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Universidade Federal de Uberlândia

Instituto de Economia e Relações Internacionais

Macroeconomia I

Alex Machado de Oliveira Junior

Henry Daniel Batista

João Dorgival P. Azevedo Cruz

Rodolfo Souza

“Quais os elementos centrais do Plano Keynes apresentado na Conferência


de Bretton Woods e quais os seus principais objetivos?”

INTRODUÇÃO

Após os tempos de crise econômica resultantes da Primeira Guerra Mundial,


surgiu a necessidade de um debate a nível internacional que buscasse solucionar
problemas econômicos provocados e refletidos pelo modelo econômico
internacional. A grande depressão ocorrida no período entre guerras foi motivação
para a ascensão de governos nacionalistas em vários países, o que provocou mais
instabilidade no mercado internacional. A ocorrência da Segunda Guerra Mundial foi
uma razão para que as economias nacionais fossem estimuladas devido à
necessidade de produção de recursos voltados à guerra. Representantes da Aliança
das Nações Unidas temiam a reincidência da crise economia ao fim da guerra, e não
era surpresa que a necessidade de cooperação seria determinante para que
houvesse estabilidade econômica dos países parceiros após o conseguinte termino
da guerra. Tal temor levou representantes destes países parceiros à conferencia de
Bretton Woods no ano de 1944, com a intenção de reverter as potenciais
consequências econômicas da Guerra por meio de adoção de ideias que, por um
lado representaria intervenção na soberania destes países, mas por outro lado seria
essencial para que os resultados fossem diferentes dos obtidos como consequência
da Primeira Guerra Mundial. Era entendida a ideia de que simples intervenção na
economia nacional não era o suficiente. Prova disso foi a crise de 1929 que levou os
Estados Unidos de um patamar extremamente alto para uma posição crítica.

O acordo de Bretton Woods foi protagonizado pelos dois principais projetos


econômicos representados por John Keynes (Inglaterra) e Harry D. White (Estados
Unidos), que eram as principais economias do período. A criação do Fundo
Monetário Internacional e do Banco Mundial foram resultados das decisões tomadas
nesta conferencia. É importante lembrar que embora a existência destas
organizações permaneça atualmente, pouco restou do modelo inicial proposto em
Bretton Woods. Devido ao fato de que os Estados Unidos haviam recentemente
alcançado o papel hegemônico de potência global, tal prestigio provocou maior
aceitação ao plano de White, deixando o modelo inglês para escanteio e dando
maior força, portanto à hegemonia estadunidense diante do cenário internacional.
Entretanto, a proposta de John Keynes para muitos teria sido muito mais eficaz ao
longo dos tempos, e é a partir destes supostos que este trabalho se apoia.

1. Keynes e padrão-ouro.

Não é novidade que o teórico inglês tecia criticas sobre a adoção do padrão
ouro como referencia internacional para adoção de valores às moedas nacionais.
Ora que o autor defendia que a dependência da disponibilidade do metal era um
obstáculo para o crescimento de determinada economia, prejudicando seu
crescimento. O que Keynes critica, é que se uma economia passa por um período
de crescimento, a demanda por moeda também cresce, logo é necessária uma
oferta maior, e o fato desse recurso ser limitado, provocaria oscilação no valor da
moeda nacional. Outra critica feita ao padrão-ouro é a formação de disparidade
econômica entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, fato que impunha aos
países em déficit a necessidade de optar por duas soluções: (I) diminuir sua renda,
sendo assim, diminuindo a importação e seus consequentes custos, ou (II) restringir
as importações de forma que poderia causar prejuízo ao mercado internacional.

“A criação de regras monetárias internacionais e a adoção de um


meio de pagamento que não fosse afetado pela rigidez da
escassez natural seriam formas essenciais de contribuir para um
desenvolvimento pleno da economia no período pós-guerra.”

(FOBES, 2014)
2. Ajuste Assimétrico

John Keynes defende que quando existe uma disparidade intensa no


crescimento de uma nação em relação às outras, este crescimento é limitado devido
ao fato de que esta desproporção provoca a diminuição nas relações comerciais
entre estas nações. Esta relação acontece da seguinte forma: uma nação “A” em
pleno emprego consegue produzir muito e exportar muito, porém, sua produção
também depende da importação de produtos como bens de consumo, bens de
produção, matérias primas, entre outros. Outro fator determinante para justificar a
teoria de Ajuste Assimétrico, é que se a produção do país “A” com superávit
econômico é grande, por outro lado existe uma nação “B” que não é capaz de
importar recursos desta nação devido aos seus custos e sua economia possuir um
ritmo de crescimento inferior. Este ciclo causado por esta assimetria causa prejuízo
a todo o mercado internacional. John Keynes cria soluções interventoras para estas
assimetrias, são elas o aumento de juros, incentivo ao crescimento dos países
parceiros e regulação das taxas de importação por meios de tarifações, com
intenção de aumentar o equilíbrio ao diminuir a importação e desacelerar este
crescimento desproporcional.

3. Criação da Câmara de Compensações Internacionais (ICU – International


Clearing Union)

A ideia por trás da criação da Câmara de Compensações Internacionais era


que os bancos nacionais representassem suas unidades mediante uma reserva
internacional (ICU), onde seria concentrado todo o resultado de suas importações e
exportações. A ICU possuiria uma papel central de banco mundial, de forma que
fosse o banco que seria composto pelos bancos nacionais. A ICU seria responsável
pelos débitos1 e créditos2 destas nações a partir do mercado internacional. A ideia
da criação da câmara era o equilíbrio das economias individuais, e consequente a
manutenção da economia mundial, esta regulação acontece como no caso
hipotético a seguir: caso um banco nacional “X” estiver em déficit (no vermelho) e tal
fato não seja resultado de forçamento produtivo, seria sugerido à outro estado “Y”
que se encontre em superávit uma aumenta na demanda por produtos deste país

1
Saída de recursos estrangeiros. (CARVALHO, p. 57)
2
Entrada de recursos estrangeiros. (CARVALHO, p. 57)
“X” de forma que a economia seja reestruturada com apoio destas nações parceiras.
Para a situação onde a nação “Y” se recuse a tomar providencias previstas pela
ICU, o banco nacional seria multado com base nas normativas estabelecidas no
âmbito da Clearing Union. O representante inglês também propunha (FOBE, p. 443)
que a ICU capitalizasse um valor entre 30 e 35 bilhões de dólares americanos como
inicio do equilíbrio justo na balança econômica internacional, e em segunda instancia
para a provável necessidade de financiamento à países em crises, especialmente
nas crises resultantes de guerra.

4. Moeda Escritural

Keynes também prevê a criação de uma moeda própria da ICU, baseada em


escrituras nos registros da câmara, o bancor, de forma que seja possível a escrever
conforme o mercado necessite, devido ao fato de que não há para essa moeda uma
representação física como o caso do ouro. As moedas nacionais seriam
referenciadas pela moeda da ICU de forma que o controle na oferta de moeda é de
responsabilidade da ICU, diferente do padrão-ouro que por sua vez, definia o valor
das moedas nacionais com base em um recurso limitado e que tem custos para ser
obtido. A solução para as deficiências encontradas no padrão ouro seriam resolvidas
facilmente devido à elasticidade presente na bancor, isto é, é possível sempre
regular a quantidade da moeda que está disponível no mercado e que não fosse
dependente de flutuações cambiais como proposto pelo lado americano. O
conservadorismo, em união ao egocentrismo estadunidense foram razões que
levaram a desaprovação da criação de uma moeda internacional que não
necessitasse de uma forma física, isto é, os Estados Unidos temiam que sua
superioridade econômica fosse colocada em risco ao desprender-se do dólar
americano, afinal os Estados Unidos eram a nação com maior concentração de
dólar, além disso eram eles o único país dotado de liberdade de produção de dólar.

5. Criticas de Keynes ao modelo estadunidense

Harry D. White defendia a liberdade nacional para a definição do valor da


moeda nacional. A crítica de Keynes era que as políticas nacionais, mesmo se em
algum momento tiverem obtido resultados econômicos positivos a priori, não são
benéficas para o mercado internacional, e consequentemente não seria bom ao
mercado nacional a posteriori. A forma defendida pelo teórico inglês é de que
tamanha liberdade na escolha do valor da moeda nacional, gera desvalorizações
competitivas. As desvalorizações competitivas são dadas quando uma nação “C”
propositalmente altera o valor de sua moeda local almejando o numero de
exportações liquidas3 realizadas, prejudicando seu vizinho, o nome desta política é
(transferir a miséria para seu vizinho/ beggar thy neighbour). Esta política nociva
para a vizinhança da nação “C” causa a reação destes que são prejudicados de
forma que tomem atitude igual à adotada pela nação “C”, alterando o valor de sua
moeda cada vez mais. Este ciclo-vicioso provoca instabilidade na economia mundial,
gerando insegurança e crises.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Fernando Cardim de. Bretton Woods aos 60 anos. Novos Estudos:
Cebrap. [s.i], p. 51-63. nov. 2004. Disponível em:
<http://novosestudos.uol.com.br/produto/edicao-70/#591bdc966295c>. Acesso em:
12 dez. 2018.
FERRARI FILHO, Fernando. A QUESTÃO EXTERNA EM JOHN MAYNARD
KEYNES: UMA VISÃO A PARTIR DA CLEARING UNION*. Ensaios Fee, Porto
Alegre, v. 11, n. 1, p.143-153, dez. 1990. Disponível em:
<https://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/view/766>. Acesso em: 12 dez.
2018.
FOBE, Nicole Julie. UMA PROPOSTA ESQUECIDA – O BANCOR. Revista Direito
Gv, [s.l.], v. 10, n. 2, p.441-450, dez. 2014. FapUNIFESP (SciELO).
http://dx.doi.org/10.1590/1808-2432201418.
NASAR, Sylvia. A Imaginação Econômica. New York: Grupo Companhia das
Letras, 2012. 600 p.
OLIVEIRA, Giuliano Contento de; MAIA, Geraldo; MARIANO, Jefferson. O SISTEMA
DE BRETTON WOODS E A DINÂMICA DO SISTEMA MONETÁRIO
INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEO. Pesquisa & Debate, Sp, v. 19, n. 2, p.195-
219, jan. 2008.

3
Diferença entre o que é exportado e o que é importado (FERRARI FILHO, p. 146)

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