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.Comédia (9)
La vie sur terre, 1998, Abderrahmane Sissako.
.Documentário (7) .Drama
O papel da música no cinema africano
(46)
.Musical (5)
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Cine África: O papel da música no cinema africano https://cine-africa.blogspot.com/2011/07/o-papel-da-musica-no-cinem...
Continua necessária uma análise mais atenta do uso da música no cinema africano, não
apenas para seus críticos e amantes, mas para qualquer um preocupado em entender
melhor o lugar da música nas vidas dos africanos. Pois o cinema é mais do que a
consciência artística de um povo; é uma janela para seus desejos, paixões e frustrações,
e o assistindo seriamente, podemos ver além daqueles lugares-comuns estéreis e
redutores tão amados por teóricos no ocidente.
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O conceito do griot como narrador, enquanto útil para uma análise dos diretores acima
mencionados, deve ser ampliado para levar em conta a importância da dança e,
principalmente, da coreografia. A música, neste contexto, serve como um veículo para a
propagação de posturas críticas e artísticas em relação a diversos aspectos da identidade
africana. Abderrahmane Sissako, por exemplo, parte da tradição mandé, para a qual o
kora é o instrumento por excelência e na qual palavras e música andam de mãos dadas;
suas obras, baseadas na tradição oral, apresentam o griot enquanto consciente de seu
dever de re-elaborar e transmitir um discurso profundamente pessoal através de uma
linguagem cinematográfica ancorada na poesia e na música, mas coreografada com
pessoas e situações. Moussa Sene Absa, em sua vida e obra, baseia-se na idéia do
géwël, o intérprete wolof das tradições, cuja arte é caracterizada pelo canto e pela
percussão sabar. Ambos os diretores manifestam gosto por ritmos variados e, desta
forma, uma fidelidade à herança musical da África Ocidental, mas no caso do último, a
idéia de téranga é igualmente indispensável.
A África sonhada de Flora Gomes, enquanto distante da ideia do griot, não deixa de estar
enraizada em ideais comunitários nos quais a recuperação da música e da dança
inauguram, para seus sujeitos, uma liberdade pessoal mais ampla; e Mweze Ngangura
nos leva a refletir, com pungência e sugestividade, sobre as adversidades da emigração
para a Europa - um aspecto marcante da vida contemporânea africana, no qual é crucial
o papel do cinema e da música de manter vivas as tradições culturais e artísticas. A
estética desses diretores mostra a inutilidade de recorrer ao mero discurso a fim de
combater as generalizações que por tanto tempo flagelaram as representações artísticas
da vida africana: em seu lugar, propõem um encontro entre a riqueza cultural de suas
culturas nativas e as técnicas da arte contemporânea. Que todos os quatro tenham
privilegiado a música em sua arte ressalta a sua importância como sujeitos do diálogo
contínuo entre teoria, prática e crítica, em sua relação com a conceituação do cinema
Africano.
Em meus filmes, a música é um personagem, não algo que eu junto depois para coincidir
com a imagem. Quando escrevo o script, o que vem à mente em primeiro lugar é a
música.
Desde os primeiros estágios da produção de um filme, Moussa Sené Absa (Dakar, 1958)
dá muita atenção a seus aspectos musicais. É na tradição polirrítmica do sabar que o
diretor tira inspiração como ponto de partida para suas palavras e imagens, dando à
música em si um papel de protagonista. Sené Absa atua como dirigeur do conjunto sabar,
marcando o tempo, decidindo a ordem das músicas, instruindo os dançarinos e mantendo
o público alerta... Ao reunir as funções de compositor, diretor e coreógrafo, cria obras nas
quais a música abre espaços para a reflexão e questionamento de diversos aspectos da
realidade - exatamente como ela faz na vida.
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A importância do sabar para a cultura senegalesa não pode ser subestimada: ele é
tocado para comemorar nascimentos e mortes, como acompanhamento ao Laamb,
também conhecido como "la lute sénégalaise", o combate popular tradicional que goza do
estatuto de esporte nacional, as várias cerimônias femininas, e até mesmo em cúpulas
políticas. Seu significado para a obra de Sené Absa é, portanto, uma questão de direção.
A música determina a estrutura de seus filmes, desde a composição do script até a
coreografia e até mesmo o posicionamento da câmera, e na fase da montagem, esses
elementos são meticulosamente organizados de acordo com um modelo polirrítmico, à
maneira de uma reunião sabar, na qual são tomados cuidados para evitar que a narrativa
e a imagem sejam privilegiadas em detrimento do elemento musical e suas virtudes
distintas. Estas tendências têm sido evidentes de várias formas desde sua estréia
diretorial 1988: em 35mm, em vídeo, e em suas populares séries de televisão.
Em seu primeiro longa metragem, Ça Twiste à Poponguine (1993), Sené Absa faz uso do
vídeo a fim de lançar olhar sobre o pop francês e o R&B americano, no contexto das
rivalidades adolescente da década de 1960 em uma vila de pescadores senegaleses. O
tema é a música em si: música ocidental como uma metáfora para a fascinação exercida
pela Europa, e especialmente pela França e celebridades francesas, entre os jovens
senegaleses da geração do diretor. Anos mais tarde, no autobiográfico Ainsi muerent les
anges (2001), a música serve como consolo e como indicadora do isolamento amargo
enfrentado pelos africanos exilados na Europa. Não é à toa que, no momento decisivo,
quando o protagonista foge de sua casa na França, ele se refugia no bar de um
conterrâneo e pede a um griot que toque para ele: nada, exceto o reconforto de álcool e
as melodias familiares do cantor, pode acalmá-lo antes do retorno a sua terra natal, onde
vai enfrentar o julgamento de incompreensão de seu pai e seus antigos amigos.
Uma das principais inovações Sené Absa é a disgressão explicativa musical, uma técnica
experimental repetida com grande efeito em seu segundo longa, Madame Brouette
(2002). Seu trabalho mais recente, Teranga Blues (2005), aprofunda essas explorações
do papel fundamental da música. Na primeira, ele nos apresenta uma espécie de musical
em que as interjeições de um grupo de griots pontuam a ação, enquanto canções pop
contemporâneas africanas tocam no bar onde grande parte da trama se desenrola. No
segundo, o conceito de Teranga, o ponto focal do drama do filme, está ligado tanto ao
desespero melancólico do blues quanto a uma representação da música tradicional como
uma metáfora para a honestidade tranquila do percurso do artista, o que implica,
independentemente de sua austeridade, uma compreensão adequada da Teranga,
oposta à vida rápida, com suas riquezas fáceis e complicações.
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Nos exemplos mencionados, Sené Absa mostra sua consciência dos vários papeis que a
música pode assumir e de sua importância crucial para a vida de seu país, tanto como
um vínculo com a tradição quanto nas oportunidades que ela abre para o espírito
humano, em oposição ao vazio e à corrupção endêmica na modernidade. Sua práxis
como diretor sublinha as capacidades comunicativas e expressivas da música em seu
poder de unificar forma e conteúdo, abrindo novos caminhos para a experimentação;
desta forma, ele nos lembra da importância de manter o espírito dessas tradições das
quais a música é exemplar, sem esquecer os desafios que lhes são apresentados pela
vida contemporânea.
Marcadores: Abderrahmane Sissako, Djbril Diop Mambety, Flora Gomes, Moussa Sené Absa, Mweze
Ngangura, Textos diversos
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