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12/11/2018 O melhor disco de 2018 - 10/12/2018 - Ronaldo Lemos - Folha

Ronaldo Lemos (/colunas/ronaldolemos/)


ronaldo@itsrio.org (mailto:ronaldo@itsrio.org)

O melhor disco de 2018


Congo é um lobisomem musical, que só poderia mesmo ter nascido nas ladeiras de
BH

10.dez.2018 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2018/12/10/)

Fim do ano se aproximando, hora de fazer listas para recapitular este ano
atípico. O melhor disco de 2018 —na opinião deste colunista e da prestigiosa
revista inglesa The Wire—é “Congo”, uma pérola criada pelo músico,
guitarrista, escritor e filósofo mineiro Rodrigo Tavares. 

O disco é uma reflexão meditativa e emocional sobre a tradição da música


popular em nosso país. 

É também um “maverick”, diferente das correntes musicais em curso, mas


que cria seu próprio lugar na linhagem do jazz, da MPB, da bossa nova e até
do rock. Em outras palavras, “Congo” é um lobisomem musical, que só
poderia mesmo ter nascido nas ladeiras de Belo Horizonte.

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12/11/2018 O melhor disco de 2018 - 10/12/2018 - Ronaldo Lemos - Folha

Capa de Congo, disco de Rodrigo Tavares; álbum foi considerado o melhor de 2018 pela revista
The Wire - Reprodução

Rodrigo aprendeu a tocar violão e guitarra aos 11 anos. Na adolescência,


chegou a fazer shows. No entanto, sua música submergiu quando começou a
cursar comunicação na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e
depois estudos culturais no Goldsmiths College, em Londres. 

Nesse período, manteve-se ativo como nunca musicalmente, mas recolhido


ao universo privado.

Para sair da reclusão, foi preciso uma epifania ao assistir a um show


improvável do grupo Sun City Girls em um clube de beira de estrada em
Pouso Alegre. Ali começou o projeto de gravar. Para isso, recrutou o baterista
Felipe Continentino e o baixista Pedro Santana. 

Quem ouve o disco tem dificuldade de identificar o que é composição e o que


é improvisação, dado o esmero com que Rodrigo concebeu o álbum, que tem
ainda guitarra, saxofone, vibrafone e uma participação arrebatadora de um
teclado Fender Rhodes em momento épico.

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12/11/2018 O melhor disco de 2018 - 10/12/2018 - Ronaldo Lemos - Folha

Apesar de ser virtualmente desconhecido no Brasil, a imprensa internacional


já descobriu Rodrigo Tavares. A Wire —principal revista de música da
Inglaterra— fez uma reportagem de página inteira com ele em maio. 

Na edição de fim de ano, posicionou seu disco em primeiro lugar na lista


“Global” dizendo se tratar “de uma exploração sobre o funcionamento
interno da modernidade brasileira, no qual o poder da história e tradição são
interrogados como pensamento novo, adequado para servir à
incandescência e tensão do momento presente”.

Perguntei a Rodrigo se ele concorda com essa descrição da Wire.

Ele me respondeu que “é importante também dar um pouco de ombros à


discussão em torno da tradição da música brasileira. Já nem sabemos bem o
que é o Brasil. Portanto, o que vale são os gestos que possam abrir
caminhos, inventar coisas, escapar desse presente anacrônico”.

O álbum está disponível no Spotify e nas principais plataformas digitais. Foi


também lançado em vinil pelo selo inglês Hivemind. 

Curiosamente, Rodrigo afirma que foi o lançamento em vinil —mídia velha—


que fez com que sua música fosse notada. 

Nas palavras dele: “Sem o vinil, talvez ‘Congo’ ficasse submerso no mar de
lançamentos que acontecem todos os dias nas plataformas digitais”. O que
ilustra bem o jogo entre presente, passado e futuro que “Congo” representa
enquanto música universal brasileira.

Isso nos faz lembrar que não há vazio. Todos os dias obras extraordinárias
são produzidas e lançadas. Só que muitas vezes não há ninguém para prestar
atenção.

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Ronaldo Lemos
Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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