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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 5ª REGIÃO

3ª. TURMA
RECURSO ORDINÁRIO Nº 0031800-63.2008.5.05.0014RecOrd
RECORRENTE(s): Antonio Sérgio dos Santos Gomes
RECORRIDO(s): Sasil Comercial e Industrial de Petroquímicos Ltda.
RELATOR(A): Desembargador(a) HUMBERTO JORGE LIMA MACHADO

JORNADA DE TRABALHO. ESPELHOS DE PONTO


APÓCRIFOS. A ausência de assinatura dos empregados nos
registros de ponto, por si só, não os invalida. Necessária a
demonstração cabal de fraude na sua confecção.

ANTÔNIO SÉRGIO DOS SANTOS GOMES, nos autos da


reclamação trabalhista em que contende com SASIL COMERCIAL INDUSTRIAL
DE PETROQUÍMICOS LTDA., interpõe RECURSO ORDINÁRIO contra a r.
Sentença de fls. 306/315, pelos fundamentos expostos às fls. 318/322. As
contrarrazões foram aduzidas às fls. 327/330. Presentes os pressupostos de
admissibilidade do recurso. É o relatório.

VOTO

PRELIMINAR DE NULIDADE DO PROCESSO

Suscita o Reclamante a preliminar de nulidade do processo,


por cerceamento do direito de defesa, sustentando que o n. Julgador a quo
indeferiu o pedido de realização de nova perícia, baseando suas conclusões em
laudo pericial sem fundamentação e inconclusivo.

Improcedem suas alegações.

O parecer técnico acostado às fls. 259/266 não contem os


vícios apontados pelo Recorrente. O expert tratou de descrever, com as minúcias
necessárias, a enfermidade do Autor, caracterizando-a como degenerativa,
inclusive apresentando, com ilustrações, o conceito médico-científico, para então
fazer o paralelo com a situação dos autos.

Em verdade, o Demandante demonstra, tão-somente, seu


inconformismo com as razões de convencimento do n. Julgador de primeiro grau,
sendo natural e compreensível a sua frustração sobre o resultado final do trabalho

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conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
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do Perito do Juízo, na medida em que suas conclusões lhe foram inteiramente


desfavoráveis. Tal situação, todavia, não enseja a nulidade arguída ou violação
de qualquer disposição legal.

Não se pode perder de vista que a prova técnica, in casu,


atingiu seu objetivo maior, que foi o de auxiliar o Juízo na interpretação dos fatos
e no deslinde da controvérsia. O fato de o Empregado não aceitar a conclusão da
perícia não autoriza a nulidade do Julgado. No mais, não se pode pretender, por
meio de intermináveis quesitos, que o perito satisfaça a pretensão dos litigantes.
Não é a prestação jurisdicional, entregue de forma desfavorável à parte, que
enseja a nulidade processual, mas sim o vício capaz de causar prejuízo na
condução do processo e, via de consequência, aos integrantes da lide.

E, conquanto o Autor tenha impugnado o laudo, não trouxe


aos autos um único elemento de prova que pudesse infirmar a conclusão do
Perito Judicial, o que levou o n. Julgador de origem a acatá-la integralmente.

É imperioso notar, ainda, que o Reclamante continua


trabalhando nas mesmas funções em outra Empresa e que também não há
qualquer notícia de afastamento das suas atividades em razão da doença que
alega ser portador, sendo certo que também não houve concessão de benefício
previdenciário por aquele ou por outro motivo, exatamente porque o INSS não
considera, em regra, a referida doença como incapacitante. Nesse passo, saliento
que a alínea “c”, do § 1º, do artigo 20, da Lei nº 8.213/91, é expressa ao dispor
que: “não são consideradas como doença do trabalho a que não produza
incapacidade laborativa.”

REJEITO a preliminar de nulidade processual.

MÉRITO

JORNADA DE TRABALHO - CARTÕES APÓCRIFOS

Insurge-se o Recorrente contra a r. Decisão do Juízo de


primeiro grau, que indeferiu o pedido de horas extraordinárias. Sustenta que a
maioria dos cartões de ponto juntados pela Reclamada e utilizados como meio de
prova são apócrifos.
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Não lhe assiste razão.

Inicialmente, esclareço que a simples ausência de assinatura


do Empregado nos registros de ponto, por si só, não os invalida, ainda mais
quando o conjunto probatório residente nos autos confirma que os horários eram
corretamente marcados. Necessária a demonstração cabal de fraude na sua
confecção, o que não ocorre nos autos em exame. Nesse sentido, transcrevo o
seguinte aresto da lavra da n. Desembargadora deste Regional, in verbis:

“CARTÕES DE PONTO APÓCRIFOS. CONTROLE DE


JORNADA CONFIRMADO PELO RECLAMANTE E POR
TESTEMUNHA. VALIDADE. Apesar de os cartões de ponto
juntados pela reclamada serem apócrifos, porque não
assinados pelo empregado, tendo o reclamante e a
testemunha que conduziu a Juízo confirmado que eles
representam à exata, a realidade da jornada por eles
desenvolvida, devem servir como meio de prova do horário
de trabalho para efeito de cômputo de horas extras. Processo
0075800-44.2009.5.05.0102 RecOrd, ac. nº 012159/2010,
Relatora Desembargadora DALILA ANDRADE , 2ª. TURMA,
DJ 29/04/2010.”
Examinando o caderno processual, constato que nem todos
cartões de ponto são apócrifos. Os espelhos de ponto de fls. 46/51 possuem a
assinatura do Demandante, o que não ocorre com os controles de fls. 52/66.
Todavia, não se verifica qualquer disparidade dentre os horários consignados em
ambos os registros, os quais se encontram compatíveis com as declarações
colhidas na audiência de instrução de fls. 303/304. Ademais, do cotejo dos
aludidos documentos com as folhas de ponto, nota-se que os excessos neles
consignados foram devidamente quitados pela Recorrida, razão pela qual nada
mais é devido ao Trabalhador.

Neste diapasão, faz-se necessário a transcrição dos trechos


dos depoimentos do Reclamante e da testemunha, ipsis litteris:

“que atualmente está trabalhando como soldador; que


atualmente trabalha como soldador para uma empresa
chamada SEGELEC, isto desde 2007; que às vezes usava
protetor auricular e outras vezes não, porque nem sempre a
empresa disponibilizava o equipamento para os seus
empregados; que a empresa lhe dava mascara, óculos e

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luva; que quando recebia os EPIs o reclamante assinava as


fichas correspondentes à entrega; (...) que mesmo quando
fazia horas extras o reclamante batia os cartões de ponto nos
horários efetivamente trabalhados; que no final do mês
assinava os respectivos espelhos de ponto; que seja da sua
lembrança o reclamante nunca deixou de assinar qualquer
espelho de ponto; que o reclamante assinava o espelho de
ponto uma vez por mês; que as assinaturas eram colhidas no
setor pessoal da empresa; que as assinaturas dos espelhos
de ponto eram feitas nos dias em que eram feitos os
pagamentos; (...) que o trabalho aos sábados também eram
anotados em cartões de ponto.”(Grifos nossos).
“que trabalhou junto com o reclamante; que o depoente era
encarregado do reclamante; que o reclamante trabalhava das
07h30min as 12:00 h e das 13:30 h às 17:00 h; que o
reclamante trabalhava de segunda a sábado, sendo que aos
sábados o trabalho era até as 11:30 h; que o reclamante tinha
uma hora e trinta minutos para refeição e descanso; que
acontecia de se ultrapassar os horários das 17h30min, mas
isso não era freqüente indo ate as 18:00 h, aproximadamente;
que quando isso acontecia, o reclamante efetuava o
correspondente registro em cartões de ponto; que o
depoente não tem conhecimento se acontecia de o
reclamante não assinar os espelhos de ponto no final do mês;
que o reclamante trabalhou no tempo do depoente um ou
dois domingos, mas quando isso aconteceu houve o
correspondente registro em cartões de ponto; que o trabalho
aos domingos em regra eram nos mesmos horários dos
sábados; que não havia folga compensatória e sempre que
havia trabalho aos domingos era feito o pagamento como
extra; que o reclamante usava equipamentos de proteção
individual, sendo que na equipe se comentava que o
reclamante era um dos mais cuidadosos com relação ao uso
desses equipamentos; que o depoente nunca presenciou o
reclamante trabalhando sem os EPIs; que o reclamante
nunca comentou com o depoente que tivesse algum
problema auditivo; que também nunca ouviu nenhum
comentário sobre o fato de terem caído fagulhas nos ouvidos
do reclamante.” (Destaques ausentes no original).
In casu, constata-se que a jornada de trabalho do Empregado
era devidamente registrada, sendo certo ainda que a única testemunha que foi
inquirida em Juízo negou que o Obreiro extrapolasse a jornada nos moldes por
ele informados, o que levou o n. Magistrado de origem a considerar válida a prova
documental produzida pela Empresa.

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Em suma, o Reclamante efetivamente não se desincumbiu do


encargo probatório que lhe competia, porque a Reclamada trouxe aos autos os
seus controles de jornada, alguns devidamente assinados e outros corroborados
pela prova testemunhal, que não foi infirmada por quaisquer outros elementos de
convicção.

Por conta disso, considero como válidos os controles


juntados, não havendo que se falar em prevalência do horário apontado na inicial.

NEGO PROVIMENTO ao Recurso do Reclamante.

Isto posto, acordam os Desembargadores da 3ª. TURMA do


Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região, à unanimidade, REJEITAR a
preliminar de nulidade processual e, no mérito, também unanimemente, NEGAR
PROVIMENTO ao Recurso do Reclamante.//

Salvador, 15 de março de 2011 (terça-feira).

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