e São Judas queriam dizer.
Em suma o livro em foco é mais uma expressão da investigação dos apócrifos como
se fossem arautos de um Cristianismo renovado e surpreendente, quando na verdade
vêm a ser o testemunho do modo de pensar (por vezes, fantasioso e simplório) dos
antigos judeus e cristãos.
Para o fiel católico, a origem do mal está no pecado dos primeiros pais. Estes foram
elevados ao estado de justiça original, mas nele não perseveraram em razão de sua
soberba; quiseram ser como Deus, árbitros do bem e do mal. Disseram Não a Deus –
o que os despojou da riqueza da graça e os tornou sujeitos à morte violenta e seus
precursores. A humanidade sofre as conseqüências desta culpa, já que há
solidariedade entre as gerações. Todavia, logo após a culpa e sua punição, é
prometido o Salvador (Gn 3, 15) o que envolve a própria realidade do pecado e de
suas conseqüências num plano de amor e misericórdia de Deus para com a criatura.
APÊNDICE
DO LIVRO DE HENOQUE
Capítulo 7
3. Então Samyaza, seu líder, disse: Temo que talvez não possais realizar esta tarefa;
6. E nos ligamos por execrações mútuas, para que não modifiquemos nossa intenção
de executar o que resolvemos.
9. Estes são os nomes de seus chefes: Samyaza, que era o líder, Urakabarameel,
Akibeel, Tamiel, Ramuel, Danel, Azkeel, Sarakmyal, Asael, Armers, Batraal, Anane,
Zavebe, Samsaveel, Ertael, Turel, Yomyael, Arazael. Eles comandaram os duzentos
anjos que juntos os seguiram.
10. Tomaram esposas, cada um escolhendo a sua. Aproximaram-se delas e com elas
coabitaram, ensinando-lhes feitiçaria, encantamento e as propriedades das raízes e
árvores.
11. As mulheres deram à luz os gigantes,
12. Cuja estatura atingia trezentos côvados. Eles comeram tudo que havia sido
produzido pelo trabalho dos homens até que se tornou impossível alimentá-los.
14. E começaram a ferir os pássaros, bestas, répteis e peixes para comer sua carne e
beber seu sangue.
Capítulo 8