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Resumo
Neste artigo, o legislativo municipal é analisado a partir de dois eixos: (1) a ênfase em suas
características nacionais e regionais, com base em dados sobre a composição social e político-partidária
do legislativo municipal no Brasil, no período de 1996, 2000 e 2004; e (2) os diferentes modos como os
poderes legislativos locais de São Paulo e Santa Catarina percebem os poderes executivos no que se
refere ao processo decisório.
Palavras-chave: vereadores, poder executivo, poder legislativo, câmara municipal, Brasil.
Abstract
This article analyses two main aspects about the Brazilian legislative at the local level: (1) the regional
and national characteristics based on the social basis and the party links of local representatives in 1996,
2000 and 2004, and (2) the different views the local representatives and mayors conceive the local
decision making process, especifically in the states of São Paulo and Santa Catarina.
Keywords: local representatives, executive, legislative, local chamber, Brazil.
1
O artigo 29 (IV b) da Constituição de 1988 é bastante flexível ao estabelecer que os municípios com até
1 milhão de habitantes devem ter no mínimo 9 e no máximo 21 vereadores.
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KERBAUY, M. T. M. As câmaras municipais brasileiras
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OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, Vol. XI, nº 2, Outubro, 2005, p. 337-365
Tabela 1
Composição das câmaras municipais, segundo o sexo
Brasil – eleições de 1996, 2000 e 2004
1996 2000 2004
N % N % N %
Homens 42.720 89,97 49.029 88,37 45.947 88,67
Mulheres 4.762 10,03 6.454 11,63 5.872 11,33
Totais 47.482 100 55.483 100 51.819 100
Fonte: TSE – Tribunal Superior Eleitoral
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KERBAUY, M. T. M. As câmaras municipais brasileiras
Tabela 2
Porcentagem de Mulheres Vereadoras, por Região
Brasil – eleições de 1996, 2000 e 2004
1996 2000 2004
Norte 12,86 14,19 14,60
Nordeste 12,45 13,25 14,59
Sudeste 7,93 10,38 10,61
Sul 8,15 10,06 11,43
Centro-Oeste 12,28 12,19 13,42
Fonte: TSE – Tribunal Superior Eleitoral
Tabela 3
Distribuição dos vereadores segundo o grau de instrução
Brasil – eleições de 1996, 2000 e 2004
Grau de Instrução Homens % Mulheres %
1996 2000 2004 1996 2000 2004
Não informado 38,30 1,78 10,62 33,60 1,95 8,00
Lê e escreve 5,19 5,32 19,98 2,50 4,04 9,60
1º grau incompleto 19,70 26,05 3,65 11,72 11,96 1,74
1º grau completo 9,78 15,17 21,07 8,00 8,91 28,73
2º grau incompleto 4,84 7,52 4,78 4,77 10,32 4,05
2º grau completo 11,92 24,44 10,57 21,34 30,37 25,34
Superior incompleto 2,34 4,98 3,87 3,13 12,16 6,69
Superior completo 7,93 14,73 25,45 14,95 20,28 15,84
Total 100,0 100,0 100 100,0 100,0 100
Fonte TSE – Tribunal Superior Eleitoral
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OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, Vol. XI, nº 2, Outubro, 2005, p. 337-365
Tabela 4
Distribuição dos vereadores segundo o grau de instrução, por região e por sexo –
Brasil – eleições de 1996 e 2000 (em %)
Grau Região Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
de Ano 1996 2000 1996 2000 1996 2000 1996 2000 1996 2000
Instru- Sexo H M H M H M H M H M H M H M H M H M H M
ção
Lê e escreve 6,78 2,89 7,50 3,19 10,34 4,32 10,47 3,90 3,05 1,38 2,80 1,24 1,25 0,22 1,43 9,91 4,07 1,90 3,10 0,83
1º grau
25,63 15,99 27,49 15,80 17,97 11,65 25,68 13,38 17,06 9,76 25,49 10,37 22,42 10,82 26,51 9,91 25,93 15,71 28,50 10,33
incomp.
1º grau compl. 13,52 8,67 14,96 9,42 8,24 7,82 12,28 8,76 7,43 6,18 15,86 10,83 13,10 9,82 18,41 5,81 13,27 10,48 14,33 9,09
2º grau
7,29 6,46 8,46 6,81 4,43 4,65 6,95 6,56 3,42 3,82 7,23 5,21 5,91 4,64 6,04 27,68 8,27 7,14 9,92 10,33
incomp.
2º grau compl. 19,45 30,44 28,48 43,19 13,22 23,52 26,14 39,03 7,55 13,82 22,44 27,18 12,37 19,21 22,94 9,83 20,00 30,00 28,21 38,43
Superior
2,74 2,89 3,31 6,09 2,50 2,95 4,68 7,37 1,22 2,52 4,70 5,31 3,44 4,64 6,49 35,54 3,13 2,38 4,82 13,22
incomp.
Superior
7,27 12,76 7,67 12,90 8,60 12,42 11,56 18,46 5,98 12,93 19,87 38,58 11,20 24,39 14,88 0,00 0,13 14,29 9,40 14,88
compl.
Não informado 17,33 19,90 2,13 2,61 34,69 32,66 2,24 2,54 54,20 49,59 1,61 1,29 30,32 26,27 1,30 1,31 25,20 18,10 1,72 2,89
Tabela 5
Distribuição dos vereadores segundo o grau de instrução , por região e por sexo –
Brasil - 2004
Região, Sexo
Grau de Instrução Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
H M H M H M H M H M
Lê e escreve 5,81 1,32 9,49 2,59 2,96 1,69 1,73 0,96 3,29 1,56
1º grau incomp. 13,42 11,66 10,13 9,08 15,93 10,34 16,20 10,40 12,51 7,29
1º grau completo 26,75 11,35 21,23 11,01 27,11 11,57 29,16 9,44 21,06 11,28
2º grau incomp. 30,24 37,99 28,87 36,33 25,86 29,78 25,32 28,32 35,99 34,03
2º grau completo 8,08 6,41 8,37 4,73 5,81 4,55 6,41 4,64 6,71 4,69
Superior incomp. 9,04 20,72 15,12 28,30 18,00 35,10 14,51 39,20 13,48 31,94
Superior compl. 5,93 10,53 6,17 7,71 3,99 6,89 5,69 6,56 6,31 8,85
Não informado 0,14 0,00 0,61 0,25 0,00 0,00 0,99 0,48 0,65 0,35
Fonte: TSE – Tribunal Superior Eleitoral
2
Não foi possível, nesta pesquisa, analisar a composição social da câmara dos vereadores e a
composição social dos partidos.
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KERBAUY, M. T. M. As câmaras municipais brasileiras
Tabela 6
Distribuição dos vereadores por faixas de idade, por região
Brasil – eleições de 1996, 2000 e 2004
Região Norte % Nordeste % Sudeste % Sul % Centro-Oeste %
Idade
Ano 1996 2000 2004 1996 2000 2004 1996 2000 2004 1996 2000 2004 1996 2000 2004
De 20 a 30 anos 0,70 5,12 1,78 0,26 6,26 3,35 0,09 6,58 1,14 0,00 3,89 0,84 0,09 4,82 1,08
De 30 a 40 anos 1,60 31,41 19,60 1,18 26,28 16,29 0,37 27,84 13,01 0,04 25,18 15,74 0,36 33,27 18,71
De 40 a 50 anos 1,74 32,68 43,21 2,15 37,30 37,44 0,28 40,40 34,23 0,20 44,64 41,92 0,88 41,99 45,38
De 50 a 60 anos 0,97 13,20 25,84 1,55 20,44 27,06 0,11 17,06 35,07 0,25 20,57 29,63 0,24 16,39 27,74
De 60 a 70 anos 0,33 2,63 6,90 0,31 7,80 11,72 0,27 5,67 11,93 0,16 4,89 9,85 0,12 2,60 5,81
80 anos ou mais 0,30 0,18 1,78 0,18 1,58 2,29 0,00 1,21 3,24 0,02 0,84 1,26 0,00 0,36 0,65
Não consta 94,65 14,78 0,89 94,39 0,35 1,84 98,87 1,24 1,38 99,33 0,00 0,76 98,31 0,58 0,65
3
As categorias ocupacionais foram estabelecidas a partir dos critérios fixados por Nelson do Valle Silva e
discutidos em Scallon (1999), dentre mais de cem ocupações identificadas pelo TSE.
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Tabela 7
Distribuição dos vereadores segundo ocupação, por região
Brasil – 1996 e 2000
Região Norte % Nordeste % Sudeste % Sul % Centro-Oeste %
Profissões
Ano 1996 2000 2004 1996 2000 2004 1996 2000 2004 1996 2000 2004 1996 2000 2004
Aposentado 0,00 0,48 2,06 0,00 1,54 1,90 0,00 3,51 3,60 0,00 2,59 2,19 0,60 0,77 1,08
Artesãos e Artistas 0,10 0,04 0,00 0,04 0,13 0,00 0,05 0,44 0,12 0,07 0,67 0,00 1,00 0,19 0,00
Dirigentes Administrativos de
1,80 1,16 3,70 0,63 1,30 8,20 1,17 2,76 7,67 1,82 2,08 8,92 5,89 5,29 5,38
Alto Nível
Empresários na Indústria,
10,19 8,34 16,46 5,49 9,95 16,29 7,14 14,95 20,74 11,73 15,81 21,46 15,46 12,51 20,86
Comércio e Serviços
Empresários no Setor
7,39 2,47 8,85 6,74 3,36 5,58 5,10 4,09 6,41 5,38 2,52 3,28 7,94 5,81 11,40
Primário
Funções Administrativas
1,30 0,00 0,41 0,55 0,06 0,45 0,80 0,49 0,48 4,47 0,72 0,59 1,09 0,08 0,43
(execução)
Funções Religiosas 0,33 0,22 0,62 0,01 0,08 0,39 0,03 0,56 0,60 0,04 0,30 0,25 0,30 0,30 0,00
Membros do Poder
12,67 4,72 1,44 9,21 4,33 2,29 4,43 4,79 1,80 4,82 2,81 1,35 1,87 3,24 3,44
legislativo
Não-manual de Rotina e
8,52 7,35 0,00 4,78 7,25 0,00 3,46 9,59 0,12 5,84 8,33 0,00 8,48 11,79 0,00
Funções de Escritório
Profissionais Liberais 6,25 3,05 13,17 5,82 6,60 22,04 4,09 10,48 20,20 8,29 6,41 15,99 7,49 7,36 17,85
Publicitário, Locutores,
Radialista, Op. de Câmera, 0,30 0,32 0,41 0,24 0,25 0,50 0,19 0,71 0,42 0,26 0,60 0,67 0,51 0,89 0,22
Jornalista
Servidores Públicos 4,11 9,90 21,60 0,69 9,53 19,20 0,82 11,72 18,94 3,75 8,28 21,89 14,07 12,59 19,14
Técnicos Administrativos na
Indústria, Comércio e 1,80 3,92 2,26 1,08 6,58 1,56 0,85 4,43 1,38 1,04 5,35 2,44 2,90 3,16 1,72
Serviços
Técnicos Artistas e Serviços
0,00 3,60 0,00 0,02 4,24 0,00 0,01 3,95 0,06 0,00 2,67 0,17 4,02 3,65 0,00
de Trabalho Manual
Trabalhador no Serviço
1,97 1,41 0,41 1,55 1,38 0,33 0,69 1,29 0,24 0,93 1,34 0,08 4,14 1,83 0,65
Doméstico
Trabalhadores Manuais da
9,32 0,80 0,41 6,22 0,59 1,28 7,13 2,85 0,96 9,23 2,44 0,34 3,29 2,10 0,43
Indústria
Trabalhadores Manuais em
0,77 2,89 0,00 0,26 2,49 0,00 0,39 4,60 0,00 0,43 4,06 0,00 5,28 4,51 0,00
Serviços Gerais
Trabalhadores Rurais 5,51 15,16 4,94 6,55 21,46 9,43 3,96 12,23 9,47 14,56 22,55 13,13 10,93 13,40 9,68
Outros 0,23 2,53 9,67 1,49 2,18 5,64 0,61 6,15 5,64 0,47 7,19 4,71 2,81 3,68 5,16
Não Consta 27,41 31,65 13,58 48,62 16,69 4,91 59,07 0,42 1,14 26,86 3,30 2,53 1,93 6,89 2,58
Fonte: TSE – Tribunal Superior Eleitoral
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KERBAUY, M. T. M. As câmaras municipais brasileiras
Tabela 8
Segmentos ocupacionais mais importantes para o recrutamento de vereadores
Brasil – 2000 e 2004
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Total
2000 2004 2000 2004 2000 2004 2000 2004 2000 2004 2000 2004
Empresários do setor
8,85 11,40 6,11
primário
Empresários na Indústria,
8,34 16,46 9,95 16,29 14,95 20,74 15,81 21,46 12,51 20,86 12,53 14,30
Comércio e Serviços
Não-manual de Rotina e
7,35 7,25 8,33 11,79 8,47
Profissionais de Escritório
Profissionais Liberais 13,17 22,04 10,48 20,20 15,99 17,85 7,34 8,19
Servidores Públicos 9,90 21,60 9,53 19,20 11,73 18,94 8,28 21,89 12,59 19,14 10,16 18,07
Trabalhadores Rurais 15,16 21,46 9,43 12,23 9,47 22,55 13,13 13,40 17,82 14,08
Fonte: TSE – Tribunal Superior Eleitoral
4
As diferenças encontradas entre estados de uma mesma região apontam para fortes desníveis intra-
regionais.
5
Dentro dessa categoria não foi possível identificar os professores, pois os dados do TSE não puderam ser
desagregados dos dados totais.
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OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, Vol. XI, nº 2, Outubro, 2005, p. 337-365
Tabela 9
Vereadores eleitos, por partido
Brasil – 1996, 2000 e 2004
Partidos 1996 % 2000 % 2004 %
PPB (PP) 6.238 13,14 6.805 12,27 54,57 10,53
PDT 3.311 6,97 3.332 6,01 3.252 6,28
PT 1.546 3,26 2.234 4,03 3.679 7,10
PTB 3.029 6,38 4.450 8,02 4.176 8,06
PMDB 11.389 23,99 10.647 19,19 7.399 14,28
PSTU 0 0,00 2 0,00 902 1,74
PSL 260 0,55 429 0,77 506 0,98
PST 148 0,31 359 0,65 0 0,00
PTN 25 0,05 80 0,14 0 0,00
PSC 561 1,18 646 1,16 724 1,40
PCB 0 0,00 2 0,00 60 0,12
PL 2.350 4,95 2.490 4,49 3.806 7,34
PPS 384 0,81 2.292 4,13 2.745 5,30
PFL 8.164 17,19 9.050 16,31 6.076 11,73
PAN 2 0,00 29 0,05 84 0,16
PSDC 55 0,12 212 0,38 826 1,59
PRTB 21 0,04 198 0,36 228 0,44
PCO 0 0,00 0 0,00 12 0,02
PGT 3 0,01 28 0,05 0 0,00
PSN/PHS 7 0,01 110 0,20 346 0,67
PMN 332 0,70 318 0,57 519 1,00
PRN 51 0,11 56 0,10 0 0,00
PSB 956 2,01 1.553 2,80 1.805 3,48
PSD 1.173 2,47 1.472 2,65 0 0,00
PV 164 0,35 310 0,56 782 1,51
PRP 340 0,72 391 0,70 596 1,15
PSDB 6.754 14,22 7.690 13,86 6.566 12,67
PRONA 33 0,07 26 0,05 131 0,25
PC do B 86 0,18 138 0,25 273 0,53
PT do B 100 0,21 134 0,24 317 0,61
PTC 0 0,00 0 0,00 310 0,60
Total 47.482 100,00 55.483 100,00 51.819 100,00
* Nas eleições de 2000, houve um aumento de 17% das cadeiras; em 2004, o número de vereadores foi
reduzido pelo TSE.
Fonte: TSE – Tribunal Superior Eleitoral
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KERBAUY, M. T. M. As câmaras municipais brasileiras
Tabela 10
Distribuição dos votos para vereador, por região
Brasil – 1996, 2000 e 2004
Região 1996 % 2000 % 2004 %
Norte 3.881.584 5,46 5.512.649 6,37 6.153.128 6,98
Nordeste 17.836.749 25,13 22.737.176 26,32 24.265.682 27,53
Sudeste 32.196.381 45,37 38.885.744 44,99 38.058.194 43,18
Sul 12.670.980 17,85 13.948.644 16,15 14.435.036 18,26
Centro-Oeste 4.392.527 6,18 5.329.433 6,17 5.209.640 5,91
Total 70.978.221 100,00 86.413.643 100,00 88.121.680 100,00
Fonte: TSE – Tribunal Superior Eleitoral
6
Nossa análise não se deteve nas singularidades dos estados, mas apenas nas diferenças regionais.
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OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, Vol. XI, nº 2, Outubro, 2005, p. 337-365
O PMDB foi o partido com o maior número de vereadores eleitos nas regiões
Norte, Sudeste, Sul e Centro-Oeste nas eleições 1996/2000. Nas eleições de 2004,
perde representação significativa no Norte e no Sudeste; apesar de crescer na
região Centro-Oeste não consegue ultrapassar o PSDB. Na região Nordeste, o PFL
reúne uma bancada maior do que a do PMDB. Nas outras regiões, os bons
resultados eleitorais obtidos pelo PFL apontam para uma capilaridade a ser
considerada.
O PSDB foi o segundo partido nas eleições 1996/2000, com maior votação
para o legislativo municipal nos estados das regiões Norte, Nordeste e Sudeste,
perdendo para o PFL nas regiões Sul e Centro-Oeste. Nas eleições de 2004, o PSDB
foi o partido que mais elegeu vereadores no Norte, no Sudeste e no Centro-Oeste.
O PPB (PP) se sobressai nas regiões Norte e Sul em 1996 e em 2000, e
Centro-Oeste em 2004. O PTB teve um desempenho mais homogêneo em todas as
regiões, conseguindo aumentar significativamente sua votação na região Centro-
Oeste, na eleição de 2004.
Para o PT, os desempenhos mais baixos foram localizados nas regiões
Nordeste e Centro-Oeste nas eleições de 1996 e 2000; em 2004, o desempenho foi
mais equilibrado em todas as regiões.
O PFL, o PPS e o PSB mostraram um aumento tendencial do número de
vereadores nas eleições de 1996 e 2000. Em 2004, o PFL só cresceu na região
Centro-Oeste.
Focalizando as regiões, em 2004 a região Nordeste manteve a tendência de
votação das outras eleições, e o Sul foi a região que mais diferenças apresentou.
Nele, o PSTU (8,12%) e o PSDC (4,12%) conseguiram ultrapassar a votação do
PPS e PSB. Apesar da queda significativa de votos do PMDB e do PP, continuaram
sendo os partidos mais votado. O PDT encontrou sua maior expressão nesta região.
Quando confrontadas a resultados eleitorais para câmaras municipais, as
análises que apontam para a tendência de os partidos de direita obterem melhores
resultados nas regiões menos desenvolvidas e os partidos de centro e de esquerda
serem mais bem sucedidos nas regiões mais desenvolvidas revelam-se insuficientes.
Da mesma forma, as teses comumente divulgadas na literatura política
sobre o Brasil, relativas às constantes migrações partidárias, que apontam o
movimento das lideranças locais para acompanhar os governadores (o
ultrapresidencialismo estadual), às estratégias políticas personalistas e à
desvalorização dos partidos, precisam ser repensadas a partir dos resultados dos
legislativos locais. Os dados mostram que alguns partidos mantêm um padrão
regular de votação. Como explicar, por exemplo, que nestes dez anos o PMDB
continue sendo o partido que mais vereadores elege no Brasil?
348
KERBAUY, M. T. M. As câmaras municipais brasileiras
Tabela 11
Vereadores eleitos e partidos mais votados, por região
Brasil – 1996-2000-2004
Região Norte % Nordeste % Sudeste % Sul % Centro-Oeste %
Partidos 1996 2000 2004 1996 2000 2004 1996 2000 2004 1996 2000 2004 1996 2000 2004
PDT 4,56 4,04 4,97 5,04 4,39 4,53 4,43 4,90 5,92 15,70 9,54 10,60 0,50 0,70 4,53
PFL 19,99 10,73 11,32 22,00 19,24 16,51 19,47 13,92 11,89 12,30 12,86 4,88 6,61 8,30 10,57
PL 2,98 5,58 9,60 5,97 5,19 7,71 5,21 4,70 8,86 1,33 0,94 2,20 4,47 2,70 11,25
PMDB 19,62 25,05 11,78 18,49 17,12 12,89 15,98 17,72 13,49 30,13 25,76 18,45 19,24 11,38 14,33
PPB (PP) 17,04 14,20 8,53 8,48 8,98 8,50 9,72 7,65 7,68 22,62 23,20 19,40 8,01 5,96 10,39
PPS 0,92 2,69 5,40 1,91 5,07 5,32 0,78 5,34 5,69 0,08 1,52 3,26 0,03 2,52 8,89
PSB 2,72 2,05 3,92 4,42 3,93 4,80 1,96 4,07 3,36 0,45 1,52 0,11 0,20 2,29
PSDB 14,64 12,67 13,07 15,26 15,02 11,58 21,58 15,45 15,57 6,30 9,69 8,84 5,95 8,05 15,59
PT 3,45 4,16 9,77 1,68 1,94 4,33 3,15 4,89 7,69 5,04 5,95 8,97 1,19 1,13 8,24
PTB 6,94 7,29 9,15 6,08 6,97 7,33 7,87 9,28 10,01 4,80 5,42 6,17 1,32 1,90 7,44
Total de
4.455 4.862 4.186 14.687 17.823 16.539 15.518 18.678 15.842 11.112 12.135 10.967 1.710 1.986 4.285
Vereadores
349
OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, Vol. XI, nº 2, Outubro, 2005, p. 337-365
7
Para alguns autores, a transição caracteriza-se por um hibridismo de interesses que combina formatos
corporativos, clientelistas, pluralistas e conexões informais, com estilos predatórios e universalistas, em
um processo de reordenamento dos interesses políticos que ainda não esgotou suas possibilidades (ver
SANTOS, 1999).
350
KERBAUY, M. T. M. As câmaras municipais brasileiras
8
Maria Teresa M.Kerbauy, Descentralização, Clivagens Regionais e Elites Políticas Locais: um estudo
comparado, 2001-2003, pesquisa financiada pelo CNPq.
351
OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, Vol. XI, nº 2, Outubro, 2005, p. 337-365
9
Bauru e São José do Rio Preto alcançaram nas eleições de 2004 o número de eleitores (200.000)
considerados necessários caso fosse preciso realizar o segundo turno. Dos questionários enviados para
os municípios de São Paulo, 20 do executivo e 19 do legislativo foram devolvidos devidamente
preenchidos; dos questionários enviados para os municípios de Santa Catarina, quatro do executivo e
oito do legislativo foram devolvidos devidamente preenchidos.
352
KERBAUY, M. T. M. As câmaras municipais brasileiras
Tabela 12
Amostra dos municípios de São Paulo:
população, taxa de urbanização e eleitorado, em 2000
População Taxa de Eleitorado
Municípios
Urbanização
Andradina (L) 55.161 91,02 38.970
Araçatuba (L) 169.240 97,16 115.043
Barretos (L) 103.874 95,53 68.239
Bauru (L e E)* 315.835 98,40 195.967
Botucatu (L) 108.112 94,70 68.389
Bragança Paulista (E e L) 124.888 89,98 79.530
Campinas (L) 967.321 96,17 624.527
Cruzeiro (E) 73.469 96,40 50.157
Dracena (E) 40.479 90,55 30.360
Franca (E) 287.400 97,80 168.413
Itapetininga (E) 125.192 89,86 73.920
Itapeva (E e L) 82.833 75,73 49.692
Jales (E e L) 46.178 91,17 31.955
Jaú (L) 111.783 94,19 72.246
Limeira (E) 248.632 85,64 154.867
Lins (E e L) 65.954 97,29 44.833
Marília (L) 197.153 96,18 125.327
Ourinhos (E) 93.796 94,47 57.648
Piracicaba (E e L) 328.312 96,25 204.287
Registro (E) 53.505 80,90 35.593
Ribeirão Preto (L) 505.012 99,53 323.564
Rio Claro (E) 168.087 96,91 107.432
Santos (E) 417.777 99,58 327.179
São João da Boa Vista (L) 77.213 91,32 51.186
São Joaquim da Barra (E) 41.593 96,99 37.304
São José do Rio Preto (L) 357.862 93,79 228.801
São José dos Campos (E) 538.909 95,12 321.931
Sorocaba (E) 494.649 95,12 302.072
Taubaté (L) 244.107 95,53 151.104
Tupã (E) 63.198 94,85 43.967
Votuporanga (E e L) 75.565 95,67 48.403
(*) Executivo e legislativo
Fonte: IBGE - TSE
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OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, Vol. XI, nº 2, Outubro, 2005, p. 337-365
Tabela 13
Amostra dos municípios de Santa Catarina:
população, taxa de urbanização e eleitorado, em 2000
População Taxa de Eleitorado
Municípios
Urbanização
Alfredo Wagner (E) 8.857 27,92 6.772
Araranguá (E) 54.706 82,35 36.172
Concórdia (L) 51.631 73,41 44,298
Criciúma (L) 170.420 89,80 111.448
Curitibanos (L) 36.061 89,95 26.662
Joaçaba (L) 24.068 90,11 17.802
Joinville (E e L)* 429.604 96,59 269.536
Lajes (L) 157.682 97,39 100.906
São Bento do Sul (L) 65.437 94,48 42.214
São Miguel do Oeste (L) 32.324 79,59 23.017
(*) Executivo e legislativo
Fonte: IBGE - TSE
Análise
354
KERBAUY, M. T. M. As câmaras municipais brasileiras
Tabela 14
Distribuição dos prefeitos e presidentes de câmara por faixa etária
Santa Catarina e São Paulo
Estados Santa Catarina São Paulo
Presidentes Presidentes
Prefeitos Prefeitos
Idade de Câmara de Câmara
De 30 a 40 anos 1 1 1 0
De 40 a 50 anos 0 3 12 5
De 50 a 60 anos 1 4 5 11
Acima de 60 anos 2 0 2 3
Total 4 8 20 19
Fonte: Pesquisa Descentralização, Clivagens Regionais e Elites Políticas
Tabela 15
Distribuição dos prefeitos e presidentes de câmara segundo escolaridade
Santa Catarina e São Paulo
Estados Santa Catarina São Paulo
Presidentes Presidentes
Prefeitos Prefeitos
Escolaridade de Câmara de Câmara
1º grau incompleto - - - -
1º grau completo 1 - - 1
2º grau incompleto - 2 - 1
2º grau completo 1 2 - 3
Superior incompleto 1 - 1 2
Superior completo 1 2 19 12
Total 4 6 20 19
Fonte: Pesquisa Descentralização, Clivagens Regionais e Elites Políticas
355
OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, Vol. XI, nº 2, Outubro, 2005, p. 337-365
Tabela 16
Distribuição dos prefeitos e presidentes de câmara,
segundo o partido de início e o partido atual
–Santa Catarina e São Paulo
Estados Santa Catarina São Paulo
Cargos Prefeitos Pres. de Câmara Prefeitos Pres. de Câmara
Partidos Início Atual Início Atual Início Atual Início Atual
PPB 1 2 3 4 1 2 1 1
PPS 1 1 1 1
PSDB 1 2 2 1 1
ARENA 2
UDN 1
PMDB 1 1 2 3 3 2 2
PL 1
PT 2 2 2 2
PDS 1 2 2
PTN 1 1 1
PDT 1 3 3 3
PCB 2 1 1 1
MDB 1 3 1 1
PFL 1 1 1 1 2 2 2
PC DO B 1 1 1
PSD 1 2 1 1 1
Não 1 1
respondeu
Total 4 4 8 8 20 20 19 19
Fonte: Pesquisa Descentralização, Clivagens Regionais e Elites Políticas
356
KERBAUY, M. T. M. As câmaras municipais brasileiras
Tabela 17
Avaliação da relação entre o executivo e o legislativo no município
Estados e
Santa Catarina São Paulo
Cargos
Total
Presidente de Presidente de
Avaliação Prefeitos Prefeitos
Câmara Câmara
Ótimo 1 1 5 1 8
Bom 2 4 9 9 24
Regular 1 3 4 7 15
Ruim 1 2 3
Péssimo
Não respondeu 1 1
Total 4 8 20 19
Fonte: Pesquisa Descentralização, Clivagens Regionais e Elites Políticas
Tabela 18
Avaliação da relação entre o executivo e o judiciário no município
Estados e
Santa Catarina São Paulo
Cargos
Presidente de Presidente de
Avaliação Prefeitos Prefeitos
Câmara Câmara
Ótimo 2 3 5 1
Bom 2 3 10 10
Regular 2 4 6
Ruim 1
Péssimo 1
Não respondeu 1
Total 4 8 20 19
Fonte: Pesquisa Descentralização, Clivagens Regionais e Elites Políticas
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OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, Vol. XI, nº 2, Outubro, 2005, p. 337-365
Tabela 19
Avaliação do funcionamento dos conselhos municipais
Estados e
Santa Catarina São Paulo
Cargos
Total
Presidente de Presidente de
Avaliação Prefeitos Prefeitos
Câmara Câmara
Ótimo 2 5 7
Bom 3 6 9 2 20
Regular 1 1 9 10 21
Ruim 1 2 3
Péssimo
Total 4 8 20 19
Fonte: Pesquisa Descentralização, Clivagens Regionais e elites Políticas
10
Não existem pesquisas que demonstrem que a formalização das instâncias de participação alterou o
processo de decisão local sobre políticas públicas.
358
KERBAUY, M. T. M. As câmaras municipais brasileiras
Tabela 20
Quem formula as políticas públicas,
segundo o executivo e presidentes de câmara
Estados e Cargos Santa Catarina São Paulo
Prefeitos Presidente de Prefeitos Presidente de
Opção
Câmara Câmara
Executivo 3 5 16 15
Legislativo 3 3 11 12
Conselhos municipais 4 1 11 8
Secretarias 3 7 8 7
Associações profissionais 1 2 7 2
Mobilização popular 2 3 6 3
Orçamento Participativo 1 4 6 4
Empresas privadas 1 1 2 1
Fonte: Pesquisa Descentralização, Clivagens Regionais e Elites Políticas
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OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, Vol. XI, nº 2, Outubro, 2005, p. 337-365
Tabela 21
Quem implementa as políticas públicas,
segundo o executivo e presidentes de câmara
Estados e Cargos Santa Catarina São Paulo
Prefeitos Presidente de Prefeitos Presidente de
Opção
Câmara Câmara
Executivo 3 6 17 15
Legislativo 1 3 9 15
Conselhos municipais 2 3 11 6
Secretarias 4 2 11 8
Associações profissionais
Base partidária 1 1 2
Mobilização popular 1 4 5 3
Orçamento Participativo 1 3 2 3
Sociedade civil 2 4 3
Fonte: Pesquisa Descentralização, Clivagens Regionais e Elites Políticas
11
Dada a escassez de estudos sobre a atuação do legislativo municipal, torna-se difícil extrapolar para o
município as análises efetuadas por Figueiredo e Limongi (1995) a respeito do predomínio do executivo
no processo de formulação, combinado a um padrão cooperativo entre estes dois poderes.
360
KERBAUY, M. T. M. As câmaras municipais brasileiras
Tabela 22
Agentes com poder meramente indicativo nas decisões de políticas públicas,
segundo o executivo e presidentes de câmara
Estados e Cargos Santa Catarina São Paulo
Prefeitos Presidente de Prefeitos Presidente de
Opção
Câmara Câmara
Executivo 1 3
Legislativo 2 2 6 12
Conselhos municipais 3 1 7 9
Secretarias 4 7 7
Bases partidárias 3 4 5 7
Associações profissionais
Mobilização popular 2 1 3 3
Orçamento Participativo 1 1 1 1
Empresas privadas 1
Sociedade civil 1 3 6 4
Fonte: Pesquisa Descentralização, Clivagens Regionais e Elites Políticas
361
OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, Vol. XI, nº 2, Outubro, 2005, p. 337-365
Conclusões
362
KERBAUY, M. T. M. As câmaras municipais brasileiras
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PEREIRA, C.; RENNO, L. O que é que o reeleito tem? Dinâmicas político-institucionais locais e
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DINIZ, E.; SANTOS, F. Elites políticas e econômicas no Brasil contemporâneo. São Paulo:
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SCALON, M. C. Mobilidade social no Brasil: padrões e tendências. Rio de Janeiro: Revan, 1999.
365