Você está na página 1de 111

Centro Universitário de Brasília – UniCEUB

Faculdade de Tecnologia e Ciências Sociais


Aplicadas – FATECS
Curso: Engenharia Civil

GUILHERME VELOSO DOS SANTOS


MATRÍCULA: 21113271

PATOLOGIAS DEVIDO AO RECALQUE DIFERENCIAL EM


FUNDAÇÕES

Brasília
2014
GUILHERME VELOSO DOS SANTOS

PATOLOGIAS DEVIDO AO RECALQUE DIFERENCIAL EM


FUNDAÇÕES

Trabalho de Curso (TC) apresentado como


um dos requisitos para a conclusão do
curso de Bacharelado em Engenharia Civil
pela Faculdade de Tecnologia e Ciências
Sociais Aplicadas do UniCEUB.- Centro
Universitário de Brasília.

Orientador: Jocinez Nogueira Lima, M.Sc.

Brasília
2014
GUILHERME VELOSO DOS SANTOS

PATOLOGIAS DEVIDO AO RECALQUE DIFERENCIAL EM


FUNDAÇÕES

Trabalho de Curso (TC) apresentado como


um dos requisitos para a conclusão do
curso de Bacharelado em Engenharia Civil
pela Faculdade de Tecnologia e Ciências
Sociais Aplicadas do UniCEUB.- Centro
Universitário de Brasília.

Orientador: Jocinez Nogueira Lima, M.Sc.

Brasília, 16 de junho de 2014.

Banca Examinadora

___________________________________
Eng.º Civil Jocinez Nogueira Lima, M.Sc.
Orientador

___________________________________
Eng.º Civil Jairo Furtado Nogueira, M.Sc.
Examinador interno

___________________________________
Eng.º Civil Diorgenes Batista Gonçalves, Esp.
Examinador externo

Brasília
2014
RESUMO

Os problemas oriundos do projeto, execução ou da utilização de qualquer


edificação é indicado por diversos tipos de manifestações que se tornam visíveis ao
longo do tempo. Essas manifestações são analisadas com o objetivo de identificar
suas origens e causas, a fim de se obter uma melhor solução ao problema. Porém,
este processo se torna mais difícil ao serem analisados elementos de fundações, pois
os mesmos se encontram enterrados no solo. Este trabalho apresenta alguns
aspectos teóricos da interação solo-estrutura que influenciam os movimentos
diferenciais de fundações, responsáveis por notáveis danos às construções. O
objetivo é tornar possível a correta identificação, prevenção e solução das
manifestações patológicas que são provenientes dos recalques das fundações. Como
complemento ao trabalho teórico e com o objetivo de demonstrar quais patologias
indicaram problemas de fundações, será apresentada uma análise dos procedimentos
realizados na Torre de Pisa, em duas pontes localizadas no Brasil e em um edifício
no litoral do Estado de São Paulo. Também será apresentado um laudo preliminar
realizado em uma residência que apresentava sintomatologia de recalques de
fundação. Serão descritos os problemas observados, a análise das constatações e
quais foram as recuperações ou reforços empregados em cada caso.

Palavras-chave: recalque de fundações. Patologia. Interação solo-estrutura.


ABSTRACT

The problems arising from the design, implementation or use of any building is
indicated by various types of events that become visible along the time. These
manifestations are analyzed in order to identify their origins and causes, in order to get
a better solution to the problem. However, this process becomes more difficult when
analyzing foundations elements because these are buried in the ground. This paper
presents some theoretical aspects of soil-structure interaction that influence the
differential movement of foundations, responsible for notable damage to buildings. The
purpose is to make the correct identification, prevention and resolution of pathological
manifestations that come from the settlements of foundations. As a complement to
theoretical work and in order to demonstrate pathologies which indicated problems of
foundations, an analysis of the procedures performed at the Tower of Pisa, two bridges
located in Brazil and a building on the coast of São Paulo State. Also, a preliminary
report conducted in a residence that had symptoms of settlements of foundation will
be presented. It will be described the problems observed, the analysis of the findings
and which were the recoveries or reinforcements employed in each case.

Keywords: settlement of foundations. Pathology. Soil-structure interaction.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Elementos constituintes de um solo .......................................................... 15


Figura 2 - Pesos e volumes em um elemento de solo não saturado ......................... 15
Figura 3 - Curva de distribuição granulométrica do solo ........................................... 19
Figura 4 - Estados e limites de consistência ............................................................. 20
Figura 5 - Trados tipo (a) cavadeira, (b) espiral ou 'torcido' e (c) helicoidal. ............. 28
Figura 6 - Etapas da execução de sondagem a percussão: (a) avanço da sondagem
por desagregação e lavagem; (b) ensaio de penetração dinâmica (SPT) ................. 29
Figura 7 - Relatório de sondagem SPT ..................................................................... 30
Figura 8 - Curva de índice de vazios por pressão (carga) ......................................... 34
Figura 9 - Curva tempo x recalque ............................................................................ 34
Figura 10 – Sapata isolada........................................................................................ 36
Figura 11 - Sapata associada.................................................................................... 36
Figura 12 - Sapata de divisa...................................................................................... 37
Figura 13 - Radier ..................................................................................................... 38
Figura 14 - Tubulão a céu aberto .............................................................................. 39
Figura 15 - Tubulão a ar comprimido ........................................................................ 40
Figura 16 - Execução de estaca prensada ................................................................ 42
Figura 17 - Execução da estaca Franki ..................................................................... 44
Figura 18 - Execução de estaca hélice contínua ....................................................... 45
Figura 19 - Execução de estaca-raiz ......................................................................... 46
Figura 20 – Bulbo de pressões.................................................................................. 47
Figura 21 - Efeito de fundações próximas ................................................................. 48
Figura 22 - Tensão ao longo da profundidade no solo .............................................. 48
Figura 23 - Prova de carga sobre placa .................................................................... 50
Figura 24 - Curva pressão x recalque ....................................................................... 51
Figura 25 - Prova de carga sobre estaca .................................................................. 52
Figura 26 - superposição de pressões ...................................................................... 56
Figura 27 - Superposição de tensões ........................................................................ 56
Figura 28 - Deficiência na investigação geotécnica .................................................. 57
Figura 29 - A) Perfil real; B) Perfil adotado (equivocado); C) Apoio inadequado da
fundação.................................................................................................................... 57
Figura 30 - Profundidade da investigação insuficiente .............................................. 58
Figura 31 - Provável fissuramento de edificação assente em aterro ......................... 58
Figura 32 - Rebaixamento do nível da água.............................................................. 60
Figura 33 - Fundação de ponte danificada pela erosão ............................................ 61
Figura 34 - Edifício em Xangai .................................................................................. 62
Figura 35 - Esquema das causas do desabamento do edifício em Xangai ............... 62
Figura 36 - Efeito Tschebotarioff ............................................................................... 63
Figura 37 - Influência da vegetação na ocorrência de fissuras ................................. 64
Figura 38 - Distorções angulares e danos associados .............................................. 66
Figura 39 - Pino de leitura de recalque ..................................................................... 67
Figura 40 – Benchmark ............................................................................................. 68
Figura 41 - Extensômetro mecânico.......................................................................... 68
Figura 42 - Selo de gesso ......................................................................................... 73
Figura 43 - Controle de fissuras ................................................................................ 73
Figura 44 – Fissuras em estruturas de concreto por recalque de pilar central .......... 75
Figura 45 - Fissuras por recalque de pilar de extremidade ....................................... 75
Figura 46 - Localização da Torre de Pisa .................................................................. 79
Figura 47 – Inclinação e acréscimo de cargas nas fases de construção da Torre .... 80
Figura 48 - Seção no plano de máxima inclinação .................................................... 80
Figura 49 - Estratigrafia do terreno ............................................................................ 81
Figura 50 - Variação do nível da água ...................................................................... 82
Figura 51 - Contrapesos no lado norte da Torre ....................................................... 83
Figura 52 - Escavação subterrânea preliminar .......................................................... 84
Figura 53 - Escavação subterrânea .......................................................................... 84
Figura 54 - Sistema de controle do lençol freático .................................................... 85
Figura 55 - Ponte sobre o Riacho Ingazeira .............................................................. 86
Figura 56 - Ruptura do bloco e descalçamento das fundações................................. 87
Figura 57 - Fuga de material abaixo das fundações ................................................. 87
Figura 58 - Fissura do encontro ................................................................................ 87
Figura 59 - Escoramento ........................................................................................... 88
Figura 60 - Reforço dos pilares ................................................................................. 88
Figura 61 - Furos nas sapatas para cravação das estacas ....................................... 89
Figura 62 - Consolidação da base da sapata com argamassa projetada .................. 89
Figura 63 - Reforço dos pilares e cravação das estacas ........................................... 89
Figura 64 - Reforço da fundação dos encontros ....................................................... 89
Figura 65 - Estacas expostas .................................................................................... 91
Figura 66 - Deterioração e perda de seção transversal nas estacas ........................ 91
Figura 67 – Detalhe de reforço .................................................................................. 92
Figura 68 - Vista frontal do bloco reforçado e do novo estaqueamento .................... 92
Figura 69 - Recuperação em andamento .................................................................. 94
Figura 70 – Recuperação das fissuras ...................................................................... 94
Figura 71 - "fresta" na janela ..................................................................................... 94
Figura 72 - "frestas" abaixo e acima das janelas....................................................... 94
Figura 73 – Fissura inclinada .................................................................................... 94
Figura 74 - Fissura .................................................................................................... 94
Figura 75 - Edifício deslocado ................................................................................... 96
Figura 76 - Edifício apoiado sobre a superfície ......................................................... 96
Figura 77 - Recalque do piso .................................................................................... 97
Figura 78 - Pilar-parede tombado.............................................................................. 97
Figura 79 - Solo deformado ....................................................................................... 97
Figura 80 - Muro danificado....................................................................................... 97
Figura 81 - Perfil geológico do terreno ...................................................................... 98
Figura 82 - Perfil do solo ........................................................................................... 99
Figura 83 - Estaca carregada no fuste ...................................................................... 99
Figura 84 - Acréscimo de solo junto à divisa do terreno .......................................... 100
Figura 85 - impermeabilização do piso com argamassa aditivada .......................... 100
Figura 86 - Localização dos pinos ........................................................................... 101
Figura 87 - Controle de recalque ............................................................................. 101
Figura 88 - Pêndulo para medida de inclinação ...................................................... 102
Figura 89 - Vidro para detectar pequenos deslocamentos ...................................... 102
Figura 90 - Massa corrida sobre fissura no muro de divisa do terreno .................... 103
Figura 91 - Fundações provisórias .......................................................................... 104
Figura 92 - Flexão das paredes sem protensão ...................................................... 104
Figura 93 - Sistema de protensão nas paredes....................................................... 104
Figura 94 - Treliça auxiliar ....................................................................................... 105
Figura 95 - Posicionamento da estrutura provisória ................................................ 105
Figura 96 - Edifício erguido à sua cota inicial .......................................................... 105
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição dos tipos de solos e suas denominações ............................. 19


Tabela 2- Consistências das argilas em função do SPT ........................................... 20
Tabela 3 - Índice de consistência .............................................................................. 21
Tabela 4 - Grau de contração (qualidade do solo) .................................................... 22
Tabela 5 - Classificação das areias segundo a compacidade ................................... 23
Tabela 6 - Compacidade das areias em função do SPT ........................................... 24
Tabela 7 - Potencial de colapso associado ao grau de patologia.............................. 26
Tabela 8 - Quantidade mínima de sondagens........................................................... 28
Tabela 9 - Relação entre abertura de fissuras e danos em edifícios......................... 74
Tabela 10 - Denominação das fissuras ..................................................................... 74
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

1.1 OBJETIVOS .................................................................................................. 13


1.1.1 Objetivo Geral................................................................................................ 13
1.1.2 Objetivos Específicos .................................................................................... 13

2 METODOLOGIA ........................................................................................... 14

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................... 15

3.1 ESTUDO DOS SOLOS ................................................................................. 15


3.1.1 Índices Físicos ............................................................................................... 15
3.1.2 Análise Granulométrica ................................................................................. 18
3.1.3 Classificação Dos Solos Quanto À Origem ................................................... 24
3.2 INVESTIGAÇÃO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA ............................................ 27
3.2.1 Investigação Geotécnica Preliminar .............................................................. 27
3.2.2 Investigações Complementares .................................................................... 31
3.3 FUNDAÇÕES ................................................................................................ 35
3.3.1 Fundação Superficial (Rasa Ou Direta) ......................................................... 35
3.3.2 Fundações Profundas ................................................................................... 38
3.4 INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA................................................................ 47
3.4.1 Distribuição De Tensões ............................................................................... 47
3.4.2 Tensões Em Solo Com Presença De Água ................................................... 49
3.4.3 Capacidade De Carga Dos Solos .................................................................. 49
3.5 RECALQUES DE FUNDAÇÃO ..................................................................... 54
3.5.1 Tipos De Recalques ...................................................................................... 54
3.5.2 Causas De Recalques ................................................................................... 55
3.5.3 Recalques Admissíveis ................................................................................. 65
3.5.4 Controle De Recalques ................................................................................. 67
3.5.5 Estabilização De Recalques .......................................................................... 69
3.6 ASPECTOS TEÓRICOS SOBRE PATOLOGIA ............................................ 71
3.6.1 Fissuração ..................................................................................................... 72
3.6.2 Desaprumos .................................................................................................. 76
3.6.3 Ação Da Água ............................................................................................... 76
3.6.4 Ataques Biológicos ........................................................................................ 76
3.6.5 Lixiviação ....................................................................................................... 77
3.6.6 Ataque Por Sulfatos....................................................................................... 77
3.6.7 Ataque Por Cloretos ...................................................................................... 77
3.6.8 Carbonatação ................................................................................................ 77
3.6.9 Reação Álcali-Agregado ................................................................................ 78

4 ESTUDOS DE CASOS ................................................................................. 79

4.1 TORRE DE PISA ........................................................................................... 79


4.1.1 Descrição Do Problema ................................................................................. 79
4.1.2 Tipo De Solo .................................................................................................. 80
4.1.3 Soluções Adotadas........................................................................................ 81
4.1.4 Conclusão ..................................................................................................... 85
4.2 REFORÇO EM PONTES NO BRASIL .......................................................... 86
4.2.1 Ponte Na Rodovia PE-507 ............................................................................ 86
4.2.2 Ponte Na BR-101/BA..................................................................................... 91
4.3 CONSTRUÇÃO RESIDENCIAL (PARECER TÉCNICO) .............................. 93
4.3.1 Descrição Do Problema ................................................................................. 93
4.3.2 Recuperação Executada ............................................................................... 93
4.3.3 Conclusão Do Laudo ..................................................................................... 95
4.4 EDIFÍCIO ANÊMONA .................................................................................... 96
4.4.1 Descrição Do Problema ................................................................................. 96
4.4.2 Solo Do Terreno ............................................................................................ 97
4.4.3 Causa Do Desabamento ............................................................................... 98
4.4.4 Solução Adotada ........................................................................................... 99
4.4.5 Conclusão ................................................................................................... 105

5 CONCLUSÃO ............................................................................................. 107

5.1 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ............................................ 108

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 109


12

INTRODUÇÃO

A capacidade de uma fundação continuar desempenhando sua função de


transferir cargas de uma estrutura ao solo pode ser comprometida por diversos fatores
ao longo do tempo. Os problemas advindos do projeto, da execução ou da utilização
de uma estrutura, assim como a falta de estudos detalhados do solo local são
determinantes ao surgimento de patologias. Problemas estes muitas vezes
identificados de forma equivocada, ou mesmo atribuídas outras causas que deram
origem às patologias apresentadas que não os provenientes das fundações. Segundo
Alonso (1991, p. 5), uma característica das fundações é que as mesmas ficam
enterradas e, portanto, não é possível inspecioná-las facilmente após sua conclusão,
como acontece com outros elementos da estrutura.
A ocorrência de patologias em obras civis tem sido observada e reportada com
frequência tanto na prática nacional como internacional. Casos clássicos como o da
Torre de Pisa, dos prédios de Santos (São Paulo) e da Cidade do México têm sido
objeto de vários estudos e publicações. Geralmente, as patologias não são facilmente
solucionadas em razão da dificuldade em encontrar a origem do problema diante da
falta de informações sobre o projeto ou sobre o método de execução.
As patologias decorrentes dos recalques diferenciais comprometem não
somente a segurança da estrutura como também podem resultar em demandas
judiciais entre construtores e proprietários. Envolvendo inclusive vizinhos, por uma
fundação possivelmente interferir na construção próxima. Portanto, a área da
engenharia civil com ênfase na perícia é de grande importância, seja na esfera
extrajudicial, através de vistorias cautelares, como na esfera judicial, onde se faz
necessária a perícia de um profissional da área de engenharia civil para auxiliar os
juízes em suas decisões.
Neste trabalho será analisada a influência que os recalques de fundações têm
na ocorrência de patologias, abordando as possíveis causas de recalque, suas
origens e quais as manifestações patológicas provenientes da interação solo-
estrutura. Serão apresentados alguns casos reais de patologias em decorrência de
recalques de fundações em diferentes tipos de edificações com o objetivo de
exemplificar o trabalho teórico.
13

1.1 OBJETIVOS

Os objetivos do trabalho estão classificados em geral e específicos e são


apresentados nos próximos itens.

1.1.1 Objetivo Geral

Este trabalho tem como objetivo geral identificar e analisar as patologias


provenientes de recalques diferenciais de fundações.

1.1.2 Objetivos Específicos

Pretende-se analisar as causas geradoras de recalques de fundações e as


possíveis patologias decorrentes, abordando as propriedades mecânicas dos
diferentes tipos de solo, as características dos tipos de fundações, a importância do
controle dos recalques diferenciais, os tipos de patologias que indicam recalque
diferencial, bem como a apresentação de estudos de casos em diferentes tipos de
edificações como base exemplificativa ao trabalho.
14

2 METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a elaboração deste trabalho constituiu


basicamente nas seguintes ações:
 Estudo do solo;
 Classificações e propriedades mecânicas dos solos;
 Apresentação das inspeções geotécnicas aplicadas;
 Abordagem das exigências presentes nas normas brasileiras;
 Apresentação dos tipos de fundações mais utilizadas;
 Estudo da interação solo-estrutura;
 Apresentação dos tipos e causas de recalques;
 Apresentação dos métodos de controle e estabilização de recalques;
 Estudo das patologias resultantes dos recalques de fundações;
 Apresentação dos métodos de controle de fissuração e desaprumos;
 Análise do estudo de caso da Torre de Pisa;
 Análise do estudo de caso em construções de pontes;
 Análise do estudo de caso em uma edificação residencial;
 Análise do estudo de caso em um edifício.
15

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 ESTUDO DOS SOLOS

Neste capítulo, serão apresentadas algumas classificações e propriedades dos


solos, as quais são importantes para determinar possíveis problemas futuros. Dessa
forma, pode-se obter uma precisão maior na análise do tipo de fundação mais
adequada em cada projeto em função do tipo de solo presente.

3.1.1 Índices Físicos

O solo é um material constituído por um conjunto de partículas sólidas,


deixando entre si vazios que poderão estar parcial ou totalmente preenchidos pela
água (CAPUTO, 1988).

Figura 1 - Elementos constituintes de um solo

Fonte: (CAPUTO, 1988).

O comportamento de um solo depende da quantidade relativa de cada uma das


três fases: sólidos, água e ar (PINTO, 2006). A evaporação pode diminuir a quantidade
de água, e a compressão do solo pode provocar a saída de água e ar, reduzindo o
volume de vazios, alterando a resistência do solo e contribuindo para a ocorrência de
recalque de fundação. A Figura 2 representa os pesos e volumes em um elemento de
solo onde existe a presença de uma parcela de água, de ar e de sólidos. Ou seja, um
elemento de solo não saturado.

Figura 2 - Pesos e volumes em um elemento de solo não saturado

Fonte: (ORTIGÃO, 2007)


16

Segundo Pinto (2006), alguns índices são empregados para correlacionar os


pesos e volumes de cada parcela, conforme apresentados nos próximos itens.

3.1.1.1 Umidade de um solo

Razão entre o peso da água contida em certo volume de solo e o peso da parte
sólida existente neste mesmo volume, expresso em porcentagem de acordo com a
equação abaixo:
𝑊𝑤
ℎ% = × 100
𝑊𝑠

O procedimento para encontrar a umidade de um solo consiste em determinar,


através de uma balança, o peso da amostra em seu estado natural1 (𝑊).

𝑊 = 𝑊𝑠 + 𝑊𝑤

Em seguida, essa amostra passa por uma secagem completa, em uma estufa
a 105ºC ou 110ºC (CAPUTO, 1988). Após esse processo, a amostra seca é pesada
novamente, a fim de se obter o peso dos sólidos (𝑊𝑠 ).
Dessa forma, tem-se:

𝑊𝑤 𝑊 − 𝑊𝑠
ℎ (%) = × 100 = × 100
𝑊𝑠 𝑊𝑠

Outro meio para determinar a umidade de um solo de forma rápida consiste na


utilização do aparelho denominado Speedy. Constituído por um reservatório metálico
fechado e um manômetro, responsável por medir a pressão interna do reservatório.
Dentro do reservatório é colocada uma amostra do solo e uma porção de carbureto
de cálcio, que em reação com a água presente no solo gera acetileno. Pela variação
de pressão resultante da reação química, obtém-se a quantidade de água existente
no solo.

3.1.1.2 Peso específico natural

Relação entre peso total do solo (W) e seu volume total (V). O peso específico
natural também é chamado somente de peso específico, ou peso específico úmido

1 Estado natural do solo é garantido obtendo-se uma amostra indeformada, ou seja, uma

amostra do solo preservando suas características naturais.


17

(PINTO, 2006). Segundo Caputo (1988), o peso específico natural é chamado, ainda,
de peso específico aparente.

𝑊
𝛾𝑛 =
𝑉

A determinação do peso específico pode ser realizada em campo através do


conhecido processo do frasco de areia, normatizado pela ABNT NBR 7185.

3.1.1.3 Peso específico dos sólidos (ou dos grãos)

Relação entre o peso das partículas sólidas (𝑊𝑠 ) e o volume por elas ocupado
(𝑉𝑠 ) é obtido em laboratório. Esse valor varia entre 2600 e 2700 Kgf/m³. Valores
menores podem indicar a presença de matéria orgânica (REBELLO, 2008).

𝑊𝑠
𝛾𝑔 =
𝑉𝑠

3.1.1.4 Peso específico aparente seco

Relação entre peso dos sólidos (𝑊𝑠 ) e volume total (V) de um solo quando sua
umidade é igual a zero. Ou seja, corresponde ao peso específico que o solo teria se
ficasse seco, se isso pudesse ocorrer sem variação de volume (PINTO, 2006).

𝑊𝑠 𝛾𝑛
𝛾𝑑 = =
𝑉 1+ℎ

3.1.1.5 Índices de vazios

É a razão entre o volume de vazios (𝑉𝑣 ) e o volume de sólidos (𝑉𝑠 ).

𝑉𝑣
𝑒=
𝑉𝑠

Segundo Caputo (1988), também pode ser obtido em função do peso específico
das partículas do solo (𝛾𝑔 ) e do peso específico do solo seco (𝛾𝑑 ).

𝑉𝑣 𝛾𝑔
𝑒= = −1
𝑉𝑠 𝛾𝑑
18

3.1.1.6 Porosidade

Razão entre o volume de vazios (𝑉𝑣 ) e o volume total (𝑉𝑡 ) de uma amostra do
solo (CAPUTO, 1988).

𝑉𝑣
𝑛 (%) = × 100
𝑉𝑡

3.1.1.7 Grau de saturação

Relação entre o volume de água (𝑉𝑤 ) e o volume total de vazios (𝑉𝑣 ).

𝑉𝑤
𝑆 (%) = × 100
𝑉𝑣

O grau de saturação é igual a 100% nos materiais saturados, isto é, cujos


vazios estão totalmente preenchidos pela água (ORTIGÃO, 2007). É a porcentagem
de água contida nos seus vazios.

3.1.2 Análise Granulométrica

De acordo com Botelho e Carvalho (2007, p. 87), os solos são constituídos de


seixos e pedregulhos, areias, siltes e argilas. Essa classificação é obtida em função
do diâmetro das partículas que compõem o solo. É feita mediante uma análise
granulométrica, onde o solo é passado por peneiras de diversas aberturas. Dessa
forma, pode ser determinado o diâmetro máximo da porção que passou pela peneira
e sua porcentagem.
Para solos finos, com dimensões menores que 0,075 mm, ou seja, toda parcela
da amostra que passa pela peneira de número 200, é utilizado o método de
sedimentação continua em meio liquido, baseado na lei de Stokes (1850), pela qual a
velocidade de queda de partículas esféricas em um meio viscoso é proporcional ao
quadrado do diâmetro da partícula.
A Figura 3 representa uma curva de distribuição granulométrica, onde, através
do peso da parcela de solo retida em cada peneira, obtém-se uma porcentagem em
relação ao peso total da amostra.
19

Figura 3 - Curva de distribuição granulométrica do solo

Fonte: (PINTO, 2006, p. 21).

Dependendo da quantidade de cada tipo de solo encontrado na amostra, dá-se


a ela uma denominação, conforme a Tabela 1.

Tabela 1 - Distribuição dos tipos de solos e suas denominações


Areia Silte Argila
Denominação
(%) (%) (%)
80 – 100 0 – 20 0 – 10 Areia
0 – 20 80 – 100 0 – 20 Silte
0 – 50 0 – 50 50 – 100 Argila
50 – 80 0 – 50 0 – 20 Areia siltosa
40 – 80 0 – 40 20 – 30 Areia argilosa
0 – 40 40 – 70 0 – 20 Silte arenoso
0 – 30 40 – 80 20 – 30 Silte argiloso
30 – 70 0 – 40 30 – 50 Argila arenosa
0 – 30 20 – 70 30 – 50 Argila siltosa
Fonte: (REBELLO, 2008).

3.1.2.1 Solos Argilosos

Segundo Rebello (2008, p. 22), em razão da complexidade da constituição da


argila, não se consegue obter um índice que possa definir diretamente a sua parcela
de influência no comportamento do solo.
Fundações apoiadas em solos argilosos tendem a ceder, ou recalcar, em
longos períodos de tempo em função da expulsão do volume de água no solo. Essa
demora se dá pela característica de impermeabilidade do solo. Segundo Botelho e
20

Carvalho (2007, p. 91), esse tipo de recalque não é bom, mas, em contrapartida, a
coesão e a plasticidade dos solos argilosos facilitam a escavação, assim como a
impermeabilidade retêm maiores vazões de infiltração do lençol freático para o local
escavado.
Os solos argilosos também podem ser classificados conforme sua resistência
à penetração, determinada através da Sondagem de Simples Reconhecimento – SPT
(Standard Penetration Test) (ver item 3.2.1.1).

Tabela 2- Consistências das argilas em função do SPT

Resistência à penetração (número N do SPT) Consistência da argila


<2 Muito mole
3a5 Mole
6 a 10 Consistência média
11 a 19 Rija
> 19 Dura
Fonte: (PINTO, 2006).

Algumas das características mais importantes para o conhecimento dos solos


argilosos são:

 Plasticidade

Pode ser definida como a capacidade de deformar sem romper ao cisalhamento


(REBELLO, 2008). Consiste na maior ou menor capacidade dos solos serem
moldados, sob certas condições de umidade, sem variação de volume (CAPUTO,
1988). Diz-se plástico quando um solo não recupera seu estado original ao cessar as
ações de forças externas que o deformava (CAPUTO, 1988).

 Limites de consistência

A argila pode ir desde o estado líquido, ou seja, muito úmida, ao estado plástico,
semissólido e sólido, conforme diminua o seu grau de umidade (REBELLO, 2008).

Figura 4 - Estados e limites de consistência

Fonte: (CAPUTO, 1988).


21

 Limite de liquidez (LL): é o teor de umidade onde o solo se encontra entre


o limite do estado líquido e plástico.
 Limite de plasticidade (LP): é o teor de umidade onde o solo se encontra
entre o limite do estado plástico e semissólido.
 Limite de contração (LC): é o teor de umidade onde o solo se encontra
entre o limite do estado semissólido e o estado sólido.

 Índice de plasticidade

Através dos limites de consistência estabelecidos, é possível obter o índice de


plasticidade, que consiste na diferença entre o limite de liquidez e o limite de
plasticidade.
𝐼𝑃 = 𝐿𝐿 − 𝐿𝑃

Este valor determina a zona em que o terreno se acha no estado plástico.


Quanto maior o IP, tanto mais plástico será o solo. Quando um material não tem
plasticidade (areia, por exemplo), considera-se o índice de plasticidade nulo
(CAPUTO, 1988).

 Índice de consistência

A consistência pode ser definida como o grau de resistência de um solo de


granulometria fina à fluência ou à deformação (REBELLO, 2008). De acordo com
Caputo (1988, p. 58), o índice de consistência define a consistência de um solo em
seu estado natural e pode ser obtido através da fórmula:

𝐿𝐿 − ℎ
𝐼𝐶 =
𝐼𝑃

De acordo com o valor de IC, as argilas são classificadas em:

Tabela 3 - Índice de consistência

Muito moles (vasas) IC < 0


Moles 0 < IC < 0,50
Médias 0,50 < IC < 0,75
Rijas 0,50 < IC < 1,00
Duras IC > 1,00

Fonte: (CAPUTO, 1988).


22

 Grau de contração

Denomina a razão da diferença entre os volumes inicial (𝑉𝑖 ) e final (𝑉𝑓 ), após a
secagem da amostra. Segundo Caputo (1988), a compressibilidade de um solo cresce
com o grau de contração. Portanto, este índice fornece uma indicação da qualidade
do solo.
𝑉𝑖 − 𝑉𝑓
𝐶 (%) = × 100
𝑉𝑖

Quanto menor é o grau de contração, menor é a variação do volume do solo ao


ter a sua umidade diminuída. Dessa forma, quanto menor é esse índice, melhor é a
qualidade do solo para receber uma fundação.

Tabela 4 - Grau de contração (qualidade do solo)

Solos bons C < 5%


Solos regulares 5% < C < 10%
Solos sofríveis 10% < C < 15%
Solos péssimos C > 15%
Fonte: (CAPUTO, 1988).

 Impermeabilidade

Em razão do reduzido diâmetro das partículas, o solo argiloso tem grande


capacidade de impedir a passagem de água (BOTELHO e CARVALHO, 2007).
Escavações em terrenos argilosos não costumam oferecer problemas de
alagamento por água do lençol freático, pois o líquido não infiltra com facilidade do
terreno para a escavação (BOTELHO e CARVALHO, 2007).

3.1.2.2 Solos Arenosos

Os solos arenosos são mais permeáveis e não possuem coesão. Em razão da


falta de coesão, os cortes no terreno exigem que sejam feitas superfícies inclinadas,
chamadas de taludes. Cortes verticais no terreno não seriam estáveis. Dessa forma,
a areia ao ser escavada imediatamente escorrega sobre si mesma e se acomoda até
atingir um ângulo natural de repouso, também chamado de ângulo de atrito
(BOTELHO e CARVALHO, 2007).
Conforme Botelho e Carvalho (2007, p. 97), o ângulo de atrito das areias varia
de 30˚ a 45˚, em função do tipo de granulometria e do grau de compactação. Pode ser
23

determinado através de ensaios de cisalhamento direto ou ensaios de compressão


triaxial.
A permeabilidade elevada dos solos arenosos dificulta o processo de
escavação no sentido de permitir o acesso da água do lençol freático para o interior
da escavação.
Os recalques nos solos arenosos são de forma imediata, ao contrário dos solos
argilosos, onde o recalque acontece progressivamente ao longo do tempo.
Segundo Rebello (2008, p. 23), para as areias, é importante conhecer-se o grau
de compacidade, ou seja, se a areia é mais compacta ou menos compacta (fofa).
Fundações em areias fofas podem apresentar grandes deformações relacionadas ao
recalque e prejudicar o comportamento da estrutura.
O grau de compacidade de uma areia pode ser expresso pelo índice de vazios
em que ela se encontra (𝑒𝑛𝑎𝑡 ), pelo índice de vazios mínimo (𝑒𝑚í𝑛 ) e pelo índice de
vazios máximo ( 𝑒𝑚á𝑥 ). Dessa forma, segundo Pinto (2006), é possível obter a
compacidade relativa (CR):

𝑒𝑚á𝑥 − 𝑒𝑛𝑎𝑡
𝐶𝑅 =
𝑒𝑚á𝑥 − 𝑒𝑚í𝑛

Terzaghi 2 sugeriu a terminologia apresentada na tabela seguinte (PINTO,


2006).

Tabela 5 - Classificação das areias segundo a compacidade


Classificação CR

Areia fofa Abaixo de 0,33


Areia de compacidade média Entre 0,33 e 0,66
Areia compacta Acima de 0,66
Fonte: (PINTO, 2006, p. 40).

Os solos arenosos também podem ser classificados quanto a sua compacidade


conforme sua resistência à penetração, determinada através da Sondagem de
Simples Reconhecimento (item 3.2.1.1).

2 Karl Terzaghi é considerado o principal criador da Mecânica dos Solos (CAPUTO, 1988).
24

Tabela 6 - Compacidade das areias em função do SPT

Resistência à penetração (número N do SPT) Consistência da areia

0a4 Muito fofa


5a8 Fofa
9 a 18 Compacidade média
18 a 40 Compacta
Acima de 40 Muito compacta
Fonte: (PINTO, 2006).

3.1.2.3 Solos Siltosos

O silte é o solo intermediário entre a areia e a argila. Quase nunca se tem solo
siltoso; ou se tem o solo siltoso-arenoso ou siltoso-argiloso, e para efeitos práticos
eles são tratados como argilas quando classificados como siltes argilosos, e como
areias, quando siltes arenosos (BOTELHO e CARVALHO, 2007).

3.1.3 Classificação Dos Solos Quanto À Origem

Outra classificação bastante observada na bibliografia é a classificação dos


solos quanto a sua formação e origem, onde podem ser divididos em solos residuais,
solos orgânicos e solos sedimentares.

3.1.3.1 Solos Residuais

Constituídos pela decomposição local das rochas. São os que permanecem no


local da rocha de origem, observando-se uma gradual transição do solo até a rocha
(CAPUTO, 1988). Outra característica importante dos solos residuais é ter o tamanho
indefinido dos grãos. Por exemplo, quando uma amostra de solo residual é peneirada,
a quantidade de solo que passa na peneira depende do tempo e da energia de
agitação das peneiras (MURTHY, 2003). São exemplos de solos residuais os solos:

 Lateríticos

Solos avermelhados típicos de clima quente, com regime de chuvas moderadas


e intensas. Na natureza, possui índice de vazios elevado, portanto, com pequena
capacidade de carga. Porém, quanto compactados, sua capacidade de carga é
elevada, podendo ser usado em pavimentações e aterros. Após compactado, um solo
25

laterítico apresenta contração se o teor de umidade diminuir, mas não apresenta


expansão na presença de água (PINTO, 2006).

 Expansivos

Solos que em contato com água apresentam expansão, ou inchamento,


provocando defeitos em construções. Nesses solos pode ocorrer o levantamento da
fundação e a diminuição de resistência devido a sua expansão, de acordo com a
norma ABNT NBR 6122/2010. São solos que contribuem para acréscimo de tensões
em locais e sentidos não previstos, como no vão de vigas baldrame e nos pisos,
contribuindo para o surgimento de fissuras em construções sobre esse tipo de solo.

 Colapsíveis (porosos)

Definidos como “materiais que apresentam uma estrutura metaestável, sujeita


a rearranjo radical de partículas e grande variação (redução) volumétrica devido à
saturação, com ou sem carregamento externo adicional” (MILITITSKY, CONSOLI e
SCHNAID, 2008). De acordo com Ortigão (2007, p. 170), o fenômeno da
colapsibilidade ocorre quando a lixiviação (solubilização de compostos pela água de
chuva) provoca uma alteração estrutural por dissolução ou alteração do material de
ligação entre os grãos do solo. A norma ABNT NBR 6122 também determina no item
7.5.3 que, em relação aos solos colapsíveis, deve ser considerada a possibilidade de
ocorrer o encharcamento (devido a, por exemplo, vazamentos de tubulações de água,
elevação do lençol freático etc.). Com o aumento do teor de umidade até um valor
crítico, estes solos podem perder sua estrutura de macrovazios por colapso estrutural
(MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008). Em consequência, fundações apoiadas
sobre solos colapsíveis podem sofrer recalques adicionais causados por saturação do
solo, principalmente em fundações superficiais, onde o solo está mais propenso à
saturação pela água da chuva ou por vazamentos de canalizações.
Segundo Milititsky, Consoli e Schnaid (2008, p. 40), a partir do Ensaio de
Adensamento, é possível obter o potencial de colapso do solo pela fórmula:
∆𝑒
𝑃𝐶 =
1 + 𝑒0

Onde 𝑃𝐶 é o potencial de colapso, ∆𝑒 é a variação de índice de vazios com a


inundação e 𝑒0 é o índice de vazios anterior à inundação do solo.
26

Segundo Jennings e Knight (1975), citado por Milititsky, Consoli e Schnaid


(2008), os valores críticos para o potencial de colapso é descrito na Tabela 7.

Tabela 7 - Potencial de colapso associado ao grau de patologia


PC em % Severidade do problema

0–1 Nenhum problema


1–5 Problema moderado
5 – 10 Problemático
10 – 20 Muito problemático
>> que 20 Excepcionalmente problemático

Fonte: (JENNINGS e KNIGHT, 1975 apud MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).

3.1.3.2 Solos Sedimentares

Solos que sofrem a ação de agentes transportadores, como a água, o vento, a


gravidade e as geleiras. A textura desses solos varia com o tipo de agente
transportador e com a distância de transporte (CAPUTO, 1988). Segundo Murphy
(2003, p. 8), grande parte dos solos sedimentares estão soltos em grandes
profundidades. Portanto, dificuldades com fundações e outros tipos de construções
estão geralmente associadas aos solos sedimentares.

3.1.3.3 Solos Orgânicos

São solos que contêm grande quantidade de matéria decorrente de


decomposição de origem vegetal ou animal. São identificáveis pela cor escura e pelo
odor característico. Possuem elevados índices de vazios, consequentemente, baixa
capacidade de carga e considerável compressibilidade, permitindo que os recalques,
devidos a carregamentos externos, ocorram rapidamente (PINTO, 2006).
Segundo Murphy (2003, p. 8), o termo solos orgânicos se refere a solos
sedimentares com uma mistura mais ou menos visível de vegetais em decomposição.
27

3.2 INVESTIGAÇÃO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA

Segundo Alonso (1991, p. 5):


“Não se deve elaborar qualquer projeto de fundação sem que a
natureza do subsolo seja conhecida, através de ensaios
geotécnicos de campo, tais como sondagens de simples
reconhecimento, ensaios de penetração estática, provas de
cargas em protótipos etc.”.
O objetivo da geotécnica é exatamente o de determinar, tanto quanto possível
sob fundamentação científica, a interação terreno-fundação-estrutura (CAPUTO,
1988). Neste capítulo serão apresentados os ensaios e procedimentos descritos nas
normas brasileiras que auxiliam o reconhecimento do subsolo que se pretende
analisar.

3.2.1 Investigação Geotécnica Preliminar

A norma ABNT NBR 6122/2010 especifica que para qualquer edificação deve
ser feita uma investigação geotécnica preliminar, constituída no mínimo por
sondagens a percussão (com SPT – standard penetration test) e, em função dos
resultados obtidos, pode ser necessária uma investigação complementar.

3.2.1.1 Sondagem de Simples Reconhecimento à Percussão – SPT

Apesar de não ser o mais perfeito processo de sondagem, o denominado


Ensaio de Penetração Normal – ou SPT (Standard Penetration Test), é o mais usado
tanto no Brasil como no mundo todo (REBELLO, 2008). Pela forma como é executado,
o ensaio também é conhecido como sondagem à percussão.

 Determinação da quantidade de furos de sondagem

A sondagem permite conhecer o tipo de solo através da retirada de uma


amostra deformada3 a cada metro perfurado, a resistência oferecida pelo solo e a
posição do nível d’água.

3 Amostra deformada é aquela em que há destruição de estrutura na operação de coleta,

embora mantidas as dimensões e proporções de seus constituintes (DNER, 1994).


28

No Brasil, o ensaio é regulamentado pela norma ABNT NBR 6484, auxiliada


pela norma ABNT NBR 8036, que determina:

Tabela 8 - Quantidade mínima de sondagens


Área de projeção em planta4 Quantidade de sondagens
Até 1200 m² 1 para cada 200 m²
De 1200 m² a 2400 m² 1 a mais para cada 400 m² que excede 1200 m²
Fixado de acordo com o plano particular da
Acima de 2400 m²
construção

Fonte: Adaptado (NBR 8036, 1983).

Em todos os casos, deve ser respeitado o número mínimo de:


 Duas sondagens para área de projeção em planta de até 200 m²;
 Três sondagens para área de projeção em planta entre 200 m² e 400 m².
A distância entre os furos pode variar conforme o tipo de obra. No caso de
edificações, salvo em casos específicos, a distância entre as sondagens varia de 15
a 30 metros, em posições próximas aos limites de projeção da edificação e nos pontos
de maior concentração de carga (QUARESMA, DÉCOURT, et al., 1998).

 Procedimento do Ensaio

O procedimento consiste basicamente na cravação de um amostrador padrão


no solo através da queda livre de um peso de 65 Kg, caindo de uma altura de 75 cm.
O início do furo de sondagem é feito manualmente, com o auxílio de um trado
cavadeira até a profundidade de um metro. Em seguida é recolhida uma amostra do
trado, denominada amostra zero.

Figura 5 - Trados tipo (a) cavadeira, (b) espiral ou 'torcido' e (c) helicoidal.

Fonte: (VELLOSO e LOPES, 2011)

4 Termo referente a área ocupada pela projeção da edificação, incluindo o telhado.


29

O amostrador padrão é acoplado a uma haste e apoia-se no fundo do furo. Na


outra extremidade da haste é apoiado o peso de 65 kg (martelo) que é então elevado
a 75 cm da haste, por meio de um sistema de roldanas e tripé, e deixado cair. O peso
do martelo caindo sobre a haste faz com que o amostrador acoplado seja cravado no
solo. Cada movimento de queda do martelo é contado até que seja cravado 15 cm no
solo. Em seguida, o número de quedas do martelo necessário para cravar 15 cm no
solo é anotado. Esse processo é repetido mais duas vezes, somando 45 cm cravado
no solo. Após essa fase, o amostrador é retirado, aberto e então é retirada a amostra
de solo retida dentro do amostrador. Em seguida a perfuração é avançada por meio
do trado manual até atingir a próxima cota, ou seja, é avançado mais 55 cm. O
processo se repete para os próximos metros da sondagem.
Quando no decorrer da sondagem é encontrado o nível d’água, a norma ABNT
NBR 6484 determina que seja interrompida a perfuração e passa-se a observar a
elevação do nível d’água efetuando-se leituras a cada 5 minutos durante, no mínimo,
15 minutos.
Depois de encontrado o nível d’água ou quando a perfuração com o trado for
inferior a 50 mm após 10 minutos de operação, o avanço da perfuração passa a ser
realizado por lavagem, e não mais pelo trado, ou seja, prossegue-se a perfuração com
auxílio de circulação de água.

Figura 6 - Etapas da execução de sondagem a percussão: (a) avanço da sondagem por


desagregação e lavagem; (b) ensaio de penetração dinâmica (SPT)

Fonte: (VELLOSO e LOPES, 2011)


30

O procedimento por lavagem consiste na retirada do amostrador padrão,


substituindo-o por uma ferramenta denominada trépano (uma ponteira com hastes
cortantes). Utilizando uma bomba, injeta-se água no interior da haste de perfuração,
que sai por furos existentes no trépano. O avanço da perfuração é obtido pela rotação
do trépano e pela percolação da água, que amolece o solo e eleva amostras do solo
até a superfície.

 Resultados do ensaio SPT

O resultado no ensaio é o número de golpes necessário para cravar os 30 cm


finais (VELLOSO e LOPES, 2011). Quando o número de golpes for apresentado em
forma de fração, por exemplo, 5/10 significa que foram realizados 5 golpes e o
amostrador cravou 10 cm no solo.

Figura 7 - Relatório de sondagem SPT

Fonte: adaptado (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).


31

 Critérios de interrupção da sondagem

Segundo a norma ABNT NBR 6484, o processo de perfuração deve ser


utilizado até onde se obtiver uma das seguintes condições:
 Quando se obtiver 30 golpes para penetração dos 15 cm iniciais em 3
metros sucessivos;
 Quando se obtiver 50 golpes para penetração dos 30 cm iniciais em 4
metros sucessivos; e
 Quando se obtiver 50 golpes para penetração dos 45 cm em 5 metros
sucessivos.
A norma ABNT NBR 6484 também determina que, no ensaio de avanço por
perfuração por circulação de água, forem obtidos avanços inferiores a 50 mm em cada
período de 10 minutos ou quando, após a realização de quatro ensaios consecutivos,
não for alcançada a profundidade de execução do SPT.

3.2.2 Investigações Complementares

Segundo determina a norma ABNT NBR 6122, caso após a realização de


sondagens a percussão ainda restarem dúvidas quanto à natureza do material
impenetrável a percussão, devem ser realizadas investigações ou ensaios
complementares.

3.2.2.1 Sondagens rotativas e mistas

De acordo com a ABNT NBR 6122, no caso de dúvida quanto à natureza do


material impenetrável a percussão, deve ser programadas sondagens mistas, que
constitui sondagem a percussão e rotativa.
Materiais impenetráveis à percussão são matacões5, rochas alteradas ou sãs.
Nesse caso deve-se mudar a sondagem para um tipo de equipamento que possui uma
coroa amostradora, capaz de obter amostras da rocha para sua classificação
(REBELLO, 2008).

5 Matacões são blocos de rocha ainda não decompostos alojados no solo residual

(MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).


32

Nas sondagens rotativas, deve-se aprofundar o amostrador pelo menos quatro


metros, para ter a segurança de que não se está atravessando um simples matacão
(REBELLO, 2008). A falta de realização da sondagem rotativa pode gerar uma má
interpretação das sondagens, confundindo matacões com a ocorrência de perfil de
rocha contínua. Essa análise equivocada pode resultar em fundações apoiadas em
matacões, que por sua vez estão apoiados em solo de baixa resistência, provocando
o recalque do conjunto fundação e matacão.

3.2.2.2 Sondagem à percussão com medida de torque (SPT -T)

Esse tipo de sondagem tem o mesmo procedimento da sondagem de simples


reconhecimento à percussão (SPT), apenas complementado pela medição do torque
necessário para girar a haste do amostrador padrão. Essa medição é feita a cada
metro perfurado, com auxílio da ferramenta denominada torquímetro. A relação entre
o valor do torque medido (T) [Kgf x m] e o valor N do ensaio SPT caracteriza o índice
de torque (TR), que permite classificar o solo enfatizando sua estrutura (QUARESMA,
DÉCOURT, et al., 1998).

𝑇
𝑇𝑅 =
𝑁

 Pedregulhos no interior do solo

Quando o número SPT (N) é aumentado subitamente e o valor do torque


medido (T) continua na mesma faixa, pode estar ocorrendo a presença de
pedregulhos no solo.
Por terem dimensões na mesma ordem de grandeza do bico do amostrador, o
pedregulho obstrui o amostrador e o número SPT (N) é alterado para configurações
que não condizem com a realidade do solo. Porém, o valor do torque (T) não é afetado
pela presença de pedregulhos, resultando em grandes alterações no índice de torque
(TR) (QUARESMA, DÉCOURT, et al., 1998).

 Identificação de solos colapsíveis pelo SPT-T

Os solos colapsíveis podem ser identificados através do índice de torque (TR).


Para solos estáveis, o valor de TR se situa entre 1,0 e 1,2. Entretanto, para solos
33

colapsíveis esse valor se apresenta acima de 2,5 (QUARESMA, DÉCOURT, et al.,


1998).

3.2.2.3 Ensaio de cone (CPT)

O CPT (Cone Penetration Test) é um tipo de sondagem criada na Holanda, na


década de trinta. Segundo Rebello (2008, p. 37), no Brasil essa modalidade de
sondagem ainda não é muito comum, mas vem se desenvolvendo bastante e não é
de duvidar que, em um futuro próximo, substitua a sondagem a percussão. No Brasil
esse ensaio é normalizado pela ABNT NBR 12069.
Os valores registrados são medidos ao longo de toda a profundidade da
sondagem e medem tanto a resistência de ponta com o atrito lateral.
O equipamento consta de hastes emendáveis que apresentam em sua ponta
um cone com ângulo de 60º e uma área de 10 cm². É utilizado um tubo de revestimento
por onde o cone é penetrado continuamente a uma velocidade baixa (segundo Velloso
e Lopes (2011), atualmente essa velocidade é de 2cm/s). O esforço necessário para
a penetração do cone é registrado continuamente.
Este ensaio, apesar de mais preciso que o ensaio SPT por apresentar dados
durante toda a profundidade, tem a desvantagem de não existir a retirada de amostras
durante a perfuração.

3.2.2.4 Ensaio de Adensamento

Normatizado pela ABNT NBR 12007, o ensaio de adensamento tem por


objetivo determinar as características do solo quando submetido a pressões,
simulando o que ocorre quando a fundação transfere sua carga ao solo.
O ensaio consiste em comprimir em um aparelho (edômetro) uma amostra do
solo, confinada entre duas pedras porosas e lateralmente por um anel rígido. Uma
carga vertical é aplicada e gradualmente aumentada seguindo uma escala de tempo.
A cada aumento da carga é anotado o valor das deformações.
A partir do valor das deformações, é possível obter o índice de vazios em cada
estágio de carga aplicada. Dessa forma, pode-se traçar um gráfico como apresentado
na Figura 8.
34

Como resultado de um ensaio de adensamento, traçam-se também as curvas


tempo-recalque para cada um dos estágios de carregamento (Figura 9). Essas curvas
permitem a determinação do coeficiente de adensamento e permeabilidade do solo
(CAPUTO, 1988).

Figura 8 - Curva de índice de vazios por pressão (carga)

Fonte: adaptado (CAPUTO, 1988).

Figura 9 - Curva tempo x recalque

Fonte: modificado (CAPUTO, 1988).


35

3.3 FUNDAÇÕES

Fundações são os elementos responsáveis pela transmissão da carga da


estrutura para o solo. Neste capítulo serão apresentados os tipos mais comuns de
fundações utilizadas no Brasil, previstos na norma ABNT NBR 6122.

3.3.1 Fundação Superficial (Rasa Ou Direta)

Define-se como fundação direta ou rasa aquela em que as cargas da edificação


são transmitidas ao solo logo nas primeiras camadas (REBELLO, 2008).
Segundo Velloso e Lopes (1998, p. 214), as sapatas e o blocos (tipos de
fundações rasas) são os elementos de fundação mais simples e mais econômicos,
mas nem sempre é possível sua utilização. Para ser viável a utilização de fundações
rasas, é necessário que o solo tenha resistência suficiente para suportar as cargas
logo nas primeiras camadas. Entretanto, é de suma importância conhecer as camadas
de solo abaixo de onde se pretende apoiar a fundação, verificando a influência das
tensões nas camadas mais profundas.

3.3.1.1 Sapatas

São elementos de fundação de concreto armado, de altura menor que o bloco,


utilizando armadura para resistir aos esforços de tração (VELLOSO e LOPES, 1998).
A ideia é que a carga atuante sobre a sapata se distribua pela sua área de contato
com o solo, aplicando neste uma tensão no máximo igual à tensão admissível do solo
(taxa do solo) (REBELLO, 2008).
É um dos tipos de fundação mais usado, pelo seu baixo custo e por não exigir
equipamento especializado (BOTELHO e CARVALHO, 2007).
O procedimento executivo de uma sapata consiste na escavação, seguido pelo
lançamento de um lastro de concreto magro6, montagem das formas, colocação das
armaduras e concretagem. Após a concretagem é retirado as formas e feito o reaterro
(BOTELHO e CARVALHO, 2007).

6 Lastro de concreto magro é uma camada de concreto não estrutural, com no mínimo 5 cm,

lançado sobre toda a superfície do solo que irá receber a fundação, a fim de regularizar a superfície e
proteger o concreto estrutural da fundação.
36

 Sapata isolada

Sapata isolada (Figura 10) é utilizada quando as cargas transmitidas pela


estrutura são pontuais ou concentradas, como as cargas de pilares. As dimensões da
sapata isolada são determinadas pelas cargas aplicadas e pela resistência do solo,
de forma que as tensões no solo sejam no máximo iguais à sua tensão admissível
(taxa do solo) (REBELLO, 2008).

Figura 10 – Sapata isolada

Fonte: Adaptado (BOTELHO e CARVALHO, 2007)

 Sapata associada

Quando dois pilares estiverem muito próximos, é possível que suas sapatas se
sobreponham. Neste caso, são dimensionadas sapatas associadas, que significa
apoiar os pilares sobre uma única sapata, onde o centro de gravidade da carga dos
pilares coincida com o centro de gravidade da sapata.

Figura 11 - Sapata associada

Fonte: adaptado (ALONSO, 1983)


37

 Sapata de divisa

Quando o pilar se encontra na divisa da construção, seja com terreno vizinho


ou com área pública, não se pode avançar com a fundação além da divisa. Nesse
caso, o centro de gravidade da sapata não irá coincidir mais com a carga aplicada
pelo pilar, pois a sapata teve que ser deslocada para não invadir o terreno vizinho,
ocasionando em uma excentricidade da carga. A viga alavanca é uma viga que liga o
pilar da divisa a um pilar próximo. A carga excêntrica do pilar é transmitida através da
viga alavanca até o centro de gravidade da sapata, equilibrando o sistema.

Figura 12 - Sapata de divisa

Fonte: Adaptado (REBELLO, 2008)

3.3.1.2 Blocos

São elementos de fundação de concreto simples, dimensionado de maneira


que as tensões de tração nele produzidas possam ser resistidas pelo concreto, sem a
necessidade de armadura (VELLOSO e LOPES, 1998).
Para Moraes (1978, p. 35), os blocos de concreto simples são usados para
carregamentos não superiores a 50 toneladas e para solos cujas taxas admissíveis
não sejam inferiores a 2 kg/cm².
38

3.3.1.3 Radier

São elementos de fundação que recebem todos os pilares da obra (VELLOSO


e LOPES, 1998). Ainda segundo Velloso e Lopes (1998), quando a área total de
fundação ultrapassa metade da área da construção, o radier é indicado. Rebello
(2008) afirma que fundações em radier comportam-se bem em solos com SPT maior
que quatro. O uso do radier evita que um apoio recalque mais que outro, ou seja, evita
o recalque diferencial. São fundações bastante utilizadas na construção de habitações
populares, pois geralmente se utiliza alvenaria estrutural apoiado sobre o radier, que
por sua vez é aproveitado como contra-piso. Assim, se torna uma construção
econômica.

Figura 13 - Radier

Fonte: Autor

3.3.2 Fundações Profundas

Quando não for possível obter a tensão admissível ao projeto em pequenas


profundidades, é adotada a fundação profunda, que pode ser classificada em
fundações moldadas in loco ou pré-moldadas. As primeiras são executadas furando o
solo e depois preenchendo o furo com concreto, podendo ser armadas ou não. As
fundações pré-moldadas são executadas na indústria e são cravadas no solo por
equipamentos apropriados (REBELLO, 2008).

3.3.2.1 Tubulão

Elemento de forma cilíndrica, onde, pelo menos em sua fase final de execução,
há a descida de operário (VELLOSO e LOPES, 2011). O tubulão se difere das estacas
pela necessidade de descida de operário para finalizar a execução manualmente.
39

O tubulão é preferencialmente indicado para obras de grande porte,


principalmente pontes e viadutos. Entretanto, em situações especiais, pode ser
utilizado para cargas menores, como é o caso de fundações em terrenos de topografia
difícil, onde outros equipamentos não têm acesso (REBELLO, 2008).

 Tubulões a céu aberto

São elementos estruturais de fundação constituídos concretando-se um poço


aberto no terreno, geralmente dotado de uma base alargada. Este tipo de tubulão é
executado acima do nível da água natural ou rebaixado, ou, em casos especiais, em
terrenos saturados onde seja possível bombear a água sem risco de
desmoronamentos (ALONSO, 1983).
No caso de existir apenas carga vertical, este tipo de tubulão não é armado,
colocando-se apenas uma ferragem de topo para ligação com o bloco de coroamento
ou de capeamento7 (ALONSO, 1983). Caso tenha que absorver forças horizontais e
momentos fletores, a armação é feita ao longo de toda a extensão (REBELLO, 2008).

Figura 14 - Tubulão a céu aberto

Fonte: (ALONSO, 1983)

 Tubulões a ar comprimido

Em locais onde exista água e o rebaixamento do lençol freático para a


escavação do tubulão seja perigosa pelas características do solo oferecer risco ao
desmoronamento, pode ser utilizado o tubulão a ar comprimido (Figura 15). Segundo
Rebello (2008), para a execução do tubulão a ar comprimido são cravadas no solo
anéis de concreto ou metálico. A escavação é feita a céu aberto enquanto o lençol

7 Blocos de coroamento ou de capeamento são constituídos sobre estacas ou tubulões, sendo

os mesmos armados de modo a transmitir a carga dos pilares para as estacas ou para os tubulões.
São, portanto, diferentes dos blocos de fundação, que não são armados (ALONSO, 1983).
40

freático não for atingido. Ao atingi-lo, instala-se uma campânula de ar comprimido, que
irá gerar pressão suficiente para expulsar a água, permitindo o avanço do serviço.
A pressão gerada cria um ambiente hostil ao operário, considerando que o
limite da pressão a que o ser humano pode ficar exposto é de 3,4 atm (REBELLO,
2008). Por essa razão, a profundidade do tubulão é limitada a 30 metros abaixo do
nível da água, pois a pressão máxima de ar comprimido aplicada é limitada a 3 atm
(0,3 Mpa) (ALONSO, 1983).

Figura 15 - Tubulão a ar comprimido

Fonte: (ALONSO, 1983).

3.3.2.2 Estacas

Elementos de fundação profunda executado com o auxílio de ferramentas ou


equipamentos, por cravação a percussão, prensagem, vibração ou pode ser
executada por escavação (VELLOSO e LOPES, 1998). Têm a finalidade de transmitir
41

cargas ao solo, seja pela resistência sob sua extremidade inferior (resistência de
ponta), seja pela resistência ao longo do fuste8 (atrito lateral) ou pela combinação dos
dois (ALONSO, 1983).

 Estacas pré-moldadas de concreto

São estacas cravadas ao terreno. Por essa razão, são armadas em toda sua
extensão, a fim de resistir aos choques do pilão ou martelo de cravação. Variam de
diâmetro e comprimento dependendo do fabricante e sempre devem informar a tensão
admissível estrutural da estaca, ou seja, a carga que a estaca suporta sem apresentar
defeitos.

 Estacas de madeira

São estacas utilizadas há muitos anos. Seu diâmetro varia de 22 a 30 cm e seu


comprimento geralmente é limitado a 12 metros (CAPUTO, 2012).
Segundo Caputo (2012), a duração das estacas de madeira é praticamente
ilimitada, quando mantida permanentemente debaixo d’água. Ao contrário, se estão
sujeitas a variação do nível d’água, elas apodrecem rapidamente. Várias substâncias
e processos são empregados a fim de preservar as estacas, como pintura, utilização
de creosoto (substância proveniente da destilação do carvão ou no asfalto), sais
tóxicos de zinco, cobre mercúrio, entre outros.
Durante a cravação é recomendado o emprego de uma ponteira metálica, a fim
de facilitar a penetração e proteger a madeira. Assim como é utilizado na cabeça da
estaca um anel cilíndrico de aço que evita seu rompimento pelos golpes do pilão.

 Estacas metálicas

São estacas cravadas, onde a grande variedade de perfis empregados, a


facilidade de cravação e a grande capacidade de carga são fatores determinantes na
escolha desse tipo de estaca.
Segundo Caputo (2012) as estacas metálicas devem resistir à corrosão, seja
pela sua própria constituição, seja por tratamento adequado, como, por exemplo, uma
pintura com tinta à base de óxido de chumbo. Caputo (2012) ainda complementa que

8 Fuste é toda lateral das estacas ou do tubulão, conforme identificado na Figura 14.
42

quando nenhum tratamento é empregado, para fins de cálculo de capacidade de


carga, considera-se uma redução de 1,5 mm na espessura do perfil por face.

 Estacas de reação (Mega ou Prensada)

Estacas pré-moldadas, utilizada quando se pretende evitar vibrações ou para


reforços de obras já executadas, finalidade para a qual elas foram concebidas
(CAPUTO, 2012). São também chamadas de estacas de reação, pois requerem um
sistema de reação para os macacos (VELLOSO e LOPES, 2010).
A estaca é constituída por elementos de 1,5 m, 3 m ou 5 m que se vão cravando,
um após o outro, justapostos, até se conseguir o comprimento desejado. Sua
característica principal é a cravação no terreno, que se faz por meio de um macaco
hidráulico, encontrando a reação no peso da própria estrutura a reforçar (CAPUTO,
2012). Também pode ser utilizada uma plataforma com sobrecarga, a fim de encontrar
uma reação para cravação da estaca (VELLOSO e LOPES, 2010).
Segundo Caputo (2012), o próprio processo de cravação da estaca Mega a
submete a uma prova de carga9 igual a 1,5 vezes a carga de trabalho.

Figura 16 - Execução de estaca prensada

Fonte: adaptado (VELLOSO e LOPES, 2010).

 Estacas Strauss

Segundo Rebello (2008), a escavação do furo é feita com um equipamento


denominado Balde Strauss, um cilindro de aço no qual, em uma das pontas, encontra-

9 A prova de carga é definida no item 3.4.3.1 deste trabalho.


43

se uma portinhola rotatória. O balde, ligado por cabos a um motor elétrico ou a


combustão, é lançado de um tripé metálico de aproximadamente 4 metros de altura.
Pelo seu peso próprio, o Balde é cravado no solo; nesse momento, a portinhola da
ponta se abre para penetração do solo. Após furado o primeiro metro, é colocado no
furo um tubo de aço de 2 a 3 metros de comprimento, que vai descendo ao mesmo
tempo em que se prossegue com a escavação do furo. Esse tubo é emendável por
meio de rosca e tem a função de controlar a verticalidade do furo e de protegê-lo
contra desbarrancamentos. O concreto usado deve ser bastante plástico para evitar
sua aderência ao tubo. Após o lançamento de uma coluna de aproximadamente 50
cm de concreto, o Balde Strauss é substituído por um pilão de aproximadamente 300
Kgf, que, em queda livre, provoca o adensamento do concreto dentro do furo. Durante
a concretagem, o tudo de revestimento é retirado e, em seguida, instalado a armação
apenas na cabeça da estaca, para ligação com outros elementos.
Rebello (2008) complementa ainda que, em princípio, não é recomendável o
uso de estaca Strauss abaixo do nível d’água.

 Estacas Franki

Conforme Rebello (2008) descreve, este equipamento é composto de uma torre


metálica da qual é lançado um peso, denominado pilão, cuja função é cravar um tubo
metálico. Para que o tubo seja cravado no solo, é colocado em sua ponta um volume
de concreto bastante seco, que desenvolve grande atrito com a parede do tubo. Esse
concreto seco é denominado bucha. A altura do concreto dentro do tubo deve ser de
1,5 a 2 vezes o diâmetro do tubo, para que não prejudique o processo de cravação.
Ao ser atingido pelo pilão, a bucha penetra no solo e empurra consigo o tubo metálico.
Ao atingir a cota de apoio da estaca, o tubo é preso por cabos de aço e a bucha
é expulsa pelos golpes do pilão, formando a ponta da estaca. Em seguida, é colocada
a armação e feita a concretagem do fuste ao mesmo tempo em que é retirado o tubo
metálico.
Pela forma de execução, as estacas Franki podem ser aplicadas a qualquer
tipo de solo e também abaixo do nível da água (REBELLO, 2008).
44

Figura 17 - Execução da estaca Franki

Fonte: (VELLOSO e LOPES, 2010)

 Estacas hélice contínua

Segundo Rebello (2008), o uso desse tipo de estaca no Brasil é razoavelmente


recente, sendo utilizada pela primeira vez em 1987. Nos Estados Unidos e na Europa
são utilizadas desde a década de 1970 (VELLOSO e LOPES, 2010).
A estaca hélice contínua é executada mediante a introdução de um trado
helicoidal contínuo e de injeção de concreto pela própria haste central do trado,
simultaneamente a sua retirada. Em seguida, após a concretagem da estaca, é
colocada a armação (VELLOSO e LOPES, 2010).
A vantagem da estaca hélice contínua é o baixo nível de vibração e elevada
produtividade, constituindo uma grande aceitação.
A execução é monitorada eletronicamente, podendo ser obtido informações a
respeito da inclinação, da profundidade, do torque e velocidade de rotação da hélice,
da pressão de bombeamento, consumo e perdas de concreto (REBELLO, 2008).
45

Figura 18 - Execução de estaca hélice contínua

Fonte: (VELLOSO e LOPES, 2010)

 Estacas-raiz

Foram originalmente utilizadas na Itália para contenção de encostas.


Posteriormente, foram utilizadas em reforços de fundações e, em seguida, como
fundações normais (VELLOSO e LOPES, 2010).
Os equipamentos utilizados são, em geral, de pequeno porte, o que possibilita
o trabalho em ambientes restritos (VELLOSO e LOPES, 2010). Por essa razão, são
estacas bastante utilizadas em reforço de fundações.
O processo executivo das estacas-raiz, segundo descreve Rebello (2008),
constitui primeiramente a perfuração do furo, utilizando um tubo rotativo que tem em
sua base uma ferramenta denominada sapata de perfuração, com diâmetro um pouco
maior que o tubo. A perfuração é auxiliada por circulação de água ou, conforme
descreve Velloso e Lopes (2010), por lama betonítica10. A água, ou a lama, é expulsa
pelo espaço entre a parede externa do tubo e o terreno, lavando o solo. Terminada a
perfuração, é introduzida a armadura e feita a concretagem, por meio de argamassa
de areia e cimento. De acordo com Velloso e Lopes (2010), à medida em que é feita
a concretagem, o tubo é retirado e são dados golpes de ar comprimido pelo tubo com

10 Lama betonítica é uma argila que, em presença de água, se expande produzindo um fluído

que forma uma camada impermeável denominada “cake”. Tem a função de manter em suspensão os
resíduos da escavação, evitando que se depositem no fundo (REBELLO, 2008).
46

o objetivo de adensar a argamassa, favorecendo o contato com o solo e aumentando


o atrito lateral da estaca.

Figura 19 - Execução de estaca-raiz

Fonte: adaptado (REBELLO, 2008).


47

3.4 INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

O desempenho de uma edificação é determinado pela interação entre


estruturas, fundações e o solo. Segundo Gusmão (2000), em um projeto estrutural
convencional de uma edificação, é normalmente assumida a hipótese dos seus apoios
serem indeslocáveis, ou seja, não haver recalques. Em função disso, tanto o cálculo
das cargas na fundação, como o dimensionamento dos elementos estruturais são
feitos com base nessa hipótese. Por outro lado, o projeto de fundações convencional
é desenvolvido levando-se em consideração apenas as cargas nos apoios (obtidas no
projeto estrutural convencional), e as propriedades geotécnicas do terreno,
desprezando-se o efeito da rigidez da estrutura.
Neste capítulo serão apresentados alguns aspectos que devem ser observados
para contribuir na melhoria da interação entre solo-estrutura, contribuindo,
consequentemente, na prevenção de recalques imprevistos.

3.4.1 Distribuição De Tensões

Segundo Pinto (2006), ao se aplicar uma carga na superfície de um terreno, em


uma área bem definida, os acréscimos de tensão a certa profundidade não se limitam
à projeção da área carregada. Nas laterais da área carregada também ocorrem
aumentos de tensão, conforme mostra a Figura 20.

Figura 20 – Bulbo de pressões

Fonte: adaptado (PINTO, 2006).


48

Quando se unem os pontos no interior do subsolo em que os acréscimos de


tensão são de mesmo valor, têm-se linhas chamadas de bulbos de tensões (PINTO,
2006). Se o bulbo atingir camadas de solo mais compressíveis, a fundação estará
sujeita a recalques significativos (ORTIGÃO, 2007). Caso o bulbo de tensões de uma
fundação se encontre com outro bulbo de uma fundação próxima, ocorre o acréscimo
das tensões dos dois bulbos no local interagido, o que contribui para ocorrência de
recalques caso não tenha sido previsto o acréscimo de tensões e o solo não suporte
a carga somada (Figura 21).

Figura 21 - Efeito de fundações próximas

Fonte: (MURTHY, 2003)

Várias bibliografias adotam o valor de duas vezes o tamanho da base da


fundação, ou 1,5 vezes a base da fundação como sendo um valor estimado da
profundidade de atuação do bulbo. Porém, existem outros métodos mais complexos
que indicam com mais precisão os valores da tensão ao longo da profundidade. Um
dos estudos foi realizado por Carothers, onde os valores da tensão ao longo da
profundidade são apresentados a seguir (REBELLO, 2008):

Figura 22 - Tensão ao longo da profundidade no solo

Fonte: adaptado (REBELLO, 2008)

𝜎
𝜎𝑧 = [2𝛼 + sin 2𝛼 × cos 2(𝛼 + 𝛿)]
𝜋
49

3.4.2 Tensões Em Solo Com Presença De Água

Quando o solo está submerso, a água exerce pressão sobre as suas partículas,
comprimindo-o. Segundo Rebello (2008), como a pressão da água, em um
determinado ponto, tem a mesma intensidade em todas as direções, a pressão sobre
uma determinada partícula não aumenta a tensão no solo, já que a pressão da água
na parte superior da partícula é praticamente igual à pressão da parte inferior. Como
não altera o valor das tensões no solo, a pressão da água é denominada pressão
neutra. Dessa forma, a tensão efetiva (𝜎𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎 ) é a tensão normal que realmente é
aplicada ao solo, ou seja, é a tensão aplicada pelo peso próprio e pelas sobrecargas
da fundação (𝜎) subtraída da pressão neutra (𝜇) (REBELLO, 2008).

𝜎𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎 = 𝜎 − 𝜇

Rebello (2008) conclui que a existência de água no solo é um princípio


favorável, pois diminui a tensão aplicada ao solo. Porém, sob pressão, a água pode
ser expulsão para regiões de menor pressão no solo, provocando vazios que levam
ao recalque da fundação.

3.4.3 Capacidade De Carga Dos Solos

Segundo Caputo (2012), quando é atingida a ruptura, o solo passa do estado


elástico ao estado plástico, ocorrendo o deslocamento da fundação. Portanto, a
pressão de ruptura, ou capacidade de carga de um solo, é a pressão que aplicada ao
solo causa a sua ruptura. Aplicando à pressão de ruptura um adequado coeficiente de
segurança, obtém-se a pressão admissível. Para a determinação da tensão
admissível do solo, podem ser usados os métodos a seguir:

3.4.3.1 Prova de cargas

São ensaios realizados diretamente no solo ou na estaca em que se deseja


estudar. Portanto, esse ensaio fornece resultados satisfatórios e adequados ao local
em análise, pois a carga aplicada simula a carga real que estará atuando na
edificação.
50

De acordo com Caputo (2012), é importante que seja realizado ao menos uma
prova de carga em obras de grande responsabilidade, a fim de comprovar os
resultados fornecidos por outros métodos.
O ensaio de prova de carga pode ser regido pela norma ABNT NBR 6489,
quando se deseja prever o recalque e obter a tensão de ruptura para fundações
superficiais, denominado de prova de carga em placa. No caso de fundações em
estacas, regido pela ABNT NBR 12131, a prova de carga é executada sobre uma
estaca.

 Prova de carga sobre placa

No ensaio de prova de carga sobre placa, os resultados devem ser


interpretados de modo a considerar a relação modelo-protótipo (efeito de escala), bem
como as camadas influenciadas de solo.

Figura 23 - Prova de carga sobre placa

Fonte: adaptado (ALONSO, 1983).

Segundo Alonso (1983), este ensaio procura reproduzir o comportamento da


solicitação de uma fundação, empregando-se uma placa rígida de ferro fundido com
80 cm de diâmetro, a qual é carregada por meio de um macaco hidráulico que reage
contra uma caixa carregada ou contra um sistema de tirantes, conforme mostrado na
Figura 23.
Um manômetro acoplado ao macaco hidráulico fornece a leitura da pressão
aplicada, enquanto que o deflectômetro indica o recalque. Assim, é possível traçar
uma curva de pressão por recalque (Figura 24).
51

Figura 24 - Curva pressão x recalque

Fonte: (ALONSO, 1983).

De acordo com Alonso (1983), conforme indicado na Figura 24, a curva de


ruptura geral, isto é, com uma tensão de ruptura ( 𝜎𝑅 ) bem definida, são solos
resistentes (argilas rijas ou areias compactas). Em contrapartida, os solos que
apresentam curva de ruptura local, isto é, não há uma definição do valor da tensão de
ruptura (𝜎𝑅 ), são solos de baixa resistência (argilas moles ou areias fofas).
Além da função de prever o recalque, o ensaio da prova de carga em placa
também é utilizado para determinar a tensão admissível do solo (𝜎𝑎𝑑𝑚 ) para projetos
de fundações rasas:
Para solos com predominância de ruptura geral:
𝜎𝑅
𝜎𝑎𝑑𝑚 =
2

Para solos com predominância de ruptura local:


𝜎25
𝜎𝑎𝑑𝑚 ≤ { 2
𝜎10

Onde, 𝜎25 é a tensão correspondente a um recalque de 25 mm (ruptura


convencional) e 𝜎10 é a tensão correspondente a um recalque de 10 mm (limitação de
recalque) (ALONSO, 1983).

 Prova de carga em estacas

A prova de carga constitui, atualmente, o único processo capaz de fornecer um


valor incontestável da capacidade de carga de uma estaca considerada
individualmente (CAPUTO, 2012). Em sua execução, é obtida uma curva de recalque
em função da carga aplicada na estaca. Onde é possível obter a carga de ruptura (𝑃𝑅 )
e a carga que provoca um recalque de 15 mm (𝑃15 ). De posse desses valores, pode-
52

se determinar a capacidade de carga admissível como sendo a menor carga entre as


duas abaixo (BOTELHO e CARVALHO, 2007):

𝑃𝑅
𝑃𝑎𝑑𝑚 =
5
𝑃15
𝑃𝑎𝑑𝑚 =
1,5

Figura 25 - Prova de carga sobre estaca

Fonte: adaptado (CAPUTO, 2012).

3.4.3.2 Métodos teóricos

Consistem na aplicação de uma fórmula de capacidade de carga para


estimativa da tensão de ruptura do solo de apoio (𝜎𝑅 ), à qual se aplica um coeficiente
de segurança (F) para a obtenção da tensão admissível (TEIXEIRA e GODOY, 1998):
𝜎𝑅
𝜎𝑎𝑑𝑚 =
𝐹
53

O coeficiente de segurança (F) seria variável com o problema, porém, de


acordo com a norma ABNT NBR 6122, este coeficiente não pode ser inferior a 3,
quando se tratando de fundações superficiais e 2 quando se tratando de fundações
profundas.

3.4.3.3 Métodos semi-empíricos

São os métodos onde são estimadas as propriedades dos solos com base em
correlações, como o número SPT ou a resistência de ponta dos ensaios de cone,
seguida pela aplicação de fórmulas teóricas (TEIXEIRA e GODOY, 1998, p. 23). Uma
maneira rápida de correlacionar o número SPT com a taxa admissível do solo é
aplicando a seguinte fórmula descrita por Rebello (2008):

𝜎𝑎𝑑𝑚 = √𝑁 − 1 (𝐾𝑔𝑓 ⁄𝑐𝑚²)

Ainda segundo Rebello (2008), a fórmula acima não leva em consideração o


tipo de solo, o que é uma falha. Porém, essa relação pode ser útil para dar uma
primeira ideia da resistência do solo.

Outras fórmulas que levam em conta o tipo de solo, o que confere um resultado
mais preciso, em Kgf/cm², são:
𝑁
𝑎𝑟𝑔𝑖𝑙𝑎 𝑝𝑢𝑟𝑎: 𝜎𝑎𝑑𝑚 =
4
𝑁
𝑎𝑟𝑔𝑖𝑙𝑎 𝑠𝑖𝑙𝑡𝑜𝑠𝑎: 𝜎𝑎𝑑𝑚 =
5
𝑁
𝑎𝑟𝑔𝑖𝑙𝑎 𝑎𝑟𝑒𝑛𝑜 𝑠𝑖𝑙𝑡𝑜𝑠𝑎: 𝜎𝑎𝑑𝑚 =
7,5

3.4.3.4 Métodos empíricos

As normas antigas previam valores pré-determinados, em forma de tabelas,


para tensões admissíveis conforme o tipo de solo. Esses valores estavam de certa
forma limitados, pois deve ser considerado uma série de fatores como a existência de
camadas compressíveis, o tipo de solo e suas características. A norma ABNT NBR
6122/2010 não prevê mais a utilização de métodos empíricos.
54

3.5 RECALQUES DE FUNDAÇÃO

Segundo Rebello (2008, p. 57), recalque é a deformação do solo quando


submetido a cargas, provocando movimentação na fundação que, dependendo da
intensidade, pode resultar em sérios danos à estrutura.
Neste capítulo serão apresentados alguns dos tipos mais comuns de recalque
de fundação, suas características e suas prováveis origens, assim como os meios de
controle do recalque e os limites aceitáveis.

3.5.1 Tipos De Recalques

Quando um elemento de fundação se desloca verticalmente, é configurado um


recalque absoluto. A diferença entre os recalques absolutos de dois elementos da
fundação é denominada recalque diferencial. O recalque diferencial impõe distorções
à estrutura que pode acarretar em fissuras (ALONSO, 1991). O recalque diferencial
específico, também chamado de distorção angular (𝛿), é definido por:

𝑟𝑒𝑐𝑎𝑙𝑞𝑢𝑒 𝑑𝑖𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑙 ∆
𝛿= =
𝑑𝑖𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑜𝑠 𝑒𝑙𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑙

Segundo Caputo (2012), é possível distinguir três tipos de recalques devidos a


cargas estáticas: por deformação elástica, escoamento lateral e adensamento.

3.5.1.1 Recalque elástico

Ocorre imediatamente após a aplicação da carga e são maiores em solos não


coesivos, ou seja, em solos não argilosos (REBELLO, 2008). Também denominado
recalque imediato, deve-se considerar a rigidez da fundação, sua forma, profundidade
e a espessura da camada deformável de solo (TEIXEIRA e GODOY, 1998).

3.5.1.2 Recalque por escoamento lateral

A deformação por escoamento lateral acontece com maior predominância em


solos não coesivos. Trata-se da migração de solo de regiões mais solicitadas para as
55

menos solicitadas, ou seja, o deslocamento se dá do centro para a lateral (REBELLO,


2008). Verificam-se de maneira mais acentuada nos solos não coesivos sob
fundações superficiais (CAPUTO, 2012).

3.5.1.3 Recalque por adensamento

A deformação por adensamento ocorre pela diminuição no volume aparente do


maciço de solo, causada pelo fechamento dos vazios deixados pela água expulsa em
função da pressão da fundação aplicada ao solo. Segundo Caputo (2012), são
recalques lentos, quando se tratando de argilas, face ao baixo coeficiente de
permeabilidade das mesmas.
Segundo Rebello (2008), o recalque por adensamento pode ser estabilizado
quando toda a água entre os grãos de solo é expulsa, não mais havendo diminuição
do volume do solo. Se o recalque não afetou a estrutura, o problema passa a ser
apenas vedar a trinca na alvenaria.

3.5.2 Causas De Recalques

A seguir serão apresentadas algumas situações mais propícias à ocorrência de


recalque diferencial de fundações.

3.5.2.1 Superposição de pressões

Ocorre uma fundação transfere carga ao solo e essa transferência é


considerada de forma isolada. A existência de outra solicitação altera as tensões na
massa de solo, provocando recalques (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).
56

Figura 26 - superposição de pressões

Fonte: adaptado (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).

Figura 27 - Superposição de tensões

Fonte: adaptado (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).

3.5.2.2 Deficiência na investigação geotécnica

Causa típica de obras de pequeno porte, em geral por motivos econômicos,


mas também presente em obras de porte médio (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID,
2008). Ainda segundo Milititsky, Consoli e Schnaid (2008), a experiência dos mesmos,
referendada pela estatística francesa Logeais (1982) citado por Milititsky, Consoli e
Schnaid (2008, p. 28), em mais de 80% dos casos de mau desempenho de fundações
de obras pequenas e médias, a ausência completa de investigações levou à adoção
de soluções inadequadas de fundações.
57

O número insuficiente de sondagens pode levar a problemas futuros, pois a


área não investigada pode apresentar subsolo distinto do observado nas sondagens
executadas, mesmo sendo próximas.
Conforme a Figura 28, a não identificação de áreas propícias ao recalque, como
a presença de solo compressível ou cavernas (comum em regiões de rochas
calcárias), ocasiona a movimentação das fundações e o aparecimento de fissuras.

Figura 28 - Deficiência na investigação geotécnica

Fonte: (ALONSO, 1991).

A presença de matacões (blocos de rocha) no subsolo pode levar a uma


deficiência na interpretação dos dados de sondagem, sendo confundidos com a
ocorrência de perfil de rocha contínua e induzindo de forma equivocada o apoio de
fundação sobre o matacão (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).

Figura 29 - A) Perfil real; B) Perfil adotado (equivocado); C) Apoio inadequado da fundação.

Fonte: adaptado (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).

Profundidade de investigação insuficiente, não abrangendo toda profundidade


atingida pelas tensões distribuídas ao solo pelo carregamento da fundação (conforme
visto no item 3.4.1).
58

Figura 30 - Profundidade da investigação insuficiente

Fonte: (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).

A observação das normas, visita ao local, inspeções às estruturas vizinhas, a


experiência e o bom senso devem servir de guia para evitar problemas desta natureza
(MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).

3.5.2.3 Fundações sobre aterros

De acordo com Milititsky, Consoli e Schnaid (2008), a execução de fundações


em solo criado ou aterro constitui uma fonte significativa de problemas.
Os recalques oriundos de fundações assentes sobre aterros podem ocorrer por:
deformações do corpo do aterro, deformações do solo natural abaixo do aterro e
execução de fundações sobre aterros sanitários (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID,
2008, p. 78).

Figura 31 - Provável fissuramento de edificação assente em aterro

Fonte: (ORTIZ, 1983) citado por (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).

 Atrito negativo

Em projetos de fundações em estacas, onde a mesma atravessa uma camada


de aterro, é imprescindível considerar o efeito do atrito negativo sobre as estacas.
59

Segundo Milititsky, Consoli e Schnaid (2008), o deslocamento relativo das camadas


de solo em relação ao corpo das estacas provoca uma condição de carregamento nas
fundações, e não de resistência às cargas externas. Esse carregamento contribui para
o recalque da fundação, caso a tensão admissível do solo seja inferior à tensão
provocada pela própria força de solicitação da estaca somada ao atrito negativo
gerado pelo aterro.

3.5.2.4 Alteração da função da estrutura

Este tipo de situação é típico de prédios comerciais e industriais, onde surgem


alterações das funções que tinham sido projetadas inicialmente ou pelo incremento de
novas instalações para desenvolvimento de outras atividades, provocando um
aumento significativo das cargas nas fundações (CARVALHO, 2010).
Segundo Milititsky, Consoli e Schnaid (2008), é bastante comum a adição de
mezaninos ou andares intermediários em ampliações e reformas de prédios
comerciais. As novas situações de distribuição ou concentração de cargas podem
provocar recalques ou exceder a capacidade das fundações existentes, que já
recalcaram na construção original, causando o aparecimento de fissuração indesejada
e mesmo acidentes importantes.
A norma ABNT NBR 6120 determina os valores mínimos das sobrecargas
verticais atuando nos pisos das edificações de acordo com o tipo de utilização.

3.5.2.5 Rebaixamento de lençol freático

O bombeamento da água existente no interior do solo consiste em rebaixar o


nível do lençol freático. Esse procedimento tem por objetivo tornar possível a
execução de fundações ou de garagens em subsolos de edifícios (REBELLO, 2008).
Segundo Rebello (2008), o rebaixamento do lençol freático produz uma
diminuição na pressão neutra (pressão de baixo para cima devida à água),
aumentando a pressão efetiva (provocada pelo peso do solo). Dessa forma, há um
aumento de pressão sobre o solo, o que pode provocar recalques sem a necessidade
de haver aumento na carga sobre a fundação.
60

Figura 32 - Rebaixamento do nível da água

Fonte: (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).

Outro exemplo de influência do lençol freático em recalques são as construções


na Cidade do México. Fundada pelos astecas, a cidade repousa sobre uma camada
superior com mais de 30 metros de argila muito mole. Esse fato aliado ao constante
rebaixamento do nível da água decorrente da necessidade de extração de grande
volume de água para abastecimento da cidade gera recalques nas construções
(CAPUTO, 2012).

3.5.2.6 Solos colapsíveis

Solos colapsíveis quando em contato com a água têm sua cimentação


intergranular destruída, resultando em um colapso súbito da estrutura desse solo.
Esse colapso causa recalques, mesmo sem haver aumento de pressões por
carregamento externo (TEIXEIRA e GODOY, 1998).
No caso de fundações por estacas, se estas estiverem inteiramente embutidas
em solos colapsíveis, há a perda de sua capacidade de carga, e se apenas o fuste da
estaca estiver no solo onde ocorre a redução brusca do volume, ela será
sobrecarregada por tensões de atrito lateral negativo (TEIXEIRA e GODOY, 1998).

3.5.2.7 Solos Expansivos

Nesses solos pode ocorrer o levantamento da fundação e a diminuição de


resistência devido a sua expansão, de acordo com a norma ABNT NBR 6122.
As forças de expansão podem ser equilibradas pelo peso próprio da estrutura.
Porém, deve-se observar que este equilíbrio é normalmente obtido ao final do
processo construtivo, podendo ocasionar problemas durante a construção
(MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008). Conforme Milititsky, Consoli e Schnaid
61

(2008), existem três procedimentos básicos para reduzir ou evitar os efeitos de solos
expansivos sobre fundações e estruturas:

 Isolar a estrutura utilizando materiais deformáveis (isopor ou compensados)


entre o solo e o concreto. As forças de expansão comprimem esses materiais, não
sendo transferidas diretamente à estrutura;
 Reforçar a estrutura para resistir aos esforços provocados pelas forças de
expansão;
 Eliminar os efeitos de expansibilidade, evitando percolação de água junto aos
elementos de fundação e utilizando técnicas de estabilização de solos através da
adição de agentes cimentantes.

3.5.2.8 Infiltração

Com as infiltrações, o solo sob as fundações diretas pode ser carreado,


provocando vazios que impedem a transmissão adequada de cargas ao solo
(REBELLO, 2008). Conforme observado nos itens anteriores, a presença de infiltração
de água no solo afeta o comportamento dos solos colapsíveis e expansíveis.

3.5.2.9 Erosão ou solapamento (scour)

Segundo Carvalho (2010, p. 103), o fenômeno da erosão atinge principalmente


as fundações executadas onde existam correntes de água. Bastante comum em
pontes construídas sobre rios, onde o rebaixamento do nível da água deixa a fundação
descoberta e a corrente de água arrasta o solo próximo às fundações, modificando a
forma de aplicação de carga da fundação ao solo.

Figura 33 - Fundação de ponte danificada pela erosão

Fonte: (MUÑOZ et al., 2006) citado e modificado por (CARVALHO, 2010).


62

3.5.2.10 Escavações próximas

Um exemplo dos efeitos de escavações próximas a edificações foi o


desabamento em 2009 de um edifício residencial de 13 andares situado em Xangai
(Figura 34).
Conforme Carvalho (2010, p. 97), foi executado uma escavação próxima ao
edifício com o objetivo de construir um parque de estacionamento subterrâneo. O
volume de terra escavado foi colocado do outro lado da estrutura, provocando tensões
no solo nessa região.

Figura 34 - Edifício em Xangai

Fonte: (Foncillas, 2009) citado por (CARVALHO, 2010).

O acréscimo de tensões em um lado do edifício aliado ao alívio de tensões


causado pela escavação comprometeu as fundações, provocando o desabamento.
Outros fatores como o tipo de solo, a presença de chuvas e enchentes do rio próximo
ao local, assim como a qualidade das fundações executadas também foram
determinantes.

Figura 35 - Esquema das causas do desabamento do edifício em Xangai

Fonte: (FONCILLAS, 2009) modificado e citado por (CARVALHO, 2010).


63

3.5.2.11 Efeito Tschebotarioff

Quando existe camada compressível de solo, o movimento da camada,


provocado por cargas verticais assimétricas, afeta o comportamento das estacas que
atravessam essa camada. Conforme a Figura 36, as cargas verticais assimétricas
podem ser provocadas por aterro (a) ou por escavação (b).

Figura 36 - Efeito Tschebotarioff

Fonte: (ALONSO, 1991).

Segundo Alonso (1991), se os esforços transversais advindos desse efeito não


forem equilibrados pelas estacas, ou por um escoramento da estrutura, esta poderá
se deslocar transversalmente, aparecendo fissuras na mesma.

3.5.2.12 Influência da vegetação

O efeito da vegetação pode ocorrer por interferência física das raízes ou pela
modificação no teor de umidade do solo, uma vez que as raízes extraem água do solo
para manter seu crescimento, modificando o teor de umidade se comparado com o
local onde as raízes não estão presentes (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).
Em solos argilosos, as variações de umidade provocam mudanças
volumétricas. Logo, qualquer fundação localizada na área afetada apresentará
movimento e provavelmente patologia da edificação por causa de recalques
localizados (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).
64

A influência da vegetação às construções está associada a uma série de


fatores, como o tipo de solo do local, o tipo de vegetação presente, a distância da
vegetação, o clima, o nível da água.

Figura 37 - Influência da vegetação na ocorrência de fissuras

Fonte: (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).

A vegetação pode contribuir significativamente para a alteração da umidade do


solo. As raízes podem consumir a água presente no solo abaixo de uma fundação,
fazendo com que a mesma recalque pelo adensamento do solo.
O corte da vegetação próxima à construção também pode contribuir para a
expansão do solo, se o mesmo obtiver características expansivas, resultando em um
movimento vertical no sentido de levantar a fundação.

3.5.2.13 Zonas cársticas

Zonas onde há presença de rochas compostas de carbonatos de cálcio e


magnésio podem apresentar problemas às fundações. Denominadas rochas calcárias
ou dolomíticas (também conhecidas como calcário), têm a característica de serem
solúveis em contato com águas levemente ácidas, produzindo grandes porosidades e
cavidades no interior do solo (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008). A cavidade
formada muitas vezes é protegida por uma camada composta de sedimentos não
solúveis e solos residuais, dando aos projetistas de fundações uma falsa impressão
de segurança. Por essa razão é importante que seja realizado uma investigação mais
detalhada em regiões onde reconhecidamente existe a possibilidade da presença de
rochas calcárias.
65

3.5.3 Recalques Admissíveis

Segundo Alonso (1991, p. 26), os valores admissíveis são fixados pelos


especialistas envolvidos com o projeto, a execução e o acompanhamento do
desempenho da obra. São decorrentes da experiência local ao longo do tempo que
permitam concluir que, para o tipo de estrutura, carregamento e solo, tais valores de
recalque podem ser considerados aceitáveis, ou seja, admissíveis. No entanto, a
fixação desses valores admissíveis é dificultada pela gama de materiais envolvidos
nas construções, como também na dificuldade de se avaliar a interação solo-estrutura
de um dado problema (TEIXEIRA e GODOY, 1998).
Vários estudos foram feitos a fim de se obter limites de segurança para os
movimentos de fundações. Porém, nem todos com informações completas sobre o
comportamento da fundação e seus efeitos (TEIXEIRA e GODOY, 1998). Dessa
forma, os autores das bibliografias referentes ao assunto aconselham a observar os
limites apresentados por pesquisadores como de natureza exemplificativa.
Moraes (1978, p. 9) define os seguintes limites para o recalque diferencial
específico, ou seja, a distorção angular:
Prédios para fábricas construídos com estruturas em concreto armado:
𝑣ã𝑜 𝑣ã𝑜
𝛿= 𝑎
1000 500

Prédios de apartamentos, salas para escritórios em concreto armado:


𝑣ã𝑜 𝑣ã𝑜
𝛿= 𝑎
400 250

Estruturas metálicas:
𝑣ã𝑜
𝛿=
500

Alonso (1991) descreve a seguinte equação, onde, por estar em função da


deformação específica do material (𝜀) analisado, apresenta os valores de distorção
angular onde possivelmente provocará o início de fissuras:

𝛿= =2×𝜀
𝑙

Este valor corresponde ao início da formação da fissura e, portanto,


praticamente invisível. Com o aumento do recalque diferencial, a fissura se abre até o
66

momento em que se torna visível. Esse momento é denominado distorção angular


crítica (𝛿𝑐𝑟í𝑡. ).
A Figura 38 apresenta os valores da distorção angular ( 𝛽 ) e os danos
associados sugeridos por Bjerrum (1963) e complementados por Vargas e Silva
(1973).
Pela época em que foram estudados os dados, é importante que sejam
utilizados com cautela devido às mudanças ocorridas nos padrões construtivos desde
então.

Figura 38 - Distorções angulares e danos associados

Fonte: (VELLOSO e LOPES, 2011)


67

3.5.4 Controle De Recalques

Quando há dúvida quanto ao comportamento de uma fundação, ou quando se


pretende acompanhar seu desempenho em razão de uma situação que pode gerar
recalque, é recomendado o controle de recalque da edificação (MILITITSKY,
CONSOLI e SCHNAID, 2008). O controle de recalque tem por objetivo identificar a
velocidade de recalque da fundação e, consequentemente, prever qual será seu
comportamento futuro.

3.5.4.1 Controle por nível óptico de precisão

Segundo Alonso (1991), a medida dos recalques é feita nivelando-se pontos de


referência, constituídos por pinos engastados na estrutura, em relação a uma
referência fixa de nível (RN). Os pinos servirão de apoio à mira utilizada no
nivelamento. São constituídos de duas partes, conforme a Figura 39: a fêmea (a), que
fica fixa à estrutura, e o macho (b), que é rosqueado somente durante as leituras.

Figura 39 - Pino de leitura de recalque

Fonte: (ALONSO, 1991)

A referência de nível é geralmente engastada em camadas profundas a fim de


não sofrer influência de fatores que comprometem a indeslocabilidade que se exige.
A Figura 40 representa um tipo de referência de nível chamada de Benchmark.
Consiste em um tubo instalado em um furo de sondagem, protegido por outro tubo
externo e injetado graxa entre os tubos com a função de proteger contra corrosão e
garantir que o tubo interno não se movimente (ALONSO, 1991).
A medição dos recalques é feita utilizando-se nível ótico de precisão (teodolito)
entre o nível de referência e a mira apoiada nos pinos de leitura. Os valores são
anotados conforme a data, constituindo o quadro de controle de recalques, onde é
possível obter a velocidade dos recalques.
68

Figura 40 – Benchmark

Fonte: (ALONSO, 1991).

3.5.4.2 Medida de cargas

Segundo Alonso (1991), o controle de recalques deve incluir a estimativa de


carga atuante nos pilares, permitindo traçar a curva carga x recalque. As cargas são
estimadas pelos engenheiros calculistas. Porém, em razão da evolução dos recalques
diferenciais, as cargas nos pilares são alteradas. Para medir a carga atuante nos
pilares podem ser utilizados os extensômetros, que medem os encurtamentos
elásticos na estrutura.

Figura 41 - Extensômetro mecânico

Fonte: (ALONSO, 1991).


69

Segundo Alonso (1991), o cálculo da carga (N) atuante no pilar será estimado
aplicando-se a lei de Hooke:

𝑁 =𝐴×𝐸×
𝑙𝑖
Em que:
𝐴 = área da seção transversal do pilar;
𝐸 = módulo de elasticidade do material do pilar;
∆𝑙 = 𝑙𝑖 − 𝑙𝑛 = encurtamento ocorrido no pilar entre as leituras inicial e final;
𝑙𝑖 = comprimento inicialmente lido pelo extensômetro.

3.5.4.3 Controle de verticalidade

O controle de verticalidade visa acompanhar o desaprumo do edifício. Trata-se


de uma leitura periódica realizada com aparelho topográfico de precisão, sempre nos
mesmos pontos, resultando em planilhas e quadros de acompanhamento das
anotações (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008). Ainda segundo os autores,
devem ser considerados os efeitos de temperatura nos elementos da obra, sendo
preferível que as leituras sejam sempre realizadas pelo mesmo operador, na mesma
hora, podendo haver, caso contrário, uma superposição de efeitos de difícil avaliação.

3.5.5 Estabilização De Recalques

O termo estabilização designa qualquer processo ou tratamento capaz de


melhorar a estabilidade de um maciço terroso ou rochoso (CAPUTO, 2012).

3.5.5.1 Congelamento do solo

Segundo Caputo (2012), o sistema, idealizado em 1883, é somente empregado


em casos difíceis de fundações em terrenos com solos moles e saturados de água. É
uma solução muito onerosa que consiste em instalar tubos no solo por onde passa
um líquido refrigerante, como nitrogênio, ou salmoura. A temperatura do solo atinge o
ponto de congelamento da água presente, fazendo com que seja estabilizado o
recalque da fundação enquanto durar o processo de reforço.
Caputo (2012) cita como exemplo o caso do edifício da Companhia Paulista de
Seguros, em São Paulo, onde o recalque avançava a uma velocidade de 2 mm por
70

dia, indicando perigo no colapso total do prédio. Foram instalados 130 congeladores
atingindo uma profundidade de 13 metros. O solo atingiu a temperatura de -13 ºC e
em cerca de 80 dias depois o recalque parou. Em seguida foi possível iniciar o
processo de reforço.

3.5.5.2 Injeções de cimento

Consiste em injetar uma camada de cimento no terreno abaixo das fundações


através de tubos galvanizados de 2” a 3” de diâmetro. Os tubos são cravados até a
cota desejada e feita a injeção de cimento através do tubo de ponta aberta ou de
paredes perfuradas (CAPUTO, 2012).
As injeções se propõem a melhorar as características dos maciços terrosos e
rochosos, melhorando a resistência e impermeabilização.
71

3.6 ASPECTOS TEÓRICOS SOBRE PATOLOGIA

Toda edificação está sujeita a deslocamentos verticais (recalques), durante ou


mesmo após a sua conclusão, por um determinado período de tempo, até que o
equilíbrio entre o carregamento aplicado e o solo seja atingido. Esses movimentos
podem provocar a ocorrência de falhas, evidenciadas pelos desnivelamentos de pisos,
trincas e desaprumos da construção (CAPUTO, 2012). O estudo das origens, tipos de
manifestações e consequências das falhas configura o conceito de patologia nas
construções.
Neste capítulo serão apresentados os tipos de danos causados, as possíveis
origens e as consequências que podem trazer à segurança e ao conforto da
edificação. Segundo Teixeira e Godoy (1998), os danos causados por movimentos de
fundações podem ser agrupados em três categorias principais:

 DANOS ARQUITETÔNICOS

São os danos visíveis ao observador comum, que comprometem a estética da


edificação, como trincas em paredes, recalques de pisos, rompimento de painéis etc.
(TEIXEIRA e GODOY, 1998, p. 261).
Neste caso, o reforço é optativo, pois não envolve riscos quanto à estabilidade
da construção (GOTLIEB, 1998, p. 471).

 DANOS FUNCIONAIS

São os danos causados à utilização da edificação, tais como refluxo ou ruptura


das tubulações, desgaste excessivo dos trilhos dos elevadores devido ao desaprumo,
mau funcionamento de portas e janelas.
A partir de certos limites, será necessário o reforço por comprometer a
utilização da construção (GOTLIEB, 1998).

 DANOS ESTRUTURAIS

Danos na estrutura, ou seja, pilares, vigas e lajes.


O reforço é sempre necessário, pois a sua ausência implica instabilidade da
construção, podendo até mesmo levá-la ao colapso (GOTLIEB, 1998).
72

3.6.1 Fissuração

As fissuras podem ser consideradas como a manifestação patológica


característica das estruturas de concreto, sendo mesmo o dano de ocorrência mais
comum e aquele que, a par das deformações muito acentuadas, mais chama atenção
dos leigos, proprietários e usuários aí incluídos, para o fato de que algo de anormal
está a acontecer (SOUZA e RIPPER, 1998, p. 57).
Segundo a norma ABNT NBR 6118, em seu capítulo sobre controle de
fissuração, considera que a fissuração em elementos estruturais de concreto armado
é inevitável devido à grande variabilidade e à baixa resistência do concreto à tração,
mesmo sob as ações de serviço (utilização), valores críticos de tensões de tração são
atingidos. A norma referida prevê aberturas máximas de fissuras da ordem de 0,2 mm
a 0,4 mm, onde não há importância significativa na corrosão das armaduras.

3.6.1.1 Controle de fissuras

Neste capítulo serão apresentados meios de controle e acompanhamento da


abertura das fissuras ao longo do tempo.
Este procedimento é realizado com vistas a identificação do padrão de
movimento de toda a estrutura, que por sua vez se reflete nas características das
fissuras apresentadas.

 Selos de gesso ou de vidro

Para saber se uma fissura continua aumentando (fissura ativa), pode-se


proceder a instalação de uma placa de gesso ou de vidro sobre a fissura.
Após a colocação, anota-se a data e observa-se a condição da placa por pelo
menos três meses. O selo pode se romper antes desse prazo, situação onde é
anotada a data e aplicado outro selo. Se o selo romper antes do período de tempo
observado para a primeira ruptura, há indícios de que o recalque não se estabilizou e
pode estar se acelerando.
O procedimento é repetido, sempre observando o intervalo de tempo entre as
rupturas dos selos. Dessa forma pode-se concluir se o recalque está se estabilizando
ou aumentando (REBELLO, 2008).
73

Figura 42 - Selo de gesso

Fonte: AUTOR.

 Fissurômetros

De acordo com Alonso (1991), utilizando um lápis, traça-se um sistema de eixos


ortogonais que ultrapassem a fissura nos dois sentidos. Anota-se a data, as distâncias
horizontais e verticais da origem do eixo até a fissura e, em seguida, mede-se a
abertura da fissura. O procedimento é repetido, porém, rotacionando o eixo, a fim de
obter outros valores (Figura 43).

Figura 43 - Controle de fissuras

Fonte: (ALONSO, 1991).

3.6.1.2 Classificação das fissuras

As fissuras podem ser classificadas de acordo com seu comportamento em


ativas (vivas), quando aumentam ao longo do tempo, ou inativas (mortas), quando a
fissura se encontra estabilizada.
74

Dessa forma, pode-se proceder à avaliação da gravidade do problema


analisando tabelas existentes na bibliografia. Em razão da complexidade e
particularidade de cada caso, o tratamento e o acompanhamento da fissura deve ser
realizado com a participação de um especialista (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID,
2008).

Tabela 9 - Relação entre abertura de fissuras e danos em edifícios


Intensidade dos danos
Abertura da Efeito na estrutura e
fissura (mm) Comercial ou no uso do edifício
Residencial Industrial
público

< 0,1 Insignificante Insignificante Insignificante Nenhum


0,1 a 0,3 Muito leve Muito leve Insignificante Nenhum
0,3 a 1 Leve Leve Muito leve Apenas estética;
Leve a deterioração acelerada
1a2 Leve a moderada Muito leve do aspecto externo.
moderada
2a5 Moderada Moderada Leve Utilização do edifício
Moderada a Moderada a será afetada e, no limite
5 a 15 Moderada
severa severa superior, a estabilidade
Severa a muito Severa a muito Moderada a também pode estar em
15 a 25 risco.
severa severa severa
Cresce o risco de a
Muito severa a Severa a
> 25 Severa a perigosa estrutura tornar-se
perigosa perigosa
perigosa
Fonte: (Thornburn e Hutchinson, 1985) citado por (VELLOSO e LOPES, 2011).

A denominação da fissura também está relacionada à abertura da mesma de


acordo com a Tabela 10 (OLIVARI, 2003).

Tabela 10 - Denominação das fissuras

Denominação Abertura da fissura (mm)

Fissura capilar Menos de 0,2 mm


Fissura 0,2 mm a 0,5 mm
Trinca 0,5 mm a 1,5 mm
Rachadura 1,5 mm a 5,0 mm
Fenda 5,0 mm a 10,0 mm
Brecha Mais de 10,0 mm

Fonte: adaptado (OLIVARI, 2003).

3.6.1.3 Padrão de fissuras provenientes de recalque de fundação

Quando na ocorrência de recalques diferenciais em fundações, as construções


apresentam fissuras nas alvenarias de fechamento e nas vigas de concreto armado.
75

A fissura ocorre devido à distorção excessiva da estrutura, que ocasiona uma


deformação específica de tração nas paredes. Essa tração atua favorecendo a
abertura de fissuras típicas de recalque de fundação, com um padrão de inclinação
em 45° nas paredes.
Nas estruturas de concreto, segundo Milititsky, Consoli e Schnaid (2008), as
fissuras ocorrem conforme indicadas nas Figura 44 e 45.

Figura 44 – Fissuras em estruturas de concreto por recalque de pilar central

Fonte: adaptado (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).

Figura 45 - Fissuras por recalque de pilar de extremidade

Fonte: adaptado (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008).


76

3.6.2 Desaprumos

O desaprumo de edifícios é uma patologia com origem essencial no recalque


diferencial das fundações. Além de afetar o caráter estético, a inclinação das
construções também contribui para o acréscimo de cargas na estrutura, que por sua
vez é transmitida para as fundações, ocasionando um aumento significativo no
recalque já existente, podendo atingir valores que ocasionam o colapso do edifício.
Vários autores contribuíram com estudos sobre os limites de recalque
diferencial onde os danos não comprometem a segurança da estrutura. Alguns desses
estudos foram apresentados no item 3.5.3 deste trabalho.

3.6.3 Ação Da Água

Se a água (ou o solo) apresenta características suspeitas (odor fétido,


desprendimento de gases, acidez) ou elementos químicos que possam ser
prejudiciais ao concreto ou ao aço, as amostras devem ser submetidas a um estudo
químico em laboratório (CAPUTO, 2012). A água contaminada com alguns elementos
químicos pode alterar o pH do concreto da fundação submersa, contribuindo para a
corrosão do aço da armadura ou para as reações químicas com o concreto das
fundações, favorecendo a degradação do mesmo.
O movimento de variação do nível da água, assim como a correnteza dos rios
pode ocasionar a degradação do concreto e a carreação do solo próximo à fundação.
Segundo Souza e Ripper (1998), a água carrega partículas que provocam a abrasão.
A alteração do estado físico da água de líquido para sólido (gelo) aumenta em
até 9% o seu volume, podendo ocasionar tensões entre os poros do concreto,
resultando em fissuras e degradação do mesmo (CARVALHO, 2010).

3.6.4 Ataques Biológicos

As ações biológicas podem ser provenientes das raízes das vegetações, micro-
organismos, etc. Ao penetrarem no concreto, geram tensões internas que fraturam o
concreto (SOUZA e RIPPER, 1998).
Segundo Souza e Ripper (1998), as formigas também podem contribuir para o
recalque diferencial. De acordo com os autores, elas têm o costume de afofar a terra
77

sob fundações superficiais, especialmente em edificações de pequeno porte,


provocando, com isso, recalques diferenciais que podem danificar seriamente a
estrutura e resultam em trabalho de recuperação bastante oneroso.

3.6.5 Lixiviação

De acordo com Souza e Ripper (1998, p. 72), a corrosão do concreto pelo


processo de lixiviação consiste na dissolução e arraste do hidróxido de cálcio existente
no cimento endurecido devido ao ataque de águas. Quanto mais poroso o concreto,
maior será o ataque. A dissolução, o transporte e a decomposição do hidróxido de
cálcio favorece o aumento da porosidade do concreto, que com o tempo se desintegra.

3.6.6 Ataque Por Sulfatos

As reações dos sulfatos com componentes do cimento provocam sua expansão


e desagregação (SOUZA e RIPPER, 1998). Os sulfatos estão presentes em águas
que contém resíduos industriais, nas águas subterrâneas em geral e na água do mar.

3.6.7 Ataque Por Cloretos

Os cloretos estão presentes na grande maioria dos aditivos aceleradores de


pega e endurecimento do cimento.
Segundo Souza e Ripper (1998), em dias de temperatura elevada, os cloretos
podem causar, na concretagem, um endurecimento do concreto muito rápido,
impedindo o total preenchimento das fôrmas e aumentando também a retração do
concreto, o que resulta em fissuração. Também pode atacar o aço presente em alguns
tipos de fundações, favorecendo o efeito da corrosão.

3.6.8 Carbonatação

A carbonatação constitui a reação química entre o dióxido de carbono presente


no ambiente e a cal desenvolvida durante a hidratação do cimento (CARVALHO,
2010).
78

Esta reação forma carbonato de cálcio e reduz o pH do concreto para valores


inferiores a 9, o que torna o aço do concreto armado, presente em alguns tipos de
fundações, suscetível à corrosão.

3.6.9 Reação Álcali-Agregado

Segundo Rebello (2008), essa reação é decorrente de um processo químico


que acontece com álcalis e agregados (areia ou pedra) na presença de umidade,
provocando a expansão do concreto, produzindo fissuras generalizadas que, com o
tempo, por deterioração na armação, podem levar a fundação à ruptura. Os álcalis,
como o NA2 O e o K 2 O, estão naturalmente presentes no cimento, assim como na água
ou mesmo nos próprios agregados.
79

4 ESTUDOS DE CASOS

Neste capítulo serão abordados quatro estudos de casos com o objetivo de


exemplificar com casos reais o embasamento teórico relatado neste trabalho,
identificando os tipos de patologias encontrado, quais foram as medidas de controle
das movimentações e a análise das decisões dos engenheiros responsáveis por cada
caso.

4.1 TORRE DE PISA

Localizada na Itália, na cidade de Pisa, a Torre que leva o nome da cidade é


um conhecido caso de recalque de fundação, com uma inclinação notável.
Sua construção foi iniciada em 1173 e durou cerca de 200 anos, incluindo duas
longas interrupções: de 1178 até 1272 e de 1278 até 1360.

Figura 46 - Localização da Torre de Pisa

Fonte: (BURLAND, JAMIOLKOWSKI e VIGGIANI, 2009)

4.1.1 Descrição Do Problema

A Torre começou a inclinar durante o segundo estágio de construção e desde


então seu desaprumo continuou aumentando. A Figura 48 mostra a seção de máxima
inclinação da Torre (5,5 graus), antes de ser iniciado o processo de estabilização, em
1993.
80

Segundo Burland, Jamiolkowski e Viggiani (2009), a tensão média na fundação


é 500 kPa. Os autores complementam que uma análise computadorizada detalhada
(Burland and Potts, 1994) indicou que a tensão no lado sul da Torre era de quase
1000 kPa, enquanto que no lado norte a tensão era próxima de zero, conforme
representado na Figura 47.

Figura 47 – Inclinação e acréscimo de cargas nas Figura 48 - Seção no plano de máxima


fases de construção da Torre inclinação

Fonte: (BURLAND, JAMIOLKOWSKI e VIGGIANI,


2009)

Fonte: (BURLAND, JAMIOLKOWSKI e


VIGGIANI, 2009)

4.1.2 Tipo De Solo

A camada de solo abaixo da Torre consiste em três tipos de solo:


Os dez primeiros metros são compostos por areia e silte argiloso. Abaixo da
camada de areia e silte argiloso há uma camada com cerca de 30 metros de
profundidade formados por argila marinha, um solo que perde muita rigidez quando
submetido a tensões. Nos 20 metros seguintes, existe uma camada de areia marinha
densa, conforme apresentado na Figura 49.
O contato entre a camada A e a camada B abaixo da Torre se apresenta de
forma côncava, o que indica um adensamento na camada B provocada pela
distribuição de tensões da fundação.
81

Figura 49 - Estratigrafia do terreno

Fonte: (BURLAND, JAMIOLKOWSKI e VIGGIANI, 2009)

4.1.3 Soluções Adotadas

Em 1990, preocupados com o aumento progressivo da inclinação da Torre e


com o risco iminente de colapso da estrutura, o governo italiano instaurou um Comité
Internacional com o intuito de estabilizar a Torre e garantir a sua segurança.

4.1.3.1 Controle da inclinação

As medições precisas foram iniciadas em 1911 e, de acordo com Burland,


Jamiolkowski e Viggiani (2009), a inclinação da Torre aumentava progressivamente a
cada ano. Em 1990, o aumento da inclinação era cerca de 6 segundos por ano,
equivalente a 0,0017 graus por ano, o que gera um deslocamento horizontal do topo
da Torre de 1,5 mm por ano (Jamiolkowski, 2001 apud BURLAND, JAMIOLKOWSKI
e VIGGIANI, 2009).
Com base na análise dos dados foi possível constatar que o problema reside
mais na instabilidade da inclinação do que na capacidade de carga do solo. Segundo
Hambly (1985) citado por Burland, Jamiolkowski e Viggiani (2009), a instabilidade da
inclinação não é devido à capacidade de carga do solo, mas devido à sua rigidez.

4.1.3.2 Controle do nível da água

Foram instalados piezômetros no solo e constatado que o nível da água variava


muito entre os meses de setembro e dezembro, quando ocorrem chuvas sazonais em
82

grande escala. Observou-se que nesses meses a velocidade de inclinação da Torre


aumentava. Os piezômetros mostraram que o aumento no nível da água foi maior no
lado norte do que no lado sul da Torre. Como o lado sul sofre maiores cargas devido
à inclinação, a expulsão da água no solo é maior, ocasionando uma diminuição na
poropressão e contribuindo para a rotação em direção ao sul.

Figura 50 - Variação do nível da água

Fonte: (BURLAND, JAMIOLKOWSKI e VIGGIANI, 2009)

4.1.3.3 Estabilização provisória da Torre

Em 1993, foi aplicado uma carga de 600 toneladas de chumbo no lado norte
através de um anel de concreto removível, colocado ao redor da base da Torre. Os
pesos reduziram a inclinação em cerca de um minuto de arco, ou seja,
aproximadamente 0,0167 graus. Consequentemente, o momento atuante nas
fundações também foi reduzido.
Dois anos depois, em setembro de 1995, foi realizada uma tentativa de
substituir os pesos por tirantes fixados ao anel de concreto. Nesse procedimento foi
utilizada a técnica de congelamento de solo para conter o movimento da Torre durante
o procedimento. Porém, o congelamento do solo fez com que o volume de água
existente fosse aumentado, provocando o deslocamento do anel de concreto e
fazendo com que a Torre recalcasse mais.
O procedimento foi então interrompido e fez-se necessário aumentar de 600
toneladas para 900 toneladas a carga de chumbo a fim de controlar a aceleração do
83

movimento. Naquele momento a fundação da Torre estava quase entrando em


colapso.

Figura 51 - Contrapesos no lado norte da Torre

Fonte: (BURLAND, JAMIOLKOWSKI e VIGGIANI, 2009)

4.1.3.4 Estabilização por escavação subterrânea

Após várias soluções apresentadas ao Comité, foi adotado o processo de retirar


parte do solo abaixo da fundação no lado norte. A vantagem é que esse procedimento
não agride a natureza dos materiais originais e possui um alto grau de controle.
Este método, conhecido como escavação subterrânea, consiste em instalar
tubos de extração de solo abaixo da fundação. Estes tubos são compostos por uma
hélice contínua dentro de outro tubo que gira em sentido contrário para
contrabalancear e diminuir a vibração na escavação.
O método foi proposto originalmente por Terracina (1962) para solucionar o
problema de Pisa e utilizado previamente para reduzir o recalque diferencial da
Catedral Metropolitana da Cidade do México (BURLAND, JAMIOLKOWSKI e
VIGGIANI, 2009).
Em fevereiro de 1999 a primeira extração de solo foi realizada. O processo
resultou em uma redução na inclinação da Torre de 80 segundos de arco, cerca de
1,33 graus, até junho de 1999, quando a extração foi parada. A Torre ainda continuou
reduzindo sua inclinação até outubro de 1999.
84

Figura 52 - Escavação subterrânea preliminar

Fonte: (BURLAND, JAMIOLKOWSKI e VIGGIANI, 2009)

Entre dezembro de 1999 e janeiro de 2000, foram instalados 41 tubos de


extração de solo com 50 cm de distância entre eles e em fevereiro de 2000 foi iniciado
uma nova escavação subterrânea. Em maio do mesmo ano foi iniciada a retirada
gradativa dos pesos de chumbo. Mesmo aumentando o momento na fundação com a
retirada dos pesos, a escavação se mostrava eficiente.

Figura 53 - Escavação subterrânea

Fonte: (BURLAND, JAMIOLKOWSKI e VIGGIANI, 2009)

Em 16 de janeiro de 2001, os pesos de chumbo foram totalmente removidos e,


em fevereiro, o anel de concreto foi removido. Em março iniciou-se o processo de
retirada dos tubos com o preenchimento da cavidade por grout.
A última extração de solo e remoção do tubo aconteceu em 6 de junho de 2001,
quando a Torre reduziu em 1800 segundos de arco, cerca de 0,5 graus.

4.1.3.5 Estabilização do nível da água

Conforme mencionado anteriormente, a variação no nível da água também foi


considerada pelo Comité como sendo o principal fator responsável pelo movimento da
Torre. O nível no lado sul era de 200 mm a 300 mm mais profundo que o nível no lado
85

norte. Em épocas de intensas chuvas, no outono e no inverno, o lençol freático se


eleva e a diferença piezométrica diminui, causando a rotação no sentido sul da Torre
(BURLAND, JAMIOLKOWSKI e VIGGIANI, 2009). Para minimizar esse efeito, foi
necessário eliminar a variação no lençol freático através de um sistema com poços de
drenagem interligados no lado norte da Torre.
O sistema foi implementado em abril e maio de 2002 e levou a uma diminuição
na poropressão assim como uma significante redução na variação sazonal do lençol
freático. O sistema induziu a Torre a um movimento no sentido norte, contribuindo na
diminuição da inclinação.

Figura 54 - Sistema de controle do lençol freático

Fonte: (BURLAND, JAMIOLKOWSKI e VIGGIANI, 2009)

4.1.4 Conclusão

Em resultado ao processo de escavação subterrânea e ao controle do lençol


freático, em 2002 foi reduzido a inclinação da Torre para 1880 segundos, cerca de
10% do valor máximo atingido 1993. Em setembro de 2008 a redução chegou a 1948
segundos, com recalque de 1 mm por ano. (BURLAND, JAMIOLKOWSKI e VIGGIANI,
2009).
Com base nos dados apresentados, conclui-se que a Torre se encontra em
estado estável, apesar de mantida uma inclinação segura controlada pelos poços de
drenagem por razões históricas e culturais. Porém, em um cenário pessimista, estima-
se que em cerca de 200 anos a Torre volte à situação de inclinação máxima.
86

4.2 REFORÇO EM PONTES NO BRASIL

4.2.1 Ponte Na Rodovia PE-507

A obra analisada é apresentada por Vitório (2012) e se refere a uma ponte com
40 metros de extensão e três vãos de 12,5 m, 15 m e 12,5 m. A fundação da ponte é
constituída por sapatas isoladas de concreto armado assentes sobre blocos corridos
de concreto ciclópico11.

4.2.1.1 Descrição do problema

Segundo Vitório (2012), logo após uma cheia no riacho Ingazeira houve uma
significativa erosão, causando o rebaixamento do leito do rio e solapando as
fundações, conforme a Figura 57.

Figura 55 - Ponte sobre o Riacho Ingazeira

Fonte: (VITÓRIO, 2012)

11Concreto ciclópico ou fundo de pedra argamassada, como é conhecido em algumas


aplicações, nada mais é do que a incorporação de pedras ao concreto pronto. Essas pedras não fazem
parte da dosagem do concreto e são colocadas diretamente no local onde for aplicado o concreto. São
pedras originárias de rochas que tenham o mesmo padrão de qualidade das britas utilizadas no
concreto.
87

As patologias decorrentes incluem a ruptura do bloco, a fuga de material abaixo


das fundações e as fissuras nos encontros da ponte, conforme apresentadas nas
Figura 56, 57 e 58.

Figura 56 - Ruptura do bloco e descalçamento Figura 57 - Fuga de material abaixo das


das fundações fundações

Fonte: (VITÓRIO, 2012) Fonte: (VITÓRIO, 2012)

Figura 58 - Fissura do encontro

Fonte: (VITÓRIO, 2012)

4.2.1.2 Solução adotada

Segundo Vitório (2012), as patologias apresentadas indicaram a realização de


um projeto de reforço de fundações, pois existia o risco de ruptura total da ponte.
Diante dessa situação, foi providenciado o escoramento com o objetivo de reduzir as
88

cargas nos pilares enquanto eram realizadas as sondagens geotécnicas e elaborado


o projeto de reforço.

Figura 59 - Escoramento

Fonte: (VITÓRIO, 2012)

Figura 60 - Reforço dos pilares

Fonte: (VITÓRIO, 2012)


89

De acordo com os resultados das sondagens, o projeto de reforço indicou a


utilização de estacas raiz com diâmetro de 310 mm e comprimento médio de 12 m,
sendo quatro estacas por pilar.

Figura 61 - Furos nas sapatas para cravação Figura 62 - Consolidação da base da sapata com
das estacas argamassa projetada

Fonte: (VITÓRIO, 2012) Fonte: (VITÓRIO, 2012)

Figura 63 - Reforço dos pilares e cravação Figura 64 - Reforço da fundação dos encontros
das estacas

Fonte: (VITÓRIO, 2012)

Fonte: (VITÓRIO, 2012)

Após a conclusão do reforço das fundações, os encontros da ponte também


necessitaram de reforço devido aos sinais de avarias causadas pelo antigo movimento
das fundações. Este reforço constituiu na construção de novos encontros rentes aos
encontros existentes, com fundação em estaca escavada de 250 mm de diâmetro
(VITÓRIO, 2012).
90

4.2.1.3 Conclusão

O tipo de fundação utilizado no projeto inicial não é adequado à construção de


pontes, pois mesmo havendo capacidade de suporte das forças atuantes em camadas
superficiais de solo, o movimento da água do rio atua próximo à área de transferência
de cargas da estrutura ao solo, sendo grande o risco de interferência por erosão e
pelo rebaixamento do leito do rio, conforme ocorrido no estudo de caso em análise.
O volume de concreto utilizado na fundação superficial também interfere no
movimento da água do rio, alterando as condições ambientais do local.
A solução adotada transferiu a área de atuação das cargas, transformando a
fundação superficial existente em uma fundação profunda por meio de estacas raiz.
Porém, por utilizar a fundação existente como um bloco de coroamento das estacas
raiz, caso o leito do rio continue sendo rebaixado, possivelmente poderia ocasionar a
exposição das estacas, tornando-as propícias ao ataque de micro-organismos,
podendo reincidir o problema de recalque.
91

4.2.2 Ponte Na BR-101/BA

O problema apresentado se refere a uma ponte sobre o rio Pojuca na BR-


101/BA, com 81 metros de extensão, dois vãos de 22 metros, um vão de 30 metros e
dois balanços de 3,50 metros.
A obra em análise é apresentada por Vitório (2012) em seu artigo. Segundo o
autor, a ponte foi presumidamente construída na década de 70 e possui fundação em
estacas.

4.2.2.1 Descrição do problema

Em razão da ampliação da rodovia e da alteração do fluxo e dos tipos de


veículos que transitam sobre a ponte, foi necessário realizar um projeto de
recuperação e reforço.
Segundo Vitório (2012), durante a vistoria realizada em 2008 para
levantamento da geometria existente e identificação de patologias, foi observado que
havia ocorrido uma grande erosão no leito do rio, causando o rebaixamento do nível
do mesmo e deixando as estacas à mostra.

Figura 66 - Deterioração e perda de seção


Figura 65 - Estacas expostas transversal nas estacas

Fonte: (VITÓRIO, 2012) Fonte: (VITÓRIO, 2012)

O movimento da água do rio pelas estacas contribui para uma série de


patologias, como a deterioração do concreto pela correnteza, a ação de agentes
químicos e a proliferação de fungos e micro-organismos, agindo principalmente no
fuste das estacas.
92

4.2.2.2 Solução adotada

Em função da considerável perda de seção transversal das estacas e do grau


de danificação das mesmas, de acordo com Vitório (2012), optou-se pelo projeto de
novas estacas capazes de absorver totalmente os esforços sobre a ponte,
desprezando as existentes. Para o projeto de reforço foram adotadas estacas raiz com
410 mm de diâmetro, sendo necessárias oito estacas para cada pilar. As estacas
foram solidarizadas ao bloco original por meio do encamisamento com um novo bloco,
unidos pela aplicação de protensão, de modo a garantir que o conjunto trabalhasse
como um bloco monolítico (VITÓRIO, 2012).

Figura 67 – Detalhe de reforço

Fonte: (VITÓRIO, 2012)

Figura 68 - Vista frontal do bloco reforçado e do novo estaqueamento

Fonte: (VITÓRIO, 2012)


93

4.3 CONSTRUÇÃO RESIDENCIAL (PARECER TÉCNICO)

O seguinte caso é referente a um parecer técnico realizado em 4 de maio de


2013 em uma construção residencial situada em Brasília/DF. O parecer foi solicitado
pela proprietária da residência com o objetivo efetuar um diagnóstico preliminar sobre
a ocorrência de fissuras e trincas, bem como prever possíveis patologias futuras.

4.3.1 Descrição Do Problema

A residência havia sido objeto de demanda judicial com o intuito de identificar


a responsabilidade pelas patologias apresentadas. Dessa forma, foram elaborados
laudos periciais e procedimentos de recuperação, os quais estavam sendo
executados pelo engenheiro responsável pela construção à data da vistoria.
De acordo com o autor do parecer, Engenheiro Civil Dr. Pantoja (2013), grande
parte do processo generalizado de fissuração e trincas existentes na residência é
função de recalques diferenciais de fundação, conforme a sintomatologia padrão
apresentada. Esse problema havia sido identificado anteriormente, porém, não foi
encontrado nos laudos apresentados nenhum procedimento de controle de recalques,
o que não garante que a movimentação tenha paralisado e não volte a apresentar
sintomas.
De acordo com Dr. Pantoja (2013), o perito judicial solicitou que fossem
retiradas as portas e janelas com demolição parcial da alvenaria, instalação de vergas
e contravergas e posterior reconstituição das paredes.

4.3.2 Recuperação Executada

O processo de recuperação que estava sendo executado no momento da


vistoria constituía a retirada de “frestas” nas extremidades das janelas e portas que
apresentavam trincas e implantadas telas que foram revestidas com concreto.
As vergas e contravergas, a serem executadas conforme solicitado pelo perito
judicial, foram substituídas por aberturas nas paredes com acréscimo de aço e massa.
Acredita-se que o procedimento de recuperação em execução pode ter o
caráter provisório, pois não foi encontrado nos laudos apresentados nenhum
procedimento de acompanhamento das movimentações referentes aos recalques
94

diferenciais. Dessa forma, as fissuras presentes podem estar em seu estado ativo,
indicando um possível retorno no quadro de fissurações generalizadas um tempo após
o procedimento de recuperação (PANTOJA, 2013).

Figura 69 - Recuperação em andamento Figura 70 – Recuperação das fissuras

Fonte: (PANTOJA, 2013)


Fonte: (PANTOJA, 2013)

Figura 71 - "fresta" na janela Figura 72 - "frestas" abaixo e acima das


janelas

Fonte: (PANTOJA, 2013)


Fonte: (PANTOJA, 2013)

Figura 73 – Fissura inclinada Figura 74 - Fissura

Fonte: (PANTOJA, 2013) Fonte: (PANTOJA, 2013)


95

4.3.3 Conclusão Do Laudo

O procedimento executivo das vergas e contravergas estão em desacordo com


o procedimento recomendado pelo perito judicial. Existe ainda um quadro de
fissuração e trincas decorrentes da acomodação da casa que devem ser incluídos na
recuperação em andamento (PANTOJA, 2013).
Conforme descrito anteriormente, não foi identificado a realização de nenhum
procedimento de controle de recalques de fundações e também não foram
acompanhadas a abertura das fissuras. Dessa forma, seria aconselhável que fosse
realizado primeiramente o acompanhamento das fissuras, a fim de identificar
possíveis movimentações das mesmas.
Caso fosse comprovado que as fissuras estão paralisadas, um projeto de
recuperação seria suficiente para sanar as patologias apresentadas.
Entretanto, caso fosse comprovado que as fissuras continuam em processo de
movimentação, seria importante a contratação de uma empresa que preste serviço de
controle de recalque, com o objetivo de acompanhar com mais precisão a progressão
dos recalques. Com base nos dados provenientes, seria possível analisar quais os
procedimentos solucionariam melhor o caso.
Portanto, em razão da falta de instrumentação para comprovar as
movimentações, o procedimento em execução não garante a solução definitiva das
patologias evidenciadas.
96

4.4 EDIFÍCIO ANÊMONA

O seguinte exemplo é referente ao caso de ruptura de estacas no bloco B do


condomínio residencial Anêmona, localizado na cidade litorânea de Ubatuba/SP.
A fundação foi executada com estacas cravadas pré-moldadas de concreto
armado com 30 cm de diâmetro, atingindo uma profundidade média de 25 m abaixo
do nível inicial do terreno (SOUZA, 2003).
Foi realizado um aterro elevando o nível do terreno em aproximadamente dois
metros com o objetivo de posicionar o edifício a uma altura segura de possíveis
transbordamentos de um córrego que flui próximo à divisa de fundo do condomínio
(SOUZA, 2003).

4.4.1 Descrição Do Problema

Segundo Souza (2003), em 17 de maio de 2001, o edifício sofreu desabamento


parcial de sua estrutura, cedendo em aproximadamente dois metros até a laje do
pavimento térreo apoiar no solo, configurando um desaprumo de 2,5 m da edificação.
Apesar da completa destruição do pavimento térreo, Souza (2003) confirma
que os demais pavimentos da estrutura mantiveram-se íntegros, sem grandes fissuras
ou avarias graves observadas após o desabamento.

Figura 75 - Edifício deslocado Figura 76 - Edifício apoiado sobre a superfície

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003) Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003)

Uma semana antes do acidente, um deslocamento de cerca de 30 cm ocorreu


em todo o piso do estacionamento sob o edifício. Segundo Souza (2003), acreditava-
se ser apenas uma compactação exagerada do aterro, sendo corrigido com o
acréscimo de mais solo até atingir a cota de projeto novamente. Este problema
97

também foi verificado no edifício ao lado, mas de forma menos perceptível, conforme
a Figura 77.
Com o desabamento, o solo foi comprimido provocando uma expansão lateral
de sua massa (Figura 80), configurando em uma primeira análise um solo bastante
flexível, constituído por um material mole e compressível (SOUZA, 2003).

Figura 77 - Recalque do piso Figura 78 - Pilar-parede tombado

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003) Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003)

Figura 79 - Solo deformado Figura 80 - Muro danificado

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003) Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003)

4.4.2 Solo Do Terreno

De acordo com Souza (2003), no sentido de diagnosticar as causas do


desabamento foram realizadas quatro sondagens do tipo SPT, sendo três delas
próximas à frente do terreno e uma localizada no fundo do condomínio.
Os resultados indicaram um perfil geológico bastante variado dentro do terreno,
composto por uma camada de solo arenoso variando de 10 m na frente do lote a 2 m
no fundo. Abaixo dessa cota, foi encontrada uma camada de argila marinha siltosa,
98

muito mole e de cor escura, com características de solo orgânico. Aos 25 m de


profundidade o solo caracteriza-se como areia fina siltosa, pouco argilosa,
mediamente a muito compacta e impenetrável à percussão.

Figura 81 - Perfil geológico do terreno

Fonte: (SOUZA, 2003)

Os resultados indicaram um perfil geológico bastante variado dentro do terreno,


composto por uma camada de solo arenoso variando de 10 m na frente do lote a 2 m
no fundo. Abaixo dessa cota, foi encontrada uma camada de argila marinha siltosa,
muito mole e de cor escura, com características de solo orgânico. Aos 25 m de
profundidade o solo caracteriza-se como areia fina siltosa, pouco argilosa,
mediamente a muito compacta e impenetrável à percussão.

4.4.3 Causa Do Desabamento

A partir das sondagens executadas, foi possível constatar a presença de solos


com pouca capacidade de suporte e extrema compressibilidade. A ocorrência do
deslocamento de aproximadamente 30 cm no piso, conforme descrito por Souza
(2003), causou transtornos na utilização do estacionamento, sendo novamente
nivelado com acréscimo de mais aterro. O volume acrescentado contribuiu para o
aumento do carregamento, acelerando o processo de adensamento que o solo já
havia sofrendo.
99

Figura 82 - Perfil do solo

Fonte: (SOUZA, 2003)

O perfil geológico do terreno apresenta uma camada de argila marinha siltosa,


um solo muito mole e com alto índice de plasticidade que, quando submetido a
tensões, sofre adensamento que gera grandes tensões horizontais. Essas tensões
atuam lateralmente, no fuste das estacas, provocando o chamado “Efeito
Tschebotarioff”. Apesar das estacas pré-moldadas serem armadas, não foram
dimensionadas para suportar os esforços laterais provenientes do carregamento
sobre a camada de argila. Dessa forma, as estacas localizadas próximas ao fundo do
terreno, região em que houve maior adensamento, se romperam.

Figura 83 - Estaca carregada no fuste

Fonte: (SOUZA, 2003)

4.4.4 Solução Adotada

Inicialmente, foi necessário garantir que a estrutura desabada não continuasse


a movimentar, sugerindo soluções para seu equilíbrio. Em seguida foi decidido pela
recuperação da estrutura conforme descrito nos itens seguintes.
100

4.4.4.1 Estabilização do edifício

Segundo Souza (2003), para a estabilização da estrutura e do movimento


lateral do solo, foram compactados volumes de solo adjacentes à divisa, equilibrando
a diferença de pressão.

Figura 84 - Acréscimo de solo junto à divisa do terreno

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003)

Também foi necessário impedir a infiltração de água da chuva com o objetivo


de reduzir o deslocamento do solo. Para tanto, o terreno foi impermeabilizado com
argamassa especial própria para esse propósito. Também foram dispostas lonas
plásticas para desviar o curso da água para fora do local.

Figura 85 - impermeabilização do piso com argamassa aditivada

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003)


101

4.4.4.2 Instrumentação

Após esse processo, com o objetivo de avaliar as condições atuais, foi


necessário fazer um acompanhamento das movimentações da estrutura com
equipamento óptico de precisão (teodolito) duas vezes ao dia. Segundo Souza (2003),
esse procedimento foi realizado apenas por dez dias devido ao alto custo da operação.
Nos dias seguintes foram utilizados mangueiras transparentes com água, dispostas
nas quatro extremidades do prédio. Observando o nível da água dentro da mangueira
e comparando com a posição na extremidade do edifício foi possível obter os valores
do recalque com precisão de 0,5 cm (SOUZA, 2003). Foi observado que o edifício
continuou apresentando recalques diferenciais (Figura 87).

Figura 86 - Localização dos pinos

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003)

Figura 87 - Controle de recalque

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003)


102

Para averiguar a inclinação da estrutura foram utilizados dois pêndulos, fixados


no parapeito do último pavimento. De acordo com a Figura 88, foi possível constatar
uma inclinação de aproximadamente 2,5 metros em um dos pêndulos (SOUZA, 2003).

Figura 88 - Pêndulo para medida de inclinação

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003)

Segundo Souza (2003), uma medida eficiente foi utilizar pedaços de vidro
posicionados abaixo do prédio, onde uma pequena movimentação faria com que os
vidros se rompessem, evidenciando a movimentação da estrutura.

Figura 89 - Vidro para detectar pequenos deslocamentos

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003)


103

Outro controle importante para observar as movimentações do edifício foi feito


verificando a formação e a progressão das fissuras. De acordo com Souza (2003),
para realizar esse controle, aplicou-se uma fina camada de massa corrida sobre parte
da fissura, onde uma pequena abertura faria com que a massa corrida se rompesse,
indicando que a fissura estaria ativa (Figura 90).

Figura 90 - Massa corrida sobre fissura no muro de divisa do terreno

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003)

4.4.4.3 Projeto de recuperação

Após o laudo técnico sobre as condições da edificação, foi decidido pela sua
recuperação. O projeto elaborado previa reerguer o edifício com a utilização de
macacos hidráulicos apoiados em fundações provisórias dispostas rente às faces
externas do prédio, com o auxílio de uma estrutura metálica. Em seguida, após a
elevação da estrutura, o projeto determina que fossem reconstruídas as fundações,
bem como as vigas e pilares de concreto armado. A próxima etapa seria a retirada da
estrutura metálica e o processo de recuperação estaria encerrado (SOUZA, 2003).
Porém, apesar do projeto de recuperação levar em consideração o fator financeiro do
projeto, apenas as fundações provisórias foram executadas.
As fundações provisórias foram executadas utilizando estacas raiz, evitando o
uso de água na escavação e, consequentemente, evitando a movimentação do solo.
Durante o processo de perfuração das estacas foi constatado que aos 25 metros de
104

profundidade o solo se encontrava impenetrável, apensar das sondagens realizadas


previamente indicarem a profundidade de 35 metros para a camada impenetrável.

Figura 91 - Fundações provisórias

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003)

Com o objetivo de enrijecer a estrutura a ser erguida e evitar o surgimento de


fissuras devido à flexão, foram instaladas protensões nas paredes do primeiro
pavimento, onde a ação das forças seria maior.

Figura 92 - Flexão das paredes sem protensão Figura 93 - Sistema de protensão nas paredes

Fonte: (SOUZA, 2003) Fonte: (SOUZA, 2003)

Foram previstas sete treliças para auxílio da elevação do edifício, compostas


por vigas metálicas e cabos de aço de alta resistência. As treliças seriam apoiadas
nas suas extremidades por 14 macacos hidráulicos com capacidade para 200 tf cada,
responsáveis pela elevação gradual da estrutura até a cota original. De acordo com
Souza (2003), seriam necessários dois meses para realizar a tarefa de içar toda a
estrutura.
105

Figura 94 - Treliça auxiliar

Fonte: (SOUZA, 2003)

Figura 95 - Posicionamento da estrutura Figura 96 - Edifício erguido à sua cota inicial


provisória

Fonte: (SOUZA, 2003)


Fonte: (SOUZA, 2003)

Com o procedimento de recuperação descrito, não seria possível posicionar a


estrutura em sua locação inicial. Portanto, após ter sido levantada, a estrutura
permaneceria na projeção horizontal da posição em que se encontra.
Após o posicionamento do edifício em sua cota inicial, seriam construídas
novas fundações, vigas e pilares do pavimento térreo.

4.4.5 Conclusão

Com a análise deste estudo de caso foi possível verificar que o solo de natureza
instável sendo solicitado verticalmente pelo peso do aterro foi responsável pela
ruptura das estacas de fundação. No caso, as estacas atravessavam a camada de
solo instável, que quando solicitado pelo aterro ocasionou em expressivas tensões
horizontais atuando no fuste das estacas, em direção ao talude próximo.
106

Apesar do projeto de recuperação ter sido iniciado pela construção das


fundações provisórias, segundo Souza (2003), a estrutura metálica era o item de maior
peso no orçamento, o que resultou em uma considerável demanda de tempo para
aquisição do material. No entanto, a estrutura continuava a apresentar acréscimo de
recalques e de inclinação.
Conforme Souza (2003) descreve, diante dos empecilhos, o cronograma
previsto para as obras de recuperação não foi respeitado. Portanto, em dezembro de
2002, o responsável técnico pelo projeto de recuperação emitiu um parecer
constatando a inviabilidade da continuidade das obras e o iminente perigo de
desabamento total da estrutura.
As soluções adotadas para estabilizar a movimentação da estrutura e do solo
não foram suficientes, comprovado pelo controle de recalques e inclinações realizado.
Entretanto, essas constatações poderiam ser evitadas caso o projeto de recuperação
fosse realizado de acordo com o cronograma ou com o emprego de outros métodos
para estabilização, como o congelamento de solo.
107

5 CONCLUSÃO

Este trabalho descreveu as causas de recalques de fundações e as possíveis


patologias decorrentes desses movimentos. O objetivo foi auxiliar na identificação da
existência de movimentos de fundações através das patologias apresentadas,
enfatizando a importância do controle e estabilização dos recalques diferenciais,
assim como o comportamento de fundações apoiadas sobre diferentes tipos de solos.
Procurou-se apresentar experiências profissionais realizadas através de
estudos de casos em diferentes tipos de construções como forma de aprimorar os
conhecimentos sobre o tema e contribuir com o meio técnico.
Como forma de prevenção ao recalque de fundações, antes de iniciada sua
execução, conclui-se que seja fundamental a realização de investigações geotécnicas
e análises do solo observando o disposto na normatização e, preferencialmente,
acompanhado por profissional capacitado, o qual pode analisar as condições do local
identificando possíveis erros de sondagem. Pode ser sugerido investigações
complementares ou número de sondagens superior ao mínimo determinado em
norma, como forma de minimizar os riscos de falsos resultados. É importante que seja
obtido informações sobre as edificações vizinhas com o objetivo de evitar possíveis
interferências.
O processo executivo deve ser realizado seguindo as determinações em
projeto, garantindo que os esforços da estrutura atuem no solo na intensidade e na
forma prevista.
A partir deste trabalho é possível concluir que após a identificação das
patologias que sugerem recalques de fundações é essencial que seja feito o controle
das movimentações da edificação ao longo do tempo como forma de garantir a
segurança da estrutura e prever o comportamento futuro.
Recomenda-se que o processo de recuperação das patologias apresentadas
seja realizado somente após a análise dos dados sobre o controle de movimentações
e sobre a investigação geotécnica. Pois, são fatores cruciais para uma correta
identificação da origem dos problemas apresentados, os quais orientam a decisão
pelo tipo de reforço ou recuperação adequado ao caso.
A manutenção preventiva das construções, principalmente as de infraestrutura,
como as pontes analisadas neste trabalho, deve ser realizada periodicamente com o
108

intuito de identificar sinais patológicos de futuros problemas estruturais, podendo ser


solucionado antes do colapso total.

5.1 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

Para complementar trabalhos como este, sugere-se ainda:


 Analisar os métodos de melhoramento de solo para fundações e aterros;
 Analisar os métodos de reforço de fundações e recuperação das
patologias;
 Comparar custos em situações de reforço e recuperação;
 Analisar a influência do recalque diferencial na excentricidade e no
acréscimo de cargas nas fundações;
 Analisar mais estudos de casos.
109

BIBLIOGRAFIA

ABNT - ASSICIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118. Projeto de


estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT. 2007. p. 221.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8036.


Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de
edifícios. Rio de Janeiro: ABNT. 1983. p. 3.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6489. Prova de


carga direta sobre terreno de fundação. Rio de Janeiro : ABNT. 1984. p. 2.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12131. Estacas


- Prova de carga estática. Rio de Janeiro : ABNT. 1992. p. 4.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6484. Solo -


Sondagens de simples reconhecimento com SPT - Método ensaio. Rio de Janeiro:
ABNT. 2001. p. 17.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122. Projeto e


execução de fundações. Rio de Janeiro: ABNT. 2010. p. 91.

ALONSO, U. R. Exercício de fundações. São Paulo: Edgard Blucher, 1983.

ALONSO, U. R. Previsão e Controle das Fundações. São Paulo: Edgard Blucher,


1991.

BOTELHO, M. H. C.; CARVALHO, L. F. M. Quatro edifícios, cincolocais de


implantação, vinte soluções de fundações. 1. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2007.
154 p.

BURLAND, J. B.; JAMIOLKOWSKI, M. B.; VIGGIANI, C. Leaning Tower os Pisa:


behaviour after stabilization operations. International Journal os Geoengineering,
01 julho 2009. 156-169.

CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC,
v. I, 1988.

CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC,
v. 2, 2012.

CARVALHO, D. M. D. C. D. Patologia da fundações: fundações em depósito de


vertente na cidade de Machico. Tese de Mestrado. Funchal: Universidade da Madeira.
2010.

CONCRETO ciclópico. Portal do concreto. Disponivel em:


<http://www.portaldoconcreto.com.br/cimento/concreto/ciclopicos.html>. Acesso em:
17 Abril 2014.
110

DNER. Departamento Nacional de Estradas e Rodagem. Coleta de amostras


deformadas de solos, p. 4, 1994. Disponivel em:
<http://ipr.dnit.gov.br/normas/DNER-PRO003-94.pdf>. Acesso em: 5 Março 2014.

GOTLIEB, M. Reforço de fundações. In: AUTORES, V. Fundações: Teoria e Prática.


2. ed. São Paulo: Pini, 1998. Cap. 12.

GUSMÃO, A. D. Desempenho de fundações de edifícios. Simpósio sobre ISE, São


Carlos, 2000. 07.

MILITITSKY, J.; CONSOLI, C.; SCHNAID, F. Patologia das fundações. São Paulo:
Oficina de Textos, 2008.

MORAES, D. C. Estruturas de fundações. 2. ed. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil,


1978.

MURTHY, V. N. S. Geotechnical Engineering: Principles and Practices of Soil


Mechanics and Foundation Engineering. New York: Marcel Dekker, 2003.

OLIVARI, G. Patologia em edificação. Trabalho de Conclusão de Curso. São Paulo:


Universidade Anhembi Morumbi. 2003.

ORTIGÃO, J. A. R. Mecânica dos Solos dos Estados Críticos. 3. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2007.

PANTOJA, D. C. Vistoria - Ville de Montagne. Brasília. 2013.

PINTO, C. D. S. Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 Aulas. 3. ed. São


Paulo: Oficina de Textos, 2006.

QUARESMA, A. R. et al. Investigações geotécnicas. In: AUTORES, V. Fundações:


Teoria e Prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. Cap. 3.

REBELLO, Y. C. P. Fundações: guia prático de projeto, execução e


dimensionamento. 4. ed. São Paulo: Zigurate, 2008.

SOUZA, E. G. Colapso de edifício por ruptura das estacas: estudo das causas e
da recuperação. Tese de Mestrado. São Carlos: Universidade de São Paulo. 2003. p.
107.

SOUZA, V. C. D.; RIPPER, T. Patologia, recuperação e reforço de estruturas de


concreto. São Paulo: Pini, 1998.

TEIXEIRA, A. H.; GODOY, N. S. D. Análise, projeto e execução de fundações rasas.


In: AUTORES, V. Fundações: Teoria e Prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. Cap. 7.

VELLOSO, D. A.; LOPES, D. R. Fundações. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, v.


I, 2011.

VELLOSO, D. A.; LOPES, F. D. R. Fundações: fundações profundas. Nova. ed. São


Paulo: Oficina de Textos, v. 2, 2010.
111

VELLOSO, D.; LOPES, F. D. R. Concepção de obras de fundações. In: ______


Fundações: Teoria e Prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. Cap. 6.

VITÓRIO, J. A. P. Reforço de fundações de pontes e viadutos - três casos reais. V


congresso brasileiro de pontos e estruturas, Rio de Janeiro, 6 a 8 junho 2012. 16.

Você também pode gostar